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Presidente da Mantenedora

Ricardo Benedito Oliveira


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Pró-Reitoria Acadêmica
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Diretora de Ensino
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
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ENSINO A DISTÂNCIA

01
UNIDADE

CONSERVAÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA:


FUNDAMENTOS, PADRÕES, CONCEITOS E TEORIAS
PROF. DR. GUSTAVO H. ZAIA ALVES

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................................................. 4
BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO – DEFINIÇÃO INICIAL ............................................................................................ 5
PRESSUPOSTOS BÁSICOS DA BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO ............................................................................. 5
O QUE É BIODIVERSIDADE? ..................................................................................................................................... 6
MEDINDO A BIODIVERSIDADE ............................................................................................................................... 14
A DISTRIBUIÇÃO DA BIODIVERSIDADE: ONDE ESTÁ ESSA DIVERSIDADE? ..................................................... 15
QUANTAS ESPÉCIES EXISTEM NA TERRA? .......................................................................................................... 19
O VALOR DA BIODIVERSIDADE: CONSIDERAÇÕES ECONÔMICAS, SOCIAIS E ECOLÓGICAS ........................ 20

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INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da humanidade, as pessoas têm se preocupado com o seu meio
ambiente e, especialmente, com sua habilidade de adquirir comida, água e outros recursos. Com
o passar do tempo, nossa população cresceu e novas tecnologias para a exploração de recursos
foram desenvolvidas, fazendo com que nos tornássemos cada vez mais preocupados com o
impacto que exercemos sobre o meio ambiente.
A biologia da conservação é uma ciência multidisciplinar que foi desenvolvida como
resposta à crise com a qual a diversidade biológica se confronta atualmente, considerando que
nenhuma outra disciplina tradicional (como ecologia, genética, taxonomia, agricultura, etc.) era
abrangente o suficiente para atender a essa demanda. Os dois principais objetivos dessa ciência
são: (i) entender os efeitos da atividade humana nas espécies, comunidades e ecossistemas e (ii)
desenvolver abordagens práticas para prevenir a extinção de espécies e, se possível, reintegrar as
espécies ameaçadas ao seu ecossistema de origem.

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BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO – DEFINIÇÃO INICIAL


Assim, a biologia da conservação complementa as disciplinas aplicadas fornecendo
uma abordagem mais teórica e geral para a proteção da diversidade biológica. Essa disciplina
funciona como uma ponte entre os interesses acadêmicos, sociais e políticos, sempre com vista
na preservação da vida selvagem. A principal prioridade dessa disciplina é a preservação a longo
prazo de todas as comunidades biológicas, sendo os fatores econômico e políticos colocados
em segundo plano. Veja o diagrama esquemático representado na Figura 1 para um melhor
entendimento sobre a biologia da conservação.

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Figura 1 - Visão esquemática da relação entre a biologia da conservação e outras disciplinas. Fonte: Hunter
Jr & Gibs (2007).

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PRESSUPOSTOS BÁSICOS DA BIOLOGIA DA


CONSERVAÇÃO
A biologia da conservação fundamenta-se em muitos pressupostos básicos, os quais
funcionam como premissas e justificativas para os esforços em prol da conservação. Sucintamente,
de acordo com Primack & Rodrigues (2001), os principais pressupostos são:
1. A diversidade de organismos é positiva. No geral as pessoas gostam da diversidade
biológica. Pense em quantas pessoas são atraídas por zoológicos, jardins botânicos, parques
naturais e aquários apenas com o objetivo de conhecer e observar a grande variedade de vida
existente. Assim como as pessoas tendem a gostar da biodiversidade, é de comum acordo entre
os conservacionistas que ela é sempre um bom sinal de conservação.
2. A extinção prematura de populações e espécies é negativa. A extinção é um processo
natural que ocorre ao longo de milênios. A perda de uma espécie é quase sempre resultado
da seleção natural, em que uma determinada espécie ou população não se adaptou à uma
determinada modificação física, química ou biológica do ecossistema. Entretanto, a atividade
humana tem acelerado em cerca de mil vezes a velocidade na qual as espécies se extinguem.
Apenas no século XX, mais de 100 espécies de vertebrados foram extintas e a causa principal

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foram processos antrópicos.
3. A complexidade ecológica é positiva. Existem algumas relações biológicas e
peculiaridades ecológicas que só são possíveis de se observar em ambientes naturais. Por exemplo,
o comportamento de cuidado parental existente em alguns peixes, a relação entre cupins e seus
protozoários mutualísticos, assim como muitas outras interações. Assim, essa complexidade é
resultado de milhares de anos de evolução e por isso dizemos que quanto mais complexa uma
comunidade, melhor seu estado de conservação.
4. A biodiversidade tem valor intrínseco. Cada espécie tem seu próprio valor,
independentemente de seu valor material para os seres humanos. Este valor é conferido pela sua
história evolucionária, suas funções ecológicas únicas e por sua própria existência.

O QUE É BIODIVERSIDADE?
Biodiversidade pode ser definida como o conjunto de todos os organismos terrestres e
aquáticos (incluindo plantas, animais e microrganismos) em escalas que vão desde a diversidade
genética dentro das populações, passando por diversidade de espécies, até a diversidade de
comunidades em diferentes paisagens ecológicas.
Especificamente, a diversidade genética inclui a variabilidade genética dentre as espécies,
tanto entre as populações geograficamente separadas como entre os indivíduos de uma mesma
população; já a diversidade de espécies inclui toda a gama de organismos da Terra, desde as
bactérias e protistas até os reinos multicelulares de plantas, animais e fungos; a diversidade
de comunidades inclui a variação que existe entre as mesmas, os ecossistemas nos quais as
comunidades se encontram e as interações entre esses níveis.

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Todos os níveis de biodiversidade são necessários para a sobrevivência contínua das


espécies e das comunidades naturais e todos são importantes para a espécie humana. A diversidade
de espécies fornece recursos e alternativa de recursos às pessoas; a diversidade genética em plantas
e animais é importante para programas de melhoramentos voltados para desenvolver, manter
e melhorar espécies agrícolas modernas; a diversidade de comunidades representa a resposta
coletiva das espécies às diferentes condições ambientais.

Saiba mais sobre a biodiversidade brasileira assistindo à um vídeo produzido


pelo Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (o ICMBio) no link a seguir:
<https://www.youtube.com/watch?v=SEFwGcJYbbg >.

DIVERSIDADE DE ESPÉCIES
Uma espécie pode ser definida como um grupo de indivíduos que é morfológica, fisiológica

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ou bioquimicamente distinta de outros grupos em algumas características (definição morfológica
de espécie). Cada vez mais as diferenças de DNA estão sendo utilizadas para distinguir espécies
que parecem quase idênticas, como é o caso das bactérias. Assim, uma espécie também pode
ser definida como um grupo de indivíduos que podem potencialmente procriar entre si, mas
que não procriam com indivíduos de outros grupos (definição biológica de espécie). De forma
a unificar as duas definições, vamos considerar uma espécie como organismos morfológica e
fisiologicamente semelhantes, capazes de se reproduzir entre si e deixar descendentes férteis.
Os biologistas frequentemente têm dificuldade de distinguir as variações de uma única
espécie das variações entre as espécies aparentadas. O problema está na capacidade de algumas
espécies aparentadas em cruzar e gerar híbridos (por exemplo, formas intermediárias que
confundem as diferenças entre as espécies).
Atualmente, estima-se que os taxonomistas descreveram apenas de 10% a 30% das
espécies existentes no mundo e muitas espécies serão extintas antes de serem descritas. Os
esforços de identificação devem se concentrar em áreas com alta diversidade de espécies, onde
devem ser treinados grandes contingentes de taxonomistas.

Taxonomia:
é a ciência que classifica os seres vivos. O objetivo da taxonomia moderna é criar
um sistema de classificação que reflita a evolução de grupos de espécies desde
seus ancestrais. Identificando a relação entre as espécies, os taxonomistas
ajudam os biologistas de conservação a identificar as espécies ou grupos que
são, pela evolução, únicos ou de valor especial para a conservação.

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As espécies semelhantes são agrupadas em um gênero, os gêneros semelhantes


são agrupados em uma família, as famílias similares são agrupadas em uma
ordem, as ordens similares são agrupadas em uma classe, as classes similares
são agrupadas em uma divisão, para as plantas, ou filo para os animais. Os filos
REFLITA ou divisões são agrupados em um reino.
Os biologistas do mundo todo têm usado uma padronização para dar nomes
às espécies. Este sistema de denominação, conhecido como nomenclatura
binominal, foi desenvolvido no século XVIII por um biologista sueco chamado
Carolus Linaeus. Os nomes científicos das espécies são compostos de duas
palavras, sempre em latim ou latinizadas. A primeira palavra é o nome do
gênero, o qual identifica aquele grupo dentro de uma família; já o segundo
nome (chamado de epíteto) é geralmente uma característica do organismo
pertencente àquele gênero. Os nomes científicos seguem um padrão. A primeira
letra do nome do gênero é sempre maiúscula, já o epíteto da espécie deve ser
escrito iniciado em letra minúscula. Os nomes científicos são escritos sempre
destacados, geralmente em itálico ou sublinhados. Os nomes científicos podem
vir seguidos do nome do cientista que os descreveu. Por exemplo, veremos a
classificação sistemática do jacaré-de-papo-amarelo Caiman latirostris (DAUDIN,
1801): Reino: Animalia; Classe: Reptilia; Ordem: Crocodylia; Família: Alligatoridae;

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Subfamília: Alligatorinae; Gênero: Caiman; Espécie: Caiman latirostris.

DIVERSIDADE GENÉTICA
A diversidade genética dentro de uma espécie é afetada, muitas vezes, pelo comportamento
reprodutivo dos indivíduos dentro das populações. A população é um grupo de indivíduos
pertencentes à mesma espécie, vivendo do mesmo lugar e período de tempo. Uma população
pode consistir de apenas alguns indivíduos ou de milhões de indivíduos.
Os indivíduos dentro de uma população são geneticamente diferentes uns dos outros. A
variação genética acontece porque os indivíduos têm genes ligeiramente diferentes, que são as
unidades de cromossomos que codificam proteínas específicas. As diferentes formas de um gene
são conhecidas como alelos e as diferenças aparecem através de mutações no DNA.
A variabilidade genética aumenta quando a prole recebe uma combinação única de genes
e cromossomos de seus pais via recombinação de genes que ocorre durante a reprodução sexuada.
Assim, embora as mutações forneçam o material básico para a variabilidade genética, a habilidade
de espécies que se reproduzem sexualmente de reorganizar os alelos aleatoriamente, em diversas
combinações, aumenta seu potencial de variação genética. Tal variabilidade possibilita que as
espécies se adaptem a um meio diferente daquele que a mesma está acostumada a viver. Sabe-se
também que as espécies raras têm, em geral, menos variação genética do que as espécies comuns
e, consequentemente, são mais vulneráveis à extinção quando as condições do meio ambiente se
alteram por alguma razão.

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DIVERSIDADE DE COMUNIDADES E ECOSSISTEMAS


Uma comunidade biológica é definida pelas espécies que ocupam uma determinada
localidade e pelas interações entre essas espécies. A interação dessas espécies com seu ambiente
físico é chamada de ecossistema. O ambiente físico, especialmente a variação anual de temperatura
e precipitação, afeta a estrutura e as características de uma comunidade, determinando se uma
área abrigará uma floresta, um deserto ou uma área alagada. A comunidade pode, inclusive,
alterar as características físicas de um ecossistema.
Em um ecossistema terrestre, por exemplo, a velocidade do vento, umidade, temperatura
e características do solo de um determinado lugar podem ser afetados pelas plantas e animais que
ali vivem. Nos ecossistemas aquáticos, características físicas tais como turbulência, transparência,
quantidade de nutrientes e profundidade da água afetam as características da biota. Por outro
lado, algas marinhas e recifes de corais podem influenciar o ambiente físico nas comunidades
onde ocorrem.

Em uma comunidade biológica cada espécie utiliza um determinado conjunto de


recursos que constituem seu nicho. O nicho de uma planta pode ser constituído
de um determinado tipo de solo sobre o qual ela se desenvolve, a quantidade

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de precipitação e de irradiação solar que ela exige, como ela dispersa suas
sementes assim como o tipo de estratégia de polinização que ela tem (por
exemplo pelo vento ou pela interação com certos animais polinizadores).
Já o nicho de um animal pode incluir o tipo e o tamanho do habitat que ele
ocupa, quais os limites de temperatura que ele tolera, suas exigências
energéticas em termos de alimentação, qual época do ano ele se reproduz, se
há ou não cuidado parental com sua prole, etc. Por exemplo, o lobo-guará, o
maior canídeo da América do Sul, evita áreas ocupadas pelo homem. Devido a
esse comportamento, sua área de ocorrência, que originalmente se estendia
desde porções da Caatinga até o norte da Argentina (Figura 2), foi diminuída
drasticamente por conta de processos de fragmentação florestal relacionados
à agricultura. Atualmente, esse canídeo está restrito à pequenos fragmentos
florestais do Cerrado brasileiro.

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Figura 2 – Distribuição geográfica original do lobo-guará na América do Sul (áreas em laranja). Fonte:
Barros (2013).

A formação e a estrutura de uma comunidade também podem ser afetadas pelas relações
biológicas existentes dentro da mesma, como a predação e a competição. Os predadores muitas
vezes reduzem fortemente as densidades das espécies de suas presas e podem até eliminar
algumas espécies de certos habitats. Os predadores podem aumentar indiretamente a diversidade
biológica em uma comunidade, mantendo a densidade de algumas espécies tão baixa, que não há
competição por recursos.
A quantidade de indivíduos de uma determinada espécie que os recursos de um ambiente
podem suportar é chamada de capacidade de suporte. A densidade de uma população é muitas
vezes inferior à capacidade de suporte quando ela é limitada pelos predadores. Se os predadores
são retirados, a população pode aumentar até o ponto de alcançar a capacidade de suporte, ou
até mesmo ultrapassá-la, de tal forma que os recursos essenciais para a sobrevivência se tornem
insuficientes e a população entre em colapso.
As espécies de uma comunidade também podem ser classificadas pelo modo como elas
obtêm energia do ambiente para suas atividades diárias. De forma geral, uma cadeia alimentar de
uma determinada comunidade é composta por diferentes níveis tróficos, os quais são classificados
em produtores, consumidores e decompositores (Figura 3).
Os produtores são aqueles organismos que estão na base da cadeia e, portanto, aqueles
capazes de produzir seu próprio alimento via assimilação de energia solar e gás carbônico
(processo conhecido como fotossíntese). No geral, plantas e algas compõem esse grupo e são
chamados de seres autotróficos.
Os consumidores são aqueles organismos dentro de uma cadeia alimentar que se
alimentam dos produtores (consumidor primário) ou de outros consumidores (consumidor
secundário, terciário, etc. – veja Figura 3). Todos os animais são consumidores e caracterizam-se
por não serem capazes de produzir seu próprio alimento, ou seja, eles têm que buscar sua fonte
de energia em outros organismos; por essa razão são chamados de seres heterotróficos.

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Os decompositores (constituídos pelas bactérias e algumas espécies de fungos), são


organismos que se alimentam de matéria orgânica morta (por exemplo, plantas mortas, tecido
de animais mortos e detritos). Sua principal função é degradar tecidos complexos e moléculas
orgânicas para que seus átomos constituintes (por exemplo, nitrogênio, fósforo, carbono, etc.)
sejam devolvidos ao ecossistema, para que os produtores possam utilizá-los para produzir novos
compostos orgânicos.

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Figura 3 – Cadeia alimentar hipotética, contendo os organismos nos seus respectivos níveis tróficos. Fonte:
Primack & Rodrigues (2001).

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Via de regra, existe mais biomassa (peso vivo) de organismos produtores


primários nos ecossistemas. Na maioria das comunidades, existem mais
organismos herbívoros (consumidores primários) e mais carnívoros primários
do que carnívoros secundários ou terciários.
Essa situação fica bem clara quando analisamos uma floresta tropical. Pense
na floresta Amazônica e na quantidade de árvores que existem na sua área
(Figura 4); já tem como termos uma ideia de quão significativa é a biomassa
de produtores primários nesse ambiente. Agora, pense nos animais que se
alimentam desses produtores primários: pequenos insetos, alguns roedores,
mamíferos ruminantes, etc. Concordam que, se pegássemos todos esses animais
e, hipoteticamente, pesássemos todos eles em conjunto, não chegaríamos
nem a 5% do total do peso vivo de toda a floresta? Pois bem, isso exemplifica e
comprova a grande biomassa de produtores primários.

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Figura 4 – Visão do alto de parte da floresta Amazônica sendo cortada pelos braços do rio Solimões. Fonte:
Barreiros (2009).

Também, é importante considerar que as cadeias alimentares não ocorrem isoladas


dentro de seus ecossistemas. Embora haja uma classificação das espécies dentro de seus níveis
tróficos, suas reais necessidades de alimentação dentro dos habitats podem ser tão restritas como
a de uma certa espécie de pulgão que se alimenta de uma determinada espécie de planta ou tão
generalista como espécies de lambaris que se alimentam de algas, insetos (aquáticos e terrestres)
e de outros pequenos peixes.
É evidente que nem todas as espécies se posicionam nos extremos das cadeias alimentares,
sendo a maioria delas se alimentando de mais de uma espécie do nível trófico abaixo do dela.
Além disso, as espécies também podem competir diretamente pela comida com outras espécies
presentes em seu nível trófico e, a seguir, se tornarem presas de outras espécies do nível trófico
acima delas.
Complexo, não? Esse emaranhado de inter-relações biológicas é a organização das
comunidades em uma teia alimentar, na qual várias cadeias alimentares são interconectadas por
relações alimentares (Figura 5). O comprimento das teias alimentares é um importante indicativo
da qualidade ambiental, sendo uma ferramenta que informa satisfatoriamente quando há excesso
de pesca sobre grandes peixes predadores (como o atum e o bacalhau) em pescas predatórias.

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Figura 5 – Diagrama de uma teia alimentar marinha hipotética. Fonte: Siyavula Education (2014).

Um dos clássicos da literatura científica, é o trabalho realizado por Pauly et al. (1998) em

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que os autores demonstraram que, ao longo do tempo e com o aumento da pesca exploratória,
o nível trófico das cadeias alimentares diminuiu significativamente em uma série temporal de
quase 50 anos (Figura 6).
Na Figura 5, o fitoplâncton e as algas marinhas são os produtores primários. O zooplâncton
é constituído por animais muito pequenos, por vezes microscópicos; juntamente com o Krill e
o caranguejo, eles são os consumidores primários e sustentam os demais níveis tróficos. As setas
representam as relações tróficas.

Figura 6 – Padrões globais de nível trófico médio dos pescados desembarcados entre 1950 e 1997. A = áreas
marinhas; B = áreas de águas continentais. Fonte: Pauly et al. (1998).

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Ainda, vale ressaltar que, apesar de todas as espécies terem seus valores intrínsecos pelo
simples fato de existir, certas espécies podem ser mais importantes para a persistência de muitas
outras espécies na comunidade. Tais espécies afetam a organização e a estrutura da comunidade
em um grau muito elevado, mantendo-a constante e estável ou, caso seja removida, levando-a ao
colapso. Assim, por representarem um papel chave dentro das comunidades, esses organismos
recebem a denominação de espécie-chave (PAINE, 1966). As espécies-chave são prioridade em
termos de esforços de conservação, pois caso se perca uma dessas espécies em determinada área,
poderão também ser perdidas muitas outras espécies.
Os animais que estão no topo da cadeia alimentar então entre as espécies-chaves mais
comuns, pois eles são importantes no controle das populações de herbívoros (PAINE, 1969). Por
exemplo, Paine (1966) observou que, em costões rochosos da região noroeste do oceano Pacífico
(EUA), havia uma comunidade composta por diferentes espécies de mexilhões, cracas e uma
espécie de estrela-do-mar (Pisaster ochraceus), a qual era a predadora de topo dessa comunidade.
Em um experimento realizado in situ, Paine removeu o predador de topo e observou que, com
o passar do tempo, a diversidade de organismos nessa comunidade declinou significativamente
(originalmente havia 15 espécies e após a remoção da estrela-do-mar, o número de espécies caiu
para 8), demonstrando a importância dessa espécie-chave em manter a estabilidade e diversidade
dessa comunidade.

MEDINDO A BIODIVERSIDADE

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Em seu nível mais simples, a diversidade de espécies tem sido definida como o número de
espécies encontradas em uma determinada comunidade, uma medida conhecida como riqueza
de espécies. Outras definições de diversidade também incluem medidas de quão uniforme o
número total (como a abundância) de indivíduos é disposto entre as espécies, métrica conhecida
como equitabilidade. Por exemplo, se em um determinado lago existem 10 espécies diferentes
de peixes em uma comunidade de 60 peixes, uma abundância uniforme seria de 6 indivíduos
por espécie (alta equitabilidade), enquanto que uma abundância desigual (baixa equitabilidade)
seria 1 peixe por espécie em 9 espécies, e 51 indivíduos na décima espécie. No primeiro caso,
nenhuma espécie seria considerada dominante, enquanto que, no segundo caso, a comunidade
seria dominada pela décima espécie.
Existem índices matemáticos para medir a diversidade em diferentes escalas espaciais. Se
considerarmos o número de espécies em uma área relativamente pequena de habitat homogêneo,
como pequenos fragmentos florestais, estamos olhando para a diversidade local ou diversidade
alfa. Se considerarmos o número de espécies em todos os habitats que constituem uma área ampla,
estaríamos diante da diversidade regional ou diversidade gama. Por exemplo, poderíamos
considerar a diversidade alfa o número de espécies de árvores que ocorrem no parque nacional
de Iguaçu, no estado do Paraná. Entretanto, sabemos que esse parque faz parte do bioma da Mata
Atlântica, e quando contabilizamos todas as espécies de árvores desse bioma, temos a diversidade
regional, ou a diversidade gama.
Supondo que cada espécie ocorreu em todos os habitats em uma determinada região,
então a diversidade de espécies nas escalas local e regional seria idêntica. Contudo, se as espécies
preferem áreas particulares, então o número de espécies na escala local seria menor que o número
de espécies na escala regional. Além disso, as listas de espécies em cada habitat local seriam
diferentes umas das outras.

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Os conservacionistas denominam o número de espécies que diferem em ocorrência


entre dois habitats como a diversidade beta. Por exemplo, imagine dois fragmentos florestais da
Mata Atlântica, um no estado do Paraná (fragmento PR) e outro no estado da Bahia (fragmento
BA). O fragmento PR contém cinco espécies não encontradas no fragmento BA, e o fragmento
BA contém três espécies não encontradas no fragmento PR. Como os dois fragmentos diferem
por um total de oito espécies, a diversidade beta é igual a oito. Quanto maior a diferença na
composição das espécies entre dois habitats, maior a diversidade beta.

A DISTRIBUIÇÃO DA BIODIVERSIDADE: ONDE ESTÁ


ESSA DIVERSIDADE?
Em um contexto generalizado, considerando todos os táxons combinados, a riqueza de
espécies é maior próximo aos trópicos e ao equador e declina em direção aos polos (GASTON,
2000). Por exemplo, um hectare (cerca de 10.000 m2) de floresta na região boreal, próximo aos
trópicos, tem menos de 10 a 30 espécies de árvores enquanto que em regiões tropicais esse
número ultrapassa 300 espécies. Observe a Figura 7, onde são mostrados padrões de diversidade
de plantas vasculares em uma escala global; sempre nas regiões entre os trópicos existe uma

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maior riqueza de espécies.
Esse padrão latitudinal também é observado para outros grupos taxonômicos, como
mamíferos, aves, répteis e anfíbios. Considerando apenas mamíferos, existem cerca de 250
espécies na Tailândia (localizada em região tropical), enquanto que na França (que tem uma
área similar, porém em uma zona temperada) existem não mais que 95 espécies (PRIMACK &
RODRIGUES, 2001).
Os padrões de diversidade terrestres encontram paralelo nos padrões de diversidade de
espécies marinhas e aumento parecido de diversidade de espécies em direção às regiões tropicais.
No Oceano Atlântico, por exemplo, o mar do Caribe é o centro da diversidade, concentrando a
maior diversidade de peixes marinhos e recifes de corais (VERON, 1995; FLOETER et al., 2004).
Similarmente, a Grande Barreira de Corais (Great Barrier Reef), na costa da Austrália, tem 50
gêneros de corais formados por recifes em seu limite norte onde ele se aproxima dos trópicos,
mas apenas 10 gêneros em seu limite sul.

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Figura 7 – Mapa revisado da distribuição global da diversidade de espécies de plantas vasculares. Fonte:
Barthlott et al. (1999).

Os ambientes mais ricos em termos de quantidade de espécies são as florestas


tropicais. Embora as mesmas ocupem apenas 7% da extensão da Terra, elas
contêm mais da metade das espécies do mundo. Tal estimativa é baseada na
quantidade de artrópodes, especialmente insetos, os quais perfazem a maior
parte de toda diversidade de organismos existentes na Terra.
Apesar de amplamente conhecidos e descritos, ainda há uma grande incerteza
sobre o número total de insetos presentes nas florestas tropicais. Algumas
estimativas demonstraram que o número de espécies ainda não conhecidas
pela ciência, ou seja, aquelas que ainda não foram descritas por taxonomistas,
variam de 5 a 10 milhões de espécies (MAY, 1992). Se essa estimativa estiver
correta, significa que os insetos encontrados em florestas tropicais podem
representar cerca de 90% das espécies existentes!
Essa variação (de 5 a 10 milhões), foi ilustrada brilhantemente por Robert
May (2010) na forma de uma metáfora: Caso nosso planeta fosse visitado por
alienigenas, uma das suas primeiras perguntas seria, “Quantas formas de vida
distintas – espécies – o seu planeta tem?” O autor reiterou que nós ficaríamos
“envergonhados” pela tamanha incerteza de nossa resposta. Essa narrativa
ilustra perfeitamente a deficiência nos estudos existentes e os esforços para
entender e desvendar quantas espécies existem em nosso planeta, assim como
nosso progresso limitado nas pesquisas sobre esse assunto, o que impede ações
para proteger a biodiversidade (WILSON, 2017).

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Alguns fatores são importantes na determinação da alta diversidade de espécies em certas


regiões geográficas. Áreas que são geograficamente mais antigas possuem uma maior riqueza
de espécies que áreas mais novas. Por exemplo, a riqueza de espécies de corais é muito maior
no Oceano Índico e Pacífico Ocidental do que no Oceano Atlântico, que é geologicamente mais
novo. Isso ocorre porque áreas que são geologicamente mais antigas tiveram mais tempo para
receber espécies que vieram de outras localidades e mais tempo para que as espécies já existentes
passassem pela irradiação adaptativa em respostas às condições locais.
Também, áreas que sofreram menos distúrbios durante sua história geológica (como
regiões tropicais) tendem a apresentar uma maior biodiversidade. Como a temperatura atual do
mundo e as regiões polares sofreram repetidos avanços e recuos das geleiras durante a Era do
Gelo, as espécies nessas regiões foram eliminadas ou forçadas para refúgios próximos ao equador.
Por outro lado, como as regiões tropicais do mundo não sofreram glaciação, os habitats nesses
locais permaneceram estáveis, e assim tiveram mais tempo para acumular mais espécies.
Além de fatores históricos, padrões de diversidade são também influenciados por variação
local das condições climáticas, ambientais e topográficas. Em qualquer dada latitude, existem
mais espécies onde há maior heterogeneidade ecológica por exemplo em locais mais complexos.
Um exemplo comparativo dessa variação está entre os campos naturais que contêm vegetação
que é menos heterogênea na forma de crescimento que as áreas de florestas (Figura 8).

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Figura 8 – Heterogeneidade de habitat e diversidade. Fonte A: Petrin (2017); B: Pixabay (2017).

Na Figura 8, a figura A representa uma imagem de um campo natural, com baixa


heterogeneidade ecológica. A figura B representa um ambiente de flores, com alta heterogeneidade
ecológica.
Essa variação na complexidade da vegetação de cada habitat é refletida diretamente na
diversidade de animais que habitam essas áreas. Por exemplo, levantamentos feitos na América
do Norte mostraram uma média de seis espécies habitando os campos naturais e 24 habitando as
florestas (RICKLEFS & RELYEA, 2016).
Estudos experimentais também demonstraram que plantas aquáticas (conhecidas como
‘macrófitas aquáticas’) também influenciam positivamente a diversidade de pequenos peixes
neotropicais na planície de inundação do alto rio Paraná, no Brasil (AGOSTINHO et al., 2007).
Isso ocorre porque essas plantas propiciam abrigo e aumentam a disponibilidade de alimento
para a comunidade que vive ao redor delas (THOMAZ & CUNHA, 2010; Figura 9).

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Figura 9 – Modelo conceitual da heterogeneidade ecológica das macrófitas aquáticas e diversidade. Fonte:
Thomaz & Cunha (2010).

O número de espécies encontradas em qualquer local à medida que se move


dos polos para os trópicos está positivamente correlacionado com a quantidade
de energia solar e a precipitação em cada local. Os ecólogos têm combinado
a energia com a precipitação em uma medida chamada de evapotranspiração
REFLITA potencial (ETP).
A ETP é a quantidade de água que poderia ser evaporada do solo e transpirada
pelas plantas, dadas as temperaturas e umidades médias. Como a ETP integra a
temperatura e a radiação solar, ela proporciona um índice para a energia global
que entra em um determinado ambiente. A ETA se correlaciona com a riqueza
tanto de espécies de vertebrados quanto de invertebrados (CURRIE, 1991; GASTON,
2000), levando os pesquisadores a elaborar a hipótese da energia-diversidade,
que estabelece que locais com quantidades maiores de energia são capazes
de sustentar mais espécies. Outras variáveis também afetam a diversidade de
certos locais (por exemplo, altitude, temperatura do oceano, etc.), porém, estas
não serão abordadas nessa disciplina.

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QUANTAS ESPÉCIES EXISTEM NA TERRA?


Qualquer estratégia de conservação exige uma quantificação numérica das espécies
existentes e de que forma elas estão distribuídas. Recentemente, o número de espécies que foram
descritas, caracterizadas e receberam um nome latinizado por taxonomistas ultrapassaram pouco
mais de 2 milhões (WILSON, 2017).
No entanto, a lista completa, que inclui todos os conhecidos e outros que aguardam
descoberta, geralmente é considerada de ordem de 10 milhões. uma inferência matemática
fundamentada contabilizou o número de espécies com células eucarióticas em aproximadamente
8,7 milhões (MORA et al., 2011). Assim, uma fração muito grande de espécies vivas, cerca de
80%, continua desconhecida da ciência.
Nosso conhecimento da quantidade de espécies é impreciso porque espécies sem
características muito marcantes não recebem muita atenção dos taxonomistas. Por exemplo, a
fauna presente no solo (ou fauna edáfica), composta principalmente por nematoides, ácaros e
fungos e os insetos que vivem nas copas das árvores de florestas tropicais são pequenos e difíceis
de se estudar. Esses grupos pouco conhecidos poderiam chegar a centenas de milhares ou até
mesmo milhões de espécies (BASSET, 2001).
Os organismos procariontes são ainda mais subestimados, considerando que apenas

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 1


cerca de 4.000 espécies de bactérias foram identificadas devido à dificuldade de identificação das
espécies (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Entretanto, um estudo recente considerando apenas
bactérias da copa de nove espécies de árvores da Mata Atlântica demonstrou que a diversidade
(baseado em análises moleculares de DNA) de bactérias foi de aproximadamente 1.000 espécies
(LAMBAIS et al., 2006). Se extrapolarmos esses dados para as cerca de 20.000 espécies de plantas
vasculares existentes nesse bioma, o número de bactérias poderia chegar até 13 milhões de novas
espécies de bactérias!
Certas regiões geográficas são centros tanto de alta diversidade de espécies (exemplo:
Floresta Amazônica) como de altas taxas de endemismo (exemplo: espécies exclusivas para uma
determinada localização).

Algumas áreas relativamente pequenas do mundo possuem números excepcionalmente


grandes de espécies. É provável que as áreas conhecidas pela sua riqueza em espécies de grandes
plantas, aves, mamíferos e répteis também sejam ricas em espécies que pertencem a grupos menos
presentes.
Norman Myers e seus colegas (2000) identificaram 25 hotspots (“pontos críticos”) de
biodiversidade em todo o mundo, que eles então propuseram para uma consideração especial
em termos de conservação (Figura 10). As fronteiras dos hotspots são relativamente fáceis de
estabelecer para lugares como as ilhas do Caribe, Madagascar e Nova Caledônia. Nos continentes,
as fronteiras dos hotspots normalmente correspondem às fronteiras de importantes biomas, como
a vegetação do Cerrado e da Mata Atlântica do Brasil e a região climática mediterrânea do sul da
Europa e norte da África. Para se qualificar como hotspot, uma região deve ter um alto nível de
endemismo.

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Figura 10 – Os 25 hotspots para a conservação da biodiversidade. Fonte: Myers et al. (2000).

A vegetação natural remanescente em todos os hotspots identificados por Myers ocupa


somente 1,4% da área total de terra do planeta, embora esses hotspots contenham cerca de 44% de
todas as espécies de plantas e 35% de todas as espécies de vertebrados terrestres. Eles são também

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regiões de rápida destruição de habitat, onde uma alta proporção de espécies está ameaçada com
populações em declínio ou em extinção. Dentro dessas áreas de hotspots, uma média de 88% da
vegetação natural já desapareceu.

Sobre os hotspots brasileiros na seção de Econotícias (Hotspots de


biodiversidade: tesouro “preservado”), da revista eletrônica Bioika, disponível
no link: https://revistabioika.org/pt/econoticias/post?id=22.

O VALOR DA BIODIVERSIDADE: CONSIDERAÇÕES


ECONÔMICAS, SOCIAIS E ECOLÓGICAS
A conservação da biodiversidade pode refletir em uma ampla gama de valores. Por
exemplo, o valor instrumental da biodiversidade se concentra nos valores econômicos que
as espécies podem proporcionar, tais como madeira para construção ou plantações para a
agricultura. Por outro lado, o valor intrínseco da biodiversidade reconhece que as espécies têm
valores inerentes, nelas e delas mesmas, que não estão relacionados com qualquer benefício
econômico. Naturalmente, as espécies e os ecossistemas podem ter, ao mesmo tempo, ambos os
valores instrumentais e intrínsecos.

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VALORES INSTRUMENTAIS
O benefício total proporcionado pela diversidade biológica é muitas vezes difícil de
mensurar, pois muito dessa diversidade ainda é desconhecida e os valores de cada espécie e
ecossistema podem ser difíceis de estimar. Entretanto, pesquisadores têm tentado fazer isso, por
exemplo, o valor econômico da biodiversidade dos EUA é estimado em US$ 319 bilhões/ano. Isso
representa cerca de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) anual dos Norte Americanos! Em um
nível mundial, as estimativas do benefício total da diversidade biológica variam de 3 a 54 trilhões
de dólares (RICKLEFS & RELYEA, 2016).
De uma forma geral, podemos agrupar os valores instrumentais da biodiversidade em
quatro categorias de serviços: provisionamento, regulação, cultural e de suporte.

VALORES INSTRUMENTAIS: SERVIÇOS DE PROVISIONAMENTO


Os serviços de provisionamento são aqueles benefícios que proporcionam produtos que
os humanos usam, incluindo madeira, pele, carne, plantações, água e fibras. Em muitos casos,
animais e vegetais têm sido cultivados ou domesticados e, então, seletivamente criados para
aprimorar as suas características mais valiosas. As provisões também incluem as substâncias
farmacêuticas que se originam das plantas e os animais; cerca de 70% de um total de 150
substâncias farmacêuticas mais importantes tiveram origem de compostos químicos sintetizados
na natureza (RICKLEFS & RELYEA, 2016).
Um bom exemplo de benefício econômico vem de uma substância utilizada para

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 1


combater o câncer, o Taxol®. Atualmente, o Taxol® é sintetizado em laboratório, porém, ele é
original da árvore teixo do Pacífico (Taxus brevifolia). Essa substância única é responsável por
cerca de US$ 1,5 bilhão em vendas atualmente em todo o mundo. Nos últimos 25 anos, mais
de 800 substâncias químicas naturais foram identificadas na busca para prover tratamento para
todos os tipos de doenças, desde câncer até contracepção, não há indicações de que a velocidade
dessas descobertas esteja diminuindo.

VALORES INSTRUMENTAIS: SERVIÇOS DE REGULAÇÃO


Serviços de regulação são os benefícios da biodiversidade que incluem a regulação do
clima, o controle de inundações e a purificação da água. Por exemplo, as áreas alagadas (como
o Pantanal e outras planícies de inundação) absorvem grandes quantidades de água e assim
impedem a inundação de águas superficiais durante o período chuvoso. As plantas que vivem
nesses ambientes também são capazes de remover contaminantes da água, tornando-a mais
adequada para o uso dos humanos. Além disso, o gás carbônico (CO2) absorvido do ar pelos
produtores primários na terra e no oceano é outro serviço de regulação. Das 8 gigatoneladas
de carbono que são introduzidas no ar a cada ano pelas atividades antrópicas, cerca de 4
gigatoneladas são retiradas do ar pelos produtores através da fotossíntese, o que reduz os efeitos
que os humanos têm sobre as temperaturas devido ao aquecimento global.

VALORES INSTRUMENTAIS: SERVIÇOS CULTURAIS


Os serviços culturais são benefícios da biodiversidade que proporcionam valores estéticos,
espirituais ou recreacionais. Esses serviços incluem os benefícios que as pessoas têm quando elas
vão acampar, caminhar, andar de barco ou observar árvores ou pássaros.
As pessoas pagam para visitar áreas de beleza natural, como o Parque Estadual de Vila
Velha, no Paraná (Figura 11 A), ou o Parque Nacional Torres del Paine, na Patagônia Chilena
(Figura 11 B). Às vezes, áreas são preservadas porque a receita vinda de turistas pode exceder
o que seria recebido do desmatamento de uma floresta ou do uso da terra para habitação ou
indústria.

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Muitos países latino-americanos têm capitalizado essa atração ao criar parques e sustentar
serviços para turistas. Por exemplo, no Parque Nacional Torres del Paine, no Chile, as belas
trilhas, os contrastes de paisagens de montanhas, lagos e glaciares, além de plantas e animais
característicos da região (como o puma e o guanaco) atraem turistas do mundo todo para áreas
onde essa diversidade ambiental é protegida.

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Figura 11 – Exemplos de parques que proporcionam benefícios de recreação e culturais da biodiversidade.
A: Parque Estadual de Vila Velha, Paraná, Brasil; B: Parque Nacional Torres del Paine, Chile. Fonte: o autor.

VALORES INSTRUMENTAIS: SERVIÇOS DE SUPORTE


Serviços de suporte são aqueles que tornam possível a existência dos ecossistemas, tais
como a produção primária, a formação do solo e a ciclagem dos nutrientes. Esses processos são
essenciais para a existência das espécies e dos ecossistemas. Não haveria ecossistemas sem os
produtores que capturam a energia do Sol e, então, a transferem para todos os outros níveis
tróficos. Analogamente, tanto a formação do solo quanto a ciclagem de nutrientes representam
papéis chave na sobrevivência nos ecossistemas existentes.

VALORES INTRÍNSECOS
Em contraste com os valores instrumentais, os valores intrínseco da biodiversidade não
proporcionam quaisquer benefícios econômicos para os seres humanos. Em vez disso, as pessoas
que dão valor intrínsecos à biodiversidade sentem obrigações religiosas, morais ou éticas para
preservar as espécies do mundo.
Contudo, torna-se difícil priorizar os esforços de conservação já que todas as espécies
são intrinsicamente valiosas. Por essa razão, aqui apresento alguns argumentos que podem servir
de justificativa para a proteção de espécies raras e com nenhum valor econômico aparente. Tais
argumentos podem ser vistos com mais detalhes em PRIMACK & RODRIGUES (2001) e em
SANDLER (2012):

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Toda espécie tem o direito de existir - Todas as espécies representam soluções biológicas
singulares para o problema de sobrevivência. Com base nisto, a sobrevivência de cada espécie
deve ser garantida, independente de sua abundância ou importância para nós, humanos. Isto
é verdadeiro se a espécie é grande ou pequena, simples ou complexa, velha ou recentemente
surgida, de grande importância econômica ou de pequeno valor imediato. Todas as espécies
são parte da comunidade de seres vivos e têm tanto direito quanto qualquer outro humano de
existir. Toda espécie tem seu próprio valor, um valor intrínseco não relacionado às necessidades
humanas.
Todas as espécies são independentes – Todas as espécies interagem com outras espécies
de sua comunidade de modo complexo. Assim, a perda de uma espécie pode ter consequências
de longo alcance para outros membros da comunidade.
Os humanos devem viver dentro das mesmas limitações em que vivem as outras
espécies – Todas as espécies do mundo são restritas pela capacidade que o ambiente em que elas
vivem tem de suportar suas populações. Cada espécie utiliza recursos de seu ambiente para viver,
e a densidade de uma espécie se reduz quando seus recursos se tornam escassos. Seres humanos
devem ser cuidadosos em diminuir o dano que causam a seu ambiente natural, porque tal dano
prejudica não só outras espécies, mas também os próprios humanos.
A sociedade tem a responsabilidade de proteger a Terra – Se degradarmos os recursos
naturais da Terra e fizermos com que as espécies se tornem extintas, as gerações futuras terão
que pagar o preço em termos de um padrão inferior de qualidade de vida. A garantia de um

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 1


meio ambiente equilibrado para as próximas gerações é um direito constitucional no Brasil e está
disposto no artigo nº 225 da Constituição Federal Brasileira. Portanto, é de responsabilidade
da sociedade contemporânea o uso sustentável dos recursos naturais, de modo que o mesmo não
seja danificado, garantindo a sobrevivência das espécies e comunidades.

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02
UNIDADE

EXTINÇÃO, DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO


DE HABITAT E INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES
PROF. DR. GUSTAVO H. ZAIA ALVES

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 25
ACELERANDO AS TAXAS DE EXTINÇÕES ............................................................................................................. 26
DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE HABITAT .................................................................................................... 29
DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE FLORESTAS TROPICAIS .......................................................................... 33
DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE ILHAS ........................................................................................................ 34
DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO CERRADO ................................................................................................. 35
DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE RECIFES DE CORAIS ................................................................................ 35
DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE RIOS .......................................................................................................... 36
INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES NÃO-NATIVAS ......................................................................................................... 39

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INTRODUÇÃO
Apesar da suma importância de todos os níveis da diversidade biológica, sua principal
ameaça é a espécie humana. Processos de extinção de espécies são eventos naturais, entretanto a
taxa com que essas extinções ocorrem não está normal, especialmente depois do início do século
XX.
A biodiversidade global está mudando rapidamente, como uma complexa resposta à
várias mudanças ambientais induzidas por processos antrópicos. A magnitude dessas mudanças
é tão grande e tão fortemente ligada à processos ecológicos e ao uso de recursos naturais por
parte da sociedade, que a mudança na biodiversidade é considerada uma importante mudança
global por direito próprio. Nunca, na história natural, tantas espécies estiveram ameaçadas de
extinção em um período tão curto de tempo.

Assista ao vídeo “HOMEM” para entender a relação Homem x Natureza.

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


Disponível no link:
<https://www.youtube.com/watch?v=E1rZFQqzTRc>.

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ACELERANDO AS TAXAS DE EXTINÇÕES


O processo de extinção está relacionado ao desaparecimento de espécies ou grupos de
espécies em um determinado ambiente ou ecossistema. Semelhante ao surgimento de novas
espécies, a extinção é um evento natural: espécies surgem por meio de eventos de especiação
(longo isolamento geográfico, seguido de diferenciação genética) e desaparecem devido a eventos
de extinção (catástrofes naturais, surgimento de competidores mais eficientes). Normalmente,
porém, o surgimento e a extinção de espécies são eventos extremamente lentos, demandando
milhares ou mesmo milhões de anos para ocorrer.
Nos últimos 500 milhões de anos, o mundo sofreu cinco eventos de extinção em
massa, que são definidos como eventos nos quais pelos menos 75% das espécies existentes se
extinguiriam em um período de 2 milhões de anos. Em cada um desses eventos, as extinções não
foram instantâneas, mas, ao contrário, ocorreram gradativamente ao longo de 2 milhões de anos.
Talvez a extinção em massa mais bem conhecida seja a quinta, que aconteceu há 65
milhões de anos, e incluiu a extinção dos dinossauros. Esse evento foi atribuído a uma série de
eventos como erupções vulcânicas, longos períodos de tempo frio, e também pelo fato da Terra
ter sido atingida por um asteroide maciço de 10km de diâmetro. Tal explosão teria colocado tanta
poeira na atmosfera, que bloqueou os raios do Sol, tornando a Terra muito menos habitável aos

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


dinossauros, juntos com muitos outros grupos como as plantas que produziam flores. Durante
esse período, cerca de 76% das espécies foram extintas da Terra.
Sabe-se que essas cinco extinções em massa ocorreram por processos naturais – meteoritos,
supervulcões ou até a explosão de uma supernova. Entretanto, atualmente, a espécie humana é a
maior ameaça para as outras espécies, provocando e acelerando o desaparecimento das mesmas.
Esse fato chamou a atenção de muitos pesquisadores conservacionistas, os quais propuseram que
estamos caminhando em direção a uma sexta extinção em massa (BARNOSKY et al., 2011).
Em 2015, um grupo de pesquisadores americanos e mexicanos (CEBALLOS et al., 2015)
usou a base de dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla
em inglês) para calcular a taxa atual de extinção das espécies. Concentraram-se somente nos
vertebrados, devido à existência de mais dados sobre eles nos registros fósseis e nos históricos.
Gerardo Ceballos e seus colegas descobriram que, desde 1500, existem provas do desaparecimento
de 338 espécies. Outras 279 atualmente só existem nos zoológicos ou, pela falta de observações,
possivelmente já se extinguiram. No total, desapareceram 617 espécies de vertebrados e a maioria
das extinções ocorreu no último século (Figura 12). Na Figura 12, a linha pontilhada é a taxa
natural de extinção.

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BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


Figura 12 - Porcentagem acumulada de espécies de vertebrados (mamíferos, aves, anfíbios, peixes e répteis)
extintas desde 1500. Fonte: Ceballos et al. (2015).

Isso indica que já entramos, de fato, na sexta extinção em massa. O que difere
essa extinção das cinco anteriores é que todas as anteriores foram provocadas
por fenômenos naturais, e esta está sendo causada pelo ser humano, e em um
espaço de tempo muito curto. Atualmente, estima-se que a taxa de extinção
seja de até 100 vezes maior que a taxa natural! Para se ter uma ideia, em um
cenário em que prevalecesse a taxa de extinção natural, desde 1900 teriam sido
extintas apenas nove espécies de vertebrados. Porém, cerca de 477 espécies já
foram extintas nesse período.

O termo “extinto” tem muitas nuances e seu significado pode variar, dependendo
do contexto. Uma espécie é considerada extinta quando nenhum indivíduo
daquela espécie permanece vivo em todo o mundo. Por exemplo, os mamutes são
animais extintos. Se os indivíduos de uma espécie permanecem vivos apenas em
cativeiro ou em qualquer outra situação em que o homem tenha controle sobre
sua sobrevivência, a espécie também é considerada extinta, pois não existem
mais indivíduos na natureza: “O Pau-Brasil está praticamente extinto nas matas,
mas se desenvolve bem em cativeiro”.

Para saber mais sobre a sexta extinção em massa, leia o livro


“A Sexta Extinção. Uma Historia não Natural”, por Elizabeth Kolbert.

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Nas duas situações citadas acima, as espécies seriam consideradas globalmente extintas.
Uma espécie é considerada localmente extinta quando não é mais encontrada na área em que
habitou anteriormente, mas ainda pode ser encontrada em outro lugar no ambiente selvagem.
Alguns pesquisadores consideram uma espécie ecologicamente extinta se ela mantém um
número muito reduzido de indivíduos na natureza que seu efeito sobre as outras espécies da sua
comunidade é quase nulo. Por exemplo, a ariranha (Pteronura brasiliensis) está ecologicamente
extinta no estado de Minas Gerais, ou seja, existem tão poucos indivíduos na natureza que seu
efeito de predação sobre suas presas, por exemplo, é insignificante (PRIMACK & RODRIGUES,
2001).
Como já mencionado na Unidade I, já foram descritas cerca de 2 milhões de espécies,
mas estima-se que esse número possa ser muito maior, entre 10 e 30 milhões. Como nem todas
as espécies tem valor comercial, ou são rentáveis aos olhos da sociedade moderna, o homem não
se preocupa com a perda de uma ou mais espécies. Entretanto, sabe-se que toda a espécie tem um
valor intrínseco e deve ser preservada.
Apesar de boa parte da biodiversidade ser, ainda, desconhecida pela ciência e sociedade,
a espécie humana vem exercendo pressões que estão levando ao declínio de muitas espécies,
populações, comunidades e ecossistemas. Dentre estas, as que têm recebido mais destaque
(por conta do seu potencial destrutivo) são a destruição e fragmentação de habitat (exemplo,
desmatamento, fragmentação de rios, desertificação, substituição de áreas naturais por agricultura
ou pastos, etc.), a introdução de espécies exóticas, a poluição (aquática, terrestre e atmosférica), a

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


superexploração de recursos naturais e as mudanças globais (exemplo. alterações de temperatura
média global, destruição da camada de ozônio, altas taxas de poluentes na atmosfera).
Essas cinco ameaças a diversidade biológica são causadas pelo uso crescente dos recursos
naturais por uma população humana em expansão exponencial. Até os últimos cem anos, o índice
de crescimento populacional humano era relativamente baixo, com uma taxa de nascimento
apenas um pouco superior a taxa de mortalidade. A grande destruição de comunidades biológicas
ocorreu durante os últimos 150 anos, quando a população humana cresceu de 1 bilhão em 1850,
para 2 bilhões em 1930, chegando a 5,9 bilhões em 1995. O relatório Perspectivas da População
Mundial das Nações Unidas (UNITED NATIONS, 2017) revela que a população global atual é de
7,6 bilhões de habitantes e deve subir para 8,6 bilhões em 2030 (Figura 13).

Figura 13 – Estimativa da população mundial humana entre 1950 e 2015. Fonte: United Nations (2017).

Na Figura 13, a linha preta indica a população real atual, até 2017. A linha pontilhada
laranja são as projeções feitas pela ONU.

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Os seres humanos usam diversos recursos naturais e convertem grandes


áreas de habitat natural para fins agrícolas, residenciais e industriais. Como
consequência, o crescimento populacional humano é, por si só, parcialmente
responsável pela perda da diversidade biológica. Algumas pesquisas já
REFLITA argumentaram que uma solução para esse problema seria controlar o tamanho
da população humana para proteger a biodiversidade (HARDIM, 1993; MEFFE
et al., 1993). No entanto, o crescimento populacional não é a única causa da
extinção de espécies e da destruição de habitat. De uma forma geral, tanto
em países ricos quanto naqueles mais pobres e em desenvolvimento (como o
Brasil), é evidente que a extinção de espécies e a destruição de habitat nem
sempre são causados por cidadãos usando esses recursos para suprir suas
necessidades básicas de subsistência. De acordo com Primack e Rodrigues
(2001), o surgimento do capitalismo industrial e das sociedades modernas
materialistas provocou uma aceleração na demanda por recursos naturais,
especialmente em países desenvolvidos. Além disso, o uso ineficiente e desigual
de recursos naturais também é um dos principais motivos para o declínio da
diversidade biológica. Com isso em mente, vamos detalhar a seguir as principais
ameaças à biodiversidade.

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE HABITAT
A maior ameaça à biodiversidade é a destruição de habitat. De acordo com a Avaliação
Ecossistêmica do Milênio (2005), mais da metade de vários biomas, incluindo o Mediterrâneo,
florestas temperadas, florestas tropicais e subtropicais, foram convertidos por volta de 1990;
na Europa Ocidental, cerca de apenas 3% das florestais originais ainda se encontram em suas
condições naturais (ou semelhante às condições naturais). A conversão de habitats naturais em
áreas para agricultura, pastos, plantações, áreas urbanas, mineração e de infraestruturas (i.e.,
rodovias, usinas hidrelétricas, exploração de petróleo, etc.) foi impulsionada pelo aumento do
tamanho da população humana e pela aceleração da demanda por recursos naturais, e constituem-
se nas principais causas de perda e fragmentação de habitats.
A redução de habitat e, especialmente, a fragmentação de habitats em pequenos
remanescentes impõem uma tremenda ameaça a algumas espécies de vida selvagem. Quando
não há habitat alternativo disponível ou uma espécie é incapaz de se deslocar, a perda do hábitat
pode significar extinção. A IUCN vincula a destruição de hábitats para 73% das espécies que
foram extintas, que estão em perigo, vulneráveis ou que foram consideradas raras nos últimos
séculos.
No Brasil, as áreas aptas para a agricultura nas regiões Sul e Sudeste, assim como a Zona
da Mata Nordestina, vêm sendo desmatadas há centenas de anos. No entanto, é praticamente
impossível saber com acurácia quantas espécies foram extintas com a destruição desses habitats,
já que o levantamento de espécies anterior a esse desmatamento não foi feito.

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A destruição de habitats não se restringe somente ao Brasil, ainda que haja uma
grande preocupação por parte das outras nações com a destruição da floresta
Amazônica – que ocupa grande parte do território brasileiro (Figura 14). Em todo
o planeta existem ocorrências de destruição de habitats, as quais tendem a
ocorrer em locais de alta densidade populacional. Por exemplo, o estado do
Mato Grosso (o mais populoso da Amazônia legal) é o que mais desmata. Entre
os anos de 1998 e 2000, foram desmatados cerca de 300.000ha/ano de floresta
Amazônica nesse estado (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

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Figura 14 – Desmatamento na floresta Amazônica. Fonte: Greenpeace (2017).

O desaparecimento de florestas e sua fragmentação, acarreta à extinção local de certas


espécies. Por exemplo, o desaparecimento de pássaros canoros nativos de fragmentos de florestas
temperadas da América do Norte é parcialmente consequência de um tamanho pequeno de
população e extinção estocástica local. Mas a fragmentação também tem aumentado o acesso aos
habitats de florestas por alguns predadores e nidoparasitas, que são mais típicos dos campos e
terras cultivadas, com drásticas consequências para a sobrevivência e o sucesso reprodutivo dos
pássaros canoros em algumas áreas.

FRAGMENTAÇÃO DO HABITAT
Além de estarem sendo rapidamente destruídos, os habitats de grandes áreas são
frequentemente divididos em pequenos pedaços, seja por estradas, cidades, agriculturas, e
outras atividades antrópicas. A fragmentação do habitat é o processo pelo qual uma grande
área contínua de habitat (floresta, rio, lago, etc.) é reduzida em tamanho e também dividida em
dois ou mais fragmentos. Tais fragmentos, são frequentemente isolados uns dos outros por uma
paisagem quase sempre degradada pelo homem.
Algumas características marcantes que diferenciam os habitats fragmentados dos
naturais são, além da diminuição da área de habitat, o aumento considerável da área de borda e a
aproximação do centro do fragmento de habitat da borda (diminuição da área interna). Considere
os efeitos de dividir uma grande área de habitat em fragmentos menores.

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A área de habitat total que contribui para todos os fragmentos combinados deveria ser
pouco alterada, mas a razão de borda para interior de habitat aumenta (veja Figura 15). Em
outras palavras, muito mais bordas de habitat seriam criadas. Também, o formato do fragmento
de habitat influencia diretamente a relação borda/interior: habitats redondos têm menor relação
de borda para a área, ao passo que habitats longos, finos, ovais ou retangulares têm razões de
borda para área muito maiores.

Figura 15 – A quantidade de borda aumenta com a fragmentação do habitat. Fonte: Ricklefs (2010).

De acordo com o representado na Figura 15, temos que a quantidade de borda aumenta

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


com a fragmentação do habita. Isso significa que, se um hectare de habitat for dividido em 16
fragmentos, mesmo com pouca mudança da área total, a razão borda/interior de habitat aumenta
por um fator de 4.

Um aumento no habitat de borda muda tanto as condições abióticas quanto a


composição das espécies. Consideremos uma floresta tropical fragmentada em
que a borda de um fragmento recentemente criado sofre maior iluminação solar,
temperaturas mais elevadas no verão e taxas mais altas de evaporação. Essas
REFLITA condições podem tornar a borda um habitat pouco adequado para as espécies
de floresta e mais adequado para outras mais adaptadas a essas condições,
alterando a abundância e diversidade da comunidade que ali vive (RICKLEFS
& RELYEA, 2016). Assim, entender os efeitos da fragmentação de habitat tem
importantes implicações para conservação das espécies.

A fragmentação também acarreta à diminuição do tamanho do habitat, causando declínio


na diversidade de espécies. Isso ocorre porque cada fragmento sustenta populações menores do
que as que existiam anteriormente no habitat maior e não fragmentado e, como consequência,
populações menores sofrem mais altas taxas de extinção. Um exemplo muito claro é dado por
Ricklefs & Relyea (2016), em seu livro A Economia da Natureza: no leste da Venezuela, um grande
rio foi represado para criar um lago de mais de 4 mil metros quadrados durante a construção de
uma usina hidrelétrica, chamado de Lago Guri.
A região era composta de uma mistura heterogênea de habitat com campos e florestas
tropicais, entretanto, após o fechamento da barragem e consequente inundação da região,
centenas de pontos altos na paisagem tornaram-se ilhas no lago. As ilhas menores não continham
presas suficientes para sustentar grandes predadores vertebrados, assim, tais predadores isolados
nas pequenas ilhas se extinguiram. Essas extinções causaram um efeito em cascata que afetaram
as espécies que permaneciam nas ilhas.

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Com a extinção dos predadores, outros animais herbívoros aumentaram suas populações.
Como consequência, isso afetou a abundância de plantas nessas ilhas.

CORREDORES DE HABITAT
Uma característica da paisagem fragmentada que pode suavizar os efeitos negativos da
fragmentação são os corredores de habitat (ou corredores ecológicos), que são faixas estreitas
de habitat que facilitam o movimento dos organismos entre os fragmentos adjacentes. Os
corredores podem ser simplesmente parte do habitat ou podem ser construídos pelo homem
como forma de mitigação dos efeitos da fragmentação (por exemplo, um corredor para animais
atravessarem uma rodovia, ou uma escada para peixes migradores conseguiram transpor uma
barragem de uma usina hidrelétrica).

Apesar dos corredores servirem para o resgate de populações em declínio


ao adicionar novos indivíduos, eles também podem ter efeitos deletérios. Os
corredores construídos para ajudar a conservação de determinadas espécies
podem facilitar o movimento de predadores, competidores, patógenos e até de
REFLITA espécies não-nativas daquele habitat, causando um dano ainda maior para a
biodiversidade local.

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


Por exemplo, o canal da piracema construído na usina hidrelétrica de Itaipu,
no rio Paraná, teve como objetivo conservar a migração sazonal de peixes que
necessitam deslocar-se rio acima para se reproduzir. No entanto, esse canal agiu
também como uma armadilha para os peixes migradores, já que muitos deles
ficavam presos às escadas e não conseguiam atingir o objetivo de ultrapassar a
barragem (PELICICE & AGOSTINHO, 2008). Além disso, o canal da piracema serviu
como rota de dispersão de algumas espécies não-nativas (AGOSTINHO et al.,
2015), o que ressalta a importância de um planejamento e estudo prévio para
esse tipo de empreendimento.

A importância dos corredores ecológicos é maior para aqueles animais que demandam
uma conexão contínua para se mover entre os fragmentos. Porém, organismos voadores (insetos
e aves) podem passar sobre uma faixa de habitat inóspito e podem não precisar de um corredor
contínuo. Ao contrário, essas espécies podem se movimentar entre grandes manchas de habitats
favoráveis caso elas tenham acesso a pequenos fragmentos no meio de caminho, onde possam
parar para se alimentar e descansar (RICKLEFS & RELYEA, 2016). Esses pequenos fragmentos
entre fragmentos maiores favoráveis são chamados de habitats stepping-stones ou trampolins.
O papel dos corredores e dos habitats trampolins é de facilitar o movimento entre
fragmentos de habitats maiores e isso tem levado ao esforço de várias nações em direção
a preservação de habitat. Por exemplo, a Índia concentra cerca de 60% de todos os elefantes
asiáticos (Elephas maximus), os quais habitam vários parques nacionais e áreas protegidas. Essas
áreas constituem-se nos fragmentos remanescentes de um habitat contínuo maior e diversos
órgãos de preservação estão trabalhando juntos para assegurar que esses habitats não sejam
destruídos para que os elefantes sobrevivam a longo prazo (RICKLEFS & RELYEA, 2016). É
importante ressaltar que a preservação desses corredores de habitat para os elefantes também vai
auxiliar a conservação de outras espécies, as quais utilizam os mesmos habitats que esses grandes
mamíferos.

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BIOGEOGRAFIA DE ILHAS
Estudos de ecologia de paisagem que tem como foco a avaliação de áreas degradas e
fragmentadas têm como principal premissa a teoria da biogeografia de ilhas, proposta
inicialmente pelos biólogos MacArthur & Wilson (1967). A premissa desse modelo é que se
uma ilha tem um determinado número de espécies, a redução de sua área resultaria em uma
ilha capaz de abrigar um número de espécies correspondente àquele de uma ilha menor. Assim,
em ambientes isolados, como as ilhas oceânicas, a riqueza é determinada por um balanço entre
imigração e emigração, mas as taxas de imigração e emigração variam de acordo com o tamanho
da ilha e com a sua distância da fonte de espécies (continente).
Este modelo tem sido utilizado em estudos de conservação em parques e reservas
naturais que são circundados por habitats impactados por agricultura, pecuária ou outras
atividades antrópicas. Essas reservas podem ser consideradas como grandes ilhas de habitats
em um ‘oceano’ de habitats destruídos. O modelo de biogeografia de ilhas prediz que quando
metade de uma ilha (ou de um habitat) é destruída, cerca de 10% das espécies presentes nesse
habitat serão eliminados. Quando mais de 90% do habitat é destruído, metade das espécies serão
perdidas; e quando 99% do habitat é degradado, mais de ¾ das espécies originais serão eliminadas
(PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

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DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE FLORESTAS
TROPICAIS
Apesar do foco de destruição e fragmentação de habitat dentro da biologia da conservação
ser sempre maior para ambientes de florestas tropicais (locais de alta biodiversidade), outros
habitats também vêm sendo constantemente ameaçados: oceanos vem sendo poluídos e seus
recifes de corais destruídos, rios estão cada vez fragmentados devido à construção de barragens,
ilhas habitadas sofrem para manter sua diversidade. Assim, estudaremos como cada habitat está
sofrendo as consequências dos fatores descritos acima.
A destruição de florestas tropicais tornou-se sinônimo de perda de espécies.
Aproximadamente 7% da superfície terrestre da Terra é ocupada por florestas tropicais úmidas,
entretanto, estima-se que essas florestas comportem mais de 50% de todas as espécies. Estima-
se que a extensão original de florestas tropicais no mundo foi de cerca de 16 milhões de km2.
De acordo com alguns levantamentos feitos em 1982 (baseado em estudos topográficos, fotos e
imagens de satélite), foi demonstrado que apenas 9,5 milhões de km2 de florestas tropicais ainda
existiam, ou seja, uma perda de cerca de 40% da floresta original (Figura 16). Atualmente, são
perdidos 180.000 km2 de floresta tropical por ano, isso significa que são perdidos impressionantes
34 ha por minuto (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

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Figura 16 – Cobertura original e atual de fflorestas tropicais e temperadas distribuídas pelo mundo. Fonte:
Keith (2010).

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Um dos exemplos mais claros foi a redução da Mata Atlântica no território brasileiro,
a qual apresenta somente uma pequena porcentagem da sua extensão original. A população
humana brasileira se expandiu, principalmente, nesse bioma que hoje abriga cerca de 100 milhões
de pessoas. Como consequência, atualmente restam apenas 8,5 % de remanescentes florestais
acima de 100 hectares do que existia originalmente. Somados todos os fragmentos de floresta
nativa acima de 3 hectares, temos atualmente entre 12 e 16% de cobertura original (RIBEIRO et
al., 2009).
Essa fragmentação extensa se deu devido à conversão da Mata Atlântica em áreas agrícolas,
pastos, grandes centros urbanos e, mais recentemente, devido à plantação de cana-de-açúcar
(utilizada primariamente como matéria-prima para a produção de biocombustível). Algumas
espécies, como muitas aves e mamíferos são endêmicos desse bioma, e o desaparecimento deste
pode representar uma perda significativa de sua biodiversidade. Essa floresta é um hotspot
mundial de diversidade biológica, ou seja, uma das áreas mais ricas em biodiversidade e mais
ameaçadas do planeta. Também, a Mata Atlântica foi decretada Reserva da Biosfera pela Unesco
e Patrimônio Nacional, disposto na Constituição Federal de 1988.

DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE ILHAS


Quando tratamos de destruição de habitat em ilhas, o panorama de perda da
biodiversidade é ainda mais alarmante. Ilhas oceânicas, no geral, abrigam uma alta quantidade
de espécies endêmicas, como as serpentes altamente venenosas da ilha de Queimada Grande
(litoral do estado de São Paulo), as Jararacas ilhoas. Tais espécies adaptaram-se a se alimentar de
aves migratórias, devido à ausência de pequenos mamíferos na ilha e, para isso, precisam de um
veneno potente. Caso o habitat da ilha de Queimada Grande venha a ser destruído, extinguir-se-á
a espécie jararaca ilhoa (Bothrops insularis), que ocorre exclusivamente nessa ilha.

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Um outro exemplo de ilha com alta taxa de endemismo, e talvez o mais notável, é a
ilha de Madagascar, no continente Africano (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Considerando
plantas, primatas e sapos, os índices de endemismo chegam a mais de 80%! Caso as populações,
comunidades ou habitats forem destruídos ou danificados, certamente essas espécies serão
extintas. Ocorre que a ilha de Madagascar sofreu grande pressão antrópica nos últimos anos.
Dos seus 112.000 km2 originais de florestas úmidas, restam apenas cerca de 30.000 km2 da mata
original. Isso foi consequência de uma combinação de agricultura, pastagem para gado e incêndios,
associados a um baixo índice de desenvolvimento humano (IDH = 0,51; ocupando a 158º posição
entre todos os países, de acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU de 2016)
e muitos problemas socioeconômicos. Estima-se que a taxa anual de desmatamento gire em torno
de 100 km2 por ano, o que significa que em pouco tempo não haverá mais floresta úmida, exceto
em 1,5% da ilha que se encontra sob proteção. Uma vez que Madagascar é único lugar onde ainda
existem lêmures em ambiente selvagem, a perda das florestas resultará na extinção de muitas de
suas espécies.

DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DO CERRADO

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Um outro habitat que se destaca por altas taxas de endemismo no Brasil e que, assim
como a Mata Atlântica, é considerando como um dos 25 hotspots da biodiversidade mundial é o
Cerrado. Também, é no Cerrado que nascem as principais bacias hidrográficas do continente sul
americano. Durante muito tempo, a preservação desse bioma foi negligenciada pelas autoridades,
pois sua vegetação tinha baixa estatura e ramos tortuosos. No entanto, com o desenvolvimento
da pecuária e da agricultura nas regiões dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás,
Tocantins e noroeste de Minas Gerais, maior atenção passou a ser dada a esse bioma.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, inúmeras espécies de plantas e animais
do Cerrado correm risco de extinção. Estima-se que 20% das espécies nativas e endêmicas já
não ocorram em áreas protegidas e que pelo menos 137 espécies de animais que ocorrem no
Cerrado estão ameaçadas de extinção. Muitas pesquisas têm sido realizadas nesse habitat, e
muitos esforços para sua preservação estão sendo feitos.

DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE RECIFES DE


CORAIS
Em ambiente marinho, certamente os recifes de corais tropicais são os habitats mais
ameaçados do mundo. Embora os recifes de corais ocupem uma área de 0,2% do mar, estima-se
que 1/3 de todas as espécies de peixes marinhas habitem esses locais.

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Figura 17 – Recifes de Corais e a diversidade. Fonte: Sustentabilidade (2017).

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Cerca de 5-10% de todos os recifes já foram destruídos, e 50% podem ser destruídos nas
próximas décadas. As principais causas são a pesca predatória, furacões e doenças.

DESTRUIÇÃO E FRAGMENTAÇÃO DE RIOS



O fluxo hidrológico é a principal variável que determina a biodiversidade em rios e
córregos. O regime hidrológico natural é conhecido como “fluxo ambiental”. Vários parâmetros
ambientais, como a distribuição de nutrientes, a quantidade de oxigênio, a temperatura da água e
a estruturação de habitat estão intimamente relacionados ao fluxo ambiental fluvial. Além disso,
a distribuição de espécies também tem forte relação com os padrões hidrológicos nesses habitats.
Assim, alterações antrópicas tais como extração de água subterrânea, represas, desvios,
canalizações e projetos de transposição de água entre diferentes bacias representam grandes
ameaças à conservação de ecossistemas de rios e riachos. Essas intervenções são muito comuns em
diferentes bacias no mundo todo, especialmente em países desenvolvidos e, mais atualmente, em
países emergentes com extensa rede hidrográfica como o Brasil, Congo e China (AGOSTINHO
et al., 2007; WINEMILLER et al., 2016).
Por exemplo, o rio São Francisco (um dos maiores rios na América do Sul em extensão)
está sujeito a diversos impactos. Além de comportar seis grandes barragens em seu trecho final,
esse rio foi sujeito a um projeto de transposição de água para outras bacias do nordeste brasileiro
(AGÊNCIA NACIONAL DAS ÁGUAS – ANA, 2017). O problema é que o período de estiagem
na região semiárida é muito severo e o volume de água do São Francisco vem sendo cada vez mais
retido nos reservatórios das usinas hidrelétricas e/ou desviado para outras bacias. Como a água
do rio continua a diminuir, a sua resistência contra as marés em sua foz tem diminuído. Como
resultado, o Oceano Atlântico avançou cerca de 10 km rio adentro, o que tem transformado o rio
em mar nessa região, prejudicando a população ribeirinha que depende da água e dos recursos
pesqueiros proveniente do rio (BRITO & MAGALHÃES, 2017).

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As barragens de usinas hidrelétricas (UHE) alteram o fluxo natural de rios,


retendo nutrientes e modificando o transporte de nutrientes e a biota que ali
vive.

Acima da barragem (i.e. a montante), a criação de um reservatório de água modifica


o ambiente lótico (i.e. de água corrente; rio) em um ambiente lêntico (i.e. água parada; lago).
Durante a formação do lago de um reservatório são inundados milhares de quilômetros quadrados
de área de florestas, o que afeta a qualidade da água e potencialmente aumenta o fluxo de gases de
efeito estufa oriundo da decomposição da matéria orgânica.
Além disso, as represas atuam como barreiras, dificultando ou impedindo o fluxo
de organismos e alterando a dinâmica de populações ao longo desses sistemas aquáticos. Os
reservatórios frequentemente reduzem a biodiversidade, especialmente de peixes migradores,
pois, o ambiente lêntico do reservatório age como um ‘filtro’ ambiental para aquelas espécies que
dependem de um fluxo para sua migração.
Por exemplo, alguns anos após a formação do reservatório de Itaipu, no rio Paraná,

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foi observada uma abrupta diminuição na abundância de grandes peixes migradores como o
dourado (Salminus brasiliensis) e o pintado (Pseudoplatystoma corruscans) e um aumento de
algumas espécies mais adaptadas à ambientes lênticos, como o armado Pterodoras granulosus
(Quadro 1, AGOSTINHO et al., 2007).
O ambiente abaixo da barragem também sofre as consequências da fragmentação do
rio. As barragens funcionam como uma armadilha de nutrientes e sedimento, o que reduz a
capacidade do rio em transportar tais compostos a jusante da barragem. Como consequência, há
um aumento na transparência do rio, pois ele fica empobrecido em nutrientes e sedimento e isso
tem consequências diretas na produtividade (primária e secundária) da planície de inundação
associada ao rio (ROBERTO et al., 2009).
Adicionalmente à redução no transporte de nutrientes e sedimentos, um dos efeitos
mais conspícuos da construção e operação de barragens é a alteração no regime de fluxo do rio.
Em anos de extensa estiagem, por exemplo, as operadoras das UHEs retêm grandes volumes
de água nos reservatórios para suprir a demanda de produção energética, impedindo as cheias
naturais de rios. A modificação nesses pulsos de inundações altera todo o regime reprodutivo de
muitas espécies, o que leva a uma diminuição na abundância de peixes, especialmente daqueles
economicamente rentáveis para pesca.

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Quadro 1 - Composição do pescado desembarcado profissional do reservatório de Itaipu, antes (1977) e


após o represamento (1987 e 1997). Fonte: Agostinho et al. (2007).

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No Quadro 01, as espécies em negrito são migradores de grande porte, e os asteriscos
indicam aquelas que alcançam comprimentos superiores a 60 cm.
Embora sejam reconhecidos os impactos ambientais negativos das barragens, o
desenvolvimento de uma visão da energia hidrelétrica como uma de energia limpa e renovável
tem ganhado muita força nos últimos anos e planos para novos empreendimentos desse tipo
têm surgido em diversos países. Atualmente, 450 novas grandes barragens são planejadas ou
estão em construção nas bacias dos rios Amazonas (América do Sul), Congo (África) e Mekong
(Sudeste Asiático), as quais detêm cerca de um terço de toda biodiversidade de peixes de água
doce do mundo (Figura 18; WINEMILLER et al., 2016). Apenas na Amazônia brasileira, mais de
30 grandes e 170 pequenas barragens estão planejadas para a construção nos próximos 30 anos,
como resultado de um plano governamental para aumentar a produção de energia, assegurar
crescimento econômico e aumentar a industrialização (TIMPE & KAPLAN, 2017).

Figura 18 – Diversidade de peixes e localização das barragens planejadas/propostas (pontos vermelhos) e


barragens em operação ou em construção (pontos brancos) nas bacias dos rios Amazonas (à esquerda), Congo (ao
meio) e Mekong (à direita). Fonte: Winemiller et al. (2016).

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INTRODUÇÃO DE ESPÉCIES NÃO-NATIVAS


A extensão geográfica de muitas espécies é limitada por barreiras climáticas e ambientais
à sua dispersão (PRIMACK & RODRIGUES, 2001). Como resultado de tal isolamento geográfico,
os padrões de evolução têm ocorrido de modo diverso, em cada uma das principais áreas do
mundo. O homem rapidamente alterou esse padrão transportando espécies pelo mundo. Antes
da Revolução Industrial, as pessoas transportavam plantas e animais domésticos, de lugar para
lugar, ao se acomodarem em novas áreas de plantação e colonização. Diversos animais, como
ovinos e suínos, eram deixados pelos marinheiros europeus em ilhas ainda não habitadas com
intuito de garantir seu alimento quando os mesmos retornassem a esses lugares (PRIMACK &
RODRIGUES, 2001) e, a partir de então, acredita-se que se iniciaram as introduções de espécies
não-nativas por várias regiões do mundo.
Durante os últimos 200 anos, a América do Norte foi invadida por mais de 70 espécies de
peixes, 80 de moluscos, 2000 de plantas e cerca de 2000 de insetos. Estes chegaram ao continente
ou acidentalmente (porões de navios, água de lastros, etc.) ou como resultado de introduções
deliberadas para cultivos, ornamentação, caça ou agentes de controle biológico.
Dessa forma, uma espécie não-nativa (ou introduzida) constitui-se naquela que foi
transposta de sua área de ocorrência natural para uma área que, até então, não era encontrada

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naturalmente. Vale ressaltar que as espécies não-nativas não respeitam fronteiras políticas de
países ou estados, sendo assim, uma espécie não-nativa à uma área (ou habitat) pode ter vindo
de outro habitat dentro de um mesmo país. Por exemplo, o tucunaré (Cichla monoculus) é uma
espécie nativa da bacia amazônica, ocorrendo na Amazônia brasileira, e foi introduzido na bacia
do rio Paraná, a qual tem boa parte de sua área também em território brasileiro (PELICICE &
AGOSTINHO, 2009).

Já é um consenso entre os pesquisadores das ciências naturais de que a


introdução de espécies exóticas se constitui na segunda maior causa da perda
da biodiversidade mundial, ficando atrás somente da destruição de habitat.

Já em 1958, Charles Elton começou a se preocupar com os problemas advindos de


introdução de espécies e no mesmo ano publicou o livro “A ecologia da invasão por animais e
plantas” (The Ecology of Invasions by Animals and Plants), o qual foi considerado como sendo o
pontapé inicial para essa nova área da ecologia.
Quando uma espécie não-nativa é introduzida em um ecossistema, frequentemente é
difícil prever as consequências. Uma possibilidade é que a espécie não-nativa seja mais eficiente
na utilização dos recursos do que as espécies nativas. Também, o desvio dos recursos que estariam
destinados às espécies nativas diminui e, consequentemente, há uma redução de sua abundância.
Isso caracteriza um grande desequilíbrio ecológico. A situação é ainda pior quando a espécie
introduzida não tem predadores naturais no novo ambiente, o que acelera exponencialmente seu
crescimento populacional.

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Um exemplo clássico foi a introdução de uma espécie de tucunaré (Cichla ocellaris) em


um lago tropical no Panamá. O tucunaré é um predador extremamente voraz, capaz de devastar
populações nativas e, por essa razão, seus efeitos são sentidos na diversidade e estrutura das
teias alimentares da comunidade nativa. Nessa ocasião, Zaret & Paine (1973) analisaram a
estrutura da teia alimentar do lago Gatun e observaram que, após três anos que o tucunaré havia
sido introduzido, houve uma perda significativa da biodiversidade e uma simplificação da teia
alimentar da comunidade nativa que ali viva.

O processo de invasão inclui a habilidade de uma determinada espécie em


transpor barreiras físicas (e.g. montanhas, grandes áreas descontínuas com de-
sertos, cachoeiras, etc.), químicas (e.g. diferenças entre níveis de nutrientes da
sua área natural e área invadida) e biológicas (e.g. romper e estabelecer novas
REFLITA relações biológicas com a comunidade do ambiente invadido). Após ultrapas-
sar essas barreiras, a população da espécie não-nativa entra no processo de
estabelecimento, que consiste em se reproduzir e deixar descendentes que
possam gerar mais descendentes e se dispersarem para novas áreas dentro do
ambiente invadido (veja a Figura 19 para entender esse processo). Tipicamente,
é somente quando a população de uma espécie não-nativa se encontra disper-

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


sa e abundante no novo ambiente que ela irá causar algum tipo de problema
ecológico ou econômico e é quando ela ganha o nome de “invasora” (LOCKWOOD
et al., 2013). A percepção e o estudo do impacto de uma espécie invasora são
essenciais para que medidas de manejo e políticas públicas sejam elaboradas e
colocadas em prática, com intuito de evitar danos à biodiversidade local.

Figura 19 – Modelo do processo de invasão com estágios discretos de espécie invasora e alternativas em
cada estágio. Fonte: Lockwood et al. (2013).

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INVASÃO EM ILHAS
Muitas das áreas mais severamente afetadas pelas espécies não-nativas são ilhas isoladas,
nas quais os organismos foram introduzidos provenientes das mais diversas biotas continentais.
Os organismos insulares, que evoluíram devido a ausência dos novos predadores, competidores
ou patógenos, são muitas vezes fracamente adaptados para lidar com eles. Quando colocados em
simpatria, as espécies não-nativas têm um potencial biótico maior do que as espécies insulares,
as quais começam a entrar em declínio populacional ou até extinção.
A serpente arborícola marrom, introduzida na Ásia, literalmente comeu a maioria das
aves endêmicas da Ilha de Guam até a extinção. As ilhas Havaianas também sofreram muito
com a introdução de não-nativas. O caracol arborícola nativo havaiano virou presa dos caracóis
predadores introduzidos. As maiores causas de mortalidade nas aves havaianas têm sido a malária
e os Avipoxvírus – transmitido por um mosquito que foi introduzido nas ilhas.

INVASÃO EM ÁGUAS CONTINENTAIS


Um caso de uma invasão bem-sucedida em águas continentais brasileiras foi a do
mexilhão-dourado (Limnoperna fortunei). Esse molusco bivalve é originário da Ásia e chegou à
América do Sul provavelmente de modo acidental na água de lastro de navios cargueiros, tendo
sido a Argentina o ponto de entrada. Do país vizinho chegou ao Brasil.
Hoje a espécie já foi detectada em quase toda a região Sul e em vários pontos do Sudeste
e Centro-Oeste (IBAMA, 2016). Por ter uma grande capacidade de reprodução e dispersão, além

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


de praticamente não ter predadores na fauna brasileira, o mexilhão se espalha com rapidez e, por
isso, a espécie é considerada invasora (Figura 20).
Os danos causados pelo mexilhão-dourado sobre a biota são inúmeros. Dentre eles,
podemos citar a destruição da vegetação aquática, competição de alimento com moluscos nativos,
prejuízos à pesca (já que a diminuição dos moluscos nativos diminui o alimento dos peixes).
Além disso, esse molusco também tem causado sérios danos econômicos, pois ele se aloja nas
turbinas de usinas hidrelétricas, causando entupimento e interrupções frequentes para limpeza e
encarecendo a produção (IBAMA, 2016).

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ENSINO A DISTÂNCIA

Figura 20 – Mexilhões-dourados encontrados no rio Jacuí, em Porto Alegre, Sul do Brasil. Fonte: Sampaio
(2013).

Um outro caso de introdução de espécies não-nativas em águas continentais foi a invasão


massiva de peixes após a construção da usina de Itaipu, no rio Paraná. O trecho do rio Paraná
que se encontra em território brasileiro, em sua hidrografia natural, era divido em duas partes

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


(baixo e alto Paraná) por uma série de quedas d`água, chamada de Salto Sete Quedas, na região
da cidade de Guaíra (PR) na divisa entre os estados do Paraná e Mato Grosso do Sul. Em 1982,
foram finalizadas as obras da UHE de Itaipu e iniciou-se o processo de enchimento do lago, por
conta do fechamento da barragem. O lago do reservatório de Itaipu se estendeu desde a barragem
(na cidade de Foz do Iguaçu) até a região do Salto Sete Quedas, inundando essas cachoeiras. Esse
evento fez com que essa barreira geográfica (que separava duas comunidades distintas de peixes)
desaparecesse, permitindo que espécies que só ocorriam no baixo rio Paraná se dispersassem
para o alto rio Paraná (Figura 21).
Cerca de 32 espécies colonizaram o alto rio Paraná, trazendo sérios prejuízos para
a ictiofauna nativa da região (JÚLIO JR et al., 2009). Muitas espécies começaram a competir
diretamente por espaço, alimento e lugares para reprodução. Isso levou a um declínio significativo
de algumas espécies nativas da região. Por exemplo, a piranha Serrasalmus maculatus teve sua
população extremamente devastada depois da introdução de uma outra espécie de piranha
que viera do baixo rio Paraná, a Serrasalmus marginatus (ALVES et al., 2017; Figura 22). Isso
ocorreu pelo fato da piranha não-nativa ser mais agressiva e ter habilidade de captar recursos
mais nutritivos durante seus estágios juvenis

Figura 21 – Modelo ilustrativo demonstrando a rota de invasão de peixes do baixo rio Paraná para o alto
rio Paraná após a construção da barragem de Itaipu em 1982 e supressão do Salto Sede Quedas. Fonte: Alves et al.
(2017).

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ENSINO A DISTÂNCIA

Figura 22 – Abundância média da piranha não-nativa Serralmus marginatus (triângulos pretos e linhas
pontilhadas) e da nativa S. maculatus (círculos cinzas e linhas sólidas) no alto rio Paraná após a remoção do Salto
Sete Quedas. Fonte: Alves et al. (2017).

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 2


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ENSINO A DISTÂNCIA

03
UNIDADE

POLUIÇÃO, SUPEREXPLORAÇÃO
E MUDANÇAS GLOBAIS
PROF. DR. GUSTAVO H. ZAIA ALVES

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 45
O MAIOR DESASTRE AMBIENTAL BRASILEIRO .................................................................................................. 46
POLUIÇÃO POR PESTICIDAS ................................................................................................................................. 47
POLUIÇÃO POR NITRATOS E FOSFATOS .............................................................................................................. 50
POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA ...................................................................................................................................... 52
MUDANÇAS GLOBAIS ............................................................................................................................................. 54
DIMINUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO ................................................................................................................. 57
SUPEREXPLORAÇÃO .............................................................................................................................................. 58
SOBREPESCA ........................................................................................................................................................... 59
CONSEQUÊNCIAS DA SUPEREXPLORAÇÃO ......................................................................................................... 62

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ENSINO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO
Mesmo quando um habitat não está sendo destruído ou fragmentado, as comunidades
ali presentes podem ser afetadas por atividades antropogênicas. As comunidades podem sofrer
impacto e algumas espécies podem ser extintas por fatores externos que não alteram a estruturas
dominante da comunidade, fazendo com que esse dano não seja imediatamente notado.
Por exemplo, atividades de mergulho e canoagem em áreas de recife de coral degradam
a comunidade uma vez que as espécies mais frágeis vão sendo danificadas pouco a pouco pelo
contato dos seres humanos, pelos cascos dos navios e pelas âncoras. A maneira mais sutil de
degradação ambiental é a poluição ambiental, sendo as principais causas dessa degradação os
pesticidas, os produtos químicos e o esgoto liberado por indústrias e comunidades, emissões de
gases por fábricas e automóveis e a erosão de encostas.
Existe, na natureza, um equilíbrio biológico entre todos os seres vivos. Neste sistema
em equilíbrio, os organismos produzem substâncias que são úteis para outros organismos
e assim sucessivamente. A poluição vai existir toda vez que resíduos (sólidos, líquidos ou
gasosos) produzidos por microrganismos ou lançados pelo homem na naturezaforem superiores
à capacidade de absorção do meio ambiente, provocando alterações na sobrevivência das
espécies. A poluição pode ser entendida, ainda, como qualquer alteração do equilíbrio ecológico

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 3


é essencialmente produzida pelo homem e está diretamente relacionada com os processos
de industrialização e a consequente urbanização da humanidade. Esses são os dois fatores
contemporâneos que podem explicar claramente os atuais índices de poluição.
Os agentes poluentes são os mais variáveis possíveis e são capazes de alterar a água, o
solo, o ar, etc. Os efeitos gerais da poluição sobre a qualidade da água, da atmosfera e, também,
do clima da Terra preocupam cada vez mais os pesquisadores e a população em geral, pois a
poluição não apenas é uma ameaça para a biodiversidade, mas também pode causar sérios efeitos
na saúde humana.

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ENSINO A DISTÂNCIA

O MAIOR DESASTRE AMBIENTAL BRASILEIRO


Às vezes, a poluição ambiental é altamente visível, como foi o caso do rompimento da
barragem de Fundão em novembro de 2015, no distrito de Bento Rodrigues em Minas Gerais.
Essa barragem, controlada pela Samarco Mineração S.A., foi construída para acomodar os rejeitos
provenientes da extração do minério de ferro retirado de extensas minas na região.
O rompimento da barragem de Fundão é considerado o desastre industrial que causou
o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de
rejeitos, com um volume total despejado de 62 milhões de metros cúbicos. A lama chegou ao rio
Doce, cuja bacia hidrográfica abrange 230 municípios dos estados de Minas Gerais e Espírito
Santo, muitos dos quais abastecem sua população com a água do rio. Esta catástrofe matou
dezenas de seres humanos e milhares de outros organismos, como peixes e répteis (IBAMA,
2015; FERNANDES et al., 2016).
O volume de poluentes e extensão dos ecossistemas afetados assumiu proporções
gigantescas, envolvendo a Mata Atlântica e ambientes estuarinos, costeiros e marinhos (CARMO
et al., 2017). Famílias foram desalojadas e o abastecimento hídrico de algumas cidades ficou
seriamente comprometido, afetando também atividades produtivas, como a agricultura (IBAMA,
2015; AZEVEDO-SANTOS et al., 2015; Figura 23). Além disso, concentrações de metais pesados

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como mercúrio, arsênio, ferro e chumbo foram encontradas nas águas do rio Doce acima das
aceitáveis pelos órgãos ambientais (IGAM, 2015; HATJE et al., 2017).
Além do impacto sofrido ao longo do trecho de 650 km do rio Doce, os efeitos dos rejeitos
no oceano Atlântico são irreparáveis. Dois dias após atingir o Atlântico, a mancha de lama se
alastrou por mais de 15 quilômetros ao norte da foz do Rio Doce e mais sete quilômetros rumo
ao sul. Uma das regiões afetadas foi a Reserva Biológica de Comboios, unidade de conservação
costeira que protege o único ponto regular de desova de tartaruga-de-couro na costa brasileira
(ALMEIDA, 2015).

Figura 23 – O impacto direto da onda de lama sobre o rio Doce. Fonte: Fernandes et al. (2016).

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Na Figura 23, a imagem A mostra o rio alguns dias após o desastre no município de
Camargos (MG); a imagem B mostra peixes mortos nos arredores do Parque do Rio Doce; a
imagem C mostra peixes mortos em Governador Valadares (MG); a imagem D mostra uma
fotografia aérea da foz do rio Doce no Oceano Atlântico, 25 dias após o rompimento da barragem.

Apesar de múltiplos estudos terem demonstrado os potenciais impactos da


ruptura de barragem de rejeitos da mineração, atualmente existe um projeto
para a construção do maior projeto de mineração de ouro em solo brasileiro:
o projeto Volta Grande liderado por uma companhia canadense (Belo Sun) e
situado nas margens do rio Xingu em plena Amazônia brasileira. Tófoli et al.
(2017) apontam diversos aspectos controversos desse projeto, já que em seu
relatório de impacto ambiental consta que a barragem de rejeitos de mineração
está classificada na categoria de alto risco, o que significa que o rompimento
dessa barragem seria catastrófico.

POLUIÇÃO POR PESTICIDAS


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O grupo de substâncias químicas coletivamente chamadas de pesticidas é um tipo de
poluente bastante comum. Os pesticidas incluem substâncias utilizadas para eliminar insetos,
ervas-daninhas e fungos. Essas substâncias químicas são designadas para atingir um tipo
específico de praga, seja na agricultura ou na aquicultura; idealmente, elas não causarão danos às
outras espécies do ecossistema.
Entretanto, alguns pesticidas matam, de fato, outras espécies, seja diretamente, sendo
tóxico, ou indiretamente, alterando a composição e a estrutura de teias alimentares. Por exemplo,
certos pesticidas, em baixas concentrações, são inofensivos para organismos de grande porte
(e.g. peixes ou girinos em uma cadeia alimentar aquática). Porém, essa mesma concentração de
pesticida pode ser extremamente letal em organismos menores, como aqueles que pertencem
ao zooplâncton (e.g. microcrustáceos). Assim, com a eliminação de organismos do zooplâncton
(consumidores primários), os produtores (fitoplâncton e perifíton) começam a proliferar
deliberadamente e isso causa um desequilíbrio em toda a teia alimentar desse ecossistema (Figura
24).

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Figura 24 – Efeito de um pesticida sobre uma comunidade aquática. Fonte: Ricklefs & Relyea (2016).

Na Figura 24, em A: na ausência do pesticida a comunidade é estável com o zooplâncton


abundante. Em B: Quando um pesticida é adicionado, as populações de zooplâncton são
dramaticamente reduzidas, o que possibilita um aumento no fitoplâncton, que causa um
desequilíbrio na teia alimentar.

Os perigos dos pesticidas chamaram a atenção do mundo em 1962, com o


lançamento do famoso livro Primavera Silenciosa, de Rachel Carson. Na sua
obra, a autora descreveu o processo conhecido com biomagnificação (ou
bioacumulação), através do qual inseticidas organoclorados se acumulam em
tecidos específicos, frequentemente na gordura, e se tornam mais concentradas
em níveis tróficos sucessivos de uma teia alimentar.

Isso ocorre porque a biomassa em algum determinado nível trófico é produzida a partir
de uma biomassa muito maior ingerida do nível abaixo. Portanto, os carnívoros de topo tendem
a ser mais gravemente afetados por compostos tóxicos no ambiente (REECE et al., 2015). Estes
pesticidas eram usados em plantações para matar insetos e pulverizados em lagos para matar
larvas de mosquito, porém prejudicavam as populações nativas.
Um estudo clássico sobre os pesticidas examinou o papel do inseticida DDT
(diclorodifeniltricloroetano) nas aves predadoras de topo nos EUA. Após a Segunda Guerra
Mundial, o emprego do DDT era muito comum e sua aplicação ocorria em larga escala. No
entanto, na época suas consequências ecológicas ainda não eram compreendidas completamente.
Por volta da década de 1950, foi descoberto que o DDT persiste no ambiente e é transportado
pela água para áreas distantes de onde é aplicado.

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Um dos primeiros sinais de que o DDT era um problema ambiental grave foi o declínio
nas populações de diversas aves comuns da região costeira dos EUA, incluindo pelicanos e
águias, animais que se alimentam no topo da teia alimentar. Quando o DDT entra no mar, ele
se liga às algas e torna-se cerca de 10 vezes mais concentrado do que na água. Quando as algas
são consumidas pelo zooplâncton, esse pesticida se acumula nos tecidos desses animais até que
haja uma concentração cerca de 800 vezes maior que a da água. Quando os pequenos peixes
se alimentam do zooplâncton e os peixes maiores se alimentam dos menores, o DDT pode
ficar cerca de 30 vezes mais concentrado. Finalmente, quando uma ave se alimenta dos peixes
altamente concentrados em DDT, ela amplifica a concentração dessa toxina em seu tecido em
aproximadamente 10 vezes (Figura 25).
Resumindo, no topo da cadeia alimentar o DDT está cerca de 276 mil vezes mais
concentrado no corpo da ave que se alimentou de peixes do que estava concentrado na água. O
acúmulo de DDT (e DDE, produto da sua decomposição) nos tecidos dessas aves interfere na
deposição de cálcio nas cascas dos seus ovos. Assim, quando as aves tentavam incubar seus ovos,
o peso dos pais rompia as cascas dos ovos afetados, resultando no declínio catastrófico nas taxas
de reprodução das aves (REECE et al., 2015).
Após a compreensão da relação entre o DDT e o declínio populacional das aves, o uso
do DDT foi banido nos EUA a partir de 1972. Entretanto, em muitos países tropicais, o DDT
ainda é utilizado para controlar os mosquitos transmissores da malária e de outras doenças. No
Brasil, por exemplo, organoclorados só são permitidos para o controle da malária, doença de

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chagas, cupins e formigas, porém, existe uma grande dificuldade em controlar o uso ilegal dessas
substâncias para outras finalidades (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

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Figura 25 – O efeito da biomagnificação do DDT em uma cadeia alimentar marinha. Fonte: Ricklefs &
Relyea (2016).

POLUIÇÃO POR NITRATOS E FOSFATOS


Algumas atividades antrópicas muitas vezes retiram nutrientes de uma parte da
biosfera e os adicionam em outra, com intuito de aumentar a produtividade de alguma cultura.
A agricultura é um exemplo de como as atividades humanas estão alterando o ambiente por
meio do enriquecimento de nutrientes, especialmente os que contêm nitrogênio (N). Após a
remoção da vegetação natural de uma área, os nutrientes do solo são exauridos à medida que são
transportados para as plantas cultivadas na área. O nitrogênio é o principal nutriente perdido
na agricultura, pois a aeração do solo induzida por máquinas acaba por acelerar o processo de
decomposição da matéria orgânica, liberando nitrogênio que é removido quando as lavouras
são colhidas. Assim, a ausência de nitrogênio no solo limita seriamente a produtividade de uma
cultura e, por essa razão, esse composto é considerado um elemento limitante.

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Alguns microrganismos (exemplo, bactérias nitrificantes) são capazes de


fixar N atmosférico (N2) e transformá-lo em nitrogênio reativo (NO3- e NH4+),
o qual fica disponível para as assimilação das plantas. Até o final do século
XIX, a capacidade de produtividade agrícola era limitada pela incapacidade do
REFLITA homem de produzir artificialmente formas reativas de nitrogênio. Entretanto, no
início do século XX Fritz Haber, através de técnicas de engenharia química, foi
capaz de produzir nitrogênio reativo e, subsequentemente, Carl Bosch ampliou
a técnica em uma escala industrial, e isso ficou conhecido como “Processo de
Haber-Bosch”. A partir de então, muito nitrogênio reativo sintético (presente
nos, fertilizantes para agricultura) começou a ser adicionado nos ecossistemas
terrestres deliberadamente (ERISMAN et al., 2008). Um problema surge quando
o nível de nutrientes em um ecossistema excede a carga crítica, ou seja, a
quantidade de nutrientes adicionados (geralmente nitrogênio ou fósforo) que
pode ser absorvida pelas plantas sem prejuízos à integridade do ecossistema.
Por exemplo, os minerais nitrogenados no solo que excedem o estoque crítico
finalmente percolam para a água subterrânea ou escoam para os ecossistemas
marinhos e de água doce, contaminando o abastecimento hídrico e matando
peixes

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Uma das consequências do carreamento do excesso de nutrientes para águas continentais
é a eutrofização. A eutrofização de corpos d’água (rios, lagos ou represas) é o processo que
resulta em um aumento de nutrientes essenciais para o fitoplâncton (algas) e plantas aquáticas
superiores, principalmente nitrogênio e fósforo. Muitos rios contaminados com nitratos, amônia
e fósforo de escoamento agrícola e as águas residuais drenam para o Oceano Atlântico, com os
aportes mais altos provenientes do norte da Europa e do centro dos Estados Unidos.
O rio Mississipi (EUA), por exemplo, transporta a poluição de nitrogênio para o Golfo
do México, induzindo uma proliferação altíssima de fitoplâncton a cada verão. Quando o
fitoplâncton morre, sua decomposição por organismos aeróbios cria uma extensa “zona morta”
de níveis baixos de oxigênio ao longo da costa. Como consequência, peixes e outros animais
marinhos desaparecem de parte das águas dessa região, a qual é uma das mais importantes (em
termos econômicos) dos Estados Unidos (REECE et al., 2015).
Além da poluição por efluentes agrícolas, os efluentes domésticos também podem
funcionar como fonte de nutrientes. Após a II Guerra Mundial, com a introdução de produtos
de limpeza sintéticos (como os, detergentes líquidos e em pó), os casos de eutrofização de
ecossistemas lacustres passaram a ser mais frequentes. A importância de produtos de limpeza
como fonte de fosfato para os corpos d’água varia de país para país. Por exemplo, no rio Reno,
cerca de 60% do fosfato presente na água está na forma de polifosfatos originados principalmente
na forma de detergentes.
As consequências podem ser catastróficas, como foi o caso do Lago Erie, na fronteira
entre os EUA e o Canadá. A eutrofização desse lago (além da pesca excessiva) exterminou peixes
comercialmente importantes, como o peixe branco e a truta (Figura 26). Desde então, regras
mais rigorosas sobre o despejo de esgoto e outros resíduos no lago permitiram a recuperação de
algumas populações de peixes, mas muitas espécies nativas de peixes e de invertebrados não se
refizeram (REECE et al., 2015).
Além disso, os excrementos humanos podem causar, em ecossistemas aquáticos, além
de problemas sanitários diretos, problemas de eutrofização a médio e a longo prazo, uma vez
que na sua composição pode-se detectar consideráveis concentrações de fósforo e nitrogênio
(ESTEVES, 1998).

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Leia mais sobre eutrofização artificial no texto:


“EUTROFIZAÇÃO ARTIFICIAL: Um Problema em Rios, Lagos e Represas”,
disponível no link:
<http://www.agr.feis.unesp.br/ctl28082004.php>.

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Figura 26 – Consequências da eutrofização no lago Erie. Fonte A: Michigan Sea Grant (2011); B: Tom
Archer (2011).

Na Figura 26, temos em A: mapa mostrando a extensão da floração de algas (em verde)
no lago; e em B: peixe sufocando nas margens do lago.

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

A atividade humana tem contaminado e alterado a atmosfera da Terra. Antigamente,


as pessoas acreditavam que a atmosfera era tão grande que os gases e partículas liberados no ar
seriam facilmente dispersos e inofensivos. Entretanto, hoje se conhece diversos tipos de gases
e partículas que alteraram a atmosfera terrestre e isso tem causado um grande dano a muitos
ecossistemas pelo mundo

A emissão de gases tóxicos por veículos automotores é uma das maiores fontes
de poluição atmosférica. Nas cidades, os veículos são responsáveis por 40%
da poluição do ar, porque emitem gases como o monóxido (CO) e o dióxido de
carbono (CO2 ), o óxido de nitrogênio (NO), o dióxido de enxofre (SO2 ), derivados
de hidrocarbonetos e chumbo. As refinarias de petróleo, indústrias químicas
e siderúrgicas, fábricas de papel e cimento emitem enxofre, chumbo e outros
metais pesados, e diversos resíduos sólidos.

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A identificação de uma fonte de poluição atmosférica, depende, antes de mais nada,


dos padrões adotados para definir os agentes poluidores e seus efeitos sobre humanos, animais,
vegetais ou materiais outros, assim como dos critérios para medir os poluentes e seus efeitos.
Essas alterações nos seres humanos, diversos problemas como distúrbios respiratórios, alergias,
lesões degenerativas no sistema nervoso e em órgãos vitais e até câncer.
Em cidades muito poluídas, esses distúrbios agravam-se no inverno com a inversão
térmica, quando uma camada de ar frio forma uma redoma na alta atmosfera, aprisionando o ar
quente e impedindo a dispersão dos poluentes.
Os poluentes liberados por indústrias e usinas termoelétricas movidas a óleo e carvão
tendem a se combinar com a umidade atmosférica e, como resultado, produzem ácido nítrico
(HNO3) e o ácido sulfúrico (H2SO4). Esses ácidos formados na atmosfera são incorporados nos
sistemas de nuvens e reduzem drasticamente o pH da água da chuva, ocasionando um fenômeno
chamado de chuva ácida. Esse fenômeno aumenta a acidez do solo e de corpos de água. Uma vez
que a acidez da água de lagos e rios é aumentada, diversos organismos (por exemplos, os peixes)
deixam de se reproduzir ou morrem. Além dos peixes, outros animais que sofrem diretamente
com os efeitos da chuva ácida são os anfíbios.
Juntamente com a poluição, o aumento da acidez das águas continentais tem causado
um declínio significativo nas populações de anfíbios do mundo todo. Grande parte dos anfíbios
depende da água para completar seu ciclo de vida e uma diminuição do pH causa um aumento
na mortalidade dos ovos e dos girinos (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

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As consequências da chuva ácida também têm sido severas em muitas regiões, como no
nordeste dos Estados Unidos, no Canadá e na Escandinávia. Os rios e os lagos nestas regiões
tendem a ser oligotróficos (água com baixas concentrações de nutrientes) e assim não contêm
bases dissolvidas para equilibrar as entradas de ácidos. Consequentemente, seu pH pode ficar tão
baixo quanto 4, o que bloqueia o crescimento ou mata os peixes e outros organismos (RICKLEFS,
2010).

Atualmente, um dos principais cultivos praticados na agricultura mundial é


o da cana-de-açúcar (Saccharum spp.; FAO, 2017), plantada principalmente
para a produção de sacarose e biocombustível (principalmente etanol). Os
biocombustíveis têm chamado atenção nos últimos anos devido ao seu
potencial como alternativa energética aos combustíveis fósseis não-renováveis
(i.e. derivados de petróleo).

O uso de derivados de petróleo como fonte energética é considerado a principal causa


de poluição e mudanças climáticas globais e o etanol é uma promessa antiga para contribuir no
anseio universal de se praticar energia limpa.
Um ponto negativo do cultivo da cana é o modo como é realizada sua colheita, a qual se
inicia com a queima da folha seca (a palha), sob justificativa de facilitar e aumentar o rendimento
da colheita (ANDREAE, 1991). Apesar dos benefícios para a colheita, a prática da queimada da
palha de cana-de-açúcar pode apresentar prejuízos ao ambiente (ECHAVARRIA, 1996).
A fuligem da palha de cana-de-açúcar, por ser originada da combustão incompleta de
matéria orgânica, apresenta diferentes compostos tóxicos em sua estrutura que, quando liberados
na atmosfera, podem ser extremamente nocivos para a saúde humana e do meio ambiente. Além
disso, quando a fuligem atinge os corpos de água, pode ser letal para as comunidades de peixes
que ali vivem. Gonino (2016) demonstrou experimentalmente que maiores concentrações de
fuligem da palha da cana-de-açúcar levam à morte de diferentes espécies de peixes (Figura 27).

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Figura 27 - Mortalidade de três espécies de peixes nativas à bacia do alto rio Paraná (Astyanax lacustris,
Moenkhausia bonita e M. forestii) em relação a diferentes concentrações de fuligem da palha de cana-de-açúcar (0,0
a 2,5 g/L). Fonte: Gonino (2016).

MUDANÇAS GLOBAIS
Devido à circulação da atmosfera e dos oceanos, certos tipos de poluição têm
consequências globais: seus efeitos se estendem muito além das fontes de poluição. De longe, a
pior destas mudanças no ambiente é a destruição da camada de ozônio na atmosfera superior e

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o aumento do gás carbônico (CO2) e outros gases causadores do efeito estufa. Desde a Revolução
Industrial, a concentração de CO2 na atmosfera tem aumentado por conta da queima deliberada
de combustíveis fósseis e do desmatamento. Estima-se que a concentração média de CO2 na
atmosfera antes de 1850 era de aproximadamente 274 partes por milhões (ppm).
Em 1958, uma estação de monitoramento começou a mensurar a concentração de CO2 no
Havaí, um local distante das cidades e suficientemente alto para a atmosfera ser bem homogênea.
Naquela época, a concentração de CO2 já era de 316 ppm (Figura 28). Atualmente, esses valores
se aproximam de 400 ppm (um aumento de cerca de 40% desde a metade do século XIX) e, ainda,
estima-se que esse valor chegue a mais de 500 ppm em 2030.

Figura 28 - Aumento na concentração de dióxido de carbono atmosférico em Mauna Loa, Havaí, e


temperaturas médias globais. Fonte: Reece et al. (2015).

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Esse aumento notável de CO2 tem preocupado os cientistas pois existe um vínculo
muito forte com o aumento da temperatura global, também demonstrada
na Figura 6. Há evidências de que houve um aumento da temperatura global
média de 0,5oC no século XX e, de acordo com o Painel Intergovernamental
REFLITA sobre Mudanças Climáticas (IPCC - http://www.ipcc.ch/), este aumento está
relacionado com atividades antrópicas, incluindo o aumento na emissão dos
gases do efeito estufa.

Por mais de um século, os cientistas têm estudado como os gases-estufa (principalmente


CO2, metano [CH4] e vapor d’água) esquentam a Terra e como a queima de combustíveis
fósseis contribuiria para o aquecimento. A maioria dos cientistas está convencida de que esse
aquecimento já está ocorrendo e aumentará rapidamente neste século. Uma evidência recente
desse aquecimento foi o desprendimento de um iceberg gigante do Glaciar Grey, na Patagônia
chilena, em novembro de 2017 (Figura 29). Segundo especialistas, isso ocorreu devido à perda de
massa de gelo gradual, consequência do aumento da temperatura na região (cerca de 2ºC a cada
100 anos). Isso é preocupante, pois, com mais de 24.000 geleiras – mais de 70% de todas as massas
de gelo existentes na América do Sul -, o Chile é a terceira reserva mundial de água. Segundo

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 3


previsões de alguns modelos globais, ao final do século XXI, a concentração de CO2 atmosférico
irá duplicar e isso acarretará em um aumentando de cerca de 3ºC na temperatura média global,
o que pode levar a consequências sem precedentes.

Figura 29 - O iceberg de 350 x 380 metros se desprendeu da geleira Grey, localizada no Parque Nacional
Torres del Paine, na Patagônia chilena. Fonte: Chile’s National Forest Corporation (CONAF, 2017).

Os ecossistemas onde o maior aquecimento já ocorreu estão no extremo norte,


especialmente nas florestas de coníferas e na tundra (como no extremo norte do Canadá e Rússia).
À medida que a neve e o gelo derretem e revelam superfícies mais escuras e mais absorventes,
esses sistemas refletem menos radiação de volta à atmosfera e se aquecem mais (REECE et al.,
2015).

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Por exemplo, a maciça calota polar no Ártico diminuiu aproximadamente 45% nos
últimos 30 anos. De forma similar, a diminuição de gelo de 2002 a 2010 na Antártica foi de mais
de 1300 gigatoneladas métricas; na Groenlândia esse declínio foi de mais de 1700 gigatoneladas
métricas (RICKLEFS & RELYEA, 2016).
Esses derretimentos, combinados com o aquecimento global dos oceanos, devem causar
aumento nos níveis do mar.
Desde 1870, pesquisadores têm aferido as marés oceânicas e, como esperado, observaram
um incremento constante no nível do mar. Durante os últimos 20 anos, o nível do mar está
subindo mais de 3 milímetros por ano. Isso significa que o mar se elevará cerca de 0,3 metros a
cada 100 anos, o que é suficiente para afetar habitats em ilhas e em zonas costeiras (RICKLEFS
& RELYEA, 2016).
Os modelos climáticos sugerem que, em algumas décadas, poderá não haver mais gelo
durante o verão desses ambientes, diminuindo o habitat de ursos polares, focas e aves marinhas.
Através de estudos de como os períodos anteriores ao aquecimento e resfriamento global afetaram
as comunidades vegetais, os ecólogos estão tentando prever as consequências das mudanças
futuras na temperatura. A análise de pólen fóssil indica que as comunidades vegetais mudam
drasticamente com as alterações térmicas.
As mudanças climáticas passadas, no entanto, aconteceram gradualmente e sem a
influência antrópica, e a maioria das populações vegetais e animais teve tempo suficiente de
migrar para áreas onde as condições abióticas permitiam a sua sobrevivência (REECE et al.,

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2015). Assim, o problema que nós enfrentamos no aquecimento global não é que a Terra não
tenha estado tão quente, mas sim que o clima está mudando tão rapidamente que a evolução das
espécies e os sistemas ecológicos – para não mencionar a população humana – não serão capazes
de acompanhar.
Atualmente, já é possível observar como as mudanças na temperatura estão afetando
algumas espécies. Certas plantas estão florescendo mais cedo do que deveriam, e algumas aves
estão se reproduzindo também mais cedo. Na Antártida, estão sendo vistas atualmente espécies
de plantas que não existiam há dez ou quinze anos, efeito do aumento de cerca 15 graus na
temperatura do continente ao longo dos últimos 40 anos. Enquanto isso, no resto do mundo,
muitas espécies estão desaparecendo.
No México, em 1996, observou-se que em determinadas altitudes cerca de 50% das
espécies de borboletas haviam desaparecido, forçadas a migrar para regiões mais frias. Também
em 1996 o mundo ficou sabendo que os batráquios (sapos e rãs) estavam desaparecendo nos
quatro continentes, possivelmente em decorrência do aquecimento da Terra. As temperaturas
mais altas no oceano têm causado uma grande mudança de espécies de peixes no Mar do Norte.
Muitas espécies que habitavam o Mar do Norte se deslocaram ainda mais para o norte, em busca
de águas mais frias, enquanto que espécies que viviam mais ao sul, se deslocaram para o Mar
do Norte; isso mudou completamente a composição e diversidade de espécies das comunidades
(RICKLEFS & RELYEA, 2016).

Para uma visão mais abrangente sobre o aquecimento global e suas consequ-
ências, assista ao documentário “Uma verdade inconveniente”, ministrado pelo
ambientalista e ex-candidato a presidência dos EUA, Al Gore. Trailer disponível
em:
<https://www.youtube.com/watch?v=MwxMrnDkbPU>.

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DIMINUIÇÃO DA CAMADA DE OZÔNIO


Na estratosfera, na faixa dos 25 mil metros acima do nível do mar, paira ao redor da Terra
uma tênue camada de um gás muito importante no equilíbrio ecológico do planeta: o Ozônio
(O3). A quantidade deste gás é ínfima se considerarmos a composição de toda a atmosfera, e o
tempo de vida de suas moléculas, em constante processo de formação e dissociação, extremamente
curto. Paradoxalmente, é nessa existência efêmera que reside o papel fundamental do ozônio na
manutenção da vida. Lá, a molécula de oxigênio atmosférico mais abundante, O2, absorve uma
parte das radiações ultravioleta (UV) provenientes do sol, e se quebra em dois átomos livres
de oxigênio (O), que imediatamente se reagrupam com moléculas O2 para formar ozônio, O3.
A instável molécula de ozônio, por sua vez, absorve outra parte das radiações UV e se quebra
novamente em O2 e O, reiniciando o ciclo.
Nessas reações, a chamada Camada de Ozônio absorve a maior porção daquela faixa de
invisíveis radiações, evitando assim que as mesmas atinjam os seres vivos que estão na superfícies
terrestres. Assim como o Efeito Estufa, este é um fenômeno atmosférico natural, apropriado à
sobrevivência das atuais formas de vida que, de outro modo só seria possível debaixo das rochas
e em águas profundas. Portanto, os seres vivos se encontram estreitamente condicionados a uma
filtragem permanente daquela faixa de radiação solar.

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 3


Assim como o dióxido de carbono e outros gases-estufa, a concentração do
ozônio atmosférico (O3) também tem mudado em decorrência de atividades
humanas. Algumas substâncias, entre elas os átomos de cloro, causam a quebra
do ozônio e levando a formações de ‘buracos na camada de ozônio’. Os níveis
de cloro na atmosfera superior aumentaram durante muitas décadas por causa
da liberação na atmosfera de clorofluorcarbonos (CFCs), que eram usados
deliberadamente como propelentes em latas de aerossol e em condicionadores
de ar e sistemas de refrigeração, antes largamente utilizadas na refrigeração e
em fábricas.
Na estratosfera, os átomos de cloro liberados dos CFC reagem com o ozônio,
reduzindo-o a uma molécula de O2. As reações químicas seguintes liberam cloro,
permitindo sua reação com outras moléculas de ozônio em uma reação em
cadeia. Segundo Ricklefs (2010),
Diminuições nas concentrações de ozônio estratosférico
de 50% ou mais — os assim chamados buracos de ozônio
— têm sido observadas em altas latitudes em ambos os
hemisférios. Em setembro de 2000, um instrumento da
NASA determinou que o buraco de ozônio da Antártida, de
cerca de 28,3 milhões de quilômetros quadrados, era três
vezes maior do que a área dos Estados Unidos — a maior
área de registro para esse buraco até aquela data; tal
registro foi atingido novamente em 2004 e 2006.

Alguns estudos mais recentes também mostram que a camada de ozônio sobre a Antártica
tem ficado substancialmente menor desde a metade da década de 1970 (Figura 30).

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ENSINO A DISTÂNCIA

Figura 30 - Erosão da camada de ozônio da Terra. O buraco da camada de ozônio sobre a Antártica é visível
como mancha azul-escuro nessas imagens com base em dados atmosféricos. Fonte: REECE et al. (2015).

Baixos níveis de ozônio na estratosfera levam a um aumento na intensidade de raios UV


incidindo sobre a Terra. As consequências do esgotamento do O3 para a vida na Terra podem ser
graves para plantas, animais e microrganismos. Alguns cientistas esperam que haja aumentos de

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 3


diferentes formas de câncer de pele e dos casos de cataratas entre os seres humanos, assim como
efeitos imprevisíveis em plantações e comunidades naturais.
A maior preocupação está no fato de que a radiação UV danifica os dispositivos
fotossintéticos dos produtores primários, especialmente fitoplâncton e plantas que são
responsáveis pela quase totalidade da produção primária na Terra. A ameaça é tão grande que a
comunidade internacional, através da Convenção de Viena para Proteção da Camada de Ozônio
(1985) e do Protocolo de Montreal (1987), concordou em banir o uso de todos os CFCs até o fim
do século 20 (RICKLEFS, 2010).
Entretanto, as moléculas de CFC podem permanecer na estratosfera por décadas, e assim
as concentrações de ozônio não começaram ainda a se recuperar. Embora seja cedo para ver o
resultado das reduções da emissão de CFC, podemos antecipar que terminar com a sua produção
e banir o seu uso certamente reverterá o dano que já foi feito. Mais ainda, isso possibilitará que
o ozônio atmosférico volte ao seu nível de equilíbrio natural, dentro de aproximadamente um
século.

SUPEREXPLORAÇÃO
Os seres humanos sempre caçaram ou exploraram recursos naturais para suprir suas
necessidades básicas de sobrevivência. Enquanto populações humanas eram pequenas e seus
métodos de colheita eram simples, as pessoas podiam colher as plantas e os animais de seu
ambiente de maneira sustentável, sem levar nenhuma espécie à extinção. Porém, assim que as
populações humanas cresceram, o uso do ambiente se intensificou e os métodos de colheita e
caça se tornaram mais eficientes, o que levou o homem a explorar os recursos naturais de maneira
que não houvesse tempo para o mesmo se recuperar para ser explorado novamente (PRIMACK
& RODRIGUES, 2001).

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ENSINO A DISTÂNCIA

Essa coleta de organismos nativos em taxas que excedem a capacidade de recuperação


de suas populações é chamada de superexploração, e é um fator exclusivamente antrópico.
Atualmente, a superexploração das espécies e suas populações contribui intensamente para
a perda da biodiversidade, ficando atrás somente da destruição de habitat e da introdução de
espécies exóticas.

A superexploração atinge diversas populações, e quase sempre está relacionada


à demanda comercial pela espécie ou por algum subproduto relacionado a ela.
Organismos grandes com taxas reprodutivas baixas, como os elefantes, as
baleias e os rinocerontes, são bastante suscetíveis à superexploração. O declínio
REFLITA dos maiores animais terrestres, os elefantes africanos, é um exemplo clássico
do impacto da caça excessiva. Devido, principalmente, ao comércio do marfim,
nos últimos 50 anos as populações de elefante foram reduzidas na maior
parte do continente Africano. Uma proibição internacional da venda de marfim
provocou o aumento da caça ilegal, de modo que essa proibição teve pouco
efeito em grande parte do centro e do leste da África. Apenas na África do Sul,
onde manadas antes dizimadas vinham sendo protegidas por quase um século,

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 3


as populações de elefante se estabilizaram ou aumentaram (REECE et al., 2015).
Um outro exemplo bastante difundo é o do comércio internacional de peles de
animais. Essa atividade tem levado à diminuição de várias espécies de felinos,
assim como de populações de chinchilas (Chinchilla spp.) e ariranhas (Pteronura
brasiliensis) (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

SOBREPESCA
Nas últimas décadas a importância da pesca como atividade econômica e social cresceu
consideravelmente, chegando a destacar-se como principal atividade em algumas comunidades,
regiões e até países. Peixes e outros organismos aquáticos constituem importante fonte de
alimento no mundo atual, contribuindo com cerca de 16% de toda a proteína consumida pela
humanidade. Estima-se que aproximadamente metade da população mundial tenha no peixe
20% de sua dieta.
A exploração dos recursos pesqueiros apresenta os mais variados padrões, contemplando
desde métodos simples e, em termos unitários, de baixo impacto ambiental, como a pesca com
linha e anzol (pesca recreacional e de subsistência), até aqueles que se utilizam artes de arrasto
(comercial/acidental). Estas, além de afetarem o pescado, já que, dependendo do fator de seleção,
capturam tudo o que encontram pela frente, ainda causam significativas alterações no ambiente.
No período pós 2ª Guerra, a partir de 1945, as capturas de pescado marinho aumentaram
exponencialmente. O crescimento e desenvolvimento tecnológico das embarcações pesqueiras
e técnicas de navegação fizeram com que as embarcações se tornassem mais eficientes em seus
métodos de captura. O crescimento populacional humano também elevou essa demanda por
pescado e contrastou com o estado de exploração dos estoques marinhos. Segundo REECE et al.
(2015),

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ENSINO A DISTÂNCIA

até algumas décadas passadas, o atum-verdadeiro do Atlântico Norte era apre-


ciado para pesca esportiva e considerado de pouco valor comercial – apenas
alguns centavos por quilo, para uso na ração de gatos. Na década de 1980, no
entanto, os atacadistas começaram a enviar por via aérea atum congelado para
o Japão, para produção de sushi e sashimi. Nesse mercado atual (Figura 31), o
quilo do peixe pode chegar a 100 dólares.

Com a crescente exploração estimulada por esses preços altos, em cerca de 10 anos a
população do atum-verdadeiro do Atlântico Norte ocidental foi reduzida a menos de 20% do seu
tamanho em 1980 e continua em declínio acentuado até hoje (Figura 32).

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 3


Figura 31 - Superexploração. Leilão do atum-verdadeiro do Atlântico Norte em um mercado de peixes
japonês. Fonte: REECE et al. (2015).

Figura 32 – Exploração do atum do Atlântico. Fonte: New England Bluefin Tuna (2010).

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ENSINO A DISTÂNCIA

Atualmente, acredita-se que cerca de 50% dos estoques pesqueiros estejam


no limite de sua exploração, 18% estejam sendo superexplorados e 10% já se
encontram deplecionados (Figura 33). A sobrepesca é uma das superexplorações
que recebe mais atenção atualmente, apesar de não chamar a atenção do
público em geral. Isso ocorre por muitas razões, como: (1) o público em geral
não tem muita afinidade e sentimentos por peixes; (2) a maioria da pesca ocorre
nos oceanos, longe da visão e realidade de muitas pessoas e também além de
limites nacionais; e (3) a pesca total de todos os recursos pesqueiros apenas
começou a declinar recentemente.
Entretanto, essa terceira afirmação tem que ser inspecionada mais
minuciosamente pois é uma medida que considera todos os tipos e populações
de pescado juntas. Quando se examina pescados específicos (a pesca de uma
espécie em particular ou uma região), os resultados são diferentes. Por exemplo,
de 1.519 tipos de pescados monitorados pela FAO, 366 destes já entraram em
colapso (MULLON et al., 2005).

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 3


Figura 33 – Tendências globais no estado da pesca marinha desde 1974. Fonte: FAO (2016).

Na Figura 33, a área em azul-escuro demonstra níveis dentro da exploração sustentável; a


área em azul-claro demonstra níveis de exploração não-sustentáveis do pescado.
Particularmente, os peixes predadores que dominavam as pescas e desembarques estão
sendo substituídos por espécies de níveis tróficos menores, um fenômeno conhecido como ‘fishing
down the food chain’ (algo como ‘pescando em direção à base da cadeia trófica’ - PAULY et al.,
1998), e isso pode alterar profundamente o funcionamento de ecossistemas. As consequências
da ausência de predadores são inúmeras e irrestritas apenas aos aspectos econômicos. Isso pode
alterar a estruturação de toda uma comunidade de diversas formas, (i) pela a ausência obvia
desses peixes, (ii) por aliviar efeitos top-down, que contribuem na manutenção da diversidade de
presas em alguns casos, (iii) por deixar de influenciar indiretamente nas relações entre grupos
tróficos inferiores, como na ligação entre zooplanctívoros, zooplâncton e fitoplâncton, (iv) além
de expor, por falta de alternativas, as espécies presas à pesca (AGOSTINHO et al., 2007).

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ENSINO A DISTÂNCIA

O problema desta última suposição está no fato de que, em um sistema sem presas,
logicamente não há predadores, e uma pesca excessiva acaba por estabelecer um sistema de
feedback positivo de depleção geral, com difícil recuperação dos estoques em todos os níveis.

CONSEQUÊNCIAS DA SUPEREXPLORAÇÃO
A consequência mais básica de uma superexploração (ou sobrepesca) é óbvia: se
forem removidos muitos indivíduos de uma população, vamos submetê-los aos problemas de
populações pequenas. Nem todos os indivíduos em uma população estão igualmente susceptíveis
à superexploração; sua vulnerabilidade pode ser influenciada pelo seu tamanho, idade, sexo,
fenótipo, etc. Consequentemente, a estrutura de uma população, particularmente sua idade, sexo
e composição genética, pode ser mudada por meio de superexploração.
Na maioria dos pescados, por exemplo, os peixes mais rentáveis e comercialmente mais
valiosos são aqueles de maior tamanho, e mais velhos (não ‘idosos’, mas sexualmente maduros);
no entanto, estes indivíduos são aqueles que também têm a maior capacidade reprodutiva.
Consequentemente, os efeitos da sobrepesca são catastróficos porque as decisões de quanto e

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 3


onde pescar, qual equipamento de pesca usar, são frequentemente direcionados para capturar os
membros mais fecundos de uma população. O fato desse padrão de mortalidade (seletivo para
indivíduos maiores) ser muito diferente de padrões naturais é muito preocupante.
A pesca preferencial por indivíduos maiores age como uma forma de seleção artificial e
muda a recuperação genética de uma população. A sobrepesca tem alterado a estrutura genética
de muitas populações de salmão permitindo que alguns machos de pequeno tamanho, os quais
passam pouco ou nenhum tempo forrageando no mar com menor probabilidade de serem
capturados por pesqueiros comerciais, se tornem dominantes nessas populações. Esses pequenos
machos passam seus genes adiante, pois conseguem acesso às fêmeas de forma facilitada ao
invés de lutarem por esse acesso com machos maiores que retornaram do mar, se não fossem
capturados.

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ENSINO A DISTÂNCIA

04
UNIDADE

CONSERVAÇÃO DE POPULAÇÕES
E COMUNIDADES
PROF. DR. GUSTAVO H. ZAIA ALVES

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 64
O PROBLEMA DAS POPULAÇÕE PEQUENAS ........................................................................................................ 65
POPULAÇÃO EM DECLÍNIO .................................................................................................................................... 71
CONSERVAÇÃO DE COMUNIDADES ....................................................................................................................... 71
STATUS DAS ÁREAS PROTEGIDAS EXISTENTES .................................................................................................. 75

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ENSINO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO
Como já explanado na Unidade 1, uma população é um conjunto de indivíduos
pertencentes à mesma espécie, que convivem em uma mesma área em um mesmo período de
tempo. Os profissionais que trabalham com conservação em níveis de população e de espécie
empregam duas abordagens principais. Uma abordagem enfoca populações que são pequenas
e, por isso, muitas vezes vulneráveis. A outra dá ênfase às populações que estão declinando
rapidamente, apesar de não serem tão pequenas

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4

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ENSINO A DISTÂNCIA

O PROBLEMA DAS POPULAÇÕES PEQUENAS


Na natureza observa-se que populações menores são mais vulneráveis à extinção do que
as maiores. Para estudar esse fenômeno, levantamentos de aves foram realizados por biólogos nas
ilhas Canal, na costa da Califórnia (EUA). Essas ilhas variavam em tamanho de 2,6 a 249 km2.
Em diferentes ocasiões durante um período aproximado de 80 anos, os pesquisadores estudaram
o número de casais reprodutores de diferentes espécies e as taxas de extinção das populações em
determinadas ilhas (RICKLEFS & RELYEA, 2016).
As populações foram categorizadas por tamanho com base no número de casais
reprodutores e, em seguida, foi determinada a probabilidade de extinção de cada categoria de
tamanho. As populações menores (com menor número de casais que eram aptos a se reproduzir)
apresentaram as mais altas taxas de probabilidade de extinção; já as populações maiores tiveram
as mais baixas taxas de probabilidade de extinção (Figura 34). Isso significa que diminuir
a quantidade de indivíduos de certas espécies devido a ações antrópicas pode significar uma
aceleração sem precedentes do processo de extinção.

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4

Figura 34 – Populações pequenas e a probabilidade de extinção demonstrada nas ilhas Canal, na costa do
estado da Califórnia (EUA). Fonte: Ricklefs & Relyea (2016).

As populações pequenas são particularmente vulneráveis à superexploração, à perda de


habitats e as outras ameaças à biodiversidade estudadas nas Unidades 2 e 3. Após esses fatores
terem reduzido o tamanho de uma população a um número pequeno de indivíduos, o tamanho
pequeno, por si só, pode levar a população à extinção. Os biólogos da conservação que adotam a
abordagem das populações pequenas estudam os diversos processos que causam extinções, uma
vez que os tamanhos populacionais tenham sido reduzidos

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ENSINO A DISTÂNCIA

O número de indivíduos necessários em uma determinada população para


assegurar a sobrevivência de uma espécie é amplamente conhecido como
População Mínima Viável (PMV). A definição da PMV é um tamanho populacional
que irá assegurar, em níveis de risco aceitáveis, que essa população persista por
um período de tempo especificado. Em outras palavras, é a menor população que
tenha uma grande chance de sobrevivência no futuro. Entretanto, essa definição
é um tanto quanto especulativa já que as probabilidades de sobrevivência
poderiam ser estabelecidas arbitrariamente (em 90 ou 99%) e o tempo de
sobrevivência também poderia ser igualmente ajustado (em 50 ou 100 anos).
O ponto chave da PMV é que ela permite uma estimativa para se quantificar os
indivíduos necessários para que uma população de determinada espécie seja
preservada.

É importante ressaltar que para se planejar a proteção a longo prazo de uma espécie
ameaçada, deve-se considerar as necessidades da espécie em anos normais, bem como em anos
quando ocorrem eventos excepcionais. Esses eventos podem ser secas prolongadas, regimes
de chuvas fora do normal, grandes furacões, incêndios, erupções vulcânicas ou qualquer outro

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4


evento que possa influenciar negativamente a densidade de uma população. Por exemplo, em
anos de extrema seca, alguns animais podem migrar para bem mais além das suas áreas normais
de distribuição, com o intuito de obter a água que precisam para sobreviver.
Para se obter um número adequado de PMV de uma espécie, é preciso que seja feito um
estudo demográfico detalhado da população em foco, além de uma análise ambiental da área.
Alguns estudos sugerem que, para vertebrados, cerca de 500 a 1.000 indivíduos seja suficiente
para que se consiga preservar uma variabilidade adequada dessas populações. Porém, a biologia
da conservação não é uma ciência exata e esse número é extremamente variável, contemplando
exceções em ambos os extremos.
Por exemplo, um estudo utilizando simulações com diferentes populações do mico-
leão-de-cara-dourada (Leontopithecus chrysomelas) demonstrou que populações com mais de
150 indivíduos apresentam probabilidade de extinção abaixo de 5%; também, foi observado que
populações pequenas vão à extinção muito mais rapidamente que populações grandes (PAGLIA,
2003) (Figura 35). Em contrapartida, um estudo com a tartaruga norte-americana da espécie
Glyptemys muhlenbergii (uma espécie criticamente ameaçada, de acordo com a IUCN) descobriu
que apenas 15 fêmeas reprodutoras são suficientes para que uma população dessa espécie
sobreviva pelos próximos 100 anos (SHOEMAKER et al., 2013). Já para espécies com tamanhos
populacionais extremamente variáveis, como invertebrados e plantas, tem-se sugerido a proteção
de uma população de aproximadamente de 10.000 indivíduos (PRIMACK & RODRIGUES,
2001). Assim, para cada espécie deve-se ter uma estimativa adequada de PMV.

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ENSINO A DISTÂNCIA

Figura 35 – Gráficos de probabilidade de extinção. Fonte: Paglia (2003).

Na Figura 35, temos em A: Probabilidade de extinção em 100 anos do mico-leão-de-cara-


dourada de acordo com o tamanho populacional inicial. A linha azul indica probabilidade de
extinção. No gráfico B temos: Relação entre tempo médio para extinção e tamanho populacional
inicial daquelas populações que foram extintas pelo menos uma vez nas simulações.

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4


Um estudo clássico sobre a determinação de densidade populacional viável
mínima, avaliou a sobrevivência de 120 carneiros-selvagens (Ovis canadensis)
nos desertos do Sudoeste dos Estados Unidos (BERGER, 1990). Algumas dessas
populações foram acompanhadas por cerca de 70 anos. O autor constatou
que 100% das populações com 50, ou menos, indivíduos se extinguiram em 50
anos, enquanto que quase todas as populações que continham acima de 101
indivíduos sobreviveram nesse mesmo período de tempo (Figura 36). Na Figura
36, os símbolos representam o tamanho de cada população.

Figura 36 – Relação entre a densidade demográfica e a porcentagem de populações que


sobrevivem ao longo do tempo de Ovis canadensis. Fonte: Berger (1990).

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ENSINO A DISTÂNCIA

Após determinar uma PMV para uma espécie, deve-se calcular a extensão de habitat
adequada para manter essa PMV, ou seja, o quanto de espaço essa população necessita para
manter populações mínimas viáveis. Essa área chama-se Área Dinâmica Mínima (ADM).
Estima-se que são necessárias reservas de 10.000 a 100.000 hectares (ha) para a preservação de
populações de pequenos mamíferos. Por exemplo, para manter populações viáveis do mico-
leão-dourado são necessários de 2.700 a 3.600 ha de Mata Atlântica (PAGLIA, 2003). Porém,
espécies de grande porte geralmente necessitam de grandes áreas. A onça pintada do Pantanal,
por exemplo, necessita de um espaço enorme para manter PMV, considerando que um único
indivíduo ocupa uma área de cerca de 14.200 ha (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
Apesar das exceções, a maioria das populações necessita de muitos indivíduos para sua
proteção, e as espécies com baixa densidade demográfica encontram-se em perigo maior de
extinção. De acordo com Primack & Rodrigues (2001), as populações pequenas estão sujeitas a
um declínio acelerado por problemas resultantes da perda de variabilidade genética, endogamia
e deriva genética, por causa de flutuações demográficas devido a variações ao acaso nas taxas
de nascimento e mortalidade, e também devido a flutuações ambientais estocásticas (aquelas
imprevisíveis) como interações biológicas, incidência de doenças, falta de alimento e catástrofes
naturais (incêndios, enchentes, secas, furacões, etc.).
A variabilidade genética é o assunto-chave na abordagem da população pequena. Em
populações pequenas, as frequências de certos alelos podem ser diferentes de uma geração para
outra, randomicamente, dependendo simplesmente do intercruzamento dos indivíduos. Esse

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4


processo é conhecido como deriva genética. A deriva genética ocorre em todas as populações de
tamanho não-infinito, mas seus efeitos são mais fortes em populações pequenas.
Assim, quando a frequência de um alelo em uma determinada população pequena é
baixa, este tem grandes possibilidades de se perder a cada geração que passa, levando as próximas
gerações a perderem variabilidade genética. Embora a variabilidade genética possa ser aumentada
devido a migração de indivíduos entre populações e, também, por conta da mutação regular que
ocorre entre gerações (compensando as perdas randômicas de alelos em grandes populações),
esses fatores não afetam a deriva genética em populações pequenas com 100 ou menos indivíduos
(PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

Vale ressaltar que nem todas as populações pequenas são levadas à extinção
pela diversidade genética baixa, e a variabilidade genética baixa não conduz,
necessariamente, à populações permanentemente pequenas. Por exemplo,
a sobrecaça de elefantes marinhos do Norte na década de 1890 diminuiu sua
REFLITA população para apenas 20 indivíduos – reduzindo drasticamente a variabilidade
genética. Desde aquela época até hoje, entretanto, as populações dessa espécie
aumentaram para cerca de 150.000 indivíduos, embora sua variação genética
permaneça relativamente baixa (REECE et al., 2015). Dessa forma, a diversidade
genética baixa nem sempre impede o crescimento populacional, porém, as
chances de a população ser dizimada por fatores estocásticos, ou pelo simples
fato de uma característica importante ser perdida, é muito maior.

WWW.UNINGA.BR 68
ENSINO A DISTÂNCIA

Um estudo realizado por Westemeier et al. (1998) no estado de Illinois (EUA)


demonstrou como a redução de uma população da ave Tympanuchus cupido
(tetraz-das-pradarias) refletiu em uma redução na fertilidade, medida pela taxa
de eclosão de seus ovos. A comparação de amostras do DNA da população de
Illinois com o DNA de penas de espécimes de museu mostrou que a variabilidade
genética tinha diminuído na população do estudo. A fim de aumentar a
variabilidade genética dessa população, uma medida de conservação foi tomada
Em 1992, os autores iniciaram a translocação de cerca de 270 aves provenientes
dos estados de Minnesota, Kansas e Nebraska em uma tentativa de aumentar
a variabilidade genética. Após a translocação, a viabilidade dos ovos aumentou
rapidamente e a população se recuperou (Figura 37). Os autores concluíram que
a variabilidade genética reduzida estava levando a população de Tympanuchus
cupido em direção à extinção por conta da perda da variabilidade genética em
populações pequenas. Em (a), apresenta-se os dados da abundância média
da população e a seta preta representa o ano em que novos indivíduos foram
adicionados à população. Em (b) está representada a porcentagem de ovos
eclodidos antes e depois da translocação.

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4

Figura 37 – Diminuição e recuperação de Tympanuchus cupido no estado de Illinois (EUA). Fonte:


Reece et al. (2015).

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ENSINO A DISTÂNCIA

Pequenas populações também estão sujeitas a efeitos genéticos deletérios como a


endogamia e a perda da flexibilidade evolucionária, os quais podem levar tais populações à
extinção. Na natureza e em populações grandes, existem muitos mecanismos para evitar a
endogamia (cruzamento entre parentes próximos), seja por fatores sensoriais ou pela dispersão
de seu local de nascimento. Entretanto, em populações pequenas (com <100 indivíduos) a
endogamia pode ocorrer com frequência.
O acasalamento entre parentes próximos pode resultar em um processo chamado
depressão endogâmica, caracterizada por um número reduzido de cria ou por uma prole fraca
e/ou estéril. A depressão endogâmica permite a presença de alelos nocivos herdados de ambos os
pais, o que pode ser um problema grave que pode levar a população à extinção. Por exemplo, para
população de víboras europeias suecas (Vipera berus) duas cópias de um mesmo alelo deletério
recessivo (a) resultou descendentes natimortos e deformidades (MADSEN et al. 1996)
O tamanho total de uma população pode ser enganoso porque apenas certos membros
dela procriam com sucesso e transmitem seus alelos para os descendentes. Por essa razão, uma
estimativa da PMV requer que seja determinado o tamanho populacional efetivo (Ne), o qual se
baseia no potencial reprodutivo da população. Para estimar o Ne, tem-se a fórmula abaixo que
leva em consideração a proporção de machos e fêmeas reprodutivas em uma dada população:

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4


Nessa fórmula, Nf e Nm são, respectivamente, o número de fêmeas e o número de machos
que são capazes de se reproduzir. Se aplicarmos essa fórmula a uma população cujo tamanho total
seja de 1.000 indivíduos, o valor de Ne também será 1.000, caso todos os indivíduos reproduzirem
e a razão sexual for de 500 fêmeas para 500 machos. Nesse caso, Ne = (4 x 500 x 500)/(500 + 500) =
1.000 (REECE et al., 2015). Qualquer desvio dessas condições ideais (e.g. nem todos os indivíduos
reproduzem ou não há uma razão sexual de 1:1) reduz o Ne. Por exemplo, se o tamanho total da
população for 1.000, mas apenas 400 fêmeas e 400 machos reproduzirem, então Ne = (4 x 400 x
400)/400 + 400) = 800 ou 80% do tamanho total da população.
Muitas características da história de vida podem influenciar o tamanho populacional
efetivo. As fórmulas alternativas para estimar Ne consideram fatores como o tamanho da família,
a idade de maturidade sexual, o parentesco genético entre os membros da população, o fluxo
gênico entre populações separadas geograficamente e flutuações populacionais (PRIMACK &
RODRIGUES, 2001).
Em populações reais na natureza, o Ne é apenas uma parte da população total. Assim, a
simples determinação do número total de indivíduos de uma população não garante uma boa
métrica para inferir se a população é suficientemente grande para não entrar em processo de
extinção. Por essa razão, os conservacionistas tentam manter tamanhos populacionais totais que
incluam, pelo menos, um número mínimo de indivíduos que se reproduzam ativamente e uma
proporção entre machos e fêmeas próxima de 1:1.
Por exemplo, para evitar o declínio populacional das tartarugas marinhas no Brasil
devido a uma desproporção sexual, o projeto TAMAR (http://www.tamar.org.br/) monitora
cuidadosamente a proporção de sexos das tartarugas que nasce nos ninhos cuidados pelo projeto.
A definição do sexo dos répteis ocorre em função da temperatura a qual os ovos ficam expostos
e, dessa forma, é possível manipular quantos machos ou fêmeas serão gerados no nascimento da
próxima ninhada alterando a temperatura dos ninhos.

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ENSINO A DISTÂNCIA

A meta de sustentar um tamanho populacional efetivo (Ne) acima da PMV baseia-se na


preocupação que a populações retenham diversidade genética suficiente para se adaptarem às
mudanças ambientais que poderão ocorrer ao longo do tempo evolutivo (REECE et al., 2015).

POPULAÇÃO EM DECLÍNIO
A abordagem da população em declínio tem o foco voltado para as populações ameaçadas
e em perigo que mostram uma tendência de diminuição, mesmo que a população esteja bem
acima da sua PMV. A abordagem da população pequena enfatiza a pequenez em si como causa
definitiva da extinção de uma população, especialmente mediante a perda de diversidade genética.
Por outro lado, a abordagem da população em declínio enfatiza os fatores ambientais primários
que causaram o declínio de determinada população. Se, por exemplo, uma área é desmatada,
as espécies que dependem das árvores diminuirão em abundância e serão extintas localmente,
retendo ou não variabilidade genética (REECE et al., 2015).
A abordagem da população em declínio requer que os biologistas da conservação avaliem
com cuidado as causas do declínio populacional, antes de adotarem etapas para corrigi-lo. Se
uma espécie invasora como o tucunaré no rio Paraná estiver ameaçando uma espécie de peixe
nativa (seja por competição ou por predação), os gestores precisam reduzir ou eliminar o invasor

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4


para restaurar as populações vulneráveis do peixe. A maioria das situações não é tão simples,
porém, Reece et al. (2015) propõem que adotemos as seguintes etapas para analisar populações
em declínio:
1. Confirme, usando dados populacionais, que a espécie era mais amplamente distribuída
ou mais abundante no passado, em comparação ao seu nível populacional atual.
2. Estude a história natural dessa e de espécies aparentadas, incluindo a revisão da
literatura científica, para definir as necessidades ambientais da espécie.
3. Elabore hipóteses para todas as causas possíveis do declínio, incluindo atividades
humanas e eventos naturais, e liste as predições de cada hipótese.
4. Teste primeiramente as hipóteses mais prováveis, pois muitos fatores podem estar
correlacionados com o declínio. Por exemplo, remova a causa suspeita do declínio, para verificar
se a população experimental se recupera, em comparação a uma população-controle.
5. Aplique os resultados do diagnóstico para manejar a espécie ameaçada e monitorar sua
recuperação.

CONSERVAÇÃO DE COMUNIDADES
Embora os esforços de conservação historicamente focalizem a salvação de espécies
de maneira individual, os esforços atuais buscam sustentar a biodiversidade de comunidades,
ecossistemas e paisagens. A conservação de comunidades biológicas é o modo mais eficaz de
preservação da biodiversidade como um todo.
Como nós temos recursos e conhecimento suficientes para manter em cativeiro somente
uma pequena parcela das espécies do mundo, conservar comunidades em grandes áreas de habitat
é a única forma de se preservar espécies em larga escala. As comunidades biológicas podem
ser preservadas através do estabelecimento de áreas protegidas, implementação de medidas de
conservação fora das áreas protegidas, e restauração das comunidades biológicas em habitats
degradados.

WWW.UNINGA.BR 71
ENSINO A DISTÂNCIA

Uma das medidas mais controversas para a preservação de comunidades é o


estabelecimento de áreas legalmente protegidas. Isso ocorre porque, por um lado, a legislação e
a aquisição de áreas, por si só, não asseguram a proteção do habitat, por outro, representam um
excelente ponto de partida em direção à conservação. As formas mais comuns de estabelecimento
de áreas protegidas são através da ação governamental (em níveis nacionais, regionais ou locais) ou
através da aquisição de terras por pessoas físicas ou organizações de conservação (e.g. Fundação
Boticário, The Nature Conservancy, etc.) (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
Os governos podem estabelecer extensões de terras que serão consideradas áreas
protegidas e promulgar leis que definam qual nível de interferência antrópica aquela área
estará sujeita (extrativismo sustentável, lazer e turismo, etc.). Atualmente, uma prática
bastante difundida é a parceria entre o governo e instituições privadas de conservação. Nesse
tipo de parceria, as organizações de conservação muitas vezes fornecem recursos financeiros,
treinamento e assistência científica e administrativa para auxiliar o governo durante o processo
de estabelecimento da área protegida (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
Uma vez que a área de proteção esteja estabelecida, é necessário decidir qual será o grau de
interferência antrópica que será permitido nesse local. A União Mundial de Conservação (IUCN
– World Conservation Union) desenvolveu um sistema de classificação para áreas protegidas que
vai do uso mínimo ao uso intensivo do habitat. A partir dessa classificação, o governo brasileiro
criou o sistema de Unidades de Conservação (UC) para proteger e manter as áreas naturais
nacionais a longo prazo.

BIOLOGIA DA CONSERVAÇÃO | UNIDADE 4


Unidade de Conservação é a denominação dada pelo Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza (SNUC) (Lei n0 9.985, de 18 de julho de
2000) às áreas naturais passíveis de proteção por suas características especiais.
De acordo com o artigo 10 dessa lei, as UCs são

espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo


as águas jurisdicionais, com características naturais
relevantes, legalmente instituídos pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime
especial de administração, ao qual se aplicam garantias
adequadas de proteção da lei.

Assim, as UCs são espaços territoriais, incluindo seus recursos ambientais, com
características naturais relevantes, que têm a função de assegurar a representatividade de
amostras significativas e ecologicamente viáveis das diferentes populações, comunidades, habitats
e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o patrimônio
biológico existente (MMA, 2017). As unidades de conservação da esfera federal do governo
são administradas pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Nas esferas estadual e municipal, por meio dos Sistemas Estaduais e Municipais de Unidades de
Conservação.
As UCs dividem-se em dois grandes grupos: as Unidades de Proteção Integral e as
Unidades de Uso Sustentável. Abaixo, iremos explorar cada uma dessas categorias e entender
cada uma de suas subcategorias.

WWW.UNINGA.BR 72
ENSINO A DISTÂNCIA

Para conhecer todas as unidades de conservação registradas no Brasil, acesse


site do ICMBio através do link:
<http://www.icmbio.gov.br/portal/unidades-de-conservacao,
e leia mais sobre o assunto.

UNIDADES DE PROTEÇÃO INTEGRAL


A proteção da natureza é o principal objetivo dessas unidades, por isso as regras e normas
são mais restritivas. Nesse grupo é permitido apenas o uso indireto dos recursos naturais, ou seja,
aquele que não envolve consumo, coleta ou dano aos recursos naturais. Exemplos de atividades de
uso indireto dos recursos naturais são: recreação em contato com a natureza, turismo ecológico,
pesquisa científica, educação e interpretação ambiental, entre outras (MMA, 2017). As categorias
de proteção integral são: estação ecológica, reserva biológica, parque, monumento natural e
refúgio de vida silvestre e estão descritas na Tabela 1.

Tabela 1 – Categoria e descrição das Unidades de Proteção Integral, de acordo com o


Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC)

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Categoria SNUC Descrição

De posse e domínio público, serve à preservação da natureza e à


Estação Ecológica realização de pesquisas científicas. A visitação pública é proibida,
(ESEC) exceto com objetivo educacional. Pesquisas científicas dependem de
autorização prévia do órgão responsável.
Visa a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes
em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações
Reserva Biológica ambientais, exceto em relação às medidas de recuperação de seus
(REBIO) ecossistemas alterados e às ações de manejo necessárias para recuperar
e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos
ecológicos.

Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de


grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilita-se a realização
Parque Nacional de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação
e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de
turismo ecológico.

Monumento Objetiva a preservação de sítios naturais raros, singulares ou de grande


Natural (MONA) beleza cênica.

Sua finalidade é a proteção de ambientes naturais que asseguram


Refúgio de vida
condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades
silvestre (REVIS)
da flora local e da fauna residente ou migratória.

Fonte: O ECO (2013).

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UNIDADES DE USO SUSTENTÁVEL


São áreas que visam conciliar a conservação da natureza com o uso sustentável dos
recursos naturais. Nesse grupo, atividades que envolvem coleta e uso dos recursos naturais
são permitidas, desde que praticadas de uma forma que a perenidade dos recursos ambientais
renováveis e dos processos ecológicos esteja assegurada (MMA, 2017). As categorias de uso
sustentável são: área de relevante interesse ecológico, floresta nacional, reserva de fauna, reserva
de desenvolvimento sustentável, reserva extrativista, área de proteção ambiental (APA) e reserva
particular do patrimônio natural (RPPN), descritas na Tabela 2.

Tabela 2 – Categoria e descrição das Unidades de Conservação de Uso sustentável de


acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (SNUC).

Categoria SNUC Descrição

Geralmente de pequena extensão, são áreas com pouca ou nenhuma


ocupação humana, que exibem características naturais extraordinárias
Área de Relevante
ou abrigam exemplares raros da biota regional. O objetivo é manter os
Interesse Ecológico
ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso
(ARIE)
admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá-lo com os objetivos

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de conservação da natureza.

Reserva Particular De posse privada, gravada com perpetuidade, objetiva conservar a


do Patrimônio diversidade biológica. Na RPPN, só será permitida a pesquisa científica
Natural (RPPN) e a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais.

Geralmente extensa, com certo grau de ocupação humana, dotada


de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente
Área de Proteção importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações
Ambiental (APA) humanas. Os objetivos básicos são proteger a diversidade biológica,
disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade de
recursos naturais.

É uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente


Floresta Nacional nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos
(FLONA) recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para
exploração sustentável de florestas nativas.

É uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência


Reserva de baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais,
Desenvolvimento desenvolvidos ao longo de gerações, adaptados às condições ecológicas
Sustentável (RDS) locais, que desempenham um papel fundamental na proteção da
natureza e na manutenção da diversidade biológica.

É uma área natural com populações animais de espécies nativas,


Reserva de Fauna terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para
(REFAU) estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de
recursos faunísticos.

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Utilizada por populações locais, cuja subsistência baseia-se no


extrativismo, na agricultura de subsistência e na criação de animais
Reserva Extrativista
de pequeno porte. Áreas dessa categoria têm como objetivos básicos
(RESEX)
proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, além de
assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade.

Fonte: O ECO (2013).

STATUS DAS ÁREAS PROTEGIDAS EXISTENTES


Até 1993, existiam aproximadamente 8.500 áreas protegidas no mundo, o que cobria
cerca de 8 milhões de quilômetros quadrados de área. Apesar de o número ser expressivo, isso
representava apenas 5,9% da superfície total da Terra. Com o intuito de aumentar as áreas
protegidas para conservar a diversidade de comunidades biológicas, em 2010 houve o 10º
encontro dos Secretariado da Convenção da Diversidade Biológica (Convention on Biological
Diversity – CBD - https://www.cbd.int/sp/default.shtml). Nesse encontro, realizado em Nagoya
(Japão), foi adotado um Plano Estratégico para a Biodiversidade (revisado e atualizado) a ser

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realizado entre 2011 e 2020.
Esse plano incluiu cinco objetivos estratégicos, subdivididos em 20 metas de Aichi (do
inglês Aichi Biodiversity Targets - em alusão à província de Aichi, no Japão). O terceiro objetivo
estratégico adotado nesse encontro foi o de “melhorar o estado da biodiversidade através da
proteção de ecossistemas, espécies e da diversidade genética”. Dentro desse objetivo estratégico,
a 11ª meta de Aichi foi o seguinte:

Até 2020, pelo menos 17% de áreas terrestres e de águas continentais e 10% de
áreas marinhas e costeiras, especialmente áreas de especial importância para
biodiversidade e serviços ecossistêmicos, terão sido conservados por meio de
sistemas de áreas protegidas geridas de maneira efetiva e equitativa, ecologi-
camente representativas e satisfatoriamente interligadas e por outras medidas
espaciais de conservação, e integradas em paisagens terrestres e marinhas mais
amplas (CBD, 2010).

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De acordo com o Relatório do Planeta, apresentado pelo Programa das Nações


Unidas para o Meio Ambiente e pela União Internacional para Conservação
da Natureza (IUCN), até 2016 existiam 202.467 áreas protegidas (entre áreas
terrestres e de águas continentais), cobrindo uma área de aproximadamente
19,8 milhões de km2 (cerca de 14,7% dos ecossistemas terrestres; UNEP-WCMC/
IUCN, 2016). Essa taxa está um pouco abaixo da meta da Convenção sobre a
Diversidade Biológica, que prevê alcançar uma cobertura de 17% em 2020 (Figura
38). América Latina e Caribe têm a maior área protegida do mundo, cerca de 5
milhões de quilômetros quadrados. Entretanto, o mesmo relatório ressalta que
ainda estão sendo deixadas de lado áreas com espécies e habitats-chave para a
biodiversidade, e que a gestão de áreas protegidas ainda é limitada.

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Figura 38 – Porcentagem de áreas terrestres e marinhas cobertas por áreas de proteção
ambiental por ano, até abril de 2016. Fonte: UNEP-WCMC/IUCN (2016).

Apesar de todo esse crescimento em termos quantitativos de áreas protegidas, ainda há


muito a ser feito para melhorar a qualidade dessas áreas. Menos de 20% dos países cumpriram
os seus compromissos para avaliar a gestão de áreas protegidas, o que levanta questões sobre a
qualidade e a eficácia das medidas de conservação existentes. Embora o Brasil seja o país com
maior área territorial protegida (cerca de 2,5 milhões de km2; UNEP-WCMC/IUCN, 2016), as
políticas públicas estão indo na contramão do desenvolvimento sustentável e da conservação.

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Por exemplo, Está tramitando na câmara dos deputados do estado do Paraná


um projeto de lei que visa reduzir a área da APA da Escarpa Devoniana em
aproximadamente 70% (P.L. 527/2016). O principal argumento dos proponentes
do projeto de lei é que, quando essa APA foi criada, os aparatos técnicos para
delimitação da área eram limitados (ALVES et al., em preparação). No entanto,
nenhum outro argumento técnico é apresentado, o que claramente demonstra
um viés político e econômico para reduzir a área dessa APA, torná-la uma área
de agricultura não sustentável. Vale ressaltar que este é apenas um exemplo
regional. Atualmente, existem mais de 20 propostas legislativas para facilitar o
licenciamento ambiental para projetos de agricultura e infraestrutura, os quais
podem acelerar o desmatamento e fazer com que o Brasil não cumpra a meta
acordada na Convenção da Diversidade Biológica (TOLLEFSON, 2016).

EFICÁCIA DAS ÁREAS PROTEGIDAS


Apesar das áreas protegidas representarem pouco menos de 15% de toda a área terrestre
do planeta, algumas dessas áreas apresentam uma alta relevância para a biodiversidade. Por

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exemplo, gradientes de elevação, onde formações geológicas diferentes estão justapostas, em
locais com abundantes recursos naturais como estuários de rios e sistemas do tipo rio-planície
de inundação, os quais concentram nutrientes e mata ciliares, além de apresentaram grande
heterogeneidade de habitat, também possui grande parte da biodiversidade de certos biomas
(PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
Um bom exemplo de uma área protegida eficaz é a Área de Proteção Ambiental das Ilhas
e Várzeas do Rio Paraná, a qual também inclui o Parque Estadual das Várzeas do Rio Ivinhema. O
principal objetivo dessas áreas é conservar os fragmentos de florestas, os remanescentes de várzea
e ecossistemas associados dos Rios Ivinhema e Paraná, mantendo mecanismos de regulação
natural das bacias hidrográficas locais e promovendo a preservação da diversidade genética das
espécies que habitam a área, principalmente aquelas ameaçadas de extinção (IMASUL, 2017).
Essa área de proteção abriga sete espécies de animais ameaçados de extinção de acordo
com a IUCN: a Piracanjuba (Brycon orbignyanus), o Cervo-do-pantanal (Blatocerus dichotomus),
o Bugio (Alouatta fusca), a Lontra (Lutra longicaudis), a Anta (Tapirus terrestris), a Jaguatirica
(Leopardus pardalis) e a Onça-pintada (Panthera onca) (ICMBio, 2017). Além disso, o Parque
estadual também funciona como refúgio de espécies de peixes migradoras ameaçadas pela
construção de barragens no rio Paraná. Também, já foi demonstrado que o rio Ivinhema funciona
como um filtro contra espécies invasoras de peixes, pois mantém as condições próximas do
ambiente natural. O tucunaré (Cichla kelberi - uma das espécies invasoras mais devastadoras
presentes na bacia do rio Paraná; PELICICE & AGOSTINHO, 2009) mantém suas abundâncias
baixas nas regiões do Parque Estadual, pois lá as condições limnológicas não favorecem sua
reprodução e estabelecimento, o que demonstra a eficácia dessa área protegida contra as espécies
invasoras (ALVES, 2017).

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Conheça mais sobre a APA das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná na reportagem
feita pela Rede Parananense de Comunicação (RPC), vinculada à rede Globo. A
reportagem em vídeo pode ser acessada pelo link a seguir:
http://redeglobo.globo.com/rpctv/meuparana/noticia/2015/11/meu-para-
na-mergulha-nas-aguas-e-nos-misterios-do-rio-parana.html.

Um outro exemplo de eficácia de conservação é o Parque Santa Rosa, na Costa Rica. Esse
parque conta com pequenas áreas protegidas, cobrindo apenas 0,2% do território do país. Mesmo
com uma pequena área de proteção, o parque abriga cerca de 55% das populações reprodutivas de
mariposas da Costa Rica. Este parque encontra-se dentro do Novo Parque Nacional Guanacaste
com 82.000 há, onde estima-se estarem quase todas as espécies de mariposas (PRIMACK &
RODRIGUES, 2001).
Esses exemplos demonstram que as áreas protegidas podem incluir muitas espécies de
um país. Também, mostram a importância dessas áreas para conter a perda da biodiversidade
por meio de ações antrópicas como a introdução de espécies invasoras e a fragmentação de
habitat. No entanto, o futuro a longo prazo dessas espécies é incerto. As populações de muitas
espécies podem reduzir-se tanto em tamanho que, eventualmente, estas chegarão a extinção

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(especialmente aquelas que já estão ameaçadas, como na APA das Ilhas e Várzeas do Rio Paraná).
Consequentemente, enquanto o número de espécies existentes em um parque relativamente novo
é importante como indicador do seu potencial, o valor real do parque está na sua habilidade de
manter populações de espécies viáveis a longo prazo (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).

PRIORIDADES PARA PROTEÇÃO


Em um mundo com uma população humana crescendo exponencialmente e com
extremas restrições econômicas (como no Brasil, principalmente com as restrições de verbas
para a ciência e o meio ambiente (ANGELO, 2017), , faz-se necessário estabelecer prioridades
para a conservação da biodiversidade.
Em um cenário ideal não se deveria perder nenhuma espécie, porém a realidade é que
muitas espécies são extintas todos os dias. Assim, o que devemos nos perguntar é como esta
perda de espécies pode ser minimizada levando em consideração a disponibilidade dos recursos
financeiros e humanos (PRIMACK & RODRIGUES, 2001).
Para isso, existem algumas questões fundamentais que devem ser tratadas pelos
conservacionistas: O que deve ser protegido, onde deve ser protegido, e como deve ser protegido.
Assim, podemos utilizar três critérios para estabelecer as prioridades de conservação (PRIMACK
& RODRIGUES, 2001):
Diferenciação – A prioridade para conservação é maior em uma comunidade que
é composta por grande quantidade de espécies endêmicas e/ou raras do que quando ela é
composta basicamente por espécies comuns. De maneira generalizada, é sempre dado mais valor
de conservação a uma espécie quando ela é a única espécie de uma Classe ou Família.
Perigo – As espécies que estão em perigo de extinção são, também, tratadas como
prioridades para a conservar muito mais do que para a conservação muito mais do que
aquelas que aquelas que têm populações abundantes e não estão ameaçadas. Enquanto o peixe
Piracanjuba (Brycon orbignyanus) está na lista de espécies ameaçadas de extinção, o Barrigudinho
(Poecilia reticulata) apresenta altas densidades populacionais em pequenos riachos poluídos e
intensamente impactados. As comunidades biológicas ameaçadas pela degradação ambiental
também são prioridades.

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Utilidade – As espécies que têm um valor real ou potencial têm mais importância para
a conservação do que as espécies que não apresentam nenhuma utilidade evidente para os seres
humanos. Por exemplo, as diferentes espécies de Salmão são importantes fontes de proteína para
muitas populações humanas pelo mundo e, por essa razão, têm mais prioridade que peixes de
pequeno porte e sem valor comercial aparente. Uma outra utilidade são as espécies que chamam
atenção por sua beleza e comportamento, como os elefantes e girafas africanas, que movimentam
o turismo de safari nesse continente.

PLANEJAMENTO DE ÁREAS PROTEGIDAS


As unidades de conservação são consideradas “ilhas” de biodiversidade protegidas em
um mar de habitat alterado ou degradado por atividades antrópicas. O tamanho e o local das
áreas protegidas são frequentemente determinados pela distribuição das populações, pelo valor
da terra e pelos esforços de conservação dos cientistas e da população consciente. Em muitos
casos, algumas áreas são preservadas pelo simples fato de não ter valor comercial imediato (terras
inférteis) e por determinações legais.
Apesar da maioria das áreas de conservação terem sido criadas e adquiridas por outras
razões que não a conservação, muitos estudos têm sido realizados na área de ecologia de
paisagem para definir as melhores formas de planejar uma área de proteção para a conservação
da diversidade biológica, com base em padrões espaciais de paisagem. Embora essa abordagem
seja extremamente útil, deve-se ter em mente que a delimitação de áreas de conservação não

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deve ser regida por diretrizes simplistas e gerais, pois cada uma das situações de conservação
apresenta peculiaridades, e devem ser observadas e avaliadas com critérios rígidos para
priorizar a biodiversidade, e não interesses econômicos. Assim, a seleção de áreas de proteção,
inevitavelmente, deve ser regida pelo design da reserva.

Atenção! De acordo com Hunter & Gibbs (2007), existem muitas ideias de como
uma reserva ideal deve ser e algumas questões-chaves foram definidas para
isso (Figura 39):
1. Reservas maiores são melhores do que reservas menores, pois uma reserva
maior é capaz de abrigar mais espécies.
2. É preferível uma única reserva grande a múltiplas reservas pequenas
equivalentes em áreas (assumindo que todas representem o mesmo
ecossistema).
3. Caso seja necessário ter múltiplas reservas, estas devem estar próximas
umas das outras para minimizar o isolamento das populações.
4. Organizar pequenas reservas em agrupamentos, ao contrário de uma forma
linear, também facilitará o movimento das populações entre as reservas.
5. Conectar as reservas com corredores ecológicos facilita a dispersão para
muitas espécies.
6. As reservas devem ter formatos tão circulares quanto possível. Dessa
forma, a dispersão dentro da reserva será melhorada e os efeitos negativos
das bordas serão minimizados.

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Figura 39 – Princípios de planejamento de uma reserva, propostos com base na teoria de biogeografia de
ilhas. Fonte: Primack & Rodrigues (2001).

Na Figura 39, os princípios apresentados têm sido objeto de muita discussão, mas de
maneira geral, aqueles mostrados à direita são preferíveis aos da esquerda.
Existe um grande debate sobre se devemos criar inúmeras unidades pequenas ou
menos unidades maiores. Alguns argumentam que as unidades de conservação pequenas e
não conectadas podem retardar a propagação de doença entre as populações. Um argumento a
favor das unidades de conservação grandes é o de que animais de grande porte com densidades
populacionais baixas, como a onça pintada, necessitam de habitats extensos.

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As grandes unidades de conservação têm perímetros proporcionalmente menores do que


as unidades pequenas, razão pela qual são menos afetadas pelo efeito de borda.
Atualmente, aceita-se que as grandes reservas são mais adequadas do que as pequenas para
manter muitas espécies, por causa dos tamanhos maiores das populações e da maior variedade de
habitats que elas contêm. Entretanto, pequenas reservas bem manejadas também têm seu valor,
especialmente para a proteção de muitas espécies de plantas (RODRIGUES, 1998), invertebrados
e pequenos vertebrados (LESICA & ALLENDORF, 1992).

Alguns países têm adotado uma abordagem de zoneamento de unidades de


conservação para a conservação e o manejo de paisagens (REECE et al., 2015).
Uma unidade de conservação zoneada é uma região extensa de habitat com
áreas relativamente sem distúrbios por ações humanas, circundadas por áreas
alteradas e são utilizadas visando um ganho econômico. O principal desafio
dessa abordagem é desenvolver um clima social e econômico nas terras
circunvizinhas, compatível com a viabilidade de longo prazo da unidade de habitat
protegido. O ponto-chave dessa abordagem é que as áreas próximas às áreas
protegidas continuam a sustentar atividades humanas, porém segundo regras
que impedem os tipos de alterações extensas que provavelmente prejudicariam

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a área protegida (como atividades de agricultura em grande escala). Em razão
disso, os habitats do entorno servem como zonas tampão (de amortecimento)
contra a intromissão na área sem distúrbio.

A Costa Rica é uma liderança mundial na implantação de unidades de conservação


zoneadas. Um acordo feito em 1987 reduziu a dívida externa da Costa Rica em troca da
preservação ambiental no país. Atualmente, o país está dividido em 11 Áreas de Conservação,
que incluem parques nacionais e outras áreas protegidas, no continente e no oceano (Figura 40).
Como resultado desse zoneamento, observa um progresso em direção ao manejo das suas
unidades de conservação: as zonas tampão proporcionam um suprimento constante e duradouro
de produtos florestais, água e energia hidroelétrica, além de manterem agricultura e turismo
sustentáveis, ambas as atividades com emprego de pessoas do local (REECE et al., 2015). Além
dos benefícios econômicos, as unidades de conservação zoneadas são responsáveis por proteger
pelo menos 80% das espécies nativas do país.

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Figura 40 – Unidades de conservação na Costa Rica, América Central. Os limites das áreas de conservação
estão indicados por contornos pretos. Fonte: REECE et al. (2015).

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