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FENÔMENOS DE TRANSPORTE

PROF. ME. ANDRÉS JOSÉ COCATO STELUTI


PROF. DR. RICARDO CARDOSO DE OLIVEIRA
Presidente da Mantenedora
Ricardo Benedito Oliveira
Reitor:
Dr. Roberto Cezar de Oliveira
Pró-Reitoria Acadêmica
Gisele Colombari Gomes
Diretora de Ensino
Prof.a Dra. Gisele Caroline
Novakowski
PRODUÇÃO DE MATERIAIS
Diagramação:
Alan Michel Bariani
Edson Dias Vieira
Thiago Bruno Peraro
Revisão Textual:
Camila Cristiane Moreschi
Danielly de Oliveira Nascimento
Fernando Sachetti Bomfim
Luana Luciano de Oliveira
Patrícia Garcia Costa
Produção Audiovisual:
Adriano Vieira Marques
Márcio Alexandre Júnior Lara
Osmar da Conceição Calisto
Gestão de Produção:
© Direitos reservados à UNINGÁ - Reprodução Proibida. - Rodovia PR 317 (Av. Morangueira), n° 6114 Cristiane Alves
UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

01
DISCIPLINA:
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

ESTÁTICA DOS FLUIDOS

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................................5
1 DIMENSÕES E UNIDADES DE MEDIDA....................................................................................................................6
2 HOMOGENEIDADE DIMENSIONAL...........................................................................................................................9
3 FLUIDOS..................................................................................................................................................................... 11
3.1 DEFINIÇÃO DE FLUIDO........................................................................................................................................... 11
3.2 TENSÃO DE CISALHAMENTO – LEI DE NEWTON DA VISCOSIDADE............................................................... 13
4 PRESSÃO E ESTÁTICA DOS FLUIDOS.....................................................................................................................20
4.1 TEOREMA DE STEVIN............................................................................................................................................ 21
4.2 LEI DE PASCAL.......................................................................................................................................................24
4.3 CARGA DE PRESSÃO.............................................................................................................................................26
4.4 MEDIDORES DE PRESSÃO....................................................................................................................................27

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4.4.1 EQUAÇÃO MANOMÉTRICA.................................................................................................................................28


5 EMPUXO....................................................................................................................................................................34
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................35

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INTRODUÇÃO

O grande alcance dos fenômenos de transporte é essencial para o entendimento de muitos


processos em engenharia, agricultura, meteorologia, fisiologia, biologia, química analítica, ciência
dos materiais, farmácia e outras áreas. Fenômenos de transporte é um ramo bem desenvolvido da
física, além de eminentemente útil, que permeia muitas áreas da ciência aplicada.
O assunto fenômenos de transporte inclui três tópicos intimamente relacionados:
dinâmica dos fluidos, transferência de calor e transferência de massa. A dinâmica dos fluidos
envolve o transporte de momento, a transferência de calor lida com o transporte de energia, e
a transferência de massa diz respeito ao transporte de massa de várias espécies químicas. Esses
três fenômenos de transporte, em geral, ocorrem simultaneamente em problemas industriais,
biológicos, agrícolas e meteorológicos; na verdade, a ocorrência de qualquer um dos processos
de transporte isoladamente é uma exceção em vez de uma regra (BIRD, 2013).
Os assuntos tratados em cada um dos tópicos de fenômenos de transporte são extensos
e – como já dito – com muitas aplicações na engenharia. Como este material destina-se ao curso

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de engenharia elétrica, serão abordados, preferencialmente, os temas mais relevantes para este
curso – que, neste caso, são a dinâmica dos fluidos e a transferência de calor. A transferência de
massa será tratada de forma bem mais superficial.
As ferramentas matemáticas necessárias para descrever esses fenômenos são muito
similares, e o conhecimento do cálculo diferencial integral se faz necessário. As equações
matemáticas são dadas, na sua forma geral, em três dimensões, usando a notação vetorial (ou
tensorial – quando for o caso). Para fins práticos e objetivos deste material, as equações matemáticas
serão dadas e aplicadas em uma dimensão (unidimensional), simplificando, significativamente, o
rigor matemático aplicado aos problemas.

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1 DIMENSÕES E UNIDADES DE MEDIDA

Uma grandeza física é uma propriedade de um corpo, ou particularidade de um


fenômeno, passível de ser medida e, ainda, pode-se atribuir um valor numérico. A medição de
uma grandeza pode ser efetuada por comparação direta com um padrão ou com um aparelho
de medida (medição direta) ou, ainda, pode ser calculada através de uma expressão conhecida, à
custa das medições de outras grandezas (medição indireta).
Uma dimensão é uma medida de uma grandeza física (sem os valores numéricos),
e a unidade é uma forma de atribuir um número a essa dimensão. O Quadro 1 apresenta as
dimensões primárias (ou dimensões fundamentais).

Dimensão Símbolo Unidades SI Unidade inglesa


Massa M kg (quilograma) lb (libra)
Comprimento L m (metro) ft (pé)
Tempo T s (segundo) s (segundo)
Temperatura θ k (kelvin) R (rankine)

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Corrente elétrica I A (ampére) A (ampére)
Quantidade de luz C cd (candela) cd (candela)
Quantidade de matéria N mol mol
Quadro 1 – As dimensões primárias e suas unidades. Fonte: Os autores.

Exemplo 1
A velocidade (V) de um objeto é dada pela razão entre o deslocamento do objeto
em determinado tempo. Pode ser considerada a grandeza que mede o quão rápido o
objeto se desloca. Usando colchetes [ ] para denotar “a dimensão de”, a dimensão da
grandeza velocidade é . Já a aceleração (a) é a grandeza que determina a
variação da velocidade em relação ao tempo. Em outras palavras, ela indica o aumento
ou a diminuição da velocidade com o passar do tempo. Assim, a dimensão da grandeza
aceleração é .

Exemplo 2

Considere a Segunda Lei de Newton, que diz . Assim, temos que a grandeza
força tem dimensão de

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Exemplo 3
O termo pressão é utilizado em diversas áreas da ciência, como uma grandeza escalar
que mensura a ação de uma ou mais forças sobre um determinado espaço, podendo este
ser líquido, gasoso ou mesmo sólido. A pressão é uma propriedade intrínseca a qualquer
sistema. Para problemas que envolvem gases e sólidos, a expressão matemática utilizada
para expressar pressão é dada por em que F é a força normal, e A é a área. Assim,
temos que a grandeza pressão tem dimensão de

Exemplo 4
Energia em engenharia é um conceito extremamente importante e representa a
capacidade de produzir trabalho. Esse conceito é também usado em outras áreas
científicas, como a biologia, física e química. Energia potencial é a energia que pode ser
armazenada em um sistema físico e tem a capacidade de ser transformada em energia
cinética. A energia potencial é a energia que corresponde ao trabalho que a força peso
realiza. A energia potencial pode ser equacionada como , em que m é a
massa do corpo, g é a aceleração gravitacional e h é a altura em que se encontra o objeto

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de massa m em relação a um nível de referência.
Dessa forma, a dimensão de energia potencial é
Por outro lado, a energia cinética é a forma de energia que os corpos em movimento
possuem e é proporcional à massa e à velocidade da partícula que se move. A energia
cinética é equacionada como em que m é a massa do objeto, V é a velocidade
e 1∕2 é uma constante adimensional.
Dessa forma, a dimensão de energia cinética é Observe que
tanto energia potencial quanto energia cinética apresentam a mesma dimensão. Isso já
era de se esperar, pois se tratam da mesma grandeza física.

Exemplo 5
(ITA) Certa grandeza física A é definida como o produto da variação de energia de
uma partícula pelo intervalo de tempo em que esta variação ocorre. Outra grandeza,
B, é o produto da quantidade de movimento da partícula pela distância percorrida. A
combinação que resulta em uma grandeza adimensional é
(A) AB (B) A/B (C) A/B2 (D) A2/B (E) A2B
Solução: Segue, do enunciado, que A = ∆E.∆t, em que ∆E é a variação de energia e ∆t
é a variação do tempo. Por outro lado, temos que B = Q.d, em que Q é a quantidade
de movimento e d é a distância percorrida. Assim, a dimensão da grandeza A é [A] =
M.L2.T–2.T = M.L2.T–1 e a da grandeza B é [B] = M.L.T–1.L = M.L2.T–1. Como [A] = [B],
segue que a razão entre as grandezas A e B resulta em uma grandeza adimensional.

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Exemplo 6

(ITA) Considere um corpo esférico de raio R, totalmente envolvido por um fluido com
velocidade média V. De acordo com a lei de Stokes, para baixas velocidades, esse corpo
sofrerá a ação de uma força de arrasto viscoso dada pela equação F = 6πRV∆, em que
6π é uma constante adimensional e ∆ é uma propriedade do fluido. A dimensão de ∆ é
(A) LT–1. (B) LT–2 (C) MLT-2 (D) MLT-3 (E) ML-1 T-1.
Solução: Segue, do enunciado, que F = 6πRV∆, em que F é força (cuja dimensão é [F] =
MLT-2), R é o raio (cuja dimensão é L), V é a velocidade (cuja dimensão é [V] = L T-1) e
∆ é a grandeza cuja dimensão se deseja avaliar. Assim,

MLT-2 = LLT-1 [∆] → [∆] = ML-1T-1

Ou seja, a dimensão da grandeza ∆ é ML-1T-1, e responde à questão a alternativa (E).

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O conhecimento acerca das dimensões e unidades de algumas grandezas físicas
ajuda, e muito, no entendimento de algumas grandezas físicas. Na tabela a seguir,
são apresentadas algumas grandezas físicas, suas dimensões e unidades no SI e
no sistema inglês de unidades.

Grandeza Dimensão Unidades SI Unidades inglesas


Área L2 m2 ft2
Volume L3 m3 ft3
Velocidade L T-1 m s-1 ft s-1
Aceleração L T-2 m s-2 ft s-2
Força M L T-2 kg m s-2 lb ft s-2
Pressão M L2 T-2 kg m2 s-2 lb ft2 s-2
Tensão M L2 T-2 kg m2 s-2 lb ft2 s-2
Massa específica M L3 kg m-3 lb ft-3
Viscosidade M L-1 T-1 kg m-1 s-1 lb ft-1 s-1
Energia M L2 T2 kg m2 s-2 lb ft2 s-2
Trabalho M L2 T2 kg m2 s-2 lb ft2 s-2
Potência M L2 T3 kg m2 s-3 lb ft2 s-3
Vazão volumétrica L3 T-1 m3 s-1 ft3 s-1
Vazão mássica M T-1 kg s-1 lb s-1
Quadro 2 - Grandezas físicas. Fonte: Os autores.

Algumas unidades recebem nomes especiais. A saber: 1 kg m-1 s-2 = 1 Pa


(lê-se 1 Pascal); 1 M L2T-2 = 1 J (lê-se 1 Joule); 1 ML2T-3 = 1 W (lê-se 1 Watt).

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Exemplo 7
No século XIX, Osborne Reynolds estudou a transição entre os regimes laminar e
turbulento em um tubo. O parâmetro que determinou o regime de escoamento, mais
tarde, recebeu o nome de número de Reynolds, indicado por Re. O número de Reynolds
é definido por:

em que ρ é a massa específica do fluido, V é a velocidade de escoamento, D é o diâmetro


do tubo e μ, a viscosidade. Com base nessas informações, prove que o número de
Reynolds é adimensional.
Solução: Segue, do enunciado, que . Assim,

Logo, o número de Reynolds é adimensional.

2 HOMOGENEIDADE DIMENSIONAL

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Todos sabem a expressão popular: “não podemos somar três maçãs com duas melancias”.
Isso porque se tratam de coisas distintas. Na verdade, é a expressão simplificada de uma lei
matemática mais fundamental e global, a lei da homogeneidade dimensional, enunciada como:

Todo termo aditivo de uma equação deve ter as mesmas dimensões.

Todas as equações teóricas, em qualquer ciência física, são dimensionalmente homogêneas.


Vamos analisar os casos seguintes:

V = Vo + g.t Eq. (01)

V = Vo + g Eq. (02)

em que as unidades de V são Vo (m/s), g (m/s2) e t (s). Vejamos primeiramente para a


equação (1). Segue que: [V] = [Vo] + [g.t] ∴ [L/t] = [L/t] + [L/t2.t] ∴ [L/t] = [L/t]+[L/t]. Agora,
para a equação (02), segue que: [V] = [Vo] + [g] ∴ [L/t] = [L/t] + [L/t2 ]. Note que a equação (01)
é dimensionalmente consistente, enquanto (02) não o é.

Para serem dimensionalmente homogêneos, os termos de uma equação devem


ter a mesma unidade.

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Exemplo 8
A equação de Bernoulli é provavelmente a equação mais discutida e utilizada em
Mecânica dos Fluidos. Essa equação, para um escoamento irrotacional de um fluido
incompressível, é dada por = constante , tal que P é a pressão, ρ é a massa
específica, g é a aceleração da gravidade, V é a velocidade, e z, a cota referente à altura
em relação à horizontal. Vamos analisar as dimensões de cada termo aditivo da equação
de Bernoulli. Assim,

Como a dimensão de cada termo aditivo da equação de Bernoulli é a mesma e igual a


L, segue que a essa equação segue o princípio da homogeneidade dimensional. Caso as

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dimensões de qualquer um dos termos fossem diferentes das outras, isso indicaria que
um erro foi cometido em alguma parte da análise.

Exemplo 9

Uma importante equação na teoria das vibrações é

em que m é a massa e x é a posição no instante t. Para uma equação dimensionalmente


consistente, determine as dimensões de c, k e f(t).
Solução: Sabemos que é a derivada segunda da posição em relação ao tempo, ou seja,
é a aceleração. Sabemos também que é a derivada primeira da posição em relação ao
tempo, ou seja, é a velocidade. Assim, o termo m tem dimensão de ,
ou seja, tem dimensão de força.
Assim, os termos c e kx deverão ter dimensão de força para que a equação diferencial
dada tenha consistência dimensional. Daí,

Portanto, as dimensões de c, k e f(t) são, respectivamente, M T-1, M T-2 e M T-2.

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3 FLUIDOS

3.1 Definição de Fluido

Numa primeira definição, podemos considerar que fluido é uma substância que não possui
forma própria (assume o formato do recipiente) (Figura 1). Portanto, fluidos são os líquidos e os gases.

Figura 1 – Definição de fluido (líquidos e gases). Fonte: Brunetti (2005).

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Sabemos que toda matéria é constituída de átomos, e estes, segundo alguns modelos
atômicos, são constituídos por um núcleo e a eletrosfera. Daí, de acordo com essas considerações,
a matéria é amplamente espaçada, em particular no estado gasoso. No entanto, para facilitar
nosso estudo em Mecânica dos Fluidos, vamos assumir que a matéria é um meio contínuo e
homogêneo e, a partir daí, podemos definir algumas propriedades dos fluidos.
A massa específica do fluido (ρ) é a massa (m) do fluido por unidade de volume (V).
Assim,

Eq. (03)

A análise das dimensões dessa grandeza nos permite afirmar que as possíveis unidades
são: kg ⁄ m3 , g ∕ L, g ∕ cm3, lb ∕ ft3, etc.
O volume específico do fluido (ϑ) é volume (V) do fluido ocupado por unidade de massa
(m). Assim,

Eq. (04)

A análise das dimensões dessa grandeza nos permite afirmar que as possíveis unidades
são: m3 ⁄ kg, L ∕ g, cm3 ∕ g, ft3 ∕ lb, etc.
O peso específico do fluido (γ) é o produto da massa específica (ρ) pela aceleração
gravitacional (g). Assim,

γ = ρg Eq. (05)
Com g = 9,8 m⁄s2. A análise das dimensões dessa grandeza nos permite afirmar que as
possíveis unidades são: : N ⁄ m3 , dyna ∕ cm3, etc.
A densidade do fluido (d) é a razão do valor da massa específica (ρ) do fluido com o valor
da massa específica (ρ) de um fluido padrão. O fluido padrão para líquidos é a água e, para gases,
é o ar. Assim,

Eq. (06)

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A análise das dimensões dessa grandeza nos permite afirmar que essa grandeza é
adimensional.

Exemplo 10
Um recipiente de 7,5 m3 é parcialmente preenchido com 900 kg de um líquido cuja
massa específica 2.400 kg/m3. O restante do volume do recipiente contém gás com
massa específica igual a 3,6 kg/m3. Nesta situação, determine a massa de gás, em kg, no
interior do recipiente.
Solução: Depreende-se do enunciado que parte do recipiente está preenchida com o
líquido, e outra parte, com gás. Assim, pela Eq.(01), podemos determinar o volume do
líquido contido no interior do recipiente, ou seja,

V = 0,375 m3
Como o volume do recipiente é 7,5 m3, segue que o volume de gás é igual a 7,5 - 0,375
= 7,125m3. Aplicando novamente a Eq.(01), determina-se o valor da massa de gás no
interior do tanque. Assim,

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Portanto, a massa de gás no interior do recipiente é igual a 25,65 kg.

Exemplo 11

Dois líquidos X e Y possuem massas específicas, a 25° C, de 1000 kg/m3 e 1200 kg/
m3, respectivamente. Em um tanque mantido à temperatura constante de 25°C, serão
misturados 160 m3 do líquido X com 240 m3 do líquido Y. Se os líquidos formarem uma
mistura ideal, determine a massa específica média da mistura a 25° C, em kg/m3.
Solução: Depreende-se do enunciado que, para o líquido X, ρ = 1000 kg/m3 e V = 160
m3. Já, para o líquido Y, ρ = 1200 kg/m3 e V = 240 m3. Como a mistura é ideal, segue que
o volume final da mistura é igual à soma dos volumes dos líquidos X e Y, ou seja, 400
m3. Aplicando a Eq.(01), determinamos a massa dos líquidos X e Y na mistura. Assim,

A massa total da mistura é igual a 448.000 kg, e a massa específica da mistura é


determinada aplicando-se a Eq. (01). Assim,

Logo, a massa específica da mistura é igual a 1120 kg/m3.

A viscosidade do fluido (μ) é a propriedade que mede a resistência dele em escoar. Para
obter uma equação para a viscosidade, considere que uma camada fluida seja colocada entre duas
placas planas, paralelas e infinitas. Considere ainda que as placas estejam separadas por uma
distância .

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No instante t = 0, considere que uma força F, constante e tangencial, seja aplicada sobre a
placa superior, enquanto a placa inferior permanece parada. Após algum tempo, verifica-se que
a placa superior se move continuamente sob a influência da força F, com velocidade constante
V, como apresentado na Figura 2. Lembre-se que essa força F horizontal está sendo aplicada
sobre uma área A da placa. A razão entre F e A é denominada tensão de cisalhamento (τ). Nessa
experiência, o sólido e o fluido são presos entre duas placas planas, uma inferior fixa e outra
solicitada por uma força tangencial FT constante na direção do plano da placa, conforme Fig. 2.

Figura 2 – Experiência das duas placas. Fonte: Fox, McDonald e Pritchard (2012).

Foram feitas as seguintes observações:

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• O sólido se deforma angularmente até atingir uma nova configuração de equilíbrio
estático, enquanto o fluido se deforma continuamente;
• Os pontos do fluido em contato com a placa superior adquirem a mesma velocidade v
da placa superior, e os pontos do fluido em contato com a placa fixa ficam parados junto
a ela. Ou seja, os pontos de um fluido em contato com uma superfície sólida aderem aos
pontos dela, com as quais estão em contato (princípio da aderência).
Pode-se, então, dizer que fluido é uma substância que se deforma continuamente quando
submetido a uma força tangencial constante.

3.2 Tensão de Cisalhamento – Lei de Newton da Viscosidade

Avaliando com mais detalhes a experiência das duas placas, define-se uma importante
propriedade dos fluidos – a viscosidade absoluta. Para tal, será necessária a definição de tensão
de cisalhamento (τ).
Na Figura 3, uma força F é aplicada a uma área (A). A força F pode ser decomposta em
duas componentes: normal (FN) e tangencial (FT). A relação entre a componente tangencial (FT) e
a área (A) de aplicação da força é definida como tensão de cisalhamento (τ).

Tensão de cisalhamento → (N/m2 – SI).

Figura 3 – Definição de tensão de cisalhamento (τ). Fonte: Brunetti (2005).

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Na experiência das duas placas, após um intervalo de tempo dt, a placa superior adquire
velocidade constante (v0). Isso demonstra que a força externa (FT) é equilibrada por forças internas
ao fluido, visto que, não existindo aceleração, a força resultante deve ser nula (2ª Lei de Newton).
A variação da velocidade do fluido (de zero na placa inferior até v0 na placa superior –
princípio da aderência) na direção y gera o deslizamento entre camadas adjacentes do fluido.

Figura 4 – Diagrama de velocidade e forças viscosas. Fonte: Brunetti (2005).

O deslizamento entre camadas origina tensões de cisalhamento, que, multiplicadas pela

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área da placa, originam uma força tangencial interna ao fluido. A Figura 4 mostra o aparecimento
das tensões de cisalhamento internas (τ) devido à velocidade relativa v1 – v2. Newton verificou
que, em muitos fluidos, a tensão de cisalhamento é proporcional ao gradiente de velocidade,
estabelecendo a seguinte lei:
Lei de Newton da Viscosidade - a tensão de cisalhamento (τ) é diretamente proporcional
ao gradiente de velocidade .

Eq. (07)

Para estabelecer a igualdade da relação da lei de Newton, é definida a constante de


proporcionalidade, denominada viscosidade absoluta ou dinâmica, como na Equação 08. Os
fluidos que obedecem a essa lei são chamados fluidos newtonianos.

Eq. (08)

Fluido ideal é aquele cuja viscosidade é nula, ou seja, não há forças tangenciais de atrito
entre as camadas adjacentes do fluido (não existe na prática).
A maior parte dos fluidos comuns (como água, ar, gasolina e óleo) são fluidos newtonianos.
Creme dental, piche, tintas e soluções de amido são exemplos de fluidos que não seguem a lei de
Newton da viscosidade, e esses fluidos são denominados fluidos não newtonianos.

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Para os fluidos newtonianos, há uma relação linear entre a tensão de cisalhamento e a


taxa de deformação e, para os fluidos não newtonianos, a relação é não linear, como pode ser
observado na Figura 5.

Figura 5 – Fluidos newtonianos e não newtonianos. Fonte: Os autores.

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Os fluidos não newtonianos apresentam viscosidade aparente (η). Os fluidos
pseudoplásticos são aqueles para os quais os valores da viscosidade aparente diminuem à medida
que se aumenta a taxa de deformação e são exemplos de fluidos pseudoplásticos: soluções com
partículas em suspensão, soluções poliméricas e outros. Os fluidos dilatantes têm os valores da
viscosidade aparente aumentados à medida que se aumenta a taxa de deformação e são exemplos
de fluidos dilatantes: areia em suspensão, solução de amido e outros. Existem fluidos, como creme
dental, que inicialmente resistem a baixos valores de taxa de cisalhamento (e se comportam como
sólidos inicialmente) e, ao excederem um valor limite de tensão, passam a escoar como um fluido.
Esse tipo de fluido é denominado plástico de Bingham.
A viscosidade em líquidos e gases é afetada fortemente pela temperatura. Em líquidos, o
aumento da temperatura ocasiona diminuição no valor da viscosidade. Isso porque, em líquidos,
a viscosidade é causada pela coesão entre as moléculas e, à medida que se tem a temperatura
aumentada, há distanciamento entre as moléculas, o que, por sua vez, diminui a coesão e, por
consequência, há diminuição do valor da viscosidade. Já nos gases, a viscosidade é causada pelos
choques entre as moléculas gasosas. Dessa maneira, um aumento na temperatura ocasionará
aumento no número de colisões entre as moléculas, o que, consequentemente, aumentará o valor
da viscosidade.
A viscosidade cinemática do fluido (ν) é a razão entre os valores da viscosidade absoluta
do fluido e a sua massa específica. Assim,

Eq. (09)

A análise das dimensões dessa grandeza nos permite afirmar que as possíveis unidades
são: m2 ⁄ s, cm2 ∕ s, etc.

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Viscosidade absoluta, viscosidade aparente e viscosidade cinemática? E agora,


professor???
A viscosidade é a propriedade inerente ao fluido, pela qual este oferece resistência
ao cisalhamento, isto é, trata-se da medida da resistência do fluido à fluência quando
sobre ele atua uma força exterior. Dessa maneira, não se pode confundir viscosidade
absoluta, viscosidade aparente e viscosidade cinemática. A viscosidade absoluta
(ou dinâmica) é a viscosidade apresentada por fluidos que seguem a Lei de
Newton da Viscosidade (fluidos newtonianos) e é constante, independentemente
dos valores da tensão de cisalhamento e taxa de deformação às quais o fluido está
submetido. Por outro lado, os fluidos não newtonianos (aqueles que não seguem
a Lei de Newton da Viscosidade) apresentam viscosidade aparente, e esse valor
varia de acordo com a tensão de cisalhamento e taxa de deformação às quais
esse fluido está submetido. Por fim, a viscosidade cinemática é a razão entre o
valor da viscosidade (absoluta ou aparente) e a massa específica do fluido.

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A decomposição de forças num plano inclinado é de grande
importância para entendermos alguns fenômenos, e isso nos
auxiliará na resolução do próximo exemplo.
Assista ao vídeo Dinâmica - Entendendo o plano inclinado.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=99uVkglDDn0.

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Exemplo 12

Um experimento consiste em um sistema de duas placas, sendo que uma está imóvel
(v1 = 0), e a outra é puxada com uma força horizontal por unidade de área igual a 15 Pa,
como ilustrado na Figura 6.

Figura 6 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Um fluido viscoso ocupa o espaço entre as duas placas, que se situam a D = 15 mm


uma da outra. Devido à viscosidade do fluido, a placa de cima se move paralelamente à

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primeira, com v2 = 300 cm/s. Determine a viscosidade absoluta do fluido.
Solução: Admitindo que o fluido em apreço seja newtoniano, podemos usar a Eq. (08)
e determinar o valor da viscosidade absoluta desse fluido. Note que a referida equação
é, na verdade, uma equação diferencial ordinária de primeira ordem, que pode ser
resolvida por separação de variáveis. Assim,

Resolvendo as integrais anteriores, isso resulta em

Dessa forma, a viscosidade do fluido pode ser calculada por meio da equação

Como e, substituindo na equação anterior, temos que a viscosidade de um fluido


newtoniano pode ser determinada por meio da equação

Do enunciado, depreende-se que = 15 Pa, D = 15 mm = 0,015 m e V = 300 cm/s =


3 m/s. Substituindo, temos que

Logo, o valor da viscosidade absoluta do fluido é igual a 0,075 Pa.s.

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Exemplo 13
Na Figura 7, observa-se uma placa quadrada cuja área da base é 2 m2 e massa 2 kg,
que desliza sobre uma lâmina de óleo depositada sobre um plano inclinado em 30º em
relação à horizontal. A viscosidade desse óleo é 0,4 Pa.s, e a espessura da lâmina é de 10
mm. Admita que a lâmina de óleo não escorra pelo plano inclinado, que o escoamento
entre a placa e o plano seja laminar e que a aceleração da gravidade local seja igual a 10
m/s2. Nessas condições, determine a velocidade terminal da placa escoando pelo plano
inclinado.

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Figura 7 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: Como o fluido em apreço é óleo e esses são fluidos newtonianos, a Eq. (08)
pode ser empregada. Resolvendo essa equação diferencial, escrevemos a equação para
determinar o valor da velocidade

em que é a espessura da camada de óleo. Do enunciado, temos que = 10mm =


0,01m; μ = 0,4 Pa.s; m =2kg. A força que atua nesse sistema é a força peso, ou seja, P =
2 X 10 = 20 N. No entanto, devemos considerar apenas a componente da força que atua
paralelamente ao escoamento. Assim, efetuando a decomposição dessa força, resulta
que a força paralela ao escoamento será FH = 20 sen(30º) = 10N. Assim, a velocidade
terminal da placa é

Logo, a velocidade terminal da placa é igual a 0,125 m/s.

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Exemplo 14
A placa da Figura 8 está apoiada no topo de um filme fino de água, que está a 25º C.
Quando uma força F é aplicada, o perfil de velocidade através da espessura de fluido é
descrito por
V = 40y – 800y2
em que V está em m/s e y, em m. Nessa situação, considerando que o fluido em
escoamento seja newtoniano, de viscosidade cinemática 10-6 m2/s e massa específica
1000 kg/m3, determine:
A) o valor do módulo da tensão de cisalhamento no ponto localizado sobre a superfície fixa.
B) o valor do módulo da tensão de cisalhamento no ponto localizado sobre a placa móvel.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1


Figura 8 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: Por hipótese, o fluido em escoamento é newtoniano e, dessa maneira, podemos


aplicar a lei de Newton da viscosidade – Eq. (08). Assim,

Note que a taxa de deformação – – é a derivada do perfil de velocidade em relação


ao raio, isto é,

Assim, a expressão que calcula o valor em módulo da tensão de cisalhamento é dada


por: τ=[40-1600y]μ. Como μ=ν ρ, segue que τ = [40-1600y]νρ.
Do enunciado, depreende-se que ν = 10-6 m2/s; ρ = 1000 kg/m3. Substituindo na equação
anterior, segue que τ = [40-1600y] × 10-6 × 1000
Logo, o valor do módulo da tensão de cisalhamento na superfície fixa (y = 0) é
τ = [40 – 1600 × 0] × 10-6 × 1000 = 0,04 Pa
Temos, ainda, que a tensão de cisalhamento num ponto localizado sobre a placa móvel
(y = 15 mm = 0,015 m) é
Τ = [40 – 1600 × 0,015] × 10-6 × 1000 = 0,016 Pa
Note que o maior valor de tensão de cisalhamento se desenvolveu sobre a superfície fixa,
e não sobre a superfície móvel, pois o gradiente de velocidade é máximo na superfície
fixa.

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4 PRESSÃO E ESTÁTICA DOS FLUIDOS

A estática dos fluidos é a parte da mecânica dos fluidos que estuda o comportamento do
fluido em uma condição de equilíbrio estático. O ponto fundamental desse estudo será o conceito
de pressão.
Pressão média é definida como a força normal (FN) exercida sobre um fluido por unidade
de área (A), como apresenta a equação a seguir:

Eq. (10)

A unidade de pressão no SI é o N/m2 (newton por metro quadrado), que usualmente é


conhecido por Pascal (Pa). Podemos fazer uso das unidades: 1kPa = 103 Pa = 103 N/m2 e, também,
1MPa = 106 Pa = 106 N/m2.
Outros exemplos de unidades de pressão, baseadas na sua definição (P=F/A), são: kgf/m2,
kgf/cm2, lbf/in2 (psi), N/cm2 etc.
Note que a pressão é diretamente proporcional à força e inversamente proporcional à

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1


área de aplicação da força, ou seja, quanto menor a área, maior será a pressão, como ilustrado
na Figura 9, na qual é aplicada uma força normal F= 100 N no êmbolo de dois pistões de áreas
diferentes, e as pressões resultantes são diferentes.

Figura 9 – Definição de pressão. Fonte: Brunetti (2005).

Pressão atmosférica (Patm): é a pressão que o ar, presente na atmosfera, exerce sobre
a superfície do planeta. A pressão atmosférica varia com a altitude, sendo que, em pontos
mais elevados (de maior altitude), a pressão é menor. Por esse motivo, o valor de referência da
pressão atmosférica é medido em relação ao nível do mar, numa unidade denominada atmosfera
(atm). Uma outra unidade de medida utilizada é o milímetro de mercúrio (mm Hg) devido ao
experimento de Torricelli, que mostrou que a pressão atmosférica ao nível do mar equivale à
pressão exercida por uma coluna de 760 mm de mercúrio (Hg).
A seguir, são mostradas algumas relações de unidades de pressão (algumas delas serão
discutidas em tópicos posteriores).

Patm = 1atm = 760 mm Hg = 101,23 kPa = 1,033 kgf/cm2 = 14,7psi = 10,33 mca = 1,01bar

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A pressão atmosférica também é denominada pressão barométrica devido ao fato de o


barômetro ser um instrumento utilizado para sua medida.
A pressão em uma dada posição é denominada pressão absoluta e é medida em relação
ao vácuo absoluto. No entanto, a maioria dos dispositivos medidores de pressão é calibrada
para efetuar a leitura do zero na pressão atmosférica, e essa pressão é denominada de pressão
manométrica, como pode ser observado na Figura 10. Assim,

Pressãoabsoluta = Pressãoatmosférica + Pressãomanométrica Eq. (11)

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1


Figura 10 – Pressão absoluta e pressão manométrica. Fonte: Os autores.

A pressão é uma grandeza escalar, isto é, ela tem uma intensidade, e não uma direção
específica. Dessa forma, a pressão, em qualquer ponto de um fluido, é igual em todas as direções.
A magnitude do valor da pressão em fluidos aumenta com o aumento do valor da profundidade,
e esse fato é apresentado pelo Teorema de Stevin.

4.1 Teorema de Stevin

A diferença de pressão entre dois pontos de um fluido em repouso é igual ao produto do


peso específico (y) do fluido pela diferença de cotas dos dois fluidos (∆h). A Figura 11 mostra a
diferença de pressão entre A e B.

Figura 11 – Teorema de Stevin. Fonte: Fox, McDonald e Pritchard (2012).

Escrevendo o Teorema de Stevin como uma equação, temos:

P = γ ∆h = ρ g ∆h Eq. (12)

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Desse importante teorema, podem-se ressaltar as seguintes considerações:


A pressão no interior do fluido depende somente do fluido (propriedade: peso específico
ou densidade) e da profundidade (h). Pontos de um mesmo fluido num mesmo nível horizontal
possuem a mesma pressão. Na Figura 12, os pontos A, B, C e D estão no mesmo nível horizontal,
logo, têm a mesma pressão. Idem para os pontos E, F e G.

Figura 12 – Pontos de um fluido num mesmo nível horizontal. Fonte: Os autores.

A pressão exercida pelo fluido num ponto com profundidade h, medida em relação à
superfície livre do fluido, pode ser calculada por P = γ.h (Figura 13).

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1


Figura 13 – Pressão no interior do fluido. Fonte: O autor.

Note que, para a pressão total (ou absoluta) no ponto, a pressão atmosférica deve ser
somada à pressão do fluido. Nos gases, como o peso específico é pequeno, se a diferença de cota
entre dois pontos não for muito grande, pode-se desprezar a diferença de pressão entre eles.

Exemplo 15
Um tanque cilíndrico é preenchido por um óleo cuja massa específica é igual a 2500
kg/m3. O óleo ocupa o tanque até a altura de 5 m, sendo que, na superfície do óleo, a
pressão é a atmosférica, que foi estimada em 105 Pa. Determine a pressão absoluta na
base do tanque, em kPa.
Solução: Da Eq. (11), segue que a pressão absoluta é a soma da pressão atmosférica, que,
no enunciado, é dito ser 105 N/m2, com a pressão hidrostática, que é calculada pela Lei
de Stevin. Assim, a pressão hidrostática é

Logo, a pressão absoluta no fundo do tanque é

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Exemplo 16

A pressão absoluta medida em um ponto no fundo do Oceano Atlântico foi de 100


atm. Sabe-se que: (i) a pressão atmosférica local equivale a 1 atm = 105 Pa; (ii) a massa
específica da água do mar vale 1,05 x 103 kg/m3; e (iii) a aceleração da gravidade local
é de 9,8 m/s2. Determine a profundidade, em relação ao nível do mar, onde foi feita a
medição da pressão.
Solução: Sabemos que a pressão absoluta é a soma da pressão manométrica (ou
hidrostática) com a pressão atmosférica. Dessa forma, depreende-se do enunciado que
a pressão hidrostática no fundo do oceano é igual a 99 atm = 9,9 × 106 Pa. Aplicando
a Lei de Stevin, podemos determinar o valor da altura na qual ocorre esse valor de
pressão hidrostática.
9,9 × 106 = 1,05 x 103 × 9,8 × ∆h ⇒ ∆h = 962,1 m.
Logo, a profundidade em relação ao nível do mar era de, aproximadamente, 962,1 m.

Exemplo 17

Em uma barragem, uma comporta quadrada de 1 m de lado está posicionada a 2 m de


profundidade, como ilustrado pela Figura 14.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1


Figura 14 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Sabendo que a massa específica da água é 1000 kg/m3 e a aceleração gravitacional é 10


m/s2, determine a força que a água exerce sobre essa comporta.
Solução: Sabemos que a pressão é a razão entre a força perpendicular que atua num
objeto pela área de atuação da força. Pela Lei de Stevin, a pressão hidrostática é
P = ρ g ∆h = 1000 × 10 × 2,5 = 25000 Pa
Observe que ∆h=2,5m, e não 2 m. Temos que recordar que a pressão atuará no centro
de gravidade da comporta, que, nesse caso, está a 2,5 m abaixo do nível da água na
placa. Temos que a área da comporta é igual a 1 m2. Daí, a força que atua na placa é
25000 = F/1 ⇒ F = 25000 N = 25 kN. Logo, a força que atua na comporta é igual a 25 kN.

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4.2 Lei de Pascal

A pressão aplicada num ponto de um fluido em repouso transmite-se integralmente a


todos os pontos do fluido. Essa lei tem relevância em dispositivos que transmitem e ampliam uma
força por meio da pressão aplicada num fluido. Tal dispositivo é mostrado na Figura 15 – prensa
hidráulica utilizada para elevar um carro.

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Figura 15 – Prensa hidráulica. Aplicação da Lei de Pascal. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

A pressão P1 exercida por F1 no êmbolo 1 transmite-se integralmente para o êmbolo 2,


de modo que P1 = P2 = P. Como A2 >> A1, tem-se um ganho mecânico considerável no êmbolo 2,
mesmo aplicando uma força F1 de pequena intensidade. Matematicamente:

A prensa hidráulica é o exemplo clássico da aplicação do Princípio


de Pascal.
Para visualizar o funcionamento de uma prensa hidráulica, acesse
o vídeo disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=Gg0pp61xKtQ.

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Exemplo 18
Em uma oficina, um carro encontra-se suspenso por meio de uma prensa hidráulica,
como apresentado na Figura 16.

Figura 16 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1


O diâmetro, D, do êmbolo maior que sustenta o carro é igual a 30 cm, enquanto que o
diâmetro, d, do êmbolo menor é igual a 2,5 cm. Considere que o fluido interno na prensa
seja ideal e que as massas dos êmbolos sejam desprezíveis. Se a massa do carro, suspenso
no êmbolo de maior diâmetro, é de 2000 kg, determine a força a ser desenvolvida pelo
compressor de ar (B) para subir o macaco (A) à velocidade constante.
Solução: Segue do Princípio de Pascal que a pressão exercida pelo compressor é
transmitida igualmente para todos os pontos no interior da prensa. Dessa forma, como
o sistema está em equilíbrio estático, escrevemos

em que P é a pressão, F é a força normal e A é a área. Como a força que atua no sistema
é o peso e essa grandeza é o produto da massa do objeto com a gravidade, segue, após
simplificações algébricas, que

em que m é a massa e d, D são diâmetros dos êmbolos menor e maior, respectivamente,


e g é a aceleração gravitacional. Daí,

Logo, a força a ser desenvolvida pelo compressor é de 138,9 N.

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4.3 Carga de Pressão

Segundo o teorema de Stevin, P = γ.h, pressão e altura mantêm uma relação constante
para um mesmo fluido. É possível expressar, então, a pressão num certo fluido em unidade de
comprimento – relativo à unidade de altura:

Essa altura, h, é denominada carga de pressão. É bastante comum, na prática, expressar a


carga de pressão num ponto de tomada de pressão. A unidade de comprimento usualmente vem
acompanhada da especificação do fluido. Exemplos de medidas de carga de pressão: m.c.a. (metros
de coluna d’água); mmHg (milímetros de mercúrio), cmHg (centímetros de mercúrio) etc.
Num fluido estático, a determinação da carga de pressão num ponto do fluido é óbvia,
conforme mostra a Figura 17, em que as cargas de pressão nos pontos A e B são hA e hB,
respectivamente.

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Figura 17 – Carga de pressão nos pontos A e B. Fonte: Brunetti (2005).

Num fluido escoando numa tubulação sob determinada pressão, pode-se verificar a carga
de pressão de fluido por meio da abertura de um pequeno orifício no tubo, canalizando o fluido
num tubo de vidro acoplado ao orifício, conforme mostra a Figura 18. O fluido no tubo de vidro
“sobe” até uma altura h, correspondente à carga de pressão do fluido. Esse dispositivo pode ser
utilizado para medir pressão e é denominado piezômetro.

Figura 18 – Esquema de um piezômetro. Fonte: Brunetti (2005).

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4.4 Medidores de Pressão

O manômetro é o instrumento utilizado para se efetuar a medição da pressão. No setor


industrial, existem diversos tipos e aplicações para os manômetros. Alguns exemplos são:

a) Manômetros utilitários: Recomendo para compressores de ar, equipamentos


pneumáticos, linhas de ar, de gases, de líquidos e instalações em geral.
b) Manômetros industriais: São manômetros de construção robusta, com
mecanismo reforçado e recursos para ajuste. São aplicados como componentes
de quase todos os tipos de equipamentos industriais.
c) Manômetros herméticos ou com glicerina: São manômetros de construção
robusta, com mecanismo reforçado e recursos para ajuste. Com a caixa estanque,
pode ser enchida com líquido amortecedor (glicerina ou silicone). Adaptam-
se especialmente às instalações submetidas a vibrações ou pulsações da linha
quando preenchida com líquido amortecedor.
[...]
f) Manômetros de baixa pressão (mmca): São manômetros capsular de latão ou de
aço inox, para medir pressões baixas, aplicadas nos equipamentos de respiração
artificial, ventilação e ar condicionado, teste de vazamentos, queimadores,
secadores, etc. Recomenda-se não operar diretamente com líquidos, pois estes
alteram seu funcionamento.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1


[...]
h) Manômetros sanitários: Os manômetros com selo sanitário, são construídos
totalmente de aço inoxidável para aplicações em indústrias alimentícias,
químicas e farmacêuticas (RODRIGUES, 2018).

Outros exemplos: manômetro para amônia (HH3), manômetro de dupla ação, manômetro
diferencial, manômetro com contato elétrico, manômetros digitais, manômetro para freon etc.
Dentre os principais tipos de manômetros, destacamos o manômetro metálico ou de
Bourbon e os manômetros com tubo em U.

Manômetro metálico ou de Bourbon: são muito empregados para medidas de pressões


e depressões. A leitura é feita na escala efetiva, quando a parte externa do manômetro estiver
exposta à pressão atmosférica. No caso de estar exposto a uma pressão externa diferente da
atmosférica, a pressão lida será a diferença entre a pressão na tomada de pressão e a pressão
externa – Figura 19.

Figura 19 – Leitura no manômetro de Bourbon. Fonte: Brunetti (2005).

Coluna Piezométrica ou piezômetro: faz a leitura da carga de pressão h, conforme


discutido anteriormente. Consiste em um tubo de vidro simples, que, ligado ao reservatório,
permite medir diretamente a altura h, conforme Figura 20. Algumas restrições a seu uso são: a)
não são adequados para líquidos de baixo peso específico (o valor de h será muito grande); b) não
servem para medição de gases, pois escapam; c) não medem pressões negativas.

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Figura 20 – Piezômetro ou coluna piezométrica. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

Manômetro com tubo em U: nesse tipo de manômetro, corrigem-se as restrições do


piezômetro com a instalação de um tubo em U, com a presença de um fluido manométrico de elevado
peso específico (usualmente mercúrio γHg = 13,6) no ponto de tomada de pressão –Figura 21.

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Figura 21 – Tubo em U com fluido manométrico. Fonte: Fox (2009).

Os manômetros de tubo em U ligados a dois reservatórios – Figura 22 – chamam-se


manômetros diferenciais, pois medem a diferença de pressão.

Figura 22 – Manômetro diferencial. Fonte: Brunetti (2005).

4.4.1 Equação manométrica

É a expressão que permite, por meio de um manômetro de tubo em U, determinar a


pressão de um reservatório (ou tanque) ou a diferença de pressão entre dois reservatórios – ponto
onde se pretende medir a pressão. Para determinar essa expressão, basta aplicar o teorema de
Stevin e, segundo Pascal, a pressão se transmite integralmente a todos os pontos de um fluido em
repouso. Veja dois casos em que é feita a análise para obtenção da equação manométrica.

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CASO 1: Deseja-se medir a pressão do gás contido no tanque mostrado na Figura 23.
Para tal, utilizou-se um manômetro em U com um fluido manométrico (γM).

Figura 23 – Medida da pressão de um tanque gás com manômetro em U. Fonte: Os autores.

a. A pressão do gás equivale à pressão no ponto (1), visto que o gás tem pequeno peso
específico e, assim, a pressão pode ser considerada a mesma em todos os pontos ocupados
pelo gás.
b. Os pontos (1) e (2) estão no mesmo nível horizontal, portanto, segundo a lei de Stevin,

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P1 = P2.
c. Para o cálculo de P2, deve-se considerar a pressão das colunas de fluido que estão acima
do ponto (2): Patm (pois o tubo é aberto para atmosfera) mais a pressão da coluna h do
fluido manométrico (P = γM.h), de modo que P2 = Patm + γM.h.
No caso de líquidos, normalmente é utilizada a escala efetiva com Patm =0.
d. Portanto, pode-se calcular Pgas (= P1) a partir da equação:

CASO 2: Deseja-se obter a equação manométrica para determinar a pressão diferencial


(P1 – P2) entre os pontos (1) e (2) de uma tubulação onde escoa um fluido com massa específica
(ρ1) – Figura 24.

Figura 24 – Manômetro diferencial em U. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

a. Nos pontos (1) e (2), é acoplado um tubo em U com a presença de um fluido manométrico
de massa específica (ρ2).

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b. Note que a configuração de equilíbrio que se estabelece no manômetro indica que a


pressão no ponto 1 é maior que a pressão no ponto 2.
c. No manômetro, os pontos A e B estão num mesmo nível horizontal; logo, PA = PB.
d. Para obter a pressão em A e B, consideram-se as colunas de fluidos que estão acima desses
pontos mais a pressão na tubulação (P1 e P2); logo:

Igualando os termos, PA = PB, e rearranjando, obtém-se:


ou

e. Note que a pressão exercida pelo fluido (1), com altura ‘a’, nos dois ramos do manômetro
não precisaria ser considerada nos cálculos, pois se cancela.
Segundo Brunetti (2005), a seguinte regra pode ser aplicada para determinar a equação
manométrica num manômetro em U: começando do lado esquerdo – no manômetro mostrado

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na Figura 25 –, soma-se a pressão PA à pressão das colunas descendentes e subtrai-se aquela das
colunas ascendentes. Note que as cotas são sempre dadas até a superfície de separação de dois
fluidos do manômetro. Tem-se, portanto:

Figura 25 – Regra para obter equação manométrica. Fonte: Brunetti (2005).

Para um estudo mais detalhado dos tópicos apresentados nesta unidade, com
discussão e resolução de exercícios, leia o Capítulo 3 (Pressão e Estática dos
Fluidos) do livro Mecânica dos Fluidos - Fundamentos e Aplicações (de Cengel e
Cimbala, pela editora McGrawHill).

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Exemplo 19

Considere o manômetro em U da Figura 26 e determine a equação manométrica que


permite o cálculo da diferença de pressão entre os pontos A e B. Na figura, considere
que γ1, γ2 e γ3 são os pesos específicos dos fluidos 1, 2 e 3, respectivamente, e que h1, h2
e h3 são, respectivamente, os valores das alturas das colunas de fluidos 1, 2 e 3.

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Figura 26 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: Admita que PA e PB sejam os valores das pressões nas tubulações nos pontos A
e B, respectivamente. Para determinar a equação manométrica dessa instalação, vamos
iniciar as tomadas das medidas das pressões das colunas de fluidos a partir do lado
esquerdo. Assim,
No ponto A e no ponto 1, as pressões são as mesmas (lembre-se de que nos pontos
onde o fluido é o mesmo, na mesma cota as pressões são iguais). Entre os pontos 1 e 2,
descemos uma coluna contendo o fluido 1, de altura h1. Logo, essa pressão é positiva e,
pela Lei de Stevin, seu valor é calculado por meio de ∆P12 = γ1 . h1.
Nos pontos 2 e 3, as pressões são idênticas. Entre os pontos 3 e 4, subimos uma coluna
contendo o fluido 2, de altura h2. Logo, essa pressão é negativa e, pela Lei de Stevin, seu
valor é calculado por meio de ∆P34 = –γ2 . h2.
Entre os pontos 4 e 5, subimos uma coluna contendo o fluido 3, de altura h3. Logo, essa
pressão é positiva e, pela Lei de Stevin, seu valor é calculado por meio de ∆P45 = –γ3 . h3.
Nos pontos 5 e B, as pressões são as mesmas. Assim, juntando esses valores, temos a
equação manométrica escrita como:

PA + γ1 h1 - γ2 h2 - γ3 h3 = PB

Assim, a diferença de pressão entre os pontos A e B é dada por:

PA - PB = ∆P = γ2 h2 + γ3 h3 - γ1 h1

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Exemplo 20

O sistema ilustrado na Figura 27 foi utilizado para medir a pressão do gás contido no
interior de um botijão de gás doméstico. O fluido manométrico é o mercúrio (Hg), cuja
massa específica é 13600 kg/m3.

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Figura 27 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Sabendo-se que, no local, a aceleração da gravidade é 10 m/s2 e que a pressão atmosférica


é 8,00 x 104 Pa, determine o valor da pressão exercida pelo gás, em Pa.
Solução: Admita que PB seja o valor da pressão no interior do botijão. Assim, escrevemos
a equação manométrica para o sistema da seguinte maneira:

PB - 0,40 × 10 × 13600 = Patm


PB - 54400 = 80000 ⇒ PB = 134400 Pa

Logo, a pressão absoluta no interior no botijão é igual a 134,4 kPa. Caso queiramos
determinar apenas a pressão hidrostática, fazemos na equação manométrica anterior
Patm = 0. Assim, a pressão manométrica correspondente é:

PB - 54400 = 0 ⇒ PB = 54400 Pa = 54,4 kPa

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Exemplo 21
No manômetro ilustrado na Figura 28, instalado em uma aula prática de mecânica dos
fluidos, o fluido manométrico é o mercúrio, de massa específica 13,6 g/cm3. Há água, de
massa específica 1,00 g/cm3 no ramo esquerdo, e óleo, de massa específica 0,80 g/cm3
no ramo direito. Considerando a aceleração da gravidade local g = 10 m/s2, determine
a diferença de pressão, PB – PA, em kPa.

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Figura 28 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: Sejam PA e PB os valores das pressões nas tubulações nos pontos A e B,


respectivamente. Segue do enunciado que os pesos específicos do mercúrio, água e óleo
são iguais a 136000, 10000 e 8000 N/m3. Assim, escrevemos a equação manométrica:
PA + 0,3 × sen(30º) × 10000 + 0,6 × sen(30º) × 136000 - 0,9 × sen(30º) × 8000 = PB

Lembre-se de que, ao usar as medidas que constam na figura e que estão em centímetros,
temos de transformá-las para metro. Daí, resolvendo a equação, temos que

PB - PA = 38700 Pa = 38,7 kPa

Logo, a diferença de pressão entre os pontos B e A é igual a 38,7 kPa.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

5 Empuxo

Acreditamos que todos que fazem a leitura deste material já entraram em uma piscina ou
em um riacho. Vocês observaram que nos sentimos mais leves quando estamos dentro da piscina?
Pois bem, esse fato é explicado devido ao surgimento de uma força normal que surge orientada
para cima, denominada empuxo. Note que o empuxo é um tipo de força, e suas unidades são N,
dyna etc.

Princípio de Arquimedes
Todo corpo, quando imerso em um fluido, sofre ação de uma força empuxo orientada
verticalmente para cima, cuja intensidade é igual ao peso do fluido que esse corpo desloca.

Escrevendo o princípio de Arquimedes como uma equação, temos

E = ρ g Vdeslocado Eq. (13)

em que E é o empuxo; ρ a massa específica do fluido; g a aceleração gravitacional; e

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1


Vdeslocado é o volume de fluido deslocado.
O peso aparente de um corpo submerso em um fluido é calculado como:

Paparente = Preal – Empuxo Eq. (14)

Exemplo 22

Um bloco no formato de um cubo de 10 cm de aresta é parcialmente submerso em um


fluido até1/4 de sua altura. Dado que a massa específica do fluido é 900 kg/m3 e que a
aceleração gravitacional é igual a 10 m/s2, determine o empuxo sobre o bloco em N.
Solução: Segue do enunciado que o volume de fluido deslocado é

Vdeslocado = 0,102 × 1/4 × 0,10 = 2,5 × 10-4 m3

Assim, o valor do empuxo é

E = 900 × 10 × 2,5 × 10-4 = 2,25 N

Logo, o valor do empuxo é igual a 2,25 N.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade, vimos conceitos importantes sobre os fluidos, suas propriedades e a


estática dos fluidos – que trata dos fluidos em repouso. A aplicação desses conceitos na resolução
de problemas de Engenharia é de fundamental importância.
A não apresentação de exemplos de cálculos de resolução de problemas relativos aos
conceitos abordados aqui torna necessário, por parte do estudante, a consulta em livros de
“Mecânica dos Fluidos”. Isso será primordial para o bom entendimento dos tópicos estudados
aqui e para a resolução das questões desta unidade.
Novamente, reforçamos a importância para o uso e conversão das unidades de medida e
a consistência dimensional na resolução dos problemas.
A resolução de problemas e a consulta em materiais complementares serão a chave para
o sucesso nesta disciplina.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 1

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

02
DISCIPLINA:
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE
E EQUAÇÃO DA ENERGIA
EM REGIME PERMANENTE

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................38
1 CONCEITOS BÁSICOS...............................................................................................................................................39
1.1 CLASSIFICAÇÕES DE ESCOAMENTO DE FLUIDOS..............................................................................................39
1.1.1 REGIME PERMANENTE E NÃO PERMANENTE (TRANSIENTE)......................................................................39
1.1.2 ESCOAMENTO COMPRESSÍVEL E INCOMPRESSÍVEL....................................................................................39
1.1.3 ESCOAMENTO VISCOSO E NÃO VISCOSO (FLUIDO IDEAL)............................................................................40
1.1.4 ESCOAMENTO LAMINAR E TURBULENTO.......................................................................................................40
1.1.5 ESCOAMENTO UNIDIMENSIONAL, BIDIMENSIONAL E TRIDIMENSIONAL................................................. 41
1.2 SISTEMA E VOLUME DE CONTROLE.................................................................................................................... 41
1.3 TRAJETÓRIAS E LINHAS DE CORRENTE..............................................................................................................42
2 CONSERVAÇÃO DA MASSA – EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE..............................................................................43

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2.1 VAZÃO EM VOLUME E EM MASSA.......................................................................................................................43


2.2 EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE PARA REGIME PERMANENTE.........................................................................47
3 EQUAÇÃO DA ENERGIA – FLUIDO INCOMPRESSÍVEL E REGIME PERMANENTE.............................................53
3.1 TIPOS DE ENERGIA MECÂNICA ASSOCIADA AO ESCOAMENTO......................................................................53
3.2 EQUAÇÃO DE BERNOULLI.....................................................................................................................................54
3.3 EQUAÇÃO DA ENERGIA – FLUIDO REAL..............................................................................................................59
3.4 EQUAÇÃO DA ENERGIA NA PRESENÇA DE MÁQUINA......................................................................................60
3.5 POTÊNCIA DA MÁQUINA E NOÇÃO DE RENDIMENTO......................................................................................62
3.5.1 POTÊNCIA DE BOMBA (POTB) E POTÊNCIA DA TURBINA (POTT).................................................................62
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................64

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INTRODUÇÃO

Visto os conceitos relacionados às propriedades dos fluidos e à estática dos fluidos, nesta
unidade vamos estudar a cinemática (ou dinâmica) dos fluidos, ou seja, o fluido em movimento.
Para fazer uma análise qualitativa e quantitativa do escoamento, precisamos conhecer bem as
equações de conservação de massa e energia.
Iniciaremos esta unidade definindo alguns conceitos básicos relacionados à classificação
dos fluidos. Esses conceitos são muito importantes e permitem um maior detalhamento descritivo
e matemático do tipo de escoamento. Após classificar os escoamentos, iremos estudar a equação
da continuidade ou equação da conservação da massa. Neste item, é importante compreender
bem as equações relacionadas à vazão mássica (em massa) e volumétrica (em volume), bem como
relacionar vazão e velocidade de escoamento. Nos problemas em regime permanente, a vazão
em massa é sempre a mesma (constante) no escoamento, enquanto a velocidade pode variar
conforme variar a área da seção transversal do tubo (ou o diâmetro). A equação da continuidade
será muito utilizada na resolução de problemas.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Para que o fluido escoe de um ponto a outro, deve haver diferença de energia entre os
dois pontos. Por exemplo, o rio escoa da “montanha” para o mar devido à diferença de energia
potencial entre esses dois pontos. Para compreender bem a equação da energia, você deverá saber
sobre os tipos de energia mecânica associada ao escoamento (energia potencial, de pressão e
cinética) e saber aplicá-los nas situações práticas e na resolução de problema.
A equação da energia será apresentada desde uma forma mais simples (sem perdas
de energia e sem máquina) até uma forma mais completa, considerando as perdas e máquina
no trecho de estudo. Também serão apresentados conceitos básicos de máquinas hidráulicas
(bombas e turbinas) e suas implicações na equação da energia.
Bons estudos!

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1 CONCEITOS BÁSICOS

1.1 Classificações de Escoamento de Fluidos

Para melhor caracterizar o escoamento de fluidos, há uma série de classificações que


podem ser relativas a algumas variáveis do escoamento, tais como: variação das propriedades do
fluido (como tempo e espaço), o efeito das forças viscosas à pressão, dentre outras. A seguir, serão
apresentadas algumas dessas classificações.

1.1.1 Regime permanente e não permanente (transiente)

No regime permanente, não há variações com o tempo, ou seja, as propriedades do fluido


são invariáveis em cada ponto com o passar do tempo – no entanto, podem variar de ponto a
ponto. A Figura 1 mostra um exemplo prático de regime permanente: escoamento de um fluido
pela tubulação de um tanque com nível constante (NC). No regime transiente (não permanente),
ocorrem variações com o tempo, sendo este uma variável a ser considerada no problema.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Figura 1 – Escoamento em regime permanente. Fonte: Brunetti (2005).

Na maioria dos casos práticos (análise de processos, balanços de massa e energia,


dimensionamento de equipamentos etc.), é considerado o regime permanente. Em nossas análises
e problemas, consideraremos somente o regime permanente.
Nos problemas que envolvem reservatórios, consideraremos sempre o nível constante –
regime permanente. Reservatório de grandes dimensões é um termo utilizado para considerar
que o nível do reservatório pode ser considerado constante.

1.1.2 Escoamento compressível e incompressível

Um escoamento é classificado como compressível ou incompressível, dependendo do nível


de variação da densidade durante o escoamento. A incompressibilidade é uma aproximação, e um
escoamento é dito ser incompressível se a densidade permanecer aproximadamente constante em
todos os pontos.
Portanto, o volume de cada porção do fluido permanece inalterado durante o decorrer
de seu movimento quando o escoamento for incompressível. As densidades dos líquidos são
essencialmente constantes, desse modo, o escoamento dos líquidos é tipicamente incompressível.
Portanto, os líquidos são usualmente designados como substâncias incompressíveis.

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Ao analisar foguetes, espaçonaves e outros sistemas que envolvem escoamentos de gás em


altas velocidades, a velocidade do gás é frequentemente expressa em termos do número de Mach,
adimensional, definido pela expressão:

em que c é a velocidade do som, cujo valor é 346 m/s no ar à temperatura ambiente e ao


nível do mar. O escoamento é denominado sônico quando Ma = 1, subsônico quando Ma < 1,
supersônico quando Ma > 1 e hipersônico quando Ma >> 1.
Os escoamentos dos líquidos são incompressíveis com alto nível de precisão, mas o nível
de variação da densidade nos escoamentos de gases depende do número de Mach. Os escoamentos
de gases podem ser considerados, em geral, como aproximadamente incompressíveis se as
mudanças de densidade estiverem abaixo de cerca de 5%, que usualmente é o caso quando Ma
< 0,3. Portanto, os efeitos da compressibilidade do ar podem ser desprezados para velocidades
abaixo de cerca de 100 m/s. Observe que o escoamento de um gás não é necessariamente um
escoamento incompressível.

1.1.3 Escoamento viscoso e não viscoso (fluido ideal)

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Quando duas camadas fluidas se movem uma em relação à outra, desenvolve-se uma
força de atrito entre elas, e a camada mais lenta tenta reduzir a velocidade da camada mais
rápida. Tal resistência interna ao escoamento é quantificada pela propriedade do fluido chamada
viscosidade, que é uma medida da aderência interna do fluido. A viscosidade é causada por forças
coesivas entre as moléculas num líquido e por colisões moleculares nos gases.
Não existe fluido com viscosidade nula, assim, todo o escoamento dos fluidos envolve
efeitos viscosos de algum grau. Os escoamentos em que os efeitos do atrito são significativos
chamam-se escoamentos viscosos. Entretanto, em muitos escoamentos de interesse prático, há
regiões onde as forças viscosas são desprezíveis se comparadas às forças inerciais e de pressão.

1.1.4 Escoamento laminar e turbulento

Alguns escoamentos são suaves e ordenados, enquanto outros são um tanto caóticos.
O movimento altamente ordenado dos fluidos, caracterizado por camadas suaves do fluido, é
denominado laminar. A palavra laminar origina-se do movimento de partículas adjacentes do
fluido, agrupadas em “lâminas”.
O escoamento dos fluidos de alta viscosidade (como os óleos com baixas velocidades) é
tipicamente laminar. O movimento altamente desordenado dos fluidos que ocorre em velocidades
altas e que é caracterizado por flutuações de velocidade é chamado de turbulento. O escoamento
de fluidos de baixa viscosidade, como o ar em altas velocidades, é tipicamente turbulento.
O regime do escoamento tem grande influência sobre a potência requerida para
bombeamento. Um escoamento que se alterna entre laminar e turbulento é chamado transitório
(ou de transição). Os experimentos realizados por Osborn Reynolds resultaram na criação
do número adimensional, denominado número de Reynolds, Re, como referência para a
determinação do regime do escoamento.

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1.1.5 Escoamento unidimensional, bidimensional e tridimensional

No escoamento unidimensional, uma única coordenada é suficiente para descrever


as propriedades do fluido enquanto, nos escoamentos bi e tridimensional, são duas e três
coordenadas, respectivamente. Na Figura 2, temos o diagrama de velocidade de escoamentos
unidimensional, v=f(x), e bidimensional, v = f(x,y).

Figura 2 – Escoamentos uni e bidimensional. Fonte: Brunetti (2005).

1.2 Sistema e Volume de Controle

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Um sistema é definido como uma quantidade de matéria ou região do espaço escolhida
para estudo. A massa ou região fora do sistema é denominada vizinhança. A superfície real ou
imaginária que separa o sistema de sua vizinhança é chamada de fronteira. A fronteira pode ser
fixa ou móvel. Num sistema, não há transferência de massa através da fronteira do mesmo –
porém, pode haver transferência de calor e trabalho.
Volume de controle é uma região arbitrária do espaço. O que define o volume de controle é
a superfície de controle, que pode ser física ou conceitual (imaginária). Em geral, compreende um
dispositivo que inclui escoamento de massa, tal como um compressor, trecho de uma tubulação,
bomba, turbina, bocal etc.
O escoamento através desses dispositivos é mais bem estudado selecionando-se, dentro
do próprio dispositivo, a região a ser usada como volume de controle. Ambas, massa e energia,
podem cruzar a fronteira do volume de controle. A Figura 3 mostra um sistema que consiste
numa massa fixa de gás contida num pistão (a fronteira pode ser móvel, havendo variação de
volume) e um volume de controle onde há escoamento de massa através da de sua fronteira.

Figura 3 – Sistema e volume de controle. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

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1.3 Trajetórias e Linhas de Corrente

Trajetória é o lugar geométrico dos pontos ocupados por uma partícula em instantes
sucessivos. Uma visualização da trajetória será obtida por meio de uma fotografia, com tempo
longo de exposição, de um flutuante colorido colocado num fluido em movimento (BRUNETTI,
2005), conforme mostra a Figura 4.

Figura 4 – Trajetória de uma partícula. Fonte: Brunetti (2005).

Linha de corrente é a linha tangente aos vetores da velocidade de diferentes partículas


no mesmo instante – o tempo não é uma variável, já que a noção se refere a certo instante
(BRUNETTI, 2005). As linhas de corrente e as trajetórias coincidem geometricamente no regime
permanente.

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Figura 5 – Linha de corrente. Fonte: Brunetti (2005).

Tubo de corrente é a superfície de forma tubular formada pelas linhas de corrente que se
apoiam numa linha geométrica fechada qualquer.
São propriedades dos tubos de corrente:

a. Os tubos de corrente são fixos quando o regime é permanente.


b. Os tubos de corrente são impermeáveis à passagem de massa, isto é, não existe passagem
de partículas de fluido através do tubo de corrente.

Figura 6 – Tubo de corrente. Fonte: Brunetti (2005).

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2 CONSERVAÇÃO DA MASSA – EQUAÇÃO DA CONTINUIDADE

2.1 Vazão em Volume e em Massa

A quantidade de fluido que escoa na tubulação será dada em termos de vazão. A vazão
pode ser dada em termos volumétrico e mássico. A seguir, serão apresentadas as definições.
• Vazão em volume (Q): é a quantidade em volume de fluido que atravessa uma dada seção
do escoamento por unidade de tempo.

Eq. (01)

As unidades podem ser: m3/s (SI), Litros/s, m3/h ou qualquer outra unidade de volume
por unidade de tempo. Existe uma relação importante entre a vazão em volume e a velocidade
do fluido. A vazão em volume pode ser calculada pelo produto da velocidade média do fluido e a
área da seção transversal da tubulação:

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Eq. (02)

A Figura 7 ilustra o significado físico da Eq. (02).

Figura 7 – Vazão x velocidade e área da seção do tubo. Fonte: Os autores.

Note que o produto Velocidade x Área tem as unidades de vazão:

(SI).

No entanto, essa expressão é válida somente se a velocidade for uniforme na seção.


Na maioria dos casos práticos, o escoamento não é unidimensional; contudo, considerando
a velocidade média na seção como uma velocidade uniforme (que, substituída no lugar da
velocidade real, reproduziria a mesma vazão na seção), obtém-se a seguinte expressão para o
cálculo da velocidade média:

Eq. (03)

Para efeito de cálculos e resolução de problemas, estaremos sempre considerando a


velocidade média na seção. A Figura 8 mostra as velocidades média e real na seção de escoamento.

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Figura 8 - Velocidade média e real do escoamento. Fonte: Brunetti (2005).

• Vazão em massa (Qm): é a quantidade, em massa, de fluido que atravessa uma dada seção
do escoamento por unidade de tempo.

Eq. (04)

As unidades podem ser: kg/s (SI), g/s, kg/h, ton/dia ou qualquer outra unidade de massa
por unidade de tempo. Utilizando a definição de massa específica, podemos escrever:

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Eq. (05)

Eq. (06)

Exemplo 1

Uma torneira leva 200 s para encher um tanque de água de volume 10 litros. Considerando
que a área de saída da torneira é A = 5 cm2, determine a velocidade de saída Vs da água
na torneira, em m/s.
Solução: Considerando regime permanente e aplicando a Eq. (01), temos que a vazão
volumétrica é igual a

Agora, aplicando a Eq. (02), segue que a velocidade de saída da água será igual a

Logo, a velocidade de saída da água pela torneira é igual a 0,1 m/s.

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Exemplo 2

(FGV) Considerando uma rede de esgotos que escoa por uma tubulação circular de 100
mm de diâmetro, determine a vazão desse esgoto, sendo a velocidade do fluido de 1,5
m/s:
(A) 0,0118 L/s. (B) 11,8 L/s. (C) 117,8 L/s. (D) 5,54 L/s. (E) 15,54 L/s.
Solução: Considerando o regime permanente e aplicando a Eq. (02), segue que

Logo, a vazão volumétrica é, aproximadamente, igual a 11,8 l/s, e responde à questão a


alternativa (B).

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Exemplo 3

Calcule a vazão mássica e volumétrica de um líquido que escoa por uma tubulação de
0,3 m de diâmetro, sendo que a velocidade de escoamento é igual a 1,0 m/s e a massa
específica do fluido é igual a 950 kg/m3.
Solução: Admitindo regime permanente, fluido incompressível e aplicando a Eq. (06),
segue que

Logo, a vazão mássica de escoamento é, aproximadamente, igual a 67,2 kg/s.

Exemplo 4

Um fluido incompressível escoa, permanentemente, com velocidade de 0,8 m/s em uma


tubulação cilíndrica com 5,0 cm de diâmetro. Se a massa específica do fluido é igual a
750 kg/m3, determine a vazão mássica do escoamento.
Solução: Admitindo regime permanente, fluido incompressível e aplicando a Eq. (06),
segue que

Logo, a vazão mássica de escoamento é, aproximadamente, igual a 1,2 kg/s.

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Exemplo 5

O perfil de velocidade em um escoamento laminar, incompressível e completamente


desenvolvido entre em um tubo circular de 15 m de comprimento, é dado pela expressão:

em que R é o raio do tubo, r é a distância radial do centro do tubo e Vmáx é a velocidade


máxima do escoamento que ocorre no centro do tubo, como mostrado na Figura 9.

Figura 9 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Nessa situação, considerando que o fluido em escoamento seja newtoniano de massa


específica 1000 kg/m3, Vmáx = 2 m/s e que o raio da tubulação é R = 10 cm, determine a

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


velocidade média desse escoamento, em m/s.
Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, temos do enunciado
que o perfil de velocidade do escoamento pode ser escrito como:

Da Eq. (03), temos que

Na situação descrita, como a tubulação apresenta seção transversal na forma de círculo,


segue que A = π r2 e, daí, dA = 2 π r dr. Assim, reescrevemos a Eq. (08) como:

Na integral anterior, como o escoamento é unidimensional, a variação da velocidade é


na direção radial, e o raio está variando de 0 até 0,10 m. Assim,

Portanto, a velocidade média de escoamento é igual a 1 m/s.

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2.2 Equação da Continuidade para Regime Permanente

A equação da continuidade considera que a vazão em massa de um fluido qualquer


(líquido ou gás) em regime permanente é constante. Isso decorre do fato de que, em regime
permanente, não há fluxo lateral de massa num tubo de corrente. Logo, para um fluido qualquer,
a vazão que entra no volume de controle Qm1 é igual à vazão que sai Qm2 (Figura 10).
Esse fato fica equacionado como:

Qm = ρ V A Eq. (07)

Como Qm1 = Qm2, segue que

ρ1 V1 A1 = ρ2 V2 A2 Eq. (08)

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Figura 10 - Equação da continuidade para um fluido qualquer num tubo de corrente. Fonte: Os autores.

No caso de o fluido ser incompressível, a massa específica ρ é a mesma na entrada e na


saída do volume (ρ1 = ρ2), logo, para fluidos incompressíveis, podemos considerar que a vazão em
volume também é constante.

V1 A1 = V2 A2 Eq. (09)

Exemplo 6
Um gás escoa, em regime permanente, no trecho de uma tubulação como apresentado
na Figura 11.

Figura 11 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Na seção (A), tem-se área igual a 20 cm2, massa específica de 4 kg/m3 e velocidade igual
a 30 m/s. Na seção (B), tem-se área igual a 10 cm2, massa específica de 12kg/m3. Qual a
velocidade na seção (B)?
Solução: Admitindo regime permanente e aplicando a Eq. (09), segue que ρA VA AA = ρB
VB AB. Substituindo os valores apresentados no enunciado, temos
4 × 30 × 0,002 = 12 × VB × 0,001 ⇒ VB = 20 m/s
Logo, a velocidade na seção B é igual a 20 m/s.

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Exemplo 7
Considere o escoamento de um fluido de processo industrial num tubo convergente-
divergente, tal como o da Figura 12. Considerando-se o escoamento do fluido em
regime permanente através do tubo de Venturi apresentado e que o índice 1 se refere à
seção de entrada do tubo e o 2, à seção da garganta, determine a velocidade na seção de
entrada, em m/s.

Figura 12 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: Admitindo regime permanente, fluido incompressível e aplicando a Eq. (09),

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


segue que ρ1 V1 A1 = ρ2 V2 A2. Como o fluido em apreço é incompressível, segue que sua
massa específica não será modificada no escoamento. Assim, temos que V1 A1 = V2 A2.
Daí,

V1 × 0,003 = 10 × 0,0006 ⇒ V1 = 2 m/s

Logo, a velocidade na seção 1 é igual a 2 m/s.

Observações sobre a equação da continuidade de fluidos incompressíveis:

• No escoamento mostrado na Figura 13, ocorre uma redução da seção transversal do tubo
na seção 2 (A2). Logo, a velocidade em (2) irá aumentar, visto que v1. A1 = v2. A2. No caso
inverso (aumento da seção), a velocidade diminui.

Figura 13 - Redução da seção transversal do tubo. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

• No caso de os diâmetros nas seções (1) e (2) serem iguais (d1 = d2 → A1 = A2), as velocidades
nas seções (1) e (2) serão também iguais, visto que v1. A1 = v2. A2.
• Para o caso de diversas entradas e saídas de fluidos, a equação da continuidade pode ser
generalizada para:

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Fluido qualquer:

Fluido incompressível:

O sistema mostrado na Figura 14 ilustra a aplicação da equação da continuidade para


diversas entradas e saídas.

Figura 14 - Equação da continuidade para diversas entradas e saídas. Fonte: Os autores.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Para o sistema apresentado na Figura 14, caso ele apresentasse n entradas e m saídas, a Eq.
(11) ficaria reescrita como

Eq. (10)

A Eq. (10) é conhecida como equação da continuidade, ou lei da conservação da massa,


e é sempre empregada quando o sistema em observação está em regime permanente.

As tubulações em série são formadas por trechos de características distintas, são


interligadas nas extremidades e conduzem vazão constante de um dado fluido.
Por outro lado, as tubulações em paralelo são aquelas que possuem as
extremidades de montante reunidas num só ponto, e as de jusante, em outro ponto.

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Exemplo 8
Um propulsor a jato queima 1,5 kg/s de combustível quando o avião está na velocidade
de 200 m/s, como ilustrado pela Figura 15. Considerando que a massa específica do ar
é igual a 1,2 kg/m3, dos gases de combustão de 0,5 kg/m3, e que na figura A1 = 0,45m2 e
A2 = 0,30 m2, determine a velocidade de saída dos gases de combustão (V2).

Figura 15 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, a equação da


continuidade para múltiplas entradas e saídas é escrita como

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Como temos duas entradas e uma saída, a equação fica reescrita como ρ1 V1 A1 + ρ2
V2 A2 = ρ3 V3 A3, em que os subíndices 1 e 2 denotam as entradas e 3 denota a saída.
Como as massas específicas das duas entradas e da saída são distintas, não podemos
simplificar a expressão anterior. Substituindo os valores, segue que:
1,2 × 200 × 0,45 + 1,5 = 0,5 × V3 × 0,30
V3 = 730 m/s
Logo, a velocidade de saída dos gases de combustão é igual a 730 m/s.

Exemplo 9

Considere o escoamento em estado estacionário de um fluido incompressível, com


massa específica igual a 3,0 × 103 kg/m3, através de uma tubulação da Figura 16.
Admitindo que as vazões mássicas nos pontos 2 e 3 (Figura 16) equivalem a 4,5 kg/s e 3
kg/s, respectivamente, determine a vazão volumétrica no ponto 1, em m3/h.

Figura 16 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: Considerando o regime permanente, fluido incompressível e aplicando a


Eq. (10), segue que Q1 = 4,5 + 3 = 7,5 kg/s. Aplicando a Eq. (09), segue que a vazão
volumétrica é:
QV = 7,5 / 3000 = 2,5 × 10-3 m3/s= 9 m3/h
Portanto, a vazão volumétrica no ponto é igual a 9 m3/h.

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Exemplo 10

Considere o escoamento permanente de água em uma junção em T que une três tubos.
As áreas das seções dos tubos são iguais a 0,15 m2, 0,2 m2 e 0,1 m2, respectivamente.
Sabe-se, também, que: a água entra apenas pela seção de área 0,15 m2; há um vazamento
para fora na junção, com vazão volumétrica estimada em 0,05 m3/s; e as velocidades
médias nas seções de 0,15 m2 e 0,1 m2 são de 15 m/s e 10 m/s, respectivamente. Qual o
módulo da velocidade de escoamento no tubo de seção 0,2 m2, em m/s?
Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, a equação da
continuidade para múltiplas entradas e saídas é escrita como:

Como temos uma entrada e três saídas (a terceira saída é a perda devido ao furo),
a equação fica reescrita como ρ1 V1 A1 = ρ2 V2 A2 + ρ3 V3 A3 + ρp Vp Ap, em que os
subíndices 2 e 3 denotam saídas; 1, entrada; e p, as perdas pelo vazamento. Como o

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


fluido é o mesmo (água) e é incompressível, a equação anterior é reescrita como:
0,15 × 15 = V2 × 0,2 + 10 × 0,1 + 0,05 ⟹ V2 = 6 m/s
Logo, a velocidade de saída na seção 2 é igual a 6 m/s.

Em sua oitava edição, Introdução à Mecânica dos Fluidos, dos autores Robert W.
Fox, Alan T. McDonalds e John C. Leylegian, da editora LTC, mantém o nível de
excelência e traz, como novidade, um espaço destinado às energias renováveis.
O livro contempla toda a ementa da nossa disciplina.
Leitura obrigatória ao(à) futuro(a) engenheiro(a).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 11
Um fluido de processo industrial (ρ = 1000 kg/m³) é descarregado do reservatório (1)
para os reservatórios (2) e (3), como ilustrado na Figura 17.

Figura 17 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Sabendo-se que Q2 = 3/4Q3 e que Q1 = 10 l/s, determine: A) Determine os diâmetros das


tubulações (2) e (3), sabendo-se que as velocidades de saída são v2 = 1m/s e v3 = 1,5m/s.
B) O tempo necessário para se encher completamente os reservatórios (2) e (3).
Solução: Considerando o regime permanente, fluido incompressível e aplicando a Eq.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


(10), segue que Q1 = Q2 + Q3 ou aindaou ainda

e, ainda, Q2 = 4,3 l/s = 4,3 × 10-3 m3/s. Aplicando a Eq. (06), temos que
4,3 × 10-3 = 1 × A1 ⇒ A1 = 4,3 × 10-3 m2
5,7 × 10-3 = 1,5 × A2 ⇒ A2 = 3,8 × 10-3 m2
Admitindo que as seções transversais sejam circulares, segue que os diâmetros das
tubulações 2 e 3 são iguais a

Logo, os diâmetros das tubulações 2 e 3 são, respectivamente, aproximadamente iguais


a 6,60 cm e 4,84cm. Para determinar os tempos necessários para encher os tanques 2 e
3, usaremos a Eq. (01). Assim,
4,3 × 10-3 = 10 / t ⇒ t2 = 2326s = 38min46s
5,7 × 10-3 = 20 / t ⇒ t2 = 3509s = 58min29s
Logo, os tempos necessários para encher os tanques 2 e 3 são, aproximadamente, iguais
a 38 min46s e 58 min29s, respectivamente.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3 EQUAÇÃO DA ENERGIA – FLUIDO INCOMPRESSÍVEL E REGIME


PERMANENTE

3.1 Tipos de Energia Mecânica Associada ao Escoamento

O fluido, para escoar de um ponto a outro em um sistema de escoamento, sempre escoa


de um ponto de maior energia (carga) para um ponto de menor energia.
Em nossos estudos, vamos considerar três tipos de energia mecânica associada ao
escoamento do fluido: carga ou “energia” potencial, carga de pressão e carga cinética. O termo
carga, a que se refere muitas vezes como energia, significa energia por peso de fluido e tem o
metro (m) como unidade de medida no SI.

• Carga Potencial (z): é associada ao estado de energia do sistema devido à sua posição no
campo da gravidade em relação a um plano horizontal de referência (PHR).
Exemplo de aplicação: os reservatórios de abastecimento de água são instalados em pontos
elevados, pois, nesses pontos, a água tem energia potencial gravitacional para escoar até pontos

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


menos elevados. O rio nasce nas montanhas (ponto elevado) para escoar até o nível do mar.

• Carga de Pressão (P/γ): é associada ao trabalho potencial das forças de pressão que
atuam no escoamento do fluido. É dada pela relação entre a pressão do fluido e o seu peso
específico.
Exemplo de aplicação: as bombas centrífugas fornecem aos fluidos líquidos energia
na forma de pressão para escoarem para pontos mais elevados. Para os gases, utilizam-se
compressores.
Atenção com as unidades: a pressão dada em N/m2 (Pa), o peso específico (ρ g) deverá
estar nas unidades de N/m3. A pressão em kgf/m2, o peso específico (ρ g) deverá estar nas unidades
de kgf/m3 – homogeneidade dimensional.

• Carga cinética (v2/2g): é associada ao estado de energia determinado pelo movimento do


fluido, sendo v a velocidade de escoamento e g a aceleração da gravidade (g = 9,8 m/s2).
A carga total (H) é a soma das cargas potencial, cinética e de pressão. Em resumo, temos:

Eq. (11)

em que: é a carga de pressão ou energia de pressão por unidade de peso ou energia


de pressão da partícula de peso unitário; Z é a energia potencial por unidade de peso ou energia
potencial de uma partícula de peso unitário; é a carga cinética, que é a energia cinética por
unidade de peso ou energia cinética de uma partícula de peso unitário; e H é a carga total – soma
das cargas potencial, cinética e de pressão.
Atenção: Todos os termos da equação têm unidade de metro (m) (ou metro de coluna de
fluido – o que é a mesma coisa).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3.2 Equação de Bernoulli

A equação de Bernoulli avalia as condições de energia do fluido num trecho de escoamento


em estudo. Seja o tubo de corrente entre as seções (1) e (2), mostrado na Figura 18, onde um
elemento de massa de fluido dm1 atravessa o trecho em estudo (dm1 = dm2 – regime permanente).
Para formular a equação de Bernoulli, admitem-se as seguintes hipóteses simplificadoras:

a. Regime permanente;
b. Propriedades uniformes nas seções;
c. Fluido ideal – sem perdas por atrito no escoamento do fluido;
d. Fluido incompressível;
e. Sem máquina no trecho de escoamento em estudo – entende-se por máquina qualquer
dispositivo mecânico que forneça ou retire energia do fluido, na forma do trabalho. As
que fornecem energia são bombas, e as que extraem energia do fluido são turbinas;
f. Sem perdas por calor.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Figura 18 - Equação de Bernoulli. Fonte: Brunetti (2005).

Admitindo-se essas hipóteses (veja: não há perda por atrito, não há máquina no trecho,
não há perdas por calor), verifica-se que não é fornecida ou retirada energia do fluido no trecho
em questão, ou seja, a energia do fluido nas seções (1) e (2) é constante – a carga total do fluido
na seção (1) é igual à da seção (2):

Eq. (12)

Essa equação poderá ser enunciada da seguinte forma: se, entre duas seções do escoamento,
o fluido for incompressível, sem atritos e o regime permanente, se não houver máquina nem
trocas de calor, então, as cargas totais se mantêm constantes em qualquer seção, não havendo
nem ganhos nem perdas de carga (BRUNETTI, 2005).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 12

O sistema apresentado na Figura 19 é composto por um reservatório d’água e um tubo


em U, que se encontra totalmente preenchido. A curvatura do tubo está 1 m acima da
superfície da água e 6 m acima da extremidade de saída do tubo, conforme ilustrado.

Figura 19 – Esquema de um reservatório de água. Fonte: Os autores.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Com base nas informações e adotando a aceleração gravitacional de 10 m/s2, qual a
velocidade do jato na extremidade de saída do tubo?
Solução: Admitindo escoamento em regime permanente, fluido incompressível e que o
escoamento seja sem perda de carga, decorre da equação de Bernoulli que:

em que o subíndice 1 denota a região de superfície livre, e o subíndice 2 denota a região


imediatamente após a saída de água. Nas regiões 1 e 2, a pressão é atmosférica, o que
nos permite simplificar os termos e . Como o regime é permanente, segue que
o nível de água no interior do tanque será sempre o mesmo, o que implica o fato de
a velocidade do fluido na região ser igual a zero, pois o fluido está parado i.e. .
Assim, a equação de Bernoulli é escrita, quando simplificada para essa situação, como:

Logo, a velocidade de saída do fluido é igual a 10 m/s.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 13

Uma refinaria envia água (ρ = 1.000 kg/m3) para um tanque de armazenamento à


vazão volumétrica constante de 25 m3/s, por meio de uma tubulação de área de seção
transversal na refinaria igual a 4 m2 e, no tanque de armazenamento, igual a 2 m2.
O tanque está a 150 m de altura, acima da refinaria. Considerando que a aceleração
da gravidade é g = 10 m/s2 e que são válidas as hipóteses de aplicação da equação de
Bernoulli, determine a pressão da água na saída da refinaria para que ela seja recebida
no tanque à pressão de 5 × 105 Pa.
Solução: Admitindo escoamento em regime permanente, fluido incompressível e que o
escoamento seja sem perda de carga, decorre, da equação de Bernoulli, que

em que o subíndice 1 denota um ponto na refinaria e o subíndice 2 denota o tanque de


armazenamento de água. Segue que as velocidades de saída e de recepção da água na
refinaria e tanque são iguais a, respectivamente,

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Substituindo as informações na equação de Bernoulli, segue que

Logo, pressão da água na saída da refinaria é, aproximadamente, igual a 29,4 × 105 Pa.

Exemplo 14
Um fluido, oriundo de um processo industrial, cuja massa específica é igual a 800 kg/
m3, flui pelo conduto ilustrado na Figura 20, de A para B, onde a seção A mede 4 m2 e
a seção B mede 2 m2. Sabendo que a diferença de pressão entre A e B é de 2,4 kPa, qual
o valor da velocidade do fluido na seção A? Considere a aceleração da gravidade local
igual a 10 m/s2.

Figura 20 – Esquema de uma tubulação industrial. Fonte: Os autores.

Solução: Admitindo escoamento em regime permanente, fluido incompressível e que o


escoamento seja sem perda de carga, decorre da equação de Bernoulli que

Como a tubulação está na horizontal, segue que zA = zB. Assim,

(01)

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Da equação da continuidade, segue que VA AA = VB AB


VA × 4 = VB × 2 ⇒ VB = 2VA (02)
Substituindo (02) em (01)

VA = 1,4 m/s
Logo, a velocidade de escoamento do fluido na seção A é igual a 1,4 m/s.

Exemplo 15

Água (ρ = 1000 kg/m3) está escoando em uma tubulação horizontal de diâmetro d, como
mostra a Figura 21. Em determinado ponto da tubulação, foi acoplado um dispositivo
medidor Venturi. Esse dispositivo consiste em um mecanismo que reduz o diâmetro
disponível para o escoamento em uma região do tubo, temporariamente, para d/2, e
um manômetro de mercúrio cujos braços são acoplados em duas regiões da tubulação,
uma delas de diâmetro normal e a outra de diâmetro reduzido, conforme representado

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


na figura.

Figura 21 – Representação de um tubo Venturi. Fonte: Os autores.

Considere que o desnível de mercúrio (ρ = 13600 kg/m3) nos braços do manômetro


seja igual a h e que são válidas as hipóteses da aplicação da equação de Bernoulli. Prove
que a velocidade (V) de escoamento do fluido na tubulação de diâmetro d pode ser
calculada por meio da expressão . Admita que a aceleração gravitacional seja
igual a 10 m/s .2

Solução: Admitindo escoamento em regime permanente, fluido incompressível e que o


escoamento seja sem perda de carga, decorre da equação de Bernoulli que

em que o subíndice A denota a região do tubo com diâmetro d, e B denota a região do


tubo com diâmetro d/2. Como a tubulação está na horizontal, segue que zA = zB. Assim,

Segue que PA – PB é calculado como explicado na Unidade 1 e PA - PB = 126000 h (02)


Segue, agora, da equação da continuidade que VA AA = VB AB.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Substituindo (02) e (03) em (01), temos que

como queríamos demonstrar.

Exemplo 16
Deseja-se fazer um pequeno orifício na parede de um reservatório que contém água, de
forma que a água jorrada atinja exatamente o ponto x, localizado a uma distância de 6
m da base do reservatório, conforme indicado na Figura 22.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Figura 22 – Representação esquemática do exercício. Fonte: Os autores.

Assuma que o reservatório seja aberto e grande o suficiente para que o nível da água, H,
permaneça constante e igual a 10 m, mesmo após a abertura do orifício. Diante dessas
informações, determine o valor, em metros, da distância mínima, y, da lâmina d’água
para que a água atinja o ponto x desejado.
Solução: Admitindo escoamento em regime permanente, fluido incompressível e que o
escoamento seja sem perda de carga, decorre da equação de Bernoulli que

em que o subíndice A denota a região de superfície livre no topo do tanque d, e B denota


a região do tubo imediatamente após o furo. Temos que PA = PB, pois as regiões estão
submetidas à pressão atmosférica. Como o regime é permanente, o nível de água no
tanque não mudará e, consequentemente, a velocidade da água na superfície livre no
interior do tanque é VA = 0. Assim, a equação anterior fica reescrita como

O movimento descrito por uma partícula fluida saindo através do orifício e caindo a
uma distância de 6 m do tanque é um movimento de queda livre. Assim,
e

Daí,

As raízes da equação quadrática anterior são y1 = 9 e y2 = 1. Note que y = 9 não convém


para o problema. Logo, a distância mínima, y, da lâmina d’água para que a água atinja
o ponto x desejado é de 1 m.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Uma abordagem prática muito interessante dos conceitos vistos


nesta unidade é encontrada no vídeo Curso de Aeronáutica –
Capítulo 5 Escoamento Aerodinâmico - Universo Exato. Nele, as
principais definições relativas ao escoamento dos fluidos são vistas
com aplicação no estudo da aerodinâmica.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=-ydKJCuARAc&list=PLSMxdayn964p_
D2ipPzn0ZaEbfXBg_TIk&index=3.

3.3 Equação da Energia – Fluido Real

O fluido ideal não existe na prática: esta é apenas uma aproximação que pode ser utilizada
em alguns casos ou para fins didáticos. Considerando ainda regime permanente, sem máquina
no trecho, sem perdas por calor, no caso do fluido real haverá dissipação de energia à medida que

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


o fluido escoa. A energia dissipada será denominada perda de carga e será especificada por ∆H.
A perda de carga nos sistemas de escoamento é uma propriedade importante para diversos fins e
será mais detalhadamente estudada adiante.
Considerando as seções (1) e (2) de um volume de controle por onde escoa um fluido,
conforme Figura 23, podemos considerar que a carga na seção (2) – H2 – será a carga na seção
(1) – H1 – menos a carga dissipada ∆H1-2 ao longo do trecho 1-2.

H2 = H1 – ∆H1-2

Figura 23 - Perda de carga no trecho. Fonte: Os autores.

Também podemos analisar a perda de carga como a diferença de carga entre as seções (1) e (2).

∆H1-2 = H1 – H2

Portanto, para o caso do fluido real, podemos fazer as seguintes observações:

• À medida que o fluido escoa, ele perde carga.


• O fluido sempre escoa do ponto de maior carga (energia) para o ponto de menor carga
Hmaior → Hmenor (análise válida somente num trecho sem máquina).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3.4 Equação da Energia na Presença de Máquina

Consideraremos, para fluidos incompressíveis, dois tipos de máquinas:

• Bomba: máquina que fornece energia para o fluido escoar. O fluido, ao passar pela bomba,
recebe carga (energia) – HB ou HBomba.

Figura 24 - Bomba fornece energia ao fluido. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

HB: Carga líquida recebida pelo fluido ao passar pela bomba.


A carga líquida recebida pelo fluido corresponde à carga do fluido na saída (Hsai) da
bomba menos a carga do fluido na entrada da bomba (Hent).

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


HB = Hsai – Hent

• Turbina: máquina que extrai energia do fluido – aproveita a energia disponível do fluido para
conversão em energia mecânica. O fluido, ao passar pela turbina, perde carga – HT ou HTurbina.

Figura 25 - Fluido cede energia à turbina. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

HT: Carga líquida cedida pelo fluido à turbina.


A carga líquida cedida pelo fluido corresponde à carga do fluido na saída (Hsai) da turbina
menos a carga do fluido na entrada (Hent) da turbina. Como o fluido perde carga na turbina, o
valor de HT é negativo.
HT = Hsai – Hent

A equação da energia para fluido real na presença de uma máquina deverá considerar
a carga recebida pelo fluido, no caso de uma bomba, e a carga perdida pelo fluido, no caso de
turbina. A Figura 26 mostra o trecho de estudo de um escoamento na presença de uma máquina.

Figura 26 - Escoamento com máquina no trecho. Fonte: Os autores.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

No caso de uma bomba, a carga total do fluido num ponto (2) à jusante da bomba será a
carga inicial do fluido no ponto (1) mais a carga líquida recebida pelo fluido na bomba, menos a
carga dissipada entre os pontos (1) e (2), ou seja:

H2 = H1 + HB – ∆H1-2

No caso de uma turbina, o fluido perde carga HT ao passar pela turbina, logo, HB deverá
ser substituído por – HT na equação da energia:

H2 = H1 + HT – ∆H1-2

Dessa forma, a equação de Bernoulli para escoamento ideal passa a ser reescrita, quando
há presença de máquina do sistema, como:

Eq. (13)

A Eq. (13) afirma que a presença de uma máquina de fluxo no sistema pode acarretar
variações na carga cinética, na carga potencial e na carga de pressão. Ao aplicar a Eq. (13), se o valor
encontrado para HM for positivo, a máquina em apreço é uma bomba; se HM for negativo, a máquina

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


será uma turbina. Caso a máquina em apreço seja uma bomba, HM = HB é a quantidade de energia
específica que a bomba deve fornecer ao sistema hidráulico a fim de manter o fluido em movimento.

Exemplo 17
Um reservatório elevado de grandes dimensões contendo um fluido de processo (massa
específica 800 kg/m3) está conectado a outro reservatório de grandes dimensões por
meio de uma tubulação com 100 mm de diâmetro e vazão volumétrica de 0,75 m3/s,
conforme ilustra a Figura 27.

Figura 27 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

A máquina M foi instalada entre esses tanques, e o sentido do escoamento é de B para


A. Considerando-se a aceleração da gravidade como 10 m/s2, π = 3 e desprezando-se as
perdas de carga, verifique se a máquina M é bomba ou turbina. Justifique sua resposta,
apresentando os cálculos e as hipóteses para aplicação de Bernoulli.
Solução: Admitindo escoamento em regime permanente, fluido incompressível e que o
escoamento seja sem perda de carga, decorre da Eq. (13) que:

(fique atento(a) ao sentido do escoamento!) Os tanques A e B estão sujeitos à pressão


atmosférica. Daí, PB = PA. Como se trata de reservatório de grandes dimensões e o
regime é permanente, temos que VA = VB = 0, pois o fluido está parado. Assim, HM = 0
+ 0 + zB – zA = 10 – 2 = 8m.
Assim, como HM > 0, segue que a máquina em apreço é uma bomba.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3.5 Potência da Máquina e Noção de Rendimento

Potência, por definição, é a energia mecânica (ou trabalho) por unidade de tempo e tem
o Watt (W) como unidade de medida no SI. Dessa forma,

ou, equivalentemente

A potência teórica (Pteórica) requerida é calculada por meio da equação:

Pteórica = ρ g Qv HB Eq. (09)

em que: ρ é a massa específica; g, a aceleração gravitacional; Qv, a vazão volumétrica; e HB


é a carga da bomba calculada a partir da Eq. (13).

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Exemplo 18

No Exemplo 17, vimos que a máquina presente no sistema é uma bomba, pois HM > 0.
Assim, HB = 8m, e a potência teórica desenvolvida pela bomba será

Pteórica = 800 × 10 × 0,75 × 8 = 48.000W

3.5.1 Potência de bomba (PotB) e potência da turbina (PotT)

No caso da presença de uma máquina, verificou-se que a energia fornecida ou retirada do


fluido, por unidade de peso, é indicada por HM (carga manométrica) (BRUNETTI, 2005). Logo,
nesse caso, a potência referente ao fluido será dada por:

• Bomba: potência recebida pelo fluido ao passar pela bomba.


• Turbina: potência cedida pelo fluido à turbina.
Nota-se que, no caso de transmissão de potência, sempre existem perdas (por atrito,
dissipação turbulenta, vazamento interno etc.); dessa forma, a potência transmitida é sempre
menor que a potência recebida.
Logo, é conveniente a definição de rendimento (η) da máquina como a razão entre a
potência recebida e a potência transmitida. No caso da bomba, é esta que transmite potência ao
fluido e, no caso da turbina, a potência é transmitida pelo fluido à turbina. Portanto:

• Bomba:
PotB: potência da bomba ou disponível no eixo da bomba.
: rendimento da bomba – varia na faixa de 0 a 1 (100%).

; ou

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

• Turbina:
PotT: potência da turbina ou disponível no eixo da turbina.
: rendimento da turbina – varia na faixa de 0 a 1 (100%).

; ou

Exemplo 19
Uma instalação de uma refinaria foi construída para transportar 0,05 m3/s de um
derivado de petróleo (massa específica de 850 kg/m3), entre dois tanques, distantes 100
m um do outro, através de uma tubulação de 150 mm de diâmetro, conforme a Figura 28.

Figura 28 – Instalação entre tanques numa refinaria. Fonte: Os autores.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2


Considerando que a aceleração da gravidade é 10 m/s2 e que π é igual a 3 e desprezando
as perdas de carga, determine a potência mínima, de uma bomba, com eficiência de
75%, necessária para essa instalação.
Solução: Considerando regime permanente, fluido incompressível e escoamento ideal,
segue que , pois os dois tanques estão abertos à atmosfera; , pois os níveis dos
tanques não irão se alterar ao longo do processo. Assim, segue da Eq. (08) que:

HM = z2 – z1 = 2m

Agora, segue da Eq. (09) que a potência teórica será:

Pteórica = ρ g Qv HB = 850 × 10 × 0,05 × 2 = 850W

Assim, a potência real será .

Portanto, a potência real mínima é de 1134 W.

Não existe escoamento ideal.

Tubo de pitot, tubo de venturi e placa de orifício são exemplos de instrumentos


utilizados para medição de velocidade e vazão de escoamento dos fluidos. Esses
importantes instrumentos de medida podem, e devem, ser estudados no Capítulo
8 – Noções de Instrumentação para a Medida das Propriedades dos Fluidos e dos
Escoamentos, do livro Mecânica dos Fluidos, de Franco Brunetti.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os assuntos estudados nesta unidade são bastante relevantes, com muitas aplicações
práticas na Engenharia. Por isso, é extremamente importante a consulta em bibliografias
complementares ou outros meios que tratem do assunto.
Pense, reflita e discuta com os(as) seus(suas) colegas sobre aplicações das equações de
conservação de massa e energia, tratadas nesta unidade.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 2

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

03
DISCIPLINA:
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

PERDA DE CARGA EM CONDUTOS


FORÇADOS E SISTEMA ELEVATÓRIO

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................67
1 PERDA DE CARGA......................................................................................................................................................68
1.1 PERDA DE CARGA DISTRIBUÍDA...........................................................................................................................69
1.2 PERDA DE CARGA LOCALIZADA............................................................................................................................72
1.2.1 MÉTODO DOS COEFICIENTES............................................................................................................................73
1.2.2 MÉTODO DOS COMPRIMENTOS EQUIVALENTES...........................................................................................75
2 SISTEMAS ELEVATÓRIOS........................................................................................................................................79
2.1 PARÂMETROS HIDRÁULICOS DE UMA INSTALAÇÃO DE RECALQUE..............................................................80
2.1.1 ALTURA GEOMÉTRICA (HG).................................................................................................................................80
2.1.2 ALTURA MANOMÉTRICA.................................................................................................................................... 81
2.1.3 POTÊNCIA E RENDIMENTO DO CONJUNTO ELEVATÓRIO.............................................................................. 81

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

2.1.4 DIMENSIONAMENTO ECONÔMICO DA TUBULAÇÃO......................................................................................82


2.2 FENÔMENOS ESPECIAIS NA SUCÇÃO - CAVITAÇÃO.........................................................................................84
2.3 CURVAS CARACTERÍSTICAS DAS BOMBAS E DA INSTALAÇÃO.......................................................................89
2.4 ASSOCIAÇÃO DE BOMBAS.................................................................................................................................... 91
2.5 SELEÇÃO DE BOMBAS CENTRÍFUGAS................................................................................................................93
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................................96

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

Nesta unidade, dar-se-á ênfase ao estudo da perda de carga de fluidos incompressíveis em


condutos forçados e ao estudo de sistemas elevatórios. Os condutos podem ser classificados em
condutos livres, que estão sujeitos à pressão atmosférica (rios, canais abertos para escoamento de
água e esgoto etc.), podendo ser abertos ou fechados, e os condutos forçados, que são condutos
que escoam em tubulações fechadas, sob pressão normalmente maior que a atmosférica.
A perda de carga, como já vimos, corresponde à energia dissipada pelo fluido no
escoamento. Podemos classificar a perda de carga em: perda distribuída – ocorre em trechos
retos de escoamento devido ao atrito do fluido nas paredes da tubulação – e perda localizada –
ocorre em peças e acessórios da tubulação (curvas, válvulas, registros etc.). A perda de carga é
um importante parâmetro que deve ser considerado no dimensionamento de condutos forçados
e sistemas elevatórios.
Também serão estudados nesta unidade os sistemas elevatórios que são um conjunto
formado por tubulações de sucção e recalque e de um conjunto motobomba, para o recalque de

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 3


líquidos para pontos distantes ou elevados.
Ainda neste tópico, serão estudados os fundamentos dos conceitos de cavitação, curvas
características de bomba e de instalação e associação de bombas em série e paralelo.
Bons estudos!

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1 PERDA DE CARGA

Vimos anteriormente que, à medida que um fluido real (não ideal) escoa em uma
tubulação, ocorre uma dissipação de energia ou perda de carga do fluido. A Figura 1 indica a
ideia da perda de carga (∆H) entre os pontos 1 e 2 de uma tubulação.

Figura 1 - Perda de carga do fluido entre dois pontos de um trecho de tubulação. Fonte: Os autores.

Em situações práticas, é muito importante estimar a perda de carga entre dois pontos de
uma instalação onde há escoamento de um fluido. Pois, com o valor estimado da perda de carga,
temos uma estimativa das condições de energia que o fluido terá ao chegar num determinado
ponto. Ou seja, sabendo as condições de energia no ponto 1 (H1) e calculando a perda de carga

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 3


(∆H) entre os pontos 1 e 2, podemos determinar a carga no ponto 2 (H2), que é o que importa
nos cálculos de projeto na maioria das situações práticas.
Outro exemplo de situação seria o caso de dimensionamento de instalações de recalque
(bombeamento), em que é fundamental o cálculo de perda de carga para a determinação do tipo
e potência da bomba.
Sendo assim, o cálculo da perda de carga é um assunto importante que deve ser estudado.
Nosso objetivo neste tópico é o estudo da perda de carga de fluidos incompressíveis em conduto
forçado. Podemos considerar dois tipos de perda de carga:

• Perda de carga distribuída (perda de carga contínua ou perda de carga no trecho reto):
ocorre num trecho reto de uma tubulação, basicamente, devido ao atrito do fluido com
as paredes da tubulação.
• Perda de carga localizada ou singular: ocorre nas peças (acessórios) da tubulação
(curvas, cotovelos, válvulas, registros, reduções e expansões etc.).
A perda de carga total, que é a que deverá ser considerada nos casos práticos, é a soma das
perdas de carga distribuída e localizada.

h = hdistribuída + hlocalizada Eq. (01)

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1.1 Perda de Carga Distribuída

A perda de carga é uma função complexa, de diversos elementos, tais como:

• Rugosidade do conduto;
• Viscosidade e densidade do líquido;
• Velocidade de escoamento;
• Diâmetro da tubulação;
• Grau de turbulência do escoamento;
• Comprimento percorrido.
Na literatura, podemos encontrar várias equações empíricas com aplicações específicas
(adutora de água, instalação predial de água fria etc.) para o cálculo da perda de carga. Dentre
elas, podemos destacar a fórmula universal da perda de carga – Equação de Darcy-Weisbach:

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 3


Eq. (02)

Em que: f: fator de atrito da tubulação; L: comprimento da tubulação; D: diâmetro da


tubulação; V: velocidade de escoamento; g: constante gravitacional.
O fator de atrito f depende do regime de escoamento (laminar ou turbulento – número
de Reynolds) e da rugosidade relativa da tubulação (ε/D), sendo (ε) a rugosidade absoluta da
tubulação medida em unidade de comprimento (m ou mm). Portanto, o fator de atrito é uma
função do número de Reynolds e da rugosidade relativa da tubulação: f = F (Re, ε/D).
Nikuradse, Colebrook, dentre outros, realizaram experimentos para determinar
correlações para o cálculo do fator de atrito f. Seguem algumas correlações úteis para a
determinação de f:

• Fórmula de Hagen-Poiseuille: válida para regime laminar Re < 2000. No regime laminar,
f não depende da rugosidade relativa (ε/D).

• Fórmula de Blausius: curva dos tubos hidraulicamente lisos (como de PVC), sendo
representada por esta fórmula na faixa 3000 < Re < 105.

• Fórmula de Swamee – Jain: para regime turbulento.

WWW.UNINGA.BR 69
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

• Diagrama de Moody: diagrama utilizado para determinação do fator de atrito f,


considerando todas as situações (é apresentado na Figura 2). O valor de f é obtido a partir
de valores de Re e da rugosidade relativa (ε/D).

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 3


Figura 2 – Diagrama de Moody. Fonte: Adaptado de Brunetti (2005).

Agora, corrigimos essa diferença, acrescentado à equação de Bernoulli o termo de perda


de carga, denotado por h.

Eq. (03)

Exemplo 1

Considere que o escoamento de um óleo (ρ = 900 kg/m3, μ = 0,1 kg/m.s) em um duto


horizontal com 50 mm de diâmetro, longo e reto de 500 m, ocorra à velocidade média de 2,0
m/s. Para a situação descrita, determine a perda de carga total.
Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, segue da Eq. (02) que

No entanto, para o fator de atrito f, devemos primeiramente verificar se o escoamento é


laminar ou turbulento, avaliando o número de Reynolds. Assim,

ou seja, o escoamento é laminar, e o fator de atrito é determinado por meio da Eq. (09)

Assim, o valor da perda de carga associada ao escoamento é

WWW.UNINGA.BR 70
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 2

Água escoa por 50 km através de uma tubulação horizontal de cobre (ε = 0,0015 mm) de
150 mm de diâmetro a 500 l/min. Determine a perda de carga e a queda de pressão para a
situação descrita, considerando ρ = 1000 kg/m3 e μ = 0,001 kg/(ms).
Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, segue da Eq. (01) que

Temos que a velocidade de escoamento do fluido é dada por

O regime de escoamento é caracterizado pelo número de Reynolds

ou seja, o regime de escoamento é turbulento e, nessa situação, o fator de atrito é obtido pelo
diagrama de Moody da Figura 2. Temos, ainda, que a rugosidade relativa é:

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Com o número de Reynolds e a rugosidade relativa na Figura 2, estimamos o fator de atrito
em f = 0,018. Daí, a perda de carga é

Agora, para estimar a queda de pressão, aplicamos a Eq. (03). Como o diâmetro da tubulação
é constante, segue que a velocidade é constante ao longo da tubulação e, dessa maneira, não
há variação de velocidade. Como o enunciado não faz menção à diferença de cota ao longo
da tubulação, é pertinente assumir que a diferença de altura é nula. Assim, simplificando a
Eq. (03), temos que

ou ainda,

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Exemplo 3

O fator de atrito para escoamento em tubulação lisa pode ser determinado pela equação
, quando 5x103<Re<108. Considere um escoamento no qual o fluido é
a água, a qual está escoando com Re = 106, em uma tubulação de 50 mm de diâmetro.
Determine a perda de carga, em metros de coluna por metro linear de tubulação.
Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, segue da Eq. (08) que a
perda de carga por metro linear de tubulação é

com f dado pela equação

Assim, como nos é fornecido que Re = 106, segue que

Temos que a velocidade de escoamento será determinada, neste exercício, por meio do

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número de Reynolds. Daí,

Logo,

Portanto, a perda de carga por metro linear de tubulação é de 0,046.

1.2 Perda de Carga Localizada

Esse tipo de perda de carga ocorre em trechos singulares dos condutos, tais como: junções,
derivações, curvas, válvulas, entradas e saídas de tubulações etc., conforme mostra a Figura 3.

Figura 3 - Peças e acessórios (perdas localizadas). Fonte: Os autores.

As diversas peças necessárias para a montagem da tubulação e para o controle do fluxo


provocam uma variação brusca da velocidade (em módulo ou direção), ocasionando uma perda
de energia (carga) do escoamento.
Para o cálculo da perda de carga localizada, há dois métodos distintos: método dos
coeficientes e método dos comprimentos equivalentes.

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1.2.1 Método dos coeficientes

A perda de carga é expressa em termos de energia cinética (v²/2g) do escoamento. A


cada peça, é atribuído um coeficiente K (coeficiente de perda de carga singular, determinado
experimentalmente) – valor tabelado. A perda de carga em cada peça é calculada pela seguinte
equação:

Eq. (04)

em que V é a velocidade de escoamento, e g, a constante gravitacional.


Para o caso de os acessórios possuírem o mesmo diâmetro (mesma velocidade), podem-
se somar os valores de k para obter a perda de carga de todos os acessórios:

Eq. (05)

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Exemplo 4

Considere que a água escoe numa tubulação de diâmetro igual a 5 cm numa vazão de 6,28
l/s. Ao longo da tubulação, está presente uma válvula globo (K = 7) rosqueada, totalmente
aberta. Determine a perda de carga sofrida pelo fluido ao passar por essa válvula.
Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, segue da Eq. (04) que

A velocidade de escoamento é

Assim,

Logo, a perda de carga sofrida pelo fluido, ao passar a válvula, é de 3,6 m.

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Exemplo 5
Admita que, em uma empresa, haja necessidade de dimensionar uma bomba hidráulica para
uma instalação de bombeamento da Figura 4, que deve operar com vazão de 36 m3/h.
Os acessórios presentes ao longo do circuito hidráulico são: (1) válvula de pé com crivo
K =15; (2) cotovelo na sucção K = 1; (3) cotovelos no recalque K = 1; (4) válvula globo
totalmente aberta K = 16; (5) saída de recalque K = 1.
Sabe-se que o trecho retilíneo de tubo na região da sucção é igual a 0,5 m e, no recalque,
igual a 7,0 m. Considere, ainda, que o fluido a ser transportado seja água (massa específica
= 1000 kg/m3 e viscosidade 0,001 Pa.s) e que o diâmetro da tubulação seja de 5 cm e de aço
liso (ε=0).
Determine a potência teórica da bomba instalada na seção.

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Figura 4 – Representação do sistema de bombeamento. Fonte: Os autores.

Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, segue da Eq. (02) que

Temos que a velocidade de escoamento do fluido é dada por

O regime de escoamento é caracterizado pelo número de Reynolds

ou seja, o regime de escoamento é turbulento e, nessa situação, o fator de atrito é obtido pelo
diagrama de Moody da Figura 2. Temos, ainda, que a rugosidade relativa é (tubulação
lisa). Com o número de Reynolds e a rugosidade relativa, estimamos o fator de atrito em f =
0,015. Daí, a perda de carga contínua ao longo dos 7,5 m de tubulação (0,5 m da sucção e 7
m do recalque) é

Agora, vamos estimar a perda de carga localizada. Como temos vários acessórios numa
tubulação de mesmo diâmetro, podemos somar os valores de K e, em seguida, aplicar a Eq.
(05). Assim, ∑ K = 35. Daí, a perda localizada será

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A perda de carga total é a soma da perda de carga contínua com a localizada e, nesse caso,
seu valor é hT = 48,4 m. Observe que, neste exercício, a perda de carga localizada é 15,5 vezes
o valor da perda de carga contínua. Agora, vamos determinar que HB é a quantidade de
energia específica que a bomba deve fornecer ao sistema hidráulico a fim de manter o fluido
em movimento e, ainda, vencer as perdas de carga. Para isso, empregaremos a Eq. (03):

Nas superfícies livres dos dois tanques, o fluido está parado (pois estamos admitindo regime
permanente), e a pressão nesses pontos é atmosférica nos dois tanques. Assim, simplificando
a Eq. (03), temos que

Daí, a potência teórica é calculada

Portanto, a potência teórica da bomba é igual a 9,1 kW.

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1.2.2 Método dos comprimentos equivalentes

No cálculo da perda de carga localizada, utilizando o método dos comprimentos


equivalentes, é atribuído (calculado a partir de experimentos) a cada peça ou acessório um
comprimento (Leq) equivalente à perda de carga de um trecho reto (linear) da tubulação de mesmo
diâmetro e material. Seria como se, ao invés da presença do acessório, houvesse um comprimento
reto de tubo com a mesma perda de carga do acessório.
Em algumas situações, é habitual expressar um coeficiente de perda de carga como
um comprimento equivalente (Leq). Comprimento equivalente é o comprimento de tubo que
apresentaria perda de carga igual à do acessório em questão. Para isso, igualamos as equações
Eq. (02) e Eq. (04), resultando em . Ao empregar essa metodologia, não necessitamos
calcular separadamente a perda de carga contínua e localizada para, em seguida, somá-las. Assim,
basta usar a equação:

Eq. (06)

Outra forma de descrever a resistência hidráulica de acessórios presentes em


tubulações é por meio de comprimentos equivalentes. Esses valores costumam
ser tabelados e fornecidos pelos fabricantes desses acessórios em forma de
catálogos. A seguir, temos a representação de uma página desses catálogos.

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Tabela 1 - Resistência hidráulica de acessórios de tubulações.

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Fonte: Manual técnico de bombas KSB (2022).

Exemplo 6
Calcular o comprimento equivalente de uma instalação hidráulica da Figura 5, de diâmetro
3 polegadas, construída com tubo de aço galvanizado novo, conforme a figura a seguir, que
deve transportar uma vazão de água de Q = 10 m3/h.

Figura 5 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: A tabela de comprimentos equivalentes nos fornece as informações dos valores


dos comprimentos equivalentes dos acessórios presentes nesse trecho de tubulação. Assim,
observe o esquema da Figura 6.

Figura 6 – Representação do comprimento equivalente. Fonte: Os autores.

O valor de 43,9 m indica que a perda de carga que o fluido sofrerá ao fluir pela tubulação é
equivalente a ele fluir por uma tubulação reta, de mesmos diâmetro e material.

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Exemplo 7
O esquema da Figura 7 representa uma tubulação de ferro galvanizado (ε = 0,15mm), por
,
onde a água escoa a uma vazão volumétrica Q = 0,045m3/min. A massa específica dessa água
é 999 kg/m3, e a viscosidade é 1,12 x 10-3 Pa.s.

Figura 7 – Representação esquemática do exercício. Fonte: Vilanova (2011).

O escoamento pode ser considerado incompressível e plenamente desenvolvido nas regiões

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retilíneas da tubulação. A torneira (2) está completamente aberta, e a pressão é atmosférica.
Determine a perda de carga, incluindo as perdas normais e localizadas, e a pressão na entrada
do sistema (ponto 1).
Solução: Considerando regime permanente e fluido incompressível, segue da Eq. (02) que
.

Temos que a velocidade de escoamento do fluido é dada por

O regime de escoamento é caracterizado pelo número de Reynolds

ou seja, o regime de escoamento é turbulento e, nessa situação, o fator de atrito é obtido pelo
diagrama de Moody da Figura 2. Temos, ainda, que a rugosidade relativa é
. Com o número de Reynolds e a rugosidade relativa na Figura 7, estimamos o fator de
atrito em f = 0,035. Para o cálculo do comprimento, vamos usar a ideia de comprimento
equivalente de tubo para os acessórios presentes. Assim, além do comprimento linear de
tubo, somamos os comprimentos equivalentes de cada acessório presente na equação. Daí,
segue que o comprimento reto de tubulação é:

Llinear = 2,0 + 1,5 + 0,5 + 1,5 + 1,5 + 1,5 = 8,5m

Os acessórios são: 4 curvas de 90º , 1 válvula globo totalmente aberta e 1 válvula gaveta
totalmente aberta. Assim, o comprimento equivalente para os acessórios é:

Lequivalente = 4 × 0,4 + 6,7 + 0,1 = 8,4m

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Daí, o comprimento total é

Ltotal = Llinear + Lequivalente = 8,5 + 8,4 = 16,9m

A perda de carga total é

A pressão manométrica na entrada do sistema (ponto 1) é calculada a partir da equação de


Bernoulli, como segue

Note que P2 = 0 e que V1 = V2. Daí,

P1 = 999 × 10 × (3-0+10,9) = 138.861 Pa = 138,9 kPa

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Logo, a pressão manométrica no sistema é 138,9 kPa.

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2 SISTEMAS ELEVATÓRIOS

As máquinas hidráulicas promovem as trocas entre as energias mecânica e hidráulica e


se dividem em duas grandes categorias, de acordo com o sentido da troca de energia: turbinas e
bombas. As turbinas recebem energia hidráulica, proveniente normalmente de quedas d'água, e
transformam-na em energia mecânica. Posteriormente, essa energia é transformada em energia
elétrica pelos geradores nas centrais hidrelétricas. Já as bombas transformam a energia mecânica
que recebem dos motores em energia hidráulica, possibilitando transportar e elevar fluidos a
grandes distâncias e elevadas alturas, que atendem desde as pequenas instalações hidráulicas
prediais aos grandes sistemas de irrigação, abastecimento de água etc. (BAPTISTA; LARA, 2010).
Um sistema de recalque ou elevatório é o conjunto de tubulações, acessórios, bombas e
motores necessários para transportar uma certa vazão de água ou qualquer outro líquido de um
reservatório inferior (R1), na cota Z1, para outro reservatório superior R2, na cota Z2 > Z1. Nos
casos mais comuns de sistemas de abastecimento de água, ambos os reservatórios estão abertos
para a atmosfera e com níveis constantes, o que permite tratar o escoamento como permanente.
Conjunto de tubulações, acessórios, bombas e motores necessários para transportar certa
vazão de água ou qualquer outro líquido de um reservatório inferior para outro reservatório

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superior. Um sistema de recalque é composto, em geral, por três partes:

a. Tubulação de sucção: constituída pela canalização que liga o reservatório inferior


à bomba, incluindo os acessórios necessários, como válvula de pé com crivo, registro,
curvas, redução excêntrica etc.
b. Conjunto elevatório: constituído por uma ou mais bombas e respectivos motores
elétricos ou a combustão interna.
c. Tubulação de recalque: constituída pela canalização que liga a bomba ao reservatório
superior, incluindo registro válvula de retenção, manômetros, curvas e, eventualmente,
equipamentos para o golpe de aríete.
A Figura 8 mostra o esquema de um sistema elevatório.

Figura 8 - Sistema elevatório. Fonte: Os autores.

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A instalação de um sistema de recalque pode ser de duas formas distintas:

a. Bomba afogada, quando a cota de instalação do eixo da bomba está abaixo da cota do
nível d'água no reservatório inferior R1.
b. Bomba não afogada, quando a cota de instalação do eixo da bomba está acima da cota do
nível d'água no reservatório inferior R1.
A Figura 9 mostra o esquema das configurações de bomba afogada e bomba não afogada.

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Figura 9 - Esquema de sistema de bomba afogada e não afogada. Fonte: Porto (2009).

2.1 Parâmetros Hidráulicos de uma Instalação de Recalque

2.1.1 Altura geométrica (Hg)

A altura geométrica, Hg, é o valor do desnível geométrico vertical (diferença entre a cota
do nível do fluido superior e inferior). Essa altura pode ser dividida entre a altura de sucção e
de recalque. A altura de sucção, hs, é a distância vertical entre o nível do fluido no reservatório
inferior e o eixo da bomba. A altura de recalque, hr, é a distância vertical entre o eixo da bomba e o
nível do fluido no reservatório superior. A Figura 10 mostra a representação da altura geométrica
num sistema de bomba afogada e outra não afogada.

Figura 10 - Altura geométrica. Fonte: Os autores.

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2.1.2 Altura manométrica

A altura manométrica Hman (ou carga líquida fornecida pela bomba: HB) representa a
energia absorvida por unidade de peso de líquido ao atravessar a bomba, ou seja, é a energia na
saída da bomba menos a energia da entrada. Aplicando a equação da energia num trecho, entre
os pontos 1 e 2, na presença de uma bomba, como visto na Unidade 2, tem-se:

Eq. (07)

Se os pontos 1 e 2 estiverem sujeitos à pressão atmosférica, como nas superfícies de água


dos reservatórios, e se a diferença de energia cinética for desprezível, isolando Hman na equação
(1), tem-se:

Eq. (08)

em que z2 – z1 é o desnível geométrico ou altura geométrica, entre os pontos 1 e 2.

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Portanto, neste caso, a altura manométrica Hman é a altura geométrica mais as perdas de
carga (distribuída e localizada) ocorridas na tubulação que interliga os pontos 1 e 2.

2.1.3 Potência e rendimento do conjunto elevatório

A altura manométrica, Hman, representa a carga que deve ser fornecida ao fluido para
escoar do ponto 1 (ou reservatório inferior) ao ponto 2 (ou reservatório superior). Dessa forma,
a carga fornecida pela bomba deve ser suficiente para "vencer" o desnível geométrico entre os
reservatórios mais as perdas de carga entre os pontos 1 e 2.
Como visto anteriormente, a potência hidráulica, numa instalação de recalque, é o
trabalho realizado sobre o líquido ao passar pela bomba, podendo ser expressa pela equação:

Eq. (09)

em que P: potência do conjunto elevatório (kW ou cv); HB: altura manométrica (m); Q:
vazão volumétrica (m3/s);
Para efeito de avaliação da potência do conjunto elevatório (motor e bomba), é necessário
conhecer, além do rendimento da bomba ηb, o rendimento do motor ηm, que é a relação entre a
potência que o motor transmite e a que ele recebe da fonte de energia. Sendo assim, o rendimento
do motor, além do rendimento da bomba, também deve ser considerado no cálculo da potência
do conjunto elevatório. Portanto, o coeficiente representa um coeficiente global, , que
considera o rendimento do motor e da bomba.
A partir de testes experimentais, os fabricantes oferecem curvas de desempenho (curvas
características) das bombas. Normalmente, essas bombas são dimensionadas para operarem
a uma velocidade nominal ω0 e para acomodarem diversos rotores no interior da carcaça. Os
resultados desses ensaios experimentais são apresentados em uma série de curvas que apresentam,
para diferentes diâmetros de rotor operando na mesma rotação ou para diferentes rotações de um
mesmo diâmetro de rotor, as seguintes características: (i) vazão versus altura manométrica total;
(ii) vazão versus rendimento; (iii) vazão versus potência requerida no eixo de acionamento.

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A Figura 11 ilustra uma curva característica de uma bomba centrífuga.

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Figura 11 – Curva característica de bomba centrífuga. Fonte: Goulds Pumps (2022).

Pequena central hidrelétrica (PCH), segundo definição da Agência Nacional de


Energia Elétrica (ANEEL), é uma usina de pequeno porte, com capacidade instalada
maior do que 3 MW e, no máximo, 30 MW.
Outro limite da PCH é o tamanho de seu reservatório, que, para ser classificada
dessa forma, não pode ultrapassar os 3 km². As PCH compõem uma importante
parte da geração de energia no Brasil, e sua regulamentação é feita através da
Resolução nº 394, de 4 de dezembro de 1998, da ANEEL.

2.1.4 Dimensionamento econômico da tubulação

O projeto hidráulico prima pelo compromisso entre requisitos técnicos de desempenho


e segurança e o custo global do sistema. No projeto de um sistema elevatório, há dois aspectos
importantes a serem considerados: o diâmetro da tubulação de recalque e, em consequência da
tubulação de sucção, a potência necessária do conjunto motor-bomba.
Se o diâmetro adotado for relativamente pequeno, a linha adutora (tubulação) terá custo
baixo, enquanto as perdas de carga serão altas (verifique nas equações de perda), o que resultará
numa maior altura manométrica (Hman = Hg + ∆H) e, consequentemente, numa maior potência
do conjunto elevatório.

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Se, ao contrário, o diâmetro adotado for relativamente grande, haverá perdas de carga
pequenas, e a potência do conjunto elevatório necessária será pequena, enquanto o custo da linha
adutora será alto.
O diâmetro da tubulação mais conveniente, economicamente, é aquele que resulta em
menor custo total das instalações. Esse diâmetro é chamado de diâmetro econômico. Esses
aspectos podem ser ilustrados por meio do gráfico da Figura 12, em que a curva I representa
a variação dos custos da tubulação em relação ao diâmetro, e a curva II representa a variação
dos custos operacionais (energia, acessórios, equipamentos etc.) de implantação do conjunto
motor-bomba em relação ao diâmetro. A curva III representa a soma dos custos das curvas I e II,
fornecendo, portanto, o custo total da instalação elevatória. O diâmetro econômico corresponde
ao ponto de menor (mínimo) custo da curva III.

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Figura 12 - Determinação do diâmetro econômico de uma tubulação de recalque. Fonte: Os autores.

A instalação elevatória é considerada de funcionamento contínuo quando trabalha 24


horas por dia. A determinação analítica do diâmetro econômico, neste caso, utilizando o método
citado anteriormente, fornece a fórmula de Bresse para a determinação do diâmetro de recalque:

em que:
Dr: diâmetro de recalque (m)
K: fator de Bresse
Q: vazão (m3/s)

O valor do fator K depende de alguns fatores econômicos envolvidos na implantação


e na manutenção do sistema, tais como energia, manutenção e acessórios. O valor de K oscila
conforme a época e a região, variando de 0,6 a 1,0. Entretanto, por medida de segurança, adota-
se K=1,2 quando as informações econômicas são insuficientes para uma análise mais detalhada
(BAPTISTA; LARA, 2010).
Nos casos em que o funcionamento do conjunto motobomba não é contínuo, a Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) recomenda a seguinte expressão:

em que Dr é o diâmetro (m), Q é a vazão (m3/s) e X é a fração de horas trabalhadas no dia


(por exemplo: 6 horas por dia → X = 6/24 = 0,25).

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Para as equações citadas, vale ressaltar as seguintes observações: trata-se de uma equação
muito simples para representar um problema complexo com muitas variáveis econômicas,
portanto, deve ser aplicada na fase de anteprojeto. Em sistemas menores (de até 6 polegadas),
pode conduzir a resultados aceitáveis enquanto que, para sistemas maiores, deve ser tomado
como primeira aproximação.

A usina hidrelétrica de Itaipu gera grande quantidade de energia em


nosso País. Para conhecer um pouco mais sobre Itaipu e relacionar
a geração de energia com alguns tópicos desta unidade, assista ao
Vídeo Institucional - A Energia de Dois Povos.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=jNe5RqUyYro.

2.2 Fenômenos Especiais na Sucção - Cavitação

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 3


Cavitação é o fenômeno de formação de bolhas num líquido devido ao abaixamento da
pressão no nível da pressão de vapor. A fervura de um líquido ocorre devido ao aumento de sua
temperatura ou à diminuição de sua pressão até a sua pressão de vapor, portanto, os líquidos
fervem à baixa pressão mesmo estando a baixas temperaturas. Essa baixa pressão, usualmente,
ocorre na tubulação de sucção, na entrada da bomba, onde a pressão é baixa (normalmente
vácuo) para aspirar o líquido que se encontra numa cota abaixo do eixo da bomba – nos casos de
bomba não afogada.
Assim, se a pressão absoluta do líquido em algum ponto da instalação atinge valor igual
ou inferior à pressão de vapor do líquido, na temperatura do líquido em escoamento, parte deste
se vaporiza, formando bolhas, com as seguintes consequências mais diretas (BAPTISTA; LARA,
2010):

• Se as bolhas formadas no processo de vaporização têm a pressão interna superior à


externa, estas se expandem até ocupar toda a seção, interrompendo o fluxo do líquido;
• Se algumas bolhas são levadas pelo fluxo para o interior da bomba, onde a pressão reinante
é superior à pressão interna da bolha, estas tendem a implodir, e a água circundante é
impelida para o centro da bolha, havendo um choque das partículas. Surge uma onda de
sobrepressão em direção contrária ao centro da bolha, podendo atingir a parede interna
da bomba, danificando-a.
Portanto, a cavitação é prejudicial, pois as bolhas de vapor, alcançando pontos de maior
pressão, condensam bruscamente e implodem com grande liberação de energia, podendo causar
vibrações e uma erosão particular devido à agitação e choques das partículas do líquido sobre as
paredes sólidas. Além disso, o fenômeno da cavitação faz com que o rendimento das máquinas
alcance valores muito baixos.

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Avaliação das condições de cavitação:


Para não haver cavitação, é necessário que a pressão do líquido seja superior à pressão de
vapor Pv, cujos valores estão apresentados na Tabela 2, em função da temperatura.

Tabela 2 - Valores da pressão.


T(ºC) 0 10 20 30 50 100
PV (kPa) 0,617 1,225 2,313 4,204 12,25 101,2
Fonte: Os autores.

Para a análise das condições de cavitação, será aplicada a equação da energia entre o
reservatório inferior (ponto 0) e a entrada da bomba (ponto 1) no sistema mostrado na Figura
13, de uma bomba não afogada.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 3


Figura 13 - Tubulação de sucção – aplicação da equação da energia. Fonte: Baptista e Lara (2010).

Considerando que

• Z0 - Z1 = hs (altura de sucção).
• O reservatório inferior está sujeito à pressão atmosférica, ou seja, P0 = Patm.
• A velocidade no reservatório (v1) é desprezível: v1 = 0.
• A perda de carga entre 0 e 1 (∆H0-1) é a soma das perdas de carga na tubulação de sucção
(∆Hs) e no trecho compreendido entre o fim desta tubulação e a entrada do rotor da
bomba (∆h*), ou seja, ∆H0-1 = ∆Hs + ∆h*.
• A cavitação inicia quando a pressão no ponto 1 é igual à pressão de vapor (P1 = Pv).

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Com essas considerações, escreve-se a equação da energia em termos da altura de sucção


hs, que dá o valor da altura de sucção a partir da qual há formação de bolhas.

Eq. (10)

Na prática, a avaliação das condições de cavitação da bomba é feita com base nessa
equação, mas de uma maneira diferente, a partir de valores denominados NPSH disponível e
NPSH requerido. Esses valores são obtidos separando, na equação (4), os termos que dependem
da instalação ou do líquido bombeado dos termos que dependem da bomba, constituindo, assim,
os lados esquerdo e direito da equação a seguir:

Eq. (11)

O lado direito da equação é denominado NPSH disponível, ou simplesmente NPSHd, e


representa a carga existente na instalação para permitir a sucção do fluido. O termo NPSH (Net

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Positive Succion Head) significa Carga de Sucção Positiva Líquida na entrada da bomba. Logo:

Eq. (12)

Observação: O valor de hs (altura de sucção) é positivo nas equações (10), (11) e (12) no
caso de a bomba estar afogada.
O lado direito da equação (11) é denominado NPSH requerido, ou simplesmente NPSHr,
e é interpretado fisicamente como sendo a carga energética de que a bomba necessita para
succionar o líquido sem cavitar. Logo:

Eq. (13)

A equação (12) mostra que o NPSHr depende da velocidade e, consequentemente,


aumenta com a vazão. Os dados relativos ao NPSHr podem ser obtidos experimentalmente e são,
normalmente, fornecidos pelo fabricante da bomba por meio de um gráfico em função da vazão,
cuja curva tem a forma mostrada na Figura 14.

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Figura 14 - Curva NPSHr x Vazão. Fonte: Baptista e Lara (2010).

Em resumo, para avaliar as condições de cavitação, o valor de NPSHd deve ser calculado e
comparado com o valor de NPSHr obtido na curva fornecida pelo fabricante, para a mesma vazão
de operação da bomba. Para que não ocorra a cavitação, o valor de NPSHd deve ser maior que o
valor de NPSHr, ou seja,

Condição de não cavitação: NPSHd > NPSHr

Portanto, para evitar o fenômeno, a pressão absoluta na entrada da bomba deve ser maior
que a pressão de vapor do líquido. Quanto maior o valor de NPSHd, melhores as condições para
se evitar a cavitação. Assim, as condições que ajudam a evitar a cavitação são:

a. Menor velocidade no tubo de sucção. Fixada a vazão, esse resultado só pode ser obtido
com tubos de maior diâmetro.
b. Menor altura de sucção.
c. Menores perdas distribuídas e singulares na tubulação de sucção. Pode-se obter essa
condição aumentando-se o diâmetro da tubulação de sucção.
Normalmente, os líquidos bombeados não se apresentam em uma forma pura, mas
contaminados por impurezas que podem alterar a pressão na qual a cavitação se inicia. Um
dos tipos de impureza que ocorre com frequência no meio líquido são gases dissolvidos que
podem provocar o surgimento de bolhas macroscópicas a pressões ainda superiores à pressão de
vapor. Por esse motivo, no caso de seleção de bombas, é importante estabelecer uma margem de
segurança mínima, ou folga, no valor de NPSHd.

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Exemplo 8
A bomba apresentada na Figura 15 é usada para transferir água 25º C para uma estação de
tratamento a partir de um poço, como ilustra a figura a seguir. A vazão através do tubo de 3
in de diâmetro é de 21 l/s, a altura h do nível de coleta de água abaixo da bomba é de 3 m, e
o fator de atrito foi estimado em f = 0,02. Verifique se haverá cavitação da bomba instalada.

Figura 15 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: A velocidade de escoamento é

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Considerando a pressão atmosférica local igual a 105 Pa, a massa específica da água igual a
1000 kg/m3, segue que a carga de pressão de sucção disponível na entrada da bomba (PB) é
dada por:

Daí,

A pressão de vapor da água na temperatura a 25º C é, aproximadamente, igual a 3,2 kPa.


Assim,
ou, ainda, NPSHdisponível = 4,78 m. (Fique atento(a): 47,8 kPa é referente à pressão exercida
por 4,78 m de coluna de água). Admita que a bomba em apreço tenha a curva característica:

Figura 16 – Curva característica da bomba. Fonte: Os autores.

Note que o NPSH requerido para a vazão de 21 l/s é menor que 3,0 m. Como o NPSHdisponível
≥ NPSHrequerido , a bomba não irá cavitar.

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2.3 Curvas Características das Bombas e da Instalação

As bombas são projetadas para trabalhar com vazões (Q) e alturas manométricas
previamente estabelecidas. Por meio de ensaios de bancada, verifica-se que as bombas são capazes
de atender outros valores de vazões e alturas manométricas, além dos pontos para os quais elas
foram projetadas.
As curvas características das bombas são representações gráficas ou em forma de tabelas
das funções que relacionam os diversos parâmetros envolvidos em seu funcionamento. Os
fabricantes de bombas apresentam, nos catálogos, curvas dimensionais da altura manométrica
em função da vazão, Hman = f(Q), da potência necessária em função da vazão, Pot =f(Q), do
rendimento em função da vazão η = f(Q) e do NPSHreq, com a vazão recalcada NPSHreq = f(Q).
As curvas características Hman x Q das bombas centrífugas geralmente podem ser expressas
por uma equação do 2º grau do tipo: Hman = aQ2 + bQ + c. A Figura 17 mostra exemplos de curvas
características, Hman x Q e Pot x Q, de bombas centrífugas.

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Figura 17 - Curvas características de uma bomba centrífuga. Fonte: Baptista e Lara (2010).

As informações contidas nessas curvas são essenciais para a escolha da bomba e para o
modo de operação do conjunto elevatório.
Curva Característica da Instalação:
A equação do sistema de tubulação, para a situação em que os pontos 1 e 2 estão sujeitos
à pressão atmosférica, é obtida pela equação:

A perda de carga compreende as perdas distribuída e localizada, utilizando o método dos


comprimentos equivalentes à perda de carga total, e pode ser representada genericamente por:

Portanto, numa instalação cuja altura geométrica, diâmetro e comprimento total (real
+ equivalente) sejam conhecidos, a equação característica do sistema é dependente somente da
vazão e pode ser escrita da seguinte forma:

sendo que os valores de K e n dependem da equação de perda de carga utilizada.


Portanto, a partir da equação anterior e do conhecimento das características do sistema
(altura geométrica, coeficientes de perda de carga, diâmetros e comprimento da tubulação), é
possível determinar a equação da curva característica do sistema de tubulação (ou instalação) e,
consequentemente, traçar a curva correspondente, atribuindo-se valores a Q.

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A equação anterior mostra que a curva do sistema será uma curva polinomial crescente
(Figura 18).
A operação da bomba num dado sistema é definida em função das condições deste sistema
em termos de sua altura geométrica e perda de carga total. Assim, o ponto de operação (Hman e Q
de operação) de uma bomba num dado sistema é a interseção da curva característica da bomba
CB com a curva do sistema de tubulação CS, conforme apresentado na Figura 18.

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Figura 18 - Curva da bomba x Curva do sistema e ponto de operação. Fonte: Baptista e
Lara (2010).

Exemplo 9

Água é transferida de um reservatório para uma caixa d'água de um edifício, cujo nível
de referência se encontra 50 m acima do primeiro. Ambos os reservatórios se encontram
sujeitos à pressão atmosférica. A curva de carga do sistema apresenta a seguinte forma:

Hs = 135 + 4500 Q²

na qual Hs é a carga que deve ser desenvolvida pela bomba para que escoe uma vazão
volumétrica Q através da tubulação.
A curva característica da bomba centrífuga utilizada no sistema pode ser definida por:

Hb = 1035 −18.000 Q²

na qual Hb é a carga desenvolvida pela bomba quando ela bombeia uma vazão volumétrica
Q. Em ambas as equações, [H] = m de coluna de água e [Q] = m³/s. Determine a vazão
transferida do reservatório inferior para o superior, no ponto de operação.
Solução: No ponto operacional Hsistema = HBomba. Assim,

135 + 4500 Q² = 1035 −18.000 Q²


Q = 0,2 m³/s

Assim, no ponto operacional, a vazão é igual a 0,2 m³/s.

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2.4 Associação de Bombas

As exigências das instalações são muito variadas em termos de vazão e altura manométrica,
e nem sempre é possível encontrar essas características em uma bomba somente. A associação
das bombas em série e paralelo, mostradas na Figura 19, pode resolver esse problema. O ponto
de operação do sistema é obtido pela interseção da curva característica do sistema de tubulação
com a curva resultante da associação das bombas (BAPTISTA; LARA, 2010).

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Figura 19 - Esquema de bombas associadas em série e paralelo. Fonte: Baptista e Lara (2010).

Na associação de bombas em série, o ganho é com a altura manométrica (Hman). Nesse


esquema, a entrada da segunda bomba é conectada à saída da primeira bomba, de modo que a
mesma vazão passa através de cada bomba, mas as alturas de elevação de cada bomba são somadas
para produzir a altura manométrica do sistema. A curva característica do sistema resultante da
associação em série é obtida adicionando as ordenadas (Hman) das curvas características de cada
bomba para uma mesma vazão (AD = AB + AC), como mostrado na Figura 20.

Figura 20 - Curva da associação em série. Fonte: Baptista e Lara (2010).

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A associação em paralelo é utilizada nos casos em que uma bomba somente não atende
à necessidade de vazão do sistema. Nesse esquema, cada bomba recalca a mesma parte da vazão
total do sistema, mas a altura total de elevação do sistema é a mesma de cada uma das bombas.
A curva característica do sistema resultante da associação em paralelo é obtida adicionando as
abcissas (Q) das curvas características de cada bomba para uma mesma altura manométrica (AD
= AB + AC), como mostrado na Figura 21.

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Figura 21 - Curva da associação em paralelo. Fonte: Baptista e Lara (2010).

Para conhecer mais sobre bombas e turbinas, leia o capítulo 14 (Turbomáquinas)


do livro Mecânica dos Fluidos Fundamentos e Aplicações, de Cengel & Cimbala.

Exemplo 10

O sistema elevatório de água de um edifício é composto por duas bombas centrífugas iguais,
ligadas em série, com capacidade de 20 litros por segundo e 40 metros de altura manométrica.
Determine a vazão, em litros por segundo, e a altura manométrica, em metros, das duas
bombas funcionamento em conjunto.
Solução: Na associação em série, a carga líquida (HB) combinada é simplesmente a soma
das cargas líquidas de cada bomba, e a vazão total é igual à vazão de cada bomba individual.
Assim, a vazão é igual a 20 litros por segundo, e a carga líquida das suas bombas em série é
igual a 40 m.

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2.5 Seleção de Bombas Centrífugas

O processo de seleção de bombas centrífugas envolve 4 etapas:

1ª etapa: Cálculo ou definição da vazão volumétrica;


2ª etapa: Cálculo da carga do sistema, ou seja, é determinar a quantidade de energia
específica mínima que a bomba deverá suprir ao sistema a fim de manter o fluido em movimento.
Em outras palavras, você deverá medir a diferença de nível entre a região de sucção e recalque e,
ainda, quantificar a perda de carga total do sistema;
3ª etapa: Seleção do modelo de bomba a ser empregado no sistema a partir do gráfico de
quadrículas fornecido pelo fabricante;
4ª etapa: Efetuar a especificação da bomba: modelo, diâmetro de rotor, rendimento e
potência a partir das curvas de desempenho do modelo estabelecido na 3ª etapa.
Vejamos o Exemplo 11, que ilustra o processo de seleção de bomba.

Exemplo 11
Admita que, em uma empresa, haja necessidade de dimensionar uma bomba hidráulica para

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uma instalação de bombeamento da Figura 22. Considere que os dados necessários para
o dimensionamento da bomba constam na figura a seguir e que o diâmetro da tubulação
seja de 5 cm e de aço liso. Determine a especificação completa do modelo de bomba a ser
empregado nesse sistema, usando o catálogo de bombas KSB.

Figura 22 – Representação do exercício. Fonte: Os autores.

Solução: Considerando regime permanente e que a água seja um fluido incompressível,


segue que:
1ª etapa: A vazão do sistema é de 36 m3/h.
2ª etapa: Precisamos determinar a carga a ser fornecida pela bomba para manter o fluido em
movimento. Assim, vamos empregar a equação

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Como os tanques estão abertos à atmosfera, as pressão são idênticas e, ainda, como os
tanques são de grandes dimensões e o regime é permanentes, vamos assumir que o nível
desses tanques não é alterado, logo, podemos assumir que as velocidades nas superfícies
livres dos tanques são nulas. Assim, a carga a ser fornecida pela bomba é

E é coerente pensar que, para o fluido escoar, é necessário que ele vença a altura geométrica do
sistema e a perda de carga total. Vamos estimar a perda de carga. A velocidade de escoamento é

O número de Reynolds do escoamento é

Agora, estimamos o fator de atrito pelo Diagrama de Moody com (tubo liso) e com
Re = 2,55 × 104, que nos fornece f = 0,015. Nesse exemplo, vamos calcular a perda de carga
total usando a regra do comprimento equivalente uma vez que nos foram dadas essas
informações. Assim, o comprimento equivalente é

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Daí, a perda de carga total é determinada pela equação de Darcy,

Logo, a carga do sistema é

3ª etapa: Assim, temos as seguintes informações {HB = 48,1m, QV = 36m3/h e, com elas,
vamos no gráfico de quadrículas do fabricante KSB e vamos assumir uma velocidade de
rotação do rotor de 3500 rpm (observe no catálogo que há dois gráficos de quadrículas).

Figura 23 – Gráfico de quadrículas. Fonte: Manual de Bombas KSB (2022).

Observe no gráfico de quadrículas da Figura 23 que o modelo a ser selecionado é 32-200.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

4ª etapa: Agora, para dar as especificações, vamos procurar esse modelo de catálogo e
analisar as informações do gráfico da curva característica. Assim, a curva característica da
bomba modelo 32-200, do manual KSB, é dada pela Figura 24.

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Figura 24 – Curva característica de uma bomba centrífuga. Fonte: Manual de Bombas KSB (2022).

Observe que a Figura 24 nos fornece informações importantes acerca das especificações da
bomba. No primeiro gráfico, notamos que o diâmetro do rotor é de ϕ = 192 mm (você deve
entrar com as informações HB = 48,1 m, QV = 36 m3/h). No segundo gráfico, observamos
que o NPSH é, aproximadamente, igual a 5 m (você só precisa entrar com o valor da vazão
volumétrica). No terceiro gráfico, com o valor da vazão volumétrica (QV = 36 m3/h) e com o
diâmetro do rotor de (ϕ = 192 mm), observamos que a potência tem valor próximo a 14 HP.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os assuntos tratados nesta unidade são vastos e bastante aplicados na Engenharia Elétrica.
Um exemplo disso é a análise de eficiência energética.
As bombas hidráulicas são equipamentos responsáveis por grande parte do consumo de
energia elétrica na maioria das indústrias. Elas são acionadas geralmente por motores de indução
trifásicos, que são máquinas robustas e de elevado rendimento.
No entanto, existem formas de aumentar o rendimento global do sistema através de
modificações executadas no processo. Uma alteração comum em sistemas de bombeamento,
visando à eficiência energética, é a utilização de conversores de frequência no acionamento dos
motores elétricos.
O conhecimento dos assuntos tratados nesta unidade permite uma análise detalhada e
qualificada desse e de outros vários problemas relacionados à Engenharia Elétrica.

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UNIDADE ENSINO A DISTÂNCIA

04
DISCIPLINA:
FENÔMENOS DE TRANSPORTE

TRANSFERÊNCIA DE CALOR

SUMÁRIO DA UNIDADE

INTRODUÇÃO................................................................................................................................................................98
1 CALOR – DEFINIÇÕES E UNIDADES........................................................................................................................99
2 MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR.................................................................................................. 100
2.1 CONDUÇÃO............................................................................................................................................................. 100
2.2 CONVECÇÃO.......................................................................................................................................................... 112
2.3 RADIAÇÃO.............................................................................................................................................................. 116
2.4 MECANISMOS COMBINADOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR..................................................................... 119
3 CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME PERMANENTE EM CILINDROS E ESFERAS............................................ 122
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................... 129

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

INTRODUÇÃO

Os principais assuntos que serão tratados nesta unidade serão os conceitos relacionados
aos mecanismos de transmissão de calor, as equações matemáticas que governam as leis que
definem esses mecanismos e suas aplicações na Engenharia.
Vale ressaltar que, neste material, as equações de transferência de calor não serão tratadas
com o rigor matemático que a disciplina exige. Será dada ênfase aos problemas de transferência
unidimensional em regime permanente – o que simplifica bastante a complexidade matemática
do assunto. No entanto, é importante a busca por um maior aprofundamento da matéria e o
conhecimento de aplicações bi e tridimensionais, em regime transiente e de sistemas com geração
de energia. Além disso, o assunto é bastante vasto, com inúmeras aplicações na Engenharia, o que
torna necessária e fundamental a consulta de bibliografias da área, sites com textos e vídeos que
tratam do assunto, além de outras fontes de informações.
No campo da Engenharia Elétrica, uma análise de transferência de calor deve ser efetuada
no projeto de máquinas elétricas, transformadores e rolamentos a fim de evitar condições que

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


causem superaquecimento e danos aos equipamentos; no resfriamento de circuitos elétricos,
dimensionamento de sistemas de controle em processos de aquecimento e resfriamento etc.
O objetivo principal de estudo será o entendimento dos conceitos básicos que envolvem
a transmissão de calor, que torne você, aluno(a), capaz de entender e aplicar esses conceitos em
aplicações práticas de Engenharia.
Bons estudos!

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

1 CALOR – DEFINIÇÕES E UNIDADES

Calor é uma forma de energia em trânsito, que ocorre devido a uma diferença de
temperatura. Ou seja, sempre que existir um gradiente de temperatura dentro de um sistema ou
que dois sistemas, a diferentes temperaturas, forem colocados em contato, haverá transferência
de energia (Figura 1), chamada calor ou transferência de calor. É um fenômeno transitório pelo
fato de ser uma grandeza que não pode ser observada ou medida diretamente num corpo, porém,
os efeitos que ela produz são suscetíveis de observação e medição – calor só é identificado quando
atravessa a fronteira do sistema.

Figura 1 - Corpos em contato com diferente temperatura – fluxo de calor. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

O calor trocado entre dois corpos com temperaturas diferentes flui espontaneamente

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


do meio mais quente para o meio mais frio e cessa quando os dois meios atingem a mesma
temperatura. A seguinte convenção é adotada:

• Corpo recebe (absorve) calor: Q > 0 (+).


• Corpo cede (perde) calor: Q < 0 (-).
No Sistema Internacional (SI), a unidade de energia é o joule (J), ou quilojoule (1kJ = 1000
J). No sistema inglês, a unidade de energia é o British termal unit (Btu). Outra unidade de energia
bem conhecida é a caloria, definida como a energia necessária para aumentar a temperatura em
1º C de 1 g de água à 14,5º C.

• 1 cal = 4,1868 J
• 1 Btu = 1,055 kJ
Sendo calor uma forma de energia, todos os processos de transferência de calor envolvem
transferência e conversão de energia. O ramo da ciência que trata da relação entre o calor e as
outras formas de energia é chamado termodinâmica. A Figura 2 mostra uma máquina térmica na
qual podemos verificar a conversão de energia térmica (calor) em energia mecânica.

Figura 2 - Conversão de energia térmica em energia mecânica. Fonte: El Calor (2022).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A ciência que se preocupa com a determinação das taxas de transferência de energia


é a transferência de calor. A quantidade de calor transferida durante determinado processo é
representada por Q. A quantidade de calor transferida por unidade de tempo é denominada
taxa de transferência de calor e tem como unidade, no SI, o J/s, que é equivalente a W (Watt). A
taxa de transferência de calor por unidade de área normal à direção da transferência de calor é
denominada fluxo de calor e tem por unidade o W/m2, no SI.

2 MECANISMOS DE TRANSFERÊNCIA DE CALOR

O processo de transferência de calor pode ocorrer por três mecanismos distintos:


condução, convecção e radiação.

2.1 Condução

É o mecanismo de transferência de energia de moléculas mais energéticas de uma


substância (com maior energia cinética e, consequentemente, maior temperatura) para

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


moléculas de uma região adjacente com menor nível energético. Esse mecanismo é característico
em meios estacionários e ocorre ao nível molecular devido ao contato direto entre partículas
mais energéticas e menos energéticas. A condução pode ocorrer em sólidos, líquidos e gases, no
entanto, é mais característica nos sólidos devido às moléculas serem mais agregadas do que nos
fluidos, ocasionando uma maior interação molecular.
Um exemplo típico de transferência de calor por condução é o aquecimento, por uma
chama, da extremidade de uma barra de ferro (Figura 3). Após certo intervalo de tempo, a outra
extremidade, que estava fria inicialmente, também estará quente, ou seja, o calor foi transferido
para outra extremidade. As partículas em contato com a chama adquirem energia cinética
(consequentemente, temperatura) e a transmitem às partículas adjacentes que estão em contato
e com menor nível energético.

Figura 3 - Condução numa barra de ferro. Fonte: Os autores.

O mecanismo da condução pode ocorrer num gás submetido a uma diferença de


temperatura (T1 > T2) (Figura 4). As duas regiões, (1) e (2), estão separadas por um plano
hipotético X. As moléculas da região (1), com maior nível energético (temperatura), ao entrarem
em contato com as partículas da região (2), transmitem calor por condução.

Figura 4 - Condução de calor num gás. Fonte: Os autores.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A taxa de condução de calor por um meio depende da geometria, da espessura, do tipo


de material e da diferença de temperatura a que o meio está submetido. Quando envolvemos um
tanque de água quente com lã de vidro (material isolante térmico), reduzimos sua taxa de perda
de calor. Quanto maior for o isolamento, menor será a perda de calor. Um tanque de água quente
perde calor a uma taxa maior quando a temperatura do ambiente em que se encontra é reduzida.
Além disso, quanto maior for o tanque, maior será a área superficial, logo, maior será a taxa de
perda de calor.
Consideremos a análise da condução de calor em regime permanente através de uma
grande parede plana de espessura ∆x = L e área A, com uma diferença de temperatura ∆T = T1 –
T2, como mostra a Figura 5.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Figura 5 - Condução de calor numa parede plana. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

Observa-se experimentalmente que a taxa de condução de calor (Q) é diretamente


proporcional à área (A), e que a diferença de temperatura (∆T) é inversamente proporcional à
espessura (∆x) da parede. Assim,

A relação de proporcionalidade anterior pode ser escrita em forma de equação matemática


como:

Eq (1)

em que a constante de proporcionalidade k é a condutividade térmica do material, que é a


medida da capacidade do material de conduzir calor. No caso limite de ∆x → 0, a equação se reduz
à forma diferencial, que é denominada lei de Fourier da condução térmica:

Eq (2)

Nessa equação, dT/dx é o gradiente de temperatura, que é a inclinação da curva do gráfico


T – x (taxa de variação de T com relação a x) na coordenada x. Essa relação indica que a taxa
de condução de calor em dada direção é proporcional ao gradiente de temperatura na mesma
direção.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O calor é conduzido no sentido da temperatura decrescente, e o gradiente de temperatura


torna-se negativo quando a temperatura decresce com o aumento de x. O sinal negativo, na
equação 2, assegura que a transferência de calor no sentido positivo de x seja uma quantidade
positiva. E a área de transferência de calor A é sempre normal à direção da transferência de calor
(CENGEL; CIMBALA, 2007).
A condutividade térmica (k) de um material exprime a maior ou menor facilidade desse
material em conduzir calor. Sua unidade é facilmente obtida da própria equação de Fourier.
Seguem alguns exemplos de unidades em que k pode ser expresso:

etc.

Observação: W/m.ºC = W/m.ºK, pois ∆T(ºC) = ∆T(ºK). Ou seja, a variação da


temperatura em graus Celsius (ºC) é equivalente à variação em graus Kelvin (ºK). O mesmo vale
para as outras unidades de condutividade térmica.
Os valores numéricos de k variam em função da constituição química, estado físico e
temperatura dos materiais. Quando o valor de k é elevado, o material é condutor térmico (o
material que tem baixo valor) e isolante térmico. A Tabela 1 mostra o valor de k de alguns
materiais.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Tabela 1 - Condutividade Térmica k de alguns materiais.

Fonte: Os autores.

Com relação à temperatura, em alguns materiais, como o alumínio e o cobre, o k varia


muito pouco com a temperatura. Porém, em outros, como alguns aços, o k varia significativamente
com a temperatura. Nesses casos, pode ser adotado um valor médio de k em um intervalo de
temperatura. A Figura 6 mostra a variação da condutividade térmica com a temperatura de
alguns materiais.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Figura 6 - Variação da condutividade (k) com a temperatura. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

Exemplo 1
A Figura 7 representa uma parede na qual as superfícies interna e externa estão a 30º

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


C e 12º C, respectivamente. Tal parede possui 0,30 m de espessura e 0,95 W/mºC de
condutividade térmica.

Figura 7 – Condução de calor através de uma parede. Fonte: Os autores.

Determine a taxa de transferência de calor através de uma parede de área igual a 5 m2.
Solução: Considerando que a transferência de calor seja unidimensional e em regime
permanente, a taxa de transferência de calor é calculada pela Eq. (4). Assim,

Logo, a taxa de calor transferida é igual a 285 W.

Para um maior aprofundamento sobre a aplicação da equação da condução, leia o


Capítulo 2 do livro: ÇENGEL, Y. A. Transferência de Calor e Massa: Uma Abordagem
Prática. 3. ed. São Paulo: McGrawHill, 2009. Assuntos como condução em regime
transiente, condução em coordenadas retangulares, cilíndricas e esféricas e
problemas de valor inicial e de fronteira são tratados no capítulo.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 2

O telhado de uma casa com aquecimento elétrico tem 6 m de comprimento, 8 m


de largura e 0,25 m de espessura e é feito de uma camada plana de concreto, cuja
condutividade térmica é de 0,75 W/m.K, como ilustra a Figura 8.

Figura 8 – Condução de calor em uma parede. Fonte: Os autores.

As temperaturas das faces interna e externa do telhado, medidas em uma noite, são
iguais a 15º C e 4º C, respectivamente, durante um período de 10 horas. Com bases
nessas informações, determine:

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


A) a taxa de perda de calor através do telhado naquela noite.
B) o custo dessa perda de calor para o proprietário, considerando que o custo da
eletricidade é de R$ 0,58 /kWh.
Solução: Considerando que a transferência de calor seja unidimensional e em regime
permanente, a taxa de transferência de calor é calculada pela Eq. (4). Assim,

Logo, num período de 10 h, as perdas de energia são iguais a 15,84 kWh. Daí, o custo
dessa perda de calor para o proprietário é de

Exemplo 3

Um isolante térmico de 20 cm de espessura e condutividade térmica igual a 20 W m-1


K-1 apresenta a temperatura da superfície quente igual a 80° C e a da superfície fria igual
a 40° C. Considerando essas informações, determine:
A) a taxa de transferência de calor por unidade de área através da parede.
B) o valor da espessura da parede, considerando que se deseja uma redução de 50% no
fluxo de calor.
Solução: Considerando que a transferência de calor seja unidimensional e em regime
permanente, a taxa de transferência de calor é calculada pela Eq. (4). Assim,

Agora, para redução em 50% na taxa de transferência de calor, temos que o mesmo
deverá ser de Q = 2.000 W. Dessa maneira, a espessura da parede deverá ser de

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 4

(ENADE) Um ambiente termicamente confortável é uma das condições que devem


ser consideradas em projetos de edificações. A fim de projetar um ambiente interno
com temperatura de 20º C para uma temperatura externa de 35º C, um engenheiro
considerou, no dimensionamento, um fluxo de calor através de uma parede externa de
105 w/m2, conforme ilustra a Figura 9.

Figura 9 – Parede com condução de calor. Fonte: ENADE (2017).

A tabela a seguir apresenta os valores da condutividade térmica para alguns materiais

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


de construção.

A fim de se obter a temperatura interna desejada, qual deve ser o material selecionado,
dentre os apresentados na tabela anterior, para composição da parede externa?
(A) Concreto
(B) Pedra natural
(C) Placa de madeira prensada
(D) Placa com espuma rígida de poliuretano
(E) Placa de aglomerado de fibras de madeira
Solução: Considerando que a transferência de calor seja unidimensional e em regime
permanente, a condutividade térmica do material a ser utilizado é calculada pela Eq.
(4). Temos que Q/A = 105 Wm-2, ∆T = 20 – 35 = –15 e = 0,20 m. Assim,

Assim, atende às especificações do projeto o concreto. Logo, alternativa (A).

Além da condutividade térmica, pode-se definir a difusividade térmica (α) como:

Eq (03)

em que ρ é a massa específica e cp é o calor específico à pressão constante da substância.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A difusividade térmica de uma substância pode ser entendida como a razão entre
a capacidade de ela conduzir calor e a capacidade de ela armazenar calor. Observe que a
difusividade térmica tem a mesma dimensão de viscosidade cinemática (L2T-1). Um material com
alta condutividade térmica e baixa capacidade térmica (ρ cp) terá, com certeza, uma elevada
condutividade térmica e, quanto maior o valor da difusividade térmica, mais rapidamente
ocorrerá a propagação de calor no meio. Por outro lado, um material com baixa difusividade
térmica indica que uma maior parte do calor é absorvida pelo material, e uma pequena parcela é
conduzida adiante.
A razão entre a viscosidade cinemática (ν) e a difusividade térmica (α) define o número
de Prandtl:

Eq (04)

em que μ é a viscosidade absoluta. A equação (01) pode ser reescrita como

Eq (05)

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


O termo é denominado resistência térmica de condução, é denotado por R
e depende da geometria do sistema e do material que constitui a parede. Assim, podemos fazer
uma analogia entre a resistência térmica de condução e a resistência elétrica de circuito elétrico,
como ilustra a Figura 10.

Figura 10 – Analogia de resistência elétrica e térmica. Fonte: Os autores.

Na prática, em inúmeras situações encontramos paredes planas que consistem em


várias camadas de materiais distintos. O conceito de resistência térmica pode ser utilizado para
determinar a taxa de transferência de calor permanente através dessas paredes compostas, como
ilustrado na Figura 11.

Figura 11 – Ilustração de parede composta. Fonte: Os autores

WWW.UNINGA.BR 106
EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Considerando a parede composta da Figura 11, a rede de resistência térmica de


transferência de calor por condução através da parede é mostrada na Figura 12. Considere, ainda,
que as paredes estão submetidas a temperaturas constantes e conhecidas T1 e T3, respectivamente.

Figura 12 – Rede de resistência térmica de condução de duas paredes planas. Fonte: Os autores.

Como o fluxo de calor que atravessa a parede é o mesmo, segue que

e, ainda, que

Somando membro a membro as duas equações anteriores, segue que

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Note que os termos dentro dos parênteses do lado direito da equação anterior
correspondem às resistências térmicas de condução. Assim, a taxa de transferência de calor por
condução pode ser determinada por meio da equação:

Sem perda de generalidade, podemos considerar a transferência de calor através de uma


parede composta por N paredes associadas em série. Daí, a taxa de transferência de calor pode
ser determinada por meio da equação:

Eq (06)

em que ∆T denota a variação de temperatura total através da parede, e ∑Rtotal corresponde


à soma das N resistências das N paredes em série.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 5
A Figura 13 apresenta duas barras de materiais diferentes, combinadas em série e
montadas entre duas paredes. A área da seção reta de cada barra vale 1 m2, e ambas
possuem 0,4 m de espessura. Considerando-se as condutividades térmicas apresentadas,
determine a taxa de calor através das paredes e as temperaturas nas interfaces ao longo
da parede.

Figura 13 – Duas paredes em série. Fonte: Os autores.

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Solução: Temos a condução de calor através de duas paredes em série. Assim,
considerando regime permanente, a equação (6) pode ser empregada. A resistência
térmica de condução das paredes 1 e 2 é calculada como mostrado a seguir:

e a resistência total é Rtotal = 0,005 + 0,010 = 0,015 K W-1. Daí, substituindo na equação
(4), segue que a taxa de calor através das paredes é:

Para determinar a temperatura na interface, usamos o fato de que a taxa de transferência


de calor por condução através das paredes é a mesma. Assim, considerando a parede da
esquerda e aplicando novamente a equação (6), temos que

ou seja, a temperatura na interface é, aproximadamente, de 106,7º C. O(A) estudante


cético(a) e com insônia fica convidado(a) a verificar o mesmo resultado, quanto à
temperatura da parede na interface, começando através da parede da direita.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 6
A parede externa de uma casa é composta por uma camada de 25 cm de espessura de
tijolo comum e uma camada de 5 cm de gesso, como ilustra a Figura 14. Qual a taxa de
transferência de calor por unidade de área se a face externa da parede se encontra a 35°
C e a face interna a 20° C?
Dados: ktijolo = 0,70 W/m.K; kgesso = 0,50 W/m.K

Figura 14 – Duas paredes em série. Fonte: Os autores.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Solução: Temos a condução de calor através de duas paredes em série. Assim,
considerando regime permanente, a equação (6) pode ser empregada. A resistência
térmica de condução das paredes 1 (de tijolo) e 2 (de gesso) é calculada como mostrado
a seguir:

e a resistência total é Rtotal = 0,357 + 0,10 = 0,457 KW-1. Daí, substituindo na equação (6),
segue que a taxa de calor através das paredes é

Logo, a taxa de transferência de calor por condução é de 32,8 W.

Considere, agora, um sistema composto por paredes planas associadas em paralelo,


submetidas a uma fonte de calor, de temperatura constante e conhecida de um lado e a um sorvedouro
de calor do outro lado, também de temperatura constante e conhecida, como ilustra a Figura 15.

Figura 15 – Associação de paredes em paralelo. Fonte: Os autores.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Considere, também, que todas as paredes estão sujeitas à mesma diferença de temperatura,
que as paredes podem ser de materiais e/ou dimensões distintas e que a taxa de calor total é a
soma das taxas por cada parede individual. Assim, a taxa de transferência de calor na parede 1 é
dada por

e, no caso da parede 2, a taxa de transferência de calor é

Daí, como o fluxo de calor total é igual à soma dos fluxos de calor, segue que

Considerando a parede composta da Figura 8, a rede de resistência térmica de transferência


de calor por condução através da parede é mostrada na Figura 16.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Figura 16 – Rede de resistência térmica de condução de duas paredes planas. Fonte: Os autores.

Sem perda de generalidade, podemos considerar a transferência de calor através de uma


parede composta por N paredes associadas em paralelo. Daí, a taxa de transferência de calor pode
ser determinada por meio da equação

Eq (07)

em que ∆T denota a variação de temperatura total através da parede, e corresponde


à soma das N resistências das N paredes em paralelo.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 7

A Figura 17 apresenta duas barras de materiais diferentes, combinadas em paralelo


e montadas entre duas paredes. A área da seção reta de cada barra vale 0,5 m2.
Considerando-se as condutividades térmicas apresentadas, determine o fluxo de calor
através das paredes e as temperaturas nas interfaces ao longo da parede.

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Figura 17 – Duas paredes em paralelo. Fonte: Os autores.

Solução: Temos a condução de calor através de duas paredes em paralelo. Assim,


considerando regime permanente, a equação (07) pode ser empregada. A resistência
térmica de condução das paredes 1 e 2 é calculada como mostrado a seguir:

e a resistência total das paredes em paralelo é .

Daí, substituindo na equação (07), segue que a taxa de calor através das paredes é

Portanto, a taxa de transferência de calor é de, aproximadamente, 4,9 kW.

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2.2 Convecção

É o modo de transferência de energia entre a superfície sólida e a líquida ou gás adjacente


que está em movimento e que envolve os efeitos combinados de condução e de movimento de
um fluido. Quanto mais rápido for o movimento do fluido, maior será a transferência de calor
por convecção. Na ausência de qualquer movimento da massa de fluido, a transferência de calor
entre a superfície sólida e o fluido adjacente se dá por pura condução. A presença de movimento
da massa de fluido aumenta a transferência de calor entre eles, mas isso também dificulta a
determinação das taxas de transferência de calor (CENGEL; CIMBALA, 2009).
Exemplos de ocorrência da convecção:

• Transferência de calor do ar quente presente em um forno (ou estufa) para as paredes


internas do forno (ou estufa).
• Ar expelido por uma ventoinha para esfriar as placas de um circuito elétrico.
• Transferência de calor do vapor d'água escoando numa tubulação cilíndrica para as
paredes internas do tubo.
• Correntes de ar frio no interior de uma geladeira.

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• Incidência do ar ambiente num líquido quente (como um copo de café).
A convecção é chamada convecção forçada se o fluido é forçado a fluir sobre a superfície
por meios externos, como ventilador, bomba ou vento. Em contrapartida, a convecção é chamada
convecção natural (ou livre) se o movimento do fluido é causado por forças de flutuação
induzidas por diferenças de densidade, decorrentes da variação da temperatura no fluido.
Por exemplo, na ausência da ventoinha, a transferência de calor da superfície de um bloco
quente se dá por convecção natural, uma vez que qualquer movimento no ar, nesse caso, será
devido à subida do ar mais quente (que é menos denso) próximo da superfície e à descida do ar
mais frio (que é mais denso) para preencher seu lugar – as correntes de convecção. A Figura 18
ilustra o exemplo do resfriamento do bloco quente por convecção natural e forçada.

Figura 18 - Resfriamento de um bloco quente por convecção natural e forçada. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

Apesar da complexidade do processo de transferência por convecção, observa-se que a taxa


de transferência de calor por convecção é diretamente proporcional à diferença de temperatura e
pode ser expressa pela lei de Newton do resfriamento pela expressão:

Eq. (08)

em que: h é o coeficiente de transferência de calor por convecção, também denominado


coeficiente de película, em W/(m2.ºC), Btu/h/( m2.ºC) ou kcal/h / m2.ºC; A é a área da superfície através
da qual ocorre a transferência de calor; Ts é a temperatura da superfície; e T∞ é a temperatura do fluido.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

O coeficiente de transferência de calor, h, é um parâmetro determinado experimentalmente,


cujo valor depende das variáveis que influenciam a convecção, como a geometria da superfície,
a natureza do escoamento do fluido, a velocidade da massa fluida e de propriedades do fluido.
Valores típicos de h são apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 - Coeficiente convectivo (h) – exemplos.


Meio kcal/h.m2.oC
Ar, convecção natural 5-25
Vapor, convecção forçada 25-250
Óleo, convecção forçada 50-1500
Água, convecção forçada 250-10000
Água convecção em ebulição 2500-50000
Vapor, em condensação 5000-100000
Fonte: Os autores.

O coeficiente de transferência de calor por convecção não é uma propriedade do fluido e,

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sim, um parâmetro determinado experimentalmente e, de acordo com Çengel e Ghajar (2012),
depende da geometria da superfície, da natureza do movimento do fluido, das propriedades do
fluido e da vazão mássica do fluido.

Exemplo 8
Calcule a taxa de transferência de calor por convecção natural entre um telhado de
galpão de 20 m x 20 m de lado e o ar ambiente, Figura 19, se a temperatura da superfície
do telhado é de 27º C, a temperatura do ar é de 3º C e o coeficiente de transferência de
calor médio é de 11 W m-2K-1.

Figura 19 – Transferência de calor por convecção no telhado de um galpão. Fonte: Os autores.

Solução: Considerando apenas a transferência de calor por convecção, segue que ela
pode ser determinada pela Eq. (08). Assim,

Portanto, a quantidade de calor transferida por convecção através do telhado é de 105,6


kW. Observe que o valor positivo de Q indica que o calor está sendo transmitido do
telhado para o ar atmosférico.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 9
Um determinado fluido escoa através de um tubo de 30 cm de diâmetro interno. O
fluido se encontra a uma temperatura de 65° C. A temperatura da superfície interna do
tubo é de 40° C. Considerando um coeficiente de transferência de calor por convecção
de 2000 W/m².K, calcule a taxa de transferência de calor por metro de comprimento
linear de tubo.
Solução: Considerando apenas a transferência de calor por convecção, segue que ela
pode ser determinada pela Eq. (08). Assim,

No entanto, a área do tubo é A = 2 × π × R × L. Daí, a taxa de transferência de calor por


metro de comprimento linear de tubo é calculada como

Portanto, a quantidade de calor por unidade de comprimento transferida por convecção


é de 47,1 Wm-1. Observe que o valor negativo indica que o calor está sendo transmitido

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do fluido para o tubo.

Exemplo 10
Um transistor, com altura de 0,4 cm e 0,6 cm de diâmetro, é montado sobre uma placa
plana de circuito, como apresentado na Figura 20.

Figura 20 – Convecção na placa de um circuito. Fonte: Os autores.

O transistor é resfriado com ar fluindo sobre ele com coeficiente médio de transferência
de calor de 30 W/m².K. Considerando que a temperatura do ar é de 45ºC e o valor
da temperatura da superfície do transistor não exceda 70º C, determine a quantidade
de energia que esse transistor pode dissipar de forma segura. Desconsidere qualquer
transferência de calor da base do transistor.
Considerando apenas a transferência de calor por convecção, segue que ela pode ser
determinada pela Eq. (08). Assim,

Logo, a quantidade de energia que esse transistor pode dissipar de forma segura é de
7,78 × 10-2 W.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 11
A temperatura de ebulição do nitrogênio é de – 196º C e, por isso, é empregado em
estudos científicos em baixa temperatura, uma vez que a temperatura se mantém
constante em – 196º C até acabar o nitrogênio líquido no tanque. Considere um tanque
esférico de 3 m de diâmetro, inicialmente cheio de nitrogênio líquido a 1 atm e -196º C,
como ilustra a Figura 21.

Figura 21 – Tanque esférico de nitrogênio líquido. Fonte: Os autores.

O tanque é exposto ao ar ambiente a 23º C, com coeficiente de transferência de calor

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


de 26 W/m².K. A temperatura do tanque esférico de casca fina é quase a mesma do
nitrogênio em seu interior. Ignorando qualquer troca de calor por radiação, determine
a taxa de evaporação do nitrogênio líquido no tanque como resultado da transferência
de calor para o ar ambiente. Dados: calor latente de vaporização: 198 kJ/kg; massa
específica: 810 kg/m3.
Solução: Considerando apenas a transferência de calor por convecção, segue que ela
pode ser determinada pela Eq. (08). Assim,

Fique atento(a) que a área da superfície da esfera é A = 4π × R2. Observe que o sinal
negativo de Q indica que o nitrogênio líquido perde calor para o ambiente. Assim, a
massa de nitrogênio líquido que evapora é calculada por meio da Eq. (2). Daí,

ou seja,
Portanto, a taxa de evaporação do nitrogênio líquido no tanque como resultado da
transferência de calor para o ar ambiente é, aproximadamente, 1 l s-1.

O matemático, físico e astrônomo Isaac Newton (1642-1727) nasceu na Inglaterra


e é considerado um dos maiores cientistas da história. A lei de resfriamento
de Newton também pode ser reescrita da seguinte maneira: a taxa segundo a
qual decresce a temperatura de um objeto que está esfriando e a taxa segundo
a qual cresce a temperatura de um objeto que está esquentando é proporcional
à diferença entre a temperatura do objeto e a temperatura do ambiente. Assim,
podemos escrever a seguinte equação diferencial ordinária: dT/dt=c (T-T_∞ ), em
que c é uma constante, T é a temperatura, t é o tempo, e T_∞ é a temperatura na
qual está inserido o objeto.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Resolver equações diferenciais faz parte do cotidiano de engenheiros


mecânicos. Em problemas de transferência de calor, é muito comum
a resolução de equações diferenciais de primeira ordem. O vídeo a
seguir mostra-nos algumas aplicações e resolução desse tipo de
equações diferenciais.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=EakgST1_3cQ.

2.3 Radiação

É a energia emitida por um corpo na forma de ondas eletromagnéticas (ou fótons) devido
à ocorrência de mudanças na configuração eletrônica de átomos ou moléculas. Diferente da
condução e da convecção, a transferência de energia por radiação não requer a presença de um
meio interveniente para ocorrer – é a única que ocorre no vácuo. Essa é a forma como a energia

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


do Sol atinge a Terra.
Em estudos de transferência de calor, estamos interessados em radiação térmica, que é
a forma de radiação emitida pelos corpos por causa de sua temperatura. Ela difere de outras
formas de radiação eletromagnética, como raios-X, raios-gama, micro-ondas e ondas de rádio
e televisão, que não estão relacionadas com a temperatura. Todos os corpos, a uma temperatura
superior ao zero absoluto, emitem radiação térmica (CENGEL; CIMBALA, 2007).
A taxa máxima de radiação que pode ser emitida de uma superfície na temperatura
termodinâmica Ts (em K ou R) é dada pela lei de Stefan-Boltzmann da radiação térmica como:

Eq. (09)

onde σ = 5,67 × 10-8 W m-2 K-4 é a constante de Stefan-Boltzmann.


A superfície idealizada que emite radiação a essa taxa máxima é chamada de corpo negro.
As superfícies reais (chamadas corpos cinzentos) emitem radiação a uma taxa menor do
que a emitida por um corpo negro. Sua taxa de emissão é expressa por:

Eq. (10)

em que ε é um coeficiente denominado emissividade da superfície e varia entre zero e


um: 0 ≤ ε ≤ 1. Para os corpos negros, ε = 1.

Figura 22 - Calor emitido por um corpo a uma temperatura Ts. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Pelo que foi exposto, todos os corpos emitem calor a uma taxa (Qemit). O calor emitido
por um corpo, a uma temperatura Ts, incide (Qinc) em corpos que estão na vizinhança do corpo
emissor, sendo que parte dessa energia é absorvida (Qabs), e parte é refletida (Qref ). Todos os
sólidos, líquidos e gases emitem, absorvem e refletem radiação em diferentes graus.

Figura 23 - Energia incidente, refletida e absorvida por um corpo. Fonte: Cengel e Cimbala (2007).

Nas equações mostradas na Figura 23, coeficiente α é denominado absortividade da


superfície e indica a fração de energia de radiação incidente que o corpo absorve - 0 ≤ α ≤ 1. Um

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corpo negro absorve toda a energia incidente sobre ele (α = 1).
Em geral, tanto ε quanto α de uma superfície dependem da temperatura e comprimento
de onda da radiação. A lei de Kirchhoff do estado da radiação indica que a emissividade e a
absortividade de uma superfície, a uma determinada temperatura e comprimento de onda, são
iguais (ε = α).
A transferência de calor líquida por radiação é dada pela diferença entre as taxas de
radiação emitida pela superfície e de radiação absorvida, sendo dada pela expressão:

Eq. (11)

em que Tcirc é a temperatura do corpo que circunda o corpo emissor. Há ganho de energia
no caso em que a taxa de absorção é maior que a taxa de emissão.
A transferência de radiação de calor para uma superfície cercada de gás, como o ar, ocorre
paralelamente por condução (ou convecção se houver um movimento da massa de gás) entre a
superfície e o gás. Assim, a transferência total de calor é determinada pela adição das contribuições
de ambos os mecanismos de transferência de calor. Por simplicidade e conveniência, isso é muitas
vezes feito por meio da definição de um coeficiente combinado de transferência de calor hcombinado,
que inclui tanto os efeitos da radiação quanto os da convecção (CENGEL; CIMBALA, 2007).

No vídeo Aplicações da Irradiação Térmica, são apresentados


assuntos interessantes que envolvem a aplicação da radiação
térmica, como: garra térmica, efeito estufa e placas para
aquecimento de água.
Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=WVongbcyYbg.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 12

Uma haste cilíndrica longa, aquecida eletricamente, com 4 cm de diâmetro e 100 cm de


comprimento é instalada num forno a vácuo. A superfície da haste tem emissividade
de 0,85 e é mantida a 727º C, enquanto as paredes do forno são negras e estão a 527º C.
Determine a taxa líquida de calor que é retirada da haste.
Solução: Considerando apenas a transferência de calor por radiação, segue que a mesma
pode ser determinada pela Eq. (11). Assim,

Assim, a taxa líquida de calor que é retirado da haste por radiação é, aproximadamente,
3,6 kW.

Exemplo 13

Considere uma caixa eletrônica selada de 20 cm de altura, com área de base 50 cm x 50

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


cm, colocada em uma câmara de vácuo, como ilustra a Figura 24. A emissividade da
superfície externa da caixa é de 0,95. Os componentes eletrônicos na caixa dissipam o
total de 120 W de potência.

Figura 24 – Caixa eletrônica. Fonte: Os autores.

A temperatura da superfície externa da caixa não pode exceder 55º C. Determine a


temperatura na qual as superfícies ao redor devem ser mantidas se a caixa for resfriada
apenas por radiação. Assuma que a transferência de calor da superfície inferior da caixa
para o suporte seja insignificante.
Solução: Considerando apenas a transferência de calor por radiação, segue que a
temperatura da vizinhança pode ser determinada pela Eq. (11). Assim,

Logo, a temperatura na qual as superfícies ao redor devem ser mantidas a fim de a caixa
ser resfriada apenas por radiação é de 32,6ºC.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

A Figura 25 sugere que a condução, a radiação e a convecção são formas de


transmissão de calor que acontecem simultaneamente.

Figura 25 – As formas de transmissão de calor. Fonte: Os autores.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


2.4 Mecanismos Combinados de Transferência de Calor

Na maioria das situações práticas, os mecanismos de transferência de calor ocorrem


simultaneamente. Nos problemas de Engenharia, quando um dos mecanismos domina
quantitativamente, soluções aproximadas podem ser obtidas desprezando-se os outros
mecanismos. Como exemplo, a Figura 26 mostra uma garrafa térmica para armazenar café
quente. Observe os vários mecanismos que ocorrem:

q1: convecção natural entre o café e a parede do frasco plástico;


q2: condução através da parede do frasco plástico;
q3: convecção natural do frasco para o ar;
q4: convecção natural do ar para a capa plástica;
q5: radiação entre as superfícies externa do frasco e interna da capa plástica;
q6: condução através da capa plástica;
q7: convecção natural da capa plástica para o ar ambiente;
q8: radiação entre a superfície externa da capa e as vizinhanças.

Figura 26 - Mecanismos simultâneos numa garrafa térmica. Fonte: Quites e Lia (2010).

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 14
Considere uma janela de vidro, ilustrada na Figura 27, de 0,8 m de altura, 1,5 m de largura,
8 mm de espessura e condutividade térmica k = 0,78 W m-1K-1. Determine a taxa de
transferência de calor permanente através dessa janela de vidro para o dia em que a sala está
mantida a 20º C, enquanto a temperatura externa é de –10º C.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Figura 27 – Esquema de parede para o exemplo. Fonte: Cengel e Ghajar (2012).

Solução: Considerando o regime permanente, a equação de Fourier pode ser empregada. Note
que o circuito térmico é dado pela Figura 28, em que: R1 corresponde à resistência por convecção
na parte interna; R2, à resistência por condução; e R3, à resistência por convecção na parte externa.

Figura 28 – Circuito térmico. Fonte: Os autores.


Assim,

Assim, a resistência total é

Substituindo na equação (4), segue que a taxa de calor através das paredes é

Logo, a taxa de transferência de calor é de 266,2 W.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 15
Considere uma janela de painel duplo de 0,8 m de altura e 1,5 m de largura, composta por
duas placas de vidro (k = 0,78 W m-1K-1) de 4 mm de espessura, separadas por uma camada
de ar estagnado (k = 0,026 W m-1K-1) de 10 mm de largura, como ilustrado na Figura 29.
Determine a taxa de transferência de calor através dessa janela de painel duplo enquanto a
temperatura externa estiver em -10º C. Considere os coeficientes de transferência de calor
sobre as superfícies interna e externa da janela iguais a 10 W m-2 K-1 e 40 W m-2 K-1.

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Figura 29 – Esquema de parede para o exemplo. Fonte: Cengel e Ghajar (2012).

Solução: Considerando o regime permanente, a equação de Fourier pode ser empregada.


Note que o circuito térmico é apresentado na parte inferior na Figura 29, em que R1, R2 e R3
correspondem às resistências por condução, e Ri e Re, às resistências por convecção. Assim,

Assim, a resistência total é

Substituindo na equação (4), segue que a taxa de calor através das paredes é

Logo, a taxa de transferência de calor é de 69,2 W.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

3 CONDUÇÃO DE CALOR EM REGIME PERMANENTE EM CILINDROS E


ESFERAS

Considere um cilindro vazado, de comprimento L, de raio interno r1 e externo r2,


constituído de um material cuja condutividade térmica é k, submetido a uma diferença de
temperatura entre a superfície interna (T1) e externa (T2), como apresentado na Figura 30.

Figura 30 – Condução de calor através de um cilindro. Fonte: Os autores.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Para a condução de calor unidimensional, em coordenadas cilíndricas, a Lei de Fourier é
escrita como

Eq (12)

Para a Eq. (12), separando as variáveis, substituindo a área pela expressão da área lateral
do cilindro (A = 2 × π × r × L) e integrando, temos que:

Aplicando o Teorema Fundamental do Cálculo, segue que

Daí, segue que a taxa de condução de calor através do cilindro é

Eq (13)

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Note que a Eq. (13) pode ser reescrita como:

Eq (14)

As equações 12 e 13 permitem o cálculo da taxa de transferência de calor em um cilindro. O


denominador da Eq. (13) é dito de resistência de condução de calor em uma camada cilíndrica.
Considerando a resistência por convecção, nas partes interna e externa do cilindro, escrevemos
que a resistência total sobre a superfície cilíndrica é dada por:

Eq (14)

Para situações em que há camadas sobrepostas, em formato cilíndrico, como ilustrado


pela Figura 31, o procedimento é análogo à associação de paredes planas em série.

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Figura 31 – Associação de paredes cilíndricas em série. Fonte: Çengel e Ghajar (2012).

Em situações como a apresentada pela Figura 31, a resistência total, obtida a partir do
circuito térmico, é calculada como segue:

Eq (15)

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 16
Compare a perda de calor em uma tubulação cilíndrica de cobre isolada e não isolada,
ilustrada pela Figura 32, sob as condições a seguir. A tubulação (k = 400 W m-1 K-1) tem
diâmetro interno de 15 cm e externo de 17 cm. Vapor saturado flui através dessa tubulação a
110º C e h = 15 W m-2 K-1. A tubulação está localizada em ambiente a 30º C, onde o coeficiente
de transferência de calor em sua superfície externa é estimado em 20 W m-2 K-1. O isolamento
disponível para reduzir as perdas de calor tem uma espessura de 3,5 cm, e sua condutividade
térmica é igual a 0,25 W m-1 K-1. Admita que o comprimento do cilindro seja de 1 m.

Figura 32 – Condução de calor através de cilindro e circuito térmico. Fonte: Kreith e Bohn (2003).

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Solução: Considerando regime permanente e que o cilindro inicialmente não possui a
camada de isolante, a equação 15 pode ser empregada para o cálculo da resistência total.
Assim,

Aplicando a equação (4), temos que a taxa de taxa de transferência de calor é

Agora, vamos considerar regime permanente e que o isolamento foi acrescentado ao


cilindro. Assim, uma nova camada surge e, a ela, temos associada uma resistência térmica
por condução. A resistência total, nesse caso, é

em que r3 corresponde ao raio da camada de isolante acrescentada. Assim,

Aplicando novamente a lei de Fourier, temos que a taxa de transferência de calor é

Observe que o percentual de redução da taxa de transferência de calor, devido à adição da


camada de isolante, corresponde a, aproximadamente, 48%, em relação à quantia inicial.

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EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Exemplo 17

Vapor superaquecido a uma temperatura de 210º C é transportado através de um tubo


de aço (k = 45 W m-1 K-1, diâmetro interno = 6 cm e diâmetro externo igual a 8 cm e
comprimento igual a 25 m). O tubo é isolado com uma camada de 2 cm de gesso (k = 0,55
W m-1 K-1) e colocado horizontalmente num ambiente onde a temperatura média do ar é
de 20º C. Os coeficientes de transferência de calor do vapor e do ar são estimados em 850
W m-2 K-1 e 150 W m-2 K-1, respectivamente. Calcule:
A) a taxa de transferência de calor diária a partir do vapor superaquecido.
B) a temperatura da superfície externa do isolamento de gesso.
Solução: A) Considerando o regime permanente, a lei de Fourier pode ser empregada. A
resistência total, nesse caso, é

Assim,

FENÔMENOS DE TRANSPORTE | UNIDADE 4


Aplicando a equação (4), temos que a taxa de transferência de calor é

B) A temperatura da superfície externa do isolamento de gesso é calculada como segue

Daí,

Logo, a temperatura da superfície externa do isolamento de gesso é de 43,6º C.

Considere uma esfera oca submetida a uma diferença de temperatura entre a superfície
interna e externa, como apresentado na Figura 33.

Figura 33 – Transferência de calor em esfera. Fonte: Çengel e Ghajar (2012).

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Admita que a temperatura na superfície interna seja constante e igual a T1, enquanto
que a temperatura da superfície externa seja T2. Para a condução de calor unidimensional, em
coordenadas esféricas, a Lei de Fourier é escrita como

Eq (16)

Para a Eq. (16), separando as variáveis, substituindo a área pela expressão da área da
esfera (A = 4 × π × r2) e integrando, temos que:

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Aplicando o Teorema Fundamental do Cálculo, segue que

Daí, segue que a taxa de condução de calor através de uma esfera é

Eq (17)

Note que a Eq. (17) pode ser reescrita como:

Eq (18)

As equações 17 e 18 permitem o cálculo da taxa de transferência de calor em uma esfera.


O denominador da Eq. (18) é dito de resistência de condução de calor em uma camada esférica.
Considerando a resistência por convecção, na parte interna e externa da esfera, escrevemos que a
resistência total sobre a superfície esférica é dada por:

Eq (19)

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Exemplo 18
Um tanque de aço (k = 40 kcal h-1 m-1 K-1), de formato esférico e raio interno 0,5 m e espessura
5 mm, é isolado com 3,81 cm de lã de rocha (k = 0,04 kcal h-1 m-1 K-1). A temperatura da face
interna do tanque é de 220º C e a face externa do isolante é de 30º C. Após alguns anos de
utilização, a lã de rocha foi substituída por outro isolante, de mesma espessura, tendo sido
notado um aumento de 15% no calor dissipado ao ambiente, mantendo-se constantes as
demais condições. Com base nessas informações, determine:
A) a taxa de transferência de calor por condução pelo tanque isolado com lã de rocha.
B) a condutividade térmica do novo material isolante, considerando que a espessura do
novo material seja de 3,81 cm.
C) qual deveria ser a espessura do novo isolante a fim de que se tenha o mesmo fluxo de
calor que era trocado com a lã de rocha.
Solução: A) Considerando o regime permanente, a lei de Fourier pode ser empregada. A
resistência total por condução, considerando a parede de aço e o isolamento constituído de
lã de vidro, é

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Daí, a taxa de transferência de calor por condução pelo tanque isolado com lã de
rocha é:

B) Considerando o aumento de 15% na taxa de transferência de calor, o novo valor é de


789,5 Kcal h-1. Daí, a nova resistência térmica é

Daí,

C) Para manter a mesma taxa de transferência de calor que a obtida no item (A), o valor da
espessura da nova camada de isolante é calculado a partir da equação da resistência total,
que deverá apresentar o mesmo valor numérico que o inicial. Assim,

o que implica uma espessura de isolante de 0,044 m, ou seja, de 4,4 cm.

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Exemplo 19

Um recipiente esférico e oco de ferro, com 20 cm de diâmetro e 0,2 m de espessura,


contém uma mistura de água e gelo a 0º C. Considerando a temperatura externa de 5º C,
determine a taxa em que o gelo derrete no recipiente. Dado: Calor de fusão da água é de
334 kJ/kg.
Solução: Admitindo regime permanente e desprezando a convecção e a radiação, segue
que a taxa de derretimento de gelo é dada por

em que Q é a taxa de calor fornecido ao sistema, é a taxa de evaporação de gelo e L é


o calor latente de fusão da água. A taxa de transferência de calor (Q) é calculada a partir
da Eq. (17), como segue

Daí, segue que a taxa de derretimento de gelo é

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os mecanismos de transferência de calor envolvem inúmeras aplicações na Engenharia


Elétrica. Uma análise de transferência de calor deve ser efetuada: no projeto de máquinas
elétricas, transformadores e rolamentos a fim de evitar condições que causem superaquecimento
e danos aos equipamentos; no resfriamento de circuitos elétricos, dimensionamento de sistemas
de controle em processos de aquecimento e resfriamento; entre outros.
Nesta unidade, foram vistos os conceitos básicos para que você possa se aprofundar ainda
mais no tema. Lembramos que a complexidade matemática no assunto é muito maior do que foi
apresentada aqui – as análises feitas foram de problemas unidimensionais em regime permanente.
É importante, por parte do(a) aluno(a), a busca de enunciados e resoluções de problemas
referentes aos assuntos tratados nesta unidade e, também, de assuntos complementares que
envolvem o tema. A busca e a consulta em materiais complementares são fundamentais para o
bom entendimento do assunto.

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ENSINO A DISTÂNCIA

REFERÊNCIAS
BAPTISTA, M.; LARA, M. Fundamentos de Engenharia Hidráulica. Belo Horizonte: UFMG,
2010.

BIRD, R. B. Fenômenos de Transporte. São Paulo: LTC, 2013.

BRUNETTI, F. Mecânica dos Fluidos. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

ÇENGEL, Y. A.; CIMBALA, J. M. Mecânica dos Fluidos – Fundamentos e Aplicações. São Paulo:
McGrawHill, 2007.

ÇENGEL, Y. A.; GHAJAR, A. J. Transferência de Calor e Massa – Uma abordagem prática. 4. ed.
Porto Alegre: Mc Grall-hill, 2012.

EL CALOR. Conversão de energia térmica em energia. 2022. Disponível em: elcalor.wordpress.


com. Acesso em: 9 mar. 2022.

FOX, R. W.; McDONALD, A. T.; PRITCHARD, P. J. Introdução à Mecânica dos Fluidos. 6. ed.
São Paulo: LTC, 2012.

GOULDS PUMPS. 2022. Disponível em:https://www.gouldspumps.com/en-US/Home/. Acesso


em: 8 mar. 2022.

KREITH, F.; BOHN, M. S. Princípios da transmissão de calor. São Paulo: Thomson, 2003.

QUITES, E. E. C.; LIA, L. R. B. Fundamentos de Transferência de Calor. 2010. Disponível em:


https://www.ebah.com.br/content/ABAAABLbYAJ/transcal-1. Acesso em: 17 ago. 2018.

RODRIGUES, L. E. M. J. Mecânica dos Fluidos: Aula 5 – Manômetros e Manometria. 2018.


Disponível em: http://engbrasil.eng.br/pp/mf/aula5.pdf. Acesso em: 13 nov. 2018.

VILANOVA, L.C. Mecânica dos fluidos. 3. ed. Santa Maria: Colégio Técnico Industrial de Santa
Maria, 2011.

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