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GERIATRIA E GERONTOLOGIA

PARA TERAPIA OCUPACIONAL


PROF. CARLOS ESCUDEIRO
Prof. Me. Ricardo Benedito de Oliveira
REITOR

Reitor:
Prof. Me. Ricardo Benedito de
Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Maria Albertina Ferreira do
Nascimento
Prezado (a) Acadêmico (a), bem-vindo Diretoria EAD:
(a) à UNINGÁ – Centro Universitário Ingá.
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Primeiramente, deixo uma frase de Novakowski
Sócrates para reflexão: “a vida sem desafios
não vale a pena ser vivida.” PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Cada um de nós tem uma grande Diagramação:
responsabilidade sobre as escolhas que Edson Dias Vieira
fazemos, e essas nos guiarão por toda a vida Thiago Bruno Peraro
acadêmica e profissional, refletindo diretamente
em nossa vida pessoal e em nossas relações Revisão Textual:
com a sociedade. Hoje em dia, essa sociedade
é exigente e busca por tecnologia, informação Camila Cristiane Moreschi
e conhecimento advindos de profissionais que Danielly de Oliveira Nascimento
possuam novas habilidades para liderança e Fernando Sachetti Bomfim
sobrevivência no mercado de trabalho. Luana Luciano de Oliveira
De fato, a tecnologia e a comunicação Patrícia Garcia Costa
têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, Renata Rafaela de Oliveira
diminuindo distâncias, rompendo fronteiras e
nos proporcionando momentos inesquecíveis. Produção Audiovisual:
Assim, a UNINGÁ se dispõe, através do Ensino a Adriano Vieira Marques
Distância, a proporcionar um ensino de qualidade, Márcio Alexandre Júnior Lara
capaz de formar cidadãos integrantes de uma Osmar da Conceição Calisto
sociedade justa, preparados para o mercado de
trabalho, como planejadores e líderes atuantes. Gestão de Produção:
Que esta nova caminhada lhes traga Cristiane Alves
muita experiência, conhecimento e sucesso.

© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
GERIATRIA E GERONTOLOGIA
PARA TERAPIA OCUPACIONAL

PRINCÍPIOS NORTEADORES EM GERIATRIA


E GERONTOLOGIA
PROF. CARLOS ESCUDEIRO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................5
1. ENFOQUE CONCEITUAL EM GERONTOLOGIA E GERIATRIA................................................................................6
1.1 OBJETIVOS DA GERONTOLOGIA.............................................................................................................................6
1.1.1 CAMPO DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL DA GERONTOLOGIA.............................................................................. 7
1.2 GERIATRIA................................................................................................................................................................ 7
2. DEFINIÇÃO DE ENVELHECIMENTO........................................................................................................................ 7
2.1 SENESCÊNCIA E SENILIDADE................................................................................................................................ 7
2.2 TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E DEMOGRÁFICA DO ENVELHECIMENTO......................................................8
2.3 CONCEITOS IMPORTANTES NO ESTUDO DA GERONTOLOGIA.........................................................................9
2.3.1 AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIA........................................................................................................................9

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2.4 ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIÁRIA - AIVDS.................................................................................. 11


2.5 ATIVIDADES BÁSICAS DA VIDA DIÁRIA – ABVDS............................................................................................... 11
3. PROCESSO BIOPSICOSSOCIAL.............................................................................................................................. 12
3.1 ENVELHECIMENTO FISIOLÓGICO......................................................................................................................... 12
3.1.1 COMPOSIÇÃO CORPORAL................................................................................................................................... 12
3.1.2 ÓRGÃOS DO SENTIDO......................................................................................................................................... 12
3.1.3 SISTEMA NERVOSO............................................................................................................................................. 12
3.1.4 SISTEMA MUSCULOESQUELÉTICO................................................................................................................... 12
3.2 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO ENVELHECIMENTO........................................................................................... 13
3.2.1 MARCHA, POSTURA E EQUILÍBRIO................................................................................................................... 13
3.2.2 SISTEMA CARDIOVASCULAR............................................................................................................................ 13
3.2.3 ALTERAÇÕES NEUROLÓGICAS.......................................................................................................................... 14
3.3 PROCESSO COGNITIVO DO ENVELHECIMENTO ............................................................................................... 16
3.3.1 FATORES QUE INFLUENCIAM O ENVELHECIMENTO COGNITIVO................................................................. 17
3.4 PROCESSO SOCIAL DO ENVELHECIMENTO....................................................................................................... 17
3.4.1 CIDADANIA E INCLUSÃO SOCIAL DOS IDOSOS................................................................................................ 18
3.4.2 MEIOS DE INCLUSÃO SOCIAL PARA A PESSOA IDOSA.................................................................................. 18
3.5 APOSENTADORIA: MUDANÇAS DE PAPÉIS OCUPACIONAIS........................................................................... 18
3.5.1 INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NO PROCESSO DE APOSENTADORIA.................................... 19
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................20

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INTRODUÇÃO

Sejam bem-vindos ao estudo da disciplina de Geriatria e Gerontologia!


O conteúdo apresentado é interessante, pois se trata do estudo de uma fase da vida do
ser humano, o envelhecimento. A Geriatria e a Gerontologia nos trazem um conhecimento
do processo de envelhecimento quanto aos aspectos fisiológicos, psicológicos, cognitivos e
sociais, possibilitando uma fundamentação teórica e científica para atuarmos como Terapeutas
Ocupacionais com essa população. Enquanto a Geriatria atua especificamente sobre os aspectos
físicos e psíquicos, na promoção e cuidado de saúde da pessoa idosa, a Gerontologia se foca
na promoção de bem-estar, olhando tanto para as condições biopsicossociais quanto para a
espiritualidade, que permite maior qualidade de vida às pessoas idosas.
O aumento da expectativa de vida da população idosa é um fenômeno irreversível no Brasil

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e no mundo, sendo uma das maiores conquistas da humanidade. Mas exige a implementação de
políticas públicas e privadas para atender, da melhor forma possível, às pessoas com mais de 60
anos.
Nesse panorama, segundo Bernardo e Raymundo (2018), os Terapeutas Ocupacionais
têm, junto à população que envelhece, uma atuação na busca de maior autonomia, participação
social e engajamento em ocupações significativas. Portanto, esta disciplina tem o objetivo de
elucidar a relevância do profissional de Terapia Ocupacional e de suas diversas áreas de atuação,
cujo foco principal é a ocupação humana. O principal instrumento de trabalho dessa profissão é
a utilização de recursos terapêuticos para manter e ampliar as capacidades funcionais, autonomia
e independência, ajudando o idoso a utilizar ao máximo suas potencialidades e habilidades. No
conjunto de ações da Terapia Ocupacional, estão ações de prevenção, promoção e reabilitação.
Enfatizamos também o importante papel do Terapeuta Ocupacional no âmbito da inclusão
social, atuando de forma preventiva na (re)construção de um projeto de vida e na organização de
um cotidiano significativo para os aposentados.

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1. ENFOQUE CONCEITUAL EM GERONTOLOGIA E GERIATRIA

Gerontologia (do grego gero = envelhecimento + loggia = estudo), segundo Elie


Metchnikoff, em 1903, é a ciência que estuda o processo de envelhecimento em suas dimensões
biológica, psicológica e sociocultural.
De acordo com Anita Liberalesso Neri, a Gerontologia trata-se de um campo multi
e interdisciplinar, que visa à descrição e à explicação das mudanças típicas do processo de
envelhecimento e de seus determinantes genético-biológicos, psicológicos e socioculturais.
A Gerontologia é o campo de estudos que investiga as experiências de velhice e
envelhecimento em diferentes contextos socioculturais e históricos, abrangendo aspectos
do envelhecimento normal e patológico. Investiga o potencial de desenvolvimento humano,
associado ao curso de vida e ao processo de envelhecimento. Caracteriza-se como um campo
de estudos multidisciplinar, recebendo contribuições metodológicas e conceituais da biologia,

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psicologia, ciências sociais e de disciplinas, como a biodemografia, neuropsicologia, história,
filosofia, direito, psicologia educacional, psicologia clínica e medicina.
Para Alkema e Haley (2006), a Gerontologia estuda os processos associados à idade,
ao envelhecimento e à velhice, sendo uma área de convergência entre a biologia, a sociologia
e a psicologia do envelhecimento. O envelhecimento, nesse sentido, representa a dinâmica de
passagem do tempo, e a velhice inclui como a sociedade define as pessoas idosas. A biologia do
envelhecimento estuda o impacto da passagem do tempo nos processos fisiológicos ao longo
do curso de vida e na velhice. A psicologia do envelhecimento, por sua vez, se concentra nos
aspectos cognitivos, afetivos e emocionais relacionados à idade e ao envelhecimento, com ênfase
no processo de desenvolvimento humano. A sociologia baseia-se em períodos específicos do
ciclo de vida e concentra-se nas circunstâncias socioculturais que afetam o envelhecimento e as
pessoas idosas.
É campo interdisciplinar, que visa ao estudo das mudanças típicas do processo de
envelhecimento e de seus determinantes biológicos, psicológicos e socioculturais. É um campo
multiprofissional e multidisciplinar.
A Gerontologia é uma ciência que estuda o processo de envelhecimento. Cuida da
personalidade e da conduta dos idosos, levando em consideração todos os aspectos ambientais e
culturais do envelhecer. Os profissionais da Gerontologia têm formação diversificada e interagem
entre si e com os geriatras.
É campo científico e profissional dedicado às questões multidimensionais do envelhecimento
e da velhice, tendo por objetivo a descrição e a explicação do processo de envelhecimento nos
seus mais variados aspectos. É, por essa natureza, multidisciplinar e interdisciplinar.

1.1 Objetivos da Gerontologia


- Tratar dos aspectos biológicos, sociais, psíquicos e legais do envelhecimento, dentre
outros.
- Promover pesquisas que possam esclarecer os fatores envolvidos no envelhecimento.

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1.1.1 Campo de atuação profissional da Gerontologia

O campo de atuação profissional da Gerontologia envolve: prevenção, ambientação,


reabilitação e cuidados paliativos. Os profissionais da equipe multidisciplinar (como Terapeutas
Ocupacionais, Fisioterapeutas, Fonoaudiólogos, Nutricionistas e outros) podem atuar nas
seguintes áreas:

Prevenção: propõe intervenções que antecipem os problemas mais comuns que afetam
os idosos e orienta a criação de condições adequadas para um envelhecimento com
qualidade de vida.
Ambientação: orienta a criação de condições para uma vida com qualidade na velhice,
focando os mais variados espaços por onde circulam ou vivem os idosos.
Reabilitação: propõe intervenções quando ocorrem perdas que são resgatáveis e, quando

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irreversíveis, orienta a criação de condições individuais e ambientais para uma vida digna.
Cuidados paliativos: propõe intervenções quando ocorrem doenças progressivas e
irreversíveis, abrangendo aspectos físicos, psíquicos e espirituais, com atenção estendida
aos familiares, visando ao maior bem-estar possível e dignidade do idoso até a sua morte.

1.2 Geriatria
É uma especialidade médica que se integra na área da Gerontologia, com instrumental
específico para atender aos objetivos da promoção da saúde, da prevenção e do tratamento das
doenças, da reabilitação funcional e dos cuidados paliativos.

2. DEFINIÇÃO DE ENVELHECIMENTO

O envelhecimento é um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, não


patológico, de deterioração de um organismo maduro, próprio a todos os membros da espécie, de
maneira que o tempo o torne menos capaz de fazer frente ao estresse do meio-ambiente.
Segundo Fino (2016), o envelhecimento implica a degradação progressiva, comum a
todos os seres vivos, gerando mudanças ao nível biológico, psicológico e social, que tendem a
intensificar-se com a idade.
A forma como cada indivíduo envelhece depende de uma vasta lista de características, como
o contexto cultural, ambiental, histórico, clínico e genético, não descartando os relacionamentos
sociais.

2.1 Senescência e Senilidade


Senescência – processo natural de diminuição progressiva da reserva funcional dos
indivíduos.
Senilidade – condição de sobrecarga, como doenças, acidentes e estresse emocional,
podendo ocasionar uma condição patológica que requeira atenção.
São erros que devem ser evitados:

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- Considerar que todas as alterações que ocorrem com a pessoa idosa sejam decorrentes
de seu envelhecimento natural;
- Tratar o envelhecimento natural como doença.
Por sua vez, envelhecimento saudável é o processo de desenvolvimento e manutenção da
capacidade funcional que permite o bem-estar em idade avançada. Conceitos importantes são a
independência e a autonomia.
O maior desafio na atenção à pessoa idosa é contribuir para que, apesar das progressivas
limitações que possam ocorrer, elas possam redescobrir possibilidades de viverem sua própria
vida com a máxima qualidade possível.

2.2 Transição Epidemiológica e Demográfica do Envelhecimento


Segundo Oliveira et al. (2010), o Brasil está passando por transformações importantes no
aspecto demográfico. O País vem registrando quedas acentuadas da natalidade, o que determina

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um ritmo cada vez menor de aumento do contingente populacional.
A redução do número de nascimentos vem acompanhada pela queda da mortalidade.
Esses dois componentes, juntos, intensificam o processo de envelhecimento populacional. Com
mais pessoas alcançando idades elevadas, uma série de mudanças é observada, como a transição
epidemiológica, passando a mortalidade a predominar entre os mais velhos. As principais causas
de morte passam a ser as doenças típicas do envelhecimento, o que demanda atenção e cuidado
especiais para pessoas com mais de 60 anos que visam manter a autonomia, independência e
bem-estar.
De acordo com o IBGE, o Brasil passará dos atuais 8,6% de idosos para 13% em 2020,
podendo chegar a 20% da população em 2050. Dados das Nações Unidas mostram que o mundo
tem hoje cerca de um décimo da população com 60 anos e que, em 2050, o número de idosos será
de um quinto. Em outras palavras, em 2050, o número de idosos será, provavelmente, superior
ao de jovens abaixo de 15 anos.

Figura 1- Índice de envelhecimento da população do Brasil (1970 - 2010). Fonte: Censo (2000).

Juntamente com o aumento populacional de idosos no Brasil, houve uma queda da taxa
de fecundidade, resultando em um grupo de idosos maior que o grupo de crianças. Essa é a
estimativa do IBGE para 2050.
O envelhecimento da população do Brasil é fato irreversível e que deverá se acentuar
num futuro imediato. O impacto dessa nova ordem demográfica é imenso, sobretudo quando se
observa que os fatores associados ao subdesenvolvimento continuam se manifestando por um
tempo difícil de ser definido.

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Compare a expectativa de vida da população brasileira e japonesa em 2019:


- Japão: 84,2 anos.
- Brasil: 76.6 anos.

2.3 Conceitos Importantes no Estudo da Gerontologia

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Figura 2 - Funcionalidade global x idade. Fonte: O Autor.

A Figura 2 mostra a relação entre a funcionalidade global do organismo e os ciclos de


vida (infância, adolescência, adultez e velhice). O ser humano atinge o máximo das suas funções
orgânicas por volta dos 30 a 40 anos. Entre os 40 e 50 anos, há uma estabilização e, a partir
daí, um declínio funcional progressivo, com a perda funcional global de 1% ao ano. Portanto,
quanto maior a reserva funcional, menor será a repercussão do declínio considerado fisiológico
(envelhecimento fisiológico).

2.3.1 Autonomia e Independência

A autonomia é o conteúdo ético do princípio da dignidade humana. Ela é o fundamento


que determina a liberdade de um indivíduo, permitindo-o fazer suas próprias escolhas, de modo
a gerir sua vida conforme seu livre-arbítrio.
Autonomia refere-se à capacidade que o ser humano tem para decidir, decisões essas
que irão afetar sua vida, sua saúde, sua integridade físico-psíquica e suas relações sociais com
o mundo externo. É uma palavra que deriva do grego “auto” (próprio) e “nomos” (lei, regra,
norma). O agir com autonomia livra o sujeito das coações externas. O seu pensamento livre é que
determina as escolhas que serão feitas frente às situações que se apresentarão no cotidiano de sua
vida.
Autonomia tem relação direta com a capacidade cognitiva, principalmente com as funções
executivas, pois o indivíduo, em diferentes situações, deverá acessar esses domínios cerebrais para
analisar e responder coerentemente a seus anseios e expectativas. Portanto, a autonomia inclui a
liberdade de escolha, de ação e de autocontrole sobre a vida. É a capacidade de tomar decisões.
Por exemplo: “Quero ir ao banheiro” = autonomia = capacidade de decidir executar a tarefa.

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Por sua vez, independência é a capacidade de execução daquilo que foi decidido e está
diretamente relacionada à capacidade motora, como mobilidade, destreza manual, força muscular,
força articular, equilíbrio, coordenação motora e comunicação. É a capacidade de realizar as
atividades do dia a dia, relacionadas à manutenção de vida e higiene pessoal, capacidade motora
e controle esfincteriano.
Em resumo:
- Autonomia = capacidade cognitiva e emocional - AIVDs.
- Independência = capacidade motora e funcional - ABVDs (capacidade de execução
daquilo que foi decidido).
- Avaliaçâo da capacidade funcional = atribuição do terapeuta ocupacional

No processo terapêutico, a Terapia Ocupacional utiliza instrumentos de avaliação


funcional, das estruturas mentais, emocionais e sociais e avalia, principalmente, o desempenho
das Atividades da Vida Diária, pois são os principais indicadores da autonomia do idoso.
As deficiências neuromotoras e sensoriais acarretam inúmeras incapacidades e limitações

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ao idoso para o desempenho de ocupações e atividades do cotidiano.
O Terapeuta Ocupacional almeja, em sua intervenção, maximizar as potencialidades
dos indivíduos acometidos por essas condições, proporcionando-lhes maior independência na
execução das AVDs, ou seja, melhorar a sua funcionalidade.
AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES BÁSICAS DA VIDA DIÁRIA - ABVDs;
AVALIAÇÃO DAS ATIVIDADES INSTRUMENTAIS DA VIDA DIÁRIA – AIVDs;
ABVDS = autocuidado – necessidade de cuidador ou não;
AIVDs = vida comunitária independente = capacidade de tomar decisões e morar
sozinho, quando possível.

Visão global do Processo de Terapia Ocupacional:


• Muitas profissões usam um processo semelhante de avaliação, intervenção e
análise dos resultados da intervenção.
• No entanto, apenas os profissionais de Terapia Ocupacional focam no uso de
ocupações para promover a saúde, o bem-estar e a participação na vida.
• Profissionais de Terapia Ocupacional usam ocupações e atividades
selecionadas de forma terapêutica, como métodos primários de intervenção
em todo o processo.

Atua na:

Terapia - Autonomia + AIVDS = estimulação e reabilitação cognitiva.

Ocupacional - Independência + ABVDS = treinamento funcional e tecnologia


assistiva.

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2.4 Atividades Instrumentais da Vida Diária - AIVDs


Compreendem as atividades que dão suporte às atividades de vida diária em casa ou na
comunidade e que, frequentemente, exigem interações mais complexas que as ABVDs devido à
exigência da capacidade cognitiva preservada.
- Gerenciamento da comunicação: enviar, receber e interpretar informações, utilizando
uma variedade de sistemas e equipamentos, incluindo ferramentas para a escrita, telefones,
computadores, recursos audiovisuais, pranchas de comunicação, campainhas de emergência,
máquinas em comunicação em Braille, campainhas de telecomunicação para surdos, equipamentos
de comunicação alternativa.
- Mobilidade na comunidade: movimentar-se na comunidade e utilizar transporte público
ou privado, como caminhar, dirigir, andar de bicicleta e pegar táxi, Uber ou ônibus.
- Gerenciamento financeiro: uso de recursos financeiros e planejamento financeiro a
curto e longo prazos.

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- Estabelecimento e manutenção da casa: casa, jardim, quintal, carro, manutenção e
conserto de roupas e objetos da casa, conhecimento para identificar e solicitar ajuda para reparos.
- Preparação de alimentos e limpeza: planejamento, preparação e habilidade de servir
refeições balanceadas nutricionalmente, habilidade para higienizar os alimentos e limpar os
utensílios após as refeições.
- Compras: preparação de listas de compras, seleção, compra e transporte de itens, seleção
de método de pagamento, uso adequado do dinheiro.

2.5 Atividades Básicas da Vida Diária – ABVDs


São tarefas básicas de autocuidado:
- Alimentar-se;
- Ir ao banheiro;
- Vestir-se;
- Arrumar-se e cuidar da higiene pessoal;
- Tomar banho;
- Controle esfincteriano;
- Mobilidade e mudanças posturais.
Numa avaliação funcional, os possíveis resultados são independentes, parcialmente
dependentes e dependentes.
Para Santos et al. (2018), a capacidade funcional é documentada na literatura como uma
habilidade de executar atividades cotidianas em um padrão considerado normal, de acordo com
comportamentos socialmente constituídos. Segundo a Classificação Internacional de Capacidade
e Saúde (CIF), da Organização Mundial da Saúde, a capacidade funcional é a capacidade de
executarmos uma tarefa ou ação, visando a indicar o provável nível máximo de funcionalidade que
a pessoa pode atingir em um dado domínio e em determinados momentos. Reflete a capacidade
ajustada ao ambiente. Neri (2011) destaca que capacidade funcional diz respeito à capacidade
de manter as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida independente, valorizando
a autonomia e a autodeterminação. O autor complementa, relatando que funcionalidade seria a
capacidade de realizar algo por seus próprios meios.

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Estatísticas do Ministério da Saúde mostram que quase metade dos idosos brasileiros
precisa de ajuda para realizar, pelo menos, uma das atividades necessárias à vida diária, entretanto,
apenas 7% são dependentes. Estudos apontam que a prevalência de incapacidade para realizar as
AIVDs é maior quando comparada à prevalência para realizar ABVDs e aumenta com o passar
dos anos para ambos os sexos.
Funcionalidade é o produto da preservação da cognição, da mobilidade e da comunicação.

3. PROCESSO BIOPSICOSSOCIAL

3.1 Envelhecimento Fisiológico


3.1.1 Composição corporal

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Dentre as principais alterações no envelhecimento, está a composição corporal. Com o
avanço da idade, uma das consequências é a redução do teor de água no organismo do idoso, o
que pode levar à desidratação.
Além disso, também há redução da massa muscular, o que pode desenvolver a sarcopenia
e uma redução da massa óssea, podendo levar a um quadro de osteoporose.

3.1.2 Órgãos do sentido

Alterações no paladar, podendo apresentar os sabores azedo e amargo com frequência.


Isso está relacionado a um menor prazer na ingestão de alimentos, o que, muitas vezes, pode levar
à desnutrição, com associação de diversos outros fatores, tais como:
- diminuição do olfato;
- alteração visual, como diminuição da visão relacionada à catarata e a outras doenças.
Essas alterações podem causar diversos problemas ao idoso, como ocasionar quedas;

3.1.3 Sistema nervoso

As alterações do envelhecimento também atingem o sistema nervoso, causando a perda


neural, ou seja, uma diminuição das células do sistema nervoso, com consequentes alterações que
se refletem em todo o organismo.
Com uma menor funcionalidade neurológica, ocorrem também alterações no padrão
postural, equilíbrio, propriocepção, alterações na sensibilidade, dentre outras. Isso é comum
especialmente na presença de acometimentos como o acidente vascular encefálico.

3.1.4 Sistema musculoesquelético

As massas muscular e óssea sofrem grandes perdas, podendo ocasionar diversas patologias
no idoso. Isso está diretamente relacionado à diminuição da mobilidade, quedas com fraturas,
maior dependência e limitação funcional.
A massa muscular sofre grande diminuição, o que gera a sarcopenia, uma preocupação
para a qualidade de vida do idoso. A massa óssea também se reduz, acarretando fragilidade dos
ossos. Isso está relacionado a diversos fatores complexos, como a nutrição do indivíduo ao longo
da vida, sedentarismo e fatores hormonais e genéticos.

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A perda muscular é acelerada, chegando a 30% por década. Essa redução ocorre tanto em
número quanto no volume das fibras.
A atividade física, independentemente da idade, aumenta a força e a velocidade muscular,
além de prevenir contra perda óssea, quedas, hospitalizações e melhorar a função articular.

3.2 Aspectos Fisiológicos do Envelhecimento


3.2.1 Marcha, postura e equilíbrio

É comum uma certa hesitação no andar, menor balanço dos braços e passos menores.
Há redução na amplitude dos movimentos, tendendo a modificar a marcha, passos mais
curtos e lentos, com tendência a arrastar os pés. A base de sustentação se amplia, e o centro de
gravidade corporal tende a se adiantar em busca de maior equilíbrio.
Para vencer as dificuldades, o idoso diminui o tamanho dos passos e anda mais devagar.

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O grande problema nos grandes distúrbios da marcha é a queda, com todas as complicações
posteriores.

3.2.2 Sistema cardiovascular

É possível observar que as alterações no envelhecimento afetam diretamente o sistema


cardíaco. Tais mudanças causam efeitos, como:
- o enrijecimento das artérias, resultado da diminuição das fibras elásticas e do colágeno;
- deposição de gordura, caracterizando a aterosclerose;
- hipertrofia da parede do ventrículo esquerdo e enrijecimento da aorta;
- outras alterações e maior risco de acometimentos cardiovasculares.

Qual é a projeção do percentual de pessoas com mais de 65 anos no Brasil até


2.060?
Um, em quatro brasileiros, será idoso, representando 25,5%, contra os 9,2% atuais.

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Rol de atividades do Terapeuta Ocupacional em Gerontologia e Geriatria:


- Realizar entrevista (anamnese) com o idoso e seus familiares para conhecimento
de sua rotina, seu perfil ocupacional, suas dificuldades, sua saúde de forma
integral, habilidades e interesses;
- Realizar avaliações individuais a fim de propor atividades de acordo com as
necessidades dos idosos;
- Construir um plano individual de atendimento (PIA) com o idoso, família e/ou
cuidadores e equipe multiprofissional;
- Realizar atividades que estimulem as funções cognitivas, sensoriais e motoras
dos idosos;

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- Reavaliar periodicamente o processo de tratamento, sua evolução e fazer
modificações quando necessário;
- Propor uma rotina que estimule a realização das ABVDs , AIVDs e uso de
tecnologia assistiva, se houver indicação.
- Orientar os cuidadores e/ou familiares no estímulo das atividades do idoso no
domicílio e na comunidade;
- Participar de reuniões com a presença da equipe multidisciplinar.

3.2.3 Alterações neurológicas

São elas:
- diminuição de água intra e extracelular;
- diminuição de massa cerebral;
- diminuição do número de neurônios e sinapses;
- alteração da membrana lipídica e da condução nervosa;
- diminuição do fluxo sanguíneo cerebral.
Parte da cognição pode sofrer certa deterioração nas pessoas idosas saudáveis, como
a velocidade do processamento cognitivo, menor destreza para executar movimentos finos e
problemas com a memória recente. Em resposta ao dano neuronal, as células gliais aumentam.
Esse acúmulo de células gliais, denominado gliose, representa uma resposta compensatória,
protegendo a função neuronal e a plasticidade.
Em resumo, para Papalia e Feldeman (2013), são alterações fisiológicas para pessoas
acima dos 60 anos:
- Diminuição de 10 a 15 % da força muscular;
- Aumento do tempo de reação aos estímulos;
- Os reflexos tornam-se mais lentos em cerca de 20%.

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Figura 3 - Fragilidade do idoso. Fonte: Arengheri (2016).

O filme Conduzindo Miss Daisy, de 1989, retrata o processo de envelhecimento


de uma senhora de 72 anos, com as limitações impostas pela idade. Ela não
consegue mais dirigir, causando acidentes. O filho dela tenta convencê-la de que
seria melhor que ela tivesse um motorista, mas ela resiste à ideia. Mesmo assim, o
filho contrata um afro-americano como motorista. Inicialmente, ela se recusa a ser
conduzida por esse novo empregado, mas, gradualmente, ela quebra as barreiras
sociais, culturais e raciais que existem entre eles, crescendo entre os dois uma
amizade que atravessaria décadas.

Sinapse é uma região de proximidade entre um neurônio e outra célula, por onde é
transmitido o impulso nervoso. A neuroplasticidade, ou plasticidade neural, permite
que os neurônios se regenerem tanto anatômica quanto funcionalmente, formando
novas conexões sinápticas. A plasticidade cerebral, ou neuroplasticidade, é a
habilidade de o cérebro se reestruturar.

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3.3 Processo Cognitivo do Envelhecimento


Consideramos que o processo de envelhecimento acarreta alterações no funcionamento
cognitivo e comportamental. Contamos com diversos estudos de autores da Neuropsicologia,
que descrevem os declínios em diferentes funções cognitivas e que permitem afirmar a existência
de um impacto significativo da idade no funcionamento cognitivo.
Cognição é uma palavra associada ao processo de aprendizado e à elaboração do
conhecimento. É a partir do processo cognitivo que o ser humano consegue desenvolver suas
capacidades intelectuais e emocionais, isto é, linguagem, pensamento, memória, raciocínio,
capacidade de compreensão, percepção etc.
De acordo com Yassuda e Abreu (2006), no processo de envelhecimento normal, algumas
funções cognitivas diminuem naturalmente, ocorrendo declínio significativo em funções como
atenção, memória e funções executivas.
Santos et al. (2018) apontam que os envelhecimentos normal e patológico são processos

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gradativos. Os impactos sobre a memória não acontecem de maneira uniforme e devastadora.
Alguns aspectos da memória são mais afetados do que outros no processo de envelhecimento.
Apesar do declínio em algumas funções de memória, a maioria das pessoas na terceira idade
mantém habilidades cognitivas suficientes para permanecer independentes até idades avançadas.
Almeida (1998) relata que há evidências de que o desempenho intelectual do idoso
apresenta discreta deterioração em tarefas que exigem maior flexibilidade no processo das
informações. Estudos recentes ressaltam que existe grande variabilidade do envelhecimento
sobre a cognição. Há fatores que modulam os efeitos do envelhecimento sobre a memória, tais
como composição genética, nível educacional, nível socioeconômico, estilo de vida, atividades
físicas frequentes, boa acuidade visual e auditiva e relações sociais.
Neri (2011) elucidou, em um estudo longitudinal feito com pessoas acima de 60 anos,
que nenhum dos participantes do estudo mostrou declínio generalizado em todas as funções
cognitivas examinadas. Constatou-se que o declínio desencadeado pelo envelhecimento incidiu,
especialmente, nas tarefas que exigem rapidez, atenção, concentração e raciocínio indutivo.
Nas últimas décadas, os psicólogos cognitivos têm documentado declínios em diferentes
funções cognitivas, possibilitando confirmar que existe um impacto significativo da idade no
funcionamento cognitivo. Mas é importante ressaltar que a funcionalidade cognitiva de idosos
está relacionada com a saúde e qualidade de vida, sendo considerada um indício importante de
envelhecimento ativo e de longevidade. Ambos procuram uma visão mais positiva do processo
de envelhecimento. Nessa perspectiva, podemos afirmar que o declínio cognitivo não é, de modo
algum, universal e inevitável. Muitos idosos, incluindo alguns centenários, mantêm funções
cognitivas excelentes e apresentam desempenho tão bom, ou até melhor, que adultos mais jovens
até 80 ou 90 anos.
O comprometimento da memória associado à idade se refere a sintomas leves de declínio
cognitivo, que ocorrem como parte do processo de envelhecimento. Ele pode ser aplicado a quase
90% da população de idosos. Nesse sentido, o comprometimento cognitivo associado à idade é
considerado como “envelhecimento normal” (KATZ, 2017, p. 118).
Para Doron e Parot (2001, p.144), a “[...] cognição designa o conjunto dos atos e processos
de conhecimento, o conjunto dos mecanismos pelos quais um organismo adquire informação,
trata-a, conserva, explora-a”. Nela, as grandes funções psicológicas tradicionalmente reconhecidas
e que asseguram ao organismo os ganhos de informação necessários para a vivência em seu meio
são: a percepção, a aprendizagem, a memória, a inteligência, a função simbólica e a linguagem.

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Segundo Nunes (2009), quando falamos em funcionamento cognitivo, falamos em


cognição. De acordo com o autor, este não é um processo único, mas um conjunto de desempenhos
e comportamentos em tarefas de laboratório ou em tarefas do dia a dia.

3.3.1 Fatores que influenciam o envelhecimento cognitivo

- genéticos: cerca de 50% da variabilidade cognitiva no envelhecimento podem ser


devidos a fatores genéticos;
- idade: quanto mais avançada, maior o risco de aquisição de déficits cognitivos;
- saúde: os idosos que manifestam melhor saúde obtêm testes cognitivos com melhores
resultados do que os que apresentam problemas médicos;
- instrução e escolaridade: isso explica até 30% da variabilidade cognitiva na velhice;

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- atividade física e mental: correlaciona-se de forma positiva à prática de atividades mentais
estimulantes e físicas, com melhor desempenho cognitivo e menor declínio longitudinal;
- personalidade e humor: a depressão está correlacionada à insuficiência autopercebida
da memória e a déficits de desempenho;
- contexto sociocultural;
- treino cognitivo: idosos se beneficiam da prática e do treino de capacidades cognitivas
específicas;
- diferença entre sexos: embora as tendências cognitivas no envelhecimento sejam
semelhantes entre os sexos, as mulheres podem revelar déficits em tarefas espaciais mais
prematuramente que os homens, enquanto estes últimos podem mostrar déficits em
tarefas verbais em idade inferior à das mulheres.

Recomendamos a leitura de:


KATZ, N. Neurociência, reabilitação cognitiva e modelos de intervenção em
Terapia Ocupacional. 3. ed. São Paulo: Santos, 2017.

3.4 Processo Social do Envelhecimento


O papel social dos idosos é um fator importante no significado do envelhecimento, pois
ele depende tanto da forma de vida que as pessoas tenham levado como das condições atuais em
que se encontram. Nesse aspecto, destacamos a aposentadoria, momento em que, geralmente, o
indivíduo se afasta da vida produtiva. Na vida do homem, a aposentadoria muitas vezes acontece
como uma descontinuidade.
Há ruptura com o passado, o homem deve ajustar-se a uma nova condição que lhe
traz certas vantagens, como o descanso e o lazer, mas também graves desvantagens, como a
desvalorização e a desqualificação.

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Podemos analisar que, em certos momentos, a aposentadoria é sinônimo de perda de


papel social, levando-se em consideração que o indivíduo reduz suas relações interpessoais,
ocasionando um processo de isolamento, diminuição da autoestima, sedentarismo e diminuição
do poder aquisitivo, favorecendo o processo de envelhecimento patológico.

3.4.1 Cidadania e inclusão social dos idosos

O cidadão é o sujeito no gozo dos direitos civis e políticos de um estado.


Cidadania é o conjunto de direitos e deveres exercidos por um indivíduo que vive em
uma sociedade, no que se refere ao poder e grau de intervenção no usufruto de seus espaços e na
sua posição, em poder de nele intervir e transformá-lo.

3.4.2 Meios de inclusão social para a pessoa idosa

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A inclusão do idoso depende principalmente da família, que exerce a função de
supervisionar e cuidar, seja em situação de saúde ou de doença, tomando decisões relativas ao
seu cotidiano.
Alguns estudos identificaram que idosos residentes com a família são mais
participantes e ocupados em diversas tarefas, procurando menos os serviços de saúde se
comparados aos que têm o tempo ocioso. O apoio da família ajuda a manter a integridade física
e psicológica, havendo, consequentemente, uma melhoria na qualidade de vida do idoso.
Podemos destacar, como principal meio de inclusão na atualidade, os grupos de
convivência, que são espaços de inclusão social do idoso, promovendo sua participação por meio
de diversas atividades desenvolvidas, refletindo sobre o processo de envelhecimento, a qualidade
de vida e a valorização da própria vida.
Possíveis atividades culturais são:

A participação grupal permite elaborar e compartilhar o processo de envelhecimento e


as representações sociais impostas externa e internamente, contribuindo à construção de novos
conceitos do envelhecimento e a uma nova visão da velhice, compartilhada em algum projeto
social.

3.5 Aposentadoria: Mudanças de Papéis Ocupacionais


Alguns adultos acima dos 80 anos apresentam níveis de capacidade física e mental
comparáveis aos níveis de muitos jovens de 20 anos, mostrando o lado positivo do processo de
envelhecimento.

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3.5.1 Intervenção da terapia ocupacional no processo de aposentadoria

- Preparar a pessoa para a transição de um período marcado pelo trabalho para a


aposentadoria;
- Planejar as mudanças em sua rotina de vida;
- Reorganizar as atividades e papéis ocupacionais;
- Identificar sonhos e habilidades para a construção de um novo projeto de vida;
- Avaliar o perfil ocupacional do aposentado e buscar compreender as suas especificidades.

SANTOS, D. K. F. B. Planejamento da aposentadoria: A Terapia Ocupacional


auxiliando na construção de projeto de vida. Brasília: UnB, 2016.
O link para acesso é: https://bdm.unb.br/handle/10483/18135.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos ensinamentos mais detalhados, pode-se perceber que o estudo do processo
de envelhecimento vem desde a Antiguidade. As ideias de velhice são tão antigas quanto a
origem da humanidade, mas, foi a partir do século XX, que aconteceram grandes avanços da
ciência do envelhecimento. É de suma importância entendermos os aspectos biopsicossociais do
envelhecimento, baseados nos conhecimentos técnico-científicos.
O constante crescimento da população idosa tem conduzido a um aprimoramento de
conceitos, teorias e práticas profissionais, favorecendo a intervenção do Terapeuta Ocupacional
como membro fundamental da equipe interdisciplinar nas diferentes fases do envelhecimento,
atuando nos programas de prevenção de doenças e manutenção da saúde e reabilitação,
incentivando seu convívio social e familiar, sendo um profissional especializado no treinamento

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da autonomia e independência nas atividades básicas e instrumentais da vida diária.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

02
DISCIPLINA:
GERIATRIA E GERONTOLOGIA
PARA TERAPIA OCUPACIONAL

POLÍTICAS PÚBLICAS, PROGRAMAS OFICIAIS


DE ATENDIMENTO AO IDOSO E A INSERÇÃO DO
TERAPEUTA OCUPACIONAL NESSES CONTEXTOS
PROF. CARLOS ESCUDEIRO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................... 23
1. TRAJETÓRIAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA OS IDOSOS NO BRASIL E SEUS PRINCIPAIS DIREITOS.. 24
2. ENVELHECIMENTO ATIVO E QUALIDADE DE VIDA............................................................................................. 26
2.1 OBJETIVOS DO PROGRAMA ENVELHECIMENTO ATIVO................................................................................... 27
3. A INSERÇÃO DOS TERAPEUTAS OCUPACIONAIS NOS DIFERENTES CONTEXTOS DE ATENÇÃO À PESSOA
IDOSA........................................................................................................................................................................... 29
3.1 A ATUAÇÃO DOS TERAPEUTAS OCUPACIONAIS JUNTO À POPULAÇÃO IDOSA NA REDE DE ATENÇÃO À
SAÚDE.......................................................................................................................................................................... 29
3.2 TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE (APS)............................................................... 29
3.3 TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE .................................................................... 30

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3.4 TERAPIA OCUPACIONAL NA ATENÇÃO TERCIÁRIA À SAÚDE......................................................................... 31


4. ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL JUNTO À PESSOA IDOSA NOS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL
.......................................................................................................................................................................................32
4.1 DESCRIÇÃO DAS ATRIBUIÇÕES DO TERAPEUTA OCUPACIONAL COM OS IDOSOS...................................... 33
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................................ 34

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INTRODUÇÃO

O crescimento do quantitativo de idosos resulta em múltiplos problemas que refletem


social, política e economicamente na vida dos idosos e da família, além de no âmbito da vida
pública. Essa conjuntura demanda políticas públicas e programas sociais que abordam a questão
social.
Nesta unidade, iremos realizar uma análise da trajetória das Políticas Públicas do
Idoso no Brasil. A construção desse estudo foi realizada com base nas leis, eventos nacionais
e internacionais e artigos concernentes ao tema. No âmbito internacional, são significativas as
contribuições das Assembleias Mundiais sobre envelhecimento para a incorporação do conceito
de envelhecimento ativo nas políticas públicas no Brasil.

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Apesar dos avanços sobre o envelhecimento e saúde, ainda temos baixa prioridade das
políticas públicas de saúde para a questão do envelhecimento, baixa formação de profissionais na
área de saúde dos idosos e pouca prioridade para o suporte aos cuidadores. Mesmo nos países de
alta renda, os sistemas de saúde se organizam de forma fragmentada, voltados para as enfermidades
agudas, com reduzido foco na capacidade funcional e participação social dos idosos. Então,
partiremos da premissa de que as pressões dos debates internacionais influenciaram a formulação
de um campo de discussões no Brasil sobre o envelhecimento e podem ter surgido subsídios para
a formulação de políticas públicas nacionais para amparo dos idosos e para assegurar os direitos
sociais conquistados na Constituição Federal.

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1. TRAJETÓRIAS DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA OS IDOSOS NO


BRASIL E SEUS PRINCIPAIS DIREITOS

A preocupação da atenção pública com o idoso é notória, sobretudo com a promulgação


da Política Nacional do Idoso (PNI) em 1994 e sua regulamentação em 1996, o que assegurou
os direitos sociais à pessoa idosa, bem como seu direito à saúde. Em 2003, foi sancionado o
Estatuto do Idoso. O referido Estatuto avança em relação à PNI no que concerne aos direitos
fundamentais e às necessidades de proteção da população idosa.
A Política Nacional da Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI), anunciada em 1999, é um
importante dispositivo para o reconhecimento dos direitos já preconizados na PNI.
A inclusão dos temas pertinentes ao envelhecimento populacional nas políticas brasileiras
ocorreu pela força e influência da sociedade civil, destacando-se a criação da Sociedade Brasileira

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de Geriatria e Gerontologia em 1961.
O direito universal e integral à saúde foi conquistado pela sociedade na Constituição de
1988 e reafirmado com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS).
O Estatuto do Idoso, aprovado em 2003 e destinado a regulamentar os direitos dos idosos,
incorpora num único dispositivo leis e políticas anteriormente aprovadas, além de novas questões,
como a internação domiciliar e a proteção do idoso em situação de risco social. O dispositivo
amplia a resposta do Estado e da sociedade às necessidades da população idosa.
Em 2006, por influência das decisões tomadas na V Conferência Internacional sobre a
Promoção da Saúde, no México, os gestores do SUS assumem o compromisso do Pacto pela
Saúde, que tem como componente o Pacto pela Vida, o qual inclui como prioridade a saúde do
idoso na busca da atenção integral e integrada, promoção do envelhecimento ativo e saudável e
implantação da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (PNSPI). A PNSPI apresenta como
questão central recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos
idosos, direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em consonância
com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde. O foco dessa política é todo cidadão
brasileiro com 60 anos ou mais.
Os principais avanços da PNSPI consistem na incorporação do conceito de envelhecimento
ativo, preconizado pela Organização Mundial da Saúde (2002), na desmistificação da velhice e na
valorização da participação dos idosos na vida social e intergeracional.
Na PNSPI, a saúde do idoso resulta da interação entre saúde física, mental, suporte social,
independência financeira e capacidade funcional. Segundo Marinho (2008), o papel da Saúde,
como conceito ampliado, refere-se a ter energia para pegar um ônibus, ir a uma biblioteca, a um
show ou à praia e participar da vida em sociedade de modo geral, destacando que tal papel não se
restringe à prevenção de agravos de doenças crônicas não degenerativas.
Da mesma forma, Bernardo e Raymundo (2018), em busca de compreensão dos
significados atribuídos à saúde pelos próprios idosos, constatam que a autonomia na execução das
atividades funcionais, a capacidade de responder às obrigações no núcleo familiar e a capacidade
de desempenhar papéis sociais (estar engajado em atividades significativas) são palavras-chave
para definir saúde como boa ou razoável, não se limitando o conceito à ausência de doenças.
Ainda segundo os autores, a perda da capacidade funcional é o principal problema que
pode afetar a população idosa e comprometer o alcance do envelhecimento ativo. A PNSPI indica
as responsabilidades dos serviços nas ações promotoras da saúde, na manutenção da capacidade
funcional e na assistência integral ao idoso.

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Figura 1 - Particularidades no cuidado à pessoa idosa. Fonte: COSAPI/DAET/SAS/MS (2014).

A Figura 1 mostra as particularidades no cuidado à pessoa idosa, destacando os fatores


relacionados aos cuidados e funcionalidade do idoso, bem como apontando as doenças crônicas
não transmissíveis (DCNT) como causa da morbidade e incapacidades, impactando no aumento
da demanda de serviços especializados.
Para Willig (2012), a trajetória das Políticas Públicas para os idosos no Brasil mostra que
a sua criação ocorreu de forma tardia e morosa. Mas constate-se que tais políticas são fruto de
ações desenvolvidas pela sociedade civil, que procuram chamar a atenção do governo para os
problemas enfrentados pelos idosos e para a necessidade da criação de políticas específicas para
esse segmento populacional. As conferências e assembleias internacionais foram determinantes
para a promulgação das políticas e para a incorporação do conceito de envelhecimento ativo.
A trajetória aponta também a necessidade da capacitação e formação específica em
Geriatria e Gerontologia por parte de profissionais que atuam no atendimento ao idoso, o que é
deficitário no Brasil, especialmente quanto aos que cuidam dessa população. Só se faz necessário
para atender o preconizado pelo Estatuto do Idoso, a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
e proporcionar efetivamente atenção e promoção da saúde.

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O futuro da população idosa dependerá da implementação adequada das políticas


e programas existentes, que favoreçam o acesso a bens e serviços, além de sua integração e
participação na comunidade de maneira a alcançar um envelhecimento digno e ativo.

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Figura 2 - Trajetória dos projetos de promoção dos direitos da pessoa idosa. Fonte: Ministério da Saúde (2005).

A funcionalidade é definida como a habilidade para realizar atividades que


possibilitam à pessoa cuidar de si mesma e viver de forma independente. Sua
mensuração tem sido foco no exame dos idosos e um indicador de saúde mais
amplo que a morbidade, pois se correlaciona com a qualidade de vida. Também
pode ser definida como a capacidade para decidir e atuar em suas vidas de forma
independente no seu cotidiano.

2. ENVELHECIMENTO ATIVO E QUALIDADE DE VIDA

Envelhecimento ativo (doravante, EA) é o processo de otimização das oportunidades


para a saúde, a participação e a segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à
medida que as pessoas envelhecem. Envelhecimento ativo aplica-se tanto às pessoas como a
grupos populacionais. Esse processo permite que as pessoas percebam o seu potencial para o
bem-estar físico, social e mental ao longo do curso da vida, além de permitir que essas pessoas
participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidade, protegendo-as
e providenciando segurança e cuidados quando necessário. Portanto, são necessários programas
e ações que promovam o EA em diferentes regiões do País, em populações com diferentes
características sociais, culturais, econômicas, ambientais e comportamentais.

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Para a OMS, o envelhecimento bem-sucedido pode ser entendido a partir de seus três
componentes:
a. menor probabilidade de doença;
b. alta capacidade funcional física e mental;
c. engajamento social ativo com a vida, considerando o cidadão idoso não mais passivo,
mas como agente das ações a ele direcionadas, numa abordagem baseada em direitos que
valorizem os aspectos da vida em comunidade, identificando o potencial para o bem-
estar físico, social e mental ao longo da vida.
O envelhecimento saudável é individual e resultado da interação multidimensional
entre saúde física e mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e
independência econômica, os quais atuam sobre a qualidade de vida. Saúde na velhice seria,
então, o resultado do equilíbrio entre as dimensões da capacidade funcional de idosos, sem
necessariamente significar a ausência de problemas em todas as dimensões (BERNARDO;

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RAYMUNDO, 2018).
A proposta do EA é baseada no reconhecimento dos direitos humanos das pessoas
mais velhas e nos princípios de independência, participação social, dignidade, assistência e
autorrealização.

2.1 Objetivos do Programa Envelhecimento Ativo


As pessoas que se aposentam e aquelas que apresentam alguma doença ou vivem com
alguma necessidade especial podem continuar a contribuir ativamente para seus familiares,
companheiros, comunidades e nações. O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a expectativa
de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive
as que são frágeis, incapacitadas fisicamente e requerem cuidados.
A proposta do programa é ser referência no processo de otimização de oportunidades
para a inclusão digital e social, assegurando a participação da pessoa idosa. Nessa perspectiva,
sugerimos os seguintes campos de ação, que podem ser ampliados de acordo com as necessidades
e peculiaridades de cada município:
- Tecnologia: promover a inclusão tecnológica e contribuição a todas as áreas da vida,
como acesso de forma segura às redes sociais, aos caixas eletrônicos da rede bancária, totens de
aeroportos, sistema eletrônico de catraca no transporte público, dentre outros.
- Educação: dirigida com foco na pessoa idosa para qualificar sua convivência familiar
e comunitária, como alfabetização, favorecendo os aspectos biológicos, psíquicos, cognitivos,
físicos e sociais, além de educação financeira, proporcionando à pessoa idosa a capacidade para
gerir seus recursos financeiros com responsabilidade.
- Saúde: disseminar informações e conhecimentos mediante palestras, debates e
campanhas relacionadas à prevenção de doenças crônicas.
- Mobilidade física: disponibilizar à pessoa idosa a prática de atividades físicas no
cotidiano e lazer, atividades culturais e recreativas, com o objetivo de propiciar um envelhecer
com bem-estar físico e psicossocial.

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O documento da OMS, ao problematizar o envelhecimento ativo, toma por base


o conceito de atividade, o qual está atrelado a quatro pilares, quais sejam: saúde
(bem-estar psicossocial), participação (social, cidadania, cultural e espiritual),
segurança/proteção e aprendizagem ao longo da vida (aprendizagem formal ou
através de experiências).

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Figura 3 - Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003). Fonte: Pinterest (2021).

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3. A INSERÇÃO DOS TERAPEUTAS OCUPACIONAIS NOS DIFERENTES


CONTEXTOS DE ATENÇÃO À PESSOA IDOSA
Neste tópico, será abordada a atuação do Terapeuta Ocupacional nos diferentes contextos
de atenção ao idoso. Para efeito didático, organizaram-se as informações em dois eixos: atuação
do Terapeuta Ocupacional em serviços de saúde e nos serviços de proteção social.

3.1 A Atuação dos Terapeutas Ocupacionais junto à População Idosa na


Rede de Atenção à Saúde
A rede de atenção à saúde é constituída por um conjunto de ações e serviços que,
articulados em níveis de complexidade crescentes, têm por finalidade garantir a integralidade da

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atenção, desenhando uma rede de cuidado entendida como o conjunto de saberes, tecnologias e
recursos necessários ao enfrentamento de determinados riscos, agravos ou condições específicas
do ciclo de vida, a serem ofertados de forma oportuna, articulada e contínua (SANTOS, 2018).
A “porta de entrada” do sistema público de saúde é chamada de atenção básica ou atenção
primária e tem por objetivo orientar sobre a prevenção de doenças, solucionar os possíveis casos
de agravo às condições de saúde e direcionar os casos mais graves para níveis de atendimento
superiores em complexidade.
Na rede de saúde, a atenção secundária é formada pelos serviços especializados em nível
ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre a atenção primária e a
terciária, historicamente interpretada como procedimentos de média complexidade.
No nível terciário de atenção da saúde, estão os hospitais de grande porte, de alta
complexidade. Nesse nível de atenção, são realizadas manobras mais invasivas caso haja
necessidade, intervindo quando a vida do paciente está em risco. O objetivo desse nível de atenção
à saúde é garantir que o procedimento para a manutenção dos sinais vitais possa ser realizado,
dando suporte para a preservação da vida sempre que preciso.
Os terapeutas ocupacionais atuam profissionalmente em todos os níveis de atenção à
saúde, e sua prática é influenciada pelas características do serviço no qual está inserida e também
pelas características da população alvo dos cuidados (BERNARDO; RAYMUNDO, 2018, p. 128).

3.2 Terapia Ocupacional na Atenção Primária à Saúde (APS)


A Atenção Básica compreende um conjunto de ações individuais e coletivas para
proteção e promoção dos usuários. A terapia ocupacional, nesse contexto, atua no favorecimento
da participação social de pessoas e famílias na comunidade, com foco em projetos de vida e
nas ocupações que lhes sejam significativas. As formas mais utilizadas de atuação do Terapeuta
Ocupacional são os grupos e oficinas terapêuticas, as visitas domiciliares e o apoio matricial.
No Brasil, em 1994, o Ministério da Saúde adotou a Saúde da Família como uma
estratégia prioritária para a organização da Atenção Básica ou primária e estruturação do sistema
de saúde. A Saúde da Família trabalha com práticas interdisciplinares, desenvolvidas por equipes
que se responsabilizam pela saúde da população a ela adscrita e na perspectiva de uma atenção
humanizada, considerando a realidade local e valorizando as diferentes necessidades dos grupos
populacionais. No trabalho das equipes da atenção básica, as ações coletivas na comunidade,
as atividades de grupo e a participação das redes sociais dos usuários são alguns dos recursos
indispensáveis.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A atividade do Terapeuta Ocupacional na APS acontece após o idoso ser acolhido pelas
equipes de saúde. A inserção no programa de intervenções da área somente acontece a partir
da eleição da demanda e das prioridades, que são decididas pelas equipes em conjunto com os
Terapeutas Ocupacionais e, oportunamente, incluídas no processo de planejamento do trabalho
na Unidade Básica de Saúde/Estratégias da Saúde da Família.
Após o acolhimento, o estabelecimento das prioridades e a definição em equipe de que
o idoso será acompanhado pela Terapia Ocupacional, o Terapeuta Ocupacional poderá realizar
uma avaliação funcional e verificar, de forma sistematizada, em que nível as doenças ou agravos
interferem no desempenho, de forma sistematizada e independente, nas atividades cotidianas ou
atividades de vida diária (AVD), permitindo o desenvolvimento de um planejamento assistencial
mais adequado (BERNARDO; RAYMUNDO, 2018).
Algumas ações específicas de Terapia Ocupacional na APS são desenvolvidas mediante
cada caso. Algumas dessas ações são: a promoção da independência nas Atividades de Vida
Diária e Instrumentais da vida diária; fomento de participação em grupos de atividades lúdicas,

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 2


intervenções ergonômicas, técnicas de relaxamento, oficinas, atividades de educação em saúde,
visitação domiciliar para verificação e orientação quanto à necessidade de adaptações domiciliares.
A organização de grupos de atividades corporais destinados a idosos, diabéticos e
hipertensos é iniciativa comum ao Terapeuta Ocupacional na APS, bem como: orientações aos
demais profissionais no atendimento de usuários com alterações neuromotoras, como adequação
postural, atividades educativas, temas ligados à autonomia e independência das pessoas idosas.

3.3 Terapia Ocupacional na Atenção Secundária à Saúde


Na rede de saúde, a atenção secundária é formada pelos serviços especializados em nível
ambulatorial e hospitalar, com densidade tecnológica intermediária entre a atenção primária e a
terciária, historicamente interpretada como procedimentos de média complexidade. É composta
por Unidades de Pronto-Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), policlínicas, Centro de
Atenção Psicossocial (CAPS) etc.
Frente ao idoso hospitalizado, o Terapeuta Ocupacional deve investigar o que ele fazia
antes de apresentar a enfermidade que levou à internação, seu estado atual e o impedimento
entre essas duas condições. Deve também avaliar seus estados biológico, psicológico e social
(BERNARDO; RAYMUNDO, 2018).
A atuação do Terapeuta Ocupacional na atenção hospitalar pode-se dar a partir dos
seguintes aspectos: manutenção da capacidade funcional; utilização de instrumentos para avaliação
da capacidade funcional, das estruturas mentais, emocionais e sociais; avaliação principalmente
do desempenho das Atividades da Vida Diária (AVDs), pois são os principais indicadores da
independência do idosos; em seguida, o profissional prescreve recursos terapêuticos e realiza
treino apropriado para melhorar as AVDS. Pode também utilizar instrumentos de tecnologia
assistiva, realizar adaptações ambientais e medidas de segurança e prevenir contra sequelas
advindas da imobilidade. Isso envolve orientação quanto às mudanças de decúbito, cuidado com
a pele e evitar a permanência integral no leito. Deve haver humanização do ambiente hospitalar
(o que envolve ambiência, tornando o espaço hospitalar mais acolhedor e menos impessoal;
deve-se incentivar a presença de objetos pessoais do idoso, fotos da família e objetos feitos pelo
próprio paciente ao longo dos atendimentos); orientação sobre a doença e encaminhamento pós-
alta, pois é importante que o idoso, familiares e/ou cuidadores recebam todas as informações
sobre suas necessidades durante e após a alta hospitalar, sobre as mudanças e o que sua nova
condição irá modificar em seu cotidiano; se for o caso, prestar esclarecimentos sobre os serviços
que irão atendê-lo após a alta, como centro de reabilitação, ambulatórios etc. (BERNARDO;
RAYMUNDO, 2018).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3.4 Terapia Ocupacional na Atenção Terciária à Saúde

Atenção à saúde terciária fornece atendimento de alta complexidade, sendo formada por
hospitais de grande porte. Também envolve procedimentos que demandam tecnologia de ponta
e custos maiores, como os oncológicos, transplantes e partos de alto risco etc.
Na atenção terciária, é a Unidade de Terapia Intensiva (UTI), na atualidade, um dos
cenários de maior complexidade no atendimento do idoso em estado de saúde grave. Em 2010, a
Agência Nacional de Vigilância aprovou a Resolução nº 7, que dispõe sobre a obrigatoriedade do
Terapeuta Ocupacional como profissional integrante das equipes que compõem as UTIs.
Bombarda et al. (2016) sintetizam as práticas do Terapeuta Ocupacional em UTI em
cinco categorias. São elas: acolhimento, que envolve a escuta ativa (a escuta ativa efetivada frente
à instabilidade emocional de pacientes e também de familiares); enfrentamento, que envolve as
orientações (esclarecimentos sobre o quadro clínico e prognóstico funcional, minimização de
dúvidas) e atividades de interesse; comunicação, que envolve o uso de pranchas de comunicação

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alternativa, adaptação de escrita e treinamento de sinais corporais; funcionalidade, que envolve
as atividades expressivas, artesanais e jogos adaptados, mobilizações, posicionamentos; família,
que envolve o acolhimento, mediação de conflitos, atividades expressivas, estratégias para
organização de rotina e suporte ao luto.

De acordo com o portal do envelhecimento, a tecnologia assistiva consiste


na confecção de adaptações e produtos que visam a auxiliar a realização de
atividades de vida diária por pessoas idosas com disfunções físicas e sensoriais,
compensando suas limitações funcionais e promovendo sua independência.

Leia o artigo “Oficina de tecnologia assistiva: boa prática para


saúde da pessoa idosa” (2015), disponível em
https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/envelhecimento-e-
longevidade/.

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4. ATUAÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL JUNTO À PESSOA IDOSA


NOS SERVIÇOS DE PROTEÇÃO SOCIAL

Os serviços de Proteção Social Especial fazem parte do Sistema Único de Assistência


Social (SUAS) e têm como objetivo promover atenções socioassistenciais às famílias e indivíduos
que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus-tratos
físicos e/ou psíquicos, abuso sexual e uso de substâncias psicoativas.
O Terapeuta Ocupacional na área social trabalha com base na interpretação da demanda,
que é simultaneamente individual e coletiva. É importante sua problematização, o estudo do
contexto e a elaboração de projeto que envolve negociação constante com os envolvidos.
Segundo Bernardo e Raymundo (2018), o terapeuta ocupacional deve estar em sintonia
com o que é previsto no documento Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais (2009),

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que reforça o atendimento prestado em serviço de acolhimento, que deve ser personalizado e
em pequenos grupos, favorecer o convívio familiar e comunitário, bem como a utilização dos
equipamentos e serviços disponíveis na comunidade local.
Segundo a Resolução nº 383, do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional
(COFFITO), o terapeuta ocupacional no campo social deve funcionar como articulador do
desempenho ocupacional por meio do manejo das atividades humanas que sejam significativas
e dialógicas, como tecnologia de mediação sócio-ocupacional, a fim de estimular a participação
social da pessoa idosa, família, grupo e comunidade em atividades culturais, expressivas,
econômicas, corporais, lúdicas e de convivência, dentre outras.
Os Centros de Convivência para idosos podem ser entendidos como espaços idealizados
para prevenir o isolamento social, com atividades que estimulam o bem-estar físico e emocional
dessa população, valorizando a convivência familiar e comunitária, bem como a utilização dos
equipamentos e serviços disponíveis na comunidade local.
É importante salientar que a contribuição da terapia ocupacional apresenta-se
especialmente nas ações que têm como eixo articulador o acompanhamento de pessoas e
grupos com os quais trabalha, sobretudo no que diz respeito às atividades da vida cotidiana,
expressão cultural e econômica. As atividades são elementos organizadores e, como tecnologias
de mediação sócio-ocupacional, são voltadas ao desenvolvimento de processos de constituição
ou reconstituição de identidades pessoais (hábitos, modos de realização da vida cotidiana,
conhecimentos e da vida ocupacional, comunicacional e expressiva de pessoas e coletivos). As
ações da Terapia Ocupacional ativam elementos que permitem operar com a memória social e
o imaginário coletivo enquanto componentes do processo de produção de conhecimento e na
formulação de projetos pessoais e coletivos. Desse modo, o universo sociocultural e histórico
orienta a construção compartilhada de soluções.

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Assista a Envelhecimento Ativo, do Instituto de Biociências da USP,


no link
https://www.youtube.com/watch?v=PaA22baLa2w.
O vídeo mostra a implantação de um Programa de Envelhecimento
Ativo bem-sucedido, realizado pelo Hospital Universitário (HU)
da USP, onde são explanadas as ações de prevenção, proteção e
minimização dos fatores de risco do envelhecimento, como doenças degenerativas
e incapacidades. Tem como objetivo melhorar a expectativa de vida, planejando e
executando atividades e cuidados para manter a funcionalidade e independência.

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4.1 Descrição das Atribuições do Terapeuta Ocupacional com os Idosos
- Promove atividades culturais, expressivas, esportivas, corporais, lúdicas e de convivência,
visando à valorização de saberes e habilidades e à criação de oportunidades para convivência,
desenvolvimento de novos saberes e de trocas de conhecimentos e experiências, além de ampliar
e fortalecer redes de apoio;
- Promove atividades e experiências que criam oportunidades para que o idoso exercite
seu direito de escolha e decisão;
- Desenvolve atividades que visam a evitar ou reduzir o confinamento do idoso em
domicílio;
- Desenvolve atividades que visam à manutenção da autonomia e do envelhecimento
ativo, com vistas a postergar e/ou evitar a estadia em serviços de acolhida;
- Avalia e encaminha necessidades e demandas específicas, decorrentes do processo de
envelhecimento, em conjunto com os idosos e/ou seus familiares sempre que possível;
- Promove a convivência familiar com o idoso por meio do desenvolvimento de atividades
que criam oportunidades para respeito e valorização de sua experiência de vida;
- Constrói com os idosos e/ou familiares atividades de participação e protagonismo
comunitário, valorizando sua presença na comunidade;
- Promove a convivência entre as diferentes faixas etárias, de forma a prevenir e combater
preconceitos entre as diversas gerações e a envolver o idoso na comunidade;
- Desenvolve atividades e experiências que oferecem oportunidades para resgate,
reconstrução e valorização da memória do idoso enquanto pessoa e, também, representante de
uma geração, valorizando encontros intergeracionais;
- Auxilia na organização da vida cotidiana, da vida prática e ocupacional de
idosos, conhecendo necessidades e demandas individuais e familiares, contribuindo para o
reconhecimento de barreiras (atitudinais e físicas) nos ambientes e territórios de que participam,
como também buscando recursos para o desenvolvimento de potencialidades e de acesso a
direitos, com a valorização dos conhecimentos e recursos já existentes.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, enfatizamos a trajetória das políticas públicas para os idosos, seu histórico
e marcos importantes nesse processo. Através do conteúdo exposto, pôde-se visualizar a legislação
e resoluções governamentais, visando a atender os idosos nos aspectos preventivos e reabilitativos,
salientando as diversas dimensões de assistência, incluindo as áreas de saúde e social.
Esta unidade também teve por objetivo abordar, em linhas gerais, as distintas possibilidades
de inserção do Terapeuta Ocupacional em Gerontologia. Buscou-se enfatizar algumas áreas de
atuação da profissão junto à população idosa.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
GERIATRIA E GERONTOLOGIA
PARA TERAPIA OCUPACIONAL

INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NAS


DISFUNÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS
PROF. CARLOS ESCUDEIRO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................... 37
1. DOENÇA DE ALZHEIMER........................................................................................................................................ 38
1.1 SINTOMAS............................................................................................................................................................... 38
1.2 COMO IDENTIFICAR A DOENÇA DE ALZHEIMER?............................................................................................. 39
1.3 QUAL MÉDICO PROCURAR?................................................................................................................................ 39
1.4 DESCOBRINDO O PROBLEMA.............................................................................................................................. 39
1.5 COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO DA DEMÊNCIA?............................................................................................. 39
2. DEMÊNCIA VASCULAR........................................................................................................................................... 41
2.1 AVALIAÇÃO CLÍNICA E DIAGNÓSTICA DA DEMÊNCIA VASCULAR................................................................... 41
3. DEMÊNCIA DE CORPOS DE LEWY........................................................................................................................ 41

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3.1 PRINCIPAIS SINTOMAS DA DEMÊNCIA DE CORPOS DE LEWY....................................................................... 41


4. DEMÊNCIA DE PICK OU DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL................................................................................. 42
4.1 SINTOMAS DA DEMÊNCIA DE PICK OU FRONTOTEMPORAL.......................................................................... 42
5. A TERAPIA OCUPACIONAL COMO TRATAMENTO ESSENCIAL NA REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM
DEMÊNCIA................................................................................................................................................................... 43
6. A IMPORTÂNCIA DA REABILITAÇÃO COGNITIVA NAS DEMÊNCIAS................................................................. 43
7. PROCESSO DE INTERVENÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL........................................................................ 45
7.1 ENTREVISTA INICIAL E ANAMNESE.................................................................................................................... 45
7.2 AVALIAÇÃO GLOBAL.............................................................................................................................................. 45
7.3 AVALIAÇÃO COGNITIVA......................................................................................................................................... 45
8. FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO COGNITIVA USADAS NA TERAPIA OCUPACIONAL....................................... 46
8.1 PLANO DE TRATAMENTO DA TERAPIA OCUPACIONAL.................................................................................... 46
8.2 PRESCRIÇÃO DE RECURSOS TERAPÊUTICOS.................................................................................................. 47
8.3 ORIENTAÇÃO E INTERVENÇÃO COM OS FAMILIARES..................................................................................... 47
8.4 ORIENTAÇÃO A CUIDADORES............................................................................................................................. 47
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................... 49

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, iremos estudar as principais síndromes demenciais e a intervenção da


Terapia Ocupacional nas respectivas patologias, sendo as principais a Síndrome de Alzheimer,
Demência Vascular, Demência de Corpos de Lewy e Demência de Pick ou Frontotemporal.
É típico da população idosa a prevalência elevada de doenças crônicas que comprometem
a sua autonomia. Um exemplo são as síndromes demenciais, constituindo as demências uma
questão de saúde pública, trazendo uma preocupação bioética com o envelhecimento: a perda da
autonomia das pessoas afetadas e a responsabilidade do sistema de saúde para atendê-las.
A síndrome demencial é um problema de saúde pública. Sua ocorrência é crescente
uma vez que o principal fator de risco continuará existindo: o aumento da esperança de vida.

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 3


Ademais, e como consequência da incessante inovação tecnológica, novas causas são esclarecidas
ou descobertas apesar das dificuldades e disparidades no seu diagnóstico. Existe um consenso em
reconhecer que a maior parte das síndromes demenciais é a Doença de Alzheimer.
No Brasil, um estudo publicado no ano de 2004 estima a incidência da síndrome
demencial em 13,8 dentre 1000 pessoas/ano. Relacionando ambas as informações (incidência e
prevalência), esse dado não só desvela como também corrobora a importância da proposição de
políticas públicas de saúde capazes, senão de minimizar o impacto econômico para a sociedade,
pelo menos de garantir o aporte necessário de recursos públicos para garantir a atenção ao
paciente.
Nesse contexto, a Terapia Ocupacional contribui significativamente para a reabilitação de
pacientes com síndromes demenciais, possibilitando melhor desempenho ocupacional nas suas
atividades cotidianas, mantendo ou restaurando a autonomia, independência e qualidade de vida.
Também exerce um importante papel relacionado aos familiares/cuidadores, com orientações
sobre os sintomas e manejo dos pacientes, bem como adaptação do ambiente, visando a garantir
a segurança e estimulando a realização das atividades básicas e instrumentais da vida diária.

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1. DOENÇA DE ALZHEIMER

A demência é uma síndrome de curso lento, progressivo e de natureza crônica, sendo


o subtipo Doença de Alzheimer (doravante, DA) a mais comum. Em todo o mundo, a maior
expectativa de vida favorece o aumento do número de pessoas com demência. A causa é
desconhecida, mas se acredita que seja geneticamente determinada.
A DA instala-se quando o processamento de certas proteínas do sistema nervoso central
começa a dar errado. Surgem, então, fragmentos de proteínas mal cortadas, tóxicas, dentro dos
neurônios e nos espaços que existem entre eles. Como consequência dessa toxicidade, ocorre
perda progressiva de neurônios em certas regiões do cérebro, como o hipocampo (que controla
a memória) e o córtex cerebral (essencial para a linguagem e o raciocínio, reconhecimento de
estímulos sensoriais e pensamento abstrato).

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 3


1.1 Sintomas
- Na cognição: o sintoma primário é a perda de memória recente, mas, com a progressão,
vão aparecendo sintomas mais graves, como a perda de memória remota (ou seja, dos fatos mais
antigos), bem como falhas na linguagem e prejuízo na capacidade de se orientar no espaço e no
tempo. “Chega um momento em que o paciente não recorda nem mesmo o que dissera poucos
minutos antes, tornando-se repetitivo ao perguntar várias vezes a mesma coisa. Também é
comum esquecer onde guarda seus pertences, se já almoçou ou não, se desligou o fogo, dentre
outras coisas”, explica o geriatra José Eduardo Martinelli. Outra área da cognição frequentemente
acometida pela DA é a praxia, ou seja, a capacidade de realizar gestos e movimentos de forma
coordenada e eficiente. O médico cita como exemplo a situação das senhoras acostumadas
a fazerem crochê, tricô ou bordado, que acabam desaprendendo esse hábito de anos, explica
Martinelli.
Ainda segundo o geriatra, em uma fase mais grave da doença, os pacientes chegam a ter
dificuldade de vestir-se, isto é, não sabem a sequência de colocar as peças de roupa. Também podem
ter outras funções acometidas pela demência, como atenção, concentração e comprometimento
de linguagem. Contudo, quando a medicação é introduzida, eles normalmente conseguem
voltar para suas atividades, mostrando melhora. O tratamento de Terapia Ocupacional também
colabora à melhora da capacidade funcional nas atividades do dia a dia, ajudando a desacelerar a
progressão da doença.

- No comportamento: agitação, agressão, inquietação, irritabilidade, mudanças de


personalidade, repetição sem sentido das próprias palavras, dificuldade para exercer
funções do dia a dia, falta de moderação, ou vagar sem rumo, e se perder.
- No humor: apatia, descontentamento geral, mudanças de humor, raiva e isolamento.
- Sintomas psiquiátricos: alucinações, delírio, depressão, paranoia, desorientação.
- Sintomas motores: contrações musculares rítmicas e incapacidade de coordenar
os movimentos musculares. Também é comum ter a fala embaralhada, incontinência
urinária e perda do apetite.

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São considerados fatores de risco para desenvolver a Doença de Alzheimer: hipertensão


arterial, diabetes, obesidade, tabagismo e sedentarismo. Já pessoas com histórico de complexa e
intensa atividade intelectual tendem a desenvolver a doença mais tardiamente.

1.2 Como Identificar a Doença de Alzheimer?


Não existe um exame específico para identificar a doença de Alzheimer na prática clínica.
O diagnóstico é feito sobretudo por exclusão. Para tanto, são realizados alguns exames físicos,
testes laboratoriais, avaliações cognitivas e exames neuropsicológicos.

1.3 Qual Médico Procurar?


Existem três especialistas médicos que podem diagnosticar e tratar a doença de Alzheimer:
o geriatra, o neurologista e o psiquiatra. Eles conseguem identificar se os sintomas relatados são

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 3


sinais da Doença de Alzheimer ou decorrentes do processo natural do envelhecimento.

1.4 Descobrindo o Problema


A importância de diagnosticar a doença de Alzheimer precocemente é indiscutível, pois
menos o paciente sofrerá as consequências. Mas, com a progressão do quadro, fica evidente a perda
de memória de curto prazo. “Embora ainda não exista um tratamento definitivo, a qualidade de
vida e as atividades diárias melhoraram significativamente quando se faz o diagnóstico precoce e
o paciente recebe o devido tratamento”, reforça o neurologista André Felício.

1.5 Como é Feito o Diagnóstico da Demência?


O diagnóstico da demência é realizado pelos médicos, os quais utilizam os seguintes
instrumentos de avaliação:
- Avaliação clínica: uma boa consulta, com exame físico e análise do histórico do paciente,
é o ponto de partida da apuração.
- Testes cognitivos: são questionários padronizados e/ou exercícios aplicados pelo médico
e/ou outros profissionais da saúde, que ajudam a averiguar falhas e sinais de demência.
- Exames de sangue: servem para descartar outras causas de abalos na memória e no
raciocínio - caso de problemas na tireoide.
- Métodos de imagem: tomografia e ressonância são convocadas para excluir doenças que
se instalam no cérebro (como tumores).
A doença de Alzheimer pode ser dividida em quatro fases, cada qual caracterizada por
sintomas diferentes, todos envolvendo a memória.
1º estágio: o paciente passa a sentir uma drástica diminuição na memória de curto prazo,
que executa as funções mais comuns da rotina. Guardar objetos em lugares inusitados, deixar de
alimentar os animais de estimação, esquecer as portas abertas, além de dificuldades ao cozinhar
e dirigir são alguns dos sintomas. O paciente lembra-se bem do passado, mas apresenta evidente
dificuldade em memorizar coisas mais atuais. Fica esquecido, repetitivo, deixa de cumprir
compromissos e, aos poucos, vai perdendo sua segurança e independência.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2º estágio: neste caso, o quadro começa a se agravar. Falar repetidamente as mesmas


coisas, dificuldade para reconhecer pessoas que antes eram próximas, alucinações, insônia,
incontinência urinária e alterações súbitas de personalidade marcam esta fase. Podem surgir
alterações comportamentais, como apatia ou agressividade, perda progressiva de autonomia,
dificuldade de cálculo e linguagem, além de dificuldade mesmo com memórias antigas, já
consolidadas.
3º estágio: com o grande comprometimento das funções cognitivas e motoras, a pessoa já
não passa a agir como antes. As incontinências urinárias e fecais se agravam, além de as refeições já
não poderem ser feitas sem ajuda e supervisão. A fala deixa de ser executada, além de aparecerem
úlceras e demais infecções em diferentes áreas do corpo. Existe a complexa incapacidade para
realizar atividades como escovar os dentes, tomar banho e cuidar de si próprio.
4º estágio: também conhecido como terminal, nesta fase, a devastação no cérebro já é o
suficiente para fazer com que o corpo não execute nenhuma de suas funções como deveria ser. É
uma junção potencializada de todos os sintomas anteriores. Com a progressão, surgem sintomas

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 3


motores, como engasgos, perda de equilíbrio, coordenação e força muscular. O paciente evolui
para franca deterioração neurológica global, ficando restrito à cadeira de rodas e, posteriormente,
à cama, geralmente em posição fetal.

Figura 1 - Um cérebro saudável e outro afetado pela doença de Alzheimer. Fonte: Castilho (2017).

Na Figura 1, é possível observar o que acontece com o cérebro: o saudável tem cavidades
menores e maior quantidade de massa cerebral, e o afetado pela doença de Alzheimer está
visivelmente diminuído, fator desencadeado pela perda de massa e morte das células nervosas.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2. DEMÊNCIA VASCULAR

A demência decorrente de doença cerebrovascular é designada de demência vascular,


demência por múltiplos infartos ou demência arteriosclerótica. Após a Doença de Alzheimer, a
demência vascular é a segunda causa mais comum de demência associada ao envelhecimento. É
causada tanto por episódios cerebrais isquêmicos quanto hemorrágicos.
Pohjasvara et al. (1997) identificaram fatores de risco para se desenvolver demência
vascular após episódio de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Os principais incluem a presença de
disfasia, história prévia de doença cerebrovascular e baixo nível educacional. Também relataram-
se idade mais avançada, tabagismo, insuficiência cardíaca e AVC localizado no hemisfério
esquerdo.

2.1 Avaliação Clínica e Diagnóstica da Demência Vascular

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Para diagnosticar demência vascular, é fundamental alinharmos a história clínica e o
exame físico, a avaliação neuropsicológica e os exames de imagem.
São três requisitos básicos para que um paciente seja enquadrado como portador de
demência vascular:

a. o paciente precisa estar demente;


b. exige-se alguma evidência da presença de doença cerebrovascular;
c. a demência e a doença cerebrovascular precisam estar relacionadas.
O tratamento médico inicial é minimizar fatores de risco, buscando atenuar a progressão
da doença cerebrovascular e, assim, evitar episódios recorrentes de AVC. A primeira medida
básica é o combate ao tabagismo e o tratamento do diabetes Mellitus.

3. DEMÊNCIA DE CORPOS DE LEWY

Apesar de pouco compreendida e frequentemente subdiagnosticada, a Demência de


Corpos de Lewy é uma das principais causas de demência. E, embora as suas manifestações
clínicas se assemelhem às da doença de Alzheimer (e, tal como esta, resulte da degeneração e
morte das células nervosas do cérebro), a Demência de Corpos de Lewy distingue-se pela presença
de pequenas estruturas esféricas anormais, denominadas de corpos de Lewy.
Ainda não existe uma causa conhecida para este tipo de demência e também não foram
identificados quaisquer fatores de risco, apesar de lançaram-se inúmeras hipóteses, dentre elas, a
possibilidade de ser provocada por uma mutação genética.

3.1 Principais Sintomas da Demência de Corpos de Lewy



Os sintomas são muito parecidos aos da doença de Alzheimer, incluindo:
- perda de memória;
- desorientação ou confusão mental;
- dificuldade de atenção e concentração.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

No entanto, acrescentam outros sintomas cardinais necessários para o diagnóstico (pelo


menos dois dos seguintes têm de estar presentes):
- alucinações visuais;
- tremores e rigidez muscular (similar à observada na Doença de Parkinson);
- flutuação do estado mental, apresentando-se lúcido e orientado em alguns momentos,
mas confuso e desorientado noutros.

4. DEMÊNCIA DE PICK OU DEMÊNCIA FRONTOTEMPORAL

É uma doença degenerativa, com forte componente genético, caracterizada pelo


comprometimento dos lobos temporais e frontais do cérebro. A classificação e a nomenclatura
das demências frontotemporais são ainda assunto de amplo debate e controvérsia entre os
especialistas. A atual designação dessas demências inclui a doença de Pick propriamente dita, a

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afasia primária progressiva e a demência semântica.

4.1 Sintomas da Demência de Pick ou Frontotemporal


Geralmente, são dois tipos de comprometimento clínico: alterações de comportamento
ou problemas primariamente da linguagem. O primeiro tipo (comportamental) manifesta-se
tanto como impulsividade, agressividade e agitação, manifestando desejos sexuais exacerbados,
quanto como comportamento apático, simulando quadros depressivos hipoativos, com redução
da motivação e energia. O tipo de linguagem inclui dificuldade de expressar ou entender a
fala, geralmente associada às alterações comportamentais e habilidades espaciais, e a memória
geralmente permanece intacta.

Atualmente, podemos atuar em cinco áreas de prevenção de demência, que terão


muito mais efeito se realizadas conjuntamente e serão mais eficazes se iniciadas
precocemente:
- Atividade física apropriada para idade (de preferência, atividade aeróbica);
- Alimentação balanceada e voltada para alimentos naturais - dieta do mediterrâneo,
alimentos ricos em ômega 3;
- Prevenção de fatores de risco vascular, como controlar diabetes, hipertensão,
dislipidemias. Evitar tabagismo e álcool em excesso;
- Atividade intelectual: testes, exercícios mentais, manutenção de atividades
profissionais, programa de reabilitação cognitiva;
- Preservação das relações sociais e familiares (convivência interpessoal,
manutenção e reforço de vínculos afetivos).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

5. A TERAPIA OCUPACIONAL COMO TRATAMENTO ESSENCIAL NA


REABILITAÇÃO DE PACIENTES COM DEMÊNCIA

O Terapeuta Ocupacional é um dos profissionais envolvidos na reabilitação destes


pacientes. Focamos a intervenção em manter o máximo de autonomia para realizar as suas
atividades de vida diária, lazer e socialização.
Para a abordagem, o Terapeuta Ocupacional considera três dimensões: a pessoa, a
ocupação e seu ambiente, para a participação em atividades estimulantes tanto em termos
cognitivos quanto emocionais e sensoriais, permitindo ao idoso maior sucesso quando as
desempenha.
Este profissional lança mão de um programa individualizado de atividades cognitivas
a fim de manter, restaurar ou minimizar os danos provenientes da demência. A cognição é a

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 3


capacidade de processar informações e transformá-las em conhecimento para, posteriormente,
utilizá-lo. Manter essas capacidades é importante para o bem-estar e qualidade de vida dos idosos.
A intervenção específica de reabilitação cognitiva junto a estes pacientes pode manter ou
restaurar a percepção, juízo crítico, atenção, habilidades de raciocínio, comunicação, memória,
linguagem, entre outros.
Sendo assim, percebe-se que deve fazer parte da rotina de estimulação manter o paciente
ativo em atividades que são conhecidas por ele e, também, proporcionar outras atividades que
propiciem ativação de domínios cognitivos comprometidos.

6. A IMPORTÂNCIA DA REABILITAÇÃO COGNITIVA NAS DEMÊNCIAS

Consiste em um conjunto de práticas terapêuticas não farmacológicas, que têm como


objetivo reduzir os déficits causados por problemas neurológicos. Devem ser realizadas de forma
personalizada e individualizada. Atua nas seguintes patologias: Síndrome de Parkinson, Acidente
Vascular Cerebral, Síndrome de Parkinson, dentre outras, garantindo que o paciente tenha
autonomia e independência funcional no maior nível possível.
A reabilitação cognitiva atua diretamente nos mecanismos ligados à plasticidade cerebral
(processo adaptativo do cérebro). O Terapeuta Ocupacional utiliza exercícios e atividades que
buscam preservar ou melhorar o desempenho cognitivo, como memória, atenção, raciocínio,
linguagem ou funções executivas.
Tem como objetivo ajudar os clientes e familiares cuidadores a conviverem ou superarem
as dificuldades cognitivas e as limitações emocionais e sociais, proporcionando melhora na
qualidade de vida, autoestima e interação social.
Ao promovermos atividades cognitivas, devemos ter em mente que elas devem ser
agradáveis a fim de proporcionar bem-estar e situar-se em um nível de desenvolvimento dentro
das capacidades do paciente, ou seja, não devem ser muito difíceis tampouco muito fáceis, para
não causarem frustração.
Não devemos tratar os idosos como crianças, estabelecer horários para a realização
das atividades e devemos lembrar de que só haverá reabilitação se o próprio idoso realizar as
atividades por si próprio.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A prática constante de atividades cognitivas (como leitura, escrita, jogos educativos e


computadorizados, pintura, artesanato, jardinagem, exercícios com lápis e papel, cozinha
terapêutica, modelagem, dobradura e outras ) é considerada fator de proteção importante para
sanar prejuízos cognitivos. A eficácia desse tipo de atividade foi amplamente comprovada por
meio de inúmeras pesquisas.
A reabilitação cognitiva é uma intervenção cujos principais objetivos são:
- diminuir as dificuldades cognitivas de acordo com o grau de declínio do paciente;
- melhorar ou amenizar as alterações de comportamento que o idoso com demência
normalmente sofre;
- retardar a progressão da doença e o declínio funcional;
- melhorar a qualidade de vida do paciente.
Para isso, é preciso ativar as funções cognitivas preservadas para permitir que elas
compensem as comprometidas. Isso ocorre em função da plasticidade cerebral, que é a capacidade
de o cérebro adulto se regenerar e se adaptar de acordo com as circunstâncias.

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 3


Após uma avaliação cognitiva e a partir das queixas do paciente e de seus familiares, o
Terapeuta Ocupacional conseguirá definir o tipo de atividade que será desenvolvida.

No drama “Para Sempre Alice”, que deu o Oscar de melhor atriz para Julianne
Moore, a protagonista é uma bem-sucedida professora de Harvard e especialista
em Linguística. Ela descobre, aos 50 anos, que tem a Doença de Alzheimer precoce.
O filme revela, com verdade e emoção, a convivência de Alice com a doença e
também de seus familiares, colegas de trabalho e amigos.

Vale ressaltar a importância de um cuidador/familiar para incentivar o idosos. Para


realizar as atividades sugeridas diariamente, é essencial o apoio dos cuidadores e/ou familiares
para eficácia do tratamento. Essa abordagem deve ser feita sempre com paciência e empatia
para não desmotivar o idoso. Além disso, é importante que esse acompanhante seja orientado
e capacitado para realizar as atividades juntamente com o idoso e observar qualquer alteração
no cotidiano, que indique melhora ou piora do quadro para relatar ao Terapeuta Ocupacional,
visando a reformular o tratamento quando necessário.

Leia o material disponível em: https://www.unatiuerj.com.br/


Guia%20dos%20instrumentos%20Avaliacao%20Geriatrica.pdf, da
autoria de Renato Peixoto Veras.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

7. PROCESSO DE INTERVENÇÃO DO TERAPEUTA OCUPACIONAL

7.1 Entrevista Inicial e Anamnese

É o primeiro procedimento, quando o Terapeuta Ocupacional irá colher informações


sobre o histórico de vida e da patologia do paciente. Na avaliação da população idosa, a entrevista
é uma das mais importantes fontes de informação. Ademais, é na entrevista inicial que se começa
a estabelecer o vínculo de confiança, respeito e colaboração, essencial ao processo terapêutico.
Ao dedicar tempo e atenção a uma entrevista minuciosa, o terapeuta cria condições favoráveis
para a realização dos procedimentos de avaliação e obtém informações necessárias para orientar
a escolha de procedimentos e instrumentos que serão utilizados posteriormente. Finalmente, no
fechamento da avaliação, esses dados coletados durante a entrevista ajudarão na compreensão

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geral do paciente e na elaboração do laudo e relatório, quando relacionados com os demais
resultados e procedimentos avaliativos (BERNARDO; RAYMUNDO, 2018).
Os dados que serão coletados na entrevista inicial ou anamnese são: informações pessoais
básicas, endereço completo, telefone, data de nascimento, naturalidade, dominância manual,
religião, déficits visuais e auditivos, escolaridade, histórico de doenças e possíveis agravos da
saúde, sintomas, queixas cognitivas e funcionais, queixa comportamental, hábitos diários, vida
social, uso de tecnologias assistivas, ambiente residencial, uso de medicamentos, recursos de
cuidados, recursos físicos, recursos financeiros, dentre outros.

7.2 Avaliação Global


São procedimentos que identificam as habilidades e limitações do paciente para a
realização das atividades da vida diária (AVD), atividades instrumentais da vida diária (AIVDs),
atividades educacionais, de trabalho, lúdicas, de lazer, descanso, sono, participação e padrões
de desempenho (hábitos, rotinas, papéis e padrões de comportamento); contextos ambientais
– cultural, físico, ambiental, social e espiritual e as demandas das atividades que afetam o
desempenho ocupacional, entre outros, e favorecem diagnóstico terapêutico ocupacional e
elaboração do plano terapêutico.
São instrumentos de avaliação funcional:
- Tabela índice de Katz;
- Tabela de Lawton.

7.3 Avaliação Cognitiva


A avaliação cognitiva investiga os processos de aprendizagem e de aquisição de
conhecimento através da percepção, que tem como material a informação do meio em que
vivemos e o que já está registrado na nossa memória.
Após os comprometimentos serem identificados e diagnosticados pela área médica,
a ênfase da Terapia Ocupacional será mensurar qualitativa e quantitativamente o grau de
desempenho (habilidades e incapacidades) pessoal do indivíduo.
A avaliação cognitiva, em muitos casos, pode responder questões sobre: a capacidade do
paciente de cuidar de si mesmo; confiabilidade de seguir o plano terapêutico; habilidade para
dirigir um carro; capacidade para manejar dinheiro ou a situação financeira.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Na Terapia Ocupacional, o processo de avaliação está focado em descobrir o que o


paciente quer fazer e precisa fazer, determinando o que o paciente pode e tem feito e identificando
facilitadores e barreiras para a saúde, bem-estar e participação.

8. FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO COGNITIVA USADAS NA TERAPIA


OCUPACIONAL
- Teste do Relógio, Span de dígitos, Miniexame do Estado Mental (MMSE), Teste de
fluência verbal, Avaliação cognitiva de Montreal (MoCA), Medida de Independência funcional
(MIF), Bateria de triagem cognitiva breve, Escala de avaliação de doença de Alzheimer, e outros.

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Figura 2 - Processo de avaliação da Terapia Ocupacional. Fonte: O autor.

8.1 Plano de Tratamento da Terapia Ocupacional


O Plano de tratamento da Terapia Ocupacional deve ser elaborado baseando-se no quadro
clínico do paciente. Também é importante salientar que deverá ser focado nas suas habilidades e
incapacidades. A anamnese fornece dados necessários para compreender o histórico da moléstia
atual, os antecedentes pessoais e ocupacionais.
Esse documento deverá conter os objetivos a serem alcançados nos aspectos funcional,
emocional, cognitivo e social. As metas devem ser factíveis de serem alcançadas e deve ser
incluída não só a intervenção com o paciente, mas também com familiares e/ou cuidadores e
com a equipe interdisciplinar. O plano terapêutico é um documento passível de fiscalização do
Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (CREFITO).
Para o Terapeuta Ocupacional estabelecer os objetivos terapêuticos, se possível, deverá
ser realizado conjuntamente com o paciente e familiares/cuidador, destacando e ordenando as
prioridades e idealizando um cronograma a fim de gerar um parâmetro temporal de possibilidades
realistas.

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8.2 Prescrição de Recursos Terapêuticos


- Compete ao Terapeuta Ocupacional prescrever os recursos terapêuticos com foco no
processo de reabilitação, devendo ser modificados e adaptados de acordo com a resposta do
paciente;
- Selecionar e aplicar métodos, técnicas e atividades apropriados ao tratamento e
adequados à sua realidade socioeconômica e cultural.

8.3 Orientação e Intervenção com os Familiares


Procedimentos nos quais se desenvolvem estratégias para realizar orientações à família
do paciente, necessárias para efetivar o processo terapêutico ocupacional.

8.4 Orientação a Cuidadores

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Procedimentos realizados com o objetivo de orientar cuidadores de idosos para facilitar
a realização das atividades da vida diária, atividades instrumentais de vida diária e de lazer, com
segurança e prevenção de agravos e acidentes. Pode incluir atendimento terapêutico individual
ou em grupo ao cuidador para prevenção de agravos e acidentes à saúde.
Prescrever adaptações no domicílio visando a favorecer a independência nas
atividades da vida diária, na prevenção de quedas e acidentes domésticos.
A Terapia Ocupacional é uma profissão que tem um olhar holístico, global do paciente;
por isso, as formas em que o terapeuta ocupacional atua são múltiplas. O CREFITO traz algumas
das principais atividades que a profissão pode realizar e que contribuem para a saúde do paciente.
São elas:
- Atividades básicas da vida diária: comer, vestir, higiene pessoal, locomoção e comunicação.
Essas atividades são consideradas prioritárias e são indicadoras do grau de autonomia do paciente.
- Atividades instrumentais da vida diária: fazer compras, telefonar, ir ao banco, tomar
conta da casa etc. Essas atividades permitem que o paciente mantenha um grau de satisfação,
independência e autonomia em casa e na comunidade.
- Atividades sociais: passeios, visitas, comemorações de festa, entre outras. Esse tipo de
atividade permite manter o interesse pela vida, sentir o prazer pela companhia de outras pessoas,
além de proporcionar oportunidades diversas.
- Atividades artesanais: pintura, cerâmica, trabalho em couro, tecelagem, traçagem, tricô,
crochê, mosaico, entre outras. Essas atividades desenvolvem a criatividade, mantêm habilidades
motoras, promovem a autoestima, dentre outras funções.
- Atividades psicomotoras: utilizadas para desenvolver ou manter a coordenação motora
global e fina, equilíbrio estático e dinâmico, locomoção, força muscular, amplitude articular,
destreza manual, entre outras.
- Atividades ocupacionais: limpeza, jardinagem, cuidado com animais, dentre outras.
- Atividades recreativas e de lazer: danças, jogos educativos e computadorizados, dominó,
baralho, dentre outras. Promovem a integração e o desenvolvimento do ser humano de forma
criativa, resgatando a espontaneidade e a alegria de viver.
Por meio da atenção, da escuta e de todas as intervenções citadas, a Terapia Ocupacional
proporciona e cuida muito mais do que a saúde do paciente, mas traz habilidades, potencialidades,
autoestima, capacidade, dignidade e manutenção de seus direitos e deveres.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Na Síndrome de Alzheimer, a Terapia Ocupacional foca sua intervenção na


capacitação da pessoa para o desempenho e envolvimento em ocupações que a
própria considere como significativas, sendo que essas ocupações poderão estar
relacionadas aos autocuidados, lazer ou produtividade.
No seu atendimento, o Terapeuta Ocupacional leva em consideração três
dimensões: a pessoa, a ocupação e o ambiente, podendo intervir em cada uma
delas.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As síndromes demenciais demandam intervenção interdisciplinar composta por médicos,


Terapeutas Ocupacionais, fisioterapeutas, enfermeiros, fonoaudiólogos, cuidadores e demais
profissionais da saúde, oferecendo cuidados mais efetivos para maximizar o nível cognitivo e
funcional, com melhora na autonomia e independência.
A implementação de um programa interdisciplinar pode ser eficaz no tratamento de
pacientes com síndromes demenciais, com melhoras significativas, principalmente, em sintomas
neuropsiquiátricos, depressão e qualidade de vida.
As intervenções não farmacológicas, como a Terapia Ocupacional, representam
um importante atendimento, visando a melhorar os déficits cognitivos e as alterações de

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comportamento. Melhoram também a qualidade de vida do paciente e de sua família/cuidadores.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

04
DISCIPLINA:
GERIATRIA E GERONTOLOGIA
PARA TERAPIA OCUPACIONAL

A TERAPIA OCUPACIONAL NAS DISFUNÇÕES


BIOPSICOSSOCIAIS
PROF. CARLOS ESCUDEIRO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................52
1. TERAPIA OCUPACIONAL NAS DISFUNÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS.....................................................................53
1.1 SÍNDROME DE PARKINSON...................................................................................................................................53
1.2 FISIOPATOLOGIA E ETIOPATOGENIA DA SÍNDROME DE PARKINSON............................................................53
1.3 QUADRO CLÍNICO DA SÍNDROME DE PARKINSON ...........................................................................................53
1.4 TRATAMENTO DA SÍNDROME DE PARKINSON...................................................................................................54
1.5 TERAPIA OCUPACIONAL NA SÍNDROME DE PARKINSON ...............................................................................54
2. DEPRESSÃO NO IDOSO...........................................................................................................................................56
2.1 TRATAMENTO DA TERAPIA OCUPACIONAL NA DEPRESSÃO DO IDOSO.........................................................57
2.2 A IMPORTÂNCIA DAS ATIVIDADES NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO NO IDOSO.......................................57

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3. AÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL NOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E PROTEÇÃO AO IDOSO.........................58


4. A CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NAS ILPI...................................................................................59
5. CUIDADOS PALIATIVOS...........................................................................................................................................60
5.1 A INTERVENÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NOS CUIDADOS PALIATIVOS..................................................60
5.2 TERAPIA OCUPACIONAL NO ATENDIMENTO DOMICILIAR À PESSOA IDOSA .................................................61
6. TECNOLOGIA ASSISTIVA NA TERAPIA OCUPACIONAL.......................................................................................62
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................64

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, abordaremos algumas das disfunções biopsicossociais mais prevalentes


nos idosos, como a Síndrome de Parkinson e a depressão, enfatizando o quadro clínico, tratamento
clínico, estratégias terapêuticas, reabilitação e orientação aos familiares e/ou cuidadores.
Discutiremos a intervenção da Terapia Ocupacional nas instituições de longa
permanência para idosos, atendimento domiciliar e nos cuidados paliativos. Nessas modalidades
de atendimento, a Terapia Ocupacional é uma profissão voltada aos cuidados das atividades da
vida diária, tanto pela formação profissional quanto pelo direito legal, conforme Resolução do
Conselho Federal de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional (COFFITO) nº 316, de 19 de julho
de 2006:

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 4


Artigo 1º - É de exclusiva competência do Terapeuta Ocupacional, no âmbito
de sua atuação, avaliar as habilidades funcionais do indivíduo, elaborar a
programação terapêutico – ocupacional e executar o treinamento das funções
para o desenvolvimento das capacidades de desempenho das atividades de vida
básicas da diária (ABVD’s e Atividades instrumentais da vida diária (AIVD’s
para as áreas comprometidas no desempenho ocupacional, motor, sensorial,
perceptivo-cognitivo, mental ,emocional, comportamental, funcional, cultural,
social e econômico de pacientes (COFFITO, 2006).

Também elucidaremos o uso da tecnologia assistiva na Terapia Ocupacional, como


adaptações, produtos e serviços que visam a facilitar e auxiliar o desenvolvimento de atividades
de vida diária por pessoas com disfunções físicas e sensoriais, compensando limitações funcionais
e promovendo, assim, independência e autonomia.

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1. TERAPIA OCUPACIONAL NAS DISFUNÇÕES BIOPSICOSSOCIAIS


1.1 Síndrome de Parkinson
A Síndrome de Parkinson (DP) é a segunda enfermidade neurodegenerativa mais frequente
dentre as desordens de movimento, acometendo o sistema nervoso central. Caracteriza-se pela
redução da influência dopaminérgica nigroestrial e cortical. A prevalência da DP na população é
de 550 casos por 100.000 habitantes aos 70 anos de idade.
A Síndrome de Parkinson é a segunda doença neurodegenerativa mais comum, perdendo
apenas para a Doença de Alzheimer. Acarreta comprometimento na motricidade, acometendo
o sistema nervoso central. Essa doença é caracterizada pela ocorrência de alterações motoras
(como rigidez e bradicinesia) e não motoras (como disfunções cognitivas).

1.2 Fisiopatologia e Etiopatogenia da Síndrome de Parkinson

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A doença de Parkinson está associada à morte de neurônios dopaminérgicos presentes na
região compacta da substância negra, ocorrendo uma diminuição da quantidade de dopamina.
Tal fato compromete os movimentos realizados pelo indivíduo acometido uma vez que ocorrem
alterações nos circuitos dos núcleos da base. Ocorrem alterações fisiológicas que estão relacionadas
aos sintomas motores observados nessa doença.
Acredita-se que alguns fatores estejam relacionados à ocorrência da doença de Parkinson,
como predisposição genética, contato com neurotoxinas ambientais, estresse oxidativo,
anormalidades mitocondriais e excitotoxidade.

1.3 Quadro Clínico da Síndrome de Parkinson 


Os sinais cardinais da Síndrome de Parkinson são o tremor de repouso, a bradicinesia,
a rigidez e a instabilidade postural. O tremor de repouso, como o próprio nome já indica, é
representado por um padrão típico de rolar pílulas quando afeta as mãos. Tal sinal cardinal é o
menos incapacitante se comparado aos outros sinais uma vez que costuma ser amenizado com
a movimentação. Além disso, torna-se mais evidente em momentos de ansiedade, excitação
emocional e estresse.
A bradicinesia é caracterizada pela diminuição da velocidade e da amplitude dos
movimentos. Tal sinal cardinal é marcante na Síndrome de Parkinson, estando presente na
maioria dos casos. Esse componente está relacionado a alterações no modo de andar uma vez
que o indivíduo tende a arrastar as pernas, executar passos mais curtos e possuir sensação de
instabilidade, além disso, pode apresentar festinação e bloqueio de marcha.
Outra característica importante é a dificuldade de realizar tarefas simples, como abotoar
roupas e amarrar cadarços. A rigidez é marcada por aumento do tônus muscular e da resistência
à movimentação passiva, podendo apresentar-se no padrão de “cano de chumbo” (quando ocorre
uma resistência tônica suave durante a movimentação passiva) ou no padrão de “roda dentada”
(quando ocorre uma sobreposição do tremor e da rigidez). Tal sinal cardinal tem sido motivo de
queixas de dureza e dor.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.4 Tratamento da Síndrome de Parkinson


O tratamento da Síndrome de Parkinson pode se dar de duas formas: a não medicamentosa
e a medicamentosa.
O tratamento não medicamentoso envolve a educação do paciente e de sua família sobre
a condição encontrada, o uso de suporte psicológico, a realização de atividade física, a presença
da Terapia Ocupacional, a execução de práticas de meditação e promoção de uma nutrição
adequada, com uma dieta rica em fibras.
O tratamento farmacológico pode incluir alguns fármacos e tem como objetivo reduzir
os sintomas e manter a funcionalidade do paciente, proporcionando-lhe maior qualidade de vida.
Levodopa, a medicação mais conhecida, é uma precursora da dopamina e pode ser
associada a um inibidor da descarboxilase para prevenir a metabolização periférica. Ela age
melhorando o tremor e a rigidez.  

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 4


1.5 Terapia Ocupacional na Síndrome de Parkinson 
Por ser a Síndrome de Parkinson uma enfermidade neurológica e progressiva que afeta
a parte motora das pessoas por meio da presença de tremores, rigidez e bradicinesia, a Terapia
Ocupacional tem uma ampla intervenção na referida patologia.
O Terapeuta Ocupacional é um profissional da área de saúde e reabilitação que pode
contribuir de forma significativa na Síndrome de Parkinson, na medida em que seu foco de
atuação é proporcionar que os pacientes consigam realizar suas atividades com autonomia e
independência, sempre que possível. 
Com o estabelecimento da Síndrome de Parkinson, o cotidiano do paciente é drasticamente
modificado uma vez que sua rotina diária é comprometida pela dificuldade de realizar suas tarefas.
Dessa forma, os papéis sociais que desempenhava e a perda da rotina do dia a dia são
significantes, demonstrando dificuldade na mobilidade, o que aumentará o tempo para realização
das atividades diárias.
Como forma de intervenção, o Terapeuta Ocupacional poderá:
-  utilizar-se de técnicas adaptativas para a redução dos efeitos do tremor, como indicação
de talheres adaptados, apoios antiderrapantes, adaptações para a escrita, higiene pessoal e uso de
copos adaptados, uma vez que, com o tremor, essas atividades, dantes rotineiras, podem se tornar
de grande dificuldade;
- auxiliar no desenvolvimento da destreza manual e coordenação motora fina por meio da
realização de atividades de interesse do paciente;
- avaliar o ambiente domiciliar e orientar a realização de adequação ambiental,
proporcionando mais acessibilidade e segurança no domicílio, com o objetivo de prevenir acidentes
(como quedas) e deixar o ambiente mais funcional para que a realização das atividades possa
ocorrer de forma segura e satisfatória. Para isso, é importante eliminar barreiras arquitetônicas,
como escadas, desníveis e pisos escorregadios e com brilho;
- instalação de equipamentos de segurança: instalar barras de segurança no box do
chuveiro e corrimãos nos corredores;
- alteração do mobiliário: a altura de cadeiras, sofás, poltronas, cama e assento sanitário
precisa estar adequada às necessidades do indivíduo para facilitar sua transferência e ajudar o
paciente a organizar sua rotina.

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Os componentes motores a serem avaliados em idosos com Síndrome de


Parkinson são:
• Amplitude de movimentos: pode ser avaliada por meio de um goniômetro, que
possibilita a medição dos ângulos das articulações em cada eixo de movimento
possível.
• Força muscular: pode ser realizada por meio do Teste de Força muscular, que
permite avaliar a capacidade do músculo e realizar tensão contra uma resistência,
classificando a força muscular em diversos graus. A força de preensão manual pode
ser mensurada por meio do dinamômetro manual Jamar, comumente utilizado na
prática clínica e recomendado pela American Society of Hand Therapists (ASHT);
• Destreza manual: alguns testes são utilizados por Terapeutas Ocupacionais para

GERIATRIA E GERONTOLOGIA PARA TERAPIA OCUPACIONAL | UNIDADE 4


avaliação de idosos com SP, como o Purdue Peogboard Test e o Nine Hole Peg
test, ambos para avaliação da destreza manual. O primeiro é composto por nove
pinos e uma placa de nove furos, em que a pessoa é orientada a pegar um pino
de cada vez, inseri-lo nos orifícios contidos na placa e, posteriormente, retirar os
pinos e devolvê-los ao local de origem, sendo o tempo cronometrado. O segundo
é composto por uma placa retangular com dois conjuntos de 25 furos na vertical e
quatro círculos côncavos na parte superior. Em seguida, os idosos são solicitados
a pegarem os pinos e colocá-los ordenadamente nos furos na vertical o mais
rápido possível, sendo computado o número de pinos colocados em 30 segundos.
Ambos são capazes de detectar disfunções motoras sutis em pessoas em estágio
inicial da Síndrome de Parkinson;
• Equilíbrio: a Escala de Equilíbrio de Berg (EEB) é um instrumento padronizado
que avalia o equilíbrio por meio de 14 tarefas relacionadas ao dia a dia e que
envolvem o equilíbrio estático e dinâmico, como alcançar, transferir, permanecer
em pé e levantar-se. A realização das tarefas é pontuada de 0 a 4 de acordo com
o tempo em que a posição pode ser mantida, a distância que o braço é capaz de
alcançar a frente ou o tempo para completar uma tarefa, totalizando um máximo
de 58 pontos. As pontuações de 0 a 20 referem-se a pacientes restritos a uma
cadeira de rodas; 21 a 40 à assistência durante a marcha; e 41 a 56 pontos à
independência.

No Brasil, não há muitos estudos estatísticos para a Síndrome de Parkinson, porém, com
a progressão da doença, a reabilitação inclui principalmente a Fisioterapia, Terapia Ocupacional
e Fonoaudiologia. Portanto, são vários os profissionais envolvidos no processo de tratamento
do idoso com Síndrome de Parkinson, dadas as questões inerentes ao próprio envelhecimento.
Dentre elas, destaca-se a prevalência de comorbidades, o que exige a atenção de diferentes
profissionais, inclusive do terapeuta ocupacional.

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Foster, Beddekar e Tickle-Degnen (2014) identificaram três grandes categorias de


intervenção dos Terapeutas Ocupacionais na SP. São elas: exercícios ou atividades físicas
(treinamentos de resistência progressiva, mobilização articular, treinamento de marcha); pistas,
estímulos e objetos para melhorar as tarefas e o desempenho ocupacional (intervenções para SP,
visando a enriquecer ou adaptar o ambiente e promovendo o aumento da capacidade de resposta
do cérebro aos estímulos ambientais e ao contexto de ação); e autogestão e estratégias cognitivo-
comportamentais (intervenções individualizadas, focadas na promoção de iniciativas de bem-
estar e controle pessoal, ajudando os participantes a melhorarem sua qualidade de vida).
No Brasil, Almeida e Cruz (2009) explicam que o Terapeuta Ocupacional, junto ao idoso
com SP, tem como objetivo prevenir e reduzir perdas funcionais e quadros de dependência,
utilizando basicamente dispositivos tecnológicos, mudanças ambientais e técnicas adaptadas,
dentre elas, a coordenação motora, a função manual, a estimulação cognitiva, técnicas de
relaxamento e respiração, atividades compensatórias e adaptações ambientais, com intervenções
voltadas para as capacidades remanescentes.

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Assim, a atuação da Terapia Ocupacional busca minimizar os impactos decorrentes da
Síndrome de Parkinson, orientando os familiares e cuidadores sobre os procedimentos realizados
e estratégias para facilitar a realização das atividades cotidianas e proporcionar a estimulação
cognitiva, bem como informações sobre a evolução da doença.

2. DEPRESSÃO NO IDOSO

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial, sendo mais expressivo e


impactante nos países em desenvolvimento. No Brasil, o crescimento repentino da população
idosa é resultado de variáveis demográficas, bem como das alterações sociais e culturais ocorridas,
sendo elas causa e consequência desse aumento.
A depressão pode ser desencadeada por fatores biológicos, sendo a genética um fator
significativo no desenvolvimento de um quadro depressivo. Além disso, fatores psicológicos
causam perda da autonomia, desenvolvimento de um quadro depressivo e agravamento de
quadros patológicos preexistentes no idoso, assim como os fatores sociais que interferem na
capacidade funcional, autocuidado e relações sociais.
No processo dessa enfermidade, o sexo feminino apresenta uma maior vulnerabilidade
devido às situações de conflitos familiares, relacionamentos rompidos, bem como aos fatores
biológicos e hormonais. Outros fatores existentes incluem faixa etária, restrições socioeconômicas,
baixa escolaridade, atribuições de personalidade, distúrbios do sono, inadequações da moradia,
déficit no suporte social, eventos estressantes de vida, quadro psiquiátrico prévio, declínio
cognitivo, restrições funcionais e morbidades, sejam elas crônicas ou agudas.
Salientamos a importância da abordagem preventiva, porque possui um caráter de
valorização das saúdes coletivas, destacando fatores que podem desencadear, ou mesmo
predispor, ao começo do estado depressivo, avaliando as possíveis causas da depressão. Atividades
preventivas, como atividade física regular, têm sido eficazes no tratamento da depressão, como
também a utilização de jogos de memória, passeios, discussões saudáveis, leitura e conversas com
o objetivo de aumentar a autoestima.

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A ajuda da família nesse momento é de fundamental relevância para alcançar resultados


satisfatórios, pois, nesse período da vida, muitos idosos se sentem incapazes, são desprezados e
resignados, tanto pela sociedade quanto pela família. A doença deve ser compreendida e tratada.
Paciência é a chave para compreender melhor os idosos nessa situação. A interação e as conversas
são fundamentais para que o idoso não se isole cada vez mais. O assunto merece atenção especial,
pois, se não tratado devidamente, pode trazer danos à saúde física e mental. O acompanhamento
médico é sempre importante, mas o apoio da família também é essencial.

2.1 Tratamento da Terapia Ocupacional na Depressão do Idoso


A intervenção da Terapia Ocupacional ajuda na reorganização do cotidiano, garantindo
o bem-estar, a saúde e a ampliação da rede social.
Na Terapia Ocupacional psiquiátrica, o paciente é estimulado a criar as aptidões que lhe
permitirão viver a vida mais útil e satisfatória possível. O trabalho da Terapia Ocupacional deve

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necessariamente passar por duas instâncias: oferecer recursos para que a vida ganhe sentido e
auxiliar na busca de ações que tornem a vida dessas pessoas mais digna de ser vivida. Podemos
adotar o conceito de Finger (1986) sobre a Terapia Ocupacional:

É a arte e a ciência de orientar a participação de indivíduos em atividades


selecionadas para restaurar, fornece e desenvolver a capacidade, facilitar a
aprendizagem daquelas habilidades e funções essenciais para a adaptação e
produtividade, diminuir ou corrigir patologias e promover e manter a saúde
(FINGER, 1986).

Ryfer (2000) assim se refere à depressão no idoso. O ser vai, durante a vida e a cada
momento, experimentando as suas possibilidades e, às vezes, o sentimento do declínio de alguma
possibilidade, traduzido como o início do fim, desencadeando uma condição depressiva e
impossibilitando a projeção de um futuro feliz.
No caso da depressão do idoso, a Terapia Ocupacional tem muito a contribuir no sentido
de propiciar atividades adequadas a cada caso individualmente, que venham a facilitar para o
idoso a possibilidade de viver de forma sadia o seu processo de envelhecimento. Para o idoso, isso
significa a realização, de acordo com seu grau de independência, das atividades básicas de sua
vida diária (ABVDs) e atividades instrumentais da vida diária (AIVDs), atividades produtivas
(remuneradas ou não) e atividades de lazer.
É importante, nesta faixa etária, que haja uma preocupação com a qualidade de vida,
principalmente se ela é afetada nas atividades citadas anteriormente, as quais preenchem a maioria
do seu tempo. Portanto, a Terapia Ocupacional tem condições de intervir de forma significativa
no processo adaptativo do idoso.

2.2 A Importância das Atividades no Tratamento da Depressão no Idoso


O Terapeuta Ocupacional compreende a atividade humana (como processo criativo,
criador, lúdico, expressivo, evolutivo, produtivo e de automanutenção) e o homem (como um
ser práxico, interferindo no cotidiano do usuário, comprometido em suas funções práxicas,
objetivando alcançar uma melhor qualidade de vida).
Por meio das atividades expressivas, o paciente poderá exteriorizar o seu mundo, suas
vivências pessoais e seus temores, ajudando-o a reorganizar o seu ego. São atividades com o
intuito de expressar emoções e fantasiais e, geralmente, esses pacientes aceitam muito bem.

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Fazem parte dessas atividades colagem, recortes, desenhos, pintura, música, dança
e ginástica; logo, atividades com ritmo também propiciam uma descarga dos impulsos
inconscientes. As atividades escolhidas para o tratamento devem ser bastante interessantes para
manter a atenção do paciente e devem estar dentro de suas capacidades, já que o temor do fracasso
pode ser acentuado. Os projetos a curto prazo mostram rápida melhora e ajudarão a aumentar a
confiança.

3. AÇÕES DA TERAPIA OCUPACIONAL NOS SERVIÇOS DE ATENÇÃO E


PROTEÇÃO AO IDOSO

No cenário brasileiro, a oferta de cuidados ao idoso é respaldada pela Constituição,


Estatuto do Idoso e Política Nacional do Idoso e pode acontecer em diferentes modalidades de

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atenção.
Esses estabelecimentos de atendimento integral para idosos também podem ser
classificados em três tipos de modalidades, conforme a sua especialidade. A modalidade 1
destina-se às pessoas independentes para as atividades de vida diária (AVD). Já a modalidade
2 é destinada às pessoas dependentes e independentes, que necessitam de auxílio e de cuidados
especializados. Por fim, a modalidade 3 é voltada às pessoas totalmente dependentes em, pelo
menos, uma AVD.
Os serviços socioassistenciais são definidos como aqueles que garantem: o fortalecimento
da convivência familiar e comunitária; referência para a escuta e apoio sociofamiliar; informação
para garantir direitos; geração de renda; prevenção; e que garantam direitos violados ou ameaçados.
Do ponto de vista da Assistência Social, as Instituições de Longa Permanência para idosos
(doravante, ILPI) são consideradas de alta complexidade. As ações dirigidas a elas são situadas
no âmbito da proteção especial, destinadas a famílias/indivíduos que perderam seus vínculos
familiares ou que não têm mais condições de convívio familiar ou comunitário (BERNARDO;
RAYMUNDO, 2018).

Recomendamos a leitura do livro Terapia Ocupacional e Gerontologia: interlocuções


e práticas, de Lilian Dias Bernardo e Taiuani Marquine Raymundo.
O livro é uma excelente contribuição, trazendo um modelo assistencial inovador,
que considera as particularidades da pessoa idosa. Ajuda a entender a relevância
do profissional de Terapia Ocupacional e suas diversas áreas de atuação, cujo
foco é a ocupação humana.

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4. A CONTRIBUIÇÃO DA TERAPIA OCUPACIONAL NAS ILPI

As ILPI são locais de caráter residencial, destinados a domicílio coletivo de pessoas


com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade,
dignidade e cidadania, oferecendo aos seus residentes proteção e amparo. Porém, ao longo de
todo o processo de institucionalização, há uma ruptura significativa com os laços familiares, com
o ambiente em que estão acostumados a viver, além da rotina estabelecida pela administração da
ILPI.
A Terapia Ocupacional nas ILPI promove atividades com o objetivo de resgatar a autonomia
e a independência, conferindo qualidade de vida e socialização para os idosos residentes.
As intervenções com o Terapeuta Ocupacional junto à pessoa idosa podem ser tanto
individuais como em grupo. Os grupos em Terapia Ocupacional objetivam o tratamento e
ofertam vivências aos seus participantes através do “fazer junto”, como o compartilhamento de

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experiências, a interação social, a comunicação verbal e não verbal e a exposição de sentimentos
e conteúdos internos.
Esses tipos de atividades grupais permitem manter o interesse pela vida, sentir prazer
pela companhia de outras pessoas, além de proporcionar oportunidades diversas. Os objetivos da
Terapia Ocupacional em ILPI são:
- integrar e sociabilizar o idoso dentro da ILPI, tornando-o o mais independente possível;
- avaliar a capacidade funcional e cognitiva, visando a elaborar um plano terapêutico
singular;
- realizar atendimento grupal e individual;
- incentivar o idoso a continuar fazendo planos, ter ambições e aspirações;
- promover relações interpessoais;
- orientar cuidadores e/ou familiares;
- adequação ambiental, visando a realizar modificações e adaptações do ambiente
institucional, facilitando a independência nas AVDS e AIDS;
- educar quanto ao uso de dispositivos tecnológicos, visando ao desempenho ocupacional
com segurança, autonomia e independência.
Mello (2007) assim se refere às ações principais do Terapeuta Ocupacional com a pessoa
idosa residente:

[...] identificação do nível de dependência funcional do idoso, planejamento


de programação de atividades seguindo perfil funcional, interesse e desejo
dos idosos, estabelecimento de grupos terapêuticos e/ou oficinas segundo as
demandas dos moradores (memória, sexualidade, culinária, reminiscências,
entre outros), planejamento e adequação ambiental (MELO, 2007, p. 370).

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5. CUIDADOS PALIATIVOS

Os cuidadores paliativos (doravante, CP) são definidos como uma abordagem


multiprofissional, que melhora a qualidade de vida do paciente e de seus familiares diante de
problemas associados a doenças crônicas ameaçadoras da vida, por meio da prevenção e alívio
do sofrimento, buscando a identificação precoce, avaliação e tratamento impecável da dor e de
outros problemas físicos, sociais e espirituais.
A filosofia dos cuidados paliativos aceita a morte como o estágio final da vida. Ela afirma
a vida e não acelera nem adia a morte. Os cuidados paliativos focam na pessoa, e não na doença,
tratando e controlando os sintomas para que os últimos dias de vida sejam dignos e com qualidade,
cercados de seus entes queridos.
Cuidados paliativos são indicados para todos os pacientes (e familiares) com doença
ameaçadora da continuidade por qualquer diagnóstico, com qualquer prognóstico, seja qual

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for a idade e a qualquer momento da doença em que eles tenham expectativas ou necessidades
atendidas.
Os cuidados paliativos auxiliam pacientes e familiares a:

- lidar com questões físicas, psicológicas, sociais, espirituais de ordem prática, com seus
medos, suas expectativas, necessidades e esperanças;
- prepara-se para a autodeterminação no manejo do processo de morrer e do final da
vida;
- lidar com perdas durante a doença e o período de luto;
- alcançar o seu maior potencial mesmo diante da adversidade.
O atendimento prestado nos cuidados paliativos pode ser na casa do paciente, em hospitais
ou instituições de longa permanência. Os profissionais devem estar capacitados para prestar
cuidados paliativos de qualidade. Para isso, programas de educação continuada e de treinamento
são fundamentais, permitindo que se alcance um acolhimento genuíno às demandas dos pacientes
e dos familiares dentre tantos objetivos desafiadores, como o controle da dor, especialmente em
pacientes com distúrbios de cognição.
Idosos apresentam maior prevalência de doenças crônico-degenerativas, para as quais
não existe tratamento curativo e que podem prolongar-se por tempo indeterminado, como nas
situações de câncer, insuficiência pulmonar obstrutiva crônica, fragilidade e outras. Todas são
indicações de uma abordagem paliativa.

5.1 A Intervenção da Terapia Ocupacional nos Cuidados Paliativos


A Terapia Ocupacional pode acompanhar a pessoa e sua família ao longo de todo o
processo de adoecimento e do tratamento modificador do curso natural da doença, mas com a
expectativa voltada ao processo de manutenção das habilidades remanescentes e recuperação das
habilidades modificadas.
Observando os objetivos e princípios dos cuidados paliativos, fica evidente a necessidade
de integração do Terapeuta Ocupacional juntamente com a equipe de CP. Isso porque o paciente e
sua família apresentam alterações em todos os aspectos de sua vida ocupacional, principalmente
no que se refere à autonomia, desempenho de seus papéis e manutenção do seu cotidiano.

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Para Mello et al. (2004), o Terapeuta Ocupacional, através de técnicas e recursos avaliativos,
pretende: identificar o grau de autonomia e independência do paciente nas áreas de desempenho
ocupacional no contexto hospitalar; elencar as dificuldades vivenciadas pelo processo de
adoecimento e hospitalização; e colaborar com as informações inerentes ao diagnóstico.
O processo avaliativo deve fornecer o conhecimento acerca do indivíduo a partir de sua
história de vida, valores culturais e espirituais, interesses e cotidiano, atividades significativas e
condições ambientais de onde vive. Além disso, devem ser observadas suas condições físicas e
emocionais e considerada a rotina hospitalar, que pode influenciar suas expectativas e ansiedade
quanto a diagnóstico e procedimentos.
Conforme asseveram Othero e Ayres (2014), para as pessoas com doenças muito graves,
a realização de atividades significativas tem papel relevante, pois reafirma suas potencialidades e
representa a possibilidade de os pacientes se manterem como sujeitos da própria história, o que
confere sentido à vida.
Arini (2014) sugere atividades para promover estímulos cognitivos: treino de memória;

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atenção; concentração; utilização de jogos; atividades com palavras; orientação no tempo e
espaço; confecção de calendário referente aos estímulos agradáveis a partir da história de vida de
cada participante; toques; texturas; cheiros; sabores; músicas, dentre outras.
O Terapeuta Ocupacional se faz importante no processo de despedida, auxiliando no
desenvolvimento de atividades para confecção de produtos finais concretos, como presentes e
cartões para pessoas queridas, orientando os familiares a manterem comunicação e gestos de
carinho com o paciente, ainda que estes estejam sedados, e realizando a mediação dessa interação.
O profissional de Terapia Ocupacional está habilitado a prestar assistência aos pacientes
e familiares a fim de favorecer o alívio das dificuldades causadas pelo adoecimento, evitar a
perda de dignidade e os sentimentos de isolamento. As atividades envolvem a mente e o corpo,
tornando-se uma forma de expressão pessoal, criando um canal de relação entre a pessoa e seus
familiares, um meio de manter a dignidade e a autonomia da pessoa.

5.2 Terapia Ocupacional no Atendimento Domiciliar à Pessoa Idosa


O cenário da atenção domiciliar é muito comum na prática do Terapeuta Ocupacional com
idosos. Entre casos mais prevalentes nessa prática, temos os idosos acamados, com dificuldade
motora e demências avançadas, que, por meio desse tipo de intervenção, recebem em casa seus
atendimentos terapêutico-ocupacionais, pois esses idosos dificilmente chegam aos ambulatórios
e já não podem mais participar dos centros de convivência. O atendimento domiciliar também
tem sido uma alternativa à hospitalização. Em alguns casos, o retorno ao domicílio tem como
prioridade prevenir ou minimizar comorbidades hospitalares, como infecções, delírio e depressão.
O domicílio é um local privilegiado de atuação para o Terapeuta Ocupacional, porque é
possível avaliar o desempenho funcional em sua complexidade e intervir de maneira dinâmica e
abrangente sobre as dificuldades encontradas.
A Terapia Ocupacional contribui imensamente no atendimento domiciliar. Além das
adaptações ambientais, podem-se treinar as ABVDs e AIVDs, observando no dia a dia as reais
dificuldades e sugerindo adaptações e/ou a melhor forma para que sejam realizadas de acordo
com as necessidades do idoso.
As adaptações no ambiente domiciliar vão desde a reorganização do mobiliário, com
substituição de maçanetas e trincos, até adequações mais complexas, como a substituição de
degraus por rampas, alargamentos de portas e instalação de elevadores.

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A Terapia Ocupacional na assistência domiciliar visa à promoção, manutenção e/


ou restauração da saúde da pessoa dependente, com o objetivo de favorecer sua
independência e preservar sua autonomia. A disfunção ocupacional é a dificuldade
que um indivíduo pode ter para a realização de suas atividades, sendo nesse
ponto que o Terapeuta Ocupacional encontra o seu principal alvo de intervenção.
Segundo Kane, Ouslander e Abrass (1985), os Terapeutas Ocupacionais se
detêm nas capacidades funcionais, especialmente nas que se relacionam com
as atividades diárias. Mesmo quando a mobilidade e as funções permanecem
prejudicadas, a intervenção terapêutica ocupacional pode tornar a vida mais fácil
para os pacientes.

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6. TECNOLOGIA ASSISTIVA NA TERAPIA OCUPACIONAL

Utilizamos uma série de recursos tecnológicos para facilitar o dia a dia. Em sentido mais
amplo, podemos dizer que qualquer ferramenta ou dispositivo (como celular, carro, geladeira ou
televisão) é tecnologia utilizada para facilitar a realização das tarefas diárias de todos nós.
Quando usamos a expressão tecnologia assistiva, estamos nos referindo a pessoas que
tenham necessidades especiais em decorrência de dificuldades motoras, sensoriais, cognitivas ou
de comunicação.
A tecnologia assistiva é, então, uma área de conhecimento interdisciplinar que
engloba recursos, estratégias, metodologias, práticas e serviços com o objetivo de promover a
funcionalidade e a participação de pessoas com incapacidades, buscando autonomia, qualidade
de vida e inclusão social.
• A mobilidade alternativa: inclui as cadeiras de rodas manuais ou motorizadas, andadores,
muletas, triciclos e bicicletas adaptadas.
• A adequação postural inclui diferentes tipos de assentos e encostos, suportes para apoio
da cabeça, coletes, cintos para garantir melhor posicionamento.
• Nessa área, estão incluídas as pranchas de comunicação, os comunicadores de voz gravada
ou sintetizada e os computadores.
• Auxílio nas atividades da vida diária: engloba recursos como talheres, copos, pratos
adaptados, suporte para corte de alimentos com apenas uma das mãos, abridores de lata
ou tampas especiais, adaptadores para fechar botões e zíperes, adaptações para colocar
meias, recursos de transferência de postura, dentre outros tantos recursos que auxiliam
as atividades de vida diárias e a manutenção da casa.
• O sistema de controle dos ambientes é uma área da tecnologia assistiva que está em
pleno desenvolvimento. A partir de uma central de controle, de um computador ou
de dispositivos como o iPad ou iPhone, o usuário pode ligar e desligar uma série de
equipamentos.

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• O acesso ao computador e suas adaptações engloba recursos como teclado com diferentes
formatos e tamanhos, mouses, TrakBall, joysticks, acionadores, teclados de conceitos e
uma série de programas que funcionam por acesso direto, controle de voz, infravermelho
ou por sistema de varredura.
• A acessibilidade dos ambientes é uma área fundamental da tecnologia assistiva, sendo
exemplos as adaptações de acesso, como rampas e elevadores para cadeiras de rodas, e as
adaptações realizadas em banheiros e cozinhas.
• Os auxílios para deficientes visuais e auditivos incluem lupas manuais ou eletrônicas,
impressoras em Braille, computadores com leitor de telas, máquinas Perkins e, para
pessoas com deficiência auditiva, equipamentos com feedback visual ou tátil, aparelhos
auditivos ou Terminal Telefônico para surdos (TTS), dentre outros.
• Órteses e próteses: as órteses são recursos da tecnologia assistiva que têm como objetivo
oferecer apoio, alinhar, evitar ou corrigir deformidades de uma parte do corpo ou

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melhorar as funções de partes móveis. As órteses podem ser estáticas ou dinâmicas.
As próteses são componentes artificiais, que têm por finalidade suprir necessidades e
funções de indivíduos que sofreram amputações, traumáticas ou não. As próteses podem
ser internas (quando substituem uma articulação, por exemplo) ou externas (quando
substituem um membro).
• Transporte adaptado engloba cadeiras de rodas especiais e cintos para transportar pessoas
com necessidades especiais nos veículos ou transportes públicos.

Assista ao vídeo Prevenção de quedas: adaptações em casa,


disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Q2_V3PtM_qw&t=13s.
O vídeo aborda as orientações sobre as adaptações em casas de
idosos, visando à prevenção de quedas, ajudando a diminuir os
riscos de acidentes domésticos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, foram enfatizadas algumas disfunções biopsicossociais que atingem a


população idosa de forma frequente, como a Síndrome de Parkinson e a depressão. O Terapeuta
Ocupacional tem atuação em ambas as patologias. Na síndrome de Parkinson, atua na reabilitação
motora direcionada para os sintomas principais, que são a bradicinesia, tremor e rigidez, sendo
utilizadas inicialmente avaliações específicas para mensurar as alterações neuromotoras. Também
é importante avaliar as funções cognitivas que são comprometidas nessa patologia. O Terapeuta
Ocupacional tem um papel importante na orientação familiar e para cuidadores. Realiza, quando
necessário, adaptações tanto ambientais como também direcionadas para a independência do

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paciente nas atividades básicas da vida diária.
Na depressão do idoso, a intervenção da Terapia Ocupacional ajuda na reorganização do
cotidiano, garantindo o bem-estar, a saúde e a ampliação da rede social.
Na Terapia Ocupacional psiquiátrica, o paciente é estimulado a criar aquelas aptidões que
lhe permitirão viver a vida mais útil e satisfatória possível. O trabalho da Terapia Ocupacional
deve necessariamente passar por duas instâncias: oferecer recursos para que a vida ganhe sentido
e auxiliar na busca de ações que tornem a vida dessas pessoas mais digna de ser vivida.
A Terapia Ocupacional nas ILPI utiliza atividades com o objetivo de resgatar a autonomia
e a independência, promovendo qualidade de vida e sociabilização para os idosos residentes.
Cuidados paliativos são indicados para todos os pacientes (e familiares) com doença
ameaçadora da continuidade por qualquer diagnóstico, com qualquer prognóstico, seja qual
for a idade e a qualquer momento da doença em que eles tenham expectativas ou necessidades
atendidas. O Terapeuta Ocupacional tem uma atuação significativa no sentido de proporcionar
manutenção das habilidades remanescentes e recuperação das habilidades modificadas.
Também foi abordado o papel do Terapeuta Ocupacional na utilização da tecnologia
assistiva com o objetivo de promover a funcionalidade e a participação de pessoas com
incapacidades, buscando autonomia, qualidade de vida e inclusão social.

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ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
ARENGHERI, S. Fragilidade física, psicológia e social aumenta risco de morte em idosos. In:
Jornal da USP. 2016. Disponível em: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/fragilidade-
aumenta-risco-de-morte-em-idosos/. Acesso em: 12 ago. 2021.

BERNARDO, L. D.; RAIMUNDO, T. M. Terapia Ocupacional e gerontologia: interlocuções e


práticas. Curitiba: Appris, 2018.

CASTILHO, T. Almanaque de Saúde Alzheimer e Parkinson. Bauru: Alto Astral, 2017.

KATZ, N. Neurociência, reabilitação cognitiva e modelos de intervenção em Terapia


Ocupacional. Tradução de Shirly Gabay Terezinha Oppido. São Paulo: Santos, 2017.

NERI, A. L.  Bem estar subjetivo, personalidade e saúde na velhice. In: FREITAS, E. V. et al.
Tratado de Geriatria e Gerontologia. 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

OLIVEIRA, M. O. et al. Terapia Ocupacional em neuropsicologia e saúde mental. Curitiba:


Manole, 2010.

PAPALIA, D.; FELDEMAN, R. Desenvolvimento Humano. 12. ed. Porto Alegre: AMGH, 2013.

PINTEREST. Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003). 2021. Disponível em: https://br.pinterest.


com/pin/571323902706568817/. Acesso em: 13 ago. 2021.

SANTOS, F. S. et al. Estimulação cognitiva para idosos. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora Ateneu,
2018.

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