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A ANTIGUIDADE TARDIA
PROF. MARCELO CONSENTINO
Presidente da Mantenedora
Ricardo Benedito Oliveira
Reitor:
Dr. Roberto Cezar de Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Gisele Colombari Gomes
Diretora de Ensino
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Edson Dias Vieira
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Camila Cristiane Moreschi
Danielly de Oliveira Nascimento
Fernando Sachetti Bomfim
Luana Luciano de Oliveira
Patrícia Garcia Costa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção:
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Cristiane Alves
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
01
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA FILOSOFIA – A ANTIGUIDADE TARDIA
O ORIENTE ANTIGO E A
EVOLUÇÃO DA FILOSOFIA GREGA
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................4
1 EXCURSO ORIENTAL..................................................................................................................................................5
1.1 ÍNDIA.........................................................................................................................................................................5
1.2 CHINA.......................................................................................................................................................................6
1.3 PÉRSIA......................................................................................................................................................................8
1.4 EGITO........................................................................................................................................................................9
1.5 CALDEIA E FENÍCIA................................................................................................................................................ 10
2. AS ESCOLAS HELENÍSTICAS.................................................................................................................................. 11
2.1 RAÍZES DAS ESCOLAS CÍNICAS, CÉTICAS, EPICURISTAS E ESTOICAS........................................................... 11
2.2 DESENVOLVIMENTO, PROPAGAÇÃO, ESTAGNAÇÃO E DECADÊNCIA DAS ESCOLAS HELENÍSTICAS NA ERA
DOS IMPÉRIOS MACEDÔNICO E ROMANO...............................................................................................................13
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................ 16
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INTRODUÇÃO
Se a filosofia for tomada em seu sentido estrito de busca puramente racional da verdade, é
lícito iniciar a sua história na Grécia, senão por mais nada, porque o próprio nome “philo-sophia”,
hoje empregado mundialmente, é grego e foi consolidado por Platão. Mas, sobretudo, porque foi
na Grécia que essa a “pureza” da razão “pura” foi destilada e circunscrita de forma rigorosa pela
primeira vez.
Contudo, entendida em seu sentido amplo de “amor à sabedoria”, a filosofia, assim como
outros produtos das duas potências distintivas do ser humano, a vontade e a razão, tal como o
Estado, o direito, a arte ou a religião, existe, ao menos em forma embrionária e confusa, desde
que existe o ser humano.
Assim, antes de retornar à Grécia, convém realizarmos um excurso digressivo rumo ao
Oriente, para expor as formas mais elevadas em que esse germe foi desenvolvido, ainda que não
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1 EXCURSO ORIENTAL
1.1 Índia
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As ideias comuns, a maior parte desses sistemas são: 1) uma substância infinita, eterna,
que “sonha” uma multidão incontável de formas e fenômenos que compõem o universo; 2) a
ideia de “emanação”, mais do que “criação”, enquanto manifestação de existências que estavam
em estado latente no ser originário; 3) a matéria enquanto meio através do qual se formam as
existências individuais; 4) a sucessão infinita de criações e destruições periódicas; 5) um estado
de abstração pelo qual a alma se separa completamente da natureza, e mesmo um estado de
aniquilação, resultante da absorção na substância primordial, que são estados de perfeito repouso,
de felicidade suprema e o objetivo definitivo da sabedoria; 6) a tendência à indiferença e à apatia
absolutas, que não exclui a atividade, mas a considera um meio transitório até o perfeito repouso.
Em resumo, o pensamento indiano é dominado pela ideia de que só a unidade absoluta
é real e a multiplicidade de todas as coisas é só uma aparência transitória rumo à reabsorção do
finito no infinito.
Apesar desse epicentro, as filosofias indianas são marcadas por divisões profundas, que
se manifestam em três soluções fundamentais: o panteísmo, que não vê nos seres finitos mais do
que modificações da substância infinita, a única realmente existente; o dualismo, que divide o Ser
ou a Substância entre dois princípios irredutíveis; e o materialismo ou o ateísmo, que substitui a
1.2 China
Como os Vedas na Índia, o I Ching, ou Livro das Mutações (c. XI-VIII a.C.), uma espécie
de enciclopédia primitiva de temas metafísicos, físicos e morais, forma o mais antigo monumento
literário e espiritual da China.
Segundo o I Ching, todas as coisas se originam da razão originária, o Tao, e se apoiam
nela. O Tao gera duas naturezas complementares, Yin, o princípio receptivo (literalmente,
“treva”), e Yang, o princípio ativo (“luz”), de onde emanam as dualidades fundamentais entre céu
e terra, verão e inverno, masculino e feminino, ordem e desordem. No I Ching, Yin (imperfeito)
é representado por uma linha quebrada (--) e Yang por uma linha contínua (–).
A dinâmica do universo é simbolizada pela combinação dessas linhas em séries de três,
resultando em oito trigramas, que representam os princípios fundamentais da realidade, conforme
a predominância maior ou menor de um dos princípios. Como dois polos opostos, o trigrama
“Céu” (plenamente Yang) é formado por três linhas contínuas, e o trigrama “Terra” (plenamente
Yin), por três linhas quebradas. Os seis princípios intermediários são Trovão, Água, Montanha,
Vento, Fogo e Lago. Os trigramas, por sua vez, são combinados em séries de dois, dando origem
a 64 hexagramas, que representam todas as forças em interação no universo.
A moral do I Ching se apoia sobre o princípio de que o ser humano deve imitar a razão
celeste, o Tao, que, sublime e luminoso, abaixa-se até a terra. Ao se humilhar, o ser humano é
elevado pelo Tao.
A noção metafísica do I Ching encerra assim uma ideia comum a quase todas as filosofias:
a criação, que surge da unidade originária (Tao), contém dois princípios subordinados, um ativo
e um passivo. Os espíritos são eminentemente o princípio ativo, e a matéria é o princípio passivo
que eles moldam e orientam. Os dois grandes princípios entram na composição do homem, que
forma assim uma espécie de microcosmo.
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1.3 Pérsia
Como os Vedas para os indianos e o I Ching para os chineses, o núcleo originário das
doutrinas persas estão contidos na coletânea conhecida como Avesta, atribuída a Zoroastro ou
Zaratustra (VIII-VII a.C.). O fim desta doutrina parece ter sido reformar e depurar os cultos
persas, conduzindo-os ao espiritualismo, ou seja, apresentando o mundo sensível como a
expressão e o símbolo do mundo espiritual.
No começo, existia o Tempo sem limites, a unidade primeira e fonte de todos os seres.
O Tempo sem fim produziu Ormuzd, o ser puro e bom por excelência, a luz e palavra criadora.
Produziu também Ahriman, o perverso, o princípio tenebroso da anarquia e do conflito. Ormuzd
corresponde ao princípio espiritual; Ahriman, ao material. Assim a criação traz em seu seio uma
divisão radical, uma luta necessária e inexorável. A ideia do combate torna-se a fórmula geral do
universo, e daí a sucessão do dia e da noite, que disputam o império do Tempo, e perseguem um
ao outro.
Ormuzd produz os arquétipos vivos de todas as coisas e os espíritos primordiais, que
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1.4 Egito
Não se conhece nenhum livro de origem das concepções filosóficas egípcias, os vestígios
das doutrinas sacerdotais reportados pelos gregos são fragmentários e opacos.
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As fontes para essas duas civilizações também vêm majoritariamente dos gregos, mas são
ainda mais crípticas do que as fontes egípcias.
Na Caldeia, Deus aparece no seio do caos, a natureza primitiva – que não era mais que
trevas e água, uma matéria úmida contendo criaturas monstruosas, e que é personificada em uma
mulher, Omorca – para dividir seu corpo e formar, com uma metade, o céu, e com a outra, a terra,
produzindo a luz que mata os monstros, filhos do caos, e dá origem à ordem e à regularidade.
Com seu próprio sangue e o de outros deuses inferiores mesclados à terra, ele cria as
almas dos seres humanos e as dos animais, que têm portanto uma origem divina, ao passo que
os corpos inanimados celestes e terrestres são formados com a substância de Omorca, ou a
substância meramente material.
Em toda essa cosmogonia, praticamente não há vestígio das abstrações tipicamente
produzidas por um instinto especulativo filosófico. Mas, curiosamente, há algum germe de
ciência. Nas corporações sacerdotais caldeias, a observação dos movimentos astronômicos se
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2. AS ESCOLAS HELENÍSTICAS
Depois de Sócrates, surgem diversas concepções fragmentárias que podem ser divididas
em duas classes: umas destacam da doutrina de Sócrates algumas partes que, alteradas, tornam-se
a base de novos sistemas; outras foram a continuação, um pouco restrita, de sistemas anteriores a
Sócrates, mas modificadas pela influência socrática.
A escola dos cínicos fundada por Antístenes (c. 446-366 a.C.), que teve em Diógenes seu
principal expoente, emprestou a Sócrates a ideia de que o bem do homem consiste na virtude, ou
na imitação de Deus. Partindo da ideia de que Deus é o soberanamente independente, os cínicos
compreenderam a virtude como uma orgulhosa independência de todas as coisas exteriores.
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Após reconhecer que o prazer e o dever são idênticos, o ser humano deve ponderar seus
prazeres, de modo a evitar todo excesso capaz de prejudicar tanto o seu bem-estar físico, que é a
saúde do corpo, quanto o seu bem-estar psíquico, que é a serenidade da alma.
Não admitindo no espírito humano mais do que sensações, e na natureza mais do que
corpos, Epicuro supõe que tudo, inclusive a alma, é composto pelas aproximações, combinações
e separações de átomos indivisíveis, eternos, indestrutíveis. Este conhecimento liberta o homem
dos inumeráveis males que geram a superstição, ou seja, a religião, o temor dos deuses e de uma
outra vida.
As leis da sociedade, por sua vez, não passam de ramificações diversas de uma única
lei fundamental: o interesse. Os homens se unem em sociedade por compreender que ela pode
aumentar seus prazeres e diminuir suas aflições. Para cada indivíduo, o pacto social é um mero
cálculo de utilidade: se a utilidade cessa, o pacto se dissolve. Epicuro exclui de sua teoria da
sociedade toda ideia de justiça, e ainda mais de uma lei divina originariamente revelada.
A doutrina de Epicuro apresenta um desenvolvimento em lógica, psicologia, lógica,
cosmologia, moral e política sem comparação com as vertentes materialistas precedentes. Já
as posteriores, estão encerradas nos limites circunscritos por ele. Assim como todo idealismo
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Por outro lado, a moral estoica compreende elementos espiritualistas que representam
uma tendência oposta ao epicurismo. É a justiça, a honestidade, a santidade que devem mover
as ações do ser humano; o sábio deve se esforçar por reprimir em si todas as comoções da alma,
que arrastam a vontade, e submetê-la ao juízo da razão, de modo a chegar àquele estado de
imperturbabilidade onde a vontade, livre de todos os afetos irracionais, se move plenamente
rumo à honestidade e à justiça que a razão lhe mostra; a justiça é o único bem; a injustiça, o
único mal: tudo aquilo que não é nem justo nem injusto, tal como as privações, a dor, a morte,
não é nem bom nem mal e, portanto, não abala a tranquilidade do sábio; seu único esforço deve
ser assemelhar-se a Deus; o ser humano, parte do todo, deve viver segundo as leis do todo ou da
Natureza, e estas leis têm sua manifestação mais excelente na essência divina e na ação de Deus
sobre o mundo; pois Deus é, por sua essência, a ordem, a justiça, a santidade, a bondade.
Assim, a moral estoica implica duas ideias fundamentais aparentemente incompatíveis
com a cosmologia estoica. De uma parte, a noção de justiça, de santidade não pode ser derivada
das sensações, e, de outra parte, não há como aliar a ideia de dever, de obrigação, de moral à ideia
de fatalidade.
A parte nobre e elevada do estoicismo ganhou gradualmente preeminência, e cada vez
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA
02
DISCIPLINA:
HISTÓRIA DA FILOSOFIA – A ANTIGUIDADE TARDIA
RACIONALISMO OCIDENTAL,
MISTICISMO ORIENTAL
E REVELAÇÃO CRISTÃ
SUMÁRIO DA UNIDADE
INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................ 19
1 A FILOSOFIA GRECO-ORIENTAL..............................................................................................................................20
1.1 FILON DE ALEXANDRIA, HERMETISMO, ORÁCULOS CALDEUS E A CABALA..................................................20
2 O NEOPLATONISMO................................................................................................................................................. 21
2.1 O CRISOL DE ALEXANDRIA................................................................................................................................... 21
2.2 O ECLETISMO NEOPLATÔNICO............................................................................................................................ 21
3 GNÓSTICOS, MANIQUEÍSTAS E HEREGES.............................................................................................................24
3.1 O GNOSTICISMO.....................................................................................................................................................24
3.2 MANIQUEÍSMO......................................................................................................................................................26
3.3 AS HERESIAS..........................................................................................................................................................26
4 A FILOSOFIA PATRÍSTICA........................................................................................................................................27
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
4.1 INTRODUÇÃO: A FÉ E A RAZÃO, UNIDAS, MAS NÃO CONFUSAS, DISTINTAS, MAS NÃO SEPARADAS........27
4.2 A UNIDADE DIVINA................................................................................................................................................27
4.3 A CRIAÇÃO..............................................................................................................................................................28
4.4 O VERBO DIVINO EM RELAÇÃO À CRIAÇÃO.......................................................................................................30
4.5 O MAL......................................................................................................................................................................30
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................ 31
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INTRODUÇÃO
Não cabe a uma história da filosofia, e, a rigor, nem à própria filosofia, decidir sobre a
origem divina, ou não, da Revelação cristã. Independentemente disso, mesmo dentro dos limites
estritos da filosofia pura, o cristianismo é demonstravelmente o evento mais transformador da
história.
Em tese, o matrimônio perfeito entre o Céu e a Terra prometido pela Revelação cristã
consuma as aspirações de todas as religiões e de todas as filosofias desde o início da raça humana.
Além disso, verdadeira ou não, a ideia da união plena entre Deus e a humanidade, realizada
perfeitamente no Deus-homem Jesus Cristo, e, através de sua graça, progressivamente por sua
Igreja, introduz na história humana o princípio de um progresso perpétuo e universal.
A partir da era cristã, as especulações filosóficas podem ser divididas em três grandes
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
1 A FILOSOFIA GRECO-ORIENTAL
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
2 O NEOPLATONISMO
Ammonius Saccas (175-242 d.C.), ao que parece um apóstata da fé cristã, foi o grande
inaugurador da escola eclética. Ele foi o mestre de Plotino, o maior e mais profundo dos
pensadores neoplatônicos, e também de Orígenes, o mais energético e criativo dos Padres da
Igreja orientais. Nele se inspiraram Porfírio, Iâmblico e Proclus. Os elementos metafísicos da
doutrina neoplatônica foram desenvolvidos, sobretudo, por Plotino (c. 204-270 d.C), a lógica,
por Porfírio (c. 234-305 d.C.), a teosofia e a liturgia, por Iâmblico (245-325 d.C.). Proclus (412-
485 d.C.) foi um sistematizador das ideias de seus predecessores.
Resumindo o núcleo comum a esses pensadores, no princípio há a unidade primeira, pura
e absoluta, na qual não existe qualquer distinção, nem mesmo entre o conhecido e o conhecedor.
Como na teologia negativa, a noção de unidade absoluta exclui a atribuição de quaisquer
qualidades das quais possamos formar uma ideia qualquer.
Da unidade primordial emana a Inteligência, que a reflete, mas é necessariamente inferior
ao princípio que a origina. Ela, por sua vez, produz uma outra emanação, que também lhe é
inferior, a Alma, que, não sendo, como a Inteligência, a imagem imanente da unidade imóvel, é
uma força motriz, o princípio de todo movimento. A Alma, enfim, gera todas as criaturas.
Quando a Unidade gera a Inteligência, começa a distinção entre o conhecido e o
conhecedor. A unidade torna-se múltipla, e assim surge o número. A Inteligência encerra em si
todas as ideias das coisas possíveis.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Pela evolução da criação, as almas, que são o último dos princípios inteligíveis, e o
primeiro das coisas sensíveis, são afastadas de Deus. Elas devem então se empenhar em uma
evolução reversa, que as reúna a Deus. Mas este retorno depende de certas condições. Aquelas
que, abusando de seus sentidos, caem abaixo da própria vida sensitiva, renascerão após a morte
inseridas na vida vegetativa das plantas. Aquelas que viveram puramente conforme as suas
sensações, renascerão sob a forma de animais. Aquelas que tiverem vivido uma vida puramente
humana, renascerão em corpos humanos. Somente renascerão em Deus aquelas que tiverem
desenvolvido em si a vida divina.
O desenvolvimento da vida divina, por sua vez, está subordinado a duas condições,
os esforços dos homens e o socorro dos deuses. Os esforços dos homens são relativos à sua
inteligência e à sua vontade: eles produzem o conhecimento e a virtude.
A inteligência tem dois modos, um perfeito e um imperfeito. O último consiste no
conhecimento propriamente dito, apoiado sobre os procedimentos lógicos que combinam as
ideias. Esse conhecimento é uma preparação para o conhecimento superior, que é mais exatamente
uma presença intima de Deus, e é obtido não através da reflexão, mas da iluminação, uma espécie
de repouso da alma em seu núcleo mais íntimo.
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3.1 O Gnosticismo
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Os gnósticos, divergiam entre si sobre o modo como este mundo foi formado. Para uns,
de cunho dualista, o ser que organizou o mundo inferior não o criou, mas apenas exerceu sua
potência sobre uma matéria eternamente existente fora do mundo superior, e a distinção entre os
dois mundos começou com essa intervenção. Para outros, de cunho panteísta, este ser produziu
ou extraiu de si mesmo este mundo inferior, de modo que ele é apenas o último anel da cadeia de
emanações, o mais grosseiro, no qual, de todo modo, todas as coisas compreendem duas partes,
submetidas a duas leis opostas: a da perfeição e a da imperfeição, da luz e da sombra.
O ser infinito é indivisível, inefável, o pai desconhecido, o abismo, análogo ao Brahm
indeterminado da metafísfica indiana; o Piromis da teologia egípcia, o Um neoplatônico, ou o
fundo do ser, a substância inefável da filosofia moderna.
As emanações (Eons) do mundo superior não são a criação daquilo que não existia e
passou a existir, mas somente a manifestação daquilo que se encerra no fundo inesgotável do
abismo. Elas são o “transbordamento”, por assim dizer, da substância, seus atributos, formas e
nomes, e constituem com ela o Pleroma ou a plenitude das inteligências. Conforme a maior parte
das teogonias antigas, as emanações procedem em pares opostos e complementares.
A última emanação do Pleroma, o Demiurgo, é a primeira potência do mundo inferior, que
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Os seres humanos podem ser divididos também em três classes, segundo o princípio que
domina em cada um: os que se deixam cativar pelo mundo inferior, cuja matéria é o princípio;
aqueles que buscam se elevar sobre ele, mas apenas até o Demiurgo, vivendo conforme o princípio
psíquico; e, finalmente, os que aspiram a entrar no Pleroma e participam da vida superior que
tem seu princípio nele, o princípio espiritual ou pneumático. Os pagãos foram materiais; os
judeus, psíquicos; os pneumáticos são os verdadeiros cristãos. Os próprios cristãos, por sua
vez, se dividem em duas classes: uns, como os fiéis da igreja apostólica, se detêm na letra, nos
símbolos, e se alimentam da árvore da vida, os outros se elevam à intuição da verdade e se nutrem
diretamente do espírito divino.
3.2 Maniqueísmo
3.3 As Heresias
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4 A FILOSOFIA PATRÍSTICA
Grande parte dos trabalhos dos escritores cristãos ortodoxos, os chamados “Padres da
Igreja”, tinha por objetivo expor os dogmas da fé cristã, os preceitos de sua moral e os ritos de seu
culto. Entre os tratados especulativos, há ainda aqueles que buscam investigar as provas históricas
da revelação cristã. As partes que interessam à história da filosofia se apresentam ora sob uma
forma polêmica, enquanto refutações aos pensadores anticristãos, ora sob uma forma didática.
Suas investigações filosóficas não estavam centradas em si mesmas, mas na Revelação, e
tinham, em geral, dois objetos principais: provar a necessidade de tomar a Revelação como base ou
regra das especulações racionais e construir uma ordem de especulações racionais harmonizada
com os dogmas revelados.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Falando aos gregos, Justino o Martir (c. 100 - c. 165 d.C.), argumentou que “[...] não é
4.3 A Criação
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
Os Padres admitem, com o panteísmo, que todas as coisas vêm de Deus, mas divergem
dele ao afirmar que elas não são partes nem simples modificações do próprio Deus. Eles admitem,
com os dualistas, que todas as coisas não são Deus, mas negam qualquer outra origem para elas
que não Deus. O desafio então é explicar como os seres finitos surgiram do Ser infinito.
Aquilo que se concebe de mais primitivo em Deus é o ser em sua ideia transcendental, ou
seja, aquilo que está além de todas as maneiras de se conceber tal ou qual ser, aquilo que é o suporte
da sabedoria divina, da vida divina e de todas as outras propriedades de Deus, em uma palavra,
a unidade radical e absoluta. Deus é um abismo luminoso, um mistério infinito incompreensível
e inominável, e, neste sentido, só se pode falar dele em termos negativos e paradoxais: só se pode
compreendê-lo como incompreensível; atingi-lo como inacessível; nomeá-lo como inominável.
Essa ignorância luminosa é a forma mais alta de sabedoria.
Na consciência humana, portanto, Deus não é conhecido diretamente tal qual ele é
radicalmente em si mesmo, mas sim pelas propriedades divinas das quais as criaturas participam.
Quando dizemos que ele é “sábio”, “bom”, “potente”, “belo” etc., nós designamos apenas as
virtudes divinas que emanam de Deus em nós. O que elas são e como o são em sua fonte, nenhum
pensamento humano pode conceber.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
“[...] que o Verbo é chamado primogênito, não como se ele mesmo fosse
qualquer coisa de criado, não como se ele tivesse algum parentesco, alguma
afinidade de essência com as criaturas, mas porque, ao formá-las no princípio,
ele se conformou a elas, ele se abaixou à sua medida, para que elas pudessem vir
a existir: elas não teriam podido sustentar alguma relação com a natureza do
Verbo, com o esplendor indefectível do Pai, se, conforme o amor do Pai pelos
homens, o Verbo não tivesse se proporcionado à condição das coisas criadas,
estendendo-lhes, por assim dizer, a mão, para elevá-las até a potência do ser
(ATANÁSIO, 296-298 d.C).
4.5 O Mal
A metafísica cristã considera o mal moral como não sendo, em nenhum grau, o produto
da necessidade, mas do livre arbítrio criado, e, por isso mesmo, imperfeito.
O mal não é algo positivo, mas uma privação do bem. “O mal não pode vir do bem, e, se
ele vem do bem, não é o mal”, diz o Areopagita. “Não é da natureza do calor produzir o frio, nem
da natureza daquilo que é bom produzir aquilo que não é bom. Se tudo aquilo que existe vem do
bem, pois a natureza do bem é produzir e conservar, como aquela do mal é corromper e destruir,
nada daquilo que existe vem do mal, e o mal não pode existir por si mesmo . . . . O mal portanto
somente pode existir enquanto ele não é absolutamente o mal, mas somente enquanto ele encerra
alguma parte do bem, que é tudo o que há de positivo nele”.
Para o bispo Agostinho de Hipona (354-430 d.C.), “tudo aquilo que existe é bom, e o
mal não pode ser uma substância. Se ele fosse uma substância, ele seria bom; se incorruptível,
ele seria um grande bem; se corruptível, ele não poderia ser corrompido senão enquanto fosse
previamente bom”. “Todas as naturezas são boas, porque seu Autor é soberanamente bom; mas
porque elas não são, como ele, soberanamente e imutavelmente boas, o bem pode ser aumentado
e diminuído nelas; ora, a diminuição do bem é o mal”. Para o preceptor de Agostinho, o bispo
Ambrósio de Milão (339-397 d.C.), o mal não é mais que a indigência do bem.
O mal não está no conjunto do universo, pois o conjunto tende a Deus. “Tudo se relaciona
ao bem, tudo tende a ele”, diz Dionísio, “os seres espirituais e inteligentes tendem a ele pela
sua razão; os seres puramente sensitivos pelo seu instinto do sentimento; os seres privados de
sentimento, pelo movimento inato de seu apetite vital; os seres que são privados da vida e não
possuem nada mais que a existência, pela inclinação que produz neles a necessidade de participar
do ser”.
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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Para apreciar a doutrina dos Padres em seu conjunto, é preciso observar que ela buscava
responder, sucessivamente, a duas necessidades da humanidade.
Primeiro, era preciso purificar o espírito humano dos erros propagados por sistemas de
filosofia, a seu ver, parciais, decadentes ou falsos. De fato, eles lograram que o pensamento o
cristão se tornasse gradualmente hegemônico no Império romano do Ocidente, assim como no
Império romano do Oriente, em Bizâncio.
Em segundo lugar, era preciso organizar todas as ciências sobre a base de uma filosofia
cristã. Os Padres fizeram magníficos esforços nesta direção, mas a sua maturação e desenvolvimento
caberia aos pensadores cristãos da chamada Idade Média.
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ENSINO A DISTÂNCIA
REFERÊNCIAS
ABBAGNANO, N. História da Filosofia. Queluz de Baixo: Editorial Presença, 1970.
COPLESTON, F. Uma história da filosofia: Grécia, Roma e Filosofia Medieval. Campinas: Vide
Editorial, 2021.
KENNY, A. Uma nova história da filosofia ocidental. v. 2. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
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