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ANAIS DO VI SIMBIOMA: SIMPÓSIO SOBRE

A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA

Editoração
Tema: Lacunas de conhecimento
Alexander Tamanini Mônico
em um bioma megadiverso e Joelcio Freitas
ameaçado Maridiesse Morais Lopes
Rafael Silva Cipriano
Santa Teresa, Espírito Santo Renan Luxinger Betzel
Thaís de Assis Volpi
08 a 11 de junho de 2017 Thiago Gechel Kloss
Thiago Silva Soares
ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO MUSEU DE BIOLOGIA PROFESSOR
MELLO LEITÃO

VI SIMBIOMA
SIMPÓSIO SOBRE A BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA

Alexander Tamanini Mônico, Joelcio Freitas, Maridiesse Morais Lopes, Rafael


Silva Cipriano, Renan Luxinger Betzel, Thaís de Assis Volpi, Thiago Gechel Kloss
& Thiago Silva Soares

SANTA TERESA – ES
SAMBIO
2017
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica –


SIMBIOMA (2017: Santa Teresa, ES).

Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata


Atlântica (SIMBIOMA), “Lacunas de conhecimento em um
bioma megadiverso e ameaçado”, 08 a 11 de junho, 2017,
Santa Teresa, ES, Brasil.
e-book. ISBN: 978-85-67438-06-1
432 folhas.
Evento realizado pela Associação de Amigos do Museu de
Biologia Prof. Mello Leitão – SAMBIO, Santa Teresa, ES.
1.Mata Atlântica. 2. Biodiversidade. 3.Conservação. 4.Meio
ambiente.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VI SIMBIOMA
Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica
Tema: Lacunas de conhecimento em um bioma megadiverso e ameaçado

Presidente da Associação de Amigos do Museu de Biologia Mello Leitão


(SAMBIO)
Arlindo Serpa Filho

Comissão Organizadora
Alexander Tamanini Mônico Leonardo Merçon
Arlindo Serpa Filho Lorena Tonini
Cintia Corsini Fernandes Maria Margareth Cancian Roldi
Claudia Brum Maridiesse Morais Lopes
Claudio Nicolleti de Fraga Rafael Silva Cipriano
Fernanda Cristina Lirio Ferreira Raphael Becalli Soares
Francieli Loss Pugnal Renan Luxinger Betzel
Gildo de Castro Moraes Robson Zanoni
Helio de Queiroz Boudet Fernandes Thaís de Assis Volpi
Joelcio Freitas Thiago Gechel Kloss
Juliana Paulo da Silva Thiago Silva Soares
Kêmilly Betânia Silva de Paula

Comissão Científica e Editorial


Alexander Tamanini Mônico Renan Luxinger Betzel
Joelcio Freitas Thaís de Assis Volpi
Maridiesse Morais Lopes Thiago Gechel Kloss
Rafael Silva Cipriano Thiago Silva Soares

Comissão Avaliadora
Amélia Carlos Tuler Fabio Müller R. S. Pupo Marcelo Ribeiro Pereira
Ana Paula Gelli de Faria Felipe Zamborlini Saiter Marco O. Oliveira Pellegrini
Ana Teresa Galvagne Loss Fernanda Satori Petrongari Maria Cristina Gaglianone
Anderson Lopes Peçanha Fernando Henrique S. Moura Maria Fabris Colodete
André Luiz da Costa Moreira Fernando Moreira Flores Marlei Rosa dos Santos
Andre Moreira Assis Flávio Ricardo da Silva Cruz Nelson Silva Pinto
Andressa Gatti Francisco Braz Daleprane Paola Maia Lo Sardo
Antônio Campos Rocha Neto Gabriel Lobregat de Oliveira Poliana Beatriz Arantes
Augusto Giaretta de Oliveira Hiulana Pereira Arrivabene Rafaela Duda Paes
Barbara de Sá Haiad Joelcio Freitas Sandor Christiano Buys
Bruno Corrêa Barbosa José Augusto Martins Roxinol Thairine Mendes Pereira
Cecilia Waichert Juliana Hipólito Thais Cardinali Rebouças
Daniela Santos Silva Juliane Barros da Silva Thais de Assis Volpi
Diego Galvão de Pádua Lais Gonçalves da Costa Thalita G. Zimmermann
Diego Rafael Gonzaga Leandro Lacerda Giacomin Thiago Gechel Kloss
Ednaldo Miranda de Oliveira Leonardo Luiz Calado Valéria S. Sampaio
Edson Zambon Montes Lorena Contarini Machado Walace P. Kiffer Junior
Elias Terra Werner Luisa Maria Sarmento-Soares Walter de Oliveira Có
Elidiomar Ribeiro da Silva Luiz Fernando Duboc
Elvis Pantaleao Ferreira Marcelo Ribeiro de Britto

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Sumário

APRESENTAÇÃO......................................................................................................... 12

PROGRAMAÇÃO ......................................................................................................... 13

PALESTRAS .................................................................................................................. 15

POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA FERRAMENTA PARA A


CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE ......................................................... 16

A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA COMO


RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO COM O FUTURO ......................... 18

CONHECIMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS E SUA


CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO ........................... 19

BIOLACUNAS DO CONHECIMENTO: AMBIENTE AQUÁTICO ................... 20

AMBIENTES VULNERÁVEIS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, OS


DESAFIOS E IMPORTÂNCIA DESTES AMBIENTES PARA
O ECOSSISTEMA CAPIXABA ............................................................................ 21

NORDESTE, RIOS, PAISAGENS E ECORREGIÕES: UM INSTITUTO


NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA CONECTANDO PESSOAS E
PAISAGENS ........................................................................................................... 23

CONHECIMENTO CIENTÍFICO: COMO INSERIR A POPULAÇÃO


NESTE UNIVERSO? ............................................................................................. 29

LACUNAS DE CONHECIMENTO EM UM BIOMA MEGADIVERSO E


AMEAÇADO .......................................................................................................... 30

ANÁLISE TEMPORAL DA VEGETAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁGICA DO


RIO DOCE ENTRE 2001 E 2016 ........................................................................... 31

INVENTÁRIOS, AMOSTRAGEM E ALFA-TAXONOMIA: QUAIS SEUS


EFEITOS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE? QUAIS OS
NOVOS DESAFIOS? ............................................................................................. 36

RESUMOS ACEITOS ................................................................................................... 37

Subárea: Biogeografia .................................................................................................... 38


Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

TESTANDO A REGRA NEO-BERGMANNIANA EM AKODON CURSOR


(RODENTIA: SIGMODONTINAE) DA MATA ATLÂNTICA ........................... 38

Subárea: Botânica ........................................................................................................... 46

OCORRÊNCIA, QUALIDADE E SANIDADE DE Actinostemon klotzschii EM


FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL ................................................... 46

LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES DE BROMELIACEAE JUSS EM


REGÊNCIA, LINHARES –ES ............................................................................... 52

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles &G.D.


Rowley EM ZONAS DE ELEVADAS TEMPERATURAS, BRASIL................. 55

MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Cassia


ferruginea ................................................................................................................ 59

SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Cassia grandis L.


(FABACEAE) ......................................................................................................... 62

TRATAMENTOS PRÉ-GERMINATIVOS PARA SUPERAÇÃO DA


DORMÊNCIA DE SEMENTES DE Ormosia arborea (Vell.) Harms .................. 65

DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA DO BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA


(BAG) DO GÊNERO Piper (PIPERACEAE) NO INCAPER ............................... 68

DISPERSÃO DE Vriesea neoglutinosa MEZ (BROMELIACEAE) EM


RESTINGA E MUSSUNUNGA ............................................................................ 71

FITO SOCIOLOGIA DE UM POVOAMENTO ARTIFICIAL DE ESPÉCIES


ARBÓREAS DE MATA CILIAR NO RIO SANTA MARIA DO DOCE ............ 74

VISITANTES FLORAIS DA MANGUEIRAS NO IFES CAMPUS SANTA


TERESA .................................................................................................................. 79

VISITANTES FLORAIS DA GOIABEIRA NO IFES CAMPUS SANTA


TERESA .................................................................................................................. 84

ARMAZENAMENTO E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CACAU ........... 88

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE IPÊ AMARELO EM DIFERENTES


SUBSTRATOS ....................................................................................................... 93

GERMINAÇÃO EM SEMENTES DE CAJÁ ........................................................ 97

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VISITANTES FLORAIS DO MARACUJAZEIRO NO IFES CAMPUS SANTA


TERESA ................................................................................................................ 102

PRODUÇÃO DE MUDAS DE MARACUJAZEIRO AMARELO (Passiflora


edulis Sims) EM SUBSTRATO COM HÚMUS .................................................. 107

VEGETAIS RUDERAIS INVASORES EM CAMPOS DE FUTEBOL ............. 113

AMARYLLIDACEAE J. ST.-HIL. NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL:


RESULTADOS PRELIMINARES ....................................................................... 117

COMMELINACEAE MIRB. NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL: DADOS


PRELIMINARES .................................................................................................. 123

ANGIOSPERMAS NAS FLORESTAS ESTACIONAIS DA APA PEDRA DO


ELEFANTE, ESPÍRITO SANTO-BRASIL: DADOS PRELIMINARES ........... 128

PROPOSTA DE UM MODELO DIDÁTICO DE ANATOMIA VEGETAL PARA


PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL..................................................... 143

CONVOLVULACEAE Juss. NO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS,


ESPÍRITO SANTO, BRASIL ............................................................................... 150

SOLANACEAE Juss. NO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS, ESPIRITO


SANTO, BRASIL: DADOS PRELIMINARES ................................................... 156

NOVOS REGISTROS DE ANGIOSPERMAS PARA O PARQUE ESTADUAL


DE ITAÚNAS, ESPÍRITO SANTO, BRASIL ..................................................... 161

O BOTÂNICO FREDERICO CARLOS HOEHNE: IMPORTÂNCIA PARA O


ESTUDO DAS ARISTOLOCHIACEAE BRASILEIRAS .................................. 169

USO DE MODELOS DIDÁTICOS DE RAÍZES PARA O ENSINO-


APRENDIZAGEM DE BOTÂNICA ................................................................... 175

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CACAU PRÉ-EMBEBIDAS COM


SUBSTÂNCIAS ANTIOXIDANTES .................................................................. 181

EFEITOS DA INTENSIDADE LUMINOSA SOBRE A HISTOQUÍMICA DE


RAÍZES DE Cattleya guttata Lindl. (ORCHIDACEAE) ..................................... 185

Subárea: Ecologia ......................................................................................................... 192

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PLANO DE MONITORAMENTO DE DEPOSIÇÃO DE MATERIAL


PARTICULADO SEDIMENTÁVEL NA REGIÃO DA GRANDE VITÓRIA – ES
............................................................................................................................... 192

CONSUMO DE Dimorphandra jorgei POR Tapirus terrestris EM


REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA DE TABULEIRO NO SUDESTE
DO BRASIL .......................................................................................................... 198

COMMUNITY AND SPECIES-LEVEL RESPONSES TO EUTROPHICATION


IN STREAMS OF THE ATLANTIC FOREST ................................................... 204

ARDUINO NO DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS EM BIOLOGIA


EXPERIMENTAL: UMA REVISÃO .................................................................. 212

DIETA ALIMENTAR INSETÍVORA EM Guira guira (GMELIN 1788) E


Crotophaga ani (LINNAEUS 1758) (CUCULIFORMES: CUCULIDAE) NO
SUDESTE DO BRAZIL ....................................................................................... 220

AS ESPÉCIES DA ORDEM ODONATA (INSECTA) UTILIZADAS EM


PROGRAMAS DE BIOMONITORAMENTO: INVENTÁRIO BIBLIOGRÁFICO
............................................................................................................................... 226

GATILHOS LIGADOS À ATIVIDADE REPRODUTIVA DE Rhamdioglanis


transfasciatus MIRANDA RIBEIRO, 1908, BAGRE ENDÊMICO DE RIACHOS
COSTEIROS DE MATA ATLÂNTICA .............................................................. 231

COMO ANDA A QUALIDADE DO AR QUE RESPIRAMOS NA SEGUNDA


CIDADE COM MELHOR QUALIDADE DE VIDA? ........................................ 240

Subárea: Educação Ambiental ...................................................................................... 244

PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DE


RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA, ES
............................................................................................................................... 244

ELABORAÇÃO DE UMA EXPOSIÇÃO ENTOMOLÓGICA COMO


FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO CIENTIFICA .......................................... 250

JOGOS DE TABULEIRO COMO FERRAMENTA PARA DIVULGAÇÃO


CIENTÍFICA ......................................................................................................... 255

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

JOVENS EDUCANDO JOVENS: A POPULARIZAÇÃO DO CONHECIMENTO


CIENTÍFICO PARA A SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL EM UMA
COMUNIDADE ESCOLAR ................................................................................ 261

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO DA


NATUREZA ......................................................................................................... 267

ESTRATÉGIAS E FERRAMENTAS PARA POPULARIZAÇÃO DA


ORNITOLOGIA DENTRO DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA
ATLÂNTICA – INMA ......................................................................................... 275

PROJETO CAÇA-ARANHA: AÇÃO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO


INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA ......................................... 281

Subárea: Etnobiologia .................................................................................................. 289

PERCEPÇÕES DE UMA FAMÍLIA LINHARENSE SOBRE OS INSETOS A


PARTIR DE SUAS HISTÓRIAS E EXPERIÊNCIAS DE VIDA ....................... 289

ETNOZOOLOGIA DE MORCEGOS EM SANTA TERESA – ES .................... 294

PERCEPÇÕES DOS MORADORES DO ENTORNO DA RESERVA


BIOLÓGICA AUGUSTO RUSCHI EM RELAÇÃO AOS ANFÍBIOS ANUROS
............................................................................................................................... 301

Subárea: Gestão Ambiental .......................................................................................... 309

O USO DE CHIRONOMIDAE (INSECTA: DIPTERA) COMO


BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL AQUÁTICA: UM
LEVANTAMENTO SOBRE OS TRABALHOS REALIZADOS NO BRASIL. 309

ADUBO ORGÂNICO COMO ALTERNATIVA NA ADUBAÇÃO


NITROGENADA DO MILHO E AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE
ECONÔMICA ....................................................................................................... 315

AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS: UM


ESTUDO DE CASO NO INTERIOR DE SANTA TERESA - ES ...................... 321

Subárea: Zoologia ......................................................................................................... 326

AVES OBSERVADAS NO IFES SANTA TERESA .......................................... 326

LIBÉLULAS (INSECTA, ODONATA) COMO BIOINDICADORES DE


POLUIÇÃO QUÍMICA DO CÓRREGO SÃO SILVANO, COLATINA-ES ..... 330

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A FÊMEA DE Peregrinus maidis (ASHMEAD, 1890) EM ITATIAIA, ESTADO


DO RIO DE JANEIRO (INSECTA: HEMIPTERA: DELPHACIDAE).............. 336

PRIMEIRO REGISTRO DE Neoperkinsiella MUIR, 1926 NO ESTADO DO RIO


DE JANEIRO: DESCRIÇÃO DA FÊMEA DE N. testacea (FOWLER, 1905)
(INSECTA: HEMIPTERA: DELPHACIDAE) .................................................... 343

BIODIVERSIDADE DE TYPHLOCYBINAE (INSECTA: HEMIPERA:


CICADELLIDAE) NO DISTRITO DE ITAIPAVA (PETRÓPOLIS, RJ), COM
BASE NO RECOLHIMENTO DE EXEMPLARES ATRAÍDOS POR
ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL .............................................................................. 348

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE FORMIGAS Camponotus spp.................... 353

ESTADO DA ARTE DA PESQUISA EM SISTEMÁTICA DO CLADO


Nemuroglanis (SILURIFORMES: HEPTAPTERIDAE) ..................................... 359

LEVANTAMENTO DA AVIFAUNA DA POUSADA SÍTIO CANAÃ, SANTA


TERESA – ESPÍRITO SANTO ............................................................................ 372

INVENTÁRIO PRELIMINAR DA AVIFAUNA DO MUNICÍPIO DE


COLATINA – ES .................................................................................................. 384

DIVERSIDADE DE NÁIADES DE ODONATA EM TRECHOS COM


DIFERENTES COBERTURAS DE DOSSEL EM UM RIACHO PRESERVADO
DE MATA ATLÂNTICA ..................................................................................... 392

CURCULIONÍDEOS (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) DEPOSITADOS


NA COLEÇÃO ENTOMOLÓGICA DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA
ATLÂNTICA ........................................................................................................ 399

CONTRIBUÇÃO PARA UMA BIBLIOTECA CARIOTÍPICA VIRTUAL DE


MAMÍFEROS TERRESTRES DO BRASIL ....................................................... 403

USO DE ARMADILHAS E SOLUÇÕES ATRATIVAS PARA O


MONITORAMENTO DE ADULTOS DE MOSCAS-DAS-FRUTAS EM POMAR
DE GOIABEIRA................................................................................................... 407

DISTINÇÃO ENTRE ESPÉCIES DO GÊNERO Trichomycterus


(ACTINOPTERYGII: TRICHOMYCTERIDAE) NAS BACIAS DOS RIOS
JEQUITINHONHA E PARDO UTILIZANDO ANÁLISES DE MORFOMETRIA
GEOMÉTRICA ..................................................................................................... 413

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OS Trichomycterus (SILURIFORMES: TRICHOMYCTERIDAE) DA BACIA DO


RIO JEQUITINHONHA ....................................................................................... 419

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

APRESENTAÇÃO

O Simpósio sobre Biodiversidade da Mata Atlântica – SIMBIOMA é um evento


científico realizado pela Associação de Amigos do Museu de Biologia Mello Leitão –
SAMBIO e o Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA em parceria com diversas
instituições públicas e privadas, como instrumento para divulgação das pesquisas
relacionadas ao Bioma Mata Atlântica, propiciando momentos de incentivo a pesquisa,
difusão e discussão de trabalhos científicos, relatos de experiência, além de avaliar o
impacto atual das pesquisas realizadas.

Ano após ano, o evento vem se consolidando no cenário estadual e até nacional, como
palco de discussões importantes envolvendo este Bioma tão ameaçado. O Simbioma
visa a cada nova edição, levantar questões pertinentes sobre a conservação deste bioma,
com a participação de pesquisadores de inúmeros estados da Mata Atlântica brasileira.

Esta 6ª edição do SIMBIOMA, realizada de 08 a 11 de junho de 2017, com o tema:


“Lacunas de conhecimento em um bioma megadiverso e ameaçado”, contou com 155
inscritos, de instituições de ensino e pesquisa de diferentes estados. Durante o evento
foram apresentadas 16 palestras/mesas-redondas por pesquisadores de 8 instituições.
Além disso, a participação dos congressistas foi um sucesso, com a submissão de 69
trabalhos à avaliação da comissão do evento, dentre estes, cinco apresentações orais.

O Simpósio visa criar um ambiente para a promoção do estado da arte e debate dos
principais desafios, estratégias de ensino, perspectivas e avanços científicos na área de
no que tange à biodiversidade da Mata Atlântica. Em nome da Comissão Organizadora,
somos gratos a SAMBIO e ao INMA, pelo compromisso institucional de realizar este
evento e pelo reconhecimento da importância em divulgar as pesquisas com a Mata
Atlântica. É com imensa satisfação que apresentamos os resultados do encontro,
contidos neste volume dos Anais do VI SIMBIOMA. Agradecemos ainda a presença de
todos os participantes que contribuíram para o sucesso desta sexta edição do
SIMBIOMA. Esperamos que os textos aqui disponibilizados possam ser apreciados e
utilizados por você leitor.
Com nossas melhores saudações,
Comissão Científica e Editorial do VI SIMBIOMA

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PROGRAMAÇÃO
08/06/2017 – Quinta-feira
8 – 17h – Credenciamento e entrega do material.
8 – 17h – Minicursos
– Estratégias de divulgação científica – Biólogo Raphael Becalli Soares
(INMA).
– Ecologia “Aranhas e Seus Inimigos Naturais” – Dr. Thiago Gechel Kloss
(UFES/CCENS).
– Iniciação em Entomologia: “Princípios básicos para organização de uma
coleção entomológica” – Dr. Arlindo Serpa Filho (INMA) e Celso Godinho.
– Montagem de pranchas fotográficas para trabalhos científicos – MSc. Joelcio
Freitas (UEFS).
– Práticas em Análises Filogenéticas – MSc. Diego Barbosa (UFES).
– Delineamento experimental aplicado à estudos Ecológicos – Dr. Francisco
Cândido Cardoso Barreto (UFES)
18h – Mesa de abertura. Palestrante: Msc. Thais Volpi (SIMBIOMA), Dr. Arlindo
Serpa Filho (SAMBIO), Hélio Boudet de Queiroz Fernandes (INMA).
18h30 min – Espécie símbolo: Alouatta guariba e a febre amarela. Palestrante: Dr.
Sergio Lucena Mendes (UFES).
19h – Tema da Palestra Magna: Lacunas de conhecimento em um bioma
megadiverso e ameaçado. Palestrante: Dra. Marinez Ferreira de Siqueira (JBRJ).

09/06/2017 – Sexta-feira
7h30min – Credenciamento e entrega do material.
8h – Início das Atividades – Dia 2
– Tema da Palestra: Amostragem biológica, inventários e alfa-taxonomia: quais seus
efeitos para a conservação da biodiversidade? Quais os novos
desafios? Palestrante: Dra. Valquíria Ferreira Dutra (UFES).
– Apresentação Oral 1
– Apresentação de painéis.
– Apresentação Oral 2
– Tema da Palestra: Importância da biodiversidade para a saúde humana: uma
perspectiva ecológica. Palestrante: Dra. Marcia Chame (FIOCRUZ).
– Almoço (1 hora de intervalo).
– Tema da Mesa-redonda: Difusão do conhecimento científico e tecnológico no
Brasil: a formação de cidadãos engajados. Moderador: Dr. Arlindo Serpa Filho
(INMA).
– Conhecimento científico: como inserir a
população neste universo? Palestrante: Dra. Maria Isabel Pinto Ferreira Landim
(MUZUSP).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

– Popularização da Ciência: uma ferramenta para a conservação da


biodiversidade. Palestrante: MSc. Cintia Corsini (INMA).
– Difusão e divulgação científica: qual seu papel e quais seus efeitos para a
sociedade? Palestrante: Dra. Cristina Araripe (FIOCRUZ).
– Apresentação Oral 3
– Apresentação de painéis.
– Tema da Palestra: Conhecimento das comunidades tradicionais e sua contribuição
para o conhecimento científico. Palestrante: Dr. Eraldo Medeiros Costa Neto
(UEFS).
– Tema da Palestra: A Mata Atlântica e as Ecorregiões. Palestrante: Dra. Luisa
Maria Sarmento Soares (INMA).

10/06/2017 – Sábado
8h – Início das Atividades – Dia 3
– Tema da Palestra: Análise temporal da vegetação na bacia do Rio Doce de 2001 a
2016. Palestrante: Msc. Mileidi Holanda Formigoni ( UFES)
– Apresentação Oral 4
– Apresentação de painéis.
– Tema da Palestra: Ambientes vulneráveis do estado do Espírito Santo, os desafios e
importância destes ambientes para o ecossistema capixaba. Palestrante: MSc. José
Nilton da Silva (INMA).
– Almoço (1 hora de intervalo).
– Tema da Mesa-redonda: Biolacunas do conhecimento. Moderador: Dr. Thiago
Silva Soares (INMA).
– Ambiente aquático. Palestrante: Dr. Frederico Falcão Salles (CEUNES/UFES).
– Lacunas no conhecimento de vertebrados da Mata Atlântica. Palestrante: Dr. Thiago
Silva Soares (INMA).
– Lacunas no conhecimento para a flora capixaba. Palestrante: Dr. Claudio Nicoletti
de Fraga (INMA).
– Apresentação de painéis.
– Apresentação Oral 5
– Tema da Palestra: Epidemiologia e Entomologia da Febre Amarela Silvestre no
Espírito Santo. Palestrante: Dr. Aloísio Falqueto (UFES).
– Tema da Palestra de encerramento: Como os institutos de pesquisa contribuem no
preenchimento de lacunas do conhecimento da Mata Atlântica? Palestrante: Dr. Fabio
Rubio Scarano.

11/06/2017 – Domingo
8 – 17h – Minicurso de Fotografia de natureza – Leonardo Merçon (Instituto Últimos
Refúgios) e Fabricio Vasconcelos Costa (Expedicionários).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PALESTRAS

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA FERRAMENTA PARA A


CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE

Cintia Corsini Fernandes

Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA, Programa de Capacitação Institucional

A sociedade em geral ainda não compreendeu devidamente o valor da


biodiversidade, definida como a variabilidade entre organismos vivos de todas as
origens, compreendendo a diversidade dentro de espécies, entre espécies e de
ecossistemas.
O mau uso dos recursos naturais está gerando um novo ciclo de extinção sem
precedentes na história geológica do planeta e as principais causas da perda de
biodiversidade são a destruição e diminuição dos habitats naturais, a introdução de
espécies exóticas e invasoras, a exploração excessiva das espécies, caça e pesca sem
critérios, tráfico da fauna e flora silvestres, a poluição do solo, água e atmosfera, a
ampliação desordenada das fronteiras agropecuárias dentro de áreas nativas e os
incêndios criminosos que provocam mudanças climáticas e aquecimento global.
Portanto, conservar a biodiversidade implica em melhorar a qualidade de vida humana,
evitando uma queda no suprimento de alimentos, manutenção da saúde, diminuição da
vulnerabilidade aos desastres naturais, aumento da oferta e distribuição de água potável,
diminuição de doenças e epidemias e estabilidade social, política e econômica, entre
outros.
A conservação da biodiversidade está sempre confrontada com duas questões-
chave: onde a conservação é prioritária e como viabilizar essa conservação. E para
responder essas questões são necessários estudos de longo prazo e medidas para
solucionar questões ambientais que envolvem a interferência da população. O grande
desafio encontrado é o conhecimento precário das pessoas sobre a diversidade e
equilíbrio das espécies e ecossistemas. As ciências e a tecnologia assumem um papel
fundamental para o desenvolvimento social e econômico, sendo estratégias que
favorecem a compreensão da complexidade do mundo, bem como os interesses e as
influências de determinados grupos sociais dentro de um contexto político e social.
Desta forma, desenvolver ciência e difundi-la ser prioridade para reverter a crise
ambiental contemporânea, seja por meio da educação científica – que possibilita aos
cidadãos um reconhecimento da ciência como parte integrante da cultura humana – ou
popularização científica – que utiliza uma linguagem mais explicativa e busca a
socialização de informações científicas e tecnológicas – realizadas dentro de espaços
formais e não formais, visando incluir a população no compartilhamento de
conhecimentos.
A difusão científica fortalece a cultura científica no país através de um processo
coletivo de pesquisa e popularização. Diversos segmentos da sociedade são envolvidos:
instituições de pesquisa, universidades, museus, sociedade científica, governo,
comunicadores, educadores e comunidades. E todos esses atores produzem agentes
multiplicadores de informações que contribuem para a valorização pública da ciência,
com apoio social para as medidas de proteção aos ecossistemas nativos. Assim, devem
ser consideradas as peculiaridades de cada região, atentando-se ao modo de interação
dos humanos com a natureza, por meio de suas relações sociais, do trabalho, da ciência,
da arte e da tecnologia, para que a comunicação para a popularização científica possa
atuar no processo de formação da cidadania.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

O setor de conservação da biodiversidade desenvolvido no INMA realiza


atividades envolvendo a popularização científica focada no tema “biodiversidade da
Mata Atlântica”, o qual contribui para incentivar o interesse científico de jovens para o
estudo e conservação da biodiversidade além de enfocar os aspectos regionais,
favorecendo o engajamento e maior participação da sociedade.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA COMO


RESPONSABILIDADE E COMPROMISSO COM O FUTURO

Cristina Araripe Ferreira

Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (RJ)

A responsabilidade social dos cientistas tem sido objeto de muitos pensadores da


contemporaneidade. Em 1939,J. D. Bernal publicou o livro “A função social da
ciência”que trouxe, pela primeira vez para o campo da história das ciências, uma
reflexão ampla e profunda sobre a relação entre o mundo do trabalho dos cientistas e o
desenvolvimento social, econômico e político das sociedades modernas. A partir deste
momento, mais do que uma advertência fundada na expectativa e no medo das
devastadoras ameaças da II Guerra Mundial, houve por parte de diversas
sociedadescontemporâneas uma efetiva e concreta atenção, principalmente, por parte
dos próprios cientistas, em relação aos processos de participação dos cidadãos na
construção social da ciência. De simples espectadores aos sábios “conselheiros do rei”,
todo um conjunto de atores sociais interessados em ciência e tecnologia tem sido, desde
então, mobilizado para que não se restrinja aos debates sobre os processos de escolha
(objetos, temas e finalidades) e decisórios (instâncias econômicas e política) a
participação dos cidadãos na produção do conhecimento científico. As ideias e os
objetivos que têm norteado as discussões sobre a ciência cidadã é um bom exemplo de
como opapel da ciência tem se transformado ao longo das últimas 8 décadas, passando
de uma questão de uma ciência engajada (pós-guerra) à necessidade premente e
permanente de mais diálogo entre ciência e sociedade. A discussão crucial sobre o papel
do cientista na sociedade tem sido, paralelamente, revisitada por muitos pensadores,
entre eles, Karl Popper e Thomas Kuhn que protagonizaram alguns dos mais
interessantes debates sobre a importância da educação e do acesso ao conhecimento
como alicerces fundamentais para que a ciência continue aespraiar o seu poder de
sedução e de forte aderência aos modelos realistas de interpretação da natureza e do
mundo social. O compromisso com o futuro e a reprodutibilidade do modelo de ação do
cientista sintetizam aqui o momento de inflexão pelo qual passamos, mas ainda não nos
afixamos sob pena de desesperança numa ciência melhor para todos os cidadãos.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONHECIMENTO DAS COMUNIDADES TRADICIONAIS E SUA


CONTRIBUIÇÃO PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Eraldo Medeiros Costa Neto

Universidade Estadual de Feira de Santa – UEFS (BA)

Estudos etnobiológicos têm revelado que as culturas nativas possuem modelos


cognitivos de manipulação dos recursos naturais, o que pode indicar caminhos para um
uso alternativo do ambiente. Quando conhecimento tradicional e conhecimento
científico são usados de modo apropriado e complementar, ambos os sistemas fornecem
uma ferramenta poderosa para manejar recursos naturais e alcançar o desenvolvimento
sustentável. A importância e contribuição da Etnobiologia e áreas afins, no sentido de
fortalecer o vínculo entre acadêmicos e população local mediante o apoio científico a
novas ideias tendentes a reorientar a política ecológica em uma emergente que seja
socialmente responsável e gere pesquisas orientadas a argumentar em favor da
salvaguarda das populações tradicionais (indígenas e não-indígenas), de seus territórios
e do ambiente em geral.
O saber tradicional é sempre situacional, variável e mutável. Pode variar
qualitativa e quantitativamente de acordo com: gênero (♀ / ♂), idade (crianças/idosos),
status social e nível de interação com o “objeto”. O corpus etnobiológico (repertório
total de símbolos, conceitos, percepções e comportamentos sobre os elementos
biológicos) é transmitido de geração a geração principalmente por meio da tradição oral,
a qual é um veículo importante para a difusão de informações biológicas.
Não podemos esquecer que os projetos participativos em aproveitamento e
manejo de fauna  tanto silvestre quanto doméstica  só têm êxito real e aplicado
quando os cientistas e os moradores locais têm a capacidade de se comunicarem
horizontalmente. Estudos sobre usos regionais da fauna silvestre (e de zoocria)
contribuem para que esta seja devidamente valorizada não apenas desde o ponto de vista
ecológico, mas também econômico, social e cultural, promovendo e garantindo
estratégias e apoios para a gestão ambiental, manejo, conservação e/ou reintrodução das
espécies (sobretudo cinegéticas) e os ecossistemas onde habitam, contextualizado em
uma determinada realidade sociocultural. Neste sentido, a pesquisa etnozoológica se
torna bastante valiosa quando se estudam as interações entre seres humanos e animais
de uma determinada região.
As pesquisas em Etnobiologia abrangem um processo educativo mútuo que
permeia a troca de saberes e extrapola a mera busca de informações. Sem esse
comprometimento recíproco em todas as etapas da pesquisa não há resultados
compartilhados e o trabalho tende a fracassar.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

BIOLACUNAS DO CONHECIMENTO: AMBIENTE AQUÁTICO

Frederico Falcão Salles

Centro Universitário Norte do Espírito Santo - CEUNES/UFES

A Mata Atlântica, provavelmente, é o bioma mais estudado no que se refere à


taxonomia e ecologia de insetos aquáticos. Algumas áreas, contudo, foram
historicamente negligenciadas e apenas recentemente começaram a receber a devida
atenção. É o caso, por exemplo, de toda a porção da Mata Atlântica inserida na Região
Nordeste do Brasil e também no Espírito Santo. A partir de uma análise acerca da
riqueza, composição e distribuição dos insetos aquáticos no Espírito Santo, eu abordei o
status do conhecimento atual do grupo no estado e, com base nestes dados, discuti as
principais lacunas existentes. Por fim, discuti suas implicações para a conservação dos
ambientes dulçaquícolas e apontei algumas medidas que poderiam ser tomadas para
mitigar tais lacunas em áreas de Mata Atlântica.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AMBIENTES VULNERÁVEIS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, OS


DESAFIOS E IMPORTÂNCIA DESTES AMBIENTES PARA O ECOSSISTEMA
CAPIXABA

José Nilton da Silva

Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA, Programa de Capacitação Institucional

O estado do Espírito Santo tem em seu território uma predominância de 100%


de mata atlântica. No entanto, nos tempos atuais não existe mais do que 8% de floresta
nativa do seu perfil original, sendo que este percentual encontra-se em um padrão de
mosaico, de formas isoladas, possuindo apenas alguns corredores com distancias
menores entre os fragmentos. Nos últimos séculos após a colonização do Brasil o estado
do ES tem crescido de forma exponencial no quesito populacional. É alarmante que
mesmo no cenário que estão os ecossistemas capixabas o Espírito Santo está entre os
estados com maior quantidade de desmatamento no ultimo relatório da S.O.S MATA
ATLÂNTICA, com mais de 116% de matas desmatadas.
Dai surge a questão: se só temos 8% do que tínhamos na colonização, então
desmatar mais o que? Este questionamento é um viés para discussões conservacionistas,
pois existem vários projetos de recuperações e de reflorestamento, mas se não
conseguimos preservar o que temos como queremos reflorestar mais? Precisamos
blindar o que ainda nos restas de remanescentes florestais e ai sim após isso caçarmos
meios e formas de reflorestar e ampliar as áreas florestadas. Nos ecossistemas capixabas
temos restinga, mangues, florestas ombrófilas, florestas montanas, matas de encostas,
matas ciliares, florestas de tabuleiro, ambientes de alagados, lagoas, rios, ambientes
rupícolas e ambientes costeiros, todos estes ecossistemas estão ameaçados por ações
antrópicas, seja extrativista, degradatórias ou de poluição. Então o que está vulnerável
dentro dos ecossistemas capixabas? Em uma opinião mais científica diríamos que tudo
está vulnerável, mas podemos enfatizar quais destes ecossistemas são prioridades, então
chegaríamos aos ecossistemas aquáticos que tem como um protagonista atual o Rio
Doce, este que sofreu o maior impacto ambiental da história do Brasil. Nestes impactos
tudo está em questão, desde micro fauna até a macro fauna, desde a micro flora até a
macro flora, desde impactos imediatos observáveis até impactos que só perceberemos
daqui a décadas.
O que fazer para conservar e fazer com que nossas pesquisas tenham peso e
importância na conservação? Responderemos da seguinte maneira: o que sua pesquisa
tem falado para você? O quão importante sua área e pesquisa é para a população, o
quanto ela permeia nos periódicos? Tudo isso tem um peso e uma questão a ser
levantada. Porém o mais visível entre os pesquisadores é o “egoísmo cientifico” onde
cada um só defende seu peixe, só defende sua área de atuação. Concordo plenamente
com isso, porém porque não se preocupar com outras áreas? O ecossistema é como se
fosse um emaranhado de engrenagens, onde cada uma depende da outra, se focarmos
apenas em uma engrenagem e esquecermos-nos da outra mais cedo ou mais tarde nossa
engrenagem parará também.
Desta forma, é importante criar-se redes que contribuam de forma coletiva para
a preservação de um ecossistema, nenhum órgão de fomento olhará com apreciação
para um projeto que defenda apenas uma área de pesquisa (isso não quer dizer que tais
projetos não sejam aprovados), porém projetos com uma visão mais coletiva de
pesquisa, podendo agrupar vários colaboradores e pesquisadores de distintas áreas têm

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

um potencial maior de respostas para questões ambientais, taxonômicas ecológicas e


paisagísticas de um ecossistema estudado em questão. Assim, vale ressaltar que boa
parte dos ecossistemas que estão vulneráveis no estado do Espírito Santo muitas vezes
estão vulneráveis porque os pesquisadores deixaram de olhar como um coletivo, e
singularizaram muitas áreas. Porém ainda é tempo de preservar o que temos
cronogramar o que queremos e por em prática o que pensamos.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

NORDESTE, RIOS, PAISAGENS E ECORREGIÕES: UM INSTITUTO


NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA CONECTANDO PESSOAS E
PAISAGENS

Luisa Maria Sarmento-Soares1,2 & Ronaldo Fernando Martins-Pinheiro1


1
Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA , Programa de Capacitação Institucional
2
Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Cada vez mais pessoas começam a entender


que a acumulação material, mecanicista e
interminável, assumida como progresso, não
tem futuro. Esta preocupação é crescente, pois
os limites da vida estão severamente
ameaçados por uma visão antropocêntrica do
progresso, cuja essência é devastadora.
Alberto Acosta

INTRODUÇÃO

A América Latina e o Caribe tiveram, nos últimos anos, mais de 40% de suas
florestas desmatadas ou degradadas, em uma área equivalente a 650 milhões de
hectares, especialmente em função de avanços da agricultura e da urbanização (Moraes,
2016). A perda de áreas florestadas modifica o ciclo hídrico, alterando o microclima
regional com consequente redução da umidade e aumento de temperatura ambiente.
A Mata Atlântica é entrecortada por uma intrincada rede hidrográfica. Os rios,
córregos e lagos que compõem tais bacias estão em grande parte ameaçados pelo
desmatamento das matas ripárias e conseqüente assoreamento dos mananciais. A falta
de metodologia adequada para lidar com os recursos hídricos resulta na poluição da
água por agrotóxicos, dejetos e esgoto. O desflorestamento contribui para a redução da
disponibilidade hídrica superficial resultando na construção de represas e barramentos
para captação de água. Sabe-se que a restauração de paisagens e florestas, além de
neutralizar emissões de carbono locais, propicia benefícios diretos como a preservação
da biodiversidade, proteção das bacias hidrográficas, segurança alimentar, conservação
de solos e salvaguarda dos povos indígenas (Moraes, 2016).
Na Mata Atlântica Nordeste encontram-se as Florestas de Tabuleiros, nome
alusivo ao relevo plano ou suave ondulado, característicos da paisagem. Os tabuleiros
ainda que ocupando faixa estreita ao sul do Espírito Santo, na altura de Anchieta e
Guarapari, se ampliam largamente entre o norte do Espírito Santo, a partir do vale do rio
Doce, até o sul da Bahia, na altura de Ilhéus. Nesta extensa paisagem contínua de Mata
de Tabuleiro encontra-se o vale fluvial do rio Itaúnas. No passado densamente povoado
pela floresta ombrófila densa entremeada por alagadiços, muçunungas, culminando em
restingas e manguezais, o vale do Itaúnas nos dias de hoje encontra-se seco, com sua
vegetação largamente substituída por capoeira, pasto, agricultura e eucalipto. A
degradação ambiental assolou o vale, a ponto da região hoje apresentar características
típicas do Semiárido nordestino, onde o escoamento das águas é esparso ou
intermitente.
A nós pesquisadores cabe não apenas apontar os problemas, mas também indicar
possibilidades e caminhos para solucioná-los. Assim, a presente contribuição conduz a
uma reflexão quanto a questão da água doce no vale do rio Itaúnas e as políticas

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

públicas para recuperação de áreas degradadas (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro,


2017).

ÁREA DE ESTUDO

A bacia do rio Itaúnas tem suas nascentes principais no extremo noroeste do


Espírito Santo, entre os limites de três estados brasileiros: Espírito Santo em Ponto Belo
e Mucurici (córrego Itaúnas Grande e Ribeirão Itauninhas); Minas Gerais em Nanuque
(Córrego Barreado) e Bahia em Mucuri (córrego Taquara e Dourado).

Figura 1. Bacia do rio Itaúnas e áreas protegidas. Quadriculado indica a Zona de


Amortecimento (ZA) definida no Plano de Manejo.

As áreas florestadas estão concentradas nas unidades de conservação ao longo


da bacia do Rio Itaúnas, como a Floresta Nacional do Rio Preto (28,4260 km²), a
Reserva Biológica de Córrego Grande (15,0613 km²), a Reserva Biológica do Córrego
do Veado (23,7470 km²) e o Parque Estadual de Itaúnas (32,3923 km²) que juntas,
correspondem a 100 km², aproximadamente 2,3% dos 4.314 km2 da bacia no Espírito
Santo. (Figura 1).

Figura 2. Nascente do rio Itaúnas em Ponto Belo (ES).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Sua nascente mais alta encontra-se a 370 m de altitude, em Mucurici, próximo à


divisa estadual com Minas Gerais. Com relevo baixo e fácil acesso, o vale do rio Itaúnas
foi intensamente desflorestado durante a segunda metade do século XX. O
desmatamento é uma das ações regionais mais impactantes, e a deficiência hídrica pode
estar relacionada com a devastação ambiental (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro,
2012). Ainda no trecho superior o rio Itaúnas mostra-se degradado, com nascentes em
áreas arrasadas e sujeitas a erosão, como mostra Figura 2.

Caminhos para a recuperação de áreas degradadas. Enquanto cidadãos preocupados


com a crise hídrica, o desafio de nossa geração consiste em agir para reverter o quadro
desta situação. Está ao nosso alcance lidar com a seca que assola o Espírito Santo, em
especial a região norte e noroeste.

As atuais políticas públicas. Ações de larga escala no campo da restauração florestal


incluem o desafio 20 x 20, um esforço proposto por países da América Latina e Caribe
de recuperar vinte milhões de hectares de terras degradadas até 2020, proposto na COP-
20, realizada em 2014 no Peru. Este esforço está em consonância com de restauração de
150 milhões de hectares globais até 2020, definida durante uma mesa redonda em Bonn,
na Alemanha, em setembro de 2011. O acordo determinava que a recuperação poderia
ocorrer com espécies nativas ou exóticas, com restauração assistida ou natural, e seu
objetivo final é o de resgatar a funcionalidade ecológica e promover a restauração da
paisagem. O governo do estado do Espírito Santo assumiu o compromisso de restaurar
e/ou evitar o desmatamento de pelo menos 80 mil hectares. O anúncio aconteceu
durante o Fórum Global de Crescimento Sustentável, realizado no Chile. O
compromisso assumido pelo Espírito Santo junto ao Desafio 20 x 20 deverá ser honrado
por meio de ações desenvolvidas no âmbito do Programa Florestar (Programa de
Conservação e Recuperação Florestal) que deverá gerar benefícios diretos, como a
preservação e a recuperação de serviços ambientais, relacionados à água, ao solo e à
biodiversidade. Outra iniciativa de restauração é o Pacto pela Restauração da Mata
Atlântica, lançado em 2009, como um movimento social, inspirado pela urgência em
salvar o bioma (Rodrigues et al., 2009).
Inovações em políticas públicas ambientais, como a aplicação do mecanismo de
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) utilizando royalties de petróleo e gás,
podem ser concedidos em reconhecimento aos serviços ambientais fornecidos pela mata
nativa conservada e/ou em recuperação (SEAMA 2015). Nesta linha o Projeto
Produtores de Água voltava-se à conservação florestal de áreas estratégicas para os
recursos hídricos (Iema, 2009). O projeto reconheceu, por meio de pagamentos por
serviços ambientais- PSA, os proprietários rurais que conservavam florestas às margens
de rios, córregos e nascentes, contribuindo para o combate à erosão, ao assoreamento e
facilitando à infiltração de água no solo (Sossai, 2016). Acreditava-se que os valores
oferecidos estimulariam os produtores rurais a recuperar novas áreas, de forma a torná-
las aptas ao recebimento do PSA (um benefício anual da ordem de aproximadamente R$
260,00 por hectare (Sossai, 2016). Mas apesar de ter permitido um acúmulo de
experiências específicas, os altos custos associados à restauração e à falta de perspectiva
em conciliar a recuperação dos serviços ambientais com geração de renda ao produtor
rural, não contribuíram de forma positiva ao aumento da cobertura florestal (Sossai, op.
cit.).
O Programa Reflorestar tenta viabilizar a recuperação da cobertura florestal em
escala e sob uma nova abordagem conceitual, pautada na restauração de paisagens
florestais, conciliando a conservação e a recuperação dos recursos naturais com a

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

geração de renda ao produtor rural (Espírito Santo, 2011). O investimento contínuo em


planejamento e gestão realizado pelo Reflorestar, além de simplificar seu próprio
gerenciamento, também tem se mostrado atrativo para o estabelecimento de promissoras
parcerias com os diversos segmentos da sociedade, tais como agência de águas e o setor
privado.
Iniciativas públicas existem. Mas quais destes investimentos oriundos de fundos
de financiamento recuperaram áreas no vale do Itaúnas? São muitas propostas e poucos
resultados...

Uma outra visão. Qualquer estratégia de recuperação de áreas degradadas precisa


incluir as comunidades envolvidas com a produção agrícola. Dentro da linha que vem
sendo adotada de proteção da biodiversidade por áreas protegidas, um próximo passo
pode ser uma política que estimule a prática com sistemas agroflorestais na área das
bacias hidrográficas que banham estas Unidades. Estes sistemas precisam ser
estabelecidos em primeiro lugar respeitando uma característica fundamental da Mata
Atlântica – a diversidade biológica. Os sistemas de monocultura são apropriados para o
clima europeu e tem graves consequências quando praticados em larga escala nas
regiões tropicais. Para que estas ações de produção agroflorestal tenham êxito devem
ser conduzidas por gestão participativa, com atividades de assistência técnica;
capacitação e intercâmbio de conhecimento; pesquisa, capacitação e fomento à
produção agroflorestal e investigação para o aprimoramento das agroflorestas e para
conservação da Mata Atlântica.

Os peixes como bioindicadores. A dinâmica da destruição da Mata Atlântica foi mais


acentuada durante as últimas três décadas do século XX, resultando em alterações
severas para os ecossistemas que compõem o bioma, especialmente pela alta
fragmentação do habitat, com conseqüente redução e pressão sobre sua biodiversidade
(Pinto et al., 2006). Por isso a vasta maioria dos animais e plantas ameaçadas de
extinção do Brasil são formas representadas na Mata Atlântica, sendo que o bioma
lidera a contagem de espécies consideradas extintas na natureza (Rodrigues et al. 2009).
A Mata Atlântica significa também abrigo para várias populações tradicionais e
garantia de abastecimento de água para mais de 122 milhões de pessoas, mais da metade
da população brasileira. As comunidades de peixes estão sendo profundamente afetadas
pela perturbação antrópica em rios da Mata Atlântica ao norte do Espírito Santo. Cabe
um outro olhar quanto à conservação de espécies aquáticas na região do vale do rio
Itaúnas.
A identificação de espécies e comunidades de peixes bioindicadoras se revela
uma importante ferramenta para a elaboração de planos de manejo de bacias
hidrográficas, informando indiretamente as condições atuais do ecossistema lótico.
Estes bioindicadores podem ser úteis nas atividades de biomonitoramento de sistemas
lóticos, permitindo aos gestores ambientais avaliar a dinâmica do ecossistema em
função da frequência de ocorrência e abundância dos bioindicadores típicos das mais
diversas condições ambientais reconhecidas (Carvalho, 2015).

CONCLUSÃO

A recuperação e conservação dos ambientes naturais passam necessariamente


como uma mudança de paradigma de progresso. Submeter a Natureza a economia como
fazemos atualmente é ignorar que ela é quem estabelece os limites e alcances de

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

sustentabilidade. As atividades produtivas dependem destes limites e se são


ultrapassados destroem a base da própria economia (Acosta, 2016).
Mas é possível buscar soluções de conservação e recuperação ambiental se
considerarmos que estas soluções devam estar acompanhadas da melhoria na condição
de vida das comunidades nas áreas definidas como prioritárias para estas ações. As
áreas nas bacias conectadas as unidades de conservação pode constituir-se em um
critério importante neste processo.
O envolvimento das comunidades com sistemas de produção agroflorestais,
desde que implementados com gestão participativa, e apoio da pesquisa na identificação
das dificuldades e capacitação para sua superação podem ser um caminho para
conservação e recuperação da Mata Atlântica.
As comunidades de peixes de água doce constituem um excelente indicador para
sinalizar as melhores escolhas durante este processo.
Como dizia o poeta espanhol Antônio Machado: “Caminante no hay camino, se
hace camino al andar”.

LITERATURA CITADA

Acosta, A. O Bem Viver uma oportunidade para imaginar outros mundo [Internet]. 1o
ed. São Paulo, SP: Editora Elefante; 2016 [citado 27 de junho de 2017]. 264 p.
Disponível em: http://editoraelefante.com.br/produto/o-bem-viver-uma-
oportunidade-para-imaginar-outros-mundos/

Carvalho, L. de. Bioindicadores da assembleia de peixes de riachos submetidos a


diferentes condições de conservação na região metropolitana do município de
Londrina (PR) [Internet] [Trabalho de conclusão de curso]. [Londrina, PR]:
Universidade Tecnológica Federal do Paraná; 2015 [citado 25 de junho de
2017]. Disponível em:
http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/5349/1/LD_COEAM_2015
_1_11.pdf

Espírito Santo. 2011. Planejamento Estratégico Reflorestar. Vitória: Secretaria de


Estado de Economia e Planejamento.

Moraes, M. A. Restauração de florestas e paisagens no Brasil [Internet]. IUCN, Brasília,


Brazil; 2016. Disponível em:
https://www.iucn.org/sites/dev/files/content/documents/2016/livro_restauracao_
paisagens_07-06-16.pdf (acesso em 25 jun 2017).

Rodrigues, R.R., Brancalion, P.H.S. & Isernhagen, I (Orgs.). 2009. Pacto pela
restauração da Mata Atlântica: referencial dos conceitos e ações de restauração
florestal. São Paulo: LERF/ESALQ : Instituto BioAtlântica. Disponível em
http://docs.wixstatic.com/ugd/5da841_f47ee6a4872540ee8c532166fbb7e7b0.pdf
(acesso em 25 jun 2017).

Sarmento-Soares, L.M. & R.F. Martins-Pinheiro. 2012. A fauna de peixes nas bacias do
norte do Espírito Santo, Brasil. Sitientibus série Ciências Biológicas 12(1): 27–
52.

27
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Sarmento-Soares, L.M. & R.F. Martins-Pinheiro. 2013. A fauna de peixes na REBIO


Córrego Grande e seu entorno direto, Espírito Santo, Brasil. Bol. Mus. Biol.
Mello Leitão, 31: 25-57.

Sarmento-Soares, L.M. & R.F. Martins-Pinheiro. 2017. Água e Conservação - um outro


olhar. Boletim Sociedade Brasileira de Ictiologia, 121: 12-15.

SEAMA- Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos. 2016.


Reflorestar é referência na restauração em larga escala. Disponível em
https://seama.es.gov.br/reflorestar-e-referencia-na-restauracao-em-la (acesso em
24 jun 2017).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONHECIMENTO CIENTÍFICO: COMO INSERIR A POPULAÇÃO


NESTE UNIVERSO?

Maria Isabel Pinto Ferreira Landim

Universidade de São Paulo, Museu de Zoologia da USP, Departamento de Zoologia

Os Museus de História Natural abrigam acervo e desenvolvem pesquisa e ensino


sobre a biodiversidade. Além disto, promovem uma relação com o público em geral que
prescinde de intermediários. Suas coleções forneceram as principais evidências para a
formulação de teoria da evolução no século XIX. Qual é o papel destas instituições no
século XXI? Assim, foram salientados alguns dos desafios enfrentados pelos museus na
era da "pós-verdade".

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

LACUNAS DE CONHECIMENTO EM UM BIOMA MEGADIVERSO E


AMEAÇADO

Marinez Ferreira de SIQUEIRA

Instituto de Pesquisas do Jardim Botânico do rio de Janeiro

O bioma Mata Atlântica é reconhecidamente um hotspot de biodiversidade e


também um dos mais ameaçados biomas do planeta devido ao avançado desmatamento
sofrido historicamente. Atualmente estima-se que reste apenas 100mil Km2 (cerca de
8,3%) de vegetação original, em uma paisagem fragmentada, das quais cerca de 22mil
(cerca de 1,8%) protegidas em unidades de conservação de preservação integral. Em
relação ao conhecimento acumulado sobre este Bioma, podemos destacar dois tipos de
déficit (shorfalls) que podem ameaçar ainda mais o desenvolvimento de sínteses e
análises do conhecimento para a produção de boas políticas públicas de conservação,
são eles: o déficit linneano, o qual postula que a maioria das espécies podem ainda não
estar catalogadas pela ciência, conceito que pode ser estendido para espécies já extintas;
e o déficit wallaceano, que postula que o conhecimento sobre a distribuição geográfica
das espécies ainda é incompleto, ou seja insuficiente em todas as escalas, na maior parte
do tempo. Ao levantarmos informação sobre o que existe disponível nas grandes redes
de dados do Brasil (rede splink, jabot, e dados do GBIF-Brasil) vemos que para a nossa
flora e fauna, iniciativas como os programas Refora e Refauna colocam o Brasil na
vanguarda do desenvolvimento do conhecimento em relação ao déficit linneano, que é
considerado o mais básico, e sobre o qual todos os demais déficit estão relacionados.
Em relação à Flora, são atualmente catalogadas 46.403 espécies e para a fauna 116.996.
No entanto, ainda temos um déficit nesta categoria, uma vez que as estimativas mínimas
e máximas para espécies de flora variam de 60.000 a 70.000 espécies. Já para o déficit
wallaceano, a situação é um pouco mais complexa. Em relação especificamente ao
grupo de Angiospermas, mais de 50% das espécies são conhecidas por menos de 20
registros (coletas) no Brasil. Se removermos os erros e os registros duplicados, este
número sobe para 65%. Para melhorar este quadro, existem disponíveis ferramentas
para tratar ambos os déficits. Análises de espacialização de dados baseadas em
modelagem de nicho ecológico e distribuição de espécies, tendo por objetivo a
identificação de lacunas de conhecimento, são uma alternativa importante para não só
contornar o déficit wallaceano, mas também para diminuir sua influência nas sínteses de
conhecimento. Outra importante ferramenta é a disponibilização de ambientes
computacionais para a limpeza de dados para especialistas no conhecimento dessas
espécies. Por fim, todas essas iniciativas seriam praticamente inócuas, em grande escala,
se não houver a preocupação de que todos os esforços neste sentido sejam
disponibilizados tanto para as coleções que abrigam os dados quanto para o público em
geral. Apenas desta forma, atuando de forma cooperativa, acredito que teremos um
conjunto de dados de qualidade, capaz de gerar informação realmente útil para a tomada
de decisão acerca das melhores estratégias de conservação para o Bioma Mata
Atlântica.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ANÁLISE TEMPORAL DA VEGETAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁGICA DO


RIO DOCE ENTRE 2001 E 2016

Mileide de Holanda FORMIGONI

Universidade Federal do Espírito Santo

As florestas possuem grande importância ambiental, principalmente no


que diz respeito aos ecossistemas, pois possibilitam a manutenção de diversas
espécies da fauna e da flora, contribuindo para a qualidade dos recursos hídricos e
do solo.
O conhecimento da realidade relacionada, principalmente, ao
desenvolvimento da agricultura e da pastagem em áreas de florestas e/ou em áreas
com potencial para recuperação ambiental, torna-se relevante pelo fato de
envolver as conexões entre as esferas ambiental, econômica e social. Nesse
contexto, surge a necessidade de estudos e análises relacionadas ao
comportamento da vegetação florestal no processo de mudanças em seu
desenvolvimento.
Sistemas de Informações Geográficas (SIG) envolvem estudos
relacionados ao espaço terrestre, sendo formado por um conjunto de programas
computacionais que integra informações geográficas, equipamentos e pessoas
para coletar, armazenar, recuperar, manipular, visualizar e analisar dados
espaciais referenciados a um sistema de coordenadas conhecido (FITZ, 2008).
Dentre as ferramentas de SIG mais modernas e úteis para esta finalidade está o
sensoriamento remoto, definido como o conjunto de atividades que visam
caracterizar as propriedades dos alvos na superfície terrestre, através da detecção,
registro e análise de fluxo de energia, refletido ou emitido pelos mesmos (NOVO,
1989).
Dados de sensoriamento remoto têm sido utilizados em estudos temporais
de análise das mudanças da cobertura e uso do solo (GÓMEZ et al 2011). Nessas
aplicações o principal interesse é caracterizar diferentes ambientes biológicos e
compreender as mudanças ocorridas na paisagem ao longo do tempo (KUPLICH,
et al. 2013; COUTO JUNIOR, et al, 2011; FENSHOLT, et al., 2009).
O Moderate Resolution Imaging Spectroradiometer (MODIS) é um dos
principais sensores a bordo do satélite Terra, projeto Earth Observing System
(EOS), lançado em dezembro de 1999, e do satélite Aqua, lançado em 2002
(NASA, 2015). O produto MOD13Q1 apresenta-se consistente para análises
temporais das condições da vegetação, devido a sua resolução temporal, podendo
ser utilizado para monitorar a atividade fotossintética da vegetação e
interpretações da fenologia (ANDERSON, 2005). O produto possui dois índices
de vegetação EVI (Enhanced Vegetation Index) e o NDVI (Normalized
Difference Vegetation Index), que se complementam em estudos da vegetação e
fornecem informações consistentes sobre a detecção de mudanças vegetais e
parâmetros biofísicos do dossel.
Pelo fato de refletirem o estado da vegetação, o EVI e o NDVI podem ser
utilizados para estudos que caracterizam sua dinâmica, auxiliando na
identificação e classificação de coberturas vegetais (ANDERSON, et al., 2005),
na detecção de mudanças da cobertura vegetal (CARVALHO JUNIOR et al.,
2009), no mapeamento e estudo da expansão de áreas agrícolas (VICTORIA et

31
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

al., 2012; LUNETTA et al., 2010) e no mapeamento de áreas suscetíveis a


alagamentos (SHIMABUKURO e FORMAGGIO, 2007).
O objetivo desse estudo é realizar a análise temporal de tendências do
comportamento da vegetação envolvendo o conjunto de observações dos Índices
de Vegetação do sensor MODIS, produto MOD13Q1, na bacia hidrográfica do
rio Doce, durante o período de janeiro de 2001 à dezembro de 2016.
A bacia hidrográfica do rio Doce (Figura 1) localiza-se no sudeste do
Brasil, entre os Estados de Minas Gerais (MG) e Espírito Santo (ES), mais
precisamente nos paralelos 17°45’ e 21°15’ de latitude sul e os meridianos 39°55’
e 43°45’ de longitude oeste (Figura 1). Com uma extensão de 853 km e uma área
de drenagem de 86.715 km², desde a nascente até o oceano Atlântico,
correspondidos entre os Estados de MG (aproximadamente 65%), e ES.
Na Figura 2 é possível visualizar a classificação dos usos do solo na bacia,
observando a grande expansão das atividades de agricultura e pastagem na porção
que envolve o estado do ES.

Figura 1. Localização da bacia hidrográfica do rio Doce. Fonte. A autora

32
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 2. Classificação dos usos no solo na bacia hidrográfica do rio Doce


Fonte. A autora

As tendências podem ser entendida como o aumento ou a diminuição


gradual nos valores da série ao longo do período. Nesse contexto, as etapas
necessárias ao processamento e à análise das tendências de comportamento dos
índices de vegetação, foram realizadas no módulo Earth Trends Modeler (ETM),
do software TerrSet. A elaboração do ETM deu-se, especialmente, para a
realização das análises de tendências e características dinâmicas dos fenômenos
ambientais à partir de séries temporais determinadas.
A tendência monotônica de Mann-Kendall (MANN, 1945; KENDALL,
1975) é um indicador de tendência não linear, capaz de inferir o grau em que uma
tendência é crescente ou decrescente. Na prática, varia de -1 a +1, sendo que o
valor de +1 indica uma tendência crescente e que nunca diminui, e -1 indica uma
tendência decrescente e que nunca aumenta.
A tendência de Mann-Kendall para a área de estudo, é apresentada na
Figura 3, sendo possível inferir que apesar de possuir áreas em que a série tende a
ser decrescente, na maior parte da área a série apresenta um comportamento
crescente, representado pelos tons de azul e verde nos mapas. Os menores valores
correspondem à área de pastagem e agricultura, ou seja, é a área onde os valores
têm sofrido maior alteração, no sentido de decréscimo.

33
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3. Tendência monotônica de Mann-Kendall para NDVI e EVI.


Fonte. A autora.

Portanto, é possível concluir que apesar de positiva em sua maioria, a


tendência mostrou que a vegetação natural na bacia encontra-se alterada por
pastagens e agricultura, sendo possível afirmar que esse cenário pode ser
melhorado à partir de intervenções que visem recuperar parte da vegetação nativa
e consequentemente melhorar a qualidade e quantidade dos recursos hídricos,
havendo também, a necessidade de reverter o quadro resultante do ocorrido em
2015 por meio de mapeamento com identificação de áreas prioritárias para a
recuperação e a produção de água na bacia.
Os resultados desse estudo levam às perspectivas de haver maior interação
com os dados biológicos, utilizando esses resultados como plano de fundo, para
auxiliar na tomada de decisão das ações futuras prioritárias da bacia.

Referências

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do Mato Grosso utilizando dados multitemporais do sensor MODIS. 2005.
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INVENTÁRIOS, AMOSTRAGEM E ALFA-TAXONOMIA: QUAIS SEUS


EFEITOS PARA A CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE? QUAIS OS
NOVOS DESAFIOS?

Valquíria Ferreira DUTRA

Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal do Espírito Santo.


*Valquíria.dutra@ufes.br.

Os inventários são procedimentos utilizados para identificar as espécies que


ocorrem em um determinado local e podem ser realizados em vários níveis (p.ex. local,
regional). Podem ser qualitativos, quando são amostrados todos os indivíduos
encontrados na área de estudo, obtendo-se apenas informações sobre as espécies, como
no método de caminhamento; ou quantitativos, quando amostra-se, em uma área
delimitada, todos os indivíduos com determinado DAP e ao final obtém-se informações
sobre a estrutura horizontal dos indivíduos na área, como no método de parcelas. Os
inventários da flora no Brasil iniciaram em 1790, com a Flora Fluminense de Velloso.
Desde então diversas iniciativas foram realizadas a fim de se inventariar a flora
brasileira, a última delas, o projeto Flora do Brasil 2020, que já possui mais de 33.000
espécies inventariadas e que deverão estar monografadas até 2020. O Espírito Santo
possui elevada diversidade vegetal e é o 7º estado brasileiro em riqueza de espécies,
com mais de 6.200 angiospermas conhecidas, o que corresponde a 19,3% das espécies
citadas para o Brasil e 32% da Floresta Atlântica. Iniciativas de se conhecer sua flora
vêm sendo realizadas desde 2007 e o Projeto Flora do Espírito Santo iniciou-se em
2010. O Estado é considerado bem amostrado, em se tratando do registro de sua flora,
pois a relação entre número de espécies e densidade de coletas é de cerca de 2,6
exsicatas/km2, uma relação alta quando comparada ao Brasil (cerca de 0,6
exsicatas/km2). Porém a maioria dos espécimes coletados está restrita a 13 municípios
do Estado (16% do total) e 24 dos municípios possuem menos de 20 exsicatas coletadas,
formando uma lacuna de conhecimento da flora especialmente no noroeste do Estado.
Além disso, o conhecimento é desigual quando se trata de famílias. As mais amostradas
nos herbários do Estado são: Fabaceae, Myrtaceae, Orchidaceae, Melastomataceae e
Rubiaceae. Quais os desafios para a conservação dessa biodiversidade? Os principais
desafios que precisamos enfrentar são: [1] falta de recursos humanos, especialmente do
número de taxonomistas para inventariar toda essa diversidade; [2] maiores
investimentos nas coleções, capacitação e ampliação do quadro de técnicos de
herbários, investimentos perenes para os sistemas de informação, para a digitalização
das coleções e para os prédios e demais infraestruturas das coleções, e melhoria na
qualidade dos bancos de dados; e [3] aumentar o esforço amostral, com ampliação da
base amostral das coleções, definir áreas prioritárias e grupos taxonômicos que
necessitam de esforço amostral direcionado, promover de expedições de coletas em
áreas apontadas como lacunas do conhecimento e capacitar os alunos em técnicas de
coleta para diferentes estudos. Quais os efeitos para a conservação da biodiversidade? O
aumento na realização dos inventários e consequentemente da amostragem,
especialmente em áreas de lacunas do conhecimento, aumenta o conhecimento da
biodiversidade, um exemplo é o grande número de espécies novas publicadas nos
últimos anos para o Espírito Santo. Além disso, esse conhecimento é essencial para o
avanço da biologia da conservação.

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RESUMOS ACEITOS

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Biogeografia

TESTANDO A REGRA NEO-BERGMANNIANA EM AKODON CURSOR


(RODENTIA: SIGMODONTINAE) DA MATA ATLÂNTICA

Matheus do Nascimento DALBEM1*, Ana Carolina LOSS1


1
Universidade Federal do Espírito Santo
*matheus.dalbem93@gmail.com

INTRODUÇÃO

Em sua versão alemã original, traduzida por James para o inglês em 1970, a
regra de Bergmann apresenta três pontos principais: (i) a temperatura constante de um
organismo homeotérmico é mantida por um balanço entre a produção de calor dentro do
volume de um animal e a perda de calor de sua superfície. (ii) A limitação da relação de
superfície corpórea para seu volume é um dos fatores que determina o tamanho da
espécie, e (iii) quando outros fatores são constantes, as menores espécies em um gênero
estarão nas maiores temperaturas (Bergmann, 1847; James, 1970).
Bergmann afirmava existir uma correlação negativa entre temperatura e tamanho
corpóreo em um nível interespecífico. Porém, Mayr (1963) altera profundamente a
proposta original, promovendo o uso de variação intraespecífica para testar esta regra.
Essa mudança promove uma nova perspectiva para os estudos dessa regra, que passa a
ser conhecida então como regra Neo-Bergmanniana (James,1970).
Em 1954 há uma nova mudança para a regra de Bergmann, sugerindo o efeito da
latitude como preditor da temperatura, devido a observações em aves do gênero Parus.
Estas aves apresentavam o comprimento de asa maior nas latitudes mais altas e menor
em latitudes mais baixas (Snow, 1954).
Alguns estudos sugerem que pequenos mamíferos não estão em conformidade
com a regra de Bergmann, pela circunstância de seu tamanho corporal decrescer com o
aumento da latitude (e.g. Ochocińska & Taylor, 2003; Yom-Tow & Yom-Tow, 2005;
Balčiauskas et al., 2014). Akodon cursor é um pequeno roedor Sigmodontinae, com
peso médio de 54 g para machos e 43 g para fêmeas, de pelagem homogênea que varia
do negro para o marrom e endêmico do Brasil, sendo o roedor nativo mais comum da
Mata Atlântica (Geise, 2012). No Espírito Santo, estão distribuídos por
aproximadamente metade de todo o gradiente altitudinal, variando desde o nível do mar
até cerca de 1.252 m de altitude na Serra do Caparaó.
A Mata Atlântica apresenta um dos maiores gradientes altitudinais e de
temperaturas do Brasil, fundamentais para produzir diferenças na distribuição e
diversidade das espécies, sendo considerada uma das áreas mais ricas em diversidade do
planeta. O objetivo do presente trabalho foi testar a validade da regra Neo-
Bergmanniana, utilizando temperatura e altitude como variáveis ambientais, em
populações de Akodon cursor na Mata Atlântica do Espírito Santo.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

Locais de coleta e dados ambientais


Dados de altitude e temperatura mínima foram extraídos de camadas raster com
resolução espacial de 30 arco-segundos disponíveis no banco de dados do Worldclim
(Hijmans et al., 2005).
Os espécimes de Akodon cursor utilizados são exemplares tombados na Coleção
de Mamíferos da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES-MAM), coletados em
13 municípios do Espírito Santo ao longo da distribuição altitudinal da espécie.

Figura 1 – Localização geográfica dos pontos de amostragem de Akodon cursor na


Mata Atlântica do estado do Espírito Santo e gradiente de altitude correspondente.
Altitudes mais baixas estão representadas por tons de verde, enquanto que altitudes mais
elevadas, por tons de roxo. A região verde-clara no mapa de localização representa a
Mata Atlântica brasileiro, enquanto a verde escura representa o estado do Espírito Santo.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Amostras e variáveis morfológicas


O levantamento de dados reuniu medidas corpóreas, cranianas e mandibulares de
94 espécimes, aferidas com base em trabalhos anteriores com os Sigmodontinae
Neomys e Akodon (Balčiauskas et al., 2014; Geise et al., 2005).
Seguindo classificação de Tribe (1996), os espécimes de Akodon cursor foram
agrupadas por idade, variando de 0 a 5, em que 0 representa o indivíduo recém-nascido,
sem o terceiro molar erodido e 5 o indivíduo com todo os molares erodidos e bem
gastos.
Foram aferidas 17 medidas morfométricas em milímetros (mm), sendo 12 de
morfometria interna (crânio e mandíbula), obtidas com paquímetro graduado e 5
externas, obtidas das etiquetas de identificação dos espécimes.

Nomenclatura das variáveis morfológicas


As 17 medidas morfométricas foram: comprimento angular da mandíbula
(CAM), comprimento cabeça-corpo (CCC), comprimento condilobasal (CC),
comprimento da cauda (CAUDA), comprimento da orelha (CO), comprimento do pé
(PE), comprimento palatal (CP), fileira de dentes da mandíbula com incisivo (FCIM),
fileira de dentes da mandíbula (FM), fileira de dentes da maxila (FMX), fileira de dentes
da maxila com incisivo (FMXI), largura do crânio (LC), largura do teto craniano (LTC),
largura entre as bulas auditivas (LIBA), largura interorbital (LI), largura zigomática
(LZ) e massa corpórea (PESO).

Seleção das variáveis morfológicas


Bergmann se refere a superfície corporal e volume como medidas de “tamanho”
que poderiam ser correlacionadas com as variações da temperatura para testar sua regra.
Comprimento corpóreo e peso são as principais variáveis utilizadas para representar
tamanho nos trabalhos que testam a regra de Bergmann (e.g. Ashton & Feldman, 2003;
Meiri & Dayan, 2003; Adams & Church, 2007), por serem consideradas medidas diretas
de superfície corpórea e volume, respectivamente. Para testar quais outras medidas
morfológicas poderiam ser utilizadas para representar a variável “tamanho” como
proposta por Bergmann, foi realizado um teste de correlação de Pearson entre todas as
variáveis com a massa corpórea (PESO) e com o comprimento total do corpo (CCC). As
variáveis que mostraram coeficiente de correlação positivo e acima de moderada
(>0,5) (Mukaka, 2012) foram consideradas preditivas da regra de Bergmann e
selecionadas para os testes posteriores.
É necessário que se utilize somente adultos com crescimento estabilizado em
testes da regra de Bergmann para evitar erros nos resultados (Adams & Church, 2007;
Nunes et al., 2016). Para verificar a partir de qual classe etária de Tribe ocorre
estabilização do crescimento, foi realizado um teste de MANOVA, seguido pelo teste
TUKEY post-hoc para averiguar diferenças significativas nas medidas entre as classes
etárias (Matias et al., 2011), para todas as variáveis selecionadas no passo anterior. As
classes etárias que não mostraram diferença significativa entre os valores das variáveis,
foram consideradas adultos e, portanto, apenas indivíduos destas classes foram
utilizados para teste posterior da regra de Bergman.
Um teste MANOVA foi realizado para observar a variância entre as classes
sexuais, buscando verificar a presença de dimorfismo sexual na amostra.
Para testar a premissa da regra de Bergmann, foi realizado um teste de correlação de
Pearson entre as variáveis morfológicas e ambientais. Sendo que foram considerados em
conformidade com a regra Neo-Bergmanniana (Adams & Church, 2007), aquelas

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

variáveis com coeficiente de correlação () positivo e acima de 0,5 e significância


menor que (p<0,5).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A Tabela 1 mostra os resultados da correlação de Pearson entre todas as
variáveis medidas, com peso corporal e tamanho. Dentre as 17 medidas, 7 foram pré-
selecionadas para testar a regra de Neo-Bergmanniana (CC, CAM, FCIM, LIBA, LC,
FCIMI, CP) por estarem positivamente correlacionados com o comprimento cabeça-
corpo (CCC) e massa corpórea (PESO).
Tabela 1. Valores de correlação de Pearson () positiva para variáveis morfológicas de
Akodon cursor com o comprimento cabeça-corpo (CCC) e massa corpórea (PESO). As
variáveis que não mostraram correlação positiva e/ou significativa não foram mostradas.
O valor de significância de todos os testes foi p < 0,001.
VARIÁVEL CORRELAÇÃO VARIÁVEL
FATOR FATOR CORRELAÇÃO ()
MORFOLÓGICA () MORFOLÓGICA
CCC CC 0,78 PESO CC 0,87
CAM 0,61 CAM 0,65
FCIM 0,65 FCIM 0,84
LC 0,61 LC 0,82
LIBA 0,61 LIBA 0,64
FMXI 0,68 FMXI 0,88
CP 0,75 CP 0,75

Foram realizados dois testes após a correlação de Pearson: (i) teste de


MANOVA seguido do (ii) teste de TUKEY para as variáveis previamente selecionadas,
indicando que a maioria das variáveis apresenta diferença significativa quanto ao sexo,
exceto CAM e LC, com valores de (p > 0,05), resultados semelhantes ao trabalho de
Geise (2012) para dimorfismo sexual. Portanto, fêmeas e machos foram tratados
separadamente. O teste de TUKEY apresentou os indivíduos das classes etárias 3, 4 e 5
como adultos de crescimento indeterminado, porém estabilizado, corroborando Gentile
et al. (2000), sem diferenças significativas (p<0,05) entre as classes, enquanto
indivíduos das classes 0, 1 e 2 foram tratados como jovens. Com base nesses resultados,
foram utilizadas as variáveis LIBA, LC, CP, CCC, PESO e CCC.
As demais variáveis (CAM, FM, FCIM, LI, LZ, FMX, FMXI, LTC, CAUDA,
PE, CO) foram descartadas da análise, pois se mostraram constantes independente da
classe etária e, portanto, inadequadas como variáveis resposta de mudança no tamanho
corporal.
A Tabela 2 mostra a correlação entre as variáveis morfológicas selecionadas para testar
a regra Neo-Bergmanniana (CC, LIBA, LC, CP, CCC e PESO) e as variáveis
ambientais (altitude e temperatura mínima). Quanto à temperatura mínima para as
fêmeas, as variáveis CC, LIBA, LC e PESO não mostraram valores significativos de
correlação, enquanto CCC e CP mostraram valores significativos. Portanto, para as
fêmeas de Akodon cursor, a temperatura mínima não fornece robustez para determinar
que estas estão de acordo com a regra de Bergmann. Porém, as tendências de regressão
de CCC e CP indicam uma concordância com a regra: quanto menor a temperatura,
maior o tamanho corpóreo.
Quanto à altitude, nenhuma variável mostrou valor significativo na correlação das
fêmeas, embora a variável CCC novamente mostre uma tendência para que esteja de
acordo com a regra: aumento do tamanho em maiores altitudes.

Tabela 2. Correlação () e significância (valor de p) entre variáveis morfológicas de


fêmeas de Akodon cursor com temperatura mínima e altitude. As variáveis que

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

apresentaram melhores valores de correlação e mostraram tendência para que estejam


de acordo com a regra Neo-Bergmanniana estão indicadas em negrito.
TEMPERATURA MÍNIMA ALTITUDE
CORRELAÇÃO VALOR CORRELAÇÃO VALOR DE
SEXO VARIÁVEL VARIÁVEL
() DE P () P
FÊMEAS PESO -0,14 0,43 PESO 0,16 0,36
CCC -0,39 0,02 CCC 0,44 0,08
CP -0,38 0,01 CP 0,39 0,15
LC -0,13 0,47 LC 0,15 0,42
LIBA -0,21 0,20 LIBA 0,22 0,17
CC -0,27 0,09 CC 0,29 0,08

A Tabela 3 mostra os resultados dos machos, onde apenas a variável LIBA, das
seis variáveis mostrou valor significativo de correlação, tanto para temperatura mínima
quanto para altitude. Os resultados gerais não sugerem congruência dos machos com a
regra de Bergmann. Apenas a variável LIBA mostrou valor significativo de correlação e
uma tendência de regressão para categorizar-se como variável que esteja em
congruência com a regra.

Tabela 3. Correlação () e significância (valor de p) entre variáveis morfológicas de


machos de Akodon cursor com temperatura mínima e a altitude. As variáveis que
apresentaram melhores valores de correlação e mostraram tendência para que estejam
de acordo com a regra Neo-Bergmanniana estão indicadas em negrito.
TEMPERATURA MÍNIMA ALTITUDE
VALOR VALOR
SEXO VARIÁVEL CORRELAÇÃO () VARIÁVEL CORRELAÇÃO ()
DE P DE p
MACHOS PESO 0,04 0,8 PESO -0,14 0,42
CCC -0,16 0,84 CCC 0,10 0,57
CP -0,12 0,41 CP 0,05 0,75
LC 0,06 0,74 LC -0,13 0,45
LIBA -0,30 0,04 LIBA 0,30 0,05
CC -0,03 0,84 CC 0,29 0,89

Apesar de algumas variáveis preditoras de tamanho terem apresentado valores


significativos de correlação inversa com a temperatura e altitude nos dados analisados
de Akodon cursor, não foi observado no presente estudo uma tendência geral desses
roedores estarem de acordo com a regra de Bergmann. Segundo Maestri et al. (2016), a
assembleia de mamíferos da América do Sul é dominada por uma impressionante fauna
de roedores com baixas massas corpóreas, portanto, a ausência de um gradiente de
tamanho corporal em concordância com as expectativas de Bergmann parece ser um
resultado esperado. Os roedores mostram que processos históricos ligados à distribuição
de suas linhagens pela América do Sul afetaram o padrão de variação geográfica e as
variáveis ecológicas, apresentando padrões de massa corpórea altamente dependentes de
relações filogenéticas entre assembleias de roedores Neotropicais. Dessa forma, a
ausência do efeito esperado pela regra de Bergmann pode também ser resultado de uma
diferença de distribuição biogeográfica pela América do Sul. Clados contendo espécies
com maiores pesos médios podem ser parte da mesma comunidade, simplesmente
devido a processos históricos, como dispersão e vicariância.
Depois da obra de James (1970), e dois séculos da postulação de Bergmann
(1847), uma difusão para estudos para vários níveis taxonômicos ocorreu, inclusive para
animais ectotérmicos (e.g. Ashton, 2002; Ashton & Feldman, 2003; Adams & Church,
2007; Geraghty et al., 2007). Os anuros do gênero Brachycephalus, por exemplo, estão
distribuídos ao longo da Mata Atlântica e mostraram relação oposta à regra de
Bergmann (Firkowsk, 2011). Os resultados encontrados no presente estudo não

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

corroboram o mesmo padrão: Akodon cursor, que está distribuído por toda a Mata
Atlântica, como os anuros Brachycephalus, não apresentam padrão de conformidade ou
oposição à regra de Bergmann. Parece que a regra também não é seguida dentro do
gênero Akodon – Akodon montensis exibe, em geral, menores medidas morfométricas e
está situado em maiores latitude e altitude e enfrenta menores temperaturas do que
Akodon cursor (Geise et al., 2005).
Os resultados deste trabalho assemelham-se ao trabalho de Meiri & Dayan
(2003) que propõem que a regra de Bergmann é válida para pássaros e mamíferos em 30
diferentes níveis taxonômicos, embora linhagens de roedores e outros mamíferos que
pesem entre 4 e 500 g não estariam em conformidade com a regra de Bergmann.

CONCLUSÃO

Os dados não foram significativos para que Akodon cursor esteja em


conformidade com a regra Neo-Bergmanniana. Em geral, os resultados obtidos neste
trabalho sugerem que temperatura mínima e altitude não são fatores determinantes para
tamanho corporal, peso e suas variáveis correlacionadas (CP, LC, LIBA, CC) em
Akodon cursor e provavelmente o fator filogenético é o que melhor explica o tamanho
corporal no grupo. Porém, as variáveis CCC e CP para as fêmeas com a temperatura
mínima, a variável LIBA com a altitude para machos e fêmeas através de seus valores
de correlação, de significância, bem como a tendência de regressão não podem ser
descartadas como variáveis que estejam em congruência com regra de Bergmann, uma
vez que exibem decréscimo com a temperatura e aumento com a altitude,
respectivamente.
Estudos que investiguem a aplicação da regra de Bergmann em diferentes níveis
taxonômicos – nível intraespecífico ou interespecífico – que utilizem essas combinações
de variáveis ambientais são importantes, pois, podem fornecer resultados mais robustos,
que ajudem a compreender à conformidade da regra de Bergmann para diferentes
táxons.

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¨rmeo
¨ konomie
der thiere zu ihrer gro

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¨ sse. ! Gottinger Studien 1: 595!708.


Ueber die Verha
¨ltnisseder Wa
¨rmeo
¨ konomie
der thiere zu ihrer gro
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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Botânica

OCORRÊNCIA, QUALIDADE E SANIDADE DE Actinostemon klotzschii EM


FLORESTA ESTACIONAL SEMIDECIDUAL

Telma Machado de Oliveira PELUZIO1*, Karla Maria Pedra de ABREU1, Quênia


Glória FERREIRA1, João Batista Esteves PELUZIO1 & Alexandre Rosa dos SANTOS2
1
Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Espírito Santo – Campus de Alegre
2
Universidade Federal do Espírito Santo
*tmpeluzio@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A Mata Atlântica, rica pela sua alta biodiversidade (Perotto, 2007), teve sua área
de ocorrência reduzida drasticamente desde descobrimento do Brasil até a atualidade, de
tal forma que se encontram poucas regiões preservadas, transformando-se num dos
biomas mais ameaçados de extinção (Neves, 2006; Galindo-Leal & Câmara, 2005;
Ribeiro et al., 2009). Sua vegetação remanescente é representada por pequenos
fragmentos isolados (Lima et al., 2003). Sendo preponderante o conhecimento e
recuperação dos seus remanescentes florestais para a manutenção desse bioma (Pirovani
et al., 2014).
Dentre as várias existentes na Mata Atlântica encontra-se Euphorbiaceae, que
segundo Souza & Lorenzi (2005) possuem distribuição predominantemente tropical,
incluindo cerca de 250 gêneros e 6300 espécies (APG III, 2009). No Brasil ocorrem
cerca de 63 gêneros e 909 espécies, representando uma das principais famílias da flora
brasileira e uma das mais complexas do ponto de vista taxonômico (Cordeiro et al.,
2012).
Dentre as espécies de Euphorbiaceae ocorrentes na Mata Atlântica,
Actinostemon klotzschii pode ser utilizado na recomposição de mata ciliar e restauração
ecológica. Segundo Esser (2001) e Eymael, (2012), possui alta complexidade
morfológica em decorrência da pouca variabilidade vegetativa e reprodutiva.
Considerando que o estudo da estrutura arbórea busca contribuir com
informações sobre o desenvolvimento, o grau de perturbação, estágios de
desenvolvimento e sucessão em que a comunidade florestal se encontra (Alves Júnior et
al., 2007), o presente estudo objetivou determinar o número de indivíduos, a qualidade e
sanidade do fuste de Actinostemon klotzschii em parcelas amostrais, localizadas em um
fragmento de floresta estacional semidecidual no sul do Espírito Santo, de forma a
adequar o seu plano de manejo, para adoção de medidas de proteção e conservação da
espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido na Floresta Nacional de Pacotuba (FLONA),


localizada em Cachoeiro de Itapemirim, Estado do Espírito Santo, entre as coordenadas
geográficas 20º44’ e 20º45’ S e 41º16’ e 41°18’31” O (Figura 1), com uma área total
de 450 ha.
Segundo a classificação internacional de Köppen, o clima da região é do tipo
“Am”, ou seja, clima tropical com inverno seco e verão quente, a estação seca ocorre

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

entre os meses de abril e outubro, sendo que os meses de junho, julho e agosto com
menor precipitação pluviométrica. A temperatura média da região é 23,1º C (INCAPER,
2016) e a precipitação anual média é de 1.293 mm (INMET, 2016).
Foram amostrados todos os indivíduos arbóreos com Diâmetro a Altura do Peito
(DAP) ≥ 5 cm encontrados em 25 parcelas de 20 x 20 m (área amostral total de1 ha)
distribuídas sistematicamente a cada 200 m. Posteriormente as espécies foram
identificadas e circunscritas nas respectivas famílias botânicas, e para tal foi adotado o
sistema de classificação “Angiosperm Phylogeny Group” (APG III, 2009).
Após a identificação, as espécies foram separadas em três grupos distintos:
Actinostemon klotzschii, Euphorbiaceae e outras espécies.
Para avaliar a Sanidade do Fuste (SF) foi utilizado um código numérico
correspondente a situação fitossanitária, sendo: 1, sadio; 2, estágio inicial de
deterioração; 3, estágio avançado de deterioração; e 4, árvore morta. A avaliação da
Qualidade do Fuste (QF) considerou as seguintes categorias: 1, reto, cilíndrico; 2,
ligeiramente torto, porém cilíndrico e desprovido de ramificações; 3, forte tortuosidade;
e 4) quebrado, rachado (SFB, 2016). Posteriormente os dados de qualidade e sanidade
foram submetidos à análise de estatística descritiva e pelo teste Qui-quadrado.

Figura 1. Localização da área de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A distribuição dos indivíduos identificados por parcela de Actinostemon


klotzschii, Euphorbiaceae e outras espécies na área de estudo encontram-se na Tabela 1.
Na Tabela 2 a análise da estatística descritiva da distribuição dos valores médios
de DAP, QF e SF.
O total de indivíduos de Actinostemon klotzschii, corresponde a 41,18% dos
indivíduos de Euphorbiaceae e 19,70% do total de indivíduos amostrados no fragmento.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

As outras espécies de Euphorbiaceae correspondem a 47,84% e as demais espécies a


32,46% do total de indivíduos da FLONA de Pacotuba.

Tabela 1. Distribuição dos indivíduos identificados por parcela de Actinostemon


klotzschii, Euphorbiaceae e outras espécies na FLONA de Pacotuba.
Actinostemon Outras Outras Número total de
Parcela
klotzschii Euphorbiaceae espécies indivíduos
1 31 48 15 94
2 9 34 21 64
3 10 22 21 53
4 21 29 27 77
5 31 59 21 111
6 18 11 27 56
7 16 30 20 66
8 15 1 18 34
9 23 13 28 64
10 32 2 39 73
11 1 66 14 81
12 37 31 21 89
13 0 33 31 64
14 0 54 22 76
15 0 50 16 66
16 1 72 15 88
17 0 78 11 89
18 12 40 17 69
19 23 17 25 65
20 8 12 18 38
21 23 43 16 82
22 9 0 55 64
23 7 59 23 89
24 14 24 27 65
25 0 0 20 20
Total 341 828 562 1.731

Tabela 2. Valores médios de Diâmetro a Altura do Peito (DAP), Qualidade do Fuste


(QF), Sanidade do Fuste (SF) e desvio padrão de Actinostemon klotzschii encontrados
nas parcelas.
Variável Mínimo Média Máximo DP CV (%)

DAP (cm) 2,1 7,09 12,5 2,01 29,58


QF (Adim) 2,2 2,7 3 0,25 9,07
SF (Adim) 1,7 2,36 3 0,37 15,78

DP: Desvio Padrão; CV: Coeficiente de Variação.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Os indivíduos de Actinostemon klotzschii apresentaram um DAP, QF e SF pouco


variável quando comparados às parcelas, confirmado pelo resultado do teste Qui-
quadrado. Apresentando um estágio intermediário tanto de QF e SF de acordo com a
SFB (2014). Esta condição pode estar sendo influenciada por condições ambientais,
apesar dessa espécie se apresentar resistentes à alta radiação e baixa umidade (Vaccaro
et al., 2003).
Dentre todos os indivíduos analisados, a parcela 5 possui o maior quantitativo de
indivíduos, entretanto na parcela 6 encontra-se os com melhores condições de sanidade
e qualidade do fuste.
Não foi encontrado nenhum trabalho que discorresse sobre a QF e SF em
Actinostemon klotzschii, de tal forma, que as inferências aqui discutidas tratam-se de
estudos em outras espécies de Euphorbiaceae.
Segundo Herrera (2009) a qualidade e sanidade do fuste em valores
intermediários denotam a necessidade de adoção de estratégias de manejo, de forma a
espécie, caso contrário poderá haver a infestação de organismos biodeteriorantes de
fuste e cupins de solo (Brazolin, 2006).
Estes resultados fornecem uma base para outros estudos sobre a variação
interespecífica e intraespecífica de espécies lenhosas, mecanismos de aclimatação, e
sobrevivência na Mata Atlântica.

CONCLUSÃO

A presença de Actinostemon klotzschii corresponde a 19,70% do total de


indivíduos arbóreos identificados na FLONA de Pacotuba, entretanto a qualidade e
sanidade do fuste, na qual a espécie se encontra, denota um estado intermediário, que
dependendo das condições ecológicas naturais e antrópicas as quais for submetida,
poderá haver um novo rearranjo das espécies no fragmento florestal.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Espírito


Santo/campus de Alegre. A Universidade Federal do Espírito Santo. A Fundação de
Amparo à Pesquisa do Espírito Santo. Ao Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade / FLONA de Pacotuba.

LITERATURA CITADA

Alves Júnior, F. T.; Lins, C. F.; Brandão, S. 2007. Estrutura diamétrica e hipsométrica
do componente arbóreo de um fragmento de Mata Atlântica, Recife-PE. Cerne.
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Centro de tecnologia de Recursos Florestais-Laboratório de Preservação de
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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

LEVANTAMENTO DE ESPÉCIES DE BROMELIACEAE JUSS EM


REGÊNCIA, LINHARES –ES

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1 & Thayanne Rangel


FERREIRA2.
1
Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper
2
Instituição Federal do Espiríto Santo (IFES) - Campus Santa Teresa.
*basiliocerri@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

A região costeira é uma das mais alteradas do Brasil, sendo o resultado de


aproximadamente 500 anos de exploração (ROCHA et al., 2003). As restingas,
especialmente, têm sido descaracterizadas pela ação antrópica e especulação imobiliária
(FREITAS, 2006). Neste contexto, os levantamentos florísticos são de extrema
importância para o conhecimento da vegetação de uma área ou região, por fornecem
dados para estudos taxônomicos, fenológicos, fitossociológicos e ecológicos e por
subsidiarem a elaboração de planos de conservação e preservação da biodiversidade.
Segundo Paula & Silva (2004), estima-se que a família Bromeliaceae exista a mais de
36 milhões de anos, considerando a idade do fóssil a ela relacionado, denominado
Karatophillum bromelioides e encontrado na Costa Rica. A família possui distribuição
essencialmente neotropical (com uma única espécie ocorrente no paleotrópico) e conta
atualmente com aproximadamente 3.172 espécies distribuídas em 58 gêneros (LEME,
1997; LUTHER, 2008). Nosso objetivo foi levantar as espécies de bromélias existentes
na Trilha das Bromélias de Cacimbas, Regência, Linhares-ES.

MATERIAL E MÉTODOS

O levantamento foi realizado na Trilha das Bromélias de Cacimbas, localizada


no Sítio Belas Ondas, em Linhares (ES), entre as coordenadas 19°39’326’’ -
19°39’657’’S e 39°52’617’’ - 39° 52’624’’W. A trilha possui extensão de 1.950 metros
e largura de um metro. Foram feitas incursões, ao longo da trilha, penetrando até dois
metros a partir dos seus limites laterais. As coletas, observações e registros fotográficos
foram realizados durante cinco visitas à área, entre os meses de junho e agosto de 2015.
A identificação do material coletado foi feita por especialista e de acordo com literatura
especifica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados 143 espécimes, pertencentes a seis espécies subordinadas a


quatro gêneros e duas subfamílias (Bromelioideae e Tillandsioideae) (Tabela 1).
Ferreira et al. (2007), estudando a composição florística de uma ilha ao sul do
Espírito Santo, encontraram sete espécies subordinadas a seis gêneros de Bromeliaceae,
segunda família com maior abundância de espécies na região. Neste estudo, foram
identificadas Aechmea lingulata L, Neoregelia pascoaliana Smith, Vriesea procera
Wittm, Bromelia antiacantha Bertol, e Tillandsia stricta Sol. As duas últimas espécies
mencionadas também ocorrem na Trilha das Bromélias de Cacimbas.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Tabela 1. Subfamilias e espécies de Bromeliaceae, presentes na Trilha das Bromélias de


Cacimbas, Sítio Belas Ondas, Linhares (ES).
Subfamília Espécie
Aechmea blanchetiana Baker
Aechmea maasii Gouda & W. Till
Bromelioideae
Aechmea lamarchei Mez
Bromelia antiacantha Bertol
Tillandsia stricta Sol
Tillandsioideae
Vriesea neoglutinosa Mez

Já no levantamento feito por Assis et al. (2004), no Parque Estadual Paulo César
Vinho (Guarapari, ES), uma Unidade de Conservação que abrange áreas mais amplas,
florestais e de restinga de formação pós praia, a quantidade de espécies foi bem maior:
quinze espécies subordinadas a nove gêneros. Bromelia antiacantha Bertol e Tillandsia
stricta Sol, foram as espécies comuns a este Parque e à Trilha das Bromélias de
Cacimbas.

CONCLUSÃO

Ao final do levantamento na Trilha das Bromélias de Cacimbas foram


identificadas seis espécies (Aechmea blanchetiana, Aechmea maasii, Aechmea
lamarchei, Bromelia antiacantha, Tillandsia stricta e Vriesea neoglutinosa)
subordinadas a quatro gêneros (Aechmea, Bromelia, Tillandsia e Vriesea) e a duas
subfamílias (Bromelioideae e Tillandsioideae) de Bromeliaceae. Considerando o padrão
de ocorrência de Bromeliaceae na restinga do estado do ES, teve-se um número
considerável de espécies, sendo um total de 143.

LITERATURA CITADA

Assis, A. M.; Thomaz, L. D.; Pereira, O. J. 2004. Floristica de um trecho de floresta de


restinga no município de Guarapari, Espírito Santo, Brasil. Acta Botânica
Brasilica. Rio de Janeiro, 18(1):191-201.

Ferreira, A. L.; Coutinho, R. C.; Pinheiro, H. T. & Thomaz, L. D. 2007. Composição


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Museu de Biologia Mello Leitão, 22:25-44.

Freitas, A. F. N. 2006. Bromeliaceae da restinga da Reserva Biológica Estadual da Praia


do Sul: composição, abundância e similaridade da comunidade. Acta botânica
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Botanical Gardens.10th ed. BromeliadSocietyInternational. Sarasota, p 337-351.

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Universidade Federal de Viçosa.

53
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Rocha, C. F. D.; H. G. Bergallo; M. A. S. Alves & M. V. Sluys. 2003. A biodiversidade


nos grandes remanescentes florestais do Estado do Rio de Janeiro e nas
restingas da Mata Atlântica. Rima Editora, São Carlos, 163 p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles &G.D.


Rowley EM ZONAS DE ELEVADAS TEMPERATURAS, BRASIL

Jéssika Cardoso LOSS2, Jeane CRASQUE1, Basílio CERRI NETO1*, Sabrina Soares
SIMON2

1
Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper,
2
Graduação em Ciências Biológicas, Faculdade Pitágoras de Linhares.
*basiliocerri@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Pilosocereus arrabidae (Byles&G.D.Rowley) é um cacto endêmico dos estados


do Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia (Arbo-gallas, 2012).É frequentemente visto
com distribuição geográfica em neossolosquartzarênicos sobre planícies
costeirasoriundos das sucessivas transgressões do nível dos oceanos e depósito de
sedimentos marinhos (Suguio&Tessler, 1984). Esta espécie, conhecida popularmente
como “facheiro da praia” é um cactocolunar de raízes adventíciascom cladódios
medianos, aréolas relativamente curtas e frutos globulares cujas sementes são
consumidas por pássaros, lagartos e morcegos (Zappi, 1994).
Suas flores se abrem à noite e são polinizadas por morcegos (Taylor &Zappi,
2004). Além disso, esta espécie apresenta alto grau de endemismo devido ao fato de ser
encontrada preponderantemente em áreas litorâneas dos estados supracitados, sob luz de
efeito positivo e germinação das sementes em elevadas temperaturas.
O presente estudo visa analisar a distribuição geográfica de P.arrabidaecom
base em dados bibliográficos, em decorrência do risco que este organismo vem
sofrendo, bem como elencar a distribuição sob a hipótese de endemismo, atentando ao
fato de ser fotoblástica positiva e possuir sementes que germinam apenas em altas
temperaturas.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado com base em revisão de literatura pela busca de
artigos, dissertações e teses com as palavras chaves “Pilosocereusarrabidae”
“Cereusmacrogonus” “Cereuswarmingii” “biogeografia” “levantamento florístico em
restingas”, após isso, foram colhidos dados de localização no SpeciesLink. Também foi
executada uma consulta ao Herbário Virtual Reflora buscando a espécie por meio do
nome de catalogação.
Esses dados de localização foram utilizados na elaboração de um mapa de
distribuição geográfica no programa Diva-Gis (Hijmanset al. 2012) no qual adicionou-
se dados climáticos do WorldClim com intervalos de temperatura preestabelecidos
(Figura 1). Também foram feitos registros fotográficos desta espécie de cacto na área da
Reserva Biológica de Comboios entre as coordenadas geográficas de 19º 38’ a 19º 45’
Sul e 39º 45’ a 39º 55’ Oeste.

55
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registrados 47coordenadas geográficas de P. arrabidaeno SpeciesLinkque


se mostram em 35 pontos no mapa (Figura 1). Conforme o mapa a espécie se distribuiu
ao longo da zona costeira, nas áreas de restinga dos Estados do Rio de Janeiro, Espírito
Santo e Bahia (Zappi et al., 2012).
A espécie possui maior quantidade de registros de ocorrência nos Estados do RJ
e ES, em áreas com elevadas temperaturas (entre 30º C e 34º C) conforme pode ser
verificado no mapa e confirmado pelo Herbário Virtual Reflora. Além do mais, a
temperatura influência sua ocorrência, tendo em vista que a temperatura de 20º C a 25º
C aproximadamente é vista como a mais apropriada para germinação e vigor das
sementes (Martins et al., 1997) relacionada a rápida absorção da água e das reações
químicas (Marcos filho, 2005).

Figura 1. Distribuição geográfica da espécie Pilosocereus arrabidae em relação à


temperatura média anual.

Por sua vez, há registros de sete espécies do gênero Pilosocereus no Livro


Vermelho da Flora do Brasil de Martinelli et al (2013), estando elas em situação de
perigo representado pela sigla internacional (EN), como P. aurisetus subsp. aurilanatus,
P. floccosus subsp. quadricostatus, P. fulvilanatus, P. magnificus, P. multicostatus,
apresentando status vulnerável (VU) dentre elas, P. glaucochrous e criticamente em
perigo (CR) assim como P. azulensis, o que significa que se não manter áreas restritas
em unidades de conservação (UCs), haverá perdas drásticas de diversidade no futuro.
Mesmo havendo nos estados de ocorrência de P. arrabidae presença destas áreas de uso
sustentável e preservação, ainda assim, não se garante estabilidade na situação de

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

conservação da espécie.
A restinga ocupa terrenos sedimentares pleistocênicos e holocênicos de origem
marinha em toda zona costeira (Araújo, 1992). De modo geral, a vegetação de restinga
dos estados do Rio de janeiro e Espírito Santo apresenta um índice significativo de
endemismo de espécies, com uma vegetação remanescente dos períodos glaciais do
Pleistoceno (Ab’Sáber, 1992). Esses fatores podem estar relacionados à distribuição de
P. arrabidae, tendo em vista as oscilações climáticas globais durante o Pleistocênico.
Neste período, os polos estabeleceram grande quantidade de água sob a forma de gelo,
resultando na redução do nível dos mares e deixando expostas grandes faixas de terras
de climas secos, antes ocupadas pela água do mar, faixas estas propícias à proliferação
da vegetação em tela (Viadana, 2002). A perda de umidade foi a maior alteração
climática durante o período da ultima glaciação (Haffer & Prance, 2002). Assim, a
Floresta Atlântica, considerada como possível centro de origem do ancestral de P.
arrabidae, teve uma grande modificação, com fragmentação do centro de origem de
espécies e isolamento de uma parte da biota em refúgios, resultando na diferenciação ao
nível de novas espécies (Mayr, 1942, 1963).
Provavelmente, a espécie Cereus fernambucensis e P. arrabidae compartilham
um ancestral em comum advindo de algum momento da história evolutiva. Hoje, sabe-
se que resultado dessa diferenciação é a diversificação biológica dosgêneros Cereus e
Pilosocereus, ambos surgindo durante o Período Quaternário. O C. fernambucensis é
considerado endêmico do bioma Mata Atlântica, e possivelmente, (Arbo-Gallas, 2012).
Conservada em refúgios florestais, a espécie pode ter se dispersado até se estabelecer na
restinga e, posteriormente, sob as influências das condições de clima e relevo do
período quaternário (Araújo, 1992).

CONCLUSÃO

O estudo acerca do P. arrabidae foi de grande relevância, de modo que explanou


a sua biogeografia, características abióticas como temperatura, luminosidade e
peculiares, o que permitiu o avanço do estudo da espécie, e das formas de evitar sua
extinção, embora, de acordo com a IUCN (International Union for
ConservationofNature), a espécie mostra-se segura.
Assim, conclui-se que a preponderância da espécie estudada em áreas de
temperatura elevada e sob efeito de luz intensa é revelada a necessidade de considerar a
origem e a história do P. arrabidae para que possa haver conservação.

LITERATURA CITADA

Ab' Saber, A. N. 1992. A Serra do Japi, sua origem geomorfológica e a teoria dos
refúgios. In: Morellato, L. P. C. (org.). História natural da Serra do Japi:
ecologia e preservação de uma área florestal no sudeste do Brasil. Ed.
UNICAMP- FAPESP, Campinas. 12-23 p.

Araújo, D. S. D. & Henriques, R. B. P. 1992. Vegetation types of sandy coastal plains


of tropical Brazil: a first approximation. In: Seeliger, U. (ed.). Coastal plant
communities of Latin America. Academic Press, San Diego, 337-347 p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Arbo-Gallas, D. & Verçoza, F. de C. 2012. A Família Cactaceae na Restinga de


Grumari, Rio de Janeiro. Revista Eletrônica de Biologia, 129-143 p.

Haffer, J. & Prance, G. T. 2002. Impulsos climáticos da evolução na Amazônia durante


o Cenozóico: sobre a teoria dos Refúgios da diferenciação biótica. Estudos
avançados, 16: 46.

Marcos Filho, J. 2005. Fisiologia de sementes de plantas cultivadas. Piracicaba:


FEALQ. 495 p.

Martin, L.; Suguio, K. Domingues, J.M.L. & Flexor, J.M. 1997. Geologia do
Quaternário costeiro do Litoral Norte do Rio de Janeiro e Espírito Santo. 1.ed.
Belo Horizonte. 112 p.

Martinelli, G.; Moraes, M. A. 2013. Livro vermelho da flora do Brasil. 1. ed. - Rio de
Janeiro: Andrea Jakobsson: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de
Janeiro. 749-818 p.

Mayr, E. 1963. Animal species and evolution. Cambridge: Harvard Univ. Press, 797 p.

Mayr, E.1942. Systematics and the origin of species from the viewpoint of a zoologist.
Nova York: Columbia Univ. Press, 334 p.

Suguio, K. & Tessler, M.G. 1984. Planícies de cordões litorâneos quaternários do


Brasil: origem e nomenclatura, pp. 15 - 25. In: L. D. Lacerda, D. S. D. Araújo,
R. Cerqueira & B. Turcq (eds.). In: Restingas: origem, estrutura, processos.
CEUFF, Niteroi, 477p.

Taylor N, ZappiD. 2004. Cacti of Eastern Brazil. Kew, Royal Botanic Gardens. 511 p.

Viadana, A.G. 2002. A teoria dos refúgios florestais aplicada ao estado de São Paulo.
Edição do autor. Rio Claro. 71 p.

Zappi, D. 1994. Pilosocereus (Cactaceae): The genus in Brazil. Kew: Royal Botanical
Gardens, 1-160 p.

Zappi, D., Taylor, N., Machado, M. 2012. Cactaceae. In: Lista de Espécies da Flora do
Brasil. Rio de Janeiro, Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível: http://
floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/FB000070.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MÉTODOS PARA SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Cassia


ferruginea

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1, Thayanne Rangel


FERREIRA2, Lúcio de Oliveira ARANTES3 & Sara Dousseau ARANTES3
1
Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita - Incaper
2
Graduanda em Ciências Biológicas da Instituição Federal do Espiríto Santo - Campus Santa Teresa
3
Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
*basiliocerri@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Cassia ferruginea pertencente à família Fabaceae, ocorre do nordeste ao sul do


Brasil. É muito utilizada em projetos de ornamentação urbana, além disso, sua madeira
é muito utilizada em indústrias moveleiras? (Lorenzi, 2014). Sementes de espécies do
gênero Cassia tem alta taxa de dormência tegumentar, impedindo a entrada de água,
ocasionado a não propulsão radicular, dormência tegumentar é uma característica muito
comum em espécies da família Fabaceae (Martins et al., 2012).
A dormência em sementes nativas é um grande problema para os produtores de
mudas, pois gera um atraso na produção de mudas e desuniformidade na emergência.
(Popinigis, 1985).
O processo da germinação inicia com a retomada do crescimento pelo embrião
das sementes, desenvolvendo-se até o ponto em que forma uma nova planta com plenas
condições de nutrir-se por si só, tornando-se independente (Ferreira & Borghetti, 2004).
Com isso o presente trabalho tem como objetivo estudar métodos para a superação da
dormência de C. ferruginea.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fisiologia vegetal, do Instituto


Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Linhares, ES,
no mês de fevereiro de 2017. Foram utilizadas sementes coletadas de nove árvores em
uma propriedade particular em Linhares, após a coleta das sementes, estas foram
homogeneizadas e tratadas com hipoclorito de sódio por 15 minutos, em seguida foram
lavadas em água corrente. Após a desinfestação as sementes foram escarificadas tanto
quimicamente quanto fisicamente. A escarificação ácida foi realizada com imersão em
acido sulfúrico 98% PA por 5, 10,15 e 20 minutos. E a escarificação mecânica foi
realizada manualmente utilizando lixa nº 150 para remoção do tegumento
no lado oposto ao hilo. Após a realização de todos os tratamentos as sementes foram
semeadas em caixas de areia com 50 sementes cada. As caixas foram mantidas em
viveiro que pertence ao laboratório. As avaliações foram realizadas diariamente,
obtendo-se o IVE (Índice de Velocidade de Emergência), calculado segundo Maguire
(1962), pelo período de 15 dias e ao final do experimento obteve-se a porcentagem de
germinação e primeira contagem. Os dados foram submetidos à análise de variância e as
médias comparadas pelo teste Tukey (p<0,05).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes escarificadas mecanicamente tiveram maior germinação na


primeira contagem que foi realizada no quinto dia após a montagem do ensaio, seguido
do tratamento H₂SO₄ por 20 minutos, os tratamentos H₂SO₄ por 5,10 e 15 minutos não
apresentaram diferenças estatísticas (Tabela 1). Ribeiro et al. (2011), ao estudarem
sementes de Adenanthera pavonina , concluiram que as sementes escarificadas com lixa
apresentam maior número de sementes germinadas na primeira contagem. Para a
variável porcentagem de germinação os tratamentos H₂SO₄ por 20 minutos e
escarificação mecânica foram os que apresentaram mais sementes germinadas ao fim do
experimento, seguido dos tratamentos H₂SO₄ por 10 e 15 minutos que não diferiram-se
estatisticamente entre si.A porcentagem de germinação na escarificação ácida por 5
minutos foi de 65,5%, porém esse valor é baixo quando comparado a escarificação
ácida por 20 minutos e escarificação mecânica (98,5 e 97,5%). De acorodo com o
trabalho realizado por Escobar et al., (2010), as sementes de Acacia caven escarificadas
com lixa tiveram melhor desempenho em porcentagem de germinação, enquanto,
Araújo et al., (2012) obteve em seu estudo com A. pavonina maior porcentagem de
germinação com o tratamento H₂SO₄ por 20 minutos. Para o IVE os tratamentos H₂SO₄
por 20 minutos e lixa apresentaram maior desempenho em vista dos outro, H₂SO₄ por
5,10 e 15 minutos não se diferenciaram estaticamente.

Tabela 1. Primeira contagem, porcentagem de germinação e Índice de Velocidade de


emergência (IVE) de sementes de C. ferrugínea submetidas a tratamentos de superação
de dormência.
Tratamento 1ª contagem Germinação % IVE
Controle 0d 11,5 d 0,61 c
H₂SO₄ 5 min 7,25 c 65,5 c 11,93 b
H₂SO₄ 10 min 7,25 c 75 b 12,88 b
H₂SO₄ 15 min 9,5 c 83 b 15,01 b
H₂SO₄ 20 min 14,25 b 98,5 a 22,73 a
Escarificação mecânica 19,75 a 97,5 a 25,19 a
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05).

CONCLUSÃO

Tendo em vista os resultados obtidos, sementes de C. ferrugínea apresentam uma


forte dormência tegumentar, onde os tratamentos de escarificação ácida com H₂SO₄ por
20 minutos e escarificação mecânica foram os que proporcionaram maior porcentagem
de germinação e índice de Velocidade de emergência das sementes.

LITERATURA CITADA

Araújo Neto, A., Medeiros, J. G. F., Silva, B. B., Leite, R. P., Araújo, P. C., & Oliveira,
J. J. F. 2012. Ácido sulfúrico na superação da dormência de sementes de
Adenanthera pavonina L. Scientia Plena, 8(4).

Escobar, T. A., Pedroso, V. M., Bonow, R. N., & Schwengber, E. B. 2010. Superação
de dormência e temperaturas para germinação de sementes de Acacia caven
(Mol.) Mol.(ESPINILHO). Revista Brasileira de Sementes, 32(2):124-130.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ferreira, A.G. BORGHETTI, F. 2004. Germinação: do básico ao aplicado. Porto


Alegre: Artmed, 323p.
Lorenzi, H. 2014. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas
arbóreas nativas do Brasil. Instituto Plantarum, Nova Odessa, vol. 1, 6ªed. 384 p.

Maguire, J. D. 1962. Speed of germination-aid in selection and evaluation for seedling


emergence and vigour. Crop Science, Madson, v. 2, n. 1, p. 176-177, Jan./Feb.

Martins, C. C., Machado, C. G., Martinelli-Seneme, A., & Zucareli, C. 2012. Método de
colheita e superação de dormência na qualidade fisiológica de sementes de
Cassia ferruginea. Semina: Ciências Agrárias, 491-498.

Popinigis, F. 1985. Fisiologia da Semente. Brasília, Ministério da


Agricultura/AGRIPLAN. 209p.

Ribeiro, V. V., Braz, M. D. S. S., & de Brito, N. M. 2011. Tratamentos para superar a
dormência de sementes de tento. Biotemas, 22(4):25-32.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

SUPERAÇÃO DE DORMÊNCIA EM SEMENTES DE Cassia grandis L.


(FABACEAE)

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1, Lúcio de Oliveira


ARANTES2& Sara DOUSSEAU Arantes2
1
Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper
2
Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, Linhares-ES,
Brasil
*basiliocerri@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Cassia grandis (Fabaceae) pode atingir até 30 metros de altura, dentro do gênero
Cassiaé a espécie que atinge o maior porte. C. grandisocorre em matas secundárias e
florestas primárias (Bezerraet al., 2012) . Tem uma grande importância econômica e
ecológica, pois sua madeira, sementes, flores e frutos são utilizados na indústria além de
atrair muitos polinizadores com suas chamativas flores rosas (Carvalho, 2006).
Dormência tegumentar é comum na maioria das espécies da família
Fabaceae,este fatorprotege as sementes de predação e ficam viáveis por um longo
período de tempo(Bezerraet al., 2012). Para Melo&Rodolfo Júnior (2006) dormência
tegumentar é uma paralização temporária do crescimento vegetativo visível.
Metodologiasadequadas para análise de sementes florestais tem papel
fundamental na pesquisa científica, pois o conhecimento dos processos envolvidos na
germinação de espécies nativas é de grande valor para a conservação de espécies
ameaçadas e propagação dessas ajudando também as pesquisas relacionadas ao
reflorestamento (Alves et al., 2004) Por isso o presente trabalho tem como objetivo
realizar tratamentos pré-germinativos para superar a dormência de C. grandis.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fisiologia vegetal, do Instituto


Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Linhares, ES,
no mês de janeiro de 2017. Foram utilizadas sementes coletadas de três arvores em uma
propriedade particular em Linhares, após a coleta as sementes foram homogeneizadas e
tratadas com hipoclorito de sódio por 15 minutos, em seguida foram lavadas em água
corrente. Após a desinfestação as sementes foram escarificadas tanto quimicamente
quanto fisicamente. A escarificação ácida foi realizada com imersão em acido sulfúrico
98% PA por 10,15, 20 e 25 minutos. E a escarificação mecânica foi realizada
manualmente utilizando lixa nº 150 para remoção do tegumentono lado oposto ao hilo.
Após a realização de todos os tratamentos as sementes foram semeadas em caixas de
areia,cada tratamento com 4 repetições de 50 sementes cada, sendo posteriormente
levadas para o viveiro. As avaliações foram realizadas diariamente, obtendo-se o IVE
(Índice de Velocidade de Emergência) pelo período de 30 dias e ao final do experimento
obteve-se a porcentagem de germinação e primeira contagem. Foi realizada a análise de
variância e as médias comparadas pelo teste Tukey (p<0,05).

62
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes que foram escarificadas quimicamente com H₂SO₄ por 25 minutos


foram as que apresentaram maioresnúmeros de sementes germinadas na primeira
contagem, (tabela 1) que foi realizada no decimo dia após a montagem do experimento,
seguidas pelas sementes que foram escarificadas mecanicamente, os tratamentos H₂SO₄
10,15 e 20 minutos não apresentaram diferença estatística entre si.Para as sementes
usadas como controle não houve germinação na primeira contagem.No trabalho
realizado por Melo& Rodolfo Júnior (2006) com C. grandis, a variável primeira
contagem no tratamento H₂SO₄ por 30 minutos foi o que apresentou maior número de
sementes germinadas.De acordo com Bezerra et al. (2012), o tratamento de
escarificação mecânica foi o que apresentou o maior IVE, porém no presente trabalho o
tratamento que mais se destacou nessa variável foi H₂SO₄ por 25 minutos, seguido
pelas sementes que foram lixadas, não houve diferença significativa para as sementes
escarificadas com H₂SO₄ por 10,15 e 20 minutos.Quanto a porcentagem de germinação
o resultado obtido na variável escarificação mecânica se iguala ao resultado encontrado
para C. grandispor Lopeset al. (1998). Neste estudo as sementes que foram
escarificadas mecanicamente tiveram maior porcentagem de germinação, seguidopor
H₂SO₄ por 25 minutos, não houve diferença entre os tempos 15 e 20 minutos de H₂SO₄,
por fim as sementes utilizadas como controle apresentaram baixa porcentagem de
germinação, confirmando a necessidade do uso de tratamentos pré-germinativos em C.
grandis.

Tabela 1.Primeira contagem, índice de Velocidade de emergência (IVE) e porcentagem


de germinação de sementes de C. grandissubmetidas a tratamentos de superação de
dormência.
Tratamento IVE PrimeiraContagem Germinação %
Controle 0,94 d 0d 7,6 e
Escarificação mecânica 20,04 b 17,98 b 97,8 a
H₂SO₄ 10 min 12,47 c 8,36 c 68,5 d
H₂SO₄ 15 min 14,01 c 8,87 c 72,04 c
H₂SO₄ 20 min 14,43 c 16,9 b 71 c
H₂SO₄ 25 min 24,16 a 20,32 a 93,6 b
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05)

CONCLUSÃO

H₂SO₄ por 25 e Escarificação mecânica foram os tratamentos que


desempenharam as melhores taxas de germinação e onde as sementes de C. grandis
germinaram com maior rapidez e vigor.

LITERATURA CITADA

Alves, A. U., DORNELAS, C. S. M., BRUNO, R. D. L. A., ANDRADE, L. A. D., &


ALVES, E. U. 2004. Superação da dormência em sementes de
Bauhiniadivaricata L. Acta BotanicaBrasilica, 18(4):p 871-879.

Bezerra, F. T. C., DE ANDRADE, L. A., BEZERRA, M. A. F., PEREIRA, W. E., &


RICARDO, J. 2012. Biometria de frutos e sementes e tratamentos pré-

63
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

germinativos em Cassia grandis L. f.(Fabaceae)


Biometryoffruitsandseedsandpre-germinationtreatments in Cassia grandis L.
f.(Fabaceae). Semina: Ciências Agrárias, Londrina, 33(suplemento 1), p 2863-
2876.

Carvalho, P. E. R. 2006. Cássia-Rósea, 8p.

Lopes, J. C.; CAPUCHO, M. T.; KROHLING, B.; ZANOTTI, P. 1998. Germinação de


sementes de espécies florestais de Caesalpineaferrea Mart. exTul. Var.
leiostachyaBenth., Cassia grandis L. E Samaneasaman Merrill, após tratamento
para superar a dormência. Revista Brasileira de Sementes, 20(1):p 80-86.

Melo, R. R., & RODOLFO JÚNIOR, F. 2006. Superação de dormência em sementes e


desenvolvimento inicial de canafístula (Cassia grandis LF). Revista Científica
Eletrônica de Engenharia Florestal, 7p.

64
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

TRATAMENTOS PRÉ-GERMINATIVOS PARA SUPERAÇÃO DA


DORMÊNCIA DE SEMENTES DE Ormosia arborea (Vell.) Harms

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1, Thayanne Rangel


FERREIRA2, Lúcio De Oliveira ARANTES1,Sara DOUSSEAU Arantes1
1
Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper,
2
Graduação em Ciências Biológicas, Instituto Federal do Espiríto Santo - Campus Santa Teresa – ES.
*basiliocerri@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Ormosia arborea é uma árvore nativa do Brasil, presenta altura entre 15 a 20 m,


e copa entre 6 a 8 m, tronco com tamanho entre 50 e 70 cm (Lorenzi, 2014).
Encontrada, principalmente, na floresta pluvial atlântica e latifoliada
semidecídua(Marqueset al.,2004).Ecologicamente O. arborea é uma planta semidecídua
que tem uma grande e descontínua dispersão, porém com pouca frequência, mas produz
um número grande de sementes viáveis anualmente (Lorenzi, 2014).
Para que a germinação ocorra é preciso que as sementes sejam expostas a
condições ideais, como temperatura adequada, água e oxigênio (Baskin&Baskin,2014).
No entanto a maioria das sementes de espécies nativas apresenta dormência tegumentar,
essa dormência pode ser decorrente de uma função mecânica da espécie contra
predadores(Teixeira el al.,2011). Desse modo o presente trabalho teve como objetivo
investigar métodos para superar a dormência tegumentar de O. arborea.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Fisiologia vegetal, do Instituto


Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (INCAPER), Linhares, ES,
no mês de janeiro de 2017. Foram utilizadas sementes coletadas de cinco árvores
espaçadas uma da outra em aproximadamente 7 m, em uma propriedade particular na
Bahia, após a coleta as sementes foram homogeneizadas e tratadas com hipoclorito de
sódio por 15 minutos, em seguida foram lavadas em água corrente. Após a
desinfestação as sementes foram escarificadas, sendo os tratamentos: Imersão em acido
sulfúrico 98% PA por 5, 10,15 e 20 minutos, sementes foram Escarificadas
mecanicamente com lixa nº 150 no lado oposto ao hilo e sementes sem nem um
tratamento foram utilizadas como controle. Após a realização de todos os tratamentos as
sementes foram semeadas em caixas de areia com 50 sementes cada. As caixas foram
mantidas em viveiro que pertence ao laboratório. As avaliações foram realizadas
diariamente, obtendo-se o IVE (Índice de Velocidade de Emergencia) pelo período de
30 dias e ao final do experimento obteve-se a porcentagem de germinação e primeira
contagem. Foi realizada a análise de variância e as médias comparadas pelo teste Tukey
(p<0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os tratamentos H2SO4 por 20 minutos e lixa tiveram o maior número de


sementes germinadas parta variável primeira contagem (Tabela 1), foi realizada no

65
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

décimo sexto dia após a semeadura, não houve diferença significativa entre
ostratamentos H2SO4 por 5, 10 e 15 minutos.
Para a variável IVE não houve diferença estatística entre os tratamentos H2SO4
por 20 minutos e lixa que apresentaram as maiores médias. Entre os tratamentos H2SO4
por 5, 10 e 15 minutos não houve diferença significativa estatisticamente. Teixeira et
al., (2011) realizou estudo de superação de dormência com O. arborea onde os
tratamentos com H2SO4 e lixa desempenharam o melhor Índice de velocidade de
germinação, mesmo resultados obtidos no trabalho.

Tabela1: Primeira contagem, Índice de Velocidade de emergência (IVE) e porcentagem


de germinação de sementes de O. arborea submetidas a tratamentos de superação de
dormência.
Tratamento 1ª contagem IVE Germinação %
CONTROLE 0c 0c 0d
Escarificação mecânica 20,18 a 21,15 a 98,1 a
H2SO4 5 MIN 13,45 b 14,99 b 73,3 c
H2SO4 10 MIN 11,02 b 15,87 b 84 b
H2SO4 15 MIN 12,5 b 16,11 b 86 b
H2SO4 20 MIN 21,01 a 23,58 a 99,3 a
Médias seguidas pela mesma letra, na coluna, não diferem entre si pelo teste de Tukey (p<0,05)

De acordo com trabalho de Curiel & Moraes (2011), o tratamento que melhor
desempenhou aporcentagem de germinação de O. arborea foi H2SO4 por 10 minutos,
já no presente trabalho H2SO4 por 20 minutos e lixa foram os que apresentaram a maior
porcentagem de germinação, essa diferença entre o resultado encontrado para o citado
pode se dar por dois fatores, a qualidade do H2SO4 usado ou pela qualidade das
sementes utilizadas, seguidos por H2SO4 10 e 15 minutos que não se diferenciaram
estatisticamente, as sementes que foram usadas como controle não apresentaram
germinação.

CONCLUSÃO

Tanto a escarificação com H2SO4 por 20 minutos a escarificação mecânica


mostraram eficiência na superação da dormência de sementes de O. arborea.Pela
facilidade se recomenda a escarificação mecânica, devido à dificuldade encontrada para
a aquisição do H2SO4, que é um produto de uso controlado.

LITERATURA CITADA

Baskin CC, Baskin JM. 2014. Seeds: ecology, biogeography, and evolution of
dormancy and germination, 2nd edn. San Diego:Elsevier/Academic Press.

Curiel, A. C., & de Moraes, C. P. (2011). Germinação de Ormosiaarborea (Vell.)


Harms submetida a diferentes períodos de exposição e concentração de GA3 pós
escarificação mecânica. Scientia Plena, 7(12).

Lorenzi, H. 2014. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas


arbóreas nativas do Brasil. Instituto Plantarum, Nova Odessa, vol. 1, 6ªed. 384 p.

66
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Marques, M. A.; Rodrigues, T. de J. D.; Paula, R. C. 2004. Germinação de sementes de


Ormosiaarborea (Vell.) Harms submetidas a diferentes tratamentos pré-
germinativos. Científica, Jaboticabal, 32(2): 141-146.

Teixeira FW, Fagan EB, Casaroli D, Canedo SC e Barbosa KA. 2011. Avaliação de
métodos para superação de dormência na germinação de Ormosia arborea
(Vell.) Harms. Biotemas, 24(4): 25-29.

67
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DIVERSIDADE E IMPORTÂNCIA DO BANCO ATIVO DE GERMOPLASMA


(BAG) DO GÊNERO Piper (PIPERACEAE) NO INCAPER

Basílio CERRI NETO1*, Daniele Freisleben LAVANHOLE1, Lúcio de Oliveira


ARANTES2, Sara Dousseau ARANTES2, Mikaelle Franco dos SANTOS1 & Jeane
CRASQUE1
1
Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita - Incaper
2
Pesquisadores do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural
*basiliocerri@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Segundo Melo et al. (2014) cerca de 3600 espécies ocorrem na família


Piperaceae, que se divide em 5 gêneros: Piper, Peperomia, Manekia, Zippelia,
Verhuellia (Yuncker, 1972). Atualmente no Brasil são encontrados 4 gêneros:
Manekia, Ottonia, Peperomia e Piper, em um número de 463 espécies, sendo Piper o
gênero com maior numero de espécies 291 (Guimarães et al., 2017).
Devido ao potencial econômico de espécies do gênero Piper é muito importante
se obter estratégias para a montagem de um banco ativo de germoplasma (BAG), para
que haja a conservação da espécie e de suas características genéticas (Siviero, 2015).
O banco ativo de germoplasma (BAG) tem como principais objetivos preservar a
biodiversidade e manter a variabilidade genética para futuros trabalhos de
melhoramento. Por isso o presente trabalho tem como objetivo montar um banco ativo
de germoplasma de espécies do gênero Piper, visando à conservação e futuros trabalhos
de melhoramento genético.

MATERIAL E MÉTODOS

O BAG se encontra na fazenda experimental do Instituto Capixaba de Pesquisa,


Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) de Linhares, LAT -19.417665S, LON: -
40.080557W, o município está localizado a uma latitude sul de 19º23'48'' e uma
longitude oeste de Greenwich de 40º03'42''W, numa região conhecida como "Baixo Rio
Doce". O clima pela classificação de Koppen-Geiger é Af, sendo um clima do tipo
tropical quente úmido com chuvas no verão e inverno seco. O índice pluviométrico de
1.193 mm/ano e a temperatura média é de 23,4 ºC, sendo a máxima de 32ºC e a mínima
de 19,6ºC (Espírito Santo, 1999).
O BAG começou a ser implantado em 2014, com sementes de três espécies
doadas pelo pesquisador Amauri Siviero da Embrapa Acre, mais três espécies foram
obtidas na Reserva Biológica de Sooretama e na reserva da Vale entre 2015 e 2016.
Ramos vegetativos foram coletados e posteriormente propagados . No momento, o BAG
contem sete espécies de Piper: Piper turberculatum Jacq, Piper hispidum Sw, Piper
marginatum Jacq, Piper molicomo Kunth, Piper arboreum Aubl, Piper aduncun L e
Piper umbellatum L. As espécies foram identificadas com o auxílio da pesquisadora
Elsie Franklin Guimarães do Jardim Botânico - Rio de Janeiro, do herbário, além da
literatura especifica.
No período de produção das espécies, frutos maduros foram colhidos todos os
dias. Após a colheita esses frutos foram beneficiados com fricção em peneira de malha
fina sob jato de água no Laboratório de fisiologia vegetal e pós-colheita (LFVPC) do
Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).

68
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Posteriormente ao beneficiamento, as sementes foram secadas sobre uma bancada no


período de três dias, em seguida foram guardadas em potes de vidro na geladeira a
10ºC. Essas sementes que foram armazenadas são utilizadas para diversos estudos,
como processo de germinação, citogenética e também para propagação e renovação do
BAG.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As espécies e seu respectivo número de indivíduos estão listados na Tabela 1,


onde Piper mollicomum tem o maior numero de indivíduos. Todos os dias o BAG é
visitado para realizar coleta de frutos, capina e controle de pragas, segundo Siviero
(2015), a preservação do BAG evita a erosão genética e disponibiliza material para
estudos em varias áreas, principalmente melhoramento genético, fisiologia e ecologia.
Um dos maiores bancos ativos de germoplasma de Piper pertence à Embrapa
Acre, onde várias espécies são mantidas para fins de estudos de melhoramento genético
e adaptação (Nunes, 2007).
Algumas espécies do gênero Piper, nativas da Amazônia e Mata atlântica, vem
mostrando resistência à fusariose, sendo elas: Piper aduncum, P. colubrinum, P.
tuberculatum, P. hispidinervium, e P. hispidum. Estas espécies podem ser utilizadas no
processo de se obter resistência a fusariose para Piper nigrum por meio do
melhoramento genético (Lemos et al., 2011).

Tabela 1. Lista de espécies de Piper mantidas no BAG do Incaper.

Espécies Número de Indivíduos


Piper tuberculatum 126
Piper hispidum 48
Piper marginatum 33
Piper mollicomum 971
Piper arboreum 63
Piper aduncun 63
Piper umbellatum 5

CONCLUSÃO

Por fim a implantação e manutenção de um banco ativo de germoplasma tem


grande valor genético, econômico e ecológico.

LITERATURA CITADA

Espírito Santo, EMCAPA/NEPUT. Zonas Naturais do Espirito Santo: uma


regionalização do Estado, das microrregiões e dos municípios. Vitória:
SEPLAN, 1999. 95 p.

Guimarães, E. F.; Carvalho-Silva, M.; Monteiro, D.; Medeiros, E. S.; Queiroz, G. A.


Piperaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de
Janeiro. Disponível em:
http://floradobrasil.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB12735 (03/03/2017).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Lemos, O. F. de; Poltronieri, M. C.; Rodrigues, S. de M.; Menezes, I. C. de M.;


Mondin, M. 2011. Conservação e melhoramento genético da pimenteira-do-
reino (Piper nigrum L.) associado às técnicas de biotecnologia. Belém, PA:
Embrapa Amazônia Oriental, 45 p. (Embrapa Amazônia Oriental. Documentos,
375).

Melo, A.; Guimarães, E. F.; Alves, M. 2014. Piperaceae do Parque Nacional do Viruá,
Caracarí, Roraima, Brasil. Rodriguésia, v 65(2): p 455-470.

Nunes, J. D., Torres, G. A., Davide, L. C.; Salgado, C. C. 2007. Citogenética de Piper
hispidinervum e Piper aduncum. Pesquisa Agropecuária Brasileira, 42(7): p
1049-1052.

Siviero, A.; Dousseau, S.; Fazolin, M.; Bergo, C. L. 2015. A contribuição de espécies
do gênero Piper para a agroecologia no Acre. In: Rosana Cavalcante dos
Santos; Amauri Siviero. (Org.). Agroecologia no Acre. 1ed. Rio Branco: IFAC,
p. 303-344.

Yuncker, T. G. 1972. The piperaceae of Brasil I – Piper: Group I, II, III, IV.Hoehnea v
2, p 19-366.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DISPERSÃO DE Vriesea neoglutinosa MEZ (BROMELIACEAE) EM RESTINGA


E MUSSUNUNGA

Basílio CERRI NETO1*, Mikaelle Franco dos SANTOS1, Edlaine Lacerda ARAUJO2,
Joyce Ribeiro NUNES2 & Sabrina Soares SIMON3
1
Laboratório de Fisiologia Vegetal e Pós-Colheita-Incaper
2
Laboratorio de sementes- Incaper
3
Professora no curso de Ciências Biológicas da Faculdade Pitágoras de Linhares
*basiliocerri@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Segundo Oliveira, (2010) Vriesea neoglutinosa, apresenta forte tendência a se


estabelecer no solo em moitas adensadas. Suas características têm fortes ligações com
suas adaptações reprodutivas, com presença de cápsulas fusiformes, 3 cm de
comprimento e com sementes aladas e pequenas.
A espécie é encontrada na Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo,
Paraná e Santa Catarina, na restinga, um ambiente característico do bioma da Mata
Atlântica e esta localizada nas áreas de baixadas litorâneas, sendo constituídas de dunas
e cordões arenosos formados no Quaternário (Teixeira et al.,1986).
Entretanto existe a mussununga, uma formação vegetal presente no bioma Mata
Atlântica, encontrada sobre as matas de tabuleiros no norte do Espírito Santo e sul da
Bahia. Esta vegetação ocorre sobre manchas de solos de areia branca em meio a
florestas e possui fisionomias similares às das restingas (Lacerda, 2012).
O ecossistema Restinga por sua vez compreende o conjunto de comunidades
vegetais florística e fitofisionomicamente variadas, situadas em terrenos
predominantemente arenosos formados, principalmente, durante as regressões e
transgressões no nível do mar (Araujo & Henriques, 1984).
Com essas informações podemos suportar as hipóteses de que a espécie V.
neoglutinosa prosperou-se inicialmente na mussununga, e depois se estabeleceu na
restinga usando campos nativos como Stepping Stones, ilhas de habitat que permitem
passagem para outros locais. O presente trabalho abrange a área de conhecimento de
biogeografia e ecologia, e teve por objetivo investigar a dispersão da espécie V.
neoglutinosa.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para realizar este trabalho foi feita uma visita em vários pontos da restinga na
região de Regência no município de Linhares, Espírito Santo, no sudeste do Brasil.
Após a visita em campo a espécie V. neoglutinosa foi escolhida como modelo de estudo
de dispersão, os dados da distribuição geográfica (latitude e longitude) foram obtidos
por meio de revisão bibliográfica, artigos, dissertações e teses por meio de busca com as
seguintes palavras chaves no google acadêmico: “dispersão de V. neoglutinosa”,
“biogeografia de V. neoglutinosa”, “levantamento florístico em restinga e
mussununga”. Posteriormente foi feito o mapa para marcar as áreas de ocorrência e de
possíveis locais de dispersão da espécie com o software DIVA-GIS.

71
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A semelhança florística das mussunungas com as restingas pode estar


diretamente ligada ao processo de formação do solo, decorrentes de sua textura arenosa,
que impõe restrições hídricas e nutricionais, como a baixa capacidade de retenção de
água do solo associada às altas temperaturas, pobreza extrema de nutrientes e a acidez
do solo (Saporetti Junior, 2009). V. neoglutinosa, assim como outras espécies das
restingas e mussunungas têm um longo ciclo de vida e estruturas que dificultam a perda
de água.
Conforme o mapa de distribuição geográfica da espécie (Figura 1) há apenas um
registro de V. neoglutinosa em mussununga, dado em Caravelas no sul da Bahia
(Sarcinelli, 2010), sugerindo preferência por ambientes com maior incidência de luz e
características de solo semelhante, reforçando a hipótese da dispersão, onde há fixação
de indivíduos de uma espécie num local diferente. E possível que V. neoglutinosa tenha
usado os campos nativos como Stepping Stones. A restinga tem origem Quaternária, ou
seja, é recente em relação à floresta atlântica e às mussunungas que tem origem
Terciaria. As mata de tabuleiros estão justapostos à restinga ao longo da costa do
Espirito Santo, principalmente a partir de Vitória para o norte, é esperado que o
ecossistema sobre o Terciário fosse o principal contribuinte para a composição florística
da restinga (Pereira, 2007).

Figura 1. Distribuição geográfica de Vriesea neoglutinosa Mez.

72
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONCLUSÃO

Mesmo com a dificuldade imposta pelo vento a semente pode ter usado o
Stepping Stones para chegar à restinga e se estabeleceu, no litoral do ES e RJ.
Entretanto, a falta de dados florísticos nas mussunungas dificultam o entendimento
detalhado desse processo.

LITERATURA CITADA

Araújo, D.S.D. & Henriques, R.P.B. 1984. Análise florística das restingas do Estado do
Rio de Janeiro. Restingas, Origem, Estrutura e Processos. Niterói: Centro
Editorial da Universidade Federal Fluminense. p. 327-342.

Lacerda, V.D. 2012. Estrutura e composição da vegetação de uma mussununga


herbáceo-arbustiva no sul da Bahia, Brasil. Dissertação (Mestrado) -
Universidade Estadual de Santa Cruz, Ilhéus, BA: UESC. 97 p.

Oliveira, W. F. 2010. Estrutura da taxocenose de Bromeliaceae em duas áreas de


restinga da Ilha da Marambaia, Baía de Sepetiba, RJ. Dissertação (mestrado em
Ciências Ambientais e Florestais) Universidade federal rural do rio de janeiro
instituto de florestas. 98 p.

Pereira, O. J. Diversidade e conservação das restingas do Espirito Santo. In:


MENEZES, L. F. T, PIRES, F.R. e PEREIRA. O. J. 2007. Ecossistemas
costeiros do Espírito Santo: conservação e restauração. Vitória: EDUFES, p. 33-
44.

Saporetti Junior, A.W. 2009. Vegetação e solos de Muçununga em Caravelas, Bahia.


Tese de Doutorado – Universidade Federal de Viçosa. Viçosa, MG: UFV. 127 p.

Sarcinelli, T.S. 2010. Muçunungas: enclaves de vegetação arenícola na floresta atlântica


de tabuleiros. Tese (doutorado em solo e nutrição de plantas). Viçosa,
Universidade Federal de Viçosa.

Teixeira, M. B.; Coura Neto, A. B.; Pastore, U.; Rangel filho, A. L. R. 1986. As regiões
fitoecológicas, sua natureza e seus recursos econômicos – Estudo fitogeográfico.
In: Levantamento de recursos naturais. v.33. Porto Alegre: IBGE.

73
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

FITO SOCIOLOGIA DE UM POVOAMENTO ARTIFICIAL DE ESPÉCIES


ARBÓREAS DE MATA CILIAR NO RIO SANTA MARIA DO DOCE

Helio Pena de Faria JUNIOR1*, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1, Gleides


Pulcheira PAIXÃO1, Marcelo BOZETI1, Polyana Pulcheira PAIXÃO2
1
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa,
2
Climev
*email: hpena@bol.com.br

INTRODUÇÃO

O processo histórico de ocupação das terras capixabas foi marcado pelo


desmatamento das florestas existentes em seu território, o qual visava abrir terras para
atender às necessidades da expansão urbana e agropecuária. No passado recente, a
exploração madeireira, com o declínio do café, tornou-se alternativa econômica segura,
passando a ter destaque na economia estadual, especialmente na região norte do Estado
(Lopes, 2002), tornando-se o Espírito Santo grande fornecedor de madeira para os
estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
As matas ciliares possuem grandes funções ecológicas, hidrológica e social
numa bacia hidrográfica. Apesar de ser tão importante, sua destruição é cada vez mais
eminente quando as ações humanas, como desmatamento, mau uso do solo, queimadas
são efetuadas de forma indiscriminada sem nenhum critério (Garcia e Moraes, 1999).
Hoje mais do que nunca a conservação dos rios e das matas são necessários para um
perfeito equilíbrio do homem com o meio ambiente, porque as matas ciliares atuam na
regularização dos fluxos de água e, através do sistema radicular e da copa do conjunto
das plantas, constituem a proteção mais eficiente dos solos que revestem.
Oliveira Franco (2005) cita que as matas ciliares apresentam inquestionável
importância em relação aos mais diversos fatores ambientais, devido a suas
características peculiares, sempre associadas aos cursos de água e por situarem-se, de
maneira geral, em regiões ecologicamente muito sensíveis e importantes da paisagem.
Do ponto de vista socioambiental, as matas ciliares oferecem outros benefícios,
permitindo a sua utilização que seja na alimentação humana através de frutos e
palmitos, ou mesmo pelo uso das inúmeras espécies de plantas medicinais encontradas
nesse ecossistema. Permite ainda o desenvolvimento de atividades produtivas, como a
apicultura, alem de servir de refúgio natural de animais e pássaros que dispersam
sementes e que fazem o controle biológico de pragas e doenças. Servem ainda como
bancos de sementes para viveiristas que produzem mudas de espécies nativas para
comercialização, pois nos últimos anos, segundo Márquez (2005) a procura por mudas
tem aumentado devido à necessidade crescente de revegetar áreas que foram
desmatadas, pois nesses locais a composição florística em condições naturais é bastante
diversificada.
O objetivo deste trabalho foi identificar e catalogar as espécies arbóreas
encontradas no povoamento florestal artificial localizado a margem do Rio Santa Maria
do Doce, em São João de Petrópolis na fazenda do IFES, Santa Teresa, ES.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado no ano de 2015 em um povoamento florestal


artificial de 0,8 ha localizado a margem esquerda do Rio Santa Maria do Doce, em São

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

João de Petrópolis na fazenda do IFES, Campus Santa Teresa, ES, localizado na meso
região Central Espírito-Santense, coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W,
com altitude de 155 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com
estação seca no inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com
precipitação anual média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com
máxima de 32,8 °C e mínima de 10,6 °C (INCAPER, 2011).
O povoamento florestal foi implantado há aproximadamente 10 anos pelos
alunos do curso de técnico em agropecuária na disciplina de silvicultura, dentro do
projeto Mata ciliar, algumas plantas foram sendo introduzidas posteriormente devido a
morte de algumas árvores, pois a área está sujeita a inundações periódicas no período
das chuvas que se concentra nos meses de novembro a março. Trabalhos de condução
do povoamento como a desrama tem sido efetuados ao longo dos anos pelos alunos do
curso técnico em agropecuária e pelos alunos do curso de agronomia na disciplina de
silvicultura.
O sistema de plantio foi efetuado com as árvores em linha, o que possibilitou o
caminhamento de linha em linha, facilitando a identificação das espécies lá encontradas,
marcadores com fitas coloridas foram fixadas às árvores para marcar aquelas já
identificadas. Todo o trabalho de marcação é feito manualmente e as espécies
identificadas são catalogadas para o arquivo da Instituição.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após o caminhamento por toda a área do povoamento foram identificadas um total de


92 árvores de várias espécies diferentes, sendo a maioria nativas da mata atlântica e uma
minoria de outras regiões. Das 92 árvores encontradas 66 são plantas nativas da mata
atlântica e adaptadas a região, sendo elas: Angico Vermelho, Carne de vaca, Ipê rosa
(figura 4), Ipê amarelo (figura 2), Jatobá mirim, Louro, Pau d’alho, Pau Brasil (figura
1), Pitanga, Pau ferro (figura 3), Sibipiruna, Cerejeira (figura 6), Unha de vaca, e 26
plantas foram trazidas de outras localidades, inclusive de outros países como o nim
indiano da índia, Flamboyant (figura 6) e Spatodia (figura 5) que são africanas, a
Amoreira da Ásia, Jambolão, Jenipapo e Acácia que são de outras regiões do Brasil e
que foram introduzidas pelo plantio de suas mudas, conforme tabela 1.

Tabela 1. Árvores catalogadas no povoamento florestal da fazenda do IFES.


Nome Vulgar Nome científico Família Nº de exemplares
Acacia mimosa Acacia podalyriifolia A. Fabaceae 6
Cunn ex G. Don.;
Angico vermelho Parapiptadenia rigida Leguminosae 10
Carne de vaca Pterogyne nitens Leguminosae 9
Cerejeira Amburana cearensis Leguminosae 4
Ipê rosa Tabebuia róseo-alba Bignoniaceae 5
Ipê amarelo Tabebuia alba Bignoniaceae 6
Jatobá mirim Hymenaea coubaril Leguminosae 3
Jambolão Syzygium jambolanum Myrtaceae 2
Amoreira Morus nigra Moraceae 5
jenipapo Genipa americana Rubiaceae 5
Louro Cordia trichotoma Boraginaceae 3
Flamboyant Delonix regia Fabaceae 1
Nim indiano Azadirachta a.juss Meliaceae 1
Pau d’alho Gallesia integrifólia Phytolaccaceae 3

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Pau ferro Caesalpinia ferrea Leguminosae 6


Pau Brasil Caesalpinia echinata Leguminosae 5
Pitanga Eugenia uniflora Myrtaceae 6
Sibipiruna Caesalpinia peltophoroide Leguminosae 5
Spatodia Spathodea campanulata Bignoniaceae 4
Unha de vaca Bauhinia forficata Leguminosae 3
Fonte: Dados do autor

Figura 1. Pau Brasil. Figura 2. Ipê amarelo. Figura 3. Pau ferro.

Figura 4. Ipê rosa Figura 5. Spatódea com vista parcial da área do


povoamento florestal.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 6. Flamboyant e Cerejeira com vista parcial da área do povoamento florestal.

As espécies encontradas no povoamento apresentam-se como de grande


importância para a instituição e alunos que desenvolvem projetos desta natureza, que
pode atuar como fator de preservação e como instrumento didático para esta e outras
gerações. Leite e Coradin (2011) citam que diversos recursos vegetais nativos são
considerados de grande importância atual e potencial e podem ser utilizados como
fontes de renda alternativa.
Com a possibilidade de ampliação das opções de uso das nossas espécies
nativas, esta iniciativa favorecerá a abertura de novas oportunidades de aprendizado e
com isso o desenvolvimento de novos projetos, tanto no que tange à pesquisa e
desenvolvimento quanto ao conhecimento das espécies com potencial de preservação. A
ampliação e o avanço de pesquisas com as espécies citadas neste projeto, conforme cita
Rodriguez-Amaya et al. (2008) sobre espécies florestais, podem ser alvo de estudos do
valor nutricional das espécies de valor alimentício, cujos benefícios à saúde despertam,
cada vez mais, o interesse da comunidade científica.

CONCLUSÃO

A área estudada apresenta-se como um povoamento que possui grande importância para
a instituição, pois além de apresentar-se como uma gleba de função ecológica e de
preservação, pode fornecer sementes para produção de mudas e material didático para
alunos do IFES e demais escolas vizinhas.

LITERATURA CITADA

Garcia, A & Moraes, M. 1999. Manual de operações técnicas revegetação de matas


ciliares. Vitória: AEFES,

Incaper. 2011. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de


assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.

Leite, L.L. & Coradin, L. 2011. Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor
Econômico Atual ou Potencial. Ministério do Meio Ambiente – MMA, Brasília
– DF.

77
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Lopes, W.P. 2002. A importância e o valor das florestas na propriedade rural:


Associação dos engenheiros florestais do Espírito Santo, (Série Técnica, 2) 28p.

Marquez, F.P.R. 2005. Manual de colheita de sementes florestais. Rio de Janeiro.

Oliveira Franco, J. G. 2005. Direito Ambiental Matas-Ciliares. Curitiba: Juruá Editora.

Rodriguez-Amaya, D. B.; Kimura, M. & Amaya-Farfan, J. 2008. Fontes brasileiras de


carotenóides: tabela brasileira de composição de carotenóides em alimentos.
Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, Secretaria de Biodiversidade e
Florestas, 100p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VISITANTES FLORAIS DA MANGUEIRAS NO IFES CAMPUS SANTA


TERESA

Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Mariana Zandomênico MANGEIRO1, Mikaela


Bruna MATTEDI1, Gleides Pulcheira PAIXÃO1, Leidiane ZINGUER1 & Liz Santos
NASCIMENTOS1

1
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa
*mvspaixao@gmail.com

INTRODUÇÃO

A manga é uma planta originária da Ásia, que foi introduzida em quase todas as
regiões tropicais e subtropicais da África e da América, aportando no Brasil no começo
do século XVIII, trazida pelos colonos portugueses (Carvalho et al., 2004). A
mangueira se aclimatou de maneira admirável no Brasil, tanto que hoje encontramos
mais de 600 variedades, sua família compreende cerca de 79 gêneros, distribuídos pelo
mundo (Carvalho et al., 2004). Essa espécie apresenta inflorescências em panículas com
flores pequeninas, hermafroditas ou de sexo separado, dispostas em cachos, com cores
que variam do alvacento ao amarelo-esverdeado e apresentam seis pétalas lanceoladas,
um estame fértil e cinco rudimentares (Free, 1993).
Pouco conhecimento se tem sobre os agentes polinizadores na cultura da manga
(Mangifera indica L.) (Malerbo-Souza & Halak, 2009). Muitas ordens e espécies de
insetos foram observadas nas flores da mangueira por diferentes pesquisadores
(Carvalho et al., 2004; Kiill, 2008; Siqueira et al., 2008; Viana, 2008), sendo a
mangueira considerada uma planta generalista quanto à polinização, se for efetivamente
polinizada por diversas ordens de insetos.
A transferência de pólen pode ser através de fatores bióticos, ou seja, com
auxílio de seres vivos, ou abióticos, através de fatores ambientais, sendo que a
mangueira apresenta maior frutificação e menor taxa de aborto dos frutos quando há
polinização cruzada (Free, 1993).
A polinização entomófila faz-se com o concurso dos insetos e ocorre na maioria
das Angiospermas. Os insetos são atraídos pelos nectários que produzem o néctar, pelos
aromas os mais diversos, pela coloração viva das flores. Durante a visita as flores, os
insetos ao roçarem involuntariamente os estames, se cobrem de pólen e buscando outras
flores, tocam o estígma, deixando aí o pólen. Os grãos de pólen entomófilos são
grandes, providos de asperesas e poucos abundantes quando comparados aos pólen
anemófilos. A estrutura floral de algumas plantas parece ter sido desenhada para o
melhor aproveitamento da visita dos insetos. Dentre os insetos polinizadores, destaca-se
pela sua frequência, a abelha, que poliniza especialmente as plantas frutíferas, como a
laranjeira, o melão, abacateiro e outras plantas de valor econômico, como a (Medicago
sativa) alfafa, cafeeiro, (Crotalaria sp.) crotalária, e orquídeas. Para as abelhas, os
nectários tem cor da luz ultravioleta, que atrai especialmente. Por outro lado, as moscas,
as mariposas e outros insetos visitam assiduamente as flores de (Glycine hispida) soja, e
da sempre viva. Conhecida é a polinização dos figos por vespinhas do gênero
Blastophaga, que se desenvolve no interior da inflorescência do tipo sícono (Biomania,
2015).

79
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Um dos aspectos de mais relevância relacionados com a produtividade de uma


cultura é a polinização, que garante a fecundação dos óvulos e a boa formação do fruto.
Em plantas cítricas, pode ocorrer tanto a autopolinização quanto a polinização cruzada,
onde o pólen é transportado por entomofilia ou anemofilia (Reuther et al., 1968; Lim,
2001).
Segundo Gullan (2007), os agentes polinizadores mais abundantes em
angiospermas são os insetos. Afirma o autor que ocorre nessa interação uma relação
mutualística, onde há benefício para ambas as espécies. Pode-se dizer que há um “jogo
de interesse”, as plantas efetivam sua reprodução com mais eficiência enquanto os
insetos polinizadores retiram dos vegetais o seu alimento: o néctar e o pólen. O néctar é
composto de açúcares em especial a glicose, frutose e sacarose e o pólen possui
proteínas, açúcar, amido gorduras, traços de vitaminas e sais inorgânicos. Desse modo,
o autor ressalta que a polinização por isentos traz uma séries de benefícios: Aumento na
eficiência da polinização, incluindo a redução de desperdício de pólen; A polinização
bem-sucedida sob condições não adequadas para a polinização por ventos;
Maximização do número de espécies de plantas em uma dada área (já que mesmo
plantas raras podem receber polens da mesma espécie, carregados por insetos dentro de
uma área).
O objetivo da pesquisa foi identificar os insetos visitantes florais de mangueiras
localizadas no Ifes Campus Santa Teresa.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no campus do Instituto Federal do Espírito Santo


(IFES-Campus Santa Teresa), no período de agosto de 2015 a julho de 2016, localizado
na meso região Central Espírito-Santense, município de Santa Teresa-ES, coordenadas
geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região
caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte
pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de
1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima
de 10,6 °C (Incaper, 2011).
A pesquisa foi feita na área de fruticultura do campo de produção, onde foi
catalogado durante todo o período do projeto, através de visitas diárias, fotografado e
coletado espécies polinizadoras de mangueira.
Foram separadas 10 plantas para verificação diária, onde as visitas foram feitas
sempre às 8 horas, 12 horas e 16 horas, permanecendo no local por uma hora.
Cada coleta foi feita com coletor de rede, e armazenada em sacolas plásticas,
sendo o inseto encaminhado vivo para o laboratório de biologia do Campus Santa
Teresa para identificação e sistematização dos dados, identificando a taxonomia. A
identificação foi feita pelo professor especialista da área
Após 10 meses de visitas às plantas existente no Campus, todos os dados foram
catalogados e ordenados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As flores de manga ficam abertas ao longo de todo dia, abrindo por volta das
7:30h e fechando ao entardecer, recebendo uma variedade de visitantes ao longo do dia.
Essa grande variedade de insetos visitantes se dá pela mangueira ser uma planta
generalista quanto á polinização, podendo ser visitada por diversas ordens de insetos,
mas nem todos os insetos visitantes são polinizadores.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Os insetos que apresentaram uma maior frequência de visitas na Manga foram


Dípteras, das famílias Tachinidae (figura 1), Calliphoridae (figura 3), Stratiomydae e
Asilidae , seguido de Hymenopteros, das famílias Vespidae (figura 2), Apidae e
Coleoptera da família Coccinelidae (Tabela 1).
Tabela 1. Insetos visitantes florais na mangueira e o tempo médio de visita de cada
inseto
Insetos Visitantes Tempo médio de visita (seg.)
Tachnidae (Diptera) 22
Calliphoridae (Diptera) 21
Stratiomydae (Diptera) 15
Asilidae (Diptera) 3
Vespidae (Hymenoptera) 22
Odonata 85
Apidae (Hymenoptera) 13
Coccinelidae (Coleoptera) 60

De acordo com Malerbo-Souza et al. (2008), há possibilidade de insetos da


ordem Díptera serem polinizadores muito mais efetivos que indivíduos de outras
ordens, isso se dá devido as flores terem anteras e estigmas expostos, pétalas e sépalas
com cores claras e odores perceptíveis. Borboletas, vespas, abelhas e besouros também
costumam visitar essas flores.
Viana (2006) observou, em estudo realizado no município de Juazeiro, estado da
Bahia, frequências de 67,5% para dípteros e de 17,5% para himenópteros e que as
diferenças nas frequências em diferentes trabalhos poderiam estar relacionadas com a
fauna disponível no entorno da cultura, a sazonalidade dos visitantes e o próprio manejo
da cultura. Jirón & Hedström (1985) observaram que, entre os insetos da ordem Diptera,
representantes das famílias Syrphidae, Calliphoridae e Tachinidae carregavam muitos
grãos de pólen nas pernas e superfícies ventrais da cabeça, tórax e abdome, atuando
como potenciais polinizadores. A morfologia das flores de manga favorecem os insetos
da ordem Diptera, devido as suas flores pequenas e odor perceptível e agradável a estes
insetos. Os órgãos reprodutivos são expostos, facilitando a polinização por Dipteras,
visto que elas possuem o aparelho bucal curto.
Apesar de sua morfologia privilegiar os insetos da ordem Diptera, não impede
outros visitantes de se alimentarem do néctar, o que inclui moscas de tamanho reduzido
(Malerbo-Souza & Halak, 2009).

Figura 1. Tachinidae Figura 2. Vespa Figura 3. Calliopharidae


Fotos do autor

81
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONCLUSÃO

Os visitantes florais catalogados no Ifes Campus Santa Teresa na mangueira estão de


acordo com o que diversos autores constataram em outras regiões, com alta frequência
de dípteras, sendo estes considerados bons polinizadores para mangueira.

LITERATURA CITADA

Biomania. 2015. Polinização das flores, Disponível em:


http://www.biomania.com.br/bio/conteudo.asp?

Carvalho, C. R. L.; Rossetto, C. J.; Mantovani, D. M. B.; Morgano, M. A.; Castro, J. V.;
Bortoletto, N. 2004. Avaliação de cultivares de mangueira selecionadas pelo
Instituto Agronômico de Campinas comparadas a outras de importância
comercial. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 26, n. 2, p. 264-271.

Free, J. B. 1993. Insect pollination of crops. New York: Academic Press.

Gullan, P. J. 2007. Os insetos: um resumo de entomologia. São Paulo: Roca, p.440.

Incaper. 2001. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de


assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.

Jirón, L. F.; Hedström, I. 1985. Pollination ecology of mango (Mangifera indica L.)
(Anacardiaceae) in the neotropical region. Turrialba, v. 35, n. 3, p. 269-277.

Kiill, L. H. P. 2008. Assessment of mango (Mangifera indica L., Anacardiaceae) and


passion fruit (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg., Passifloraceae) pollinators in
the San Francisco Valley, Northeastern, Brazil. In: POLLINATORS
management in Brazil. Brasília: Ministry of the Environment, p. 36-37.

Lim, A.L. 2001. Citrus and citroids: Recent biological findings. Malayan-Nature
Journal, Kuala Lumpur, v.55 p.221-229.

Malerbo-Souza, D. T.; Toledo, V. A. A.; Pinto, A. S. 2008. Ecologia da polinização.


Piracicaba: CP2.

Malerbo-Souza, D. T. & Halak, A. L. 2009. Comportamento de forrageamento de


abelhas e outros insetos nas panículas da mangueira (Mangifera indica L.) e
produção de frutos L.) e produção de frutos. Acta Scientiarum. Animal Sciences
Maringá, v. 31, n. 3, p. 335-341.

Reuther, W.; Batchelor, L.; Webber, H. 1968. The citrus industry. v.2, Berkeley:
University of California Press, 398p.

Siqueira, K. M. M.; Kiill, L. H. P.; Martins, C. F.; Lemos, I. B.; Monteiro, S. P.;
Feitoza, E. A. 2008. Estudo comparativo da polinização de Mangifera indica L.
em cultivo convencional e orgânico na região do Vale do Submédio do São
Francisco. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 30, n. 2, p. 303-310.

82
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Viana, B. F. 2006. Plano de manejo para polinizadores: a mangueira e seus potenciais


polinizadores no Vale Médio São Francisco, Juazeiro, BA. Salvador: Probio.

Viana, B. F. 2008. Management plans for fruit crop pollinators in the states of Bahia
and Pernambuco, Northeastern, Brazil. In: POLLINATORS management in
Brazil. Brasília: Ministry of the Environment, p. 38-40.

83
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VISITANTES FLORAIS DA GOIABEIRA NO IFES CAMPUS SANTA TERESA

Mariana Zandomênico MANGEIRO2, Gleides Pulcheira PAIXÃO2, Marcus Vinicius


Sandoval PAIXÃO1*, Mikaela Bruna MATTEDI2 & Jacimar Berti BOTI2
1, 2
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa
*mvspaixao@gmail.com

INTRODUÇÃO

A goiabeira (Psidium guajava L) é uma planta de grande importância econômica


para o Brasil, (Francisco et al. 2017), porém pouco se sabe sobre as necessidades de
polinização da goiabeira e de possíveis perdas de produtividade devido à falta de
polinização adequada das flores (Alves & Freitas, 2006).
A goiabeira pertence à família Myrtaceae, que compreende cerca de 133 gêneros
e, aproximadamente, 3.800 espécies distribuídas nas diversas regiões tropicais e
subtropicais do mundo, principalmente na América e na Austrália (Wilson et al., 2001).
Possui inflorescência do tipo dicásio, trifloro; em alguns ramos foram
observadas inflorescências com uma ou duas flores. As flores são hermafroditas,
actinomorfas e com cerca de 3,5 cm de diâmetro. O cálice é composto de cinco sépalas
oblongo-ovadas, de coloração verde na face inferior e branca na face superior. A corola
possui cinco pétalas brancas, ovais, com cerca de 2 cm de comprimento. O androceu é
constituído, em média, de 380 estames (N=10). Os filetes são brancos; os filetes
próximos às pétalas são maiores, medindo cerca de 1,3 cm de comprimento e os filetes
próximos ao estilete são menores, medindo em torno de 0,5 cm. As anteras possuem
duas tecas rimosas de coloração branca com aproximadamente 2 mm de comprimento.
Os grãos de pólen são amarelos. O gineceu possui estigma subcapitado de coloração
esverdeada e estilete terminal; o estigma posiciona-se cerca de 2 mm acima dos estames
maiores. O ovário é ínfero, pentalocular, com muitos óvulos (Boti, 2001).
Considerando a receptividade do estigma, trabalhos encontrados na literatura são
muito divergentes. Enquanto Singh & Sehgal (1968) afirmam que o estigma já se torna
receptivo dois dias antes da antese, Boti (2001) sugere que ele fica receptivo na pré-
antese e assim permanece por 30 horas. Soubihe Sobrinho (1951) cita que a
receptividade do estigma inicia-se no momento da antese, enquanto Dasarathy (1951) e
Balasubrahmanyan (1959) afirmam que esta só acontece 2 a 3 horas após a abertura da
flor.
Polinização é o ato da transferência dos grãos de pólen, para o receptor feminino
de outra flor (da mesma espécie), ou para o seu próprio estigma. Podemos dizer que a
polinização é como se fosse o ato sexual das plantas espermatófitas, pois é através deste
processo que o gameta masculino alcança o gameta feminino ocorrendo assim a
fecundação.
A transferência de pólen pode ser através de fatores bióticos, ou seja, com
auxílio de seres vivos, ou abióticos, através de fatores ambientais.
A polinização entomófila, faz-se com o concurso dos insetos e ocorre na maioria
das Angiospermas. Durante a visita as flores, os insetos ao tocarem involuntariamente
os estames, se cobrem de pólen e buscando outras flores, tocam o estígma, deixando aí
o pólen. Os grãos de pólen entomófilos são grandes, providos de asperezas e pouco
abundantes quando comparados aos pólen anemófilo. A estrutura floral de algumas
plantas parece ter sido desenhada para o melhor aproveitamento da visita dos insetos.
Dentre os insetos polinizadores, destaca-se pela sua frequência, as abelhas, que poliniza

84
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

especialmente as plantas frutíferas, como a laranjeira, o melão, cafeeiro, abacateiro e


outras plantas de valor econômico (Biomania, 2015).
Um dos aspectos de mais relevância relacionados com a produtividade de uma
cultura é a polinização, que garante a fecundação dos óvulos e a boa formação do fruto.
Paulino (2005) menciona que insetos e plantas constituem seres vivos essenciais
para a manutenção da vida no planeta. As plantas além de fornecer oxigênio, são os
principais produtores de matéria orgânica, que direta e indiretamente nutrem diversos
ecossistemas da terra.
Segundo Gullan (2007), os agentes polinizadores mais abundantes em
angiospermas são os insetos. Afirma o autor que ocorre nessa interação uma relação
mutualística, onde há benefício para ambas as espécies. Pode-se dizer que há um “jogo
de interesse”, as plantas efetivam sua reprodução com mais eficiência enquanto os
insetos polinizadores retiram dos vegetais o seu alimento.
O Objetivo da pesquisa foi identificar os visitantes florais da goiabeira,
correlacionando-os às diversas pesquisas já realizadas sobre esta fruteira, quais destes
realizam a polinização e o tempo de visita de cada inseto.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no campus do Instituto Federal do Espírito Santo


(IFES-Campus Santa Teresa), no período de agosto de 2015 a julho de 2016, localizado
na meso região Central Espírito-Santense, município de Santa Teresa-ES, coordenadas
geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região
caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte
pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de
1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima
de 10,6 °C (Incaper, 2011).
A pesquisa foi realizada na área de fruticultura do campo de produção do Ifes,
onde foi catalogado durante todo o período do projeto, através de visitas diárias ao
pomar, quando foi fotografado e coletado os espécimes, visitantes florais e
polinizadores da goiabeira.
As visitas foram feitas sempre às 8 horas, 12 horas e 16 horas.
Cada coleta foi armazenada em vidros e sacolas plásticas, após esse
procedimento, o material coletado foi encaminhado ao laboratório de biologia do
Campus Santa Teresa para identificação e sistematização dos dados, identificando
taxonomicamente os insetos coletados.
Após 10 meses de visitas no pomar, todos os dados foram catalogados e
ordenados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com o observado em campo, os insetos que possuem a maior


frequência de visitas nas flores, são da família Apidae, e das ordens Coleoptera, Diptera
e Thysanoptera (Tabela 1).
A Trigona spinipes, entre todos da família Apidae, foi o que permaneceu o
maior tempo médio na flor, seguido pela família Muscidae, da ordem Diptera. Acredita-
se que o aparecimento de moscas, se dá pelo odor pútrido, exalado pela flor (Tabela 1).
A goiabeira apresenta maior frequência de visitantes florais na parte da manhã,
na parte da tarde as visitas foram mais escassas.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Diversos foram os visitantes florais encontrados na goiabeira, porém, só


podemos considerar como polinizadores os seguintes visitantes florais encontrados:
Appis Melifera, Jataí, Trigona sp. e Melipona Rufiventris, os outros insetos são apenas
visitantes florais.
Podemos observar na tabela 1 que o Tripes, moscas e diversos coleópteras
apresentam o maior tempo médio de visitação às flores da goiabeira, porém estes insetos
não atuam como polinizador, apenas faz a visitação para coletar pólen e outros
alimentos.
Considerando que a goiabeira possui autopolinização, e que a polinização
cruzada pode atuar como fator para aumento de produção, as abelhas citadas podem ser
consideradas como as verdadeiras polinizadoras, atuando no aumento da produção de
frutos e sementes.
Boti (2001) constatou que pomares de goiabeiras localizados próximos a
fragmentos de mata, apresentam maior variedade e abundância de abelhas, como é o
caso do local do experimento.
As flores da goiabeira são muito atrativas aos visitantes florais, sendo as abelhas
Apis melliferas são os visitantes mais frequentes, porém, abelhas nativas do gênero
Mellipona, Xylocopa, Partamona e Trigona também foram registradas em outros
trabalhos (Freitas & Alves, 2008).

Tabela 1. Insetos visitantes florais da goiabeira e o tempo médio de visita nas flores no
Ifes Campus Santa Teresa.

Insetos Visitantes/Ordem Tempo médio de visita (seg.)


Appis melifera (Apidae) 38
Calliphoridae (Diptera) 23
Cerambycidae (Coleoptera) 129
Coleopteras (outros) 276
Muscidae (Diptera) 169
Jataí (Apidae) 34
Melipona (Apidae) 52
Tabanidae (Diptera) 90
Trigona sp.(Apidae) 85
Melipona rufiventris (Apidae) 69
Trigona spinipes (Apidae) 99
Tripes (Thysanoptera) 440

CONCLUSÃO

Concluímos que os visitantes florais da goiabeira catalogados na região do


Campus Santa Teresa aparece em grande abundancia no pomar estudado e está de
acordo com os diversos autores que estudaram insetos visitantes florais em outras
regiões.

LITERATURA CITADA

Alves, J. E. & Freitas B. M. 2006. Comportamento de pastejo e eficiência de


polinização de cinco espécies de abelhas em flores de goiabeira. (Psidium
guajava L.). Ciência Agronômica. v.37, n.2, p.216-220.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Balasubrahmanyan, V.R. 1959. Studies on blossom biology of guava. Indian Journal of


Horticulture, v.16, p.69-75.

Biomania, 2015. Polinização das flores, Disponível em: http://www.biomania.com.


br/bio/conteudo.asp?cod=1286.

Boti, J. B. 2001. Polinização entomófila da goiabeira (Psidium guajava L., Myrtaceae):


Influência da distância de fragmentos florestais em Santa Teresa, Espírito Santo.
57f. Dissertação (Mestrado em Entomologia) - Universidade Federal de Viçosa.

Dasarathy, T.B. 1951. The guava. Madras Agriculture Journal, v.38, p.521-527.

Francisco, V.L.F. dos S. et al. 2017. A cultura da goiabeira em São Paulo. Capturado
em 25 março 2017. Online. Disponível na internet: http://www.iea.sp.gov.br/out/
verTexto.php?codtexto=1902.

Freitas, B.M. & Alves, J.E. 2008. Efeito do número de visitas florais de abelha melífera
(Apis mellifera L.) na polinização de goiabeira (Psidium guajava L.) cv. Paluma.
Rev. Ciên. Agron., Fortaleza, v. 34, n. 01, p. 148-154.

Gullan, P. J. 2007. Os insetos: um resumo de entomologia. São Paulo: Roca, p.440.

Incaper. 2011. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de


assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.

Paulino, W. R. 2005. Biologia - seres vivos/ fisiologia. São Paulo: Ática, v.2.

Singh, R.; & Sehgal, O.P. 1968. Studies on the blossom biology of Psidium guajava L.
(guava); 2, Pollen studies stigmatal receptivity pollination and fruit set. Indian
Journal of Horticulture, v.25, p.52-59.

Soubihe Sobrinho, J. 1951. Estudos básicos para o melhoramento da goiabeira (Psidium


guajava L). 166f. Tese (Doutorado em Fitotecnia) – ESALQ.

Wilson, G. W.; O’brien, M. M.; Gadek, P. A.; Quinn, C. J. 2001. Myrtaceae revisited: A
reassessment of intrafamilial groups. American Journal of Botany, Bronx, v. 88 ,
n. 11, p. 2013-2025.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ARMAZENAMENTO E GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CACAU

Edno Ferreira dos SANTOS1, Débora Moro Soela1, Henrique Venturini Angeli1,
Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Milena Monteiro SANTOS1, Leidiane
ZINGUER1

1
Instituto Federal do Espírito Santo - campus Santa Teresa
* mvspaixao@gmail.com

INTRODUÇÃO

O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma planta pertencente à família


Malvaceae, provavelmente originada da Bacia Amazônica e cultivada nas regiões
tropicais do mundo. O interesse de cultivo desta espécie está no aproveitamento de suas
sementes para produção de derivados de cacau (Alves, 2002). Do seu fruto do cacaueiro
se extraem sementes que, após sofrerem fermentação, transformam-se em amêndoas,
das quais são produzidos o cacau em pó e a manteiga de cacau. Em fase posterior do
processamento, obtém-se o chocolate, produto alimentício de alto valor energético (Iac,
1998).
A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das
plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a
embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião
quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento.
Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de
germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase
que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982).
O conhecimento das condições ideais para a germinação de sementes de uma
espécie é de fundamental importância, principalmente, pelas respostas diferenciadas que
ela pode apresentar em função de diversos fatores, como viabilidade, dormência,
condições de ambiente, envolvendo água, luz, temperatura, oxigênio e ausência de
agentes patogênicos, associados ao tipo de substrato para sua germinação (Carvalho &
Nakagawa, 2000).
Na maioria das espécies vegetais de importância econômica, a viabilidade e
vigor das sementes podem ser conservadas pela redução do seu teor de água e da
temperatura ambiente. As sementes de cacau, não toleram armazenamento sob baixas
temperaturas, dificultando sua conservação por períodos prolongados (Hong & Ellis,
1996). Considerando que sua longevidade é relativamente pequena, variando de poucos
dias a poucos meses, dependendo da espécie, as sementes recalcitrantes podem ser
classificadas como microbióticas ou de vida curta. A curta longevidade restringe o
prazo de utilização das sementes, sendo necessário realizar a semeadura logo após sua
extração dos frutos (Stubsgaard, 1990).
O desenvolvimento das sementes recalcitrantes difere do desenvolvimento das
sementes ortodoxas por não apresentar a fase de desidratação (Farrant et al., 1988), ou
seja, no ponto de maturidade fisiológica ocorre um declínio do teor de água das
sementes, sendo, entretanto, não significativo quando comparado à fase de desidratação,
propriamente dita, das sementes ortodoxas (Kikuti, 2000).
Certamente, a conservação de sementes recalcitrantes, por longos períodos, não
é alcançada com processos similares aos utilizados para as sementes ortodoxas,

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

mormente a secagem. Sem a possibilidade de secagem para a maioria das sementes


recalcitrantes, os pesquisadores brasileiros têm mantido elevado o teor de água das
sementes através do seu acondicionamento em embalagens herméticas, sob baixas
temperaturas (Cicero et al., 1986).
O presente trabalho teve como objetivo avaliar a germinação das sementes de
cacau armazenadas em ambiente úmido e temperatura reduzida.

MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no laboratório de sementes do Instituto Federal do


Espírito Santo (IFES) Campus Santa Teresa.
Foram utilizadas 900 sementes de cacau retiradas dos frutos in natura variedade
clonal PS-1319 adquiridas na fazenda experimental da CEPLAC, localizada no
município de Linhares, a partir de frutos colhidos naquela empresa.
Cada unidade experimental foi composta por 100 sementes armazenadas em 4
bandeja (4 tratamentos de 100 sementes), e a testemunha composta por 100 sementes.
O delineamento experimental adotado foi em blocos inteiramente casualizados
(DBC), composto de 5 tratamentos, 4 repetições e 25 sementes por parcela.
Os tratamentos foram constituídos de: dois tratamentos em ambiente de
temperatura reduzida (5ºC) utilizando uma geladeira, dois tratamentos em ambiente
natural (28°C, bandejas dentro do laboratório) e testemunha sem tratamento. Os
tratamentos foram T1- Testemunha sem armazenamento, T2- Sementes armazenadas
em geladeira 5°C com um recipiente de água localizado dentro do contêiner com as
sementes, T3- Sementes armazenadas em geladeira 5°C sem recipiente de água, T4-
Sementes armazenadas em ambiente natural com recipiente de água localizado dentro
do contêiner com as sementes, e T5- Sementes armazenadas em ambiente natural sem
recipiente com água.
A testemunha foi colocado para germinar em papel germitest e após 15 dias de
armazenamento, um lote de 100 sementes de cada tratamento foi preparado para ser
colocado para germinar em papel germitest em câmara BOD 25°C.
O segundo lote de 400 sementes foi preparado para aos 30 dias de
armazenamento, ser colocado para teste de germinação nas mesmas condições em que
foi preparado o primeiro lote.
As contagens foram efetuadas diariamente e tiveram inicio com o surgimento das
primeiras radículas em conformidade com as regras de análise de sementes (Brasil,
2009).
A velocidade de germinação (IVG) foi avaliada através de um índice determinado
pela fórmula de Maguire (1962), e o tempo médio de germinação (TMG) foi calculado
segundo Laboriau & Valadares (1976).
Os dados experimentais foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilks (p>0,05),
para verificação da normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada
característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes de cacau apresentaram dificuldade de serem armazenadas após a


colheita para serem propagadas. Isso ocorreu devido ao fato de se tratarem de sementes
recalcitrantes, evidenciado pelos tratamentos utilizados, onde durante o tempo de
armazenamento, as sementes germinaram em grande quantidade.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

As sementes armazenadas em ambiente, sem a condição do recipiente de água


(T5), apresentaram resultados positivos comparados à testemunha (T1). As sementes de
cacau colhidas dos frutos selecionados na fazenda experimental da CEPLAC vieram
com uma carga genética para germinação muito boa, onde podemos observar uma
germinação de 100% na testemunha, provando a qualidade das sementes colhidas em
frutos daquela empresa (Tabela 1).

Tabela 1. Médias dos tratamentos para germinação em sementes de cacau armazenadas


G= Germinação (%), IVG= Índice de Velocidade de Germinação, TMG= Tempo Médio
de Germinação. T1- Testemunha, T2- Sementes armazenadas em geladeira 5°C com um
recipiente de água no contêiner, T3- Sementes armazenadas em geladeira 5°C sem
recipiente de água, T4- Sementes armazenadas em ambiente natural com recipiente de
água, T5- Sementes armazenadas em ambiente natural sem recipiente com água.
Tratamentos G (%) IVG TMG
T1 100 a 6,967 a 4,640 a
T2 0 0 0
T3 0 0 0
T4 x x x
T5 93 a 6,232 a 4,242 b
Médias seguidas das mesmas letras não se diferem estatisticamente pelo teste Tuckey
em 5 % de probabilidade.

A porcentagem de germinação e o IVG do T5, não diferiram estatisticamente da


testemunha (T1), sendo observada apenas diferença significativa no tempo médio de
germinação (TMG). Considerando o resultado obtido, podemos sugerir que as sementes
de cacau, podem ser armazenadas em ambiente natural (28°C), durante o período de 15
dias, não alterando sua longevidade e seu poder germinativo. Neste tratamento proposto
a recalcitrância das sementes de cacau não foi afetada, visto que ocorreu germinação
satisfatória (93%), não diferindo estatisticamente da testemunha (T1) (Tabela 1).
O tratamento em que foi colocado um recipiente de água ao centro do container
para manter a umidade local (T4), ocorreu à germinação das sementes antes do tempo
previsto para o teste de germinação e tornaram impossibilitados de serem colocados
para germinar, pois durante seu armazenamento, das 200 sementes armazenadas, 188
germinaram antes de serem utilizadas.
A alta taxa de germinação desses tratamentos está relacionada à umidade do ar
que proporcionaram um ambiente favorável para a germinação. Cícero (2000) cita que a
germinação nessas condições, pode levar a um estresse hídrico que causaria danos
oxidativos pela ação de radicais livres, fato não observado nesta pesquisa.
Estes tratamentos não foram utilizados como lote no teste de germinação.
As sementes recalcitrantes apresentam maiores dificuldades no armazenamento
comparado às sementes ortodoxas. Isso se deve a uma alta suscetibilidade à perda de
água, o que faz com que seja necessário o armazenamento em elevado grau de umidade.
Essa alta umidade, porém, favorece o desenvolvimento de microrganismos e a
germinação durante o armazenamento. O armazenamento de sementes constitui-se em
um conjunto de procedimentos voltados à preservação de sua qualidade, atuando como
instrumento para a formação de estoques reguladores e à manutenção de recursos
genéticos por meio de bancos de germoplasma (Aguiar et al., 1993).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Os tratamentos T2 e T3 não apresentaram germinação. A partir dos dados


obtidos para estes tratamentos, podemos inferir que o condicionamento das sementes
em geladeira a 5°C, pode ter ocasionado a morte do embrião, fazendo com que as
sementes não germinassem nestes tratamentos. Segundo Fonseca & Freire (2003),
sementes de cacau, não podem ser armazenadas a frio, pois não resistem a esse
processo, e sua longevidade é limitada quando submetida. Esse fato, corrobora com os
dados obtidos na pesquisa, onde as sementes apresentaram resultados negativos quanto
à germinação.
As pesquisas científicas, obtidas a respeito da conservação de sementes
recalcitrantes, ainda são pouco evidenciados. Farrant et al. (1988) citam que as
sementes “altamente” e “moderadamente” recalcitrantes apresentam maior tolerância a
baixas temperaturas, porém nunca igual ou inferior a 0 °C; temperaturas iguais ou
inferiores a 15°C não são favoráveis ao armazenamento de sementes de cacau (Fonseca
& Freire, 2003), evidenciando os resultados obtidos.

CONCLUSÃO

O armazenamento das sementes da cacau à temperatura de 5°C tornou as


sementes inviáveis para germinação.
A alta umidade do ar pode acelerar a germinação das sementes de cacau
armazenadas, podendo inviabilizar o armazenamento destas sementes.
Sementes de cacau podem ser armazenada em ambiente natural por um período
de 15 dias.

LITERATURA CITADA

Aguiar, I. B.; Pina-Rodrigues, F. C. M.; Figliolia, M. B. 1993. Sementes florestais


tropicais. Brasília: ABRATES, 350p.

Alves, S. A. M. 2002. Epidemiologia da Vassoura-de-Bruxa (Crinipellis Perniciosa


(STAHEL) SINGER) em Cacaueiros Enxertados em Uruçuca, BA. 2002.
Dissertação (Mestrado em Agronomia) – ESALQ, Universidade de São Paulo,
Piracicaba.

Bewley, J. D. & Black, M. 1982. Physiology and biochemistry of seeds, v.2., Berlin:
Springer-Verlag.

Brasil. 2009. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. Regras para análise de


sementes. Brasília, 398 p.

Carvalho, N. M. & Nakagawa, J. 2000. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 4.ed.


Jaboticabal: FUNEP, 588p.

Cicero, S. M.; Marcos Filho, J.; Toledo, F. F. 1986. Efeitos do tratamento fungicida e de
três ambientes de armazenamento sobre a conservação de seringueira. Anais da
ESALQ, Piracicaba, 43(2): 763-787.

Cicero, S. M. 2000. Efeitos do tratamento fungicida e de três ambientes de


armazenamento sobre a conservação de seringueira. Anais da ESALQ,
Piracicaba, 43(2):763-787.

91
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Farrant, J. M.; Pammenter, N. W.; Berjak, P. 1988. Recalcitrance: a current assessment.


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Fonseca, S. C. L. & Freire, H. B. 2003. Sementes recalcitrantes: problemas na pós-


colheita. Bragantia, 62(2): 297-303.

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Engels, J.M.M; Toll, J. Rome: IPGRI, 62p.

Iac, 1998. Instituto Agronômico de Campinas, Cacau, Boletim IAC, Campinas.

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Labouriau, L.G. & Valadares, M.E.B. 1976. On the germination of seeds Calotropis
procera (Ait.) Ait.f. Anais da Academia Brasileira de Ciências, 48(2): 263-284.

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emergence and vigor. Crop Science, 2(2): 176-177.

Stubsgaard, F. 1990. Seed moisture. Humlebaek: DFSC, 30p.

92
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE IPÊ AMARELO EM DIFERENTES


SUBSTRATOS

Hérica CHISTÉ2, Livia Barbosa DUMMER2, Paulo Cesar PIMENTA2, Marcus


Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Milena Monteiro SANTOS2 & Leidiane ZINGUER2
1, 2
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa
*mvspaixao@gmail.com

INTRODUÇÃO

Tabebuia chrysotricha (Mart. ex DC.) Standl, conhecida como ipê-amarelo-


cascudo, ipê-do-morro, ipê, ipê-amarelo, aipé, ipê-tabaco. Segundo Lorenzi (2002) é
uma espécie florestal nativa do Brasil, encontrado nos Estados do Espírito Santo até
Santa Catarina. É uma planta decídua e heliófita. Sua dispersão é descontínua e
irregular, geralmente ocorrendo em baixa freqüência. Produz anualmente grande
quantidade de sementes. É uma espécie que apresenta uma madeira moderadamente
pesada, resistente, de grande durabilidade mesmo em condições adversas. É própria para
obras externas e internas em construção civil. A árvore é extremamente ornamental,
sendo muito utilizada para arborização em praças e ruas, devido ao seu pequeno porte.
Floresce durante os meses de agosto e setembro, geralmente com a planta totalmente
despida de folhagem. Os frutos amadurecem a partir do final de setembro a meados de
outubro.
Uma das dificuldades enfrentadas por quem trabalha com a produção de mudas
de espécies florestais nativas é o crescimento lento de muitas delas, particularmente
daquelas classificadas como tardias. Em face disso, é de fundamental importância a
definição de estratégias que favoreçam a produção de mudas com qualidade, em menor
espaço de tempo possível e em condições acessíveis aos médios e pequenos produtores
rurais (Cunha et al., 2005), por ser esse o público com maiores limitações financeiras
para a restauração florestal (Engel, 2007). Essas características atribuem ao ipê amarelo
(Tabebuia chrysotricha), um alto valor econômico, o que justifica estudos que visem
uma melhor produção de sementes e mudas de qualidade.
A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das
plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a
embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião
quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento.
Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de
germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase
que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982). Durante a
germinação das sementes, o substrato utilizado também pode influenciar a porcentagem
final de germinação devido à sua estrutura, aeração, capacidade de retenção de água e
facilidade de infestação por patógenos, o que pode variar, dependendo do tipo de
material utilizado (Scalon, 1992; Eschiapatia-Ferreira & Perez, 1997; Jeller & Perez,
1999). Para a espécie Tabebuia serratifolia (Vahl.) o substrato areia se mostra melhor
para a germinação (Souza et al.,2003).
O objetivo da pesquisa foi avaliar a germinação/emergência de sementes de ipê
amarelo (Tabebuia chrysotricha) em diferentes substratos.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no viveiro de produção de mudas, tela de


poliolefina com 50% de sombreamento, setor de viveiricultura do Instituto Federal do
Espírito Santo (IFES-Campus Santa Teresa), no período de outubro a dezembro de
2015, localizado na meso região Central Espírito-Santense, cidade de Santa Teresa-ES,
coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da
região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte
pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de
1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima
de 10,6 °C (Incaper, 2011).
Os tratamentos foram compostos por diferentes tipos de substratos para avaliar a
germinação a partir da emergência das plântulas. Os substratos utilizados foram areia,
terra, vermiculita, bioplant® e mistura (areia+terra+esterco bovino [2:2:1] ).
As sementes de Tabebuia chrysotricha foram coletadas no mês de Outubro de
2015, de uma única matriz, em mata do município de Santa Maria de Jetibá - ES, onde
foram selecionadas sementes no mesmo ponto de maturação.
Os substratos foram acondicionados em tubetes pretos perfurados N-3, e ficaram
em repouso por 24 horas, para um maior acondicionamento do substrato nos recipientes.
Passado o período de repouso, foi semeado 1 semente em cada tubete, a uma
profundidade de 2 cm. Após a instalação do experimento em casa de vegetação, foi feito
irrigação diariamente.
O delineamento experimental adotado foi em blocos inteiramente casualizados
(DBC), composto de 5 tratamentos, 4 repetições e 25 tubetes por parcela, totalizando
500 mudas, sendo a unidade experimental composta por 25 tubetes.
Trinta dias após início de emergência, ocorrido sete dias após a semeadura foi
avaliado a porcentagem de emergência, índice de velocidade de emergência (IVE) e
tempo médio de emergência (TME).
As contagens foram efetuadas diariamente e tiveram inicio com o surgimento
das primeiras plântulas. A velocidade de emergência foi avaliada através de um índice
determinado pela fórmula de Maguire (1962), e o tempo médio de emergência foi
calculado segundo Laboriau & Valadares (1976).
Os dados experimentais foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilks (p>0,05),
para verificação da normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada
característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Tabela 1, apresentamos os resultados das análises estatísticas a partir dos


dados das sementes germinadas/emergidas onde constatamos diferença significativa
entre os tratamentos.
Tabela 1. Valor médio de percentagem de germinação (G%), índice de velocidade de
germinação (IVG) e tempo médio de germinação (TMG).
Substratos E %) IVE TME
Areia 67,25 b 0,87307 abc 2,18395 ab
Bioplant 88,50 a 1,17746 ab 2,26895 ab
Vermiculita 94,00 a 1,45682 a 2,91045 a
Mistura 69,00 b 0,51970 bc 1,57938 b
Terra 52,00 c 0,14706 c 0,25000 c

94
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Médias seguidas pelas mesmas letras na coluna não diferem significativamente entre si
pelo teste de tukey em 5% de probabilidade.

Com relação aos substratos, os melhores resultados foram obtidos utilizando


vermiculita para os parâmetros de porcentagem de emergência e velocidade de
emergência. Corroboram com o encontrado, Figliolia et al. (2006), estudando os efeitos
do substrato na germinação de sementes de cedro-rosa (Cedrela fissilis), constataram
que a vermiculita foi um substrato eficiente promovendo uma ótima germinação e
elevados valores de IVG, assim como Rêgo (2004) que avaliou o efeito de diferentes
substratos sobre a emergência e o vigor de sementes de jequitibá-rosa (Cariniana
legalis) e também verificou a eficácia da emergência com o substrato vermiculita.
Com aplicação do teste tukey a 5% de probabilidade verificou-se que os
substratos vermiculita e bioplant® não diferem entre si para a porcentagem de
emergência de sementes, possuindo assim as melhores médias neste quesito, porém
podemos observar que a vermiculita atingiu melhores resultados (Tabela 1).
Para a semeadura em terra houve grande redução da porcentagem e da
velocidade de emergência. Nessa condição, ocorreu a protrusão da raiz primária e o
início do desenvolvimento das plântulas sob a terra, mas as plântulas tiveram
dificuldade em romper a camada do substrato. Assim, consideramos que a quantidade
de argila presente neste substrato restringiu a emergência das plântulas, reduzindo os
valores dos parâmetros avaliados. Uma provável explicação para a dificuldade de
superação da camada de substrato pode estar associada às características deste substrato
em presença de água, com a formação de uma camada seladora em sua superfície.
Com um comportamento oposto a superioridade apresentada nos outros
parâmetros, a vermiculita apresentou menor tempo médio de emergência,
caracterizando a rápida emergência. Para este parâmetro a mistura de solo, apresentou a
maior média, com maior tempo para ocorrer a germinação/emergência das plântulas.

CONCLUSÃO

Dentre os substratos avaliados, a vermiculita apresentou os melhores resultados


para germinação de sementes/emergência de plântulas de ipê amarelo, podendo ser
recomendado para produção de mudas de ipê amarelo.

LITERATURA CITADA

Bewley, J. D. & Black, M. 1982. Physiology and biochemistry of seeds, v.2., Berlin:
Springer-Verlag.

Cunha, A. O. et al. 2005. Efeitos de substratos e das dimensões dos recipientes na


qualidade das mudas de Tabebuia impetiginosa (Mart. Ex D.C.) Standl. Revista
Árvore, v.29, n.4, p.507-516

Engel, V. L. 2007. Restauração ecológica de florestas tropicais: aliando benefícios


ecológicos, econômicos e sociais. Revista Opiniões sobre o Setor de Celulose,
Papel e Floresta. p.11.

Eschiapatia-Ferreira, M. S. & Perez, S. C. J. A. 1997. Tratamento para superar a


dormência de semente de Senna macranthera (Collad.) Irwing et Bran.

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(Fabaceae-Caesalpinoidea). Revista Brasileira de Sementes, v.19, n.2, p.231-


237.

Figliolia, M. B.; Aguiar, I. B. & Silva, A. 2006. Germinação de sementes de Lafoensia


glyptocarpa koehne (mirindiba-rosa), Myroxylon peruiferum l. f. (cabreúva-
vermelha) e Cedrela fi ssilis vell. (cedro-rosa). Rev. Inst. Flor., São Paulo, v. 18,
n. único, p. 49-58, dez.

Incaper. 2011. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de


assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.

Jeller, H. & Perez, S. C. J. A. 1999. Estudo da superação da dormência e da temperatura


de semente de Cassia excelsa. Revista Brasileira de Sementes, v.21, n.1, p.32-
40.

Lorenzi, H. 2002. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas


arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum de Estudos da
Flora, 384p.

Labouriau, L.G. & Valadares, M.E.B. 1976. On the germination of seeds Calotropis
procera (Ait.) Ait.f. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro,
v.48, n.2, p.263-284.

Maguire, J. D. 2009. Speeds of germination-aid in selection and evaluation for seedling


emergence and vigor. Crop Science, Chicago, v.2, n.2, p.176-177, 1962.
Agrarian, v.2, n.3, jan./mar.

Rêgo, G. M. & Possamai, E. 2004. Efeito do substrato e da temperatura sobre a


germinação e vigor de sementes do jequitibá-rosa (Cariniana legalis). Colombo:
Embrapa Florestas, (Embrapa Florestas, Comunicado técnico 127).

Scalon, S. P. Q. 1992. Estudo da germinação de sementes e produção de mudas de pau-


pereira (Platycyamus regnelli Benth.). 1992. 63f. Dissertação (Mestrado em...) –
Escola Superior de Agricultura de Lavras.

Souza, V. C.; Bruno, R. L. A. & Andrade, L. A. 2005. Vigor de sementes armazenadas


de ipê-amarelo Tabebuia serratifolia (Vahl.) Nich. Revista Árvore, v.29, n.6,
p.833-841.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

GERMINAÇÃO EM SEMENTES DE CAJÁ

Liz Santos NASCIMENTOS, Millena Monteiro dos SANTOS, Eduardo France OZA,
Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO*, Gustavo Bregonci FERNANDES, Edno Ferreira
dos SANTOS

Instituto Federal do Espírito Santo - campus Santa Teresa


* mvspaixao@gmail.com

INTRODUÇÃO

Cajazeira (Spondias mombis L.), é uma espécie frutífera pertencente á família


Anacardiaceae, possui fruto tipo drupa, globosa, com casca fina e de coloração amarela
quando maduro, fruto pequeno de forma elíptica com 3-4 cm de comprimento (Silva Jr.
et al., 2004).
O Brasil é considerado um dos maiores produtores de frutas, logo após a China e
Índia com produção de aproximadamente 43 milhões de toneladas e área de 2,179
milhões de hectares (Poll et al., 2011), sendo uma das frutas mais consumidas na região
semi-árida do nordeste e norte do Brasil, além das regiões tropicais da América e da
África. O cajá pode ser consumido de diversas formas, tendo destaque nos consumos in
natura e polpa, cujo rendimento varia entre 55 a 65%. Quando industrializado, o fruto
da cajazeira é muito apreciado em sorvetes, sucos e néctares (Lima et al., 2002).
Diversas partes da planta cajazeira são utilizadas para diversos fins. Moody & Hamann
(2009) destacam inúmeros princípios ativos como ação antibacteriana, antivirais e
antibióticas.
De acordo com Sacramento & Souza (2000) o processo de fecundação de
amadurecimento do fruto ocorre por volta de 4 a 5 meses, ocorrendo por fecundação
cruzada. A propagação dessa planta pode ser por estacas plantadas em campo, porém
vários estudos afirmam que a utilização de mudas como porta-enxerto pode acelerar o
pegamento propiciando alto índice de sobrevivência (Santos et al., 2002; Bastos, 2010;
Reis et al., 2010).
A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das
plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a
embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião
quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento.
Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de
germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase
que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982).
A estrutura usada na propagação sexuada do caja corresponde ao endocarpo
contendo sementes, também conhecido como "caroço". Ensaios de germinação com
sementes mostraram baixas percentagens e velocidades de germinação, confirmando a
lenta, a errática e a desuniforme germinação da espécie (Azevedo et al., 2004).
Carvalho et al. (1998) referem-se ao baixo poder germinativo das sementes de
cajá como fator dificultador de sua utilização no processo de propagação sexuada.
Souza et al. (2000) citam que o endocarpo do cajá é do tipo Spondias, o qual é
composto de um conjunto de células fortemente lignificado e irregularmente orientado
em esclerênquima.
Objetivou-se com esse trabalho avaliar a poliembrionia e germinação em relação
à massa específica de sementes de cajá.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no viveiro de produção de mudas, tela de


poliolefina com 50% de sombreamento, setor de viveiricultura do Instituto Federal do
Espírito Santo (IFES - Campus Santa Teresa), no período de outubro a dezembro de
2015, localizado na meso região Central Espírito-Santense, cidade de Santa Teresa-ES,
coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da
região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte
pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de
1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima
de 10,6 °C (Incaper, 2011).
Foram coletados manualmente frutos de plantas localizadas no setor de
fruticultura do Campus. A retirada de suas polpas ocorreu manualmente em água
corrente para obtenção das sementes nuas, tomando os devidos cuidados para não
ocorrer nenhum dano às mesmas. Em seguida, as sementes foram postas para secagem à
sombra por 24 h.
No laboratório de Sementes do campus, as sementes foram pesadas com balança
semi-analítica com precisão de 0,001 g e divididas em 4 tratamentos em função da suas
respectivas massas onde: T1 sementes com massa de 0 a < 3 g; T2 sementes de ≥ 3 a <
6 g; T3 de ≥ 6 a < 9; T4 ≥ 9 g, cada unidade experimental continha de 25 sementes em
4 repetições, totalizando 400 sementes, com delineamento em blocos casualizados
(DBC). A semeadura foi realizada em sacolas plásticas 12x25x0,07 cm, preparadas com
substrato produzido a partir de uma mistura de três partes de terra de subsolo peneirada
com uma parte de esterco bovino curtido e peneirado (quatro mash) e uma parte de areia
(3:1:1).
As avaliações de emergência obedeceu os parâmetros contidos nas regras para
Análise de Sementes (Brasil, 2009), a partir da emergência das plântulas após a
semeadura (DAS). O índice de velocidade de emergência (IVE) foi avaliado conforme
fórmula de Maguire (1962), e o tempo médio de emergência (TME) foi calculado
segundo Laboriau & Valadares (1976), e o potencial de poliembriônia (PP) realizadas
aos 90 DAS.
Os dados experimentais foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilks (p>0,05),
para verificação da normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada
característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A emergência das plântulas iniciou 28 dias após a semeadura (DAS) para todos
os tratamentos, exceto para o tratamento 2 (T2) que apresentou maior retardo (2 dias)
para iniciar a germinação.
A porcentagem de emergência não apresentou diferenças estatísticas entre os
tratamentos, onde a massa das sementes não influenciou na taxa germinativa. Esses
dados corroboram com resultados encontrados por Carvalho & Nakagawa (2000) e
Ferreira & Torres (2000), que descrevem que o tamanho das sementes não tem
influência sobre a germinação, apenas resultam no menor vigor e desenvolvimento das
plântulas, dependendo das condições de campo. Entretanto, conforme Rodo et al.
(2001), o tamanho da semente é um dos fatores que podem influenciar a germinação,
sendo que sementes maiores potencialmente apresentam maior poder germinativo em
relação às menores.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Todos os tratamentos apresentaram valores de emergência muito baixos,


observa-se que o percentual de emergência variou de 32 a 46 %, estando todos abaixo
de 50%. Esse fato pode estar relacionado devido às sementes de cajá apresentarem
poliembrionia, que pode ser influenciado por fatores bióticos e abióticos, como
polinização e clima. Segundo Ramos et al., (2006) quanto maior o número de embriões
em uma semente, menor será a taxa de germinação destas sementes (Tabela 1).
Segundo a Carvalho et al. (1998) germinação é lenta, errática e desuniforme.
Isso de dá devido a dois mecanismos de dormência que regulam a germinação das
sementes dessa espécie. O primeiro, imposto pelo tegumento, que atua como fator
limitante, promovendo resistência mecânica à expansão do embrião, como também às
trocas gasosas, o segundo de natureza fisiológica.
Para os valores do Índice de Velocidade de emergência não houve diferença
estatística entre as médias dos tratamentos submetidas ao teste de médias, indicando que
a massa respectiva a cada semente não influência na velocidade de germinação (Tabela
1).
Rzyzanowski et al. (1999) observaram que sementes menores, possuem pouca
reserva e necessitam mais de água em relação à sementes maiores, por isso precisam
germinar precocemente. Entretanto, em sementes de Macadamia integrifolia (Rêgo et
al., 1991) e de Acacia senegal (L.) de Willd (Ferreira & Torres, 2000), o IVE não foi
afetado pelo tamanho das sementes.
As médias dos valores do Tempo Médio de emergência (TME) também não
apresentaram diferenças estatísticas. Todos os tratamentos apresentaram valores
próximos (28,765 a 30,909) o que indica bons valores e ampla uniformidade em relação
ao tempo de semeadura e emergência de plântula (Tabela 1).

Tabela 1 – Dados de emergência em sementes de cajá.


Médias das Variáveis
Tratamentos %E IVE TME
T1 (0 a < 3 g) 38,54 a 0,303 a 30,140 a
T2 (≥ 3 a < 6 g) 46,87 a 0,369 a 28,765 a
T3 (≥ 6 a < 9) 37,49 a 0,299 a 30,729 a
T4 (T4 ≥ 9 g) 32,29 a 0,240 a 30,909 a
Médias seguidas das mesmas letras não se diferem estatisticamente pelo teste Tuckey
em 5 % de probabilidade. E= Emergência (%), IVE= Índice de Velocidade de
Emergência, TME= Tempo Médio de Emergência.

Embora não tenha ocorrido diferenças estatísticas entre % Germinação, IVE e


TME, o tratamento onde as sementes possuíam massa entre ≥ 3 a < 6 g apresentou os
melhores resultados. Soares Filho et.al (2000) salientam que a quantidade de embriões
em uma sementes podem favorecer a taxa de germinação, vigor e IVE, desde que esse
número seja pequeno, caso contrário, a alta taxa de poliembrionia pode reduzir esses
parâmetros.
Os resultados obtidos por esse trabalho podem auxiliar viveiristas que desejam ter maior
rendimento de portas-enxerto a melhorarem a produção, simplesmente pela seleção de sementes.

99
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONCLUSÃO

A massa específica das sementes de Cajá não influencia na Germinação.

LITERATURA CITADA

Azevedo, D. M.; Mendes, A. M. & Figueiredo, A. F. 2004. Característica da


germinação e morfologia do endocarpo e plântula de taperebá
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101
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VISITANTES FLORAIS DO MARACUJAZEIRO NO IFES CAMPUS SANTA


TERESA

Gleides Pulcheira PAIXÃO2, Mariana Zandomênico MANGEIRO2, Mikaela Bruna


MATTEDI2, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*, Jacimar Berti BOTI2 & Eduardo
France OZA2
1, 2
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa
*mvspaixao@gmail.com

INTRODUÇÃO

A produção de frutos do maracujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims)


depende do tipo e da qualidade da polinização. Embora a espécie tenha flor completa, a
planta apresenta complexo sistema de autoincompatibilidade (Suassuna et al., 2003), e a
polinização cruzada é necessária para a produção de frutos, seja pela presença de um
polinizador eficiente, seja pela prática da polinização artificial (Yamamoto et al., 2010).
Um dos aspectos de maior relevância relacionados com a produtividade de uma
cultura é a polinização, que garante a fecundação dos óvulos e a boa formação do fruto.
Em plantas cítricas, pode ocorrer tanto a autopolinização quanto a polinização cruzada,
onde o pólen é transportado por entomofilia ou anemofilia (Reuther et al., 1968; Lim,
2001).
As flores do maracujá possuem anteras grandes, com um elevado número de
grãos de pólen, esses grãos são pesados, o que dificulta a polinização pelo vento. As
mamangavas são geralmente reconhecidas como os mais efetivos agentes polinizadores
naturais do maracujá, porém, como nem sempre a presença de mamangavas é suficiente,
outros animais contribuem com essa polinização (Fischer & Leal, 2006). De acordo
com Freitas & Oliveira Filho (2003), essa polinização permite um índice de vingamento
de frutos em torno 13%.
Estudos mostram que a proximidade a fragmentos de mata pode proporcionar
maior diversidade de agentes polinizadores em áreas de cultivo e aumento na eficiência
da polinização de espécies cultivadas, podendo assim esses resultados ajudar a aliar a
conservação de fragmentos florestais a agricultura (Kevan & Imperatriz, 2002; Kremen
et al., 2004; Chacoff & Aizen, 2006; Klein et al., 2007; Garibaldi et al., 2011).
Paulino (2005) menciona que insetos e plantas constituem seres vivos essenciais
para a manutenção da vida no planeta. As plantas além de fornecer oxigênio, são os
principais produtores de matéria orgânica, que direta e indiretamente nutrem diversos
ecossistemas da terra.
Devido à imobilidade das plantas, a polinização envolve obrigatoriamente um
vetor para o pólen, e necessariamente passará por três fases: remoção do pólen das
anteras, transporte e depósito dos pólen no estigma receptivo (Harder, 1997 apud
Santos, 1998). Segundo Gullan (2007), os agentes polinizadores mais abundantes em
angiospermas são os insetos. Afirma o autor que ocorre nessa interação uma relação
mutualística, onde há benefício para ambas as espécies. Pode-se dizer que há um “jogo
de interesse”, as plantas efetivam sua reprodução com mais eficiência enquanto os
insetos polinizadores retiram dos vegetais o seu alimento: o néctar e o pólen. O néctar é
composto de açúcares em especial a glicose, frutose e sacarose e o pólen possui
proteínas, açúcar, amido gorduras, traços de vitaminas e sais inorgânicos. Desse modo,
o autor ressalta que a polinização por isentos traz uma séries de benefícios: aumento na
eficiência da polinização, incluindo a redução de desperdício de pólen; a polinização

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

bem-sucedida sob condições não adequadas para a polinização por ventos; maximização
do número de espécies de plantas em uma dada área (já que mesmo plantas raras podem
receber polens da mesma espécie, carregados por insetos dentro de uma área).
A frutificação do maracujá depende inteiramente da polinização cruzada, em
virtude de ser uma planta que apresenta autoincompatibilidade, dependendo de agentes
polinizadores e visitantes florais. De acordo com Cobert & Willmer (1980), as flores do
maracujá se abrem após o meio dia e fecham-se ao anoitecer, algumas permanecem
abertas até o outro dia de manhã.
O objetivo da pesquisa foi identificar os visitantes florais do maracujazeiro, no
Ifes Campus Santa Teresa.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no campus do Instituto Federal do Espírito Santo


(IFES-Campus Santa Teresa), no período de agosto de 2015 a julho de 2016, localizado
na meso região Central Espírito-Santense, município de Santa Teresa-ES, coordenadas
geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da região
caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte
pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de
1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima
de 10,6 °C (Incaper, 2011).
O estudo foi feito na área de fruticultura do campo de produção, onde os
visitantes florais de maracujazeiro foram catalogados durante todo o período do projeto,
através de visitas diárias, fotografado e coletado.
As capturas foram feitas sempre às 8 horas, 12 horas e 16 horas. Cada coleta foi
armazenada em sacolas plásticas e encaminhada para o laboratório de biologia do
Campus Santa Teresa para identificação taxonômica e sistematização dos dados
coletados.
Após 10 meses de visitas à fruteira existente no pomar do Campus Santa Teresa,
todos os dados foram catalogados e ordenados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na observação em campo, os visitantes florais na cultura do maracujá, foram os


seguintes: Mamangava, A. melífera (figura 2), T. spinipes, Melipona mandaçaia, tripes e
coleópteras (figura 1). Os tripes e os coleópteros, permaneciam na mesma flor, não
ocorria a mudança de uma botão floral para outra (Tabela 1).
Na área do pomar, havia a presença de muitas A. mellifera, o que é prejudicial,
pois segundo Siqueira et al. (2009) a presença dessa espécie nas flores inibe a
aproximação da mamangava, T. spinipes também causa danos a frutífera, devido ao seu
hábito de danificar os brotos a fim de conseguir fibras para a construção do seu ninho, e
também por perfurar a câmara nectarífera retirando o néctar, cuja flor deixa de ser
atrativa para a mamangava, reduzindo assim o tempo e a frequência de visita deste
polinizador ao maracujazeiro (Sazima & Sazima, 1989). Há relatos de abelhas sem
ferrão (Apidae, Meliponini) expulsando os polinizadores e fazendo com que eles evitem
se aproximar das flores, simplesmente pela proximidade de Meliponini das flores
(Santos & Absy, 2010).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Tabela 1. Insetos visitantes florais no maracujá e o tempo médio de cada visita


Insetos Visitantes/Ordem Tempo médio de visita (s)
Mamangava (Hymenoptera) 18
Apis mellifera (Hymenoptera) 21
Trigona spinipes (Hymenoptera) 26
Jataí (Hymenoptera) 29
Melipona mandaçaia (Hymenoptera) 33
Tripes (Thysanoptera) Constante
Coleopteras diversos Constante

Apesar de muitas das características florais serem associadas à atração de


visitantes, e a visitação floral ser comumente associada à polinização, nem todos os
visitantes são polinizadores, o que pode fazer pensar que todo inseto que visita a flor faz
polinização. Os visitantes que são capazes de obter néctar, pólen ou outro recurso floral
sem realizar a transferência de pólen entre as flores são também chamados de pilhadores
(Inouye, 1980).
O néctar em Passiflora é secretado por glândulas que se localizam numa câmara
nectarífera no interior da flor. Desta maneira, o visitante que busca a secreção e possui
porte suficiente para polinização normalmente entra em contato com as anteras e os
estigmas. Desta forma, é importante verificar o volume e a concentração de néctar em
Passiflora, pois a variação da produção de néctar pode afetar a visitação das flores pelos
polinizadores (Benevides; Gaglianone & Hoffmann, 2009, Fischer & Leal, 2006).
Dentre os insetos coletados, de acordo com o citado na literatura sobre
polinizadores do maracujazeiro, podemos considerar que apenas a mamangava aparece
como polinizador, sendo que as outras espécies observadas como Apis mellifera,
Trigona spinipes, Jataí, Melipona mandaçaia, Tripes e os Coleopteras diversos atuavam
como pilhadoras nesta frutífera.
Oliveira (2013) constatou que nove espécies de insetos visitaram as flores de
Passiflora edulis, das quais três espécies de abelhas apresentaram comportamento de
polinizador. Conforme o autor, das espécies polinizadoras, a mais frequente foi
Tetragona sp. com 77% das visitas efetivas e Xylocopa sp. e entre as espécies que
apresentaram o comportamento de pilhagem foi observado Apis mellifera, Coleoptera,
Hymenopteras e Trigona spinipes.

Figura 1. Coleoptera em flor maracujá Figura 2. Apis mellifera em flor de maracujá


Fotos do autor

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONCLUSÃO

Os polinizadores do maracujazeiro catalogados na região do Campus Santa


Teresa estão de acordo com o que diversos autores constataram em outras regiões, com
uma diversidade de insetos visitantes no maracujazeiro, sendo que, de acordo com a
literatura apenas o mamangava apareceu como inseto polinizador da espécie.

LITERATURA CITADA

Benevides, C. R.; Gaglianone, M. C.; Hoffmann, M. 2009. Visitantes florais do


maracujá-amarelo (Passiflora edulis f. flavicarpa Deg. Passifloraceae) em áreas
de cultivo com diferentes proximidades a fragmentos florestais na região Norte
Fluminense, RJ. Revista Brasileira de entomologia, São Paulo, v. 53, n.3, p.
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Chacoff, N. P. & Aizen, M. A. 2006. Edge effects on flower-visiting insects in


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Greenleaf, S. S.; Holzschuh, A.; Isaacs, R.; Krewenka, K.; Mandelik, Y.;
Mayfield, M. M.; Morandin, L. A.; Potts, S. G.; Ricketts, T. H.; Szentgyörgyi,
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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

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106
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PRODUÇÃO DE MUDAS DE MARACUJAZEIRO AMARELO (Passiflora edulis


Sims) EM SUBSTRATO COM HÚMUS

Rafaela Barreto CAZAROTO1, Diego Pedruzzi DRAGO1, Iago Luke FABRI1, Hérica
CHISTÉ1, Leidiane ZINGUER1 & Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1*
1
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa
*email: mvspaixao@gmail.com

INTRODUÇÃO

O maracujazeiro (Passiflora edulis Sims f. flavicarpa Degener) é uma planta


cujo fruto tem grande importância econômica, alimentícia e social, sendo cultivado
principalmente nos países tropicais (Bernacci, 2015). Os pomares de maracujazeiro são
renovados a cada duas safras, gerando, assim, uma elevada demanda por mudas de boa
qualidade, definindo uma boa produtividade à lavoura a ser implantada (Meletti, 2010).
A propagação do maracujazeiro é feita normalmente por sementes (Oliveira et
al., 1984), os quais originam plantas mais vigorosas e precoces que aquelas
provenientes de enxertia (Maldonado, 1991).
Para a produção de mudas de maracujá, recomenda que sejam utilizadas
sementes novas, uma vez que o poder germinativo desta espécie decai rapidamente,
passando de cerca de 90%, logo após a produção, para menos de 20%, 6 meses depois
(Silva, 1998). A germinação da semente do maracujazeiro é influenciada negativamente
pela ação de substâncias reguladoras de crescimento presentes no arilo que envolve as
sementes; aliado ao fato de contribuir para uma germinação desuniforme, o arilo deve
ser adequadamente retirado visando, além da obtenção da máxima germinação, a
emergência rápida das plântulas (Pereira & Dias, 2000).
A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das
plantas em condições naturais e fisiologicamente inicia-se com a embebição de água
pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião quiescente e terminando
com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento. Na maioria dos casos, o
primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de germinação inicia-se com o
ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase que paralisadas após a
maturação da semente (Bewley & Black, 1982). Durante a germinação, o substrato
utilizado também pode influenciar na porcentagem final de germinação devido à sua
estrutura, aeração, capacidade de retenção de água e facilidade de infestação por
patógenos, o que pode variar, dependendo do tipo de material utilizado (Scalon, 1992;
Eschiapatia-Ferreira & Perez, 1997; Jeller & Perez, 1999).
Os substratos mais utilizados compõem-se basicamente de solo mineral e
matéria orgânica (Backes, 1988), uma vez que as condições ideais de um substrato
dependem da faixa exigência das espécies cultivadas, dificilmente se encontra um
material que por si só supre todas as condições para o crescimento destas plantas
(Grolli, 1991). Além de que, os materiais disponíveis apresentam uma serie de
problemas para as plantas e características muito diversas (Bordas et al., 1988), sendo
por isso preferível a mistura de dois ou mais componentes para a obtenção de um
substrato adequado (Backes et al., 1988), sendo que, os materiais adicionado em
proporções inferiores ou iguais a 50% do volume total, são denominado
condicionadores (Belle, 1990).

107
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

É praticamente impossível encontrar um substrato com todas as características


desejáveis, sendo, portanto, necessário misturar vários materiais para se conseguir um
substrato próximo ao ideal (Araújo - Neto et al., 2009).
O húmus de minhoca pode ser uma ótima alternativa de incremento para o
substrato comercial em sistema de produção orgânico por ser rico em fósforo, cálcio e
potássio. Também constitui um excelente fertilizante orgânico capaz de melhorar
atributos físicos e biológicos do solo, podendo ser utilizado para a produção de mudas
(Aquino & Loureiro, 2004).
O objetivo da pesquisa foi avaliar a produção de mudas de maracujazeiro
amarelo germinação/emergência de sementes de maracujá amarelo (P. edulis) e
desenvolvimento inicial das plântulas maracujá amarelo (P. edulis) utilizando diferentes
dosagens de húmus misturadaso a terra.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no viveiro de produção de mudas, sob tela de


poliolefina com 50% de sombreamento, setor de viveiricultura do Instituto Federal do
Espírito Santo (IFES - Campus Santa Teresa), no período de outubro a dezembro de
2015, localizado na mesor região Central Espírito-Santense, cidade de Santa Teresa-ES,
coordenadas geográficas 19º56’12”S e 40º35’28”W, com altitude de 155 m. O clima da
região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no inverno e forte
pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual média de
1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e mínima
de 10,6 °C (Incaper, 2011).
O delineamento experimental adotado foi em blocos casualizados (DBC),
composto de 4 tratamentos, 4 repetições e 25 tubetes por parcela, totalizando 400
mudas. Os tratamentos foram compostos por diferentes tipos de substratos, a saber: T1 -
Terra pura (testemunha100%); T2 -- Terra (90%) + húmus (10%); T3 -- Terra (80%) +
húmus (20%); T4 -- Terra (70%) + húmus (30%).
Os substratos foram acondicionados em tubetes pretos perfurados N-3, os quais
e ficaram em repouso por 24 horas, para permitir um maior acondicionamento do
substrato nos recipientes. Passado o período de repouso, as sementes foram retiradas
dos frutos e lavadas para remoção da mucilagem, sendo a semeadura realizada com uma
sementes por tubete, a uma profundidade de dois centímetros. Após a instalação do
experimento em casa de vegetação, foi feita irrigação diariamente.
Foram avaliadas as seguintes características: porcentagem de emergência (E) -
as contagens foram efetuadas diariamente e tiveram inicio com o surgimento das
primeiras plântulas; índice de velocidade de emergência (IVE) - foi avaliada através de
um índice determinado pela fórmula de Maguire (1962); e o tempo médio de
emergência (TME) - calculado segundo Labouriau & Valadares (1976). Passados 60
dias da emergência foram avaliados: comprimento da raiz (CR) (cm), comprimento da
parte aérea (CPA) (cm), número de folhas (NF), massa verde de raízes (MVR) e da
parte aérea (MVPA) e massa seca das de raízes (MSR) e da parte aérea (MSPA) (g).
Os dados experimentais coletados foram submetidos ao teste de Shapiro-Wilks
(p>0,05), para verificar a normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada
característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade.

108
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os tratamentos utilizados não interferiram na emergência das plântulas de


maracujazeiro amarelo (P. edulis), não houve diferenças estatísticas entre as médias
para as características porcentagem de emergência (E), índice de velocidade (IVE) e
tempo médio de emergência (TME) (Tabela 1).
Os resultados obtidos para a emergência de plântulas de maracujazeiro amarelo
(P. edulis), os quais variaram de 84,68 a 92,30%, estão próximos dos citados por Silva
(1998), os quais relataram que, os substratos não interferem na emergência de plântulas
quando a semente utilizada é de qualidade.
Os mesmos autores destacaram que, normalmente, a emergência das plântulas
ocorre entre 8 e 25 dias após o semeio, num percentual que varia de 50 a 90%,
necessitando, pois, de desbaste e que este deve ocorrer o mais rápido possível, podendo
ser feito por arranquio ou corte, tomando-se os devidos cuidados para que não ocorram
danos ao sistema radicular da muda escolhida.
Silva & Oliveira (2000), também não observaram diferenças significativas entre
os substratos em todas as variáveis analisadas, mostrando que a semente de
maracujazeiro não apresentou dificuldade para germinação e posterior emergência de
plântulas.

Tabela 1. Emergência de plântulas de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis)


Tratamentos E IVE TME
(dias)
Terra pura (100%) 84,68 a 2,21 a 14,53 a
Terra (90%) + húmus (10%) 92,30 a 2,56 a 13,29 a
Terra (80%) + húmus (20%) 88,85 a 2,46 a 13,27 a
Terra (70%) + húmus (30%) 89,55 a 2,43 a 13,52 a
Médias dos tratamentos seguidos da mesma letra em cada coluna, não diferem
estatisticamente em nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tuckey. Em que: E =
porcentagem de emergência; IVE = índice de velocidade de emergência; TME = tempo
médio de emergência.

Na Tabela 2 estão presentes os valores médios do comprimento, massa verde e


seca bem como número de folhas de plantas de maracujazeiro amarelo (P. edulis). O
comprimento da parte aérea foi favorecido nos tratamentos que possuem húmus em sua
composição, apresentando melhores resultados com 30% de húmus misturados a 70 %
de terra.
Quanto ao comprimento das raízes, não foi verificado diferenças significativas,
provavelmente porque as mesmas alcançaram o limite inferior do recipiente utilizado
devido ao longo período estipulado para avaliação. Assim, todos os tratamentos
forneceram boas condições de crescimento radicular da muda.
Quanto ao número de folhas por plântula observou-se médias semelhantes entre
os tratamentos contendo de húmus, os quais se sobressaíram numericamente em relação
à testemunha, entretanto não diferiram estatisticamente desta, sendo as melhores médias
para o tratamento Terra (70%) + húmus (30%), com diferença significativa para a
testemunha que apresentou menor número de folhas (Tabela 2).
Quanto às massas do sistema radicular, estas apresentaram diferenças estatísticas
tanto para massa verde quanto para massa seca, destacando-se como melhor o substrato
o que contendo continha 30% de húmus (Tabela 2).

109
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Os maiores valores médios para as massas verde e seca da parte aérea foram
obtidos na mistura terra (70%) + húmus (30%), porém sem diferenças significativas
entre todos os tratamentos. Já para a massa seca a média obtida no referido substrato
diferiu estatisticamente para do substrato com terra (90%) + húmus (10%) e da
testemunha, sugerindo que o húmus atuou diretamente na formação e desenvolvimento
da parte aérea da planta. Os resultados corroboram com os encontrados por Araújo et al.
(2013), os quais verificaram que uso de substrato composto por terra e húmus na
proporção 3:1 proporcionou os maiores valores de crescimento inicial em mamoeiro.
Santos et al. (2014) obtiveram bons resultados com a utilização de substratos com 100%
de húmus e com 10% de casca de arroz carbonizada mais 90% de húmus de minhoca na
produção de mudas de maracujazeiro.

Tabela 2. Crescimento inicial de mudas de maracujazeiro amarelo (Passiflora edulis).


Tratamentos CPA CR NF MVR MVPA MSR MSPA
Terra pura (100%) 11,52 b 20,08 a 4,95 b 1,19 c 2,44 b 0,22 c 0,77 c
Terra (90%) + húmus (10%) 13,61 ab 20,22 a 5,60 b 1,51 bc 3,30 ab 0,35 bc 0,89 bc
Terra (80%)+ húmus (20%) 14,25 ab 20,17 a 5,40ab 1,84 bc 3,74 ab 0,39 abc 1,16 ab
Terra (70%)+ húmus (30%) 14,28 ab 20,23 a 5,95 ab 2,78 a 4,12 ab 0,56 a 1,23 a
Médias dos tratamentos seguidos da mesma letra em cada coluna, não diferem estatisticamente em nível
de 5% de probabilidade pelo teste de Tuckey. CPA = comprimento da parte aérea (cm); CR=
comprimento da raiz (cm); NF = número de folhas; MVR = massa verde da raiz (g); MVPA =massa verde
da parte aérea (g); MVSR =massa seca da raiz (g); MSPA = massa seca da parte aérea (g).

CONCLUSÃO

O substrato composto por terra 70% + húmus 30%, pode ser utilizado indicado para a
produção de mudas de maracujazeiro amarelo (P. edulis).

LITERATURA CITADA

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

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112
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

VEGETAIS RUDERAIS INVASORES EM CAMPOS DE FUTEBOL

Jacimar Berti BOTI1*, Diogo Rocha BOTI2 & Fernando Zanotti MADALON3
1
Professor aposentado do Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa
2
Professor do Estado -Vitória-ES
3
Mestrando em produção Vegetal Ufes
*jbertiboti@bol.com.br

INTRODUÇÃO

Vegetais ruderais ou plantas invasoras, daninhas ou mato, são vegetais que


recebem as mais diferentes terminologias mencionadas por vários autores. Quando estas
plantas crescem juntas de plantas cultivadas, podem competir com estas por: água, luz e
nutrientes, reduzindo-lhes a produtividade, tendo alta interferência no desenvolvimento
de gramados, e em alguns casos, exercendo inibição química, causando prejuízos
consideráveis (Albuquerque, 2009; Lorenzi, 2008). Em campos de futebol, as plantas
invasoras, daninhas ou ruderais são consideradas impertinentes, por deixar a gramado
com aspecto de abandono ou campo mau cuidado.
Os diferentes campos de futebol possuem determinadas características, como a
espécie de grama utilizada, a constante manutenção e as técnicas de cuidados adotadas
(Godoy et al, 2012). Os gramados onde se pratica o futebol necessitam estar com bom
aspecto, ser lisos, macios e bem nivelados, para permitir uma boa condição para a
prática do futebol, pois os jogadores precisam ter segurança em todos os seus
movimentos dentro das quatro linhas do jogo, diminuindo com isso, o risco de quedas e
algumas lesões (informação pessoal).
Entre as espécies de gramas mais cultivadas nos gramados brasileiros, destacam-
se: Batatais ou Bahia (Paspalum notatum), São Carlos (Axonopus compressus), Santo
Agostinho (Stenotaphrum secundatum) e Esmeralda (Zoysia japonica). Essa última,
trata-se de uma grama mais macia (Pimenta, 2003)
A grama precisa ser uniforme, apresentando também um aspecto visual
agradável aos olhos dos torcedores, estando bem distribuída, sem falhas e devidamente
enraizada com um crescimento nivelado, porém sem estar danificada em determinados
pontos, pois pode ocorrer o risco de segurar a chuteira do jogador e causando uma
torção no joelho do atleta (Godoy et al., 2006; Silva,2007).
Atualmente, existem uma revolução técnica que vem acontecendo com diversos
gramados cultivados, sendo crescente o interesse pelas técnicas modernas de produção,
implantação e manutenção desses gramados, evitando assim a proliferação de plantas
invasoras (Souza, 2012).
Identificar as plantas invasoras e conhecer sua biologia, tem uma importância
fundamental para o manejo dessas plantas, principalmente, conhecendo o tipo de solo,
local onde esta se desenvolve, para os seus respectivos controles (Albuquerque, 2009).
Atualmente, as práticas mais conhecidas para o controle das plantas invasoras
em campos de futebol são: o arranquio manual, a capina e o controle químico
(informação pessoal).
O presente trabalho teve como objetivo identificar as plantas invasoras em
quatro campos de futebol, sendo três com grama batatais (Paspalum notatum L.) e um
menor com grama esmeralda (Zoysia japonica Steud).

113
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em quatro campos de futebol, durante o mês de setembro


de 2010. Sendo três deles localizados no Campus do IFES Santa Teresa (19 48’36”S e
40 40’33”W), e outro campo localizado na comunidade de São João de Petrópolis,
distrito de Santa Teresa-ES (19.48’37”S e 40 34’46”W), três com medidas oficiais de
90m/110m e um menor, medindo 15m/22m As plantas foram localizadas nos
respectivos campos de futebol, coletadas, acondicionadas em folhas de jornais,
prensadas e com auxílio de livros técnicos e chaves botânica, a grande maioria foi
identificada no laboratório de Biologia do Ifes Santa Teresa, outras foram identificadas
no Herbário da Universidade Federal de Viçosa-MG.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados 76 espécimes, identificando-se 59 espécies, dentre elas, as mais


freqüentes foram: carrapicho-beiço de boi (Desmodium incanum D.C.) encontrada em
todos os campos amostrados (Figura 1); capim braquiária (Brachiaria decumbens Stapf)
encontrada nos três campos de maior dimensão; capim marmelada (Brachiaria
plantaginea Link) encontrada em apenas um dos campos com maior dimensão; capim
carrapicho (Cenchrus echinatus L.) encontrada em dois campos maiores; grama seda
(Cynodon dactylon L.) também encontrada em todos os campos amostrados; capim mão
de sapo (Dactyloctenium aegyptium L.); capim colchão (Digitaria horizontalis Willd.);
capim pé de galinha (Eleusine indica L.) ambos encontrados no campo de menor
dimenssão; capim amargoso (Digitaria insularis L.); capim colonião (Panicum
maximum Jacq); capim quicuio (Pennisetum clandestinum Hochst.) encontrados em um
dos campos com maior dimensão; capim natal (Rhynchelytrum repens Willd.)
encontrado somente no campo menor; tiririca (Cyperus rotundus L.) encontrado em
dois campos de futebol maiores, e picão preto (Bidens pilosa L.) foi amostrado somente
no campo menor.

Figura 1. carrapicho-beiço de boi Desmodium incanum D.C.

A grama batatais (P. notatum) é muito rústica e mais espessa que a grama
esmeralda, acreditamos que essa espécie oferece mais resistência às plantas invasoras,
sendo que foi encontrado um menor número de espécimes ruderais nesses campos de
futebol. A batatais é menos comercializada no Brasil e encontra-se em diversos campos

114
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

de futebol (Gurgel, 2003). A grama esmeralda e a mais cultivada no Brasil por ser mais
lisa, macia e menos rústica (Zanon & Pires, 2010). Devido a essas características e
oferecer também mais umidade ao terreno, observamos que pode ocorrer nesses
gramados um ambiente propício ao desenvolvimento de plantas invasoras, pois foi o
que constatamos nesse estudo, com um maior número de espécimes coletados (23) no
campo com grama esmeralda, pois reforçamos esses argumentos em (Albuquerque,
2009) relatando que as espécies daninhas tem alta interferência nos gramados, sendo
que a infestação destas pode até mesmo destruir o gramado completamente. Segundo
Paula (1999), entre 20 e 30% da produção nacional de grama é perdida, devido à
infestação de plantas daninhas.
Diante do exposto, há relatos de que as plantas invasoras, uma vez instaladas,
podem reproduzir-se mais rápido do que as gramas, aumentando sua população e
dominando o local (Nordi & Landgraf, 2009). Para se ter um bom gramado, é de suma
importância o combate às plantas invasoras, dentre eles, o controle preventivo, controle
cultural, mecânico e manual (Albuquerque, 2009).

CONCLUSÃO

Essas espécies de plantas ruderais invasoras em campos de futebol são


facilmente observadas em diversos gramados, principalmente carrapicho-beiço de boi
(Desmodium incanum) que foi o mais encontrado nesse estudo. Acreditamos que os
produtores possam fazer um manejo mais eficiente na produção dessas gramas para o
combate a essas espécies invasoras. Esperamos que esse levantamento das espécies
invasoras em campos de futebol possa ajudar aos futuros pesquisadores para que se
tenha um mapeamento regional dessas espécies, possibilitando assim, um controle mais
adequado.

LITERATURA CITADA

Albuquerque, B.C. 2009 Estudo da viabilidade técnica do cultivo de gramas Esmeralda


(Zoysia japônica) na região de Formosa GO. Boletim Técnico das Faculdades
Integradas Departamento de Agronomia, Planaltina, DF, 24p.

Godoy, L.J.G.; Villas Bôas, R.L.; Bull, L.T. 2006 O gramado encobre segredos.
Agrianual São Paulo, Instituto FNP, 432p.

Godoy, L.J.G.; Villa Bôas, R.L.; Backes, C.; Lima, C.P. Santos, A. J. M. 2012.
Nutrição, adubação e calagem para produção de gramas. Botucatu: FEPAF. 146
p.

Gurgel, R. G. A. 2003 Principais variedades e espécies de gramas. In: Simpósio Sobre


Gramados. Botucatu. Anais. Universidade Estadual Paulista, 1 CD-ROM.

Lorenzi, H. 2008 Plantas daninhas do Brasil: terrestres, aquáticas, parasitas e tóxicas. 4.


ed. Nova Odessa: Plantarum,.640p.

Nordi, J. C.; Landgraf, P. R. C. 2009 Composição florística e fitossociologia da


comunidade infestante em gramado de Paspalum notatum Flügge no laboratório
de botânica da Universidade de Taubaté, SP. Revista Biociências, Unitau, v.15,
n.2.

115
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Pimenta, C.H. 2003. Produção de gramas. In: I Sigra – “Simpósio sobre gramados –
produção, implantação e manutenção”, Botucatu. Anais. FCA/Unesp.
Silva, A. A. 2007 Tópicos em manejo de plantas daninhas. 1a ed. Viçosa, MG, Editora
UFV, 367p.

Souza, L. A. 2012. Deposição do herbicida 2,4-D amina com diferentes volumes e


pontas de pulverização em plantas infestantes. Rev. Ciênc. Agron. v. 43, n. 1, p.
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Zanon, M. E.; Pires, E. C. 2010. Situação atual e perspectivas do mercado de gramas no


Brasil. In: Godoy, L. J. G. et al. Tópicos atuais em gramados II. Botucatu:
Unesp, Faculdade de Ciências Agronômicas, 205 p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AMARYLLIDACEAE J. ST.-HIL. NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL:


RESULTADOS PRELIMINARES

Renara Nichio AMARAL1,3* & Anderson ALVES-ARAÚJO2,3


1
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS, Programa de Pós Graduação em Botânica - PPGBot
2
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES/CEUNES
3
Laboratório de Sistemática e Genética Vegetal
*renaranichio@hotmail.com
INTRODUÇÃO

Amaryllidaceae J. St.-Hil. é uma família de monocotiledôneas que se encontra


inserida na ordem Asparagales juntamente com famílias como Orchidaceae,
Asparagaceae e Iridaceae (APG IV, 2016). Muitas espécies da família possuem
potencial ornamental e alguns dos gêneros mais frequentemente utilizados são
AmaryllisL., Narcissus L., Zephyranthes Herb.e Hippeastrum Herb.
A família possui 73 gêneros e 1.605 espécies com ampla distribuição geográfica,
porém são principalmente tropicais e subtropicais com centros de diversidade na
América do Sul, África do Sul e a zona mediterrânea da Europa e da África (Arroyo
&Cutler, 1984; Meerow, 2004). Amaryllidaceae está dividida em três subfamílias
monofiléticas baseadas em caracteres morfológicos, moleculares e bioquímicos:
Amaryllidoideae, Allioideae e Agapanthoideae (APG IV, 2016; Meerow & Snijman,
1998; Meerow et al.,1999).
Os representantes americanos de Amaryllidaceae são ervas bulbosas com folhas
simples, sésseis ou pseudo-pecioladas, dísticas ou rosuladas, com inflorescências
umbeliformes uni a multifloras, protegidas por brácteas espatais terminais, que podem
ser livres ou conadas; flores vistosas e bissexuais, eretas ou declinadas, com três
sépalas, três pétalas e seis estames, mais raramente cinco, declinados ou eretos,
distribuídos em dois verticilos, subiguais ou de tamanhos diferentes, os filetes estão
inseridos na fauce e as anteras são geralmente dorsifixas, raramente basefixas, com
deiscência longitudinal. O estilete é filiforme e apresenta estigma quepode ser capitado,
trilobado ou trífido (Merrow & Snijman, 1998; Merrow, 2004).
No Brasil são registrados 18 gêneros, quatro deles são exclusivamente
brasileiros: Cearanthes Ravenna, GriffiniaKer Gawl., Tocantinia Ravenna, Worsleya
Traub e 139 espécies (BFG, 2015).
O Espírito Santo, considerado o sétimo estado mais rico do Brasil em termos de
espécies de angiospermas (Dutra et al., 2015), representando cerca de 16,5% da riqueza
total de espécies no Brasil (BFG, 2015),está incluído no Corredor Central da Mata
Atlântica (Aguiar et al., 2005), uma das principais regiões de endemismo de plantas no
Brasil (IPEMA, 2005). Entre as espécies de angiospermas ocorrentes no estado, muitas
são restritas e atualmente classificadas como ameaçadas (BFG, 2015; Martinelli &
Moraes, 2013). O gênero Griffinia, endêmico do Brasil com ocorrência para o Espírito
Santo, possui muitas espécies categorizadas como em perigo ou criticamente em perigo
(Martinelli & Moraes, 2013).
Informações taxonômicas com chaves de identificação para as espécies da
família ocorrentes no Brasil são relativamente escassas, onde se pode citar os trabalhos
realizados por Dutilh (1987), Dutilh (1996), Alves-Araújo et al. (2009), Oliveira et al.
(2010), Oliveira et al. (2013) e Amaral-Lopes & Cavalcanti (2015). E dificuldades na
interpretação e utilização de caracteres vegetativos de Amaryllidaceae são comumente
relatadas e ditas como pouco informativas à taxonomia da família. Desta forma, diante

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

do exposto e das escassas informações disponíveis acerca das espécies de


Amaryllidaceae no Brasil e, especialmente, das espécies ocorrentes no Espírito Santo, o
presente estudo se propôs a realizar o tratamento taxonômico das espécies da família
nativas do estado.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Espírito Santo possui área de aproximadamente 46.078 km2equivalente a 0,53% da


área do Brasil. Localizado na porção oriental da Região Sudeste, limitando-se ao norte
com o Estado da Bahia, a leste com o Oceano Atlântico, ao sul com o Estado do Rio de
Janeiro e a oeste com o Estado de Minas Gerais.Situado na região tropical, apresentando
um clima quente e chuvoso, com temperaturas médias anuais de 20° e 25° C e volume
de precipitação superior a 1.400 mm por ano, especialmente concentrada no verão
(Antongiovanni & Coelho, 2005; Governo do Estado, 2010).

Coletas e herborização
Expedições de coleta direcionadas estão sendo realizadas buscando inventariar
as espécies da família no Espírito Santo. As amostras estão sendo coletadas e
herborizadas de acordo com os procedimentos usuais de trabalhos de campo e de
herborização (Bridson & Forman, 1998) e são acompanhadas de seus respectivos
registros fotográficos e dados de coordenadas geográficas por meio do aparelho de GPS
(Global Positioning System)como forma de obtenção de informações sobre a
distribuição geográfica e aspectos ecológicos das espécies estudadas. Quando
necessário, amostras adicionais foram coletadas e acondicionadas em recipientes
adequados e preservadas em álcool etílico 70%, para estudos morfológicos e posterior
identificação. Dada a peculiaridade morfológica do grupo taxonômico em questão,
indivíduos encontrados em campo em estádio vegetativo foram levados para a
Universidade Federal do Espírito Santo e serão mantidos sob cultivo.
As coleções botânicas VIES (Universidade Federal do Espírito Santo), MBML
(Museu de Biologia Profº Mello Leitão), CVRD (Herbário da Reserva Natural Vale)
estão sendo visitadas e consultadas de modo a auxiliar na busca e compreensão de
materiais provenientes da área de estudo.

Análise de dados

A identificação dos táxons está sendo realizadaa partir de bibliografias


especializadas, por meio do método comparativo de vouchers e consultas aos tipos
nomenclaturais.
A caracterização dos táxons baseia-se no material examinado. O conjunto de
características observadas é organizado em uma matriz de caracteres morfológicos que
será utilizada para a descrição de cada táxon.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir de levantamento de espécies de Amaryllidaceae realizado através de


consulta a Flora do Brasil (BFG, 2015), a Lista do Espírito Santo (Dutra et al., 2015),
das espécies registradas em herbários indexados ao speciesLink/CRIA e de espécies

118
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

coletadas em expedições a campo obteve-se, até o momento, um total de 17 táxons da


família, tanto nativos quanto naturalizados, registrados para o Espírito Santo (Tabela 1 e
Figura 1).

Hippeastrum é o gênero mais representativo até o momento com nove espécies,


representando 53% da riqueza de espécies de Amaryllidaceae registradas para o estado,
seguido de Griffinia com seis espécies.

Figura 1. A -Hippeastrum aulicumHerb. (mantido sob cultivo); B e C-Griffinia


liboniana C. Morren; D - Hippeastrum puniceum(Lam.) Kuntze; E-Hippeastrum
reticulatum Herb.;F - Hippeastrum glaucescens(Mart.) Herb.; G – Crinum americanum
L.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Tabela 1. Lista de Espécies de Amaryllidaceae ocorrentes no Espírito Santo.


Gênero Espécie
Crinum americanum L.
scabrumHerb.
Griffinia colatinensis Ravenna
concinna (Mart. ex Schult. & Schult.f.) Ravenna
espiritensis Ravenna
hyacinthina Ker Gawl.
liboniana C. Morren
parviflora Ker Gawl.
Hippeastrum aulicum Herb.
brasilianum (Traub & J.L.Doran) Dutilh
calyptratum Herb.
correiense(Bury) Worsley
glaucescens (Mart.) Herb.
puniceum (Lam.) Kuntze
reginae(L.) Herb.
reticulatum Herb.
striatum (Lam.) Moore

Segundo CNCFlora (2017), Griffinia colatinensis e G. parviflora estão


categorizadas como criticamente em perigo (CR), enquanto G. espiritensis, G.
hyacinthina, G. liboniana, Hippeastrum brasilianum, H. reginae e H. striatum
encontram-se categorizadas como em perigo (EN). As demais espécies não tiveram suas
categorias de ameaça definidas até o momento. Estes dados evidenciam a importância
de estudos como este para maior compreensão das espécies da família, fornecendo
assim conhecimento necessário para que estratégias de conservação para as espécies
ameaçadas possam ser desenvolvidas.

CONCLUSÃO

Embora os resultados sejam preliminares, a diversidade taxonômica da família


deve-se à grande variedade de hábitats em que as espécies de Amaryllidaceae são
encontradas no estado. Este número tende a crescer, uma vez que os esforços de coleta
estão sendo direcionados. Tais dados reforçam a importância de estudos taxonômicos
para o conhecimento da flora do Estado,e, além disso, contribuem para a conservação e
manejo das Unidades de Conservação reconhecidas no Espírito Santo.

5. LITERATURA CITADA

Aguiar, A.P.; Chiarello, A.G.; Mendes, S.L. & Matos, E.N. 2005. Os Corredores
Central e da Serra do Mar na Mata Atlântica brasileira. In: Galindo-Leal, C. &
Câmara, I.G. (eds.). Mata Atlântica: biodiversidade, ameaças e perspectivas.
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Aplicadas à Biodiversidade, Belo Horizonte. Pp. 119-132.

Alves-Araújo, A.; Dutilh, J. H. A. & Alves, M. 2009. Amaryllidaceae s.s e Alliaceae s.s
no Nordeste Brasileiro. Rodriguésia60 (2): 311-331.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Amaral-Lopes, A. C. &Cavalcanti, T. B. 2015. Habranthus (Amaryllidaceae) do Brasil.


Rodriguésia 66 (1): 203-220.
Antongiovanni, L.L. & Coelho, A.L.N. 2005. Panorama de desertificação do estado do
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Arroyo, S.C. & Cutler, D.F. 1984. Evolutionary and taxonomic aspects of the internal
morphology in the Amaryllidaceae from South American and Southern Africa.
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Garden, Lubrecht & Cramer Ltd., p. 348.

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search. Disponível em http://www.splink.org.br/index, Acesso em 24/04/2017.

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Hippeastrum Herb. Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de
Campinas.

Dutilh, J. H. A. 1996. Biossistematica de quatro especies de Hippeastrum


(Amaryllidaceae). Tese de Doutorado. Universidade de Campinas.

Dutra, V. F.; Alves-Araújo, A. & Carrijo, T. T. 2015. Angiosperm Checklist of Espírito


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<http://www.es.gov.br/EspiritoSanto/Paginas/geografia.aspx> Acesso em: 29
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Martinelli, G. & Moraes, M.A. (orgs.). 2013. Livro vermelho da flora do Brasil. Andrea
Jakobsson / Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 1100p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

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Meerow, A. W.; Fay, M. F.; Guy, C. L.; Li, Q.; Zaman, F. Q. & Chase, M. W. 1999.
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Meerow, A. W. & Snijman, D. A. 1998. Amaryllidaceae. In: K. Kubitzki, H. Huber, P.
J. Rudall, P. S. Stevens, T. Stüzel, & K. Kubitzki (Ed.), The families and genera
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Brazil. Phytotaxa 145 (1): 38–46.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

COMMELINACEAE MIRB. NO ESPÍRITO SANTO, BRASIL: DADOS


PRELIMINARES

Quélita dos Santos MORAES1*, RenaraNichio AMARAL2 & Anderson ALVES-


ARAÚJO3
1
Programa de Pós Graduação em Biodiversidade Tropical – PPGBT, Universidade Federal do Espírito
Santo – UFES / Laboratório de Sistemática e Genética Vegetal - SGV
2
Programa de Pós Graduação em Botânica – PPGBot, UniversidadeEstadual de Feira de Santana – UEFS
3
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES/CEUNES
*quelitasm@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Commelinaceae Mirb. (Commelinales) (APG IV, 2016) é dividida duas


subfamílias: Cartonematoideae (Cartonema R. Br., com 11 espécies australianas, e
Triceratella Brenan, gênero monotípico ocorrente na África do Sul) e Commelinoideae,
com 39 gêneros e aproximadamente 630 espécies, amplamente distribuída nas regiões
tropicais e temperadas, sendo o gênero mais representativo Commelina L., com ca. 230
espécies (Faden & Hunt, 1991). Para o Brasil, 98 táxons são citados, dos quais 52 são
endêmicos (BFG, 2015). No Espírito Santo, 29 espécies organizadas em 10 gêneros são
registradas, sendo Dichorisandra J.C. Mikan o gênero mais rico com 13 espécies,
seguido por Commelina L. (cinco spp.), e Tradescantia L. (três spp.) (BFG, 2015).
Os representantes da família são ervas eretas ou decumbentes, às vezes
trepadeiras, geralmente suculentas, terrestres, rupícolas, aquáticas, raro epífitas. Folhas
alternas, dísticas ou espiraladas, raramente pecioladas (geralmente a lâmina
apresentando um estreitamento na base, chamado de pseudopecíolo), com bainha
fechada. Inflorescências tirsóides, terminais e/ou axilares ou basais, compostas por
poucos ou numerosos cincinos, subtendidas por brácteas foliáceas ou envolvidas por
brácteas espatáceas. Flores trímeras, actinomorfas ou zigomorfas; fruto cápsula
loculicida, raramente indeiscentes, e sementes com uma caliptra por onde germina o
embrião (denominada embrioteca) (Faden, 1998).
A família exibe variação morfológica notável, principalmente nas flores e na
inflorescência. Essa variação morfológica gerou interpretações discrepantes das relações
e das classificações para a família (Evans et al., 2003). Além disso, as informações a
respeito da caracterização taxonômica para as espécies de Commelinaceae existentes no
Espírito Santo ainda são bastante escassas.
Nesse contexto, com o propósito de contribuir com o estudo da família no
estado, a presente proposta visa realizar o tratamento taxonômico das espécies
capixabas para delimitação de gêneros e determinação das espécies e determinar a
diversidade de Commelinaceae no Espírito Santo, Brasil, designando os caracteres
morfológicos diagnósticos para as espécies de Commelinaceae ocorrentes no Espírito
Santo, bem como elaborar chaves de identificação, ilustrações e mapas de distribuição
geográfica.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O estado do Espírito Santo possui área de 46.008,12 km² e encontra-se


integralmente no bioma Mata Atlântica (IESB, 2007). Localizado na porção oriental da
Região Sudeste, limitando-se ao norte com o Estado da Bahia, a leste com o Oceano
Atlântico, ao sul com o Estado do Rio de Janeiro e a oeste com o Estado de Minas
Gerais. Situado na região tropical, apresentando um clima quente e chuvoso, com
temperaturas médias anuais de 20° e 25° C e volume de precipitação superior a 1.400
mm por ano, especialmente concentrada no verão (Antongiovanni & Coelho, 2005).

Coleta de dados

A coleta do material botânico está sendo realizada de maneira exploratória,


desde fevereiro/2017 até março/2018, priorizando as áreas de conservação do Estado.
As amostras coletadas são submetidas às técnicas usuais em taxonomia vegetal (Bridson
& Forman, 1998) e depositadas, prioritariamente, no Herbário VIES, com duplicatas
para o RB sempre que possível [acrônimo de acordo com Thiers (2016)]. Visitas às
principais coleções botânicas (VIES, CVRD, MBML e RB) estão sendo realizadas.

Análise de dados

A identificação dos táxons está sendo realizada por consulta às bibliografias


específicas e tipos nomenclaturais, além do método comparativo de vouchers
depositados nas principais coleções nacionais e internacionais. Os nomes dos autores
seguirão o proposto pelo IPNI (2016). Os táxons ameaçados foram reconhecidos com
base na “Lista de Espécies Ameaçadas do Brasil” (MMA, 2000) e, quando possível,
classificados segundo critérios da IUCN (2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base no levantamento de dados disponíveis no SpeciesLink (2017),


consulta a Flora do Brasil (BFG, 2015), na lista de angiospermas do estado do Espírito
Santo (Dutra et al. 2015) e por identificações taxonômicas, oriundas de expedições de
coletas já realizadas, 29 espécies foram registradas para o Espírito Santo até o momento
(Tabela 1, Figura 1), sendo o gênero Dichorisandra J.C. Mikan o mais representativo
(13 spp), seguido por Commelina L. (5 spp), Tradescantia L. (3 spp), Tripogadra Raf.
(2 spp) e Aneilema R. Br., Callisia Loefl., Floscopa Lour., Gibasis Raf., Siderasis Raf.
e Tinantia Scheidw. com apenas uma espécie cada.
Das 36 espécies citadas, 10 estão de alguma forma categorizadas: Commelina
benghalensis L., Commelina diffusa Burm.f., Commelina erecta L., e Tinantia erecta
(Jacq.) Fenzl como pouco preocupante (LC); Tripogandra warmingiana (Seub.)
Handlos como vulnerável (VU); Dichorisandra acaulis Cogn. e Siderasis fuscata
(Lodd.) H. E. Moore como em perigo (EN) e Dichorisandra neglecta Brade
categorizada como criticamente ameaçada (CR) (CNCFlora, 2017; IUCN, 2017).De
acordo com BFG (2015), Dichorisandra acaulis Cogn., Dichorisandra neglecta Brade,
Dichorisandra nutabilis Aona & M. C. E. Amaral, Dichorisandra velutina Aona & M.
C. E. Amaral e Siderasis albofasciata M. Pell. são espécies com distribuição conhecida
restrita ao Espírito Santo, evidenciando a importância de estudo com o grupo e

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

consequentemente a conservação das mesmas, visto que algumas espécies foram


encontradas fora de unidades de conservação.

Tabela 1. Espécies de Commelinaceae Mirb. listadas para o Espírito Santo, Brasil.

Gêneros Espécies
Aneilema brasiliense C.B.Clarke
Callisia repens (Jacq.) L.
Commelina benghalensis L.
diffusa Burm.f. subsp. diffusa
erecta L.
obliqua Vahl
rufipes Seub. var. rufipes
Dichorisandra acaulis Cogn.
albomarginata Lindenex Regel
glabrescens (Seub.) Aona & M.C.E.Amaral
hexandra (Aubl.) C.B.Clarke
incurva Mart. ex Schult.f.
neglecta Brade
nutabilis Aona & M.C.E.Amaral
. paranaësis D.Maia et al
penduliflora Kunth
procera Mart. ex Schult & Schult.f.
pubescens Mart. ex Schult & Schult.f.
tejucensis Mart. ex Schult & Schult.f.
velutina Aona & M.C.E. Amaral
Floscopa glabrata (Kunth) Hassk. var. glabrata
Gibasis geniculata (Jacq.) Rohweder
Siderasis albofasciata M. Pell.
Tinantia erecta (Jacq.) Fenzl
Tradescantia fluminensis Vell.
zanonia (L.) Sw.
zebrina Bosse
Tripogandra diuretica (Mart.) Handlos
warmingiana (Seub.) Handlos

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1.A. Aneilema brasiliense C.B.Clarke; B. Commelina benghalensis L.;


C. e D. Dichorisandra nutabilis Aona & M.C.E. Amaral; E. Dichorisandra velutina
Aona & M.C.E.Amaral; F. Tripogandra diuretica (Mart.) Handlos (Fotos A, B, e E:
Moraes, Q.S.; foto C e D: Freitas, J.; foto F: Hollunder, R.K.).

CONCLUSÃO

Embora preliminares, a diversidade taxonômica de Commelinaceae deve-se à


grande variedade de hábitats em que as espécies são encontradas no estado.
Aproximadamente um terço das espécies ocorrentes no Brasil são registradas para o
Espírito Santo e algumas delas restritas. Tais dados reforçam a importância de estudos
taxonômicos para o conhecimento da flora do Estado, contribuindo para a conservação e
manejo dentro e fora das áreas de conservação presentes no Espírito Santo.

LITERATURA CITADA

Antongiovanni, L.L. & Coelho, A.L.N. 2005. Panorama de desertificação do estado do


Espírito Santo. MMA. 20-26 p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

APG IV (The Angiosperm Phylogeny Group). 2016. An update of the Angiosperm


Phylogeny Group classification for the orders and families of flowering plants:
APG IV. Botanical Journal of the Linnean Society 181: 1–20.

BFG 2015. The Brazil Flora Group. Growing knowledge: an overview of Seed Plant
diversity in Brazil. Rodriguésia, v. 66, n. 4, p. 1085-1113.

Bridson, D. & Forman, L. 1998. The Herbarium Handbook. Richmond: Royal Botanical
Garden, Lubrecht& Cramer Ltd., p. 348.

CNCFlora. in Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de


Conservação da Flora. Disponível em <http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-
br/profile/>. (23/04/2017).

CRIA (Centro de Referência e Informação Ambiental). 2011. SpeciesLink – simple


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Dutra, V. F.; Alves-Araújo, A. & Carrijo, T. T. 2015. Angiosperm Checklist of Espírito


Santo: using electronic tools to improve the knowledge of an AtlanticForest
biodiversity hotspot. Rodriguésia 66 (4): 1145-1152.

Evans T.M.; Sytsma, K.J.; Faden, R.B.; Givnish,T.J. 2003. Phylogenetic Relationships
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Morphology. Systematic Botany, 28(2): 270-292 p.

Faden, R. B. 1998. Commelinaceae. – In: Kubitzki, K. (ed.), he families and genera of


vascular plants. Vol. 4. – Springer, pp. 109–128.

Faden, R. B. and Hunt, D. R. 1991. The classification of the Commelinaceae. – Taxon


40: 19–31p.

IESB - Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia. 2007. Levantamento da


Cobertura Vegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica. IESB – IGEO/UFRJ - UFF.
84p.

IPNI. The International Plant Names Index. 2016. Disponível em:


<http://www.ipni.org> (24/04/2017).

MMA. 2000. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da


Mata Atlântica e Campos sulinos. 40p. Brasília: MMA/SBF.

The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2017. <www.iucnredlist.org>


(24/04/2017).

Thiers, B. [continuously updated]. Index Herbariorum: A global directory of public


herbaria and associated staff. New York BotanicalGarden's Virtual Herbarium.
Disponivel em <http://sweetgum.nybg.org/science/ih/> (24/04/2017).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ANGIOSPERMAS NAS FLORESTAS ESTACIONAIS DA APA PEDRA DO


ELEFANTE, ESPÍRITO SANTO-BRASIL: DADOS PRELIMINARES

Jackson GURTLER1*, Renara Nichio AMARAL1, 2, Anderson ALVES-ARAÚJO1 &


André Márcio AMORIM3
1
Centro Universitário Norte do Espírito Santo, CEUNES/UFES, Laboratório de Sistemática e Genética
Vegetal - SGV
2
Universidade Estadual de Feira de Santana, UEFS, Programa de Pós Graduação em Botânica – PPGBot
3
Universidade Estadual de Santa Cruz, UESC, Herbário Centro Pesquisas do Cacau - CEPEC
*jgurtler@hotmail.com

INTRODUÇÃO

Segundo Ministério do Meio Ambiente, a Mata Atlântica é formada por um


conjunto de formações florestais, onde se destacam as florestas ombrófila densa,
ombrófila mista, estacional semidecidual, estacional decidual e ombrófila aberta, além
de apresentar ecossistemas associados como as restingas, manguezais e campos de
altitude. Atualmente os remanescentes desta formação vegetacional nativa estão
reduzidos a cerca de 22% de sua cobertura original e encontra-se em diferentes estágios
de regeneração, e destes apenas cerca de 7% estão bem conservados em fragmentos
acima de 100 hectares. (MMA, 2017)
Este bioma possui importância vital para aproximadamente 120 milhões de brasileiros
que vivem em seu domínio, onde é gerado aproximadamente 70% do PIB brasileiro, e
ainda presta importantes serviços ambientais. Como regular o fluxo dos mananciais
hídricos, assegurar a fertilidade do solo, regula o equilíbrio climático e protege escarpas
e encostas das serras, além de preservar um patrimônio histórico e cultural imenso, bem
como belezas cênicas (MMA, 2017).
As áreas protegidas avançaram expressivamente ao longo dos últimos anos, com
a contribuição dos governos federais, estaduais e mais recentemente dos governos
municipais além da iniciativa privada. Porém, a maior parte dos remanescentes de
vegetação nativa permanece sem proteção. (MMA, 2017)
Segundo Ribas et al., 2003, os esforços em inventariar a flora, somado a estudos
de ecologia, são considerados fundamentais e prévios para embasar quaisquer atividades
de uso, manejo, recuperação e conservação. Desta forma, os levantamentos são
necessários, pois indicam a presença de espécies em um determinado tempo e espaço,
permitindo assim às futuras gerações dados confiáveis de ocorrência e riqueza.
Nesse sentido, o presente estudo visa realizar o levantamento florístico das
angiospermas da floresta estacional semidecidual na APA Pedra do Elefante, Nova
Venécia - ES para aumentar o conhecimento sobre a composição florística desta
fisionomia, com intuito de auxiliar ações de conservação e recuperação ambiental no
estado do Espírito Santo.

MATERIAL E MÉTODOS

O inventário das angiospermas da floresta estacional semidecidual da APA


Pedra do Elefante foi realizado por meio de consulta as coleções de herbários indexados
aos projetos speciesLink/CRIA, 2011 e Jabot, 2005 isso permitiu a elaboração de uma
lista de angiospermas organizadas por famílias e gêneros conforme APG III, 2009, tal
lista evidencia ainda o endemismo e o status de conservação das espécies inventariadas,

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

que de acordo com a classificação do “Projeto Lista Vermelha” temos os seguintes


graus de ameaça, e que respectivamente significam: CR (Criticamente em Perigo)
compreende espécies que estão enfrentando um risco extremamente elevado de extinção
na natureza. DD (Dados insuficientes) Espécies que não possuem informações
suficientes para sua categorização de risco de extinção baseada na distribuição e/ou
status populacional mesmo esta sendo bem estudada, porém possui deficiência de dados
de abundância e/ou distribuição. EN (Em perigo) São espécies que enfrentam um risco
muito elevado de extinção na natureza. LC (Menos preocupante) Espécies que no
momento não se qualificam como ameaçadas, inclui-se nesta categoria espécies
abundantes e amplamente distribuídas. NE (Não avaliada) espécies que por algum
motivo não receberam uma classificação, podendo estar em alguma outra classificação.
NT (Quase ameaçada) Espécies que no momento não se qualificam como ameaçadas,
mas estão perto ou suscetíveis de serem qualificadas em uma categoria de ameaça num
futuro próximo e VU (Vulnerável) São espécies que enfrentam um risco de extinção
elevado na natureza.
Consultaram-se as coleções de 23 herbários, dos quais podemos destacar devido
ao alto número de amostras o MBML (Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, Santa
Teresa), MBM (Museu Botânico Municipal de Curitiba, Curitiba), CEPEC (Herbário do
Centro de Pesquisas do Cacau, Itabuna), UPCB (Herbário da Universidade Federal do
Paraná, Curitiba) VIES (Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória), NY (The
New York Botanical Garden, Bronx) RB (Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Jardim
Botânico).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao todo foram levantados 1.637 registros indexados aos projetos


speciesLink/CRIA, 2011 e JABOT, 2005, porém após a exclusão dos registros
duplicados bem como os taxa não identificados em nível específico, apurou-se 376
registros distribuidos em 84 famílias e todos os epitetos foram conferidos e corrigidos
quando necessário de acordo com a Flora do Brasil 2020, que além de fornecer o nome
correto e aceito, permitiu levantar o grau de ameaça de alguns registros de acordo com o
“Projeto Lista Vermelha” do Centro Nacional de Conservação da Flora que em parceria
com a rede de especialistas botânicos avaliam o grau de risco de extinção para as
famílias das espécies que já foram avaliadas, bem como se o mesmo é endêmico ou não
do Brasil, permitindo a elaboração da lista presente na Tabela 1.

Tabela 1. Lista das Espécies indexadas nos projetos speciesLink/CRIA, 2011 e JABOT,
2005, graus de ameaça CR (Criticamente em Perigo); DD (Dados insuficientes); EN
(Em perigo); LC (Menos preocupante); NE (Não avaliada); NT (Quase ameaçada) e VU
(Vulnerável), para o endemismo temos: Desc. (Desconhecido); End (Endêmica do
Brasil); N End (Não Endêmica do Brasil).
Taxon Ameaça Endemismo
Acanthaceae
Ruellia sceptrum-marianum (Vell.) Stearn NE Desc.
Ruellia villosa (Nees) Lindau NE End
Achariaceae
Carpotroche brasiliensis (Raddi) A Gray NE End
Amaranthaceae

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Hebanthe eriantha (Poir.) Pedersen LC N End


Anacardiaceae
Astronium glaziovii Mattick NE End
Spondias mombin L. NE N End
Spondias venulosa (Engl.) Engl. NE End
Tapirira guianensis Aubl. NE N End
Annonaceae
Guatteria australis A.St.-Hil. LC End
Apocynaceae
Mandevilla fistulosa M.F.Sales et al. NE End
Mandevilla grazielae M.F.Sales et al. NE End
Mandevilla microphylla (Stadelm.) M.F.Sales & Kin.-Gouv. NE End
Marsdenia fontellana Morillo & Carnevali DD End
Marsdenia loniceroides (Hook.) E.Fourn. NE End
Marsdenia macrophylla (Humb. & Bonpl. ex Schult.)
E.Fourn. NE N End
Oxypetalum pilosum Gardner NE End
Prestonia coalita (Vell.) Woodson NE N End
Tabernaemontana salzmannii A.DC. NE End
Araceae
Anthurium cleistanthum G.M.Barroso NE End
Anthurium comtum Schott NE End
Anthurium gomesianum Nadruz NE End
Anthurium ianthinopodum (Schott ex Engl.) Nadruz & Mayo NT End
Anthurium longifolium (Hoffmanns.) G.Don LC End
Anthurium parasiticum (Vell.) Stellfeld LC End
Anthurium scandens (Aubl.) Engl. NE N End
Anthurium solitarium Schott NE End
Heteropsis salicifolia Kunth NE End
Monstera adansonii Schott NE N End
Philodendron edmundoi G.M.Barroso NE End
Philodendron stenolobum E.G.Gonç. NE End
Syngonium vellozianum Schott NE N End
Araliaceae
Schefflera macrocarpa (Cham. & Schltdl.) Frodin NE End
Arecaceae
Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze LC End
Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret LC End
Attalea humilis Mart. NE End
Syagrus ruschiana (Bondar) Glassman VU End
Aristolochiaceae
Aristolochia gracilipedunculata F.González NE End
Asparagaceae
Herreria glaziovii Lecomte NE N End
Herreria salsaparilha Mart. NE End
Asteraceae

130
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Austroeupatorium inulaefolium (Kunth) R.M.King & H.Rob. NE N End


Baccharis serrulata (Lam.) Pers. NE End
Blainvillea acmella (L.) Philipson NE N End
Cololobus rupestris (Gardner) H.Rob. EN End
Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M.King & H.Rob. LC End
Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. NE End
Elephantopus mollis Kunth NE N End
Hebeclinium macrophyllum (L.) DC. NE N End
Lepidaploa cotoneaster (Willd. ex Spreng.) H.Rob. LC N End
Lepidaploa sororia (DC.) H.Rob. NE End
Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass. NE N End
Praxelis clematidea (Griseb.) R.M.King & H.Rob. NE N End
Praxelis pauciflora (Kunth) R.M.King & H.Rob. NE N End
Tridax procumbens L. NE N End
Begoniaceae
Begonia bahiensis A.DC. EN End
Begonia fischeri Schrank NE N End
Begonia ibitiocensis E.L.Jacques & Mamede EN End
Begonia lossiae L. Kollmann NE End
Bignonia sciuripabulum (K.Schum.) L.G.Lohmann NE N End
Bignoniaceae
Jacaranda puberula Cham. LC End
Adenocalymma subsessilifolium DC. NE End
Adenocalymma validum (K. Schum.) L.G. Lohmann NE N End
Fridericia conjugata (Vell.) L.G.Lohmann NE N End
Fridericia subincana (Mart.) L.G.Lohmann NE End
Mansoa difficilis (Cham.) Bureau & K.Schum. NE N End
Sparattosperma leucanthum (Vell.) K.Schum. NE N End
Boraginaceae
Varronia curassavica Jacq. NE N End
Bromeliaceae
Aechmea maasii Gouda & W.Till NT End
Aechmea phanerophlebia Baker NE End
Aechmea ramosa Mart. ex Schult. & Schult.f. NE End
Alcantarea trepida Versieux & Wand. NE End
Billbergia amoena (Lodd.) Lindl. NE End
Bromelia antiacantha Bertol. NE N End
Cryptanthus venecianus Leme & L.Kollmann NE End
Encholirium horridum L.B.Sm. EN End
Hohenbergia augusta (Vell.) E.Morren LC End
Orthophytum foliosum L.B.Sm. VU End
Pitcairnia suaveolens Lindl. NE End
Pseudananas sagenarius (Arruda) Camargo NE End
Pseudananas sagenarius (Arruda) Camargo NE End
Tillandsia recurvata (L.) L. NE N End
Tillandsia stricta Sol. NE N End

131
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Tillandsia tenuifolia L. LC N End


Tillandsia usneoides (L.) L. LC N End
Vriesea appariciana E.Pereira & Reitz DD End
Vriesea procera (Mart. ex Schult. & Schult.f.) Wittm. DD N End
Burmanniaceae
Burmannia capitata (Walter ex J.F.Gmel.) Mart. NE N End
Cactaceae
Brasiliopuntia brasiliensis (Willd.) A.Berger LC N End
Coleocephalocereus fluminensis (Miq.) Backeb. EN End
Lepismium cruciforme (Vell.) Miq. LC N End
Pereskia aculeata Mill. LC N End
Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. LC N End
Rhipsalis teres (Vell.) Steud. NE End
Calophyllaceae
Kielmeyera rupestris Duarte CR End
Cannabaceae
Trema micrantha (L.) Blume NE N End
Cannaceae
Canna indica L. NE N End
Capparaceae
Capparidastrum frondosum (Jacq.) Cornejo & Iltis NE N End
Crateva tapia L. NE N End
Celastraceae
Hippocratea volubilis L. NE N End
Cleomaceae
Cleome dendroides Schult. & Schult.f. NE End
Cleome microcarpa Ule NE End
Cleome rosea Vahl ex DC. NE End
Clusiaceae
Clusia criuva Cambess. LC End
Clusia nemorosa G.Mey. NE N End
Combretaceae
Terminalia mameluco Pickel NT End
Commelinaceae
Aneilema brasiliense C.B.Clarke NE N End
Commelina benghalensis L. NE N End
Commelina erecta L. NE N End
Commelina obliqua Vahl NE N End
Dichorisandra nutabilis Aona & M.C.E.Amaral NE End
Gibasis geniculata (Jacq.) Rohweder NE N End
Convolvulaceae
Bonamia agrostopolis (Vell.) Hallier f. NE N End
Jacquemontia martii Choisy NE End
Merremia macrocalyx (Ruiz & Pav.) O'Donell NE N End
Costaceae
Costus spiralis (Jacq.) Roscoe NE N End

132
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Costus spiralis (Jacq.) Roscoe var. spiralis NE N End


Cucurbitaceae
Cayaponia tayuya (Vell.) Cogn. NE End
Gurania tricuspidata Cogn. NE End
Psiguria umbrosa (Kunth) C.Jeffrey NE N End
Wilbrandia verticillata (Vell.) Cogn. NE End
Cyperaceae
Rhynchospora tenuis Link LC N End
Bulbostylis truncata (Nees) M.T.Strong NE N End
Cyperus coriifolius Boeckeler NE N End
Cyperus dichromeniformis Kunth NE End
Cyperus hermaphroditus (Jacq.) Standl. NE N End
Cyperus luzulae (L.) Retz. NE N End
Cyperus meyenianus Kunth NE N End
Cyperus simplex Kunth NE N End
Eleocharis interstincta (Vahl) Roem. & Schult. NE N End
Trilepis lhotzkiana Nees ex Arn. NE N End
Dilleniaceae
Davilla latifolia Casar. NE End
Dioscoreaceae
Dioscorea cinnamomifolia Hook. NE End
Dioscorea dodecaneura Vell. NE N End
Dioscorea monadelpha (Kunth) Griseb. NE End
Dioscorea multiflora Mart. ex Griseb. NE N End
Dioscorea ovata Vell. NE N End
Dioscorea piperifolia Humb. & Bonpl. ex Willd. NE N End
Dioscorea polygonoides Humb. & Bonpl. ex Willd. NE Desc.
Dioscorea pseudomacrocapsa G.M.Barroso et al. EN End
Dioscorea sincorensis R.Knuth NE End
Dioscorea stegelmanniana R.Knuth LC End
Eriocaulaceae
Actinocephalus polyanthus (Bong.) Sano NE End
Erythroxylaceae
Erythroxylum affine A.St.-Hil. NE End
Erythroxylum columbinum Mart. NE End
Erythroxylum nummularia Peyr. NE End
Erythroxylum passerinum Mart. LC End
Erythroxylum subrotundum A.St.-Hil. NE End
Erythroxylum vacciniifolium Mart. NE N End
Euphorbiaceae
Acalypha brasiliensis Müll.Arg. NE N End
Acalypha communis Müll.Arg. NE N End
Cnidoscolus oligandrus (Müll.Arg.) Pax NE End
Cnidoscolus urens (L.) Arthur NE N End
Croton lundianus (Didr.) Müll.Arg. NE N End
Croton triqueter Lam. NE N End

133
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Croton urticifolius Lam. NE N End


Dalechampia brasiliensis Lam. NE End
Euphorbia heterophylla L. NE N End
Euphorbia hyssopifolia L. NE N End
Manihot pohlii Wawra NE End
Manihot tripartita (Spreng.) Müll.Arg. NE End
Sapium glandulosum (L.) Morong NE N End
Stillingia argutedentata Jabl. NE End
Stillingia dichotoma Müll.Arg. NE End
Fabaceae
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr. LC N End
Albizia polycephala (Benth.) Killip ex Record NE End
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan NE End
Barnebydendron riedelii (Tul.) J.H.Kirkbr. NE N End
Bauhinia forficata Link NE N End
Bauhinia ovata (Bong.) Vogel NE End
Canavalia parviflora Benth. NE End
Centrosema arenarium Benth. NE End
Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip NE N End
Chamaecrista ensiformis (Vell.) H.S.Irwin & Barneby NE N End
Chamaecrista flexuosa (L.) Greene NE N End
Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene NE N End
Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene var. rotundifolia NE N End
Dalbergia frutescens (Vell.) Britton NE N End
Dalbergia miscolobium Benth. NE End
Deguelia costata (Benth.) A.M.G.Azevedo & R.A.Camargo NE End
Dioclea violacea Mart. ex Benth. NE N End
Inga striata Benth. NE N End
Inga subnuda Salzm. ex Benth. NE End
Inga subnuda subsp. luschnathiana (Benth.) T.D.Penn. NE End
Machaerium lanceolatum (Vell.) J.F.Macbr. NE End
Machaerium uncinatum (Vell.) Benth. NE End
Parapiptadenia pterosperma (Benth.) Brenan NE End
Rhynchosia phaseoloides (Sw.) DC. NE N End
Senegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose NE N End
Senna neglecta (Vogel) H.S.Irwin & Barneby NE N End
Gesneriaceae
Paliavana prasinata (Ker Gawl.) Benth. NE End
Sinningia brasiliensis (Regel & Schmidt) Wiehler &
Chautems LC End
Heliconiaceae
Heliconia psittacorum L.f. NE N End
Heliconia spathocircinata Aristeg. NE N End
Icacinaceae
Leretia cordata Vell. NE End
Lamiaceae

134
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke NE N End


Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze NE N End
Vitex polygama Cham. NE End
Lentibulariaceae
Utricularia subulata L. NE N End
Loasaceae
Aosa parviflora (Schrad. ex DC.) Weigend LC End
Loranthaceae
Struthanthus andersonii Kuijt NE End
Lythraceae
Cuphea carthagenensis (Jacq.) J.Macbr. NE N End
Malpighiaceae
Amorimia maritima (A.Juss.) W.R.Anderson NE End
Amorimia rigida (A.Juss.) W.R.Anderson NE End
Byrsonima coccolobifolia Kunth LC N End
Byrsonima crassifolia (L.) Kunth NE N End
Byrsonima intermedia A.Juss. NE End
Byrsonima nitidifolia A.Juss. NE End
Byrsonima pachyphylla A.Juss. NE N End
Byrsonima vacciniifolia A.Juss. NE End
Byrsonima variabilis A.Juss. LC End
Heteropterys bahiensis Nied. CR End
Heteropterys conformis W.R.Anderson CR End
Heteropterys leschenaultiana A.Juss. NE End
Hiraea fagifolia (DC.) A.Juss. NE N End
Lophopterys floribunda W.R.Anderson & C.C.Davis LC End
Niedenzuella acutifolia (Cav.) W.R.Anderson NE N End
Niedenzuella glabra (Spreng.) W.R.Anderson NE End
Stigmaphyllon auriculatum (Cav.) A.Juss. NE End
Stigmaphyllon mikanifolium R.F.Almeida & Amorim NE End
Tetrapterys crispa A.Juss. NE End
Tetrapterys discolor (G.Mey.) DC. NE N End
Tetrapterys phlomoides (Spreng.) Nied. NE N End
Malvaceae
Cavanillesia umbellata Ruiz & Pav. LC N End
Gaya pilosa K.Schum. LC N End
Pavonia multiflora A.St.-Hil. LC End
Sida cerradoensis Krapov. NE End
Sida rhombifolia L. NE N End
Sida spinosa L. NE N End
Triumfetta rhomboidea Jacq. NE N End
Wissadula hernandioides (L.Hér.) Garcke NE N End
Marantaceae
Goeppertia brasiliensis (Körn.) Borchs. & S. Suárez LC End
Goeppertia cylindrica (Roscoe) Borchs. & S.Suárez LC End
Goeppertia singularis (H.Kenn.) Borchs. & S.Suárez DD End

135
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Maranta divaricata Roscoe NE End


Maranta incrassata L.Andersson NE N End
Myrosma cannifolia L.f. NE N End
Melastomataceae
Clidemia hirta (L.) D.Don NE N End
Merianthera burlemarxii Wurdack EN End
Merianthera parvifolia R.Goldenb., Fraga & A.P.Fontana NE End
Miconia calvescens DC. NE N End
Miconia latecrenata (DC.) Naudin NE End
Miconia prasina (Sw.) DC. NE N End
Pleroma fissinervia Schrank et Mart. ex DC. NE End
Pleroma heteromalla D. Don (D.Don) NE End
Pleroma marinana P.J.F. Guim. & Fraga NE End
Meliaceae
Cedrela odorata L. VU N End
Moraceae
Clarisia ilicifolia (Spreng.) Lanj. & Rossberg NE N End
Dorstenia bonijesu Carauta & C.Valente LC End
Dorstenia elata Hook. LC End
Ficus clusiifolia Schott NE End
Ficus eximia Schott LC End
Ficus gomelleira Kunth NE N End
Helicostylis tomentosa (Poepp. & Endl.) Rusby LC N End
Sorocea hilarii Gaudich. NE End
Myrtaceae
Calyptranthes grandifolia O.Berg NE End
Campomanesia adamantium (Cambess.) O.Berg NE N End
Campomanesia eugenioides (Cambess.) D.Legrand ex
Landrum LC End
Eugenia florida DC. LC End
Eugenia oblongata O.Berg NE End
Eugenia sobraliana Giaretta & Fraga NE End
Marlierea racemosa (Vell.) Kiaersk. NE End
Myrcia eumecephylla (O.Berg) Nied. EN End
Myrciaria delicatula (DC.) O.Berg NE N End
Myrciaria tenella (DC.) O.Berg DD N End
Plinia rivularis (Cambess.) Rotma NE N End
Psidium brownianum Mart. ex DC. NE End
Nyctaginaceae
Guapira opposita (Vell.) Reitz NE N End
Bougainvillea spectabilis Willd. NE End
Ramisia brasiliensis Oliv. NE End
Olacaceae
Heisteria perianthomega (Vell.) Sleumer NE End
Onagraceae
Ludwigia erecta (L.) H.Hara NE N End

136
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ludwigia octovalvis (Jacq.) P.H.Raven NE N End


Orchidaceae
Pseudolaelia citrina Pabst EN End
Acianthera auriculata (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase LC N End
Acianthera prolifera (Herb. ex Lindl.) Pridgeon &
M.W.Chase NE N End
Anathallis sclerophylla (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase NE End
Campylocentrum labiakii E. Pessoa & M . Alves NE End
Eltroplectris triloba (Lindl.) Pabst NE N End
Epidendrum campaccii Hágsater & L.Sánchez NE End
Jacquiniella globosa (Jacq.) Schltr. LC N End
Oncidium baueri Lindl. NE N End
Prescottia plantaginifolia Lindl. ex Hook. NE End
Prosthechea fragrans (Sw.) W.E.Higgins NE N End
Sobralia sessilis Lindl. NE End
Zygopetalum maculatum (Kunth) Garay LC N End
Oxalidaceae
Oxalis neuwiedii Zucc. LC End
Passifloraceae
Passiflora alata Curtis NE End
Passiflora malacophylla Mast. LC End
Passiflora misera Kunth NE N End
Passiflora mucronata Lam. NE End
Phyllanthaceae
Phyllanthus caroliniensis Walter NE N End
Phyllanthus subemarginatus Müll.Arg. VU End
Phytolaccaceae
Seguieria langsdorffii Moq. LC End
Piperaceae
Peperomia arifolia Miq. NE N End
Peperomia ciliato-caespitosa Carv. -Silva & E.F.Guim. NE N End
Peperomia rubricaulis (Nees) A.Dietr. NE N End
Peperomia trinervis Ruiz & Pav. LC N End
Piper aduncum L. NE N End
Piper amalago L. NE N End
Piper amalago var. medium (Jacq.) Yunck. NE N End
Piper arboreum Aubl. NE N End
Piper arboreum var. hirtellum Yunck. NE N End
Piper boucheanum C.DC. NE N End
Piper corcovadensis (Miq.) C.DC. NE End
Piper divaricatum G.Mey. NE N End
Piper umbellatum L. NE N End
Plantaginaceae
Achetaria crenata (Ronse & Philcox) V.C.Souza NE End
Plumbaginaceae
Plumbago scandens L. NE N End

137
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Poaceae
Aulonemia amplissima (Nees) McClure NE End
Chusquea ramosissima Lindm. NE N End
Ichnanthus bambusiflorus (Trin.) Döll LC N End
Ichnanthus grandifolius (Döll) Zuloaga & Soderstr. NE End
Olyra latifolia L. NE N End
Oplismenus hirtellus (L.) P.Beauv. NE N End
Pharus latifolius L. LC N End
Polygalaceae
Bredemeyera floribunda Willd. NE N End
Portulacaceae
Portulaca hirsutissima Cambess. NE N End
Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn. NE N End
Talinum triangulare (Jacq.) Willd. NE N End
Primulaceae
Clavija spinosa (Vell.) Mez NE End
Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze NE N End
Rubiaceae
Alseis floribunda Schott NE N End
Borreria latifolia (Aubl.) K.Schum. NE N End
Borreria verticillata (L.) G.Mey. NE N End
Borreria verticillata (L.) G.Mey. NE N End
Faramea martiana Müll.Arg. NE End
Faramea truncata (Vell.) Müll.Arg. NE End
Geophila repens (L.) I.M.Johnst. NE N End
Guettarda pohliana Müll.Arg. NE N End
Hexasepalum teres (Walter) J.H. Kirkbr. NE N End
Margaritopsis astrellantha (Wernham) L.Andersson NE N End
Psychotria deflexa DC. NE N End
Rudgea jasminoides (Cham.) Müll.Arg. VU N End
Sabicea brasiliensis Wernham NE N End
Simira sampaioana (Standl.) Steyerm. NE End
Rutaceae
Almeidea rubra A.St.-Hil. NE N End
Conchocarpus macrocarpus (Engl.) Kallunki & Pirani NE End
Conchocarpus macrophyllus J.C.Mikan NE End
Erythrochiton brasiliensis Nees & Mart. NE N End
Neoraputia alba (Nees & Mart.) Emmerich ex Kallunki NE End
Salicaceae
Casearia sylvestris Sw. NE N End
Santalaceae
Phoradendron crassifolium (Pohl ex DC.) Eichler NE N End
Sapindaceae
Allophylus dioicus (Nees & Mart.) Radlk. NE End
Allophylus racemosus Sw. NE N End
Allophylus semidentatus (Miq.) Radlk. LC N End

138
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Paullinia revoluta Radlk. VU End


Serjania caracasana (Jacq.) Willd. NE N End
Serjania confertiflora Radlk. NE N End
Thinouia scandens Triana & Planch. NE End
Sapotaceae
Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler ex Miq.) Engl. NE N End
Chrysophyllum splendens Spreng. NT End
Simaroubaceae
Simaba floribunda A.St.-Hil. LC End
Siparunaceae
Siparuna guianensis Aubl. NE N End
Solanaceae
Metternichia princeps J.C.Mikan NE End
Nicotiana glauca Graham NE N End
Solanum americanum Mill. NE N End
Solanum didymum Dunal. NE N End
Solanum hexandrum Vell. NE End
Solanum insidiosum Mart. NE End
Solanum pseudoquina A.St.-Hil. LC N End
Solanum sycocarpum Mart. & Sendtn. NT End
Turneraceae
Turnera rubrobracteata Arbo NE End
Ulmaceae
Ampelocera glabra Kuhlm. NE End
Urticaceae
Cecropia pachystachya Trécul NE N End
Pilea microphylla (L.) Liebm. NE N End
Velloziaceae
Vellozia candida J.C.Mikan NE End
Vellozia variegata Goethart & Henrard NE End
Verbenaceae
Lantana camara L. NE N End
Stachytarpheta crassifolia Schrad. NE End
Stachytarpheta gesnerioides Cham. NE N End
Violaceae
Anchietea ballardii Paula-Souza NE End
Vitaceae
Cissus erosa Rich. NE End
Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E.Jarvis NE N End
Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E.Jarvis subsp.
verticillata NE N End
Clematicissus simsiana (Schult. & Schult.f.) Lombardi NE N End
Vochysiaceae
Vochysia oppugnata (Vell.) Warm. NE End

139
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

As famílias botânicas com maior representatividade foram Fabaceae Lindl. (26


spp.); Malpighiaceae Juss. (21 spp.); Bromeliaceae A.Juss. (19 spp.); Euphorbiaceae
Juss. (15 spp.); Asteraceae Bercht. & J.Presl e Rubiaceae Juss. (14 spp.); Orchidaceae
A.Juss. e Piperaceae Giseke (13 spp.); Araceae Juss. e Myrtaceae Juss. (12 spp.);
corroborando em parte com as observações de Oliveira-Filho & Fontes, 2000, que citam
algumas dessas famílias como as mais ricas em espécies arbóreas para as Florestas
Estacionais Semideciduais do domínio Atlântico.
Das espécies levantadas, (Figura 2) segundo o grau de ameaça, a categoria VU,
detém cerca de 1,58% das espécies, CR 0,78%, já LC detém 12,92 %, podendo indicar
as espécies ruderais ou de ampla ocorrência que se encontram em um “status” pouco
preocupante, no entanto 79,52% está classificadas como NE, ou seja, que cerca de 80%
das plantas ocorrentes na Floresta Estacional Semidecidual não foram avaliadas, isso é
preocupante pois a avaliação destas pode aumentar e muito a quantidade de espécies nas
categorias de maior grau de ameaça (VU,CR), pois a maior parte destas formações
florestais encontram-se em áres de solo férteis sendo as primeiras a sucumbir com a
necessidade de expansão das fronteiras agrícolas, segundo DURIGAN et al., 2000.

Figura 1. Distribuição das espécies de acordo com o grau de ameaça das mesmas. CR
(Criticamente em Perigo) compreende 3spp. NT (Quase ameaçada) e DD (Dados
insuficientes) - 5 spp. cada, VU (Vulnerável) - 6 spp., EN (Em perigo) - 9 spp., LC
(Menos preocupante) – 49 spp. e NE (Não avaliada) – 299 spp.

CONCLUSÃO

Como o conhecimento da flora de uma determinada região é considerado o


passo inicial de qualquer ação de conservação, as coleções botânicas construídas a partir
de coletas sistematizadas em uma mesma área ou região são ferramentas
imprescindíveis, pois documentam a existência de espécies em um determinado tempo e
espaço, registram elementos da flora de áreas preservadas e de áreas perturbadas e
oferecem dados acerca da fenologia e da posição ecológica das espécies, Barbosa &
Peixoto, 2003.
Tal levantamento é um primeiro esforço buscando conhecer a flora da APA Pedra do
Elefante, indicando a importância das coleções depositadas em herbários bem como sua

140
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

digitalização para compor bancos de dados acessíveis em diversos locais, de acordo


com o grau de ameaça podemos explanar que tal formação ainda se encontra carente de
estudos, pois a maiora das espécies levantadas encontram-se na categoria não avaliada,
indicando que muito provavelmente as categorias mais preocupantes de ameaça podem
estar subamostradas e seus verdadeiros valores sejam superiores aos aqui apresentados.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem a CAPES pelo apoio financeiro a UFES Campus São


Mateus, pela oportunidade, aos colegas de Laboratório, em especial agradeço ao meu
orientador Anderson Alves-Araújo e meu co-orientador André Márcio Amorim, pelo
tempo e paciência dispensados em minha orientação, aos meus pais, sobrinhos e irmãos
e a todos que contribuíram de forma direta ou indireta na realização deste trabalho.

LITERATURA CITADA

APG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the
orders and families of flowering plants. APG III. Botanical Journal of the
Linnean Society 161: 105–121.

Barbosa, M. R. V.; Peixoto, A. L. 2003. Coleções botânicas brasileiras: situação atual e


perspectivas. In: Peixoto, A. L. (org.) Coleções Biológicas de Apoio ao
Inventário, Uso Sustentável e Conservação da Biodiversidade. Rio de Janeiro:
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, p. 113-125.

CRIA (Centro de Referência e Informação Ambiental). 2011. Specieslink - simple


search. Disponível em http://www.splink.org.br/index, Acesso em 10 Abr. 2017.

CNCFlora. Lista Vermelha da flora brasileira versão 2012.2 Centro Nacional de


Conservação da Flora. Disponível em http://cncflora.jbrj.gov.br/portal/pt-
br/profile/ acesso em 13 Abr. 2017.

Durigan, G.; Franco, G. A. D. C.; Saito, M.; Baitello, J. B. 2000. Estrutura e


diversidade do componente arbóreo da floresta na Estação Ecológica dos
Caetetus,
Gália, SP. Revista Brasileira de Botânica, 23(4): 371-383.

Flora do Brasil 2020 (em construção). Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível
em: < http://floradobrasil.jbrj.gov.br/ >.

JBRJ - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Jabot - Banco de


Dados da Flora Brasileira. Disponível em: [http://jabot.jbrj.gov.br/]. Acesso em
13 Abr. 2017

Ministério do Meio Ambiente. MMA disponível em:


http://www.mma.gov.br/biomas/mata-atlantica. Acesso em 13 Abr. 2017.

Oliveira-Filho, A. T.; Fontes, M. A. L. 2000. Patterns of floristic differentiation among


Atlantic forests in Southeastern Brazil and the influence of climate. Biotropica,
32: 793-810.

141
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ribas, R. F.; Meira Neto, J. A. A.; Silva, A. F. & Souza, A. L. 2003. Composição
florística de dois trechos em diferentes etapas serais de uma Floresta Estacional
Semidecidual em Viçosa, Minas Gerais. Revista Árvore, 27(6): 821-830.

142
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PROPOSTA DE UM MODELO DIDÁTICO DE ANATOMIA VEGETAL PARA


PORTADORES DE DEFICIÊNCIA VISUAL

Mateus Cruz LOSS1*, Niumaique Gonçalves da SILVA1, Jéssica Cristina DELCARRO1


& Elisa Mitsuko AOYAMA1
1
Univerdidade Federal do Espírito Santo - Centro Universitário Norte do Espírito Santo
*loss.mateus@gmail.com

INTRODUÇÃO

A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na rede regular de


ensino vêm ocupando, cada vez mais, um espaço significativo nas discussões docentes
no contexto brasileiro. Amparado e fomentado pela legislação no inciso III do Art. 208
da Constituição Brasileira (Brasil, 1988) que se refere ao atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência “preferencialmente na rede regular de
ensino” e pela Política Nacional de Educação Especial (Brasil, 1994), foi
posteriormente alicerçada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n°.
9.394/96) e nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica
(Brasil, 2001).
Numa abordagem de uma escola inclusiva como modelo de escola de qualidade,
busca-se que essa promova permanência, acesso, sucesso no aprendizado e garantia do
direito constitucional de todos os alunos, independentemente de suas necessidades. A
escola inclusiva tem por finalidade formar o cidadão, “dando a ele a oportunidade de
obter e manter um nível aceitável de aprendizagem” (Salamanca, 1994), de modo que a
inclusão efetive.
Para tal, formar o professor é muito mais que informar e repassar conceitos; é
prepara-lo para um outro modo de educar, que altere sua relação com os conteúdos
disciplinares e com o educando (Almeida, 2007). Na concepção histórico-crítica o
professor é peça chave nesse processo de inclusão, uma vez que, ele é o mediador do
processo ensino/aprendizagem (Saviani, 2001).
Por outro lado, as escolas da rede de ensino regular não apresentam condições de
trabalho favoráveis à inclusão, implicando no trabalho do professor quanto à escassez
de materiais didáticos, móveis inadequados, salas de aulas superlotadas e ausência de
recursos tecnológicos. Embora o acesso ao ensino regular e adequação as necessidades
educativas sejam sanadas, os alunos com necessidades educacionais ainda enfrentam
muitos obstáculos, principalmente com a falta de materiais adaptados (Vaz et al., 2012).
Em se tratar da inclusão de alunos com deficiência visual, a falta de
equipamentos em bom estado e de materiais adaptados para os alunos com baixa visão
ou cegueira (Sá et al., 2007) encontram-se no ensino de biologia, devido ao conteúdo
estar amplamente inserido no mundo microscópico (Maia et al., 2008), exigindo assim
uma imensa capacidade de abstração do conteúdo por parte dos alunos e um trabalho
docente dedicado e esclarecedor (Pires e Jorge, 2014).
A produção e uso de modelos como metodologias alternativas para o
ensino de deficientes visuais geram a criatividade, imaginação, estudo em grupos e
habilidades manuais abrangendo alunos desde o nível fundamental até o superior,
facilitando a integração aluno-aluno e aluno-professor (Oliveira et al., 2015), de forma
que a representação das estruturas biológicas tridimensionais proporciona a facilitação

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

do aprendizado, relacionando o conteúdo escrito e figuras planas de livros didáticos


(Orlando et al., 2009).
Contudo, para obter um projeto inclusivo mudanças são necessárias nas
propostas educacionais da maioria das escolas, uma nova organização curricular
idealizada e executada pelos seus professores, diretores, pais, alunos e todos os que se
interessam pela educação na comunidade onde está a escola (Mantoan, 2005).
Neste sentido, o trabalho teve por objetivo construir um modelo histológico de
anatomia vegetal a partir de um corte transversal de raiz de eudicotiledônea em
crescimento secundário adaptado para deficientes visuais que possa ser usado na rede de
ensino regular. Pois ao estudar a anatomia interna e externa da planta no ensino
fundamental 2 e no ensino médio da rede pública (Brasil, 1998), a morfologia vegetal
trás aspectos importantes das eudicotiledôneas ligado ao cultivo, processamento e
consumo de alimentos que estão inseridos no cotidiano do aluno. Como exemplo, a
cenoura, um modelo clássico de raiz de eudicotiledônea em crescimento secundário,
caracterizado pelo elevado acúmulo de reserva de nutrientes, compondo uma raiz
tuberosa presente na alimentação dos brasileiros.

MATERIAL E MÉTODOS

Para a produção do modelo histológico de anatomia vegetal, foi utilizado um


esquema (Figura 1) de corte transversal de raiz de Daucus carota L. (cenoura)
disponível no site do Laboratório de Anatomia Vegetal da Universidade Federal de
Santa Catarina.

Figura 1. Esquema de corte transversal da raiz de cenoura disponibilizado pelo


Laboratório de Anatomia Vegetal da UFSC e utilizado no presente estudo.

Os materiais elencados para a produção do modelo (Figura 2) foram escolhidos com


base em dois critérios: viabilidade financeira e/ou durabilidade. São eles:
 01 folha de isopor.
 01 folha de EVA de qualquer cor.
 2kg de massa de biscuit industrializada ou caseira.

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 01 tinta para tecido de cor: marrom, preta, amarela, azul, verde, rosa e vermelha.
 01 cola PVA (cola-branca).
 Barbante de algodão.
 01 cartolina preta.
 01 corante para tecido: azul, vermelho e roxo.
 01 folha de papel cartão.
 01 reglete e punção.
 02 colheres de sopa de areia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a escolha dos materiais, foi possível a produção do modelo da seguinte maneira:

1 – Corte da folha de isopor ao meio. Uma parte foi utilizada como base de fixação, de
formato quadrangular e encapada com a cartolina. A outra parte foi cortada no formato
do molde e encapada com a folha de EVA para evitar deformidades com o biscuit, esta
segunda parte foi o “corte da raiz”.

2 – Cobertura do “corte da raiz” com uma camada de biscuit sem coloração. Esperou-se
24h para secagem completa.

3 – Produção das células individuais que compõem os tecidos vegetais e colagem no


molde. Seguindo da camada exterior para a camada interior dos tecidos, foram
dispostas: duas camadas de células retangulares de cor marrom (súber); duas camadas
de células retangulares de cor cinza com espessura menor que a anterior (felogênio);
duas camadas de células retangulares com bordas arredondadas de cor marrom escuro
(feloderme); várias camadas de células ovais de cor amarela (parênquima); várias
camadas de células circulares vazadas azuis (floema); uma camada de células
retangulares verdes (câmbio vascular); várias camadas de células circulares rosa e
algumas células circulares grandes vermelhas (xilema).

4 – Tintura e preparação dos barbantes: os barbantes foram tingidos e colados a fim de


separar os conjuntos celulares. A extremidade pode oferecer ao usuário diferenças
explícitas em sua estrutura da seguinte forma: o primeiro barbante foi colado entre a
periderme e o córtex, sua extremidade conteve 2 nós e a ponta desfiada, cor azul. O
segundo barbante foi colado entre o córtex e o floema, sua extremidade conteve 1 nó e
ponta desfiada, cor vermelha. O terceiro barbante foi colado entre o floema e o câmbio
vascular, com 2 nós e a ponta não conteve nós, sem cor. O último barbante foi colado
entre o câmbio vascular e o xilema, sua extremidade conteve um nó e a ponta não foi
desfiada, cor roxa.

5 – Deve ser feita uma mistura de cola, areia e tinta marrom para simulação do substrato
ao qual a raiz está submetida. 6 – Produção de legendas em braile: com auxílio da
reglete foram produzidas as legendas, estas foram coladas sobre as estruturas no
modelo.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 2. Modelo produzido adaptado para alunos cegos ou com baixa visão. Lado
esquerdo: modelo completo. Lado direito: foco na diferença entre as extremidades dos
barbantes.

O uso do biscuit tem sido amplamente difundido para fins de construção de


modelos como uma maneira eficaz de molde de estruturas (Pires e Jorge, 2014; Oliveira
et al., 2015; Chaves et a.l, 2011; Orlando et al., 2009; Paulino et al., 2011). Esta massa
resistente quando seca, é bastante maleável quando fresca e passível de coloração. Após
a secagem, se torna um material resistente para uso em sala de aula, podendo ser
manipulado facilmente pelos alunos.
A escolha das cores permite certa facilidade na observação do modelo por alunos
com baixa visão, visto o contraste de cores estabelecido que acompanham a variedade
de tecidos vegetais no seguinte modelo. Assim, acompanha-se a coloração dos
barbantes.
Em detalhe na figura 2, os nós facilitam a diferenciação no conjunto de tecidos
quando o toque nas células não é suficiente, assim como as legendas em braile.
A utilização de barbantes e diversas cores e formatos para cada tecido através da
massa de biscuit pode ser utilizada para as diversas áreas da histologia, cabendo a
adaptação para cada especificidade.
Em um estudo realizado por Oliveira et al., (2008), onde buscou-se dentre outros
objetivos identificar os itens que compõem o consumo de legumes e verduras, foi
identificado que a cenoura é o item de maior consumo nessa classe de alimento nas
residências de alunos de escolas públicas. Fridrich (2015) e Rodrigues et al. (2015),
relatam que a cultura de cenouras em hortas escolares é a cultura que demonstra melhor
resultado para trabalho com os alunos, e que as hortas podem ser metodologias de
ensino de agroecologia e educação ambiental.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Estes importantes dados sobre a cenoura no meio escolar, demonstram a


praticidade deste modelo em contextualizar o conteúdo com o cotidiano do aluno,
facilitando a assimilação do conteúdo científico com o dia a dia em sociedade. Assim
como afirmam Kato e Kawasaki (2007), o tratamento contextualizado de conteúdos
facilita a aprendizagem visto a interação que ocorre entre o conhecimento, sujeito,
objeto teoria e prática.
Em perspectivas futuras, espera-se a aplicação do modelo em uma turma de
ensino regular com algum aluno cego ou com baixa visão. Já que as metodologias
empregadas foram embasadas em predições de situações e experiências pessoais dos
autores.

CONCLUSÃO

Aceito a importância dos recursos didáticos como ferramenta de ensino para as


escolas da rede regular quanto a sua estratégia didático-pedagógica para deficientes
visuais, o modelo histológico tridimensional de anatomia vegetal apresenta texturas,
cores contraste e tamanho que para os alunos de baixa visão e cegos são critérios
importantes para a percepção tátil e visual na utilização do modelo como uma
alternativa inclusiva eficaz no processo de ensino aprendizagem para aluno com
necessidades especiais.
Em contra partida, a disponibilidade de material didático que atenda os
deficientes visuais e que mantenha a fidelidade na representação em relação ao modelo
original são atividades que quando bem exploradas, oportunizam a interlocuções de
saberes, a socialização e o desenvolvimento pessoal, social, psicológico e cognitivo
(Santana, 2012).
Dessa forma, conclui-se que metodologias alternativas são necessárias para
incorporar o projeto educacional inclusivo, pois a pouca disponibilidade de material
didático adaptado para alunos com deficiência visual (Pires et al., 2014), principalmente
aqueles relacionados a histologia.

LITERATURA CITADA

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http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
09 de abril de 2017.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONVOLVULACEAE Juss. NO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS,


ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Marianna Rigoni RODRIGUES*, Anderson ALVES-ARAÚJO


Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal do Espirito Santo,
Departamento de Ciências Agrarias e Biológicas (DCAB)
* mrigonirodrigues@gmail.com

INTRODUÇÃO
Convolvulaceae Juss. possui distribuição cosmopolita e está claramente inserida
na ordem Solanales Juss. Ex Bercht.&J.Pres.(APG IV, 2016) É monofiletica fortemente
apoiada mudança estrutural no genoma do cloroplasto desta família. Um Intron
normalmente encontrado no gene rpl2 de angiospermas é suprimido em todas as
Convolvulaceae, incluindo Humbertia e Cuscuta (Steafanovic et al., 2002) e está
dividida em duas subfamílias, Humbertioideae e Colvolvuloideae (Ferreira, 2009).
Comumente herbáceas, arbustivas, frequentemente trepadeiras, ocasionalmente
árvores,ou ainda holoparasitas (Cuscuta L.), sendo anuais ou perenes a grande maioria
das espécies da família exibe folhas simples e alternas, sem estípulas, com
inflorescências cimosase, às vezes reduzidas a uma única flor. As flores são
dialissépalas ou raramente gamossépalas, gamopétalas, plicadas, rotáceas,
campanuladas, hipocrateriformes ou infundibuliformes, com nervuras mesopétalas
geralmente proeminentes, cinco estames, epipétalos, ovário súpero e frutos capsulares
(Staples et al., 2012, Austin, 2004).
Assim como vários outros grupos de plantas trepadeiras, as Convolvulaceae são
reconhecidas pelos seus exemplos de polimorfismo morfológico, o que dificulta a
delimitação específica (Austin, 2004; Austin et al., 2015).
Utilizadas para diversos fins, como a medicina, culinária e ornamentação, a
família possui espécies que se destacam em sua comercialização, uma delas é
Ipomoeabatatas L. (batata doce) devido seu uso amplamente difundido tanto na
medicina quanto na alimentação. Outra espécie difundida com fins medicinais é
Ipomoea pes-caprae (L.) R.Br. indicada para problemas no estomago e no fígado. Além
de espécies de Ipomoea L. Outrosgêneros como: Convolvulus L., Evolvulus L.,
Poranopsis Robertye Turbina Raf. São cultivadas como ornamentais (Meira et al.,
2012; Ferreira, 2009).
Para o Brasil, estão listados 22 gêneros e 403 espécies, ocorrendo em todos os
domínios fitogeográficos brasileiros, destas dois gêneros são (Daustinia eKeraunea)e
180 espécies são endêmicas para o país (BFG - The Brazil Flora Group, 2015), sendo
Ipomoea L. é o gênero mais representativo em número de espécie, com cerca de 600-
700, sendo que aproximadamente 148 destas ocorrem no Brasil sendo que 54 destas são
endêmicas (BFG, 2015; Austin & Huáman,1996), seguidas de Evolvulus L.(100 spp.)
(Ferreira et al., 2014), Jacquemontia Choisy(42spp.) (Buril, 2013) e Merremia
Dennst.ex Endl (14spp.) (Bianchini & Ferreira, 2012; Buril, 2013).
No Espírito Santo são registrados 12gêneros e 67 espécies (Dutra et al. 2015),
dentre elas, Keraunea capixaba Lombardi, que é a única endêmica para o estado
(Lombardi, 2014). Contudo, o conhecimento a respeito das espécies ocorrentes no
Espírito Santo ainda é limitado, sendo o trabalho realizado por Falcão &Falcão (1981) o

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

primeiro registrado para família no estado com a listagem de seis gêneros e 22 espécies,
atualmente o site Flora Do Brasil conta com 12 gêneros e 66 espécies para o estado.
Atualmente o Parque Estadual de Itaúnas (PEI) cerca de 3.481 ha e encontra-se no
extremo norte no estado do Espírito Santo, no município de Conceição da Barra,
caracterizado por pertencer a fitofisionomia de restinga. Até o momento para a área há
listado oito espécies para família segundo Souza et al.(2016),este trabalho buscou a
atualização e o tratamento taxonômico das espécies de Convolvulaceae para o PEI este
está incluso em um projeto maior sobre Flora do Espírito Santo.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
O Parque Estadual de Itaúnas (PEI) (Figura 1) possui cerca de 3.481 ha e
encontra-se no extremo norte no estado do Espírito Santo, no município de Conceição
da Barra. O PEI abriga uma grande diversidade de ambientes como as restingas,
manguezais e fragmentos florestais de mata de tabuleiro. Apresenta relevo plano, com
grande parte de seu solo arenoso, precipitação média anual, é de 83,3mm, e temperatura
20,7-27,1 C° (CEPEMAR, 2004).

Figura 1. Mapa de localização do Parque Estadual de Itaúnas (Fonte:SEAMA/IEMA,


adaptado).

Possui ambientes terrestres, como a Mata de Tabuleiro, fragmento florestal em


extinção no Espírito Santo, ambientes costeiros na faixa de cordão arenoso formador
das restingas e dunas, ambientes estuarinos de mangues, uma extensão expressiva do rio
Itaúnas e a mais representativa região de alagados do Estado (CEPEMAR, 2004)

Coleta de material

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As coletas de material botânico foram efetuadas entre Agosto/2015 a Abril/2016,


quinzenalmente nos caminhos e trilhas existentes no PEI, de modo a abranger a maior
área possível e amostrar todas as fisionomias encontradas no PEI. As amostras foram
acompanhadas de seus respectivos registros fotográficos e seguiu-se os procedimentos
usuais de trabalho de campo e de herborização (Bridoson & Forman, 1998). Quando
possível, flores e frutos foram armazenados em álcool 70% para auxiliar nos processos
de identificação e descrição do material coletado.

Tratamento Taxonômico
As espécies foram identificadas através de bibliografias especializadas e por
meio do método comparativo de vouchers e tipos nomenclaturais depositados nos
principais herbários nacionais e internacionais, como o VIES, MBML RB CVRD
(siglas de acordo com Thiers). Destes apenas o VIES foi visitado durante analise do
material.
O material foi descrito através de amostras coletadas e armazenadas em álcool
70% ou através de material de herbário (VIES), quando possível utilizou-se literatura
especifica para identificação e descrição das espécies. Quando possível, táxons
ameaçados foram identificados com base na Lista de Espécies Ameaçadas do Brasil
(MMA,2000) e classificados segundo critérios da IUCN (2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os 12 gêneros ocorrentes no estado, seis foram registrados para o Parque
Estadual de Itaúnas com um total de 12 espécies, sendo os gêneros mais representativos
Ipomoea (5spp.), Evolvulus (2spp.) e Merremia (2spp.). Os resultados aqui apresentados
revelaram três novos registros a nível genérico para o PEI: Aniseia choisy, Daustinia
Buril & A.R. Simões, Jacquemontia; e cinco novos registros a nível específico: Aniseia
martinicensis (Jacq.) Choisyvar martinicensis, Daustinia Montana Buril & A.R.
Simões, Ipomoea carnea subsp. fistulosa (Mart. ex Choisy) D.F. Austin, Merremia
dissecta (Jacq.) Hallier f. var. endenata,, e Jacquemontia mucrunifera (Choisy) Hallier f.
sendo que, a última citada é um novo registro para o estado do Espírito Santo(Dutra et
al.2015). Além disso, destas três são endêmicas para Brasil, (BFG, 2015) tais quais,
Daustinia montana, Jacquemontia mucronifera, Evolvulus imbricatus Mart. Ex Colla
foram registradas para o PEI. Dentre as espécies de Convolvulaceae já listadas para o
PEI por Souza et al., 2016, Bonamia sp. E Ipomoea fimbriossepala Choisy foram
identificadas erroneamente, as mesmas foram reidentificadas em Aniseia martinisensis e
Ipomoea aff bahiensis respectivamente, assim atualizando lista para o PEI quanto a
nomenclatura e ao número de espécies contidas na lista.
Das espécies aqui citadas todas estão classificadas na categoria de não avaliadas
quanto a ameaça –NE (IUCN).

Chave de identificação das espécies de Convolvulaceae ocorrentes no Parque


Estadual de Itaúnas, ES, Brasil.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

1Plantas eretas...................................................................................................................2
2 Arbusto latescente, ramos fistulosos, estames inclusos, estigma
globoso........................................................................Ipomoea carnea subs. fistulosa
2’ Subarbustos não latescentes, não fistulosos estames exertos, estigmas
filiformes.....................................................................................................................3
3 Plantas vilosas, folhas sésseis.......................Evolvulus imbricatus Mart. ex Choisy
3’ Plantas pilosa-hirsutas, folhas subsésseis a pecioladas..................Evolvulus tenuis
1’ Plantas trepadeiras ou prostadas....................................................................................4
4 Halófitas .................. ...............................................................................................5
5 Plantas com glândulas no ápice do pecíolo, corola roxa, sementes
pubescentes...................................................................................Ipomoea pes-caprae
5’ Planta sem glândulas no ápice do pecíolo, corola alva com fauce amarela,
sementes lanosas...............................................................................Ipomoea imperati
4’Não halofitas............................................................................................................6
6 Plantas latescentes....................................................................................................7
6 Plantas não latexcente............................................................................................10
7Plantas com pseudoestipula.................................................................. Ipomoea
cairica
7’ Plantas sem pseudoestipula....................................................................................8
8Lamina foliar composta, flores alvas, tecas arroxeadas..............Merremia cissoides
8’ Lamina foliar inteira,.............................................................................................9
9 Trepadeira, folhas sagitadas glabras, flores infundebuliformes, Inflorescência
dicásio lilás com interior mais escuro......................................Ipomoea aff. bahiensis
9’Prostada, com folhas palmatipartidas, pentalobadas lanuginosas, inflorescência 3-
5 flora cimeira umbeliforme flores campanulada, corola
amarela...........................................................................................Daustinia montana
10 Folha pamatipartida 5-7 segmentos lancelo-elipiticos , Inflorescência cimeira, 1–
6 floras, laxa...................................................................................Merremia dissecta
10Folha Ovalo/elipitica ou lanceolada inflorescência monocásio á dicásio ou
corimbiforme.............................................................................................................11
11.Folha lanceolada , glabra; Inflorencencia em monocásio Flores, campanulada,
alva 1,3cm pilosa, (na face externa). Fruto capsula septícida, tetravalvar
subgloboso-adpresso, glabro , 4-sementes 4–4,5×4-5mm ovoides pubescente nas
margens.......................................................................................Aniseia martinisensis

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

11’Folhas inteira, ovaladas-elípticas, pubescente á velutina. Inflorecencia tipo


cimeira umbeliforme 3-4 flora; Fruto 3x3mm, capsula septícida , 8-valvar, glabro;
2-Sementes 2x2mm, ovoide , glabro-
escamosa...........................................................................Jacquemontia mucronifera

CONCLUSÃO
O estudo se mostrou de grande valia para a família no Parque, já que
originalmente haviam apenas 8 espécies na lista, destas duas identificadas
erroneamente, e após este trabalho o parque tem hoje 12 espécies para família 5 delas
novos registros para área e um para o estado do Espírito Santo, assim os resultados
colaboram tanto para atualização da lista do PEI quanto para a flora do Espírito Santo.

AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pelo apoio financeiro, ao IEMA pela concessão da autorização de
coleta, à Universidade Federal do Espírito Santo-UFES, pelas instalações e
fornecimento do transporte para realização das coletas e ao Parque Estadual de Itaúnas
pela colaboração e disponibilidade.

LITERATURA CITADA
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155
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

SOLANACEAE Juss. NO PARQUE ESTADUAL DE ITAÚNAS, ESPIRITO


SANTO, BRASIL: DADOS PRELIMINARES

Marianna Rigoni RODRIGUES¹* & Anderson ALVES-ARAÚJO¹

¹Universidade Federal do Espirito Santo, Centro Universitário Norte do Espírito Santo


mrigonirodrigues@gmail.com

INTRODUÇÃO

Solanaceae Juss. Compreende 85 gêneros e cerca de 2.800 espécies (Nee,2007).


Tem seu centro de diversidade nas Américas Central e do Sul, sendo que na América do
Sul são encontrados 50 gêneros endêmicos (Carvalho & Costa, 2005). A família é de
considerável importância econômica como culturas alimentares, fontes de alcalóides e
venenos (Bohs, 1994).
Os representantes de Solanaceae são caracterizados por serem plantas herbáceas,
arbustivas ou arbóreas, inermes ou armadas, com folhas simples, inteiras, lobadas ou
pinatissectas, pecioladas ou sésseis, sem estípulas. Inflorescências cimosas, uni ou
plurifloras, pedunculadas ou não. Flores pentâmeras, diclamídeas, heteroclamídeas,
monoclinas, pediceladas ou sésseis. Cálice pentâmero, gamossépalo, actinomorfo ou
levemente zigomorfo, acrescente ou não após antese. Corola pentâmera, gamopétala,
actinomorfa ou zigomorfa. Androceu tetrâmero ou pentâmero, estames epipétalos e
alternipétalos; anteras com deiscência longitudinal, poricida ou poricida e tardiamente
longitudinal. Gineceu gamocarpelar; ovário súpero, bicarpelar, rudimentos seminais
geralmente numerosos de placentação axial, disco nectarífero presente ou não. Fruto
baga ou cápsula. (Agra et al., 2009;Soares et al. 2008).
No Brasil atualmente são registrados 33 gêneros e 471 espécies distribuídas por
todas as fitofisionomias brasileiras, sendo que dessas quatro gêneros e 223 espécies
consideradas endêmicas para o país de acordo com Flora do
Brasil(http://floradobrasil.jbrj.gov.br). Segundo Dutra et al. (2015), são registrados para
o Espírito Santo 16 gêneros e 139 espécies, das quais três: Solanum caelicolum
Giacomin & Stehmann, Solanum filirachis Giacomin & Stehmann e Solanum igniferum
Gouvêa & Stehmann são consideradas endêmicas para o estado.
Muitas espécies da família têm grande potencial comercial seja ele alimentício,
paisagístico ou até mesmo medicamentoso, alguns exemplos seriam tomate
(Solanum lycopersicum L.) pimentão, (Capsicum annuum L.) berinjela
(Solanum melongena L.) e tabaco (Nicotiana tabacum L.), que são plantas exploradas
comercialmente , entre outras espécies que são intensamente exploradas comercialmente
família que possuem potencial alimentício (Agra el al.2009).
Por todos esses motivos aqui citados esse estudo tem grande importância,
contudo os dados que hoje temos para o Parque Estadual De Itaúnas (PEI) , Espirito
Santo ,Brasil, e para o estado necessitam ser atualizados em relação à abordagens mais
atuais pois quase não há estudos para a família no estado, e quanto ao status de ameaça
das espécies. Sendo assim o presente trabalho é parte integrante do Projeto Flora do
Espírito Santo e visa analisar taxonomicamente , ou seja se propõe a descrever e criar
uma futura chave de identificação paras as espécies de Solanaceae no Parque Estadual
de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil, ampliando o conhecimento desta no Estado.

156
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Parque Estadual de Itaúnas (PEI) possui cerca de 3.481 ha de área e encontra-


se entre as coordenadas 18º20’/18º25’S 39º40’/39º42’W, no município de Conceição da
Barra, Espírito Santo. O PEI abriga uma grande diversidade de ambientes como as
restingas, manguezais e fragmentos florestais de mata de tabuleiro. Apresenta relevo
plano, precipitação média anual de 83,3mm(dados referentes ao período de 1996 à
2002) e temperatura absolutas para Conceição da Barra/ES varia de 20,4 -35,1 °C
(dados referentes ao período 1931 à 1960;CEPEMAR, 2004).

Coleta de material

As coletas de material botânico estão sendo efetuadas desde janeiro/2016, com


periodicidade mensal nos caminhos e trilhas pré-existentes no Parque Estadual de
Itaúnas (Figura 1), de modo a abranger a maior área possível e amostrar todas as
fitofisionomias encontradas. As amostras são acompanhadas de seus respectivos
registros fotográficos e segue-se os procedimentos usuais de trabalho de campo e de
herborização (Bridson & Forman, 1998).

Tratamento taxonômico

A identificação das espécies foi realizada através de literatura específica e por


comparação com material identificado em herbário e imagens de tipos nomenclaturais
disponíveis na internet. Os nome de autores de espécies segue o apresentado pela Flora
do Brasil (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/) e The International Plant Names Index (IPNI;
http://www.ipni.org/). Os espécimes férteis (com flores e/ou frutos) estão sendo
incorporados à coleção do Herbário VIES da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES). Quando necessário, amostras adicionais serão coletadas e acondicionadas em
recipientes adequados e preservadas em álcool etílico 70%, para estudos morfológicos e
posterior identificação e identificação tendo como base literatura especifica. Os táxons
serão classificados quanto ao grau de ameaça segundo os critérios da IUCN (2012).

Figura 1. Mapa do Parque Estadual de Itaúnas-PEI. (Fonte:SEAMA/IEMA, adaptado).

157
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Embora preliminares, os resultados aqui apresentados corroboram o apresentado


em Souza, et al. (2016). Atualmente no Parque são encontrados quatro gêneros e oito
espécies (Figuras 2 e 3). As espécies registradas são encontradas predominantemente
em bordas ou clareiras de matas, com hábito variando desde ervas delgadas como em
Schwenckia americana D.Royen ex L. até arvoretas de aproximadamente 4 m de altura
em Cestrum sp.
A maior parte das espécies pertence ao Solanum subgênero Leptostemonum
(Dunal) Bitter, no qual se encaixam todas as plantas com acúleos pertencentes a
Solanum. Até o presente momento há três novos registros o PEI S. paludosum Moric., S.
torvum Sw. e S. aff. caelicolum Giacomin & Stehmann, sendo que das plantas
amostradas, Schwenckia americana, Solanum cordifolium Dunal, e S. thomasiifolium
Sendtn. são mais facilmente encontradas. Ao contrário de Solanum aff. caelicolum
Giacomin & Stehmann que possui apenas um material coletado.

Espécie Tribo Habito Voucher


Aureliana fasciculata (Vell.) Solaneae Arbusto Olivera,J.-49
Sendtn
Cestrum sp. Cestraeae Arvoreta Souza,W.-195
Schwenckia americana L. Schwenkieae Erva Rodrigues,M.R.-35
Solanum aff. caelicolum Solaneae Arbusto Amaral,R.-74
Giacomin & Stehmann

Solanum cordifolium Dunal Solaneae Arbusto Rodrigues,M.R.-61


Solanum thomasiifolium Sendtn Solaneae Arbusto Rodrigues,M.R.-83
Solanum torvum Sw Solaneae Arbusto Rodrigues,M.R.-43
Solanum paludosum Sendtn Solaneae Arbusto Rodrigues,M.R.38

Figura 2. A-Solanum torvum Sw., ; B-Solanum thomasiifolium Sendtn ;C- Solanum


cordifolium Dunal.

158
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3. D-Solanum paludosum Sendtn; E-Aureliana fasciculata (Vell.) Sendtn.; F-


Schwenckia americana D.Royen ex L. H-Parque Estadual de Itaúnas

CONCLUSÃO

Uma vez que os dados apresentados são preliminares, acredita-se que a riqueza
das espécies de Solanaceae no PEI possa aumentar devido ao atual direcionamento das
coletas. O projeto encontra-se em fase de andamento e tem previsão de mais seis meses
de atividades de pesquisa e, certamente, contribuirá para o conhecimento da flora do
norte do Espírito Santo.

LITERATURA CITADA

Agra, M.F., Nurit-Silva,K., & Berger, R.L. 2009 Flora da Paraíba, Brasil: Solanum L.
(Solanaceae). Acta botânica . Brasílica 23(3): 826-842.

Bohs, L. 1994. Cyphomandra (Solanaceae). Flora Neotropica Monograph 63. New


York, The New York Botanical Garden. Bridson, D. & Forman, L. The
Herbarium Handbook. Richmond: Royal Botanical Garden, Lubrecht & Cramer
Ltd., 1998. 348p.

Carvalho, L.A.F. & Costa, L.H.P. 2005. Diversidade Taxonômica e Distribuição


Geográfica de Solanaceae (Cestroideae e Solanoideae) no Sudeste Brasileiro.
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Centro de Referência em Informação Ambiental –. 2017. Specieslink. Disponível em:


http://www.splink.org.br/. (10/03/2017).

Cepemar - Serviços de Consultoria em Meio Ambiente (CEPEMAR). 2004. Plano de


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Nee,M.2007 Flora da Reserva Ducke,Amazonas, Brasil: Solanaceae. Rodriguésia 58


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Soares, E.L.C., Silva,,M.V., Vendruscolo,G.S, Thode, V.A., Silva, J.A. & Lilian Auler
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Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Biociencias.

Souza, W.O.; Machado, J.O; Tognella, M.M. & Alves-Araújo, A. 2016. Checklist de
angiospermas do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. Rodriguésia
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160
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

NOVOS REGISTROS DE ANGIOSPERMAS PARA O PARQUE ESTADUAL


DE ITAÚNAS, ESPÍRITO SANTO, BRASIL

Quélita dos Santos MORAES1*, Renara Nichio AMARAL2, Victor Santos


MIRANDA3, Marianna Rigoni RODRIGUES3, Bianca Santana MENDES3, Samara
Azevedo de Jesus MARTINS3 & Anderson ALVES-ARAÚJO3
1
Programa de Pós Graduação em Biodiversidade Tropical – PPGBT, Universidade Federal do Espírito
Santo
2
Programa de Pós Graduação em Botânica – PPGBot, Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS
3
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
*quelitasm@hotmail.com
INTRODUÇÃO

O estado do Espírito Santo possui área de 46.008,12 km² e encontra-se


integralmente no bioma Mata Atlântica (IESB, 2007). Apesar de ser considerada um
dos principais hotspots mundiais para a conservação, devido aos seus altos índices de
diversidade e endemismo (Myers et al., 2000), a Mata Atlântica foi reduzida a 9% da
original (Myers et al., 2000) e encontra-se altamente fragmentada.
As restingas, inseridas no domínio da Mata Atlântica, apresentam um conjunto
diversificado de comunidades biológicas (Sampaio, 2005). A vegetação tem grande
importância para o equilíbrio do substrato, amenizando a ação dos agentes erosivos
sobre o ecossistema, protegendo, principalmente, da ação dos ventos (Assumpção e
Nascimento, 2000). No entanto, apresenta elevado nível de fragilidade devido aos altos
impactos e desmatamento causado por ações antrópicas (Santos-Filho, 2009).
Neste contexto, o Parque Estadual de Itaúnas (PEI), situado ao norte do Espírito
Santo, representa uma amostra significativa de ecossistemas intrinsecamente ligados à
bacia do Rio Itaúnas e à região costeira do Espírito Santo. O PEI abrange uma grande
diversidade de espécies que ocorrem em diferentes ambientes como mata de tabuleiro,
ambientes costeiros na faixa de cordão arenoso formador das restingas e dunas,
ambientes estuarinos de manguezal e a mais representativa região de alagados do
Espírito Santo (Cepemar, 2004).
Apesar da elevada importância ecológica, os esforços para documentar a flora do
PEI são bastante recentes (Souza et al., 2016; Souza et al., in press). Souza et al. (2016)
indicaram a ocorrência de 562 spp. de angiospermas encontradas do PEI e apontou a
área como de grande biodiversidade e de extrema relevância para a flora do estado. No
entanto, com a continuidade dos esforços de coleta na área, vários táxons foram
coletados posteriormente à publicação e não foram incluídos pelos autores. Sendo
assim, o presente estudo propõe-se a atualizar o checklist disponibilizado por Souza et
al. (2016) para as angiospermas ocorrentes no PEI.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O Parque Estadual de Itaúnas (PEI) situa-se entre as coordenadas 18º20’/18º25’S


39º40’/39º42’W no município de Conceição da Barra no Espírito Santo. A Temperatura
média é de 23,8 ºC no PEI (CEPEMAR, 2004, p. 10), em uma área abrangendo 3.481 ha
com relevo composto por planícies e as seguintes unidades geomorfológicas: Terraços
arenosos, Planície fluvial e Planície flúvio-marinha.

161
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Coleta de material

As coletas foram realizadas de maneira exploratória de agosto/2015 a


janeiro/2017, abrangendo a maior área possível do PEI, buscando inventariar o maior
número de táxons. As amostras foram coletadas através de procedimentos usuais de
trabalho de campo e de herborização (Bridson & Forman, 1998).
A listagem de espécies seguiu proposta do APG IV (2016) e as identificações
foram realizadas através de literatura específica, métodos comparativos de vouchers e
tipos nomenclaturais depositados nos principais herbários estaduais e nacionais (CVRD,
VIES, MBML, RB e SPF) e internacionais (K, MO, NY). O nome dos autores está de
acordo com o apresentado pela “The International Plant Names Index” (www.ipni.org).
Os táxons ameaçados foram reconhecidos com base na “Lista de Espécies Ameaçadas
do Brasil” (MMA, 2000) e, quando possível, classificados segundo critérios da IUCN
(2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Um total de 82 espécies distribuídas em 27 famílias (Tabela 1) foram


acrescentadas à lista florística do PEI realizada por Souza et. al (2016), das quais cinco
famílias ainda não haviam sido registradas para a área: Nymphaeaceae Salisb.,
Onagraceae Juss., Pontederiaceae Kunth, Typhaceae Juss. e Xyridaceae C.Agardh,
contribuindo para o aumento do conhecimento florístico do Parque. Atualmente, há um
total de 644 espécies registradas para Parque Estadual de Itaúnas.
Das 27 famílias encontradas, três apresentaram maior riqueza: Cyperaceae Juss.
(13 spp), Asteraceae Bercht. & J.Presl (12 spp) e Rubiaceae Juss. (9 spp). As três
famílias juntas possuem um total de 34 espécies, representando 41,5% do total das
espécies apresentadas neste trabalho. De acordo com Souza et al.(2016) Cyperaceae e
Rubiaceae, já se encontravam entre as dez famílias mais ricas em número de espécies
(26 e 22 spp respectivamente), enquanto Asteraceae, com apenas oito espécies
registradas, atualmente se encontra entre as famílias mais representativas do PEI (20
spp.). Estas famílias também estão comumente presentes entre as mais representativas
em estudos florísticos nas restingas, como pode ser evidenciado por Santos-Filho et al.
(2011) e Gomes & Guedes (2014).
As plantas mais comuns entre as espécies encontradas no presente estudo foram
as aquáticas, representadas por 34 espécies, divididas em macrófitas emersas ou com
folhas flutuantes. Também estão representadas plantas arbustivas à subarbustivas, com
um total de 22 espécies. A predominância destas formas de vida pode estar relacionada
à grande representatividade de áreas de restinga aberta com composição herbáceo-
arbustiva predominante associadas a grandes áreas alagáveis presentes no PEI.
Comparado a outras áreas, o PEI possui grande riqueza já que o número de
famílias e espécies é considerável quando comparado a outros estudos de composição
florística de restinga no Espírito Santo (Pereira & Assis, 2000; Assis et al. 2004;
Colodete & Pereira, 2007; Braz et al., 2013). Além disso, de acordo com a IUCN
(2017), algumas espécies estão categorizadas como quase ameaçada (Aechmea maasii
Gouda & W.Till) e outras como pouco preocupante (Varronia polycephala Lam.;
Aniseia martinicensis (Jacq.) Choisy; Fuirena umbellata Rottb.; Rhynchospora
corymbosa (L.) Britton; Tonina fluviatilis Aubl.; Utricularia gibba L.; Utricularia
subulata L.; Ludwigia hyssopifolia (G.Don) Exell; Polygala glochidiata Kunth; Typha
angustifolia L.) evidenciando a importância destes estudos para a conservação de áreas

162
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

como o Parque Estadual de Itaúnas, e, consequentemente, preservação dessas espécies e


das demais que não estão atualmente categorizadas quanto ao seu grau de ameaça.

Tabela 1: Lista de novos registros de espécies para o Parque Estadual de Itaúnas,


Espírito Santo, Brasil. NE: espécie não categorizada quanto ao grau de ameaça; LC:
pouco preocupante; NT: quase ameaçada.
Família Espécies Voucher Hábito Stat
us

Apocynaceae Condylocarpon intermedium Müll. Miranda, S.V. 46 Trepadeira NE


Arg.

Marsdenia sp. Miranda, S.V. 63 Liana NE

Matelea orthosioides (E. Fourn.) Miranda, S.V. 29 Liana NE


Fontella

Asteraceae Ageratum aff. fastigiatum L.F.T. Menezes et Subarbusto NE


(Gardner) R.M.King & H.Rob. al.290 (VIES)
(27161)

Ageratum conyzoides L. Amaral, R.N 65 Subarbusto NE

Baccharis calvescens DC. Souza, W.O 360 Arbusto NE

Bahianthus viscosus (Spreng.) Amaral, R.N 17 Arbusto NE


R.M.King & H.Rob.

Bidens subalternans DC. Amaral, R.N 68 Subarbusto NE

Chromolaena maximilianii Amaral, R.N 03 Subarbusto NE


(Schrad. e DC.) R.M. King & H.
Rob.

Erechtites hieracifolius (L.) Raf. Amaral, R.N 57 Erva NE


ex DC.

Lepidaploa araripensis (Gardner) Amaral, R.N 05 Subarbusto NE


H.Rob.

Lepidaploa sororia (DC.) H. Rob Amaral, R.N 36; Subarbusto NE


37; 85; 49;

Porophyllum ruderale (Jacq.) Amaral, R.N 56 Subarbusto NE


Cass.

Praxelis pauciflora (Kunth) Amaral, R.N 69 Subarbusto NE


R.M.King & H.Rob.

Tridax procumbens L. Amaral, R.N 63 Subarbusto NE


procumbente

Boraginaceae Varronia polycephala Lam. Rodrigues,M.R.59 Subarbusto LC

Bromeliaceae Aechmea maasii Gouda & W.Till Maciel, J.R. 1892 Epífita NT

Convolvulace Aniseia martinicensis (Jacq.) Rodrigues,M.R 63 Trepadeira LC

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ae Choisy (VIES)

Daustinia montana (Moric.) Buril Rodrigues,M.R 20 Erva NE


& A.R. Simões (VIES)

Ipomoea aff bahiensis Willd. ex Rodrigues,M.R 37 Trepadeira NE


Roem. & Schult (VIES)

Ipomoea carnea subsp. fistulosa Rodrigues,M.R 18 Arbusto NE


(Mart. ex Choisy) D.F.Austin (VIES)

Jacquemontia mucronifera Rodrigues,M.R. 69 Trepadeira NE


(Choisy) Hallier f. (VIES)

Merremia dissecta (Jacq.) Hallier Machado, J. 238 Trepadeira NE


f. (VIES)

Cucurbitaceae Momordica charantia L. Machado, J.O 168 Trepadeira NE

Cyperaceae Abildgaardia baeothryon A.St.- Souza, W.O. et al. Anfibia NE


Hil. 345

Bulbostylis cf. consanguinea Machado, J.O. et Anfibia NE


(Kunth) C.B.Clarke al.180

Cyperus haspan L. Souza, W.O. et al. Anfibia NE


173

Cyperus hermaphroditus (Jacq.) Machado, J.O. et Anfibia NE


Standl. al. 43

Cyperus rigens J.Presl & C.Presl Machado, J.O. et Anfibia NE


al. 43

Eleocharis interstincta (Vahl) Souza, W.O. et al. Emergente NE


Roem. & Schult. 222

Eleocharis nana Kunth Souza, W.O. et al. Emergente NE


310

Eleocharis plicarhachis (Griseb.) Machado, J.O. et Emergente NE


Svenson al. 32

Fuirena umbellata Rottb. Souza, W.O. et al. Anfibia NE


159

Kyllinga odorata Vahl Souza, W.O. et al. Anfibia NE


219

Rhynchospora corymbosa (L.) Souza, W.O. et al. Emergente LC


Britton 172

Rhynchospora tenuis Link Machado, J.O. et Emergente NE


al. 92

Scleria gaertneri Raddi Machado, J.O. et Anfibia NE


al. 94

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Eriocaulaceae Actinocephalus bongardii (A.St.- Caetano, A.P.21 Erva NE


Hil.) Sano

Syngonanthus cf. gracilis (Bong.) Souza, W.O. et al. Anfíbia NE


Ruhland 340

Tonina fluviatilis Aubl. Souza, W.O. et al. Submersa- LC


308 fixa

Euphorbiacea Microstachys corniculata (Vahl) Amorim, B.S. Subarbusto NE


e Griseb. 1957

Fabacaeae Sesbania herbacea (Mill.) Souza, W.O. et al. Anfibia NE


McVaugh 177

Swartzia apetala var. glabra Moraes, Q.S. 73 Árvore NE


(Vogel) R.S.Cowan

Gentianaceae Voyria tenella Guilding ex. Hook. Souza, W.O. 445 Erva NE
micoheterótro
fa

Haloragaceae Laurembergia tetrandra (Schott) Souza, W.O. et al. Anfibia NE


Kanitz 09

Lentibulariace Utricularia foliosa L. Souza, W.O. et al. Flutuante- NE


ae 289 livre

Utricularia gibba L. Souza, W.O. et al. Anfíbia LC


237

Utricularia subulata L. Souza, W.O. et al. Emergente LC


224

Malvaceae Talipariti pernambucense (Arruda) Souza, W.O. et al. Anfibia NE


Bovini 156

Melastomatac Comolia ovalifolia (DC.) Triana Machado, J.O 86 Subarbusto NE


eae

Miconia minutiflora (Bonpl.) DC. Amorim, B.S. Arbusto NE


1958

Tibouchina macrochiton (Mart. ex Amaral, R.N. 24 Arbusto/Arvo NE


DC.) Cogn. reta

Nymphaeacea Nymphaea caerulea Savigny Souza, W.O. et al. Flutuante-fixa NE


e 209

Nymphaea pulchella DC. Souza, W.O. et al. Flutuante-fixa NE


198

Nymphaea rudgeana G.Mey Souza, W.O. et al. Flutuante-fixa NE


169

Olacaceae Ximenia americana L. Alves-Araújo, A. Arbusto/Arvo NE


1645 re

165
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Onagraceae Ludwigia cf. filiformis (Micheli) Machado, J.O. et Anfibia NE


Ramamoorthy al. 160

Ludwigia hyssopifolia (G.Don) Souza, W.O. et al. Anfibia LC


Exell 208

Poaceae Andropogon bicornis L. Souza, W.O. et al. Anfibia NE


183

Eragrostis pilosa (L.) P.Beauv. Maciel, J.R. 1895 Erva NE

Eragrostis tenella (L.) P.Beauv. ex Maciel, J.R. 1878 Trepadeira NE


Roem. & Schult.

Ichnanthus nemoralis (Schrad.) Erva NE


decumbente

Paspalum repens P.J.Bergius Souza, W.O. et al. Emergente NE


296

Polygalaceae Polygala glochidiata Kunth Machado, J.O. et Anfibia LC


al. 270

Polygonaceae Polygonum acuminatum Kunth Souza, W.O. et al. Anfibia NE


175

Pontederiacea Eichhornia azurea (Sw.) Kunth Souza, W.O. et al. Flutuanta- NE


e 295 livre

Eichhornia crassipes (Mart.) Souza, W.O. et al. Flutuanta- NE


Solms 293 livre

Rubiaceae Borreria capitata (Ruiz & Pav.) Moraes, Q.S. 09 Erva NE


DC.

Borreria latifolia (Aubl.) K. Moraes, Q.S. 69 Subarbusto NE


Schum

Borreria verticillata (L.) G. Mey Moraes, Q.S. 10 Subarbusto NE

Borreria virgata Cham. & Schltdl. Moraes, Q.S. 49 Subarbusto NE

Emmeorhiza umbellata K.Schum. Moraes, Q.S. 132 Erva NE


Escandente

Hexasepalum apiculatum (Willd.) Moraes, Q.S. 31 Erva NE


Delprete & J.H. Kirkbr.

Mitracarpus polygonifolius (A. Martins, S.A.J. 06 Erva NE


St.-Hil.) R.M. Salas & E.B. Souza

Mitracarpus strigosus (Thunb.) Moraes, Q.S. 67 Erva NE


P.L.R. Moraes, De Smedt &
Hjertson

Psychotria hoffmannseggiana Moraes,Q.S. 13 Subarbusto NE


(Schult.) Müll. Arg.

166
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Smilacaceae Smilax quinquenervia Vell Freitas, J. 234 Trepadeira NE

Smilax remotinervis Hand.-Mazz. Amorim, B.S. Trepadeira NE


1956

Smilax spicata Vell. Souza, W.O. 281 Trepadeira NE

Typhaceae Typha angustifolia L. Souza, W.O. et al. Emergente LC


157

Vitaceae Cissus stipulata Vell. Maciel,J.R.1900 Trepadeira NE

Xyridaceae Xyris jupicai Rich. Souza, W.O. et al. Emergente NE


338

CONCLUSÃO

Os estudos apontam o aumento do número de taxa ocorrentes no Parque


Estadual de Itaúnas, corroborando com o estimado por Souza et al. (2016) e também, a
elevada diversidade taxonômica da área com grande importância para a composição
florística do norte do Espírito Santo. Contudo há muito o que se descobrir, por isso
coletas rotineiras e estudos taxonômicos continuam sendo realizados na área.

LITERATURA CITADA

APG IV - An update of the Angiosperm Phylogeny Group classification for the orders
and families of flowering plants: APG IV, 2016.

Assis, A.M.; Pereira, O.J. & Thomaz, L.D. 2004. Fitossociologia de uma floresta de
restinga no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari
(ES). Revista Brasileira de Botânica 27: 349-361p.

BFG 2015. The Brazil Flora Group. Growing knowledge: an overview of Seed Plant
diversity in Brazil. Rodriguésia, 66(4):1085-1113.

Braz, D.M., Jacques E.L., Somner G.V., Sylvestre L.S., Rosa M.M.T., Pereira-Moura
M.V.L., Germano Filho P., Couto A.V.S. & Amorim T.A. 2013. Restinga de
Praia das Neves, ES, Brasil: caracterização fitofisionômica, florística e
conservação. Biota Neotrop., 13(3): 315-331.

Bridson, D. & Forman, L. 1998. The Herbarium Handbook. Richmond: Royal Botanical
Garden, Lubrecht & Cramer Ltd. 348p.

Cepemar Serviços de Consultoria em Meio Ambiente (CEPEMAR). 2004. Plano de


Manejo do Parque Estadual de Itaúnas. Vitória: CEPEMAR.

Colodete, M.F. & Pereira, O.J. 2007. Levantamento Florístico da restinga de Regência,
Linhares / ES. Revista Brasileira de Biociências, Porto Alegre, 5(2):558-560 p.

Cruz et al., 2007. Levantamento da Cobertura Vegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica.
Instituto de Estudos Socioambientais do Sul da Bahia (IESB). 84p.

167
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MMA. Avaliação e ações prioritárias para a conservação da biodiversidade da Mata


Atlântica e Campos sulinos. 40p. Brasília: MMA/SBF, 2000.

Myers, N.; Mittermeier, R. A.; Mittermeier, C. G.; Fonseca, G. A. B. & Kent, J. 2000.
Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, Londres, 403: 853-
858p.

Pereira, O.J. & Assis, A.M. 2000. Florística da restinga de Camburi. Acta Botanica
Brasilica 14: 99-111p.

Sampaio, D. 2005. Restinga. In Árvores da restinga: Guia de identificação (D.Sampaio,


V.C. Souza, A.A. Oliveira, J.Paula-Souza & R.R. Rodrigues). Neotrópica, São
Paulo, p.25-30.

Santos-Filho, F.S.; Almeida Jr., E.B.; Bezerra, L.F.M.; Lima, L.F.; Zickel, C.S. 2011.
Magnoliophyta, restinga vegetation, state of Ceará, Brazil. Check List, v.7.

Souza, W.O.; Machado, J.O; Tognella, M.M. & Alves-Araújo, A. 2016. Checklist de
angiospermas do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil. Rodriguésia
67(3): 571-581.

Souza, W.O.; Pena, N. T. L.; Garbin, M. L. & Alves-Araújo, A. (In press). Macrófitas
Aquáticas do Parque Estadual de Itaúnas, Espírito Santo, Brasil.

The International Plant Names Index (IPNI). Disponível em: http://www.ipni.org


(24/04/2017).

The IUCN Red List of Threatened Species. Version 2017. <www.iucnredlist.org>


Acesso em: 24 abril 2017.

168
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

O BOTÂNICO FREDERICO CARLOS HOEHNE: IMPORTÂNCIA PARA O


ESTUDO DAS ARISTOLOCHIACEAE BRASILEIRAS

Joelcio FREITAS1*, Elton John de LÍRIO2, Favio GONZÁLEZ3, Valderes Bento


SARNAGLIA JÚNIOR2, Anderson ALVES-ARAÚJO4
1
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS
2
Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro – JBRJ
3
Universidad Nacional de Colombia
4
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.
* joelciofr@gmail.com

INTRODUÇÃO

Aristolochia compreende cerca de 500 espécies, sendo o maior gênero da família


Aristolochiaceae (González, 2011), com distribuição pantropical, mas ocorrendo
especialmente nos Neotrópicos, onde é extremamente diversificado (González, 2000). No
Brasil, são registradas 92 espécies de Aristolochia e o país é um dos mais diversos do
mundo para o gênero (BFG, 2015).
Além de ter representantes muito ornamentais, várias espécies de Aristolochia são
usadas na medicina tradicional por muitas culturas especialmente nas Américas e na Ásia
(Hoehne, 1942b; González, 1990). Entre eles o tratamento de picadas de cobra, distúrbios
digestivos e indução de aborto (Hoehne, 1942b; González, 1990). No entanto, numerosos
efeitos colaterais, incluindo câncer, nefropatia e danos hepáticos em mamíferos, foram
relatados em função das propriedades tóxicas de alguns de seus componentes químicos
(Hoehne, 1942b;WHO, 2004).
O gênero Aristolochia foi estudado em grande detalhe pelo botânico brasileiro
Frederico Carlos Hoehne (1876-1959), que contribuiu significativamente para o
conhecimento de vários grupos taxonômicos da flora brasileira.
O presente trabalho trata da contribuição dada pelo autor ao conhecimento da
família Aristolochiaceae e traz um panorama atual do status taxonômico das espécies
descritas por ele ao longo de sua obra.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho baseia-se no exame da literatura relevante para a família


Aristolochiaceae e de estudo de espécimes depositados nos herbários (acrônimosde acordo
com Thiers, 2016): A, BM, COL, F, G, GB, GH, MG, MO, NY, P, R, RB, S, SP, SPF, US
e W. Também foram examinados os espécimes tipo dos herbários: BM, G, HBG, K,
MEDEL, P e SI disponíveis no website do JSTOR (http://plants.jstor.org).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Biografia e contribuições com a família Aristolochiaceae


Frederico Carlos Hoehne (1876-1959) teve início na sua carreira como botânico em
1907, quando foi nomeado jardineiro-chefe no Museu Nacional do Rio de Janeiro
(Herbário R). Foi um dos cientistas que realizaram importantes expedições científicas
como Rondon em 1908, 1910 e 1912, e Roosevelt-Rondon em 1913 (Franco &

169
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Drummond, 2005), que se destinavam a conectar as linhas telegráficas na região norte do


Brasil.
Nestas expedições ele foi responsável pelos estudos botânicos (Sá et al., 2008) e a
maioria dos materiais coletados está alojada no herbário R (Franco & Drummond, 2005).
Muitos desses espécimes eram materiais originais de várias espécies novas descritas
(espécimes-tipo).
Em 1917, Hoehne começou a trabalhar na seção de Botânica do Instituto Butantan
(atualmente, Instituto de Botânica de São Paulo, Herbário SP) (Franco & Drummond,
2005). Sua produção bibliográfica foi uma das maiores em Língua Portuguesa sobre a flora
brasileira (Teixeira, 1962). A obra científica de maior destaque, concebida e organizada
por Hoehne, foi a Flora Brasilica, que pretendia ser a versão atualizada da Flora
brasiliensis organizada por Martius (Franco & Drummond, 2005). Oito dos doze volumes
foram escritos pelo próprio Hoehne (quatro deles por outros autores).
Durante sua nomeação no Instituto Butantan, Hoehne publicou duas importantes
obras para o estudo de Aristolochia: "Monografia das Aristolochiaceas brasileiras"
(Hoehne, 1927), que era uma versão preliminar de sua obra mais notória na família, a Flora
Brasilica (Hoehne,1942b). No entanto, os novos táxons de Hoehnede Aristolochia
remontam a 1910 e durou mesmo depois de suas contribuições de 1942 (Hoehne, 1910;
1914; 1915; 1925; 1927; 1939; 1942a; 1942b; 1944; 1947; 1952).

Taxonomia
Numa extensa revisão dos nomes publicados por Hoehneverificou-se que a maioria
não apresenta designação formal de tipos na publicação original (holótipos), uma prática
comum para a época, onde designavam vários materiais tipos, e que hoje, de acordo com o
Código Internacional de Nomenclatura para Algas, Fungos e Plantas (CINAFP)(McNeillet
al., 2012) são considerados síntipos. A partir destes, deve haver uma designação formal de
um lectótipo, que trata-se de um voucherou ilustração ao qual o nome fica
permanentemente ligado.
Hoehne descreveu 29 espécies e seis variedades/subespécies. Atualmente 15 destes
nomes propostos por ele são consideradas espécies aceitas (Tabela 1). Do total de espécies
descritas ou combinadas, 13 delas (trêsa nível subespecífico) necessitam ser formalmente
tipificadas de acordo com o CINAFP (McNeillet al., 2012):

Tabela 1. Espécies de Aristolochia descritas ou combinados por Hoehne.


Espécie Status atual Nome aceito Material tipo
designado
AristolochiaallemaniiHoehne Sinônimo A. birostris Duchartre Síntipos
AristolochiaargyroneuraHoehneex Uribe-Uribe Sinônimo A. leuconeura Linden Síntipos
AristolochiaceresensisKuntzevar.acuminataHoehInválido - -
ne
A. ceresensis Kuntze var. jorgensenii (Hauman) Sinônimo A. ceresensis Kuntze Lectótipo
Hoehne
A. ceresensisKuntzevar.lingua(Malme) Hoehne Sinônimo A. ceresensis Kuntze Lectótipo
Aristolochia chamissonis(Klotz.) Duch.var. Sinônimo A. chamissonis (Klotz.) Síntipos
paulistanaHoehne Duch.
A. claussenii Duchartre subsp. pyrenea (Taub.) Sinônimo A. claussenii Duch. Síntipos
Hoehne
Aristolochia colossifolia Hoehne Aceito - Holótipo
Aristolochia compta Hoehne Aceito - Holótipo
Aristolochia decursive-bracteata Hoehne Sinônimo A. urbaniana Taubert Holótipo
Aristolochia droseroides Hoehne Sinônimo A. ridicula Brown Síntipos
Aristolochia dubia Hoehne Sinônimo A. mossii Moore Holótipo

170
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Aristolochia eggersii Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo


Aristolochia ernestulei Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo
Aristolochia gehrtii Hoehne Aceito - Holótipo
Aristolochia gibertii Hookervar. paulistana Inválido - -
Hoehne
Aristolochia haughtiana Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo
Aristolochia jauruensis Hoehne Sinônimo A. weddellii Duch. Síntipos
Aristolochia lagesiana Ulevar. intermedia Inválido - -
Hoehne
Aristolochia limai Hoehne Aceito - Síntipos
Aristolochia loefgrenii Hoehne Sinônimo A. esperanzae Kunt. Síntipos
Aristolochia malmeana Hoehne Aceito - Síntipos
Aristolochia macrorrhyncha Hoehne Sinônimo A. labiata Willdenow Holótipo
Aristolochia medellinensis Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo
Aristolochia nevesarmondiana Hoehne Aceito - Síntipos
Aristolochia odoratissima L.var. pandurata Sinônimo A. odoratissima L. Lectótipo
(Jacq.) Hoehne
Aristolochia pannosoides Hoehne Aceito - Holótipo
Aristolochia paulistana Hoehne Aceito - Síntipos
Aristolochia peltato-deltoidea Hoehne Aceito - Holótipo
Aristolochia peltibractea Hoehne Sinônimo A. burelaeHerzog Holótipo
Aristolochia rodriguesii Hoehne Sinônimo A. dydima Moore Lectótipo
Aristolochia saxicola Hoehne Sinônimo A. smilacina (Klotz.)Holótipo
Duch.
Aristolochia schmidtiana Hoehne Aceito - Lectótipo
Aristolochia schubertioides Hoehne Sinônimo A. pilosa Kunth Holótipo
Aristolochia stomachoides Hoehne Aceito - Síntipos
Aristolochia urupaensis Hoehne Aceito - Síntipos
Aristolochia weddellii Duch. subsp. Duckeana Aceito - Síntipos
Hoehne
Aristolochia weddellii Duch. subsp. rondoniana Aceito - Lectótipo
Hoehne
Aristolochia wendeliana Hoehne Aceito - Holótipo

Das espécies descritas, A.ceresensis Kuntze var. acuminata Hoehne, A. gibertii


Hookervar. paulistana Hoehne e A. lagesiana Ule var. intermédia Hoehne, são inválidas
devido à falta dedescrição formal na publicação, ou diagnose/descrição em latim (uma
exigência para a época que foram publicadas) (McNeill et al., 2012).
Dentre os nomes descritos por Hoehneque são aceitos atualmente, inúmeros se
apresentam com um grande potencial ornamental (Figura 1), o que pode ser um agravante,
haja vista que algumas delas têm distribuição restrita e/ou são conhecidas por poucas
coletas, como A. nevesarmondiana (Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo) e A.
wendeliana (Paraná e São Paulo) e podem sofrer algum grau de ameaça no futuro, sendo
que a maior parte das espécies ainda carece de avaliação de risco (Brasil, 2014; São Paulo,
2016), sendo necessária uma atenção especial para elas em próximas avaliações de risco
para as floras estaduais e nacional.

CONCLUSÃO

A revisão das Aristolochia publicadas por Hoehne se fez muito importante,


principalmente pela confirmação dos materiais tipo que devem ser designados. Com o
grande potencial ornamental que muitas das espécies descritas por ele possuem, é preciso
que as que têm uma distribuição mais restrita, recebam uma atenção especial nas próximas
avaliações das listas estaduais e nacionais da flora ameaçada de extinção.

171
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Espécies de Aristolochia atualmente aceitas descritas por Hoehne. A)


Aristolochia gehrtii; B e C) A. nevesarmondiana; D) A. paulistana; E) A. stomachoides; F)
A. urupaensis. G) A. wendeliana. Fotos: A, D e E (Mauro Peixoto); B e C (Joelcio Freitas);
F (Juliana Cristina Holzbach); G (Alexandre Gibau Lima).

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos curadores dos herbários consultados: Ruy J. V. Alves (R)
Rafaela C. Forzza (RB) e Maria C. H. Mamede (SP). À Mauro Peixoto, Juliana Cristina
Holzbach e Alexandre Gibau Lima, pelo autorização de uso das imagens. O primeiro autor
agradece ao Programa de Pós-Graduação em Botânica (PPPGBot / UEFS) e ao Conselho

172
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); e o segundo autor


agradece à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelas
bolsas de doutorado concedidas.

LITERATURA CITADA

BFG (Brazil Flora Group). 2015. Growing knowledge: an overview of Seed Plant diversity
in Brazil. Rodriguésia, 66:1085–1113.

BRASIL. 2014. Portaria MMA nº 443, de 17 de dezembro de 2014. Lista Nacional Oficial
deEspécies da Flora Ameaçadas de Extinção. Diário Oficial [da] República
Federativa do Brasil, 245: 110-121.

Franco, J.L.A. & Drummond, J. A. 2005. Frederico Carlos Hoehne: a atualidade de um


pioneiro no campo da proteção à natureza no Brasil. Ambiente & Sociedade, 8:1–
26.

González, F. 1990. Flora de Colombia. Aristolochiaceae. Monografia No. 12. Universidad


Nacional de Colombia, Instituto de Ciencias Naturales, Bogotá, pp. 1–183.

González, F. 2000. A new species of Aristolochia(Aristolochiaceae) from Bahia, Brazil.


Novon, 10:371–374.

González, F. 2011.A new pseudostipule-bearing species of Aristolochia (Aristolochiaceae)


from Bahía and Espírito Santo, Brazil. Brittonia, 63:430–435.

Hoehne, F. C. 1910.Aristolochiaceae in Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de


Mato Grosso ao Amazonas,5:65–69.

Hoehne, F. C. 1914. Aristolochiaceae in Expedição ScientificaRosevelt-Rondon.


Anexo,2:40–41.

Hoehne, F. C. 1915. Aristolochiaceae in Commissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas


de Matto-Grosso-Amazonas. Anexo, 5:65–68.

Hoehne, F. C. 1925. Meia duzia de espécies e duas subspecies novas de Aristolochias da


Flora Brasilica. Archivos de Botânica do Estado de São Paulo 1: 4–23.

Hoehne, F. C. 1927. Monografia Ilustrada das Aristolochiaceae Brasileiras. Memórias do


Instituto Oswaldo Cruz, 20: 67–175.

Hoehne, F.C. 1939. Plantas e substâncias vegetais tóxicas e medicinais. Departamento de


Botânica do Estado, São Paulo. 355 pp.

Hoehne, F. C. 1942a. III. Algumas novidades do gênero Aristolochia, da flora


sulamericana(descobertas nos herbários do Jardim Botánico do Rio de Janeiro e do
United StatesNationalMuseum, de Washington, U.S.A. Arquivos de Botânica do
Estado de São Paulo,1: 89–92.

Hoehne, F. C. 1942b.Aristolochiáceas.Flora Brasilica, 15(2):1–141, tábs. 1–123.

173
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Hoehne, F. C. 1944. Duas novas Aristolochia a serem acrescentadas. Arquivos de Botânica


do Estado de São Paulo, Nova Série, 1: 135–137.

Hoehne, F. C. 1947. Novas espécies e contribuições para o conhecimento do gênero


Aristolochia na América do Sul. Arquivos de Botânica do Estado de São Paulo,
Nova Série, 2:45–103.

Hoehne, F. C. 1952. Uma nova Aristolochia de procedência incerta. Arquivos de Botânica


do Estado de São Paulo, Nova Série, 2:171-171.

McNeill, J., Barrie, F.R., Buck, W.R., Demoulin, V., Greuter, W., Hawksworth, D.L.,
Herendeen, P.S., Knapp, S., Marhold, K., Prado, J., Prud’Homme Van Reine, W.F.,
Smith, G.F., Wiersema, J.H. &Turland, N. J. 2012.InternationalCodeofNomenclature
for algae, fungi, andplants (Melbourne Code) adopted by the Eighteenth International
Botanical Congress Melbourne, Australia, July 2011. [RegnumVegetabile 154].
Gantner, Ruggell, 240 pp.

Sá, D.M., Sá, M.R. & Lima, N. T. 2008. Telégrafos e inventário do território no Brasil: as
atividades científicas da Comissão Rondon (1907–1915). História, Ciências,
Saúde,15:779–810.

São Paulo. 2016. Resolução SMA nº 057, de 05 de Junho de 2016.Publica a segunda


revisão da lista oficialdas espécies da flora ameaçadas deextinção no Estado de São
Paulo. Secretaria do Estado do Meio Ambiente. Poblicada no DOE de 30-06-2016,
Seção I, p55-57.

Teixeira, A.R. 1962. Frederico Carlos Hoehne. Arquivos de Botânica do Estado de S.


Paulo, 3:221–222.

WHO (World Health Organization). 2004.Aristolochic acid. Pharmaceuticals Newsletter,


5:1.

174
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

USO DE MODELOS DIDÁTICOS DE RAÍZES PARA O ENSINO-


APRENDIZAGEM DE BOTÂNICA

Ludmila de SOUZA1*, Gabrielle Christini Costa SANTANNA1 & Elisa Mitsuko


AOYAMA1
1
Universidade Federal do Espírito Santo/Centro Universitário Norte do Espírito Santo/ Departamento de
Ciências Agrárias e Biológicas
*ludysouza15@hotmail.com

INTRODUÇÃO

O ensino de Botânica nas escolas públicas é por vezes precário, pois não existem
muitas alternativas didáticas para a transmissão do conhecimento do mesmo, onde
geralmente faltam materiais didáticos para o ensino de Ciências e Biologia. Com isso, o
professorfica impossibilitado de ministrar uma aula dinâmica ou diferenciada para as
suas turmas (Krasilchick, 2008).
Em relação ao ensino de ciências e biologia, e mais especificamente em relação
ao ensino de botânica, muito se investe na elaboração e utilização de livros didáticos
cada vez mais atraentes e ilustrados, o que muitas vezes não é proporcional ao
investimento em sua qualidade e conteúdo. Usando como único recurso, o livro acaba
por impedir o professor de planejar sua aula de acordo com os interesses e habilidades
dos alunos, além de prejudicar o incentivo para que pensem. É evidente, ainda, que a
observação direta dos vegetais contribui muito para a aprendizagem do que a simples
observação de suas ilustrações em livros didáticos (Neto & Fracalanza, 2003). Desta
forma, a utilização de materiais diversos, como modelos didáticos que buscam facilitar
o ensino-aprendizagem dos alunos, proporciona a eles uma visão mais próxima de sua
realidade, ajudando-os então nesse processo.
Os modelos didáticos devem ser um dos recursos mais empregados nas aulas de
Ciências e Biologia para demonstrar objetos ou estruturas em três dimensões
(Krasilchik, 2004), melhorando a capacidade de adquirir e guardar informações em
comparação com os métodos tradicionais (Almeida, 2003). Para Zabala (1998) a
escolha dos conteúdos, ou seja, do que ensinar deve englobar conteúdos conceituais,
procedimentais e atitudinais, os quais têm extrema importância para a ocorrência de
uma aprendizagem significativa.
Segundo Piletti (2006) os recursos de ensino são componentes do ambiente da
aprendizagem, que dão origem a estimulação do aluno e a quem está no comando de
uma sala de aula, este que sabe como é difícil despertar e manter o interesse do ouvinte.
Atualmente, um dos principais desafios do professor é planejar aulas estimulantes e
motivadoras, nesse sentido, a utilização de diferentes recursos didáticos propiciará ao
aluno a melhor compreensão dos conteúdos.
O objetivo deste trabalho é propor a confecção e utilização de modelos didáticos
de raízescomo alternativa educacional para o ensino de Morfologia Vegetal, acarretando
assim, maior interação e consequentemente, maior aprendizado do aluno com o
conteúdo ministrado, já que as raízes apresentam diversas formas e funções que vão
desde a sustentação até a nutrição da planta e são de extrema importância para a
alimentação do ser humano, fornecendo quantidades significativas de vitaminas. O
estudo teórico envolvendo o tema dos modelos foi adquirido inicialmente nas aulas da
disciplina de verão Morfologia Vegetal, como optativa do curso de Licenciatura em

175
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ciências Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo, Centro Universitário


Norte do Espírito Santo.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram confeccionados quatro modelos didáticos tridimensionais de raízes


conhecidas e presentes no cotidiano da maioria das pessoas: aguapé – Eichhornia
crassipes (raiz aquática fasciculada), feijão – Phaseolus vulgaris (raiz subterrânea
pivotante ou axial), milho – Zea mays (raiz adventícia) e cenoura – Daucus carota (raiz
subterrânea tuberosa axial). Essas espécies foram selecionadas devido à importância e a
presença delas no dia a dia dos alunos que muitas vezes consomem ou conhecem as
espécies, mas não sabem que elas são raízes e/ou como são cultivadas. Os modelos
foram confeccionados no período de cinco dias e os mesmos foram aplicados em uma
turma de licenciatura em Ciências Biológicas de diversos períodos da disciplina de
verão/2016 (Morfologia Vegetal) do Centro Universitário Norte do Espírito Santo
(Ceunes).
Para a confecção dos modelos didáticos tridimensionais citados acima, foram
utilizados os seguintes materiais: caixas de sapato, isopor, biscuit, tinta para tecido
verde, laranja, marrom e branca, verniz para biscuit, cola branca, cola para isopor,
tesoura, faca, arame liso, linha para bordar marrom e laranja, fita adesiva transparente,
palito de churrasco, papel camurça marrom, cartolina verde, terra, folhas artificiais
(plástico) e folhas de papel A4 com os nomes de cada espécie e o tipo de raiz
representado.
Os modelos foram baseados no livro Introdução à Botânica: morfologia /
Vinícius Castro Souza, Thiago Bevilacqua Flores, Harri Lorenzi. – São Paulo: Instituto
Plantarum de Estudos da Flora, 2013.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Confecção da raiz de aguapé Eichhornia crassipes (Figura 1): foi feita a raiz
principal com biscuit em formato cilíndrico, na cor marrom, com aproximadamente
16,5cm, onde a região lisa ou de distensão foi feita na cor branca. A região de
ramificação também foi feita com biscuit na cor marrom, em formato cilíndrico, porém
com diâmetro e tamanho menores. Na região pilífera ou de absorção foram inseridos
pequenos pedaços de linha de bordar marrom. O modelo foi fixado com fita adesiva
transparente em uma tampa de caixa de sapato encapada com papel camurça marrom e
cada estrutura foi identifica com uma etiqueta impressa em papel A4.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Modelo da raiz de aguapé – Eichhornia crassipes


Confecção da raiz de feijão – Phaseolus vulgaris (Figura 2): foi utilizado um
pedaço de isopor de aproximadamente 10,5cm de comprimento, 10,5cm largura e 7,0cm
de altura, encapado com biscuit marrom na parte da frente e com as laterais pintadas
com tinta de tecido marrom. As raízes foram feitas com biscuit branco em formato
cilíndrico e fixadas no biscuit marrom (na parte da frente do isopor). O caule foi feito
com arame liso de aproximadamente 8,5cm e pintado com tinta para tecido verde. As
folhas foram feitas com biscuit verde e os cotilédones foram feitos de biscuit verde e
marrom.

Figura 2. Modelo da raiz de feijão – Phaseolus vulgaris

Confecção da raiz de milho – Zeamays (Figura 3): foi utilizado um pedaço de


isopor de aproximadamente 13,5cm de comprimento, 14,5cm largura e 3,5cm de altura,
pintado com tinta para tecido marrom e na parte superior foi passado cola para isopor e
colocado um pouco de terra. O caule foi feito com biscuit verde em formato cilíndrico
de aproximadamente 18,0cm de comprimento e 3,5cm de diâmetro e fixado na parte

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

superior do isopor com um palito de churrasco. A folha foi feita com biscuit verde e as
raízes com biscuit branco em formato cilíndrico, sendo fixadas na parte basal do caule.

Figura 3. Modelo da raiz de milho – Zea mays

Confecção da raiz de cenoura – Daucus carota (Figura 4): foi utilizada uma
caixa de sapato com a parte superior cortada e depois encapada com papel camurça
marrom. Um pedaço de isopor, com umacircunferência de aproximadamente 5,0cm de
diâmetro no centro foi encapado com papel camurça marrom e o mesmo foi encaixado
dentro da caixa de sapato. A raiz foi feita com biscuit laranja, com aproximadamente
13cm e nela foram fixados pedaços pequenos de linha de bordar laranja (representando
os pelos absorventes). As folhas foram artificiais com aproximadamente 12,5cm e
encaixadas na parte superior da raiz. Depois de pronta, a cenoura foi encaixada dentro
da caixa, através da circunferência feita no isopor.

Figura 4. Modelo da raiz de cenoura – Daucus carota.

Todos os modelos foram identificados com uma placa feita com cartolina verde,
papel impresso em folha A4 com nome popular, científico e tipo de raízes das espéciese
fixados na base de cada modelo com um palito de churrasco.
O ensino da Botânica é, em geral, tradicional, centralizando-se na simples
memorização e repetição de nomes e funções, geralmente desvinculados do dia-a-dia e
da realidade em que os alunos se encontram. A Botânica, nessa situação, torna-se muitas

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

vezes uma disciplina maçante e monótona, fazendo com que os próprios estudantes
questionem o motivo pelo qual ela lhes é ensinada. Por outro lado, quando o estudo da
Botânica apresenta a relação entre os organismos e a natureza e aproxima do cotidiano,
ressaltando a importância dessa área de estudo, o estudante passa a ter um maior
interesse pelo assunto, quando lhes são dadas condições de perceber e discutir situações
relacionadas ao conteúdo. Desta forma, os modelos didáticos de raízes foram
confeccionados para preencher essa lacuna existente no conteúdo relacionado.
Durante uma aula da disciplina de verão Morfologia Vegetal, os quatros
modelos de raízes foram expostos em uma mesa no centro da sala e cada estrutura foi
devidamente demonstrada e explicada pela aluna Ludmila de Souza, onde os
licenciandos foram apresentados aos modelos didáticos e puderam visualizar os
diferentes tipos de raízes que existem e que estão presentes no dia a dia. Primeiramente
foi apresentado o modelo de raiz de aguapé, seguido pelos modelos de feijão, milho e
cenoura. Ao mostrar o modelo para os alunos, foi explicada a raiz representada,
juntamente com suas estruturas e características. Foi discutido também o fato do
material ser de fácil acesso, de fácil manuseio, de baixo custo e com uma boa
durabilidade. Os alunos foram positivos em relação à simplicidade e ao mesmo tempo
com a forma que os modelos foram representados, buscando sempre assimilar com o
modelo real.
Segundo a grade curricular do Espírito Santo (Brasil, 1998), esses modelos
confeccionados além de poderem ser utilizados na disciplina de Morfologia Vegetal,
podem ser também utilizados pelos professores para explicações da disciplina de
Angiospermas no Ensino Fundamental e Médio.
Ao trabalhar com recursos didáticos torna-se possível observar o entusiasmo do
aluno sobre a nova maneira de aprender. A maioria dos alunos prefere uma aula que
utilize um recurso didático do que uma aula com base no modelo tradicional bancário
(Freire, 1997), mesmo não tendo conhecimento sobre esse modelo. Assim, o uso de
modelos didáticos corresponde a uma forma de concretizar o conteúdo abordado, de
uma maneira divertida e prazerosa, caracterizando-se como uma das formas mais
efetivas de ensino, podendo ser utilizado como estratégia para aperfeiçoar o
desempenho dos alunos em conteúdos mais complexos (Miranda, 2001).

CONCLUSÃO

Com efeito, a atividade desenvolvida na produção e aplicação de modelos


didáticos para estudantes em formação, a partir de conteúdos de Botânica permitiu a
interação dos estudantes com o saber científico articulado com o saber pedagógico,
ambos de grande importância para a formação profissional. Ainda mais, proporcionou
intensificar a busca por referenciais teóricos que fundamentassem a proposta de
trabalho, bem como a reflexão em torno da sua futura prática docente no que se refere a
uma nova concepção de ensino de Ciências e Biologia.
A aproximação, proporcionada pelos modelos didáticos, entre aluno e as
temáticas cientificas, permitirá ao aluno apreender o que lhe é proposto de forma
prazerosa e alegre. Dessa maneira, haverá uma construção de valores e conhecimentos
para toda sua vida, não apenas uma memorização momentânea. A utilização dos
modelos didáticos contribui para o aprendizado da Botânica, pois facilita a compreensão
por utilizar o lúdico e ao mesmo tempo relacioná-lo com o cotidiano e a realidade.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a professora doutora Elisa Mitsuko Aoyama por ter ministrado a


disciplina de verão Morfologia Vegetal e por nos auxiliar na elaboração deste resumo.

LITERATURA CITADA

Almeida, J. M. S. 2003. Construindo a célula animal em sala de aula. In: Anais II


Encontro Regional de Ensino de Biologia, Niterói, 2003.

Brasil. 1998. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais:


Ciências Naturais / Secretaria de Educação Fundamental – Brasília.

Freire, P. 1997. Educação "bancária" e educação libertadora. MHS Patto, Introdução à


Psicologia Escolar, p. 61-78.

Krasilchik, M. 2004. Prática de Ensino de Biologia. EDUSP, São Paulo, 200 p.

Krasilchik, M. 2008. Prática de Ensino de Biologia. 6.ed. São Paulo: Edusp.

Miranda, S. 2001. No Fascínio do jogo, a alegria de aprender. Ciência Hoje, v.28, p. 64-
66.

Neto, J. M. & FRACALANZA, H. 2003. O livro didático de Ciências: Problemas e


Soluções. Ciências e Educação. Bauru, 9 (2): 147-157.

Piletti, C. 2006. Didática Geral. 23. ed. São Paulo: Ática.

Souza, V.C, FLORES, T.B, LORENZI, H. 2013. Introdução à Botânica: morfologia –


São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora.

Zabala, A. 1998. A prática educativa: como ensinar. Artmed, Porto Alegre, 224p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE CACAU PRÉ-EMBEBIDAS COM


SUBSTÂNCIAS ANTIOXIDANTES

Maiara Dadalto de OLIVEIRA1*, Leidiane ZINGER1, Marcus Vinicius Sandoval


PAIXÃO2, Suzane ZINGER3, Ana Paula Venturini DEMUNER1 & Samantha Fadini
TOREZANI1
1
Estudante, Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa,
2
Professor/Orientador, Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa
3
Engenheira Agrônoma
*email: maiaradadalto@gmail.com

INTRODUÇÃO

O cacaueiro (Theobroma cacao L.) é uma planta pertencente à família


Malvaceae, provavelmente originada da Bacia Amazônica e cultivada nas regiões
tropicais do mundo. O interesse de cultivo desta espécie está no aproveitamento de suas
sementes para produção de derivados de cacau (Alves, 2002). Do seu fruto do cacaueiro
se extraem sementes que, após sofrerem fermentação, transformam-se em amêndoas,
das quais são produzidos o cacau em pó e a manteiga de cacau. Em fase posterior do
processamento, obtém-se o chocolate, produto alimentício de alto valor energético (Iac,
1998).
O cacau vem se tornando uma cultura que ganha grande ocupação no mercado, e
para a produção do estado do Espirito Santo. Além do uso de suas sementes como
matéria prima para a indústria alimentícia, são utilizadas também, comumente para a
propagação da cultura.
A germinação de sementes é uma das fases críticas para o estabelecimento das
plantas em condições naturais. Fisiologicamente, a germinação inicia-se com a
embebição de água pela semente, seguida da retomada do crescimento do embrião
quiescente e terminando com a protrusão de alguma parte deste por meio do tegumento.
Na maioria dos casos, o primeiro órgão a emergir é a raiz primária. O processo de
germinação inicia-se com o ressurgimento das atividades metabólicas que foram quase
que paralisadas após a maturação da semente (Bewley & Black, 1982).
O conhecimento das condições ideais para a germinação de sementes de uma
espécie é de fundamental importância, principalmente, pelas respostas diferenciadas que
ela pode apresentar em função de diversos fatores, como viabilidade, dormência,
condições de ambiente, envolvendo água, luz, temperatura, oxigênio e ausência de
agentes patogênicos, associados ao tipo de substrato para sua germinação (Carvalho &
Nakagawa, 2000).
As substâncias antioxidantes são capazes de atrasar ou inibir a oxidação de um
substrato oxidável, protegendo as células sadias contra a ação oxidante dos radicais
livres (Ipiranga, 2016). Dentre as principais substâncias antioxidantes, temos: o ômega
3, ácido ascórbico, tocoferol e retinol. Não há estudos realizados quanto à ação dessas
substâncias na germinação de sementes a fim de melhorar seu vigor.
Objetivou- se avaliar a ação de substâncias antioxidantes no vigor das sementes
de cacau.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Laboratório de Sementes do Instituto Federal


do Espírito Santo campus Santa Teresa. As sementes de cacau da variedade clonal PS-
1319 foram adquiridas a partir de frutos colhidos na fazenda experimental da CEPLAC,
localizada no município de Linhares.
O preparo do ensaio experimental procedeu-se 48 horas após a colheita dos
frutos. Inicialmente foi feita a retirada da mucilagem com o auxílio de pó de serra em
água, e as sementes limpas foram levadas ao laboratório de produção de sementes.
Procedeu-se com o tratamento das sementes com fungicida comercial Dithaner
(2g.100ml-1). Após o tratamento preparou- se as 5 bandejas com 1 L de água e a
diluição de 200 mgL¹ de cada antioxidante (tocoferol, ômega 3, retinol e ácido
ascórbico) e uma testemunha em água pura. Em cada bandeja foram adicionadas 100
sementes, que constituíram as 4 repetições de 25 sementes para cada tratamento, estas
ficaram embebidas por 6 horas. Passado o tempo, procedeu- se com a montagem dos
tratamentos.
Os tratamentos foram feitos em papel germitest onde os mesmos foram pesados,
e o valor do peso multiplicado por 2,5 resultou no valor em ml de água destilada a
umedecer as folhas.
Sobre a mesa previamente esterilizada com álcool 70%, colocou duas folhas de
papel germitest e posicionou-se as 25 sementes e sobre estas colocou- se mais uma
folha de papel germitest, sendo montados os rolos com as sementes.
O mesmo procedimento foi realizado para todas as repetições. Os 4 rolos de
cada tratamento foram acondicionados em sacola plástica transparente e levados para
BOD à 25ºC.
As avaliações de germinação conforme Regras para Análise de Sementes (Brasil, 2009) .
IVG determinado pela fórmula de Maguire (1962) e TMG calculado segundo Laboriau
& Valadares (1976), começaram 3 dias após a montagem do experimento.
As contagens foram efetuadas diariamente e tiveram inicio com o surgimento
das primeiras radículas.
Os dados experimentais foram submetidos aos testes de Shapiro-Wilks (p>0,05),
para verificação da normalidade e à análise de variância, sendo as médias de cada
característica comparadas pelo teste de Tuckey em nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os tratamentos não afetaram as características relacionadas à germinação (IVG,


TMG e germinação), e o tempo e as concentrações utilizadas podem não ter sido
suficientes para desempenhar a atividade antioxidativas ou até como substrato
respiratório nas primeiras etapas de uso das reservas, germinação e desenvolvimento da
plântula (Tabela 1).
As sementes de cacau obtidas a partir de frutos selecionados na fazenda
experimental da CEPLAC trouxeram uma carga genética muito boa, o que proporcionou
uma germinação de 100% na testemunha, provando a qualidade das sementes colhidas
em frutos daquela empresa. Comparando com os tratamentos utilizados, podemos
observar que os antioxidantes não tiveram atuação positiva na germinação das sementes.
O tratamento com ômega 3 se destacou dos demais tratamentos, por se tratar de
uma substância com valor calórico superior ao dos carboidratos, seus efeitos
repercutiram com uma germinação semelhante à testemunha (Tabela 1).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Tabela 1. Médias dos tratamentos para vigor em sementes de cacau


Trat G IVG TMG
1 100 a 15,256 a 34,26 a
2 95 a 14,654 a 32,25 a
3 95 a 15,285 a 31,98 a
4 95 a 15,544 a 32,95 a
5 99 a 13,492 a 32,40 a
Médias dos tratamentos para germinação, seguidas de mesma letra na coluna para cada variável, não
diferem entre si pelo teste de Tukey em 5% de probabilidade.
G = Germinação, em %; IVG = Índice de Velocidade de Germinação; TMG = Tempo Médio de
Germinação;
Trat. 1= Testemunha; Trat. 2= Tocoferol; Trat. 3= Ácido Ascórbico; Trat. 4= Retinol; Trat. 5= Ômega 3.

Foi observado diferença na germinação, porém, os tratamentos não apresentaram


diferença significativa, pela concentração das substâncias utilizadas, bem como o tempo
de embebição que foram submetidas. Corroborando com a pesquisa, Melo et al. (2001)
também não obteve resultados significativos em embriões de guarirobeira, trabalhando
com cultura in vitro.
Poucas são as informações obtidas na literatura relacionadas a sementes
recalcitrantes tratadas com antioxidantes, principalmente com sementes de cacau e não
existem trabalhos que fazem referência ao uso de substâncias antitioxidantes com
influência nas atividades fisiológicas da planta.
Apesar das recomendações encontradas na literatura como uma das medidas
para equacionar o problema da oxidação (Grattapaglia & Machado, 1998). Pode-se
considerar como uma medida complementar para promover a reidratação mais rápida do
embrião em culturas que sofrem oxidação em suas sementes (Melo et al., 2001).

CONCLUSÃO

O tratamento com antioxidantes não afetou a germinação de sementes de cacau,


sendo necessário avaliar novas concentrações, tempo de imersão e uso de compostos
que veiculem com maior eficiência as substâncias testadas.

LITERATURA CITADA

Alves, S. A. M. 2002. Epidemiologia da Vassoura-de-Bruxa (Crinipellis Perniciosa


(STAHEL) SINGER) em Cacaueiros Enxertados em Uruçuca, BA. 2002.
Dissertação (Mestrado em Agronomia) – Escola Superior de Agricultura “Luiz
de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Piracicaba.

Bewley, J. D. & Black, M. 1982. Physiology and biochemistry of seeds, v.2., Berlin:
Springer-Verlag.

Brasil. Ministério da Agricultura e Reforma Agrária. 2009. Regras para análise de


sementes. Brasília, 398 p.

Carvalho, N. M. & Nakagawa, J. 2000. Sementes: ciência, tecnologia e produção.


Campinas: Fundação Cargill, 429p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Grattapaglia, D. & Machado, M. A. Micropropagação. In: Torres, A. C.; Caldas, L. S.;


Buso, J.A. (eds). 1998. Cultura de tecidos e transformação genética de plantas.
p.183-260. Brasília: EMBRAPA-CNPH.

IAC, Instituto Agronômico de Campinas. 1998. Cacau, Centro de frutas. Boletim IAC,
Campinas.

Ipiranga, L. Saúde. Vida Amazônica. 2016. Disponível em:


http://vidaamazonica.com.br/PDF%20SAUDE/29_9_2016 (07/04/16).

Labouriau, L.G. & Valadares, M.E.B. 1976. On the germination of seeds Calotropis
procera (Ait.) Ait.f. Anais da Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janeiro,
v.48, n.2, p.263-284.

Maguire, J.D. 2009. Speeds of germination-aid in selection and evaluation for seedling
emergence and vigor. Crop Science, Chicago, v.2, n.2, p.176-177, 1962.
Agrarian, v.2, n.3.

Melo, B.; Pinto, J. E. B. P.; Luz, J. M. Q.; Peixoto, J. R.; Juliatti, F. C. 2001. Diferentes
antioxidantes no controle da oxidação, Germinação e desenvolvimento das
plântulas na Cultura in vitro de embriões da guarirobeira [syagrus oleracea
(mart.) Becc.]. Ciênc. agrotec., Lavras, v.25, n.6, p.1301-1306.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

EFEITOS DA INTENSIDADE LUMINOSA SOBRE A HISTOQUÍMICA DE


RAÍZES DE Cattleya guttata Lindl. (ORCHIDACEAE)

Samira LEITE*, Antelmo Ralph FALQUETO, Elisa Mitsuko AOYAMA


UFES/CEUNES - Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Universidade Federal do Espírito
Santo, Centro Universitário Norte do Espírito Santo
* samiraleitesg@gmail.com

INTRODUÇÃO

Orchidaceae apresenta distribuição cosmopolita, incluindo cerca de 850 gêneros


e 20.000 espécies, sendo a maior família de Angiospermas em número de espécies
(Souza & Lorenzi, 2005). Morfologicamente, a família pode ser reconhecida por suas
raízes fasciculadas envolvidas por velame (espécies epífitas e rupícolas), ou ser
tuberoides em algumas espécies terrícolas (Piazza, 2013).
De acordo com Barros et al. (2015), constam no território brasileiro 2.553
espécies de orquídeas, distribuídas em 238 gêneros, dos quais 33 são endêmicos.
O gênero Cattleya é um dos mais importantes da família Orchidaceae devido ao
elevado valor ornamental e por isso, muitas espécies tem sido coletadas intensamente na
natureza para o cultivo. A elevada frequência com a qual vem ocorrendo essa procura
tem levado a uma redução e desaparecimento de várias populações e consequentemente,
várias dessas espécies apresentam-se ameaçadas a extinção (Cruz et al., 2003).
Para as orquídeas e demais plantas a luz é um recurso crítico que se recebida em
escassez ou em demasia pode limitar o seu crescimento e a sua reprodução. A relação
entre a radiação e as propriedades fotossintéticas ocorridas na folha fornece valiosa
informação sobre as adaptações da planta ao ambiente (Taiz & Zeiger, 2013).
Segundo Carvalho et al. (2006), as modificações nos níveis de luminosidade a
que uma espécie está adaptada podem acarretar diferentes respostas em suas
características fisiológicas; bioquímicas; de crescimento; e anatômicas.
Dessa maneira, é fundamental uma melhor compreensão da interferência do
ambiente de luz no cultivo de orquídeas. Uma vez que C. guttata possui um grande
potencial econômico, faz-se necessário à realização de trabalhos que permitam
comparar a histoquímica de raízes em ambiente de baixa e alta luminosidade com o
intuito de adquirir maior conhecimento sobre a espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

Cattleya guttata Lindl. (Figuras 1 A e B) é uma espécie ocorrente na Mata


Atlântica nos estados da Bahia, Goiás, Mato Grosso e na faixa litorânea em áreas de
restinga. A espécie tem como suas principais ameaças a fragmentação do habitat, onde
ocorre e a pressão de coleta predatória pelo seu valor ornamental. Diante do exposto, C.
guttata está classificada como vulnerável (Menini Neto et al., 2013).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. A) Morfologia de Cattleya guttata Lindl., cultivadas em diferentes condições


de luminosidade no orquidário do CEUNES/UFES; B) Detalhe floral da espécie
Cattleya guttata Lindl.

Plantas adultas de orquídeas Cattleya guttata Lindl. foram adquiridas em


orquidário particular do município de João Neiva/ES com recursos oriundos da
FAPES/CNPq. Neste orquidário, as plantas cresciam sobre densidade de fluxo de
fótons de 200 a 300 µmol m-2 s-1, temperatura média de30/25 °C (dia/noite) e umidade
relativa do ar em torno de 85%. Em março de 2013, as plantas foram conduzidas para o
orquidário do CEUNES/UFES, vinculado ao Programa de Pós-Graduação em
Biodiversidade Tropical, onde permaneceram durante três meses nas mesmas condições
descritas acima até o início das atividades.
Trimestralmente as plantas foram fertilizadas periodicamente com a aplicação de
1,6 g l-1 de fertilizante à base de amônia; nitrato; ureia orgânica; ácido fosfórico; e
carbonato de potássio, seguindo as recomendações técnicas de cultivo do produtor.
Para avaliar os efeitos da exposição prolongada à luz, em junho de 2013, sete
plantas foram transferidas para ambientes com 12% de luminosidade (baixa luz) e 100%
de luminosidade (alta luz), onde a maior intensidade luminosa foi obtida no interior do
orquidário aproximadamente 2000 µmol m-2 s-1 foi considerada como sendo 100% de
radiação fotossinteticamente ativa (RFA).
O nível de 12% de RFA foi obtido por meio de telas de sombreamento,
conforme especificações do fabricante. A RFA foi confirmada utilizando-se um sensor
quântico (LI-250A, LI-COR, USA).
As plantas permaneceram nas condições descritas até dezembro de 2014,
totalizando 18 meses de tratamento a exposição à luz tempo suficiente para a emissão de
raízes novas.
Para as análises histoquímicas utilizou-se o material vegetal fixado em FAA
(formaldeído: ácido acético: álcool etílico 50%, 2:1:18, v/v), de acordo com Johansen
(1940), mantidas por 48 horas e posteriormente transferidas e armazenadas em etanol
70%.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Foram realizadas secções transversais da região mediana e as imagens obtidas


em microscópio Leica DM 750, acoplada à câmera fotográfica Leica ICC50, com
projeção de escalas micrométricas. Foram utilizadas secções como controle para fim de
comparação com os testes realizados. Os reagentes utilizados foram Solução de lugol
para amido JENSEN, 1962); Floroglucina clorídrica para evidenciar lignina (Oliveira &
Saito, 1991); ácido acético; e ácido clorídrico para verificação da composição química
em cristais conforme sugerido por Chamberlain, 1932 apud Kraus; Arduin, 1997.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As raízes de Cattleya guttata Lindl apresentaram reação positiva para amido


somente no tratamento de 12% de luminosidade (Figura 2 A), sendo observados na
parte central do córtex. Provavelmente isso ocorreu pelo fato das raízes do tratamento
de 100% de luminosidade (Figura 2 B) utilizarem o amido como fonte de energia e não
armazená-lo. De acordo com Walter; Silva e Emanuelli (2005) o amido apresenta
grande importância nutricional e industrial, e é amplamente distribuído em diversas
espécies vegetais, como carboidrato de reserva, sendo abundantes em grãos de cereais;
raízes; e tubérculos.
Silva et al.,(2010) em um estudo sobre a anatomia de raízes de espécies de
Orchidaceae do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro em Minas Gerais observou a
presença de grãos de amido nas células corticais das espécies Epidendrum secundum
Jacq., Epidendrum xanthinum Lindl., Habenaria hydrophila Barb. Rodr., Habenaria
janeirensis Kraenzl., , Oncidium barbaceniae Lindl., Oncidium blanchetii Rchb. f.,
Pleurothallis montana Lindl., Pleurothallis teres Lindl.

Figura 2. Secções transversais da região mediana de raízes de Cattleya guttata Lindl.


submetidas ao teste de lugol para a detecção de amido. A) Tratamento de 12% (baixa
luz) evidenciando reação positiva (seta); B) Tratamento de 100% (alta luz)
evidenciando reação negativa.

No teste para detecção de lignina a reação foi positiva no tratamento de 12%


(Figuras 3 A e C), e 100% de luminosidade (Figuras 3 B e D), pelo qual foi possível
observara presença de lignina levemente presente no velame de forma aleatória; na
exoderme; na endoderme; nas fibras; e na medula. Resultados semelhantes foram
observados nas raízes de Mormodes sinuata RCHB. F. & WARM. (Moraes et al.,
2013). De acordo com Saliba et al. (2001 a lignina é uma substância amorfa, de
natureza aromática e muito complexa que faz parte da parede celular e da lamela média
dos vegetais. A função da lignina nas plantas é auxiliar na sustentação, possibilitando o

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

crescimento ascendente e permitindo a condução através do xilema sob pressão


negativa, além disso. A lignina tem funções defensivas importantes, tais como a
proteção contra a ação de microrganismos; a resistência mecânica; o transporte de
nutrientes; a água; e os metabólitos (TAIZ & ZEIGER, 2013).

Figura 3. Secções transversais da região mediana de raízes de Cattleya guttata Lindl.


submetidas ao teste de floroglucina para a detecção de lignina. A e C) Tratamento de
12% (baixa luz) com reação positiva (seta). B e D) Tratamento de 100% (alta luz) com
reação positiva (seta).

Os cristais de ráfides presentes nas raízes de Cattleya guttata nos tratamentos de


12% (Figura 4 A e B) e 100% de luminosidade (Figura 4 C e D), são de oxalato de
cálcio. Isso pode ser justificado pela dissolução em ácido clorídrico por uma reação
positiva enquanto em ácido acético a reação foi negativa no tratamento de 12% (Figura
5 A e B) e 100% de luminosidade (Figuras 5 C e D). Os cristais de oxalato de cálcio são
formados no metabolismo vegetal e armazenados no vacúolo das células onde as plantas
absorvem os nutrientes do solo (Scardelato et al., 2013). Entre as inclusões
citoplasmáticas inorgânicas, a inclusão de oxalato de cálcio é a mais comum e provém
da combinação do ácido oxálico resultante do metabolismo da planta com sais de cálcio
extraídos do solo pelo vegetal (Oliveira & Akisue, 2009).
As ráfides são encontradas principalmente nas monocotiledôneas. A baunilha
pertencente à família Orchidaceae é um exemplo de monocotiledônea portadora de
cristais de oxalato de cálcio, em suas células parenquimáticas do mesocarpo (Oliveira &
Akisue, 2009). Segundo Pereira (2009), cristais ráfides de oxalato de cálcio também

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

foram observados em folhas de algumas epífitas sendo esses cristais, muito comuns em
Orchidaceae.

Figura 4: Secções transversais da região mediana de raízes de Cattleya guttata Lindl.


submetidas ao teste de ácido clorídrico para verificação de composição química dos
cristais de ráfides. A e B) Tratamento de 12% de luminosidade com reação positiva; C e
D) Tratamento de 100% de luminosidade com reação positiva.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 5: Secções transversais da região mediana de raízes de Cattleya guttata Lindl.


submetidas ao teste de ácido acético para verificação de composição química dos
cristais de ráfides. A e B) Tratamento de 12% de luminosidade com reação negativa. C
e D) Tratamento de 100% de luminosidade com reação negativa.

CONCLUSÃO
A partir do estudo realizado foi possível comparar a histoquímica de raízes de
Cattleya guttata Lindl. em ambiente de baixa e alta luminosidade, a fim de gerar dados
que irão contribuir para o conhecimento biológico desta espécie.

5. LITERATURA CITADA

Barros, F.; Vinhos, F.; Rodrigues, V.T.; Barberena, F. F.V. A.; Fraga, C. N.; Pessoa,
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190
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

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191
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Ecologia

PLANO DE MONITORAMENTO DE DEPOSIÇÃO DE MATERIAL


PARTICULADO SEDIMENTÁVEL NA REGIÃO DA GRANDE VITÓRIA – ES

Paula Lopes GONÇALVES1* & Francisco Cândido Cardoso BARRETO1.


1
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES.
*paula.lopes.hp@gmail.com

INTRODUÇÃO

A Região da Grande Vitória, composta pelos municípios de Vitória, Vila Velha,


Serra, Cariacica e Viana, é um dos principais pólos de desenvolvimento urbano e
industrial do Espírito Santo e concentra cerca de 55 a 65% das atividades industriais
potencialmente poluidoras instaladas no estado, tais como: siderurgia, pelotização,
pedreira, cimenteira, indústria alimentícia, usina de asfalto, etc (IEMA, 2011).
A Grande Vitória sofre com a deposição contínua do pó preto, ou material
particulado sedimentável (em inglês PTS) produzido por duas empresas conforme
constatado na CPI do Pó Preto realizado em 2015. O PTS é formado por partículas finas
que podem causar diversos tipos de problemas respiratórios nas pessoas expostas a ela
continuamente (Leveque, 2015).
Como os problemas são cumulativos, ou seja, as pessoas se acostumam com a
poeira presente e simplesmente adotam novos hábitos para esse convívio como os
procedimentos de fechar varandas, janelas e aumentar a frequência de limpeza de suas
residências. No entanto, com o passar dos anos e exposição recorrente, esse malefícios
podem servir de percursor para doenças ou agravar as já existentes, como: hipertensão
arterial, depressão, problemas cardíacos (Buonanno et al., 2013).
A poeira sedimentável é, portanto, uma potencial fonte de incômodo à população
da Região da Grande Vitória, o que implica na necessidade de implementar normas que
visem o controle desse poluente.
O enfadonho gerado pelo material particulado sedimentável no ar atmosférico
dificilmente haverá uma redução desse problema em curto prazo. No entanto, se for
possível detectar picos na emissão desse material, o cidadão poderá entrar em contato
rapidamente com a prefeitura e órgãos competentes no qual tomará providências como,
por exemplo, uma notificação às empresas responsáveis.
Na atualidade, cada vez mais se pode encontrar com mais frequência o uso de
sistemas especializados que são construídos e programados para realizar e facilitar
tarefas diversas. Um dos grandes desafios impostos neste cenário é a integração de
diferentes sistemas embarcados. Isto é, quando surgem soluções que vão desde a
construção de dispositivos para algoritmos em desenvolvimento, a fim de realizar essa
integração. No entanto, cada sistema incorporado separadamente teve grande evolução e
isso pode ser evidenciado em vários projetos e protótipos que foram construídos a partir
destes micros controladores.
Neste contexto, o presente trabalho busca realizar uma forma de monitoramento
autônomo de material particulado sedimentável por meio da instalação de micro
controladores e sensores, em diversas localidades da Região da Grande Vitória.
Estes micros controladores e sensores, construídos e programados
especificamente para esse fim são capazes de interceptar as partículas de material
particulado sedimentável a fim de controlar e avaliar a qualidade do ar atmosférico.

192
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Para melhor controle e avaliação, os dados coletados da poeira de material


particulado sedimentável são comparados com os Padrões Nacionais de Qualidade do
Ar (Resolução CONAMA nº 3 de 28/06/1990).

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido com uso da placa de prototipagem Arduino


UNO (Banzi et al, 2005) (Figura 1.) com o objetivo de elaborar um dispositivo que
fosse ao mesmo tempo barato, funcional e fácil de programar, sendo dessa forma
acessível a estudantes e projetistas amadores. Além disso, foi adotado o conceito de
hardware livre, o que significa que qualquer um pode montar, modificar, melhorar e
personalizar o Arduino, partindo do mesmo hardware básico (D'ausilio, 2012).

Figura 1. Placa de prototipagem Arduino Uno e o cabo USB.


Fonte: Fotografia autoral, 2017.

Assim, foi criada uma placa composta por um microcontrolador Atmel, circuitos
de entrada/saída e que pode ser facilmente conectada à um computador e programada
via IDE (Ambiente de Desenvolvimento Integrado) utilizando uma linguagem baseada
em C/C++, sem a necessidade de equipamentos extras além de um cabo USB (Kim and
Sup, 2015).
Depois de programado, o micro controlador Arduino pode ser configurado de
infinitas formas para gerar uma grande gama de dispositivos capazes de automatizar
funções (Chandra et al., 2013), o resgistro de dados utilizados foram registrados por
meio do Sensor GP2Y1010AU0F (Sharp Corporation, 2006), Figura 2., é um sensor
optico de qualidade do ar desenvolvido para detectar partículas de poeira. Um diodo
emisor de infravermelhos e um fototransistor estão arranjados diagonalmente para
permitir o monitoramento da luz refletida por partículas em suspenção. É especialmente
efetivo na detecção de partículas muito finas como fumaça de cigarros e é normalmente
utilizado em sistemas de purificação.

193
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 2. Kit do Sensor GP2Y1010AU0F.


Fonte: Fotografia autoral, 2017.

Os pontos de amostragem pretendidos, para coleta de dados foram os bairros:


Jardim Camburi, Enseada do Suá, Praia do Canto e Ilha do Boi, cujos bairros obtiveram
altos índices de emissão de material particulado sedimentável (IEMA, outubro/2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como proposto no presente trabalho, a placa de prototipagem Arduino UNO, foi


montada, programada e instalada com o Sensor GP2Y1010AU0F como mostrado na
Figura 3, com a proposta de coletar dados a partir do mês de maio de 2017 com picos de
meia e meia hora para média do dia/mês (como realizado no IEMA), e comparar com
dados conforme os Padrões Nacionais de Qualidade do Ar (Resolução CONAMA nº 3
de 28/06/1990), Tabela 1, e com os dados das coletas realizadas pelas empresas
envolvidas pela CPI do Pó Preto que afirmam estarem qualificados entre as faixas
“Bom” e “Regular”.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3. Placa de prototipagem Arduino UNO conectado com o Sensor


P2Y1010AU0F.
Fonte: Fotografia autoral, 2017.

Tabela 1. Faixa de concentrações dos poluentes para o cálculo do IQA.


Classificação PTS
e Média
Faixas do IQA* (24h) µg/m³**
Bom 0-80
Regular*** 81-240
Inadequada 241-375
Má 376-625
Péssima 626-875
Crítica 876 e acima

*Índice de Qualidade do Ar.


**microgramas por metro quadrado.
*** Os índices até a classificação (Regular), atende o Padrões de Qualidade do Ar.
Fonte: Resolução CONAMA nº03 de 1990 (Padrão CONAMA).

CONCLUSÃO

Com os dados coletados e comparados, poderá ser afirmado a veracidade dos


dados coletados pelas empresas envolvidas na CPI do Pó Preto. Cujo relato consta, nas
normas enquadradas pelos Padrões Nacionais de Qualidade do Ar (Resolução
CONAMA nº 3 de 28/06/1990).
Após compração e contestamento de ambos os dados, espera-se que os dados
coletados de acordo com o presente trabalho leve em consideração a realidade ao atual
problema enfrentado pela população da Região da Grande Vitória. Pois dados relatados

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

como “Bom” não se enquadram com os graves problemas respiratório e psicológicos


que os cidadãos estão confrontando.

LITERATURA CITADA

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(26/03/2017).

Buonanno, G. Et al. Health effects of daily airborne particle dose in children: Direct
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Chandra, A. A. Et al. Review on Sensor Cloud and its Integration with Arduino based
Sensor Network: 2013 International Conference on It Convergence and Security
(Icitcs), 2013.1

D'ausilio, A. Arduino: A low-cost multipurpose lab equipment: Behavior Research


Methods, v. 44, p. 305-313, 2012.

Fuzari, S. Et al. Avaliação do incômodo à população da Região da Grande Vitória por


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Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, 2012.

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Leveque, A. Outdoor Particulate Matter (Pm) and Associated Cardiovascular Diseases


in the Middle East. v. 28, n. 4, p. 641–661, 2015.

Mora, D. R. S. Et al. Integración de los sistemas embebidos Raspberry Pi y Arduino


para el manejo de un brazo robótico mediante una aplicación Android. Épsilon,
n. 25, p. 69-96, 2015.

Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente. 2014. Revisão da


Resolução CONAMA nº 03/1990 – Padrões de Qualidade do Ar. Disponível em:
http://www.qualidade.iema.es.gov.br/scripts/sea0512.asp (15/03/2017).

Multilógica-Shop. Sensor óptico de poeira Sharp GP2Y1010AU0F. 2017. Disponível


em: https://multilogica-shop.com/sensor-%C3%B3ptico-de-poeira-sharp-
gp2y1010au0f (10/03/2017).

Século Diário. Arcelor Mittal e vale lançam 38 mil toneladas todo mês na Grande
Vitória. 2017. Disponível em: http://seculodiario.com.br/22173/10/arcelormittal-
e-vale-lancam-38-mil-toneladas-de-poluentes-todo-mes-sobre-a-grande-vitoria-1
(08/04/2017).

196
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Secretaria do Estado de Meio Ambiente e de Recursos Hídricos. Qualidade Iema – Rede


comunitária de percepção de poeira. 2003.
http://www.qualidade.iema.es.gov.br/scripts/sea0512.asp (08/04/2017).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONSUMO DE Dimorphandra jorgei POR Tapirus terrestris EM


REMANESCENTE DE MATA ATLÂNTICA DE TABULEIRO NO SUDESTE
DO BRASIL

Cristina Jaques da CUNHA1*, Geovane Souza SIQUEIRA2 & Ana Carolina SRBEK-
ARAUJO1,3
1
Laboratório de Ecologia e Conservação de Biodiversidade, Programa de Pós-graduação em Ecologia de
Ecossistemas, Universidade Vila Velha.
2
Reserva Natural Vale, Vale S.A.
3
Instituto SerraDiCal de Pesquisa e Conservação.
* cristinajaques.bio@gmail.com

INTRODUÇÃO

A Família Fabaceae está amplamente distribuída nos biomas brasileiros e seus


representantes caracterizam-se por possuir fruto tipo legume, sâmara ou drupa, podendo
ser secos ou carnosos. No Brasil, há registro de aproximadamente 2.826 espécies de
Fabaceae, distribuídas em 222 gêneros, abrangendo variadas formas de vida, as quais
incluem arbustos, árvores, ervas e lianas (Lima et al., 2012).
Essa família possui grande importância ecológica e econômica. Em função de
sua associação simbiótica com fungos fixadores de nitrogênio (micorrizas), algumas
espécies dessa família contribuem para o aumento dos níveis de nitrogênio no solo,
beneficiando o processo de regeneração natural (Franco et al., 1995; Franco & Faria,
1997), como Acacia mangium (acácia), Leucaena leucocephala (leucena) (Franco et al.,
1995) e Dimorphandra jorgei (pau-para-tudo) (Lorenzi, 2009). Além disso, algumas
espécies possuem alto valor terapêutico (uso medicinal), a exemplo de Dimorphandra
mollis (faveira), Dimorphandra gardneriana (fava-d'anta) (Landim & Costa, 2012) e
Melilotus officinalis (trevo-amarelo) (Pleşca‐Manea et al., 2002). Outras espécies, por
sua vez, são utilizadas em ornamentação e urbanização, como Senna siamea (cássia-
amarela) e Adenanthera pavonina (cássia-Brasil) (Dantas & Souza, 2004).
Este trabalho reporta a presença de sementes de uma espécie de Fabaceae
arbórea, Dimorphandra jorgei (pau-para-tudo), em amostra fecal de Tapirus terrestris
(anta), em um remanescente de Mata Atlântica de Tabuleiro no sudeste do Brasil. A
anta é uma espécie de grande porte que atua como dispersora de sementes (Fragoso &
Huffman, 2000; Galetti et al., 2001; Tófoli, 2006; Tobler et al., 2010), destacando-se
pela dispersão de estruturas de maior tamanho e por deslocar-se a grandes distâncias
(O'Farrill et al., 2013).

MATERIAL E MÉTODOS

O registro foi obtido na Reserva Natural Vale (RNV), localizada no município


de Linhares, porção norte do estado do Espírito Santo. A RNV, juntamente com a
Reserva Biológica de Sooretama e outras áreas protegidas adjacentes, compõe o maior
remanescente florestal do estado: o Bloco Linhares-Sooretama (BLS; ~50 mil ha).
A amostra fecal de T. terrestris foi detectada no dia 22 de agosto de 2016,
durante caminhada em estrada não pavimentada localizada na porção oeste da RNV
(19° 08' 17"S, 40° 03' 38"W). A amostra estava fresca (recém-depositada) e havia
grande número de pequenas sementes intactas em sua superfície externa e interior. A

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

amostra fecal foi fotografada e uma amostra das sementes foi coletada para posterior
identificação em laboratório.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sementes foram identificadas como sendo da espécie Dimorphandra jorgei


(Figura 1), popularmente conhecida como pau-para-tudo. É uma espécie endêmica da
Mata Atlântica, ocorrendo do sul da Bahia ao norte do Espírito Santo (Thomas et al.,
2003). Está frequentemente presente em áreas de floresta próximas à costa e em áreas
de restinga (Lorenzi, 2009). É considerada uma espécie secundária de fases iniciais de
regeneração, sendo recomendada para uso em projetos de reflorestamento ambiental
(Lorenzi, 2009). Seu fruto é do tipo legume, seco, deiscente (Lorenzi, 2009) e de
revestimento duro, apresentando dormência morfológica (Clifton-Cardoso et al., 2008).

Figura 1. Semente de pau-para-tudo (Dimorphandra jorgei) em fezes de anta (Tapirus


terrestres) na Reserva Natural Vale (Linhares / Espírito Santo).

A anta habita vários ambientes, ocorrendo principalmente em florestas


associadas a corpos d’água (Medici, 2010). Possui dieta herbívora e desloca-se a
grandes distâncias em busca de alimento (Fragoso et al., 2003), dispersando as sementes
que consome em diferentes ambientes (Fragoso & Huffman, 2000; Galetti et al., 2001;
Tobler et al., 2010; Seibert, 2015). Com isso, elas contribuem nos processos de
germinação, sobrevivência e recrutamento de plantas (Galetti et al., 2001; Tobler et al.,
2010; O'Farrill et al., 2013), influenciando nos padrões de distribuição das espécies e na
estruturação das comunidades vegetais (Willson & Traveset, 2000; Howe & Miriti,
2004).
O potencial de dispersão por antas tem sido demonstrado em diferentes estudos,
havendo uma grande variedade de espécies cujos frutos são dispersos pela espécie (e.g.
Fragoso & Huffman, 2000; Galetti et al., 2001; Tófoli, 2006; Tobler et al., 2010).
Apesar disso, o consumo de D. jorgei por antas havia sido registrado em apenas outras
duas áreas: na Reserva Biológica do Córrego do Veado e na Reserva Particular do
Patrimônio Natural Recanto das Antas (Seibert, 2015), ambas localizadas na porção

199
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

norte do Espírito Santo. Ressalta-se que a segunda reserva é adjacente à RNV,


representando uma das áreas que compõe o BLS.
O registro de sementes de D. jorgei em fezes de anta, na RNV, foi obtido na
estação seca, de forma semelhante ao registrado por Seibert (2015). O autor sugere que
as antas possivelmente necessitem complementar sua dieta durante períodos com baixa
disponibilidade de frutos com pericarpo suculento (Seibert, 2015), o que poderia
explicar o consumo, na estação seca, de frutos considerados não atrativos para
mamíferos com base em suas características morfológicas. No Cerrado, as antas são as
principais dispersoras de Dimorphandra mollis (Bizerril et al., 2005), não havendo
outras informações disponíveis para D. jorgei na literatura científica. Os dados obtidos
no presente trabalho, associados aos registros de Seibert (2015), evidenciam que a anta
é um potencial dispersor de D. jorgei na Mata Atlântica, podendo ser um dos principais
dispersores desta espécie na região amostrada.
A amostra fecal contendo sementes de D. jorgei foi depositada em estrada não
pavimentada, localizada entre a borda florestal e uma área em processo de
reflorestamento com espécies nativas. Isso indica que a contribuição das antas no
processo de recuperação florestal pode ser potencializada pelo fato de depositarem fezes
contendo sementes em áreas em processo de regeneração, o que é otimizado pela
dispersão de espécies que podem formar associações com micorrizas.
A anta é classificada como Em Perigo na Mata Atlântica (Medici et al., 2012) e
é considerada extinta em quase todo Espírito Santo (Flesher & Gatti, 2010).
Atualmente, a espécie ocorre em poucas áreas protegidas na região norte do estado,
havendo apenas uma população viável da espécie em todo Espírito Santo, a qual
corresponde ao BLS (Flesher & Gatti, 2010). Uma vez que os frutos de D. jorgei não
são morfologicamente atrativos para a fauna de vertebrados em geral, mas podem ser
dispersos por antas, considera-se que a extinção local das populações de antas pode
comprometer a dispersão de sementes de pau-para-tudo a longas distâncias. Neste
sentido, ressalta-se que a mortalidade de sementes próximo à planta-mãe tende a ser
maior, uma vez que esta possui resposta dependente de densidade, sendo a dispersão
pela fauna um dos elementos que contribui para a sobrevivência das sementes e para o
estabelecimento das plântulas (Janzen, 1970; Howe & Miriti, 2004). Recomenda-se que
o efeito da remoção das antas sobre os padrões de dispersão e distribuição de D. jorgei,
bem como de outras espécies cuja dispersão é dependente ou principalmente realizada
pela espécie, seja investigado em estudos futuros.

CONCLUSÃO

Este registro confirma o consumo de D. jorgei por anta também na RNV,


indicando que esta espécie pode ser um importante item complementar na dieta desse
grande mamífero. Adicionalmente, sugere-se que a anta possa ser um dos principais
dispersores de D. jorgei na Mata Atlântica, o que também pode se aplicar a outras
espécies cujos frutos são morfologicamente considerados não atrativos para mamíferos.
O fato da amostra fecal com sementes de pau-para-tudo ter sido encontrada próximo a
uma área em reflorestamento reforça o papel ecológico das antas como dispersoras,
contribuindo também para a regeneração natural de ambientes em processo de
recuperação.

200
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AGRADECIMENTOS

CJC agradece à CAPES pela bolsa de estudos concedida. ACSA agradece à


UVV e à FAPES (0607/2015) pelo apoio financeiro ao desenvolvimento das atividades
do Laboratório de Ecologia e Conservação de Biodiversidade.

LITERATURA CITADA

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

COMMUNITY AND SPECIES-LEVEL RESPONSES TO EUTROPHICATION


IN STREAMS OF THE ATLANTIC FOREST

Bruno Eleres SOARES1*, Rafael de Oliveira MARQUES1, Daíza LIMA1, Renato


RIEBOLDT2, Cláudio MARINHO3, Miriam Pilz ALBRECHT1 & Érica Pellegrini
CARAMASCHI1
1
Laboratório de Ecologia de Peixes - Universidade Federal do Rio de Janeiro
2
IBAMA/RJ
3
Laboratório de Limnologia – Universidade Federal do Rio de Janeiro
*soares.e.bruno@gmail.com

INTRODUCTION

Increasing human development leads to environmental modifications and


diversity erosion both in local and regional scales through niche-related processes. In
general, species have different responses to land use mediated by their functional traits.
Ribeiro et al. (2016) show, for example, that siltation of small streams has great effect
on specialist fish species, but it favors generalist ones. Thus, it is expected that more
urban sites hold poorer communities than pristine sites, and that they are composed by a
few generalist species favored by new conditions.
One of the main threats to streams in the Atlantic Forest is water pollution by
agriculture and domestic and/or industrial discharge of untreated sewage (Abilhoa et al.,
2011). The enrichment of water by the nutrients input coming from sewage (mainly
nitrogen and phosphorous) may lead to eutrophication of the streams, a complex process
that may deeply alter physicochemical conditions and productivity (Dodds & Smith,
2016), as well as invertebrate and fish communities (Wang et al., 2007; Evans-White et
al., 2009).
Strong eutrophication commonly leads to species’ loss in freshwaters (Tammi et
al., 1999; Jeppesen et al., 2000), while smaller levels of eutrophication may increase
species richness (Chase & Leibold, 2002; Dodds & Smith, 2016). Several studies also
show turnover in community composition in response to nutrients input, which could
lead to increasing gamma diversity (Heino, 2012). These changes in the structure of
communities may have feedback responses to eutrophication patterns – i.e. the
proportion of grazers directly affects nutrients accumulation in the surface water
through grazing rates (Jäger et al., 2017).
Considering that biotic interactions affect ecosystem properties and nutrients
pathways, management and conservation planning in response to eutrophication require
not only the evaluation of nutrients input, but also the evaluation of how biological
communities shift in these eutrophic environments. In order to analyze the responses of
fishes of the Piabanha River basin to eutrophication, we: (i) described community-level
responses to abiotic gradients through multivariate techniques; and (ii) generated
thresholds for indicator species and for the regional-level assemblage to nutrient input
(dissolved nitrogen and phosphorous).

MATERIAL AND METHODS

We sampled fish assemblages from nine localities in the Piabanha River basin.
The Piabanha River basin has a drainage area of 2.065 km², being an important tributary
of the Paraíba do Sul River. Sampling sites encompasses first order streams of rocky

204
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

substrates (LeValon), channelized streams (Garagem and Liceu), and larger rivers with
varying degrees of urbanization (e.g. Pedro do Rio stream is located within an urban
frame and directly receives domestic sewage water).
We carried out four expeditions between August/2012 and March/2014 for fish
sampling. Sampling techniques were specific to each site due physical limitations (e.g.
smaller streams as LeValon were sampled by electrofishing and sometimes with
complementary methods). Sampled individuals were fixed and identified in the Fish
Ecology Lab of the Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) following the
Catalog of Fishes. We measured the following environmental characteristics during the
ichthyological surveys: dissolved nutrients (phosphorous and nitrogen - µM), pH and
dissolved oxygen (mg/L).
We characterized differences in the environmental characteristics of the streams
by Principal Component Analysis (PCA) and determined which abiotic conditions were
the most important to observed dissimilarities. We used the broken-stick model as
stopping rule and interpreted the most correlated environmental characteristics with
each selected axis (Pearson r). We also selected the most important environmental
characteristics to analyze species-specific responses to urbanization.
General traits related to the taxonomic structure of the assemblage samples were
calculated (richness and Shannon’s diversity) for temporal and spatial comparisons. In
addition, a Non-Metric Multidimensional Scaling (NMDS) and the Analysis of
Similarity (ANOSIM) were performed to evaluate the dissimilarity in the fish fauna
composition among samples and sites. We used the Jaccard index as dissimilarity
measure, because our sampling design encompassed different methods, thus
discouraging direct comparisons of abundance among sites. We also performed a
Canonical Correspondence Analysis (CCA) to evaluate the changes in the fish
communities along the environmental gradients.
We analyzed the abundance patterns of species along the dissolved nitrogen and
phosphorous gradients in order to identify indicator species and their thresholds to
eutrophication using the Threshold Indicator Analysis (TITAN; Baker & King, 2010).
TITAN identifies change points in the response of the species and of the entire
community along an environmental gradient. The analysis takes into account the fidelity
of species occurrences and the relative abundances of the species along the observed
gradient. We used a 0.7 cut-off of purity and reliability in selecting indicator species.

RESULTS AND DISCUSSION

PCA showed that major differences in the abiotic characteristics of the streams
were mostly temporal (Figure 1), and they were related to differences in the
phosphorous and nitrogen input in the water. Only one axis of explanation was selected
(43.06% of explained variance), and sampled with lower values in this axis exhibited
higher values of dissolved nutrients. All of those samples were from the same sampling
period (dry season), and it highlights that seasonal and year-to-year variation in rainfall
interacts with land use in controlling limnological characteristics.

205
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figure 1. Principal Component Analysis for five limnological variables sampled in ten
streams of the Piabanha River basin between August/2012 and March/2014.

We may observe a trophic gradient among samples. During the dry season of
2013, five sites exhibited the extreme values of dissolved nitrogen and phosphorous.
These sites include both large (e.g. Parque) and small streams (e.g. LeValon). Despite
the great variation in dissolved nutrients, only one stream exhibits low values of
dissolved nutrients to be considered as mesotrophic (LeValon; mean PD < 0,5 µM and
mean ND < 20 µM).
We sampled 4,590 fishes distributed in 51 species, 17 families and six
taxonomic orders. A total of 12% of these are non-native species and some of them
represent recent introductions (e.g. Apareiodon piracicabae [Eigenmann, 1907] has
original distribution in the Tietê River and its invasion is related to ornamental
aquaculture). Some species sampled in a study performed near one of the studied
streams (Moura-Brasil downstream) highlights the absence of some species in the
streams studied herein: Brycon opalinus (Cuvier, 1819), Brycon insignis Steindachner,
1877, Leporinus conirostris (Steindachner, 1875), Steindachneridion parahybae
(Steindachner, 1877), Hypomasticus mormyrops (Steindachner, 1875), Loricariichthys
castaneus (Castelnau, 1855).
Larger streams exhibited higher richness, which is commonly expected if we
consider the species-area relationship (Ney-Nifle & Mangel, 2000). In addition, larger
streams also exhibited higher Shannon’s diversity. Both results must not be hold as
final, since there was difference in sampling methods among streams, which generated
different sampling effort. Nonetheless, sampling methods aimed to have the broader
possible assessment of the fish diversity in each stream, since standardize sampling

206
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

would be ineffective in streams with different physical characteristics (e.g. width,


depth).
NMDS showed that spatial-temporal processes regulate species composition in
the basin (Figure 2; R² = 0.12; p = 0.03). Garagem and Liceu exhibited similar fish
communities due to the dominance of Poecilia reticulata Peters, 1859 and Callichthys
callichthys (Linnaeus, 1758), but with temporal variation observed in the second axis of
the NMDS. LeValon exhibited a community dominated by Trichomycterus spp., and in
a single event (March/2013) Trichomycterus spp. dominated the fish community in
Poço do Ferreira, allowing a similarity between this sample and LeValon. Generally, we
observed a strong spatial variation in the fish composition along the Piabanha River
basin, but the CCA showed the relationship between P. reticulata and sites with high
nitrogen input, and also highlighted that a cluster of sensible species occurred in sites
with lower nitrogen levels (Trichomycterus spp., Scleromystax barbatus [Quoy &
Gaimard, 1824] and Gymnotus pantherinus [Steindachner, 1908]).

Figure 2. Non-Metric Multidimensional Scaling (NMDS) for fish species sampled in


ten streams of the Piabanha River basin between August/2012 and March/2014.
Distances were calculated by Jaccard dissimilarity.

Considering that nitrogen input is related to land use and due to its importance to
the fish fauna composition, we described a threshold for indicator species responses to
the dissolved nitrogen in these streams (Figure 3). TITAN confirmed that
Trichomycterus spp. and S. barbatus are species with low tolerance for dissolved
nitrogen increase (along with Astyanax intermedius Eigenmann, 1908 and
Neoplecostomus microps [Steindachner, 1877]). Those species are negatively affected

207
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

by the increase of dissolved nitrogen below 100 µM concentration, but S. barbatus has a
higher threshold (between 150 and 200 µM). The threshold for the regional diversity
was even lower than for indicator species (Figure 3b; 63.14 µM).
Seven species exhibited positive responses to dissolved nitrogen (Figure 3a).
Some of them were rather sensitive to the dissolved nitrogen increase: Phalloceros
harpagos Lucinda, 2008, Rhamdia quelen (Quoy & Gaimard, 1824), Hypostomus
punctatus Valenciennes, 1840 and Geophagus brasiliensis (Quoy & Gaimard, 1824),
which exhibited positive responses to nitrogen input between 20 and 90 µM.
Oreochromis niloticus (Linnaeus, 1758), P. reticulata and Gymnotus gr. carapo
Linnaeus, 1758 thresholds occurred only after higher increases of dissolved nitrogen
(starting from 180 µM). Thus, positive responses in the regional assemblage were more
asynchronous along the dissolved nitrogen gradient (Figure 3), and a mean threshold for
the regional assemblage is not representative for overall response of indicator species.

Figure 3. Threshold Indicator Analysis (TITAN) for species and community-level


responses to the dissolved nitrogen gradient (µM). Codes: z- represents negative
responses; z+ represents positive responses.

208
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figure 4. Threshold Indicator Analysis (TITAN) for species and community-level


responses to the dissolved phosphorous gradient (µM). Codes: z- represents negative
responses; z+ represents positive responses.

Fewer species were sensible to dissolved phosphorous variation (Figure 4).


General patterns were similar: Trichomycterus spp. and Astyanax gr. bimaculatus
exhibited negative responses to dissolved phosphorous, while Poecilia reticulata
exhibited positive responses; and the community threshold for negative responses is
lower (1.62 µM) than the threshold for positive responses (7.09 µM).
The relative roles of nitrogen and phosphorous in the eutrophication of
freshwaters are controversial in the scientific literature, primarily due to a notion that
phosphorous limits productivity in freshwaters and nitrogen limits it in marine
environments (Hecky & Kilham, 1988; Dodds & Smith, 2016). Nevertheless, there is
strong evidence for the co-limitation by nitrogen and phosphorous in algal biomass in
freshwater systems (Elser et al., 2007; Dodds & Smith, 2016), attributing importance
for the input of both nutrients in eutrophication processes. Considering that the trophic
state of waterbodies affect the entire ecosystem, our data supports that both nitrogen and
phosphorous are important factors shaping fish communities in small streams of the
Atlantic Forest.

CONCLUSION

Biodiversity responses to land use are rather diversified, but urbanization in the
Piabanha River basin affected the dissolved nitrogen and phosphorous in the streams
leading to eutrophication. Generally, increasing dissolved nitrogen and phosphorous led
to fish faunas dominated by few species. We also observed a high number of indicator
species, being Trichomycterus spp. and Astyanax spp. sensitive species to increasing
nutrients input in the streams, while Poecilia reticulata was favored in high
concentrations of dissolved nitrogen and phosphorous. Overall, we observed that fish

209
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

communities are strongly shaped by eutrophication in small streams of the Atlantic


Forest due to different species-specific responses to nutrients input. In addition, we
provide thresholds for species and for fish communities that should be considered for
future conservation planning.

ACKNOWLEDGEMENTS

We are grateful to COPPETEC/UFRJ for the financial support through the


project 01.11.0101.000 (“Hidrograma ecológico e modelagem quali-quantitativa de
bacias”) coordinated by José Paulo Soares de Azevedo. We are also thankful to Renata
Bartolette, Pedro Hollanda de Carvalho, Fernando Kilessi, Karina Ferreira, Axel Katz
and Igor Cavalcanti for the help with fish identification.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ARDUINO NO DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS EM BIOLOGIA


EXPERIMENTAL: UMA REVISÃO

Marcos MARTINELLI

Universidade Federal do Espírito Santo.


mvbmartinelli@gmail.com
INTRODUÇÃO

Inovações tecnológicas como computadores com alto processamento e novos


modelos matemáticos, tem proporcionado grandes progressos na área da biologia
(Aderem, 2005). Além disso, o compartilhamento da informação biológica, está
lentamente se tornando uma prática frequente nas instituições científicas durante as
últimas décadas (Michener, 2015). Consequentemente, ocorre a criação de canais de
comunicação de livre acesso à informação, como plataformas de compartilhamento de
dados, algumas não se restringindo ao meio acadêmico, mas também destinadas para o
público em geral. Sendo assim, guiado por um número cada vez maior de cientistas, o
pensamento de que a informação e as tecnologias devem ser livres de qualquer barreira
que impeça sua difusão, abriu espaço para o surgimento de filosofias mais liberais nas
instituições. Nesse âmbito, duas vertentes que estão intimamente relacionadas, a
filosofia de Código-aberto e a comunidade ‘Faça-Você-Mesmo’.
Primeiramente a filosofia de Código-Aberto (em inglês Open-Source) tem como
princípio que programadores e organizações de diferentes partes do mundo
compartilhem seus códigos e como consequência ocorra o refinamento dos mesmos
através de trabalhos colaborativos (Lerner & Tirole, 2002). Ou seja, os autores de um
dado estudo permitem a livre utilização e modificação daquele conteúdo publicado. Já a
comunidade Faça-Você-Mesmo, do inglês, Do-it-yourself (DIY), em paralelo ao
pensamento da comunidade de Código-aberto, é um método de construção de
tecnologias a partir de uma matéria primária simples que reduz os custos de sua
construção (Kuznetsov et al., 2015). Por exemplo, a construção de termocicladores (e.g.
Wong et al., 2015), sensores de pH (e.g. Yang et al., 2014) e equipamentos de coleta de
dados em ecologia (Baker, 2014; Gandra et al., 2015) e em estudos de comportamento
animal (Kuusela & Lämsä, 2016).
Com a filosofia Código-Aberto e DIY estes equipamentos além de possuírem
menor preço, são compartilhados com a comunidade através de artigos científicos com
as informações sobre sua construção e seu funcionamento. Há também uma comunidade
Faça-Você-Mesmo especificamente para área biológica, denominada DIY biology
(DIYbio) possuindo um grande número de seguidores e com grandes perspectivas para
solucionar problemas relacionados ao monitoramento ambiental assim como em áreas
ligadas à biotecnologia (Landrain et al., 2013).
Em meio a esse cenário, uma plataforma física de prototipagem de Código-
aberto chamada Arduino foi desenvolvida por estudantes e professores do Instituto Ivrea
de Interação e Design na Itália em 2005 (Buechley & Hill, 2010). Inicialmente, o
Arduino foi criado para facilitar a utilização de eletrônicos para trabalhos de artistas e
designers facilitando a utilização de um microcontrolador para esses profissionais. Com
isso, o Arduino garantia a esses profissionais alcançar maior foco nos objetivos do seu
trabalho, sem necessidade de entrar a fundo em detalhes técnicos sobre a utilização
dessa ferramenta (Barragán, 2004). Por ser uma plataforma de prototipagem, o Arduino
é capaz de receber comandos (ditos através de uma linguagem computacional) e aplica-
los de acordo com a programação específica. Além disso, pode ser aplicado em diversos

212
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

contextos como na construção de equipamentos para monitoramento ambiental (Baker,


2014; Gandra et al., 2015) e em pesquisas envolvendo comportamento animal (Rizzi et
al., 2016; Doyle et al., 2017). Tais características proporcionaram a esta plataforma a
criar um novo nicho na área de eletrônica, em que várias áreas do conhecimento
começaram a buscar uma abordagem interdisciplinar através de trabalhos científicos ou
não (Grasel & Vonnegut, 2010).
Na biologia experimental, o Arduino permitiu o desenvolvimento de
experimentos científicos automatizados (Duarte et al., 2015), criação de equipamentos
laboratoriais (Pearce, 2012; Baden et al., 2015), além de uma grande variedade de
sensores (Gertz & Di Justo, 2012; Baker, 2014) e aplicações na área da educação com
uma abordagem interdisciplinar na biologia (Grasel et al., 2010; Cira et al., 2015).
Sendo assim, o Arduino possibilita pesquisadores adaptarem e desenvolverem
tecnologias para seu próprio interesse ao criar um ambiente que permite aos
pesquisadores materializar suas ideias de projetos e pesquisa, antes limitados pelo
desconhecimento tecnológico.
A presente revisão tem o propósito de compilar trabalhos já publicados que
utilizam a plataforma Arduino para estudos nas áreas biológicas. Também, serão
destacadas as áreas onde as aplicações tiveram mais sucesso e quais suas perspectivas
para o futuro.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta revisão não buscou ranquear ou estabelecer um critério de classificação


(e.g. QUALIS) ou nenhum outro parâmetro entre os artigos científicos utilizados, de
forma a coletar um volume maior de bibliografias. Foi utilizado em maior parte o
mecanismo de busca do Google acadêmico, mas também foram buscadas nas
plataformas ELSEVIER, PlosOne, Pubmed, Scielo, pelo Portal de Periódicos da
CAPES/MEC e Web of Science. As palavras-chave utilizadas foram: Arduino, Biologia,
Experimentos, Educação, Microcontrolador, Ciência, Vantagens e Desvantagens,
Código-Aberto e DIY, tanto em português quanto em inglês. Os artigos apresentados
foram coletados do período de julho de 2016 até maio de 2017. O critério de inclusão
para essa revisão foram artigos que utilizaram a plataforma Arduino para pesquisas na
área da biologia. Além disso, pesquisas em áreas relacionadas à biologia como
medicina, geografia, física e engenharia que abordaram a utilização dessa ferramenta
também foram inclusas.
Devido à grande quantidade de bibliografias coletadas, foi criado um arquivo
online com as tabelas inseridas (Link para download:
https://docs.google.com/spreadsheets/d/1oWUvSxTQLoynNi5pqpyvxYeSsBRYXsyHq
8DuBOWsm3U/pub?output=pdf). Para melhor observação dos dados foi elaborado um
quadro geral (Tabela 1) mostrando todos artigos coletados juntamente com o contexto
no qual Arduino foi utilizado durante a pesquisa na coluna ‘Função Atribuída’. Na
mesma tabela estão incluídas também as referências, as áreas do conhecimento de cada
pesquisa e o tipo de documento (artigo ou livro). Na seção dos metadados, se encontra
um quadro dos sites complementares consultados que foram utilizados durante a revisão
(Tabelas 2) e também uma legenda para termos utilizados durante a construção da
Tabela 1 (Tabela 3).

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um total de 53 referências foram utilizadas dentre elas artigos e livros as quais
foram separadas por áreas dentro da biologia geral e apresentadas na Tabela 1.

213
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Sumarizando os dados, facilitou a visualização de padrões em sua aplicação assim como


a área da biologia (Tabela 1). Em relação as áreas do conhecimento onde o Arduino foi
utilizado, algumas receberam maior atenção, como Ecologia quantitativa,
Comportamento animal, Educação e Biomedicina (Saúde). Entretando foram registradas
muitas outras áreas dentro da biologia como Oceanografia, Biomimética,
Microbiologia, Agricultura, Biologia Marinha e Robótica.
Foi observado que o Arduino fornece uma gama de funcionalidades e aplicações
nas ciências biológicas, dentre elas a criação de equipamentos laboratoriais (D’Ausilio,
2012; Pearce, 2012) e a automatização de experimentos científicos (Ravignani et al.,
2013; Duarte et al., 2015) com poucos recursos, ou seja, com baixo custo no mercado
quando comparado com equipamentos já existentes. A redução do custo de um
experimento construído a partir dessa plataforma possui grande impacto principalmente
para instituições que possuem poucos recursos para investir em suas pesquisas e em
infraestrutura, que consequentemente impedem ou limitam o desenvolvimento e
manutenção das mesmas. Sendo assim, o Arduino permite que idéias que não
conseguiam ser materializadas, terem a oportunidade de se construírem, dependendo
apenas do entusiasmo dos idealizadores em aprender a trabalhar com essas tecnologias.
Em outra situação, o Arduino se demonstrou um grande aliado para
pesquisadores que possuem procedimentos experimentais que demandam grande
esforço amostral. Sendo um microcontrolador, o Arduino possui capacidade de
armazenar comandos e executa-los na ordem e tempo pré-determinados pelo usuário
(Gertz & Di Justo, 2012). Também, possui baixo consumo de energia e pequeno porte
(Baker, 2014). Com esses atributos, possibilita por exemplo, a construção de sensores
capazes de coletar dados ambientais em tempo real por um grande período de tempo
(Lee et al., 2014). Isso é muito importante para questões envolvendo monitoramento
ambiental de fauna e flora, já que é possível criar uma rede de estações multissensoriais
para monitoramento em tempo real dessas áreas (ver Arzberger, 2004; Porter et al.,
2005; Hamilton et al. 2007). Como consequência, o monitoramento e manejo dessas
áreas podem ser feitas de forma muito mais eficiente e rápida, produzindo uma
quantidade grande de dados em uma escala de tempo muito maior do que pesquisas
normalmente são feitas para avaliar as condições de um dado ambiente (Hamilton,
2004).
Há também iniciativas como as de Gertz & Di Justo (2012) com a obra
“Environmental monitoring with Arduino” assim como Premeaux et al. (2011) com
“Arduino projects to save the world”. Livros como esses possuem uma abordagem mais
simples de um tema técnico que é a eletrônica, aplicando para estudos sobre o meio
ambiente através da coleta e análise de dados ambientais com o intuito de solucionar
problemas atuais relacionados ao meio ambiente.
Como sugestão, talvez futuramente empresas privadas também auxiliem o
processo de coleta e compartilhamento de dados ambientais em suas propriedades.
Sendo assim, é criado um ambiente colaborativo entre instituições privada e pública,
visando na preservação ambiental local e também, produzindo grandes quantidades de
dados que, quando compartilhados, podem contribuir para outros projetos de pesquisa.
Além disso, essas dados são importantes para tomada de decisões mais eficazes do
governo com a população e seu meio ambiente (Michener, 2015).
Da mesma forma que análises ecológicas necessitam de grandes quantidades de
dados em amplas escalas temporais para identificar e prever irregularidades no padrão
de um fenômeno, a área de comportamento animal também. Na área comportamental, o
Arduino foi utilizado em diferentes contextos, como na automatização de experimentos
de ecotoxicologia marinha (Duarte et al., 2015) e estudos envolvendo comportamento

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

de gatos (Oh & Fitch, 2016), abelhas (Kuusela & Lämsä, 2016), roedores (Rizzi et al.,
2016) e peixe-zebra (Doyle et al., 2017). Também foi visto a construção de ferramentas
específicas de pesquisa como armadilhas para controle de praga em Citrus sp (Mankin
et al., 2013), equipamento para estudo de padrões acústicos em primatas (Ravignani et
al., 2013) e na construção de protótipos para estudos comportamentais (Landgraf et al.,
2013; Doyle et al., 2017). Aplicando essa tecnologia em estudos comportamentais reduz
vieses experimentais relacionado ao manuseio humano e condicionamento desses
animais (Kuusela & Lämsä, 2016).
Além de utilizados com propósitos acadêmicos, sua utilização em ambientes de
sala de aula como ferramenta didática mostrou auxiliar no processo de ensino-
aprendizagem, muitas vezes colocando o aluno como produtor do conhecimento (Cira et
al., 2015). Grasel et al. (2015) propõe uma metodologia para três projetos abordando
diferentes tópicos da biologia, como co-evolução de predador e presa, quimiotaxia
microbioana e movimentação flagelar de bactérias. Esses temas são abordados em sala
de aula através da construção de robôs programados, criados pelos próprios alunos
utilizando o Arduino simulando diferentes tipos de comportamentos de organismos.
Outro exemplo, em Cira et al. (2015), é o desenvolvimento de um jogo que unifica e
relaciona temas como programação, análise de imagem, microbiologia, eletrônica a
partir da manipulação de luz em uma matriz onde se encontram microorganismos
fotossensíveis. No Brasil, foi encontrado até agora apenas uma proposta de estudo
publicada utilizando o Arduino. Neste projeto, foram criadas estações meteorológicas de
Código-aberto, onde alunos coletaram e compartilharam dados meteorológicos e
ambientais em microclimas (Silva et al., 2015). Apesar de estar mais relacionado ao
ensino de física, há temas no currículo da biologia no Brasil que podem aproveitar
dessas abordagens como ciclos biogeoquímicos, ciclo da água e microclimas.
O Arduino é compatível com a maioria dos sistemas operacionais e possui baixo
custo sendo acessível às escolas com poucos recursos disponíveis. Inovando métodos de
se passar um conteúdo é possível direcionar uma nova perspectiva de como são
abordados temas relacionados à biologia, de forma mais interdisciplinar. Além disso,
utilização do Arduino em ambientes de aprendizagem requer que seja abordado lógica
de programação, sendo necessário para a comunicação do computador com a plataforma
física. A abordagem lógica em sala de aula é demonstrada como positiva para o
exercício de atividades relacionadas a resolução de problemas (Bastos et al., 2015), que
no contexto da biologia, são atividades essenciais para estudos sobre o meio ambiente e
ecologia (Lavoie, 1993).
Na área de biomédicas, observou-se a aplicação da plataforma em estudos
envolvendo também a construção de equipamentos laboratoriais com baixo custo
(Savazzi, 2011; Chiu & Urban, 2015; Prabhala et al., 2016; Muckley, 2016) e parte do
desenvolvimento de sistemas automatizados de procedimentos experimentais como
extração de DNA (Kim et al., 2016) e sistemas de culturas celulares de algas (Kim &
Song, 2016) e células animais (Mathupala et al., 2016). Além disso, foram encontrados
projetos com análises na qualidade da água com sensores que detectam presença de
bactérias (Kim and Myung, 2015) e plataformas para testes de colorimetria (para
demanda química e bioquímica de oxigênio) e nefelométria (para turbidez) (Wijnen et
al., 2014) com sensibilidades semelhantes a equipamentos já existentes no mercado. É
considerado que as construções desses equipamentos de baixo custo com livre
divulgação podem mudar o cenário atual em países onde pesquisas clínicas recebem
muito pouco auxílio financeiro e contribuir assim com a melhoria da saúde pública
mundial (Lang, T., 2011).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Outras observações também foram feitas em relação aos aspectos que envolvem
o universo do Arduino. Este possui uma comunidade em todo o globo com membros
ativos para colaborarem e auxiliar o processo de criação e inovação tendo entre eles
cientistas, artistas, designers, estudantes, entusiastas, e muitas outras atividades
profissionais. Em relação às desvantagens em sua utilização, apenas um artigo
mencionou problemas em seu desempenho como microcontrolador. Em Savazzi et al.,
2011, limitações envolvendo o sistema de correção de erros (chamado ‘Debug’) foram
identificadas. Mesmo assim, esse problema foi solucionado a partir do emparelhamento
do microcontrolador com computadores de melhor desempenho. Foi observado também
que, apesar de existirem muitas bibliografias extremamente didáticas, ainda há um
grande número de documentações sobre o Arduino que possuem caráter tecnicista,
difícil de ser compreendida por uma pessoa sem conhecimentos técnicos de eletrônica
(Hribernik et al., 2011).

CONCLUSÃO

O Arduino é empregado em diferentes situações e em diferentes momentos de


um projeto. Na maior parte foram desenvolvidas ferramentas visando a redução de
custos e também a criação de metodologias inovadoras assim como a melhoria das
existentes com aplicação de recursos mais modernos disponíveis no mercado. Também,
experimentos automatizados, em qualquer grau, proporcionaram melhorias na qualidade
e na quantidade nos dados coletados, que promovem interpretações mais concisas dos
resultados de uma pesquisa. A partir dessa revisão, espero incentivar a criação de
projetos que coloquem em prática essa plataforma visando principalmente o
desenvolvimento de metodologias e equipamentos nos estudos ecológicos e de
monitoramento ambiental. Por fim, discussões envolvendo as temáticas sobre o
pensamento empregado pela filosofia do Código-aberto são encorajados, já que seu
propósito é reduzir barreiras na comunicação entre instituições e o desenvolvimento
tecnologias mais acessíveis para toda comunidade científica e também para o público
geral.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DIETA ALIMENTAR INSETÍVORA EM Guira guira (GMELIN 1788) E


Crotophaga ani (LINNAEUS 1758) (CUCULIFORMES: CUCULIDAE) NO
SUDESTE DO BRAZIL

José Nilton da SILVA¹* & Arlindo SERPA-FILHO¹

¹Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA


*josniltonsilva@gmail.com

INTRODUÇÃO

A classe das aves possui diversas famílias e espécies que se alimentam de


artrópodes, dentre estas estão às espécies cosmopolitas da família Cuculidae onde se
encontram as espécies, as espécies desta família são cosmopolitas, destas as espécies C.
ani (anu-preto) e G. guira (anu-branco) são consideradas comuns em termos de
ocorrência no território brasileiro (Sick, 1997, Repenning et al. 2009, Sigrist 2014). As
duas espécies podem ser avistadas em ambientes abertos, antropizados ou em florestas
de fitofisionomias arbustiva (Mesquita, 2009; Repenning et al. 2009).
As duas espécies possuem uma dieta bastante similar, este fato pode estar
relacionado ao também similar hábito de vida das espécies, estas que vivem em bandos
e em ambientes abertos, antropizados ou bordas de florestas, assim os recursos
alimentares disponíveis para ambas as espécies são praticamente os mesmos, cabendo a
elas apenas a seleção destes para sua alimentação (Mesquita 2009, Repenning et at.
2009, Souza 1995). Mesmo assim alguns itens da dieta de C. ani e G. guira são
distintos, como por exemplo: a espécie G. guira alimenta-se não só de artrópodes, como
também de pequenos vertebrados (anfíbios, répteis e pequenos mamíferos), (Beltzer
1995, Sick 1997, Kokubum & Zacca 2003; Soave et al. 2008; Mesquita 2009,
Repenning et al. 2009). Segundo Repenning et al. (2009), assim a espécie G. guira é
mais generalista do que as espécie C. ani, assim podendo existir itens mais inusitados na
dieta da espécie G. guira quando comparada com a dieta de C. ani.
Geralmente as espécies de aves que se alimentam de insetos ou pequenos
vertebrados são adaptados a habitats abertos, de sub-bosque ou de dossel (Sick 1997).
No caso das espécies de G. guira e C. ani as espécies o ambiente em que se associam
esta ecologicamente relacionada com a sua dieta (Sick 1997, Sigrist 2014). A maior
parte da dieta de C. ani e G. guira é composta por artrópodes, sobretudo insetos da
ordem Ortóptera (Beltzer 1995, Sick 1997, Kokubum & Zacca 2003, Mesquita 2009).
Entretanto, para se observar detalhadamente os diferentes táxons de artrópodes que
compõem a dieta dos cuculídeos requerem conhecimentos e grandes investidas a campo
observando as espécies, ou coletar os conteúdos estomacais para a posteriormente serem
analisados, como o caso do presente estudo, que tem como principal objetivo analisar
quais táxons compõem a dieta de duas espécies de Cuculidae (C. ani e G. guira) em
uma área de restinga no sudeste do Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

Os conteúdos estomacais foram obtidos de aves atropeladas, estas foram cedidas


pelos técnicos da Rodovia do Sol (Rodosol) ou rodovia ES – 060, sendo os pontos de
coletas dos espécimes atropelados nos quilômetros localizados nas coordenadas
geográficas (20º 34’ 10” S e 40º 23’ 59” W). Os materiais foram cedidos ao setor de

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

zoologia do Museu de Biologia Mello Leitão – MBML, hoje atual Instituto Nacional da
Mata Atlântica – INMA, onde foram alocados nos freezers da instituição com o
propósito de incorpora estes materiais às coleções científicas, entretanto devido ao
estado não adequado para este fim os materiais foram apenas triados para analises do
conteúdo estomacal. Todos os indivíduos de Guira guira e Crotophaga ani tiveram seus
estômagos coletados, após esta coleta foram realocados em recipientes para uma
lavagem e melhor visualização e manuseio dos materiais contidos em seus respectivos
estômagos. O conteúdo estomacal de todos os indivíduos foi alocado separadamente e
submetido a um processo de secagem em estufas, após isso foram analisados com
auxílio de lupas tendo objetivo de chegar a identificação taxonômica mais próxima
possível. Após as análises dos conteúdos os mesmos eram fotografados e descartados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram analisados 46 estômagos de Crotophaga ani e 17 de Guira guira destes


mais de 95% do conteúdo estomacal analisado foram de artrópodes da classe dos
insetos, os demais conteúdos foram compreendidos entre aracnídeos, sementes e até
pequenos vertebrados (tabela1). Das ordens da classe Insecta a mais representativa em
números de indivíduos foi à ordem Coleóptera com n= 142, Ortóptera n= 96, Hemíptera
n= 61, Himenóptera n= 15, Díptera n= 10, Lepidóptera n= 06, Odonata e Phasmatodea
n=02; a classe aracnídea teve n= 5, foi constatado também n=5 pequenos vertebrados
(pequenos répteis). Desta forma na tabela 1 Podemos observar a quantidade e a
porcentagem de cada ordem encontrada no estomago as espécie Crotophaga ani e Guira
guira.

Tabela 1. Quantidade de indivíduos de cada ordem de artrópodes encontrados nos


estômagos analisados de Crotophaga ani e Guira guira, e as respectivas porcentagens
de cada família de artrópodes nos conteúdos estomacais analisados de cada uma das
espécies de aves, encontradas mortas na ES-062.
Crotophaga ani Guira guira
Conteúdo Quantidade %/indivíduos Quantidade %/indivíduos
Coleóptera 73 39,24% 69 41,56%
Ortóptera 71 38,17% 25 15,06%
Hemíptera 17 9,13% 44 25,5%
Himenóptera 11 5,91% 4 2,40%
Díptera 4 2,15% 6 3,61%
Phasmatodea 2 1,07% 2 1,2%
Odonata 2 1,07% 3 1,80%
Aracnídea 1 0,53% 4 2,40%
Vertebrada 0 0 5 3,01%
Sementes 5 2,68% 4 2,40%

Podemos observar que a ordem Coleóptera, Ortóptera e Hemíptera foram as


mais representativas na dieta tanto do Anu-preto quanto do Anu-branco. Tendo a ordem

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Coleóptera e Ortóptera uma representatividade de mais de 100% na dieta de Crotophaga


ani, por outro lado as ordens Coleóptera, Ortóptera e Hemíptera são encontradas em
mais de 100% em Guira guira. As figuras abaixo expressam com mais precisão a
quantidade de indivíduos por ordem artrópode encontrados nos estômagos das duas
espécies de aves.

80
indivíduos por ordem

70
Quantidade

60
50
40
30
20
10
0

Figura 1. Quantidade de artrópodes por ordens encontrados nos estômagos de


Crotophaga ani.
Quantidade indivíduos por ordem

80
70
60
50
40
30
20
10
0

Figura 2. Quantidade de artrópodes por ordens encontrados nos estômagos de Guira


guira.
Foi constatado que as espécies de aves C. ani e G. guira tem uma preferência
alimentar pelos artrópodes das ordens: Coleóptera e Ortóptera. Provavelmente pelo
próprio volume e tamanho dos artrópodes, visto que a maioria dos indivíduos das duas
ordens encontrada nos estômagos das espécies de aves era de tamanho expressivo em
comparação ao tamanho dos estômagos das duas espécies. Geralmente ambas as

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

espécies de aves são seletas quanto ao volume energético (tamanho do alimento) que o
alimento ingerido, selecionado os itens maiores (Sick 1997). As figuras 2 e 3 expressam
a quantidade de indivíduos de cada ordem e classe taxonômica encontrados nos
estômagos das duas espécies de aves, sendo possível observar uma diferença
significativa comparando as ordens Coleóptera, Ortóptera e Hemíptera em relação as
demais ordens encontradas nos estômagos das espécies de cuculídeos.
Também foi possível constatar nos conteúdos estomacais de G. guira a presença
de vertebrados da classe reptila (Torpidurus torquatus e Ameivula nativo) sendo este
conteúdo encontrado em apenas um indivíduo de G. guira, o mesmo foi descrito em
uma nota cientifica por Silva et al., (2016). Esta diversidade na dieta dos cuculídeos é
proveniente de seus próprios hábitos de vida, sempre andando em bandos e fazendo
buscas de forrageamento em grupos (Souza 1995, Sick 1997). Embora ambas as
espécies apresente hábitos parecidos e vivam em ambientes abertos existe algumas
diferenças nas preferências alimentares (figura 2 e 3), tendo as duas unanimidade pela
preferência de artrópodes coleópteros e ortópteros, porém a espécie G. guira
demonstrou uma maior preferência por artrópodes da ordem Hemíptera. Há relatos de
coexistência contínua de ambas as espécies em mesmos ambientes (Souza 1995, Sick
1997, Sigrist 2014), porém não há estudos que comprovem competição por alimento
entre as espécies. Segundo Souza (1995) a simpatria entre as espécies existe devido a
diferenciada forma de forrageio, pois a espécie G. guira geralmente forrageia em grupos
com indivíduos próximos uns dos outros, diferente da espécie C. ani que forrageiam de
forma mais espaçadas entre os indivíduos. Mesmo com bastante similaridade nas dietas
de ambas as espécies de cuculídeos ainda assim há distinções para as mesmas quanto
aos conteúdos estomacais, pois a espécie G. guira tem em sua dieta a inclusão de
pequenos vertebrados com maior frequência (Souza 1995).
Por outro lado devemos dar enfoque aos artrópodes que compuseram mais de
90% da dieta do G. guira e C. ani. Os artrópodes possuem a maior diversidade de táxons
do planeta (Brusca & Brusca 2007), sendo muitos destes terrestres e servindo de
alimentos para diversas classes de vertebrados principalmente as aves (Brusca &
Brusca, 2007; Sick 1997). Desta forma, expressiva quantidade de artrópodes
encontrados na dieta de C. ani e G. guira corrobora que a alta diversidade e abundancia
de artrópodes favorecem a sobrevivência de muitos vertebrados em diferentes tipos de
ambientes, uma vez que os artrópodes sobrevivem em locais desde antropizados até os
mais conservados. Além disso, as espécies de cuculídeos são consideradas onívoras
(Sick 1997), porém no trabalho constatamos que apesar de serem consideradas espécies
onívoras observou-se que ambas as espécies possuem uma preferência alimentar por
artrópodes, isso pode ser devido à escassez de alguns recursos alimentares diferenciados
e a existência abundante dos artrópodes.
Outra importante hipótese a se considerar é a de que os insetos são atraídos por
luminosidades (Silva & Martinelli 2012) assim sendo atraídos para ambientes viários
local onde foram encontrados todos os indivíduos das duas espécies, estes chegando a
morte por colisões com veículos.

CONCLUSÃO

Ainda existem lacunas acerca da alimentação insetívora em G. guira e C. ani.


Pois ainda são feitas novas descobertas sobre a alimentação destes cuculídeos. Além
disso, Estudos sobre a dieta de aves insetívoras e onívoras têm se concentrado em
descrever e quantificar os itens alimentares (Ralph et al. 1985, Blake & Rougès 1997,
Piratelli & Pereira 2002), mas ainda são poucos os trabalhos que investigam as relações

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

da dieta com a disponibilidade e distribuição de suas presas e identificação destes itens


encontrados nos estômagos analisados (Manhães & Dias 2008). Tais estudos são
fundamentais porque constituem a base do conhecimento de como as espécies exploram
os recursos no ambiente e como podem sobreviver e coexistir com outras espécies.

AGRADECIMENTOS

Aos técnicos da Rodosol por terem fornecido os materiais zoológicos para a


realização dos trabalhos. Ao Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA por ceder o
espaço para as análises dos conteúdos estomacais.

LITERATURA CITADA

Beltzer, A. H. 1995. Biología alimentaria del pirincho Guira guira (Aves: Cuculidae) en
el valle alluvial del río Paraná Medio, Argentina. Revista de Ecología
Latinoamericana, 2: 13-18.

Blake, J.G. & Rougès, M. 1997. Variation in capture rates ofunderstory birds in el Rey
National Park, northwestern Argentina.Ornitologia Neotropical, 8 (2):185-193.

Brusca G.J. & Brusca R. C. (2007) Artrópodes in: Invertebrados. 2ª ed. Editora
Guanabara Koogan, 888p.

Kokubum, M. N. C. & Zacca, W. 2003. Physalaemus cf. fuscomaculatus (NCN):


Predation. Herpetological Review, 34: 232-233.

Manhães, M.A. & Dias, M.M. 2008. Diet and feeding preference of the Plain Antvireo
(Dysithamnus mentalis) in an area of Brazilian Atlantic forest. Ornitol. Neotrop.
19(3):419-426.

Mesquita, P. C. M. D. 2009. A record of predation on a poisonous toad Rhinella


granulosa (Anura, Bufonidae) by Guira Cuckoo Guira guira (Cuculi- dae,
Crotophaginae) in the state of Ceará, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia, 17:
84-85.

Piratelli, A. & Pereira, M.R. 2002. Dieta de aves na região lestede Mato Grosso do Sul.
Ararajuba. 10(2):131-139.

Ralph, C.P., Nagata, S.E. & Ralph, C.J. 1985. Analysis of droppingsto describe diets of
small birds. J. Field Ornithol. 6(2):165-174.

Repenning, M., Basso, H. C., Rossoni, J. R., Krügel, M. M. & Fontana, C. S. 2009.
Análise comparativa da dieta de quatro espécies de cucos (Aves: Cuculidae), no sul
do Brasil. Zoologia, 26: 443-453.

Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira: uma introdução. Editora nova fronteira. Rio de
Janeiro, 912p.

Sigrist, T. 2014. Avifauna brasileira. Editora Avisbrasilis. São Paulo, 608p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Silva J.N & Martinelli M.M. (2012). Analise de conteúdo estomacal de aves atropeladas
da espécie Hydropsalis albicollis (Aves: Caprimulgidae) no estado do Espirito
Santo, Sudeste do Brasil. Anais do Simpósio Sobre a Biodiversidade da Mata
Atlântica SIMBIOMA, Santa Teresa –ES.

Silva J.N., Silva-Soares T. & Azevedo C.S. (2016). Predation of Ameivula nativo and
Tropidurus torquatus (Squamata: Teiidae/Tropiduridae) by Guira cuckoo Guira
guira (Aves: Cuculidae) in a restinga area of southeastern Brazil. Herpetological
review, 47(4).

Soave, G. E., Darrieu, C. A., Aribalzaga, M. E., Camperi, A. R., Lucía, M., WilliamS, J.
& Juarez, M. 2008. Dieta del pirincho (Guira guira) en el nordeste de la provincia
de Buenos Aires, Argentina (Cuculiformes: Cuculidae). Revista de Biologia
Tropical, 56: 1883-1892.

Souza, F.L. 1995. A study of group structure and home range size of Crotophaga ani
and Guira guira in São Paulo, Brasil (Cuculiformes: Cuculidae), Ararajuba. 3:72-
74.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AS ESPÉCIES DA ORDEM ODONATA (INSECTA) UTILIZADAS EM


PROGRAMAS DE BIOMONITORAMENTO: INVENTÁRIO BIBLIOGRÁFICO

Jane Peter Egert BUSS¹, Glauciomar BUSS² & Arlindo SERPA-FILHO³*

¹Pós-Graduando em Planejamento e Conservação Ambiental, Santa Teresa, ES – ESFA


²Pós-Gradução em Engenharia Ambiental, Colatina, ES – FUNCAB
³Pesquisador do Instituto Nacional da Mata Atlântica no Programa de Capacitaçao Institucional
*serpafilhoa5@gmail.com

INTRODUÇÃO

Devido a desequilíbrios dos ambientes ocasionados por ação antrópica, os


estudos de biomonitoramento são de grande relevância, pois podem ajudar na avalição e
na conservação dos ecossistemas aquáticos. Dentre os organismos comumente usados, a
escolha dos macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores de qualidade de água e
saúde de ecossistemas deve-se ao fato de possuírem algumas características peculiares
que os tornam eficientes para este fim (Silveira 2004). Pela exposição prolongada a
todas as variações ambientais, a comunidade de bentônicos fornece dados mais
específicos e verídicos sobre a da qualidade da água (Silveira, 2004).
Os insetos da ordem Odonata são utilizados tanto em estudos de impacto
ambiental quanto de conservação, onde algumas espécies necessitam de condições
restritas para sua fixação em um ambiente. Da mesma forma, podem ser caracterizados
como grupos de organismos tolerantes a mudanças no seu hábitat. Outras espécies são
sensíveis às mudanças ambientais (Silva, 2011; Baptista et al., 2010). Segundo Carle
(1979): (1) os indivíduos habitam qualquer tipo de habitat aquático dulcícola; (2) as
larvas possuem uma grande habilidade de tolerar distúrbios ambientais, além de serem
relativamente sedentárias; (3) a maioria dos adultos pode ser identificada até espécie;
(4) os adultos possuem uma elevada capacidade de dispersão e estabelecimento rápido
em habitats adequados e (5) os adultos são facilmente observados em função do
comportamento de patrulha e defesa territorial realizado nos ambientes aquáticos.
Monteiro-Junior (2014) diz que os adultos de Odonata podem ser utilizados
como uma ferramenta rápida, eficiente e de baixo custo para avaliação do ambiente.
Essas características tornam essa ordem de insetos uma forte ferramenta para estudos
sobre priorização de conservação (Juen & De Marco, 2012). Segundo Hornung & Rice
(2003) e outros autores, as libélulas são excelentes indicadores de ambientes terrestres e
aquáticos devido ao seu valor como indicadores biológicos e podem atuar como
espécies bandeira ou espécies guarda-chuva.
Neste estudo reunimos informações extraídas de trabalhos realizados com
espécies de odonatas que foram utilizadas em programas de biomonitoramento e
posteriormente usadas para estudos de conservação ambiental. O objetivo deste trabalho
foi relacionar quais são as espécies ou gêneros de odonatas neotropicais brasileiras que
podem ser utilizadas como bioindicadores em programas de biomonitoramento em
geral. As informações levantadas neste estudo poderão proporcionar um direcionamento
em programas de biomonitoramento que utilizam a ordem Odonata para avaliação da
qualidade e preservação dos ecossistemas aquáticos e suas adjacências.

226
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo é um inventário bibliográfico que envolveu trabalhos


realizados em regiões neotropicais brasileiras realizados em um período de 20 anos
(1995 – 2015) sobre biomonitoramento utilizando espécies da Ordem Odonata como
bioindicador de qualidade ambiental. A pesquisa deu-se por base de dados on-line
(Capes, Zootaxa, INPA, Scielo, Acta Amazonica, Elsevier). Esses artigos passaram por
uma triagem de acordo com os seguintes critérios: selecionaram-se artigos que citam
espécies de Odonata utilizadas em programas de biomonitoramento; e também foram
usados artigos que realizaram levamento de espécies relacionadas a qualidade
ambiental. As espécies foram classificadas de acordo com o ambiente encontrado:
Ambientes preservados (ambiente íntegro); ambientes alterados (ambiente com pouca
intervenção humana) e ambientes degradados (ambiente com muita intervenção
humana).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste estudo foram selecionados, no total, 24 artigos. De acordo com os artigos


analisados, a subordem Anisoptera teve um maior número, com 154 espécies descritas e
a subordem Zygoptera teve 141 espécies. No total, 295 espécies estão descritas pelos
autores nos seus trabalhos. Os Anisopteras estiveram presentes, em sua maioria, em
áreas degradadas e alteradas. Desta forma, certas espécies pertencentes a esta subordem
podem ser indicadoras de ambientes alterados/degradados, pois optam por essas áreas
devido à necessidade de incidência solar para iniciar suas atividades. E Zygoptera teve
maior representabilidade em ambientes preservados, onde a maioria das espécies desta
subordem pode ser indicadora ambiental dessas áreas, pois de acordo com Juen et. al.
(2014) Zygoptera tem preferência por ambientes preservados, e Juen & De Marco
(2011) confima que elas necessitam de ambientes mais sombreados.
Com relação às famílias, foram encontradas 13 representantes: Libellulidae (121
espécies), Coenagrionidae (66 espécies), Protoneuridae (28 espécies), Calopterygidae
(21 espécies), Gomphidae (20 espécies), Megapodagrionidae (10 espécies), Aeshnidae
(10 espécies), Lestidae (cinco espécies), Pseudostigmatidae (quatro espécies),
Corduliidae (três espécies), Perilestidae (três espécies), Polythoridae (duas espécies) e
Dicteriadidae (duas espécies). A família Libellulidae teve melhor representação em
áreas degradadas e alteradas, correspondendo ao que afirma Batista et. al. (2006): áreas
abertas favorecem a ocorrência de espécies com o maior tamanho corporal, pois esses
indivíduos têm capacidade de realizar termorregulação mais eficiente em locais com
maior incidência solar porque a capacidade de troca de calor por irradiação aumenta
com o tamanho do corpo. A família Coenagrionidae tem preferência por ambientes
preservados ou áreas alteradas com pouca vegetação em torno do corpo hídrico, onde
necessita de água e vegetação para sua oviposição. Batista et al., (2010) confirma que
essa família tem restrições quanto ao tipo de hábitat e justifica o fato de ser a única
família com melhor resposta ao tipo de alteração do ambiente.
Os gêneros que foram mais representados pelos autores nos artigos listados são:
Argia (Rambur, 1842) que se apresentou em cinco artigos; Heteragrion (Selys, 1862)
em seis artigos; Hetaerina (Selys, 1853) cinco artigos e Progomphus (Selys, 1854)
cinco artigos. Estes gêneros estiveram presentes em todos os ambientes
(preservado/alterado/degradado). O gênero Heteragrion (Selys, 1862), foi mais bem
representado em ambientes preservados. Ferreira-Peruquetti & De Marco (2002)
discutem que esse gênero é mais dependente de vegetação ciliar, possivelmente pela sua

227
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

especialidade de uso de locais de oviposição, comparadas com algumas espécies de


Hetaerina que chegam a aumentar de abundância em áreas alteradas. Segundo Ferreira-
Peruquetti & Fonseca-Gessner (2003) o gênero Argia tem preferência em ambientes
degradados, tornando-a importante para o monitoramento de qualidade ambiental. O
gênero Heteragrion também pode ser utilizado em monitoramento de qualidade
ambiental, porém para áreas preservadas.
As espécies Erythrodiplax fusca (Rambur, 1842) foi descrita em 12 artigos;
Hetaerina rosea (Selys, 1853) em 10 artigos; Erythrodiplax umbrata (Linnaeus, 1758)
em sete artigos; Ischnura capreolus (Hagen, 1861) em oito artigos; Erythrodiplax
basalis (Kirby, 1897) em seis artigos, apresentaram-se em todos os ambientes, mas
ocorreram na maior parte em ambientes degradados. De acordo com os artigos
apresentados, a espécie Erythrodiplax fusca foi registrada tanto nas áreas degradadas
quanto nas alteradas, podendo ser classificada como um bom bioindicador para esses
tipos de ambientes. Segundo Ferreira-Peruquetti (2002), Hetaerina rosea tem
prefêrencia por áreas degradadas pelo fato de serem mais produtivas do que áreas com
mata. Por isso, essa espécie é comum em áreas de degradação, podendo ser utilizada em
programas de biomonitoramento. A espécie Orthemis discolor (Burmeister, 1839) foi
citada em nove artigos, Perithemis mooma (Kirby, 1889) em seis artigos e
Erythrodiplax juliana (Ris, 1911) em cinco artigos. Estas três espécies foram citadas
pelos autores somente em ambientes degradados/alterados.
Algumas espécies de Odonata podem ser classificadas em dois grupos: espécies
especialistas e generalistas. Segundo McCauley (2007) as espécies generalistas de
habitat se dispersam em grandes distâncias em relação às especialistas, podendo
colonizar novos locais. Já as especialistas são limitadas pela baixa capacidade de
dispersão. Monteiro-Junior et. al., (2012) diz que os ambientes com alta integridade
favorecem espécies especialistas e a situação inversa, para as espécies generalistas.
Segundo Dutra & De Marco (2011) as espécies Erythrodiplax fusca e Erythrodiplax
juliana (Ris, 1911) também são consideradas generalistas, por estarem presentes em
todos os tipos de ambientes demonstrados neste trabalho. Além dessas espécies, foi
notado em nosso trabalho que a Hetaerina rosea ocorreu em todos ambientes e talvez
possa ser considerada generalista. As seguintes espécies estão em destaque de acordo
com alguns autores: Oligoclada walkeri (Geijskes, 1931), encontrada em quatro artigos;
Telebasis willinki (Fraser, 1948), Protoneura tenuis (Selys, 1860), Psaironeura
tenuissima, (Selys, 1886) e Dicterias atrosanguinea (Selys, 1853) citadas em três
artigos e presentes somente em ambientes preservados, podendo ser indicadoras
ambientais. Segundo Oertli (2008) as espécies de Odonata estão associadas ao grau de
integridade dos ecossistemas aquáticos, corroborando a hipótese de que estas podem ser
utilizadas como indicadoras de qualidade ambiental. Segundo Bedê & Machado (2002)
e Monteiro-Junior et. al., (2014), os gêneros Hetaerina sp, Heteragrion sp e Argia sp.
possuem um grande potencial para indicação de qualidade ambiental. As espécies que
sofrem um estresse por meio da mudança do seu ambiente demostram mudanças
comportamentais. Isso indica que algumas espécies são resistentes a um ambiente que
sofreu alterações e que elas continuam habitando essas áreas. Desta forma, torna-se cada
vez mais frequente a utilização do grupo como indicador de mudanças ambientais
(Ferreira-Peruquetti & De Marco, 2002). As libélulas listadas podem ajudar nos
programas de biomonitoramento ambiental e dessa forma, podem ser elaborados
projetos para a criação de unidades de conservação ambiental observando-se os hábitos
destes animais.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONCLUSÃO

Em um período de 20 anos, os resultados indicam que a ordem Odonata possui


grande potencial para bioindicação. Ela pode constituir uma importante ferramenta para
avaliação e monitoramento de ambientes e corpos hídricos. Além disso, não foram
encontradas até o momento informações ou dados que exponham Odonata apresentando
baixo potencial para bioindicação. Desta forma é necessário que se realizem novos
estudos para verificar se realmente esta ordem possui baixo potencial bioindicativo.
Alguns gêneros podem ser utilizados como indicadores ambientais: a Hetaerina para
ambientes degradados e Heteragrion para ambientes preservados. Algumas espécies
podem ser bioindicadores: Orthemis discolor e Perithemis mooma para ambientes
degradados e as espécies Oligoclada walkeri, Telebasis willinki, Protoneura tenuis e
Psaironeura tenuissima para ambientes preservados. De acordo com os dados
encontrados em nosso trabalho, elas são as mais indicadas para os programas de
biomonitoramento e podem servir como ferramenta para que se proponha um
planejamento ou programa para a criação de unidades de conservação.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a toda equipe do INMA envolvida nessas atividades, bem como a


todos que dedicaram um instante do seu tempo para apoiar a pesquisa.

LITERATURA CITADA

Baptista, D.F. et al. 2010. Manual de identificação de macroinvertebrados aquáticos do


Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, Technical Books. 176 p.

Batista, J.D. et al. 2006. Distribuição longitudinal de adultos de Odonata em riachos no


cerrado: uma hipótese ecofisiológica. Minas Gerais. Dissertação (mestrado) em
Entomologia na Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais.

Bedê L.C. & Machado Â.B.M. 2002. Diagnóstico da condição ambiental em ambientes
úmidos na região do Parque Nacional da Serra da Canastra-MG utilizando
libélulas como indicadores ecológicos. Instituto Terra Brasilis De
Desenvolvimento Sócio-Ambiental, 38 p.

Carle, F.L. 1979. Environmental monitoring potential of the Odonata, with a list of rare
and endangered Anisoptera of Virginia, United States. Odonatologica 8: 319-323
p.

Dutra, S.L. & De Marco Jr., P. 2011. Bionomia de Odonata: Implicações ecológicas na
distribuição de riqueza, na diversidade beta e no uso como indicadores
ambientais. Góias. Tese (doutorado em ecologia e evolução), Universidade
Federal de Góias. 119 p.

Ferreira-Peruquetti, P.S & De Marco Jr, P. 2002. Efeito da alteração ambiental sobre a
comunidade de Odonata em riachos de Mata Atlântica de Minas Gerais, Brasil.
Revista Brasileira de Zoologia, Curitiba, 19 (2): 317-327 p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ferreira-Peruquetti, P.S. & Fonseca-Gessner, A. A. 2003. Comunidade de Odonata


(Insecta) em áreas naturais de Cerrado e monocultura no nordeste do Estado de
São Paulo, Brasil: relação entre o uso do solo e a riqueza faunística. Revista
Brasileira Zoologia, 20 (2): 219-224 p.

Hornung, J.P. & Rice, C.L. 2003. Odonata and wetland quality in southern Alberta,
Canada: a preliminary study, Odonatologica 32: 119-129 p.

Juen, L. & De Marco Jr., P. 2011. Grandes rios e a distribuiçãode Odonatana Amazônia:
similaridade de composição, limitação à dispersão e endemismo. Tese de
Doutorado não publicada, Programa de Pós-Graduação em ecologia e evolução,
Universidade Federal de Góias, Goiânia-GO. 201 p.

Juen L. & De Marco, Jr. P. 2012. Dragonfly endemism in the Brazilian Amazon:
competing hypotheses for biogeographical patterns. Biodiversity and
Conservation 21: 3507-3521.

Juen, L. et., al. 2014. Composição e riqueza de Odonata (Insecta) em riachos com
diferentes níveis de conservação em um ecótone Cerrado-Floresta Amazônica.
Acta Amazonica, vol. 44(2): 175 – 184.

McCauley, S.J. 2007. The role of local and regional processes in structuring larval
dragonfly distributions across habitat gradients. Oikos, 116: 121- 133.

Monteiro-Junior, C.S. et. al. 2014. Effects of urbanization on stream habitats and
associated adult dragonfly and damselfly communities in central Brazilian
Amazonia. Landscape and Urban Planning 127, 28–40 p.

Monteiro-Junior, C.S. et. al. 2012. Efeitos da alteração ambiental causada pela
urbanização na cidade de Manaus (AM) sobre a comunidade de adultos de
libélulas (Insecta: Odonata). Manaus. Disertação (mestrado) não publicada,
Programa de Pós-Graduação em Entomologia, INPA, Manaus. 75 p.

Oertli, B. 2008. The use of dragonflies in the assessment and monitoring of aquatic
habitats. In: Cordoba-Aguilar, A. (Ed.), Model Organisms for Ecological and
Evolutionary Research. Oxford University Press, Oxford, pp. 79–95.

Silva, C.C. 2011. Caracterização das comunidades de imaturos de Odonata (Insecta) em


cinco córregos da Estação Biológica de Santa Lúcia, Espírito Santo, Brasil. 57 f.
Dissertação - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Instituto de
Biologia, Programa de Pós-Graduação em Biologia Animal.

Silveira, M.P. 2004. Aplicação do biomonitoramento para avaliação da qualidade da


água em rios. Jaguariúna: Embrapa Meio. Documentos, 68 p.

230
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

GATILHOS LIGADOS À ATIVIDADE REPRODUTIVA DE Rhamdioglanis


transfasciatus MIRANDA RIBEIRO, 1908, BAGRE ENDÊMICO DE RIACHOS
COSTEIROS DE MATA ATLÂNTICA

Thiago Fonseca de BARROS1,2 * & Érica Pellegrini CARAMASCHI1,2


1
Laboratório de Ecologia de Peixes – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
2
Programa de Pós-Graduação em Ecologia – Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGE/UFRJ)
*tod_barros@yahoo.com.br

INTRODUÇÃO

Riachos tropicais em regiões montanhosas frequentemente sofrem forte variação


sazonal da descarga fluvial durante a estação chuvosa, como enchentes e cabeças d’água
(Winemiller et al., 2008), gerando assim épocas de relativa maior estabilidade ambiental
no período seco, bem como épocas de relativa maior instabilidade no período chuvoso.
Tais variações cíclicas podem gerar estratégias de história de vida diferenciadas em
peixes de riacho (e.g. Menezes & Caramaschi, 1994; Menezes & Caramaschi, 2000;
Mazzoni et al., 2002; Mazzoni et al., 2004; Rondineli et al., 2011; Brito et al., 2016).
Devido a essas diferenciações, foi proposto um modelo com contínuo trilateral de
estratégias de história de vida para peixes (Winemiller, 1989; Winemiller, 1992). Essas
estratégias são mensuradas a partir de métricas relacionadas aos aspectos populacionais
e reprodutivos das espécies (Winemiller, 1989). Por fim, demandas conflitantes entre o
investimento energético na reprodução ou no crescimento determinam a alocação da
energia disponível no organismo. Conforme a demanda de energia para a reprodução
aumenta, diminui a disponibilidade para o crescimento (Poizat et al., 1999).
As relações energéticas de um organismo em diferentes etapas de sua vida
podem levar indivíduos de ambos os sexos à maturidade reprodutiva em diferentes
estágios de crescimento. Machos e fêmeas de peixes geralmente atingem a maturidade
sexual com tamanhos diferentes (e.g. Barbieri, 1995; Barbieri et al., 2001). Fêmeas
geralmente desenvolvem gônadas maiores que as dos machos o que, dentre outros
fatores, demanda que uma maior quantidade de energia seja deslocada de
compartimentos somáticos para as gônadas (Santos et al., 2010). Dessa forma, pode-se
esperar que elas atinjam sua primeira maturação com um tamanho menor que os
machos.
O conhecimento dos ciclos reprodutivos, de estratégias de história de vida e dos
gatilhos associados à reprodução de peixes de riachos de Mata Atlântica ainda é uma
lacuna de conhecimento importante a ser preenchida, uma vez que ainda faltam
informações básicas sobre espécies endêmicas. Rhamdioglanis transfasciatus (Figura 1)
é um bagre endêmico de riachos costeiros de Mata Atlântica, pertencente à família
Heptapteridae, com distribuição conhecida desde o Rio de Janeiro até Santa Catarina
(Eschmeyer et al., 2017; Froese & Pauly, 2017). Alimenta-se principalmente de larvas
de insetos aquáticos (Brazil-Souza et al., 2009) e existem evidências de que sua
reprodução ocorra nos meses de menor pluviosidade (Brito, 2007). Este trabalho
consiste de uma investigação dos gatilhos ligados à dinâmica reprodutiva de R.
transfasciatus. O mesmo, por ser uma espécie de riachos suscetíveis a cabeças d’água,
mais frequentes no período chuvoso, deveria possuir atividade reprodutiva sincrônica

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

nos meses de menor pluviosidade. Sendo assim, suas características populacionais,


reprodutivas e de história de vida estariam associadas à vida neste ambiente.

Figura 1. Rhamdioglanis transfasciatus capturado no riacho do Mineiro-Branco


(22°25'18,26"S, 42°44'20,90"O), bacia do rio Guapiaçu, na Reserva Ecológica do
Guapiaçu (REGUA); aproximadamente 18 cm de comprimento padrão. Fotografia:
Axel Katz.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A bacia do rio Guapiaçu localiza-se na transição da região serrana com a região


de baixada nos municípios de Cachoeiras de Macacu e Guapimirim, estado do Rio de
Janeiro. A precipitação anual média na região é de cerca de 2.080 mm/ano, podendo
chegar a quase 3.000 mm acumulados nos anos mais chuvosos (Agência Nacional de
Águas, 2016).

Coleta dos exemplares

Foram realizadas coletas mensais de abril de 2015 a março de 2016 em três


principais afluentes do rio Guapiaçu (Figura 2). As mesmas foram realizadas utilizando
a técnica de pesca elétrica com auxílio de um gerador de corrente alternada (Honda
EU10i, 1.000 W, 220 V, 4,1 A). Os indivíduos de R. transfasciatus capturados eram
anestesiados, e após total anestesia eram sacrificados por seccionamento da coluna
vertebral. Tal procedimento é aceito pelo Conselho Nacional de Controle de
Experimentação Animal (CONCEA/MCTI, 2013). Os exemplares foram mantidos em
gelo para transporte até o laboratório.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 2. Pontos amostrados na área de estudo; bacia do rio Guapiaçu, no município de


Cachoeiras de Macacu (RJ).

Foram medidas as condições físicas e químicas no trecho de rio amostrado


[temperatura da água (°C), oxigênio dissolvido (mg/L), saturação de oxigênio (%),
condutividade (μS/cm), pH, vazão (L/s)]. Dados diários de pluviosidade da estação
Fazenda do Carmo (Código Pluviométrico da Estação: 02242013) foram obtidos junto
ao banco nacional de dados hidrológicos (Agência Nacional de Águas, 2016).

Dados biométricos e dissecção dos exemplares

Foram obtidos dados biométricos de comprimento e peso de cada exemplar. Em


seguida, cada espécime foi dissecado ainda fresco e teve suas gônadas retiradas e
pesadas em balança de precisão 0,01g. O sexo e estádio de maturação gonadal foram
definidos visualmente. Os índices biológicos foram calculados separadamente para
machos e fêmeas (Vazzoler, 1996). Foi calculada a relação gonadossomática (RGS) que
é uma relação percentual do peso da gônada (Pg) em relação ao peso total (Pt) do
espécime, através da equação RGS=Pg/Pt x 100.

Análise de dados

Sempre que necessário, os dados que não corresponderam a distribuições


normais foram transformados (Log+1, tratado ao longo do texto apenas como Log), de
forma a sempre respeitar os pressupostos das análises posteriores. O nível de
significância adotado em todos os testes foi p < 0,05.
Foram verificadas as proporções dos estádios de maturação gonadal ao longo
dos meses. Foi também verificada a variação da média de RGS de machos e fêmeas ao
longo dos meses. A flutuação das proporções dos estádios maduros de machos (M2, M3
e M4) e de fêmeas (F2a, F2b, F3 e F4), junto com a variação da RGS ao longo do ano,
foram utilizadas para definir a época de reprodução da espécie.
Para definir se a reprodução da espécie está associada às variáveis abióticas
medidas nos eventos de coleta dos exemplares, foram realizados testes de correlação do
Log da relação gonadossomática (Log RGS) com o Log das variáveis físicas e químicas

233
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

(temperatura da água, o pH, o oxigênio dissolvido e a condutividade da água a que os


peixes estavam submetidos em sua localidade de origem). Da mesma forma, para definir
se a reprodução da espécie está associada de alguma forma à pluviosidade, foram
realizados testes de correlação do Log da RGS com o Log da pluviosidade acumulada
no mês de cada coleta, da pluviosidade acumulada dos últimos dez dias, da pluviosidade
média do mês de cada coleta, da pluviosidade média histórica do mês de coleta de cada
exemplar e da vazão fluvial medida no riacho quando do evento de coleta dos
exemplares.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi capturado um total de 337 exemplares de R. transfasciatus, em que 160 eram


fêmeas, com média de CP de 9,6 cm. A amplitude de tamanhos das fêmeas variou de
4,8 a 15,9 cm de CP. Foram capturados 164 machos e a média de CP deles foi de 11, 5
cm. A amplitude de tamanhos dos machos variou de 4,8 a 20,6 cm de CP. 13
exemplares foram classificados como “sexo indeterminado”.
Fêmeas imaturas (F1) foram capturadas durante todos os meses de estudo,
porém em maior frequência no meses de abril e agosto de 2015, nos quais constituíram
o único estádio de maturação amostrado. Fêmeas em maturação inicial (F2a) e em
maturação avançada (F2b) foram observadas a partir do mês de maio de 2016, e foram
capturadas junto com fêmeas maduras (F3) em todos os meses de junho a novembro de
2015, exceto agosto. As primeiras fêmeas desovadas (F4) foram encontradas em
setembro de 2015, pouco após a captura das primeiras fêmeas maduras, e continuaram a
ser capturadas até o mês de março de 2016 (Figura 3a).
Machos imaturos (M1) foram capturados em todos os meses de estudo, porém
com maiores frequências em junho e dezembro de 2015 e fevereiro de 2016; a menor
frequência de machos imaturos foi no mês de agosto de 2015. Machos em maturação
(M2) foram amostrados em quase todos os meses de estudo, exceto dezembro de 2015;
a maior frequência de machos neste estádio foi no mês de agosto de 2015. Machos
maduros (M3) também foram encontrados em quase todos os meses de estudo, exceto
junho de 2015. As maiores frequências somadas de machos em maturação e maduros
(M2 + M3) ocorreram nos meses de agosto e setembro de 2015, coincidindo
parcialmente com os meses em que fêmeas em maturação avançada e maduras (F2b +
F3) tiveram suas maiores frequências somadas. As frequências somadas de machos em
maturação e maduros (M2 + M3) foram próximas ou maiores que 50% da população em
quase todos os meses. Machos espermiados (M4) foram encontrados apenas nos meses
de junho e novembro de 2015, em baixa frequência (Figura 3b).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3. Frequência de estádios de maturação gonadal de (a) fêmeas e (b) machos de


Rhamdioglanis transfasciatus ao longo de um ciclo anual em riachos da bacia do rio
Guapiaçu (RJ). Números indicam quantidade de exemplares capturados em cada mês.

A RGS de fêmeas variou ao longo do ciclo anual (Figura 4a), com os menores
valores nos meses mais próximos do verão ou nos quais só foram capturadas F1, tendo
alcançado assim, os maiores valores nos meses mais próximos do inverno. O valor
mínimo da média de RGS de fêmeas foi de zero% em abril e agosto de 2015 (meses
com somente F1) e o valor máximo da média de RGS foi de 3,60% no mês de outubro
de 2015. O maior valor de RGS de fêmeas atingido na população foi de 6,30% em
novembro de 2015, por uma fêmea de 13,2 cm de CP.
A RGS de machos também variou ao longo do ciclo anual (Figura 4b),
alcançando os maiores valores em meses próximos aos picos de RGS das fêmeas. O
valor mínimo da média de RGS de machos foi de zero% em junho e julho de 2015 e
março de 2016, e o valor máximo da média de RGS foi de 0,19% no mês de outubro de
2015. O maior valor de RGS atingido na população foi de 0,41%, também em outubro
de 2015, por um macho de 14,4 cm de CP.
O Log da RGS de fêmeas foi negativamente correlacionado com o Log do pH (R
= -0,2869; p < 0,05; Tabela 1), positivamente correlacionado com o Log do oxigênio
dissolvido (R = 0,2603; p < 0,05; Tabela 1), com o Log da condutividade (R = 0,3169; p
< 0,05; Tabela 1) e foi negativamente correlacionado com o Log da pluviosidade
mensal histórica (R = -0,1583; p < 0,05; Tabela 1).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

a b

Figura 4. Variação da relação gonadossomática (RGS) (a) de fêmeas e (b) de machos


de Rhamdioglanis transfasciatus ao longo de um ciclo anual. Pontos indicam a média e
barras indicam média ± erro padrão.

Tabela 1. Correlações entre o Log da relação gonadossomática de fêmeas de


Rhamdioglanis transfasciatus com dados pluviométricos, fluviométricos e abióticos de
riachos da bacia do rio Guapiaçu (RJ). Valores de p em negrito indicam relações
significativas.
Modelo t R p
Log RGS ~ Log temperatura da água -0,7566 -0,0620 0,4505
Log RGS ~ Log pH -3,6448 -0,2869 < 0,05
Log RGS ~ Log oxigênio dissolvido 3,2807 0,2603 < 0,05
Log RSG ~ Log Condutividade 3,3589 0,3169 < 0,05
Log RGS ~ Log Pluviosidade acumulada mensal -16,727 -0,1319 0,0963
Log RGS ~ Log Pluviosidade média mensal -18,493 -0,1455 0,0662
Log RGS ~ Log Pluviosidade mensal histórica -20,152 -0,1583 < 0,05
Log RGS ~ Log Pluviosidade acumulada de dez dias -0,1865 -0,0148 0,8523
Log RGS ~ Log Vazão local -0,5480 -0,0435 0,5844

O Log da relação gonadossomática (RGS) de machos foi significativamente e


negativamente correlacionado com o Log da pluviosidade acumulada em dez dias (R = -
0,2513; p < 0,05; Tabela 2) e com o Log da vazão local no ponto de coleta (R = -
0,1772; p < 0,05; Tabela 2).

Tabela 2. Modelos de correlações entre o Log da relação gonadossomática de machos


de Rhamdioglanis transfasciatus com dados pluviométricos, fluviométricos e abióticos
de riachos da bacia do rio Guapiaçu (RJ). Valores de p em negrito indicam relações
significativas.
Modelo t R p
Log RGS ~ Log temperatura da água 1,5518 0,1256 0,1228
Log RGS ~ Log pH 0,4520 0,0368 0,6519
Log RGS ~ Log oxigênio dissolvido -1,5985 -0,1294 0,1120
Log RSG ~ Log Condutividade -0,1213 -0,0125 0,9037
Log RGS ~ Log Pluviosidade acumulada mensal 0,2425 0,0191 0,8087
Log RGS ~ Log Pluviosidade média mensal 0,4189 0,0330 0,6758
Log RGS ~ Log Pluviosidade mensal histórica 16,191 0,1265 0,1074
Log RGS ~ Log Pluviosidade acumulada de dez dias -32,948 -0,2513 < 0,05
Log RGS ~ Log Vazão local (L/s) -22,847 -0,1772 < 0,05

O crescimento das gônadas implica em um aumento da RGS (Vazzoler, 1996).


Fêmeas tiveram dois picos de RGS, nos meses de julho e outubro de 2015; o maior pico

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

de RGS de machos foi no mês de outubro de 2015, coincidindo com um dos picos das
fêmeas. As proporções de indivíduos maduros de ambos os sexos (F2a, F2b, F3, F4,
M2, M3 e M4) coincidiram com os meses de maiores valores de RGS, indicando um
período reprodutivo longo (aproximadamente de junho a novembro), que começa nos
meses de menor pluviosidade e segue decrescendo até os meses de maior pluviosidade.
Outras espécies de riacho também seguem esse padrão [como em Duboc (2003),
Amaral et al. (1999) e Mazzoni et al. (2002)]. É comum que peixes de riachos,
suscetíveis a fortes instabilidades ambientais, desenvolvam estratégias reprodutivas
diferenciadas para aumentar a sobrevivência da prole (e.g. Menezes & Caramaschi,
1994; Amaral et al., 1999; Mazzoni et al., 2002). Em pequenos riachos da Serra do Mar
(onde R. transfasciatus são encontrados), cabeças d’água (i.e. rápido aumento na
descarga fluvial) nos meses mais chuvosos podem ser prejudiciais à prole. Desta forma
é comum que espécies destes ambientes desenvolvam sua reprodução em períodos secos
(Winemiller et al., 2008) ou mesmo possuam períodos reprodutivos mais longos, como
observado para o congênere R. frenatus (Duboc, 2003) e para o também Heptapteridae
Pimelodella pappenheimi (Amaral et al., 1999).
O aumento da RGS de fêmeas de R. transfasciatus respondeu significativamente
tanto a fatores de maior escala (e.g. pluviosidade média histórica), quanto às condições
abióticas locais (e.g. pH, oxigênio dissolvido e condutividade). Nos machos por outro
lado, o aumento do RGS respondeu significativamente somente a fatores de maior
escala (e.g. pluviosidade acumulada em dez dias e vazão local). Condições abióticas
locais como temperatura da água, pH, oxigênio dissolvido e condutividade, podem ser
correlacionados entre si e também com fatores de maior escala como a pluviosidade, e
em última instância estão relacionados com a à estação do ano. Uma vez que a atividade
reprodutiva das fêmeas responde melhor à pluviosidade histórica e não à pluviosidade
do ano de estudo, é possível que o gatilho para reprodução nas mesmas esteja
relacionado a fatores mais previsíveis, ligados à estação do ano, ou mesmo outros
fatores ambientais primários ligados a ciclos mais previsíveis como o fotoperíodo.
Vlaming (1972) em revisão sobre o controle dos ciclos reprodutivos em teleósteos,
verificou que o fotoperíodo é um dos fatores exógenos mais importantes para a
determinação do período reprodutivo; porém também verificou que o mesmo pode ser
superestimado, pois os efeitos dos fatores exógenos variam com as estações (Vlaming,
1972). No caso dos machos, o gatilho para a reprodução pode ser diferente, e uma vez
que as condições se tornam favoráveis, os mesmos permanecem maduros por tempo
suficiente para garantir a reprodução.

CONCLUSÃO

R. transfasciatus possui um ciclo reprodutivo anual, com período de maior


atividade reprodutiva nos meses correspondentes ao inverno e primavera (de junho a
novembro). Sugerimos que o gatilho reprodutivo para as fêmeas está ligado a eventos
de maior escala espacial e temporal (pluviosidade média histórica, temperatura,
condições físico-químicas), enquanto que nos machos o gatilho está ligado a eventos de
escalas mais locais (pluviosidade acumulada em dez dias, vazão local). A concentração
da reprodução nos meses secos provavelmente protege a prole de R. transfasciatus da
instabilidade ambiental gerada pelas cabeças d’água mais frequentes nos meses
chuvosos.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AGRADECIMENTOS

T. Barros recebeu apoio financeiro da CAPES em forma de bolsa de estudo para


obtenção do título de mestre em ecologia. Agradecemos às mais de 40 pessoas que
ajudaram durante as expedições de coleta e dissecção dos exemplares em laboratório.
Também agradecemos a Rachel Patron Locke, Nicholas John Locke, Jorge Bizarro e
toda a equipe da Reserva Ecológica de Guapiaçu (REGUA) que sempre nos receberam
com generosidade e entusiasmo.

LITERATURA CITADA

Agência Nacional De Águas. 2016. Hidroweb, disponível na internet através do


endereço “http://www.snirh.gov.br/hidroweb/”. Acessado em 26/12/2016.

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239
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

COMO ANDA A QUALIDADE DO AR QUE RESPIRAMOS NA SEGUNDA


CIDADE COM MELHOR QUALIDADE DE VIDA?

Luara Cardoso BRANDÃO1, Francisco Candido Cardoso BARRETO2*


1
Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Espírito Santo
2
Professor adjunto, Universidade Federal do Espírito Santo
*francisco.barreto@ufes.br

INTRODUÇÃO

Segundo levantamento realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU)


em 2015, com base em dados obtidos pelo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) Vitória é considerada a segunda melhor cidade para se viver. Os
critérios avaliados foram educação, renda e expectativa de vida. Todavia, existem outros
critérios mais relevantes para avaliar a qualidade de vida de uma população como, por
exemplo, o padrão de qualidade do ar.
O número crescente da circulação de veículos no mundo e as atividades
industriais são fatores que contribuem fortemente para a poluição da atmosfera (Cesar et
al, 2013). Segundo dados obtidos, em 2015, pelo Departamento de Trânsito
(DETRAN) só em 2015, Vitória tinha uma frota veicular de 12.568 automóveis. A
Grande Vitória conta também com duas das maiores indústrias siderúrgicas do país, a
Companhia Vale do Rio Doce e Arcelor Mittal. Tanto veículos quanto empresas
siderúrgicas são grandes fontes antrópicas na emissão do monóxido de carbono (CO),
60% do CO encontrado na troposfera é proveniente desse tipo de fonte (Zhu et
al. 2002). De acordo com o Instituto de Energia e Meio Ambiente (citado por Dapper,
2016): "Além de provocarem efeitos na saúde da população, os problemas causados
pela poluição do ar também geram impactos negativos no que se refere à perspectiva
econômica e social. A queda da produtividade agrícola, aumento de custos dos sistemas
de saúde associado ao fato de que há uma maior vulnerabilidade dos cidadãos carentes
em uma população podem ser vistas como exemplos de problemas relacionados à
contaminação do ar."
Estudos sobre a poluição atmosférica e os efeitos na saúde da população têm
demonstrado que, mesmo quando os poluentes se encontram abaixo dos níveis
determinados pela legislação, estes são capazes de provocar efeitos na saúde das
pessoas (Dapper, 2016).
Se levarmos em consideração o padrão do ar atmosférico como critério para
avaliação da qualidade de vida de uma população, será que Vitória, ainda assim, seria
considerada a segunda melhor cidade para se viver? O monóxido de carbono é um gás
incolor, inflamável e inodoro. Como explicado por Coelho-Zanotti (2006) o CO é capaz
de inibir a troca de oxigênio do sangue com tecidos do corpo, devido à sua grande
afinidade com a hemoglobina, causando desta forma diversos problemas de saúde,
afetando principalmente o sistema cardiovascular e nervoso. Em concentrações elevadas
esse gás pode até levar a morte por asfixia, como observado por Paulo Enio Garcia em
seu livro Medicina Legal e Criminalística (2010).

MATERIAL E MÉTODOS

Como a finalidade deste trabalho é analisar e mensurar monóxido de carbono ao


nvel dos pedestres, o local escolhido para fazer esta mensuração foi a Orla de Camburi

240
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

em Vitória, pois é um local com bastante tráfego veicular, perto do Porto de Tubarão e
onde um grande número de pessoas usam local para praticarem atividades físicas em
busca de melhorias na qualidade da saúde. Porém, a realização de exercícios próximos a
vias de tráfego intenso aumenta os níveis de carboxi-hemoglobina (30 min de corrida
pode elevar os níveis desta ao equivalente ao consumo de 10 cigarros/dia) (Arbex et al.,
2012).
Para a aferição dos níveis de monóxido de carbono, foram desenvolvidas
unidades autônomas baseadas em Arduino (Sánchez, V. et al., 2015) munidas com
sensores específicos para CO (modelo MQ-7) com sensibilidade mínima de 20 ppm,
sensores de umidade e temperatura (modelo DHT22) e módulos de Real Time Clock
(modelo DS3231). A programação destes sensores foi realizada em linguagem C# no
próprio programa do Arduino. Para uma melhor precisão nos dados obtidos,
programamos o sensor MQ-7 e o DHT22 para captar informações a cada minuto. Essas
informações são enviadas para um micro SD que também está acoplado a placa de
Arduino. Como o MQ-7 só detecta níveis acima de 20 ppm, quando o ambiente está
abaixo deste valor ele não consegue detectar dado algum, logo não envia a informação
para o micro SD. Ou seja, só porque não foi enviado valores ao micro SD, isso não
exclui a possiblidade deste gás estar presente no ambiente, apenas que ele esta abaixo
do limite mínimo de detecção do sensor.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A resolução do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) publicada


em 22 de agosto de 1990 estabeleceu os Níveis de Qualidade do Ar visando a
elaboração de um plano de emergência para eventos críticos de poluição atmosférica,
visando providências a serem tomadas pelos órgãos competentes, entidades privadas e a
própria população. Foram estabelecidos níveis de Atenção, onde a concentração de CO
em uma média de 8 horas é de 15 ppm por metro cúbico. O nível de Alerta ficou
definido em 30 ppm por metro cúbico em uma média de 8 horas, bem como o nível de
Emergência que ficou estabelecido em 40 ppm.
Todavia, a exposição diária de determinados gases atmosféricos, mesmo quando
em pequenas concentrações, pode acarretar problemas a saúde da população a longo
prazo. Estudos sobre a poluição atmosférica e os efeitos na saúde da população têm
demonstrado que, mesmo quando os poluentes se encontram abaixo dos níveis
determinados pela legislação, esses são capazes de provocar efeitos na saúde das
pessoas (Dapper et al. 2016). Como observado por Arbex et. al. (2012), a exposição aos
poluentes do ar é um fator de risco para os seres humanos desde a gestação. Em um
estudo realizado na cidade São Paulo, foi demonstrado que o aumento na concentração
de 1 ppm de CO associou-se à redução de peso da criança ao nascer.
Como observado na tabela 1, os sensores 1 e 2 apresentam a menor média de
tempo com níveis de CO acima de 20 ppm. Isso se dá devido ao fato de que estas
unidades foram expostas a horários que apresentam maior tráfego veicular, os chamados
horários de ‘’pico’’, que também são os mais escolhidos pela população para a
realização de atividades físicas na Orla de Camburi. Como observado por Arbex et. al
(2012), durante a realização de exercícios, o ar inspirado penetra nas vias aéreas,
preferencialmente pela boca, sendo maiores o volume/minuto e a capacidade de sua
difusão, facilitando desta forma a penetração de poluentes atmosféricos no organismo,
como também a quantidade de partículas ultrafinas que se depositam no trato
respiratório enquanto se realiza estes exercícios é maior quanto menor for o tamanho
das partículas, cerca de cinco vezes superior quando comparado se está em repouso. Foi

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

recomendado pela American Heart Association que seja evitado a realização de


exercícios intensos em locais onde a qualidade do ar é insatisfatória.

Tabela 1. Resultados prévios por sensor dispostos na Orla de Camburi.


Tempo Temperatura Umidade
Sensor CO Local Horário
(minutos) (°C) (%)
1 > 20 ppm 4,3 25~ 30 54~ 68 20°16'51,57"S e 16:00 até
40°17'17,76"O 20:00
2 > 20 ppm 4,8 28~ 30 56~ 68 20°16'30,43"S e 08:00 até
40°16'56,54"O 12:00
3 > 20 ppm 5,4 26~ 30 54~ 68 20°16'07,45"S e 08:00 até
40°16'22,74"O 20:00

O sensor 3 apresentou a maior média de tempo, provavelmente devido ao


período de ‘’repouso’’ a que ficou exposto, quando o trânsito está sem grande fluxo
veicular entre o horário de 13h até as 15h30. Segundo os dados obtidos esses horários
seriam os mais satisfatórios para a realização de atividades físicas, visto que
foi sugerido em uma declaração da American Heart Association recomendando que seja
evitada a prática de atividades físicas em ambientes onde a qualidade do ar está
insatisfatória. Porém, vale ressaltar que níveis acima de 20 ppm já requer um estado de
atenção para a nossa saúde.

CONCLUSÃO

O projeto ainda está em andamento e está previsto a construção e instalação de 7


novas unidades autônomas para mensurar o CO, de forma independente, ao longo da
Orla de Camburi, para uma maior cobertura e precisão nos dados obtidos.
Desenvolvimentos futuros deste projeto envolvem a abordagem de IoT (internet das
coisas) para conexão dos sensores à redes de telefonia celular e construção de um site
dedicado para visualização em tempo real das concentrações de CO atmosférico na área
para permitir que o cidadão escolha o melhor horário para exercício de suas atividades
físicas com menor prejuízo à sua saúde.

LITERATURA CITADA

American Heart Association. Recommendations for Physical Activity in Adults.


Disponível em: < http://www.heart.org >. Acesso em: 17 de maio de 2017.

Arbex, M. A. et al. 2012. A poluição do ar e o sistema respiratório. Jornal Brasileiro de


Pneumologia, 38(5): 643–655.

Cesar, A. C. G.; Nascimento, L. F. C.& De Carvalho, J. A. 2013. Association between


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children. Revista de Saúde Pública, 47(6): 1209–1212.

Coelho-Zanotti, M. S. S., Goncalves, F. L. T. & Latorre, M. R. D. O. 2006. Análise das


internações por doenças respiratórias em função das condições meteorotrópicas
na cidade de São Paulo. Premiação de melhor pôster sênior no XIV Congresso
Brasileiro de Meteorologia, Florianópolis, 27 novembro 2006. ANAIS - XIV
Congresso Brasileiro de Meteorologia.

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Dapper, S. N.; Spohr, C.; Zanini, R.R. 2016. Poluição do ar como fator de risco para a
saúde: uma revisão sistemática no estado de São Paulo. Estud. av., São Paulo,
30(86): 83-97.

DETRAN. Tráfego veicular em 2015. Disponível em: <www.detran.pr.gov.br >. Acesso


em: 15 de fevereiro de 2017.

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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 2017. Índice


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Ministério do Meio Ambiente. 2017. Resoluções do CONAMA: n* 3, de 28 de junho de


1990. Disponível em: <http://www.mma.gov.br >. Acesso em: 28 de janeiro de
2017.

Sánchez, V. et al. 2015.Implementation of an electronic system to monitor the


thermoregulatory capacity of honeybee colonies in hives with open-screened
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ultrafine particles near a major highway. Journalofthe Air &Waste Management
Association, 52: 1032-1042.

243
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Educação Ambiental

PARTICIPAÇÃO SOCIAL NO PROGRAMA DE COLETA SELETIVA DE


RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO MUNICÍPIO DE SANTA TERESA, ES

Michel Trarbach BLEIDORN1*, José Matias GOMES1, Edilson Sarter BRAUM1 &
Maycon Patrício de HOLLANDA2

1
Graduando em Engenharia Ambiental e Sanitária – Faculdade da Região Serrana, FARESE
2
Mestre em Produção Vegetal pelo Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal do Centro de
Ciências Agrárias da Universidade Federal do Espírito Santo, Docente na Faculdade da Região Serrana,
FARESE.
*
michel.tb.03@gmail.com

INTRODUÇÃO

Os resíduos sólidos gerados nas cidades brasileiras, assim como em localidades


de diferentes países, ainda são um problema. Em países mais ricos, que geram maiores
quantidades de resíduos, existe mais capacidade de equacionamento da gestão, devido
um somatório de fatores que incluem recursos econômicos, preocupação ambiental da
população e desenvolvimento tecnológico (Jacobi & Besen, 2011).
A sociedade moderna tem a maior concentração de pessoas em áreas urbanas e
produz cada vez mais resíduo. A geração de resíduos sólidos urbanos no Brasil cresceu
4,1% de 2012 para 2013, enquanto que a taxa de crescimento populacional urbano foi
de 3,7% no mesmo período (ABRELPE, 2014). O manejo inadequado desses resíduos
gera problemas socioambientais, econômicos e de saúde pública. A busca de soluções
para a destinação final dos resíduos tem constituído expressivo desafio, sobretudo no
que se refere à prevenção à poluição do solo, do ar e dos recursos hídricos (Oliveira e
Galvão Júnior, 2016).
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, Lei 12.305/2010) (Brasil,
2010) visa estimular mudanças consideráveis na forma de gerenciar resíduos sólidos no
Brasil. Dentre vários desafios, a PNRS estipulou o envio obrigatório de resíduos para
reciclagem e compostagem. Aterros sanitários passaram a constituir a forma legalmente
adequada de disposição final somente para rejeitos, resíduos que depois de esgotadas
todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos viáveis
não possuem outra possibilidade que não a disposição final (Siqueira & Assad, 2015).
Na PNRS, a coleta seletiva é instrumento‐chave para a implantação da
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, além de ser
fundamental para viabilizar a hierarquização no gerenciamento dos resíduos e a inclusão
socioeconômica dos catadores. Nesse sentido, a diretriz da PNRS estabelece que a
coleta seletiva deve ser amplamente considerada nos planos de gerenciamento de
resíduos, inclusive em âmbito municipal, devendo ser criados instrumentos econômicos
para sua viabilização (Oliveira e Galvão Júnior, 2016).
De acordo com o IBGE (2017), 84,5% dos resíduos sólidos produzidos pela
população de Santa Teresa são coletados diretamente pelo serviço de limpeza pública. O
restante é queimado, enterrado ou dado outro destino. De acordo com a Prefeitura
Municipal de Santa Teresa (2017), o montante coletado varia entre 300 e 380 mil quilos
por mês. O programa de coleta seletiva no município ocorre nos bairros Centro, Recanto

244
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

do Vale e Canaã, sendo realizada de duas maneiras: coleta porta a porta e através de
pontos de entrega voluntária (PEV’s).
Os resíduos sólidos coletados no município são encaminhados para a Usina de
Triagem e Compostagem de Resíduos Sólidos Urbanos, para que seja realizada a
separação de todo material reciclado através da Cooperativa de Agentes Ambientais de
Santa Teresa, COOPAAST (PMST, 2017). Após segregação e triagem cerca de 20 mil
quilos são comercializados para empresas de reciclagem localizada no Município de
Aracruz, ES, enquanto o restante do material é rejeitado e encaminhado para uma
empresa de gerenciamento integrado de resíduos na cidade de Cariacica, ES.
Segundo Bringhenti e Günther (2011), a efetividade de programas e iniciativas
de coleta seletiva requer necessariamente o envolvimento dos cidadãos, considerados os
geradores dos resíduos sólidos. Para tanto, se faz necessário um programa de coleta
seletiva (PCS) que invista de ações educativas, no sentido de informar a população
atendida para que a mesma consiga participar de forma efetiva e responsável junto aos
programas das municipalidades. É possível que a falta de um efetivo processo
educativo, venha a minimizar ou então anular a eficiência do PCS. Assim, estudos que
buscam investigar aspectos sobre informação e conhecimento da população sobre o PCS
do município, podem ser relevantes para a tomada de decisão dos gestores municipais e
a melhoria contínua do processo de gerenciamento integrado dos resíduos sólidos
municipais (Silva et al, 2017).
Considerando que a análise da participação social nos programas de coleta
seletiva pode ser utilizada para avaliar a problemática das questões ambientais e
direcionar possíveis estratégias de educação ambiental, objetivou-se com essa pesquisa
investigar a participação dos moradores dos bairros, Centro, Recanto do Vale e Canaã
na coleta seletiva do município de Santa Teresa, Espírito Santo.

MATERIAL E MÉTODOS

De acordo com o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística, o município de Santa Teresa abriga 21.823 habitantes, com 54% de sua
população em área urbana e 46% em zona rural, com uma área territorial de
aproximadamente 683,157 km², correspondente a 1,51% do território estadual (IBGE,
2017). Localizado na região serrana do estado do Espírito Santo, com cerca de 40% de
seu território coberto por Mata Atlântica preservada, o município é o maior produtor de
uva e vinho do Espírito Santo, representando 80% da produção estadual (PMST, 2017).
O Município de Santa Teresa possui duas regiões climáticas distintas. Uma
região mais elevada, onde está localizada a Sede do Município, de clima frio e úmido,
relevo montanhoso com picos que ultrapassam os 1.000 metros de altitude e outra
região baixa, clima quente e seco (Bacia do Rio Doce), abaixo dos 400 metros de
altitude, com relevo plano ondulado. A precipitação média anual fica em torno de
1300mm e temperatura média anual entre 20 e 23°C (INCAPER, 2011).
A execução da pesquisa se deu através da aplicação de um questionário, durante
o mês de março de 2017, aos moradores dos bairros Centro, Recanto do Vale e Canaã
(Figura 1), devido os mesmos serem abrangidos pelo programa de coleta seletiva.

245
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Bairros abrangidos pelo programa de coleta seletiva em Santa Teresa, ES.
Fonte: dos Autores

O questionário utilizado na coleta de dados foi composto de seis questões


objetivas, cuja aplicação se deu através da abordagem aleatória de 60 moradores dos
três bairros. Através das perguntas do questionário, buscou-se extrair informações do
conhecimento e da preocupação dos entrevistados quanto à geração e a destinação de
resíduos sólidos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A primeira questão abordou o conhecimento acerca da existência da coleta


seletiva: “Você sabe da existência da coleta seletiva em seu bairro?” 35% dos
entrevistados afirmaram que sim e 65% declaram não saber sobre a existência. No
estudo de Colares et al., (2016) sobre o programa de coleta seletiva de resíduos sólidos
do município de Pelotas, RS, constataram que uma das principais carências
identificadas reside na conscientização da população assim como na divulgação do
programa. O município até executou algumas ações voltadas à sensibilização da
população, porém as mesmas foram em sua maioria realizadas de forma isolada e de
caráter pontual, ou seja, dificilmente resultarão em uma mudança de comportamento por
parte da população. Souza (2014) recomenda a utilização de diversas mídias para a
divulgação periódica do programa, tais como programas de rádio, televisão, internet,
jornal, entre outros. É importante salientar que quanto mais se investe na divulgação do
PCS, mais barato o mesmo se torna, uma vez que dessa maneira serão aumentadas a
quantidade e a qualidade dos resíduos recicláveis coletados (D'Almeida & Vilhena,
2010).
Na segunda pergunta: “Você sabe onde estão localizados os Pontos de Entrega
Voluntária (PEV)?” 80% afirmaram desconhecer e apenas 20% disseram que sim.
Semelhança apontada pelo estudo feito por Rocha (2012), no município de Teixeira de
Freitas, BA, no qual constatou que apenas 14% dos entrevistados conheciam o que é um
PEV e 26% dos entrevistados afirmaram que já haviam feito à segregação dos resíduos
gerados em suas residências e tinham depositado em um PEV.

246
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A terceira pergunta aborda o conhecimento acerca do processo de segregação


dos resíduos gerados na residência do entrevistado: “Você possui conhecimento sobre a
segregação dos resíduos sólidos?” 83% dos entrevistados relataram possuir
conhecimento sobre a segregação e 17% afirmaram não possuir. Entretanto, a fim de
investigar sobre o ato de segregação, foi feita a quarta pergunta: “Você faz a segregação
dos resíduos gerados em sua residência?” Apenas 37% afirmaram fazer tal atividade,
enquanto a maioria, 63% não a realiza. Percebe-se que existem divergências nas
respostas dos entrevistados. 83% afirmaram possuir conhecimento sobre a segregação, e
mesmo assim, apenas 37% relatam que fazem tal atividade. Pode-se observar também
uma relação da primeira pergunta com a quarta pergunta, pois a quantidade de pessoas
que tem o conhecimento sobre a coleta seletiva é próxima à quantidade de pessoas que
realiza a segregação. Sidique et al., (2010) afirmam que o sucesso de um programa de
coleta seletiva depende da participação das famílias nas atividades de segregação dos
resíduos, sendo, portanto, imprescindível que a população detenha o esclarecimento de
todo o processo da gestão dos resíduos, inclusive a sua classificação.
Segundo Bernado (2006), no município de Santo Agostinho, PE, apenas 33%
dos entrevistados separam os resíduos gerados em sua residência. Ressalta-se que a
baixa adesão da coleta seletiva é responsável por perdas socioambientais como o
aumento do volume de resíduos sólidos destinados ao aterro, diminuindo assim a vida
útil deste, e a perda da promoção da inclusão social por meio de emprego e renda para a
população menos favorecida.
A quinta pergunta aborda o interesse dos entrevistados no programa de coleta
seletiva: “Você tem interesse em participar da coleta seletiva?” 85% dos entrevistados
afirmaram ter interesse em participar, 8% não possuem interesse e apenas 7% relataram
que já participam. Estudo feito por Bringhenti e Günther (2011), com relação à
participação na coleta seletiva no município de Vitória, ES, foram identificados três
grupos: um grupo que participa (25%); os que estariam dispostos a participar (46%) e os
que não participam (29%). Uma das hipóteses da baixa participação refere-se ao fato de
que mesmo segregando os resíduos nas residências, o indivíduo pode acabar
misturando-os com outros resíduos, no ato de acondicionamento, principalmente pela
falta de conhecimento dos moradores sobre o acondicionamento correto nos recipientes
e o horário que a coleta é realizada.
Na sexta pergunta: “Você possui conhecimento sobre os benefícios ambientais e
sociais proporcionados pelo programa de coleta seletiva?” 75% afirmam saber dos
benefícios causados pelo programa enquanto 25% desconhecem. Tal resultado
converge com o encontrado por Corrêa et al. (2015), na área central do município de
Pelotas, RS, no qual verificaram que 87,6% dos entrevistados disseram que o programa
de coleta seletiva tem efeito positivo, considerando que o serviço contribui em prol da
qualidade de vida da população e do meio ambiente.
De acordo com Prestes (2012), a coleta seletiva no município de Sapucaia do
Sul, RS, embora exista parcialmente, não é gerenciada satisfatoriamente pelos gestores
municipais e, não abrange toda a comunidade. Para obter eficiência no trato das
questões referentes ao lixo, é de suma importância que a administração pública e a
população trabalhem de forma articulada.

CONCLUSÃO

De acordo com as análises das respostas dos sessenta moradores, percebe-se que
existe uma falha na divulgação, pois os entrevistados mostram estar desinformados
sobre o programa de coleta seletiva e localização dos PEV’s. Nota-se que os

247
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

entrevistados têm o interesse em participar da coleta e afirmam ter conhecimento sobre


o processo de separação de resíduos e seus benefícios.
Considera-se que a participação voluntária da população nos programas de
coleta seletiva é baixa, mas que pode aumentar em longo prazo e que a participação
tende a crescer gradativamente na medida em que também se incrementem ações
mobilizadoras.
A divulgação, a acomodação e o desinteresse da população, são considerados
aspectos impeditivos ou que dificultam a participação da população. Diante do exposto,
recomenda-se a implantação de mecanismos adicionais para sensibilização e
mobilização social, principalmente a educação ambiental, acreditando-se que estas
ações, quando aplicadas de forma permanente e adequadas, irão aumentar efetivamente
a participação social.
Seria interessante também uma parceria juntamente com outros agentes
públicos, principalmente os que visitam as residências dos moradores, tais como agentes
sanitários ou agentes de saúde, para que estes divulguem o programa, esclareçam
dúvidas e ainda distribuam folder para informar o morador dos programas realizados na
cidade.

LITERATURA CITADA

Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais -


ABRELPE. (2014). Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2013. São Paulo,
2014. 112 p.

Bernado, J. 2006. Sustentabilidade Ambiental e Sustentabilidade Social: os limites e


avanços da coleta seletiva de lixo do município do Cabo de Santo Agostinho,
1998/2004. Dissertação de mestrado, Pernambuco: programa de pós graduação
em desenvolvimento urbano (UFP).

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. 2010. Secretaria de Recursos Hídricos e


Ambiente Urbano. Manual para Implantação de Compostagem e de Coleta
Seletiva no Âmbito de Consórcios Públicos. Brasília, 69 p.

PNRS___. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Institui a Política Nacional de


Resíduos Sólidos; altera a Lei nº. 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras
providências. Diário Oficial da União, Brasília: Câmara dos Deputados, n. 81.

Bringhenti, Jacqueline R.; Gunther, W. M. R. (2011). Participação social em programas


de coleta seletiva de resíduos sólidos urbanos. Engenharia Sanitária Ambiental,
v. 16, n. 4, p. 421-430.

Colares, Gustavo Stolzenberg et al. 2016. Avaliação do programa de coleta seletiva de


resíduos sólidos do município de Pelotas - RS. Monografias Ambientais, v. 15,
n. 1, p. 141-153.

Corrêa, Luciara Bilhalva et al (2015). Análise social de um programa de coleta seletiva


de resíduos sólidos domiciliares. Monografias Ambientais, 2015.

D'Almeida, M.; Vilhena, A. 2010. Lixo municipal: manual de gerenciamento integrado.


3 ed. São Paulo: IPT/CEMPRE, 2010.

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Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. 2011. Disponível em:


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Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural – INCAPER.


2017. Planejamento e programação de ações. Disponível em:
<https://incaper.es.gov.br/media/incaper/proater/municipios/Noroeste/Santa_Ter
esa.pdf>. Acesso em: 04/04/17.

Jacobi, P. R & Bessen, G. R. 2011. Gestão de resíduos sólidos em São Paulo: desafios
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Oliveira, T.B.; Galvão Junior, A.C. (2016). Planejamento municipal na gestão dos
resíduos sólidos urbanos e na organização da coleta seletiva. Eng. Sanit.
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Prefeitura Municipal de Santa Teresa – PMST. 2017. Disponível em: <http://www.


santateresa.es.gov.br/home/>. Acesso em: 04/04/17

Prestes, Beatriz Pereira. 2012. A coleta seletiva no município de Sapucaia do Sul-RS.

Rocha, D. L. 2012. Uma análise da coleta seletiva em Teixeira de Freitas–Bahia.


Caminhos de Geografia, v. 13, n. 44.

Sidique S. F, Lupi F, Joshi S. V. 2010. The effects of behavior and attitudes on drop-off
recycling activities. Resour Conserv Recy.

Silva, L. C. S.; Corrêa, L. B.; Hernandes. J.C.; Paz, M. F.; Martins, W. S.; Santos, C.
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Siqueira, T. M. O.; Assad, M. L. R. C. L. (2015). Compostagem de resíduos sólidos


urbanos no estado de São Paulo (Brasil). Ambiente & Sociedade, São Paulo.

Souza, J. 2014. A importância de uma estação de tratamento de esgoto na cidade de São


Leopoldo, Rio Grande do Sul. Boletim do Observatório Ambiental Alberto
Ribeiro Lamego, v 7.2, p. 11-27.

249
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ELABORAÇÃO DE UMA EXPOSIÇÃO ENTOMOLÓGICA COMO


FERRAMENTA DE DIVULGAÇÃO CIENTIFICA

Arlindo SERPA-FILHO*, Raphael Becalli SOARES

Instituto Nacional da Mata Atlântica/Museu de Biologia Prof. Mello Leitão,


Programa de Capacitação Institucional
*serpafilhoa5@gmail.com
INTRODUÇÃO

No processo para a popularização da Ciência, existe a possibilidade em fundar


uma ponte entre os processos científicos e seus episódios com o cotidiano, de forma
lúdica, criativa e interativa, fazendo parte de um conjunto de ações que podem atrair o
público e mitigar os problemas que encontramos. Nos dias atuais, onde a informação é
concebida em tempo real, é possível ainda nos depararmos com situações em que a
população carece de dados que possam esclarecer dúvidas do cotidiano sobre a Ciência
e como se comportar diante dela. E muito estranha é a atitude que se toma diante de
alguns fatos e o longo caminho que se percorre para atingir uma informação que, às
vezes, não tem qualquer respaldo científico. Muitas são as dúvidas na compreensão das
ciências e, por exemplo, na área da Entomologia (estudo dos insetos), na qual nos
deparamos todos os dias com perguntas sem respostas da população, com indagações
que se perpetuam por respostas que se seguem pelo senso comum, virando réplicas que
caem no lendário popular, e se mistificam a ponto de se tornarem verdades absolutas, e
aprofundando de uma maneira efetiva a aversão ou endeusamento de um determinado
fato. O tema deste trabalho, os insetos, são animais extremamente bem-sucedidos e,
apesar do seu pequeno tamanho, estão associados a diversos aspectos da vida do ser
humano. Todos os tipos de ecossistemas naturais e modificados, terrestres e aquáticos,
apresentam comunidades de insetos, que possuem grande variedade de estilos de vida,
formas e funções (Gullan & Cranston, 2008). Esses organismos desempenham
importante papel na natureza, tendo na Entomologia a ciência que os estuda sob todos
os aspectos, estabelecendo as relações com os seres humanos, plantas e animais (Gallo
et al., 2002; Ruppert et al., 2005). O estudo dos insetos é parte do conteúdo abordado
em diversas disciplinas presentes na matriz curricular dos cursos de ensino fundamental,
médio e superior em diversos países. Além disso, têm sido utilizados como organismos-
modelo para atender a um espectro de disciplinas da biologia, incluindo evolução,
ecologia, comportamento, anatomia, fisiologia, bioquímica e genética (Gullan &
Cranston, 2008). Segundo Costa Neto (2000), o fascínio provocado pelos insetos nos
seres humanos influencia, de formas variadas, no seu cotidiano, como: música,
literatura, linguagem, teatro, cinema, alimentação (entomofagia), medicina
(entomofobia e entomoterapia), artes plásticas, artes gráficas, entretenimento,
sexualidade, filosofia, crendices populares, folclore e medicina popular. No entanto, a
maioria das escolas apresenta escassez de material biológico para realização de aulas
práticas e falta de estrutura laboratorial. Na tentativa se diminuir essa lacuna, este
projeto utiliza a divulgação cientifica para alcançar maior público, informando sobre as
peculiaridades dos grupos de insetos, abrangendo diversos públicos, com variadas
idades, padrões culturais, sociais e econômicos. A proposta não elimina aulas nem
professores. Ao contrário, acredita-se que aulas e discussão extraclasse são
complementares para um ensino efetivo e os resultados mostram que estudantes
demonstram em seguida melhor interação quando submetidos às avaliações. Segundo
Cruz et al. (1996), uma disciplina não pode ser desenvolvida apenas de forma teórica e

250
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

sim apoiada em um conjunto de aulas práticas que contribuam para aprimorar os


conhecimentos. Entretanto, na maioria das escolas é observada uma escassez de
material biológico para realização de aulas práticas e os modelos didáticos podem ser
uma das ferramentas adotadas para suprir tal lacuna. Especula-se que os visitantes do
Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), Santa Teresa, ES, tenham pouco
conhecimento sobre a biologia dos insetos da região, pois, mesmo com os trabalhos
científicos desenvolvidos, nem sempre tal material desperta o interesse da população em
geral. Portanto, além do conhecimento científico, é preciso estimular o “pensar
cientifico”. Chassot (2006, p. 38) considerou a alfabetização científica como “[...] o
conjunto de conhecimentos que facilitam aos homens e mulheres fazer uma leitura do
mundo onde vivem”. Dessa forma a exposição deve, além de disponibilizar informações
científicas, possibilitar o entendimento e compreensão dos termos, processos e suas
aplicações para sociedade. Partindo do ponto que a Ciência é uma forma de cultura, o
presente trabalho relata a importância de pensar na interação entre o público e a
divulgação cultural por meio de uma exposição cientifica, nesse caso a exposição “O
mundo fascinante dos insetos”, proposta enquanto um produto cultural, que pode ser
somado às práticas de ensino. Com isso, pretende-se completar de forma
contextualizada a construção do saber.

MATERIAL E MÉTODOS

A concepção dessa exposição se deu pela inquietação dos autores acerca da falta
de visibilidade que a área de Entomologia tem por parte dos visitantes do instituto e
também por possuir uma frágil linha e pesquisa dentro da instituição. Nessa construção
se pensou em uma abordagem que tocasse os visitantes pelas formas de vida dos insetos
e como durante milhares de anos os humanos vêm se apropriando de suas diversas
habilidades para construir as suas necessidades e benfeitorias. Cada espaço da
exposição, que foi intitulada “O mundo fascinante dos insetos”, preocupou-se em
mostrar o lado “benéfico” dos insetos, tentando desmistificar as crendices e informações
que levam as pessoas à entomofobia (medo de insetos). A exposição foi organizada com
ilustrações que reforçaram toda a informação contida tanto na pergunta quanto na
resposta. Foram elaboradas algumas perguntas que favoreceram a construção da ação e
que se constituíram conforme segue abaixo. Perguntas: “Os pêlos das asas da borboleta
e das mariposas podem cegar uma pessoa? O contato com uma jetiquiranabóia pode
matar uma pessoa? Pulgas voam? Mariposas só podem ser encontradas de noite?
Como eu diferencio uma borboleta de uma mariposa? A lêndea é a fêmea do piolho?
Besouros podem me causar alguma doença? As moscas se alimentam? Quais os
maiores insetos que existem?”. Essas perguntam são observadas e feitas no dia a dia
pelos visitantes. Foram utilizados exemplares obtidos da coleção didática da instituição,
que serviram na preparação de caixas entomológicas, representando as ordens dos
insetos para exemplificar e classificar a entomofauna da região. Além disso, houve a
preocupação em se mostrar uma caixa com exemplares de animais não insetos, que são
facilmente confundidos com eles, como uma forma de esclarecer os visitantes sobre a
morfologia dos insetos. Foram confeccionados cinco dioramas que explanam os
diferentes habitats e nichos dos insetos, utilizando exemplares conservados da coleção
didática; libélulas, besouros rola-bosta, insetos necrófagos, besouros serra-pau e
borboletas. Três tipos de construções onde se encontram insetos sociais (cupinzeiro,
formigueiro e vespeiro) foram expostos para mostrar a diversidade de formatos e
estratégias em construir suas “moradias”. Uma “bancada lúdica” foi organizada para
apresentar como os insetos podem ser trabalhados no prisma da Entomologia cultural.

251
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Nessa bancada foram expostos produtos confeccionados e outros de forma comercial


para tal temática, mostrando insetos de plástico, de arame, montáveis em formato de
quebra-cabeça 3D, livros, exemplares de insetos comestíveis e jogo de cartas). Uma
cortina de borboletas da Mata Atlântica foi instalada dentro do pavilhão, com o intuito
de simular uma revoada destes lepidópteros. Ainda como uma forma de estimular a
cultura popular e a inserção dos insetos no mundo dos humanos, foi disponibilizado um
repertório de músicas que falam de insetos, cantadas e encantadas por vários intérpretes
e compositores da Música Popular Brasileira. Um televisor disponibilizou um “quiz”
entomógico automático, onde os visitantes poderiam testar seus conhecimentos e
aprender sobre o mundo fascinante dos insetos. Em uma sala anexa ao pavilhão foi
preparado um momento especial, onde os visitantes podiam mergulhar em tarefas
lúdicas, participando de atividades de pintura, desenho, dois jogos de tabuleiro (o jogo
de damas, com formigas, abelhas, marimbondos e cupins, e o de dominó entomológico,
com borboletas e besouros de grãos armazenados). Nesse espaço foi organizado um
varal de pintura e desenhos, onde os autores depois da visita à exposição poderiam levar
sua “obra de arte entomológica”. Vale ressaltar que cada item da exposição foi pensado
para facilitar a comunicação. E a utilização de músicas, imagens e vídeos foi organizada
de forma a provocar uma reflexão sobre os conhecimentos de hábitos e bionomia dos
artrópodes, principalmente insetos, por meio da ludicidade. A exposição buscou
aproximar o público do universo dos insetos, sendo as informações biológicas
disponibilizadas em um caráter que lembra exposições de museus, com subtítulos
grandes, possibilitando ao visitante se aproximar e ler apenas o que era de seu interesse.
A leitura completa das informações foi recomendada apenas aos mediadores, a fim de
esclarecer a população sobre questões óbvias que cercam o mundo dos insetos, por meio
de explicações plausíveis e com embasamento científico. Uma preocupação dos autores
em relação às informações foi quanto à distorção das informações no processo de torná-
las acessíveis ao público com diversos níveis de formação escolar, o que fatalmente
acontece quando essa “tradução” não é feita por alguém inserido no contexto. Vale
ressaltar que a concepção dessa exposição, não esgotou tudo sobre insetos e suas
peculiaridades, mas tenta diminuir a lacuna que existe por causa da falta de
informações, que leva a população em geral a classificar os insetos sempre como
asquerosos ou prejudiciais, nunca lembrando a sua função como um dos elos da teia
alimentar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Wagensber (2008, p.70) disse que o museu se torna mais apropriado para
provocar estímulos nos jovens para aprender e não deve competir com as escolas e sim
somar no processo de construção do conhecimento, e ressalta ainda que o museu deve
ser visto hoje como um instrumento de mudança social; deve-se não permitindo que o
visitante saia com as mesmas convicções que entrou. Uma barreira vencida
primeiramente pelos autores foi pensar uma exposição cultural sobre insetos com
diversas formas de abordar as informações saindo do padrão colegial, o que também
provocou mudança no olhar do público, que esperava uma exposição de ciência e
encontrou no espaço um viés cultural, lúdico e mais leve do que se espera em um
ambiente escolar. Ao contrário da escola, que tem como foco a transmissão de
conhecimento, a exposição foi concebida como uma provocação para aproveitar um
momento prazeroso e informativo, com várias descobertas para os mais jovens e cheio
de resgates de memória para os mais idosos. Vale ressaltar que a relevância dos espaços
de divulgação e popularização científica se relaciona também com o despertar de

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

vocações, da curiosidade e da motivação. Alguns visitantes se identificaram com a


história pessoal de Augusto Ruschi, apresentada em um dos painéis, que relata seu
fascínio desde jovem pelos insetos.

CONCLUSÃO

Essa gratificante experiência se mostrou um desafio aos autores e colaboradores,


por provocar a saída da zona de conforto em busca de uma linguagem para apresentar o
conhecimento sobre os insetos como algo cultural, de forma abrangente e inserido no
contexto social, considerando que a divulgação científica pode influenciar na formação
do indivíduo e nas suas escolhas ao tomar decisões. A observação do público na visita à
exposição “O mundo fascinante dos insetos” foi gratificante por possibilitar várias
descobertas para os mais jovens e o resgate de memória para os mais idosos. Ao se
recordarem do contato com os exemplares de insetos expostos, vários “causos”
surgiram à memória e as conversas fluíam sobre o tema, só que agora com informações
cientificas para serem consultadas, o que possibilitava que os mesmos se corrigissem
quando necessário. A exposição se mostrou mais eficiente que o esperado na divulgação
científica, foi possível visualizar a relação entre ciência e cultura apenas observando o
comportamento dos visitantes. Esse formato possibilita divulgar saberes científicos de
diversos grupos biológicos para públicos distintos, pois quanto maior a diversidade de
linguagem abordada, maiores são as chances de identificação por parte do público,
minimizando as desigualdades econômicas e culturais na sociedade.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a toda equipe do Instituto Nacional da Mata Atlântica envolvida


nessas atividades, bem como a todos que dedicaram um instante do seu tempo para
participar ou apreciar nossas ações.

LITERATURA CITADA

Chassot, A. Alfabetização Científica: questões e desafios para a educação. 2006. 4. ed.


Ijuí: Ed. Unijuí.

Costa Neto, E. M. 2000. Introdução à etnoentomologia: considerações metodológicas e


estudo de casos. UEFS, Feira de Santana, Brasil, 131 pp.

Cruz R, Leite S, Orecchio L.A. 1996. Experimentos de ciências em microescala. São


Paulo: Scipione.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Gallo, D. et al. 2002. Manual de Entomologia Agrícola. São Paulo: Agronômica Ceres,
531p.

Gullan, P.J.; Cranston, P.S. 2008. Os insetos: um resumo de entomologia. 3 ed. São
Paulo: Roca, 440p.

Ruppert E.E., Barnes, R.D. & Fox, R. S. 2005. Zoologia dos Invertebrados: Uma
Abordagem Funcional-Evolutiva. 7 ed. Editora Roca. Rio de Janeiro: p. 1168.

Wagensber, J. 2008. Museu para a criança ver (e sentir, tocar, ouvir, cheirar e
conversar): Jorge Wagensberg. In: Ciência e criança: a divulgação científica
para o público infanto-juvenil. Massarani, L. (ed.) Rio de Janeiro: Museu da
Vida/Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

JOGOS DE TABULEIRO COMO FERRAMENTA PARA DIVULGAÇÃO


CIENTÍFICA

Raphael Becalli SOARES*, Arlindo SERPA-FILHO

Instituto Nacional da Mata Atlântica / Museu de Biologia Prof. Mello Leitão,


Programa de Capacitação Institucional.
*raphaelbecsoar@gmail.com
INTRODUÇÃO

O jogo é uma das atividades mais antigas e de fato acompanha a trajetória de


evolução e a própria civilização humana. No jogo há algo que ultrapassa as simples
necessidades da vida e dá sentido a ação. Piaget escreve a respeito do papel dos jogos na
infância para formação do adulto, segundo ele: “O jogo constitui o polo extremo da
assimilação da realidade do ego, tendo relação com a imaginação criativa que será fonte
de todo pensamento e raciocínio posterior” (Piaget, 1962).
A relevância do jogo é apontada ora pela ação livre e espontânea da criança ora
pela ação orientada por adultos, incluindo materiais como bola, cilindro e cubo, entre
outros. Todos os jogos da linha froebeliana envolvem movimentação das crianças.
Segundo o autor, o jogo quando desenvolvido livremente pela criança, tem efeitos
positivos na esfera cognitiva, social e moral. Quando organizados pelo professor, com a
manipulação de objetos como tijolinhos, possibilitam o desenvolvimento de habilidades
sensório – motoras (Kishimoto, 1993).
Os jogos didáticos de tabuleiros tendem ampliar as possibilidades de
desenvolvimento das funções psicológicas superiores, as quais são fundamentais no
processo de ensino e de aprendizagem. No prisma da educação inclusiva, ao aluno com
deficiência visual, um jogo também se constitui em um importante recurso para a
internalização de signos auxiliares externos, permitindo estimulações que nem sempre
seriam possíveis apenas pelo ensino dos conteúdos científicos. A constante defesa da
utilização do jogo por pesquisadores da Educação e seus fundamentos apresentados por
autores consagrados, como citados acima, torna evidente a importância desse recurso no
processo de aprendizagem, assim como no desenvolvimento de habilidades cognitivas e
corporais da criança, indicando sua aplicação como recurso didático pedagógico. O jogo
é utilizado para alcançar determinados objetivos pedagógicos, além de ser uma escolha
com vistas ao melhoramento do desempenho dos estudantes em certos conteúdos de
complexa aprendizagem (Gomes et al., 2001).
Nesta perspectiva, o jogo se traduz, não no fim, mas no eixo que dirige a um
conteúdo didático particular, procedendo na cessão da ação lúdica para a aquisição de
conhecimentos (Kishimoto, 1996). Este trabalho apresenta dois jogos, o dominó e a
dama. No primeiro, como apresentado por Menino & Barbosa (2002) tem a origem de
seu nome dividida entre a expressão do latim, “Benedicamus Domino” (“Bendigamos
ao Senhor”) e o “Domino Gratias” (“Graças ao Senhor”) que os eclesiásticos usavam ao
realizar uma boa jogada. Já o jogo de damas traz desde seu aprendizado todos os
benefícios citados acima inerentes às atividades lúdicas, porém nota-se no estudo de sua
complexidade diversos outros exercícios de ordem cognitiva, principalmente no que diz
respeito à estratégia, concentração e raciocínio lógico.
Numa partida o jogador deve preparar o movimento de suas peças imaginando
imediatamente as respostas possíveis de seu adversário e reagir prontamente às escolhas
alheias, exercitando a reversibilidade e a autonomia ao tomar as decisões por si mesmo.
É lugar comum que uma das grandes dificuldades na resolução de problemas

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

matemáticos estabelece-se na incapacidade de entender e analisar sua proposta. Ao


buscar a melhor combinação de lances o aluno aprende a pensar no problema de forma
geral, aprendendo a analisar os diferentes pontos e a encontrar o melhor caminho para
sua atenção. Ambos os jogos trazem a visão de brinquedos para relações sociais e para
estimular atividades intelectuais, segundo Micheletti, 1992 se apresentando como jogos
de estratégia, observação e reflexão.
Diante dessa perspectiva, essa proposta busca explorar o conteúdo de
entomologia em uma forma lúdica, por meio desses jogos como uma ferramenta para
divulgação científica para aproximar as pessoas do mundo dos insetos aproveitando a
possibilidade de ensino-aprendizagem acerca da biodiversidade e valorização da
entomologia.

MATERIAL E MÉTODOS

Para desenvolver esse trabalho foram necessários adaptar os jogos de dominó e


dama ao tema proposto, nesse caso a entomologia, cada jogo foi estudado a fim de
entender sua lógica para ajusta-los ao conteúdo sem interferir nas regras de cada jogo,
no jogo de dominó foi possível perceber que é formado por um conjunto de sete
imagens diferentes, nesse caso dos arranjos de zero a seis. Na confecção dos protótipos
do jogo de dominó (Figura 1) foram utilizadas imagens de insetos para substituir os
números do dominó convencional, as imagens foram impressas e coladas nas peças de
isopor com tamanho de 10 centímetros de comprimento e cinco centímetros de largura
(mantendo a proporção de duas peças na horizontal para encaixarem em uma na
vertical).
No verso de cada peça foi inserido um papel de fundo, igualmente para todas as
peças de cada conjunto e no final todas as peças foram plastificadas com plástico
adesivo transparente para proteger as peças aumentando sua durabilidade. Os dominós
de insetos foram confeccionados com imagens de dois grupos as borboletas (ordem
Lepidóptera) com as imagens do “Guia de identificação de tribos de borboletas
frugívoras” (SANTOS, et al 2014) e os besouros considerados pragas dos grãos (ordem
Coleóptera) com as imagens do “Guia de Pragas dos Grãos” (EMBRAPA, 2011).

A B
A
A

D
C A D
A A

256
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. A) Jogo de dominó convencional; B) Imagens dos dominós de besouros e borboletas


C) Jogo de Dominó das Borboletas D) Jogo de Dominó dos insetos pragas dos grãos.

Na confecção dos protótipos do jogo de dama foram selecionados quatro grupos


de insetos que vivem em relação ecológica - insetos sociais, como exemplo: as abelhas,
formigas e marimbondos (ordem Hymenoptera) e cupins (Isoptera). As imagens foram
obtidas por meio de registros fotográficos, no parque do Instituto Nacional da Mata
Atlântica – INMA, de animais livres. Cada uma das 12 imagens de cada time foi
impressa, recortada e colada em uma tampinha de garrafa pet, sendo que cada time foi
representado por uma cor (verde/vermelho) (Figura 2).

A B
A A

Figura 2. A) Jogo de Dama; B) Imagens dos times do jogo de dama.

A avaliação dos protótipos com o público ocorreu na inauguração da exposição


desenvolvida pela equipe de Difusão Cientifica do Instituto Nacional da Mata Atlântica-
INMA, denominada “O mundo fascinante dos insetos” que aconteceu em 12 de outubro
de 2016, “Dia das crianças”, na própria Instituição. Este momento produziu uma oficina
lúdica composta por diversas atividades, como por exemplo, vídeos-documentários
sobre a vida dos insetos, gincanas, atividades de passatempo e os jogos de dominó e
dama.
Durante os jogos o mediador que apresentava as regras de cada jogo, teve a
oportunidade de estabelecer um diálogo para expor e debater os saberes entomológicos.
Como forma de avaliar a proposta dos jogos, os autores acompanharam o momento de
teste dos protótipos registrando as reações dos jogadores e observando os critérios
estabelecidos, clareza do jogo, entendimento das imagens, interesse dos jogadores,
exposição de conhecimentos entomológicos expressos nas falas, e se por meio dos jogos
surgiriam discussões sobre insetos. Essa observação não estruturada, também é
denominada assistemática, simples, espontânea, informal ou não planificada e conduz a
função do pesquisador atuando como instrutor e observador (RAMPAZZO, 2015).
Os jogos foram apresentados para aproximadamente 100 jogadores, sendo que
cada partida de domino era brincada com quatro pessoas e a dama com duas pessoas ou
com duas duplas. Os jogadores com perfis e idades diferentes, visitantes do instituto que
compareceram a abertura da exposição e se dispuseram a testar os jogos.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante os jogos os participantes demonstraram interesse durante todo o jogo,


conferindo as imagens, os nomes científicos e as regras. Muitos se interessaram pelas
características morfológicas de cada espécie bem como pela investigação dos nomes, no
entanto, poucos jogadores conheciam o nome cientifico. Tal percepção demonstra que a
utilização de jogos didáticos, pode ser uma alternativa viável e interessante, por meio de
trabalho em grupo socializando conhecimentos prévios e utilizando-os para a construção
de conhecimentos novos e mais elaborados (Gomes et al., 2001; Miranda, 2001; Brasil,
2002; Knechtel & Brancalhão, 2008). Durante as observações o que sugeriu que os
jogos despertaram o interesse dos jogadores foi o fato de que nenhuma partida foi
abandonada sem ser concluída, e muitos jogaram repetidas vezes.
Durante os momentos de teste as perguntas “quantas vezes podemos jogar?”,
“posso ficar aqui jogando?” e “tem desse jogo pra levar pra casa?” foram perguntas
que indicaram que o jogo foi bem aceito. Frases como “porque insetos?”, “nossa o jogo
é legal pena que é com inseto” apontam a necessidade de intensificar o contato das
pessoas com esse grupo de animais e melhorar as informações possibilitando uma
aproximação a partir da desmistificação relacionada aos riscos à saúde que alguns
insetos não apresentam. Outras frases como: “que legal são borboletas”, “quero aquele
de borboleta” e “o jogo de borboleta é mais fácil que besouros”, sugerem que no jogo
de dominó as borboletas se apresentaram mais carismático que os besouros, uma
hipótese é que isso esteja relacionado à escolha das imagens, pois as borboletas são
coloridas e os besouros em tons escuros de cor, outra hipótese é que na representação
cultural das borboletas está relacionada às coisas boas.
No jogo de dama, houve uma disputa inicial para utilizar as peças das formigas,
ficando o segundo com as abelhas, o que provocou uma atenção com esses animais e
foram apresentadas culturalmente, algumas justificativas dos jogadores: “a formiga
trabalha mais”, “abelha machuca as pessoas”, “as formigas são mais fortes”. Essas
falas apontam falta de conhecimento relacionada às características bionômicas desses
animais. E nesta perspectiva, o jogo não é o fim, mas o eixo que conduz a um conteúdo
didático específico, resultando em um empréstimo da ação lúdica para a aquisição de
informações (Kishimoto, 2001).
O tamanho maior das peças em relação às peças usuais se mostrou um
chamativo para atrair os jogadores, possibilitou uma boa observação das imagens. A
característica que incomodou durante o jogo, a falta de peso das peças do dominó,
provavelmente devido ao isopor e uma sugestão dos jogadores foi de confeccionar as
peças em forma de cartas, o que possibilitaria elaborar uma prancha com as peças
picotadas para destacar e jogar. Foi possível enxergar que os jogadores expressaram
para o jogo de damas: aprendizado do jogo, a imaginação, atenção e a concentração, que
contribui para formar o espírito de investigação, além de promover o próprio
desenvolvimento da criatividade e da memória. Quanto ao jogo de dominó, notou-se
diante dessa perspectiva, que a proposta estimulou a exploração sobre conteúdo de
entomologia em uma forma lúdica, e aproximou as pessoas do mundo dos insetos
aproveitando a possibilidade de aprendizagem e valorização da biodiversidade.

CONCLUSÃO

O uso dos jogos como forma de transmitir informações e incentivar o


aprendizado faz com que aprender torne-se algo descontraído e interessante deixando de
lado a monotonia do cotidiano. Porém os se destacaram nessa função como material

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

provocador, o jogo possibilitou “conversas” relacionadas ao hábito alimentar dos


insetos, a nomenclatura popular e cientifica, e também classificação biológica.
Percebeu-se que a apropriação do conhecimento é facilitada quando tomam a forma
aparente de atividade lúdica, pois os participantes ficam entusiasmados quando recebem
a proposta de aprender de maneira mais interativa e divertida, resultando em uma
aprendizagem prazerosa. Trabalharam-se na proposta do jogo também questões de
relações interpessoais como regras de convívio social e questões ético-morais, na
condução do jogo.
O uso dessas ações lúdicas em uma tendência natural motivou o indivíduo a
participar espontaneamente e se tornou uma ferramenta para desenvolver a cooperação,
as relações afetivas e possibilitar a construção do conhecimento.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Projeto de Capacitação Institucional do Instituto Nacional da


Mata Atlântica pela bolsa que nos permitiu desenvolver esse trabalho bem como a
equipe do Instituto envolvida nessas atividades, e ainda a todos que dedicaram um
instante do seu tempo para participar dos nossos jogos e agora apreciar nosso trabalho.

LITERATURA CITADA

BRASIL. 2002. PCN+ Ensino Médio: Orientações Educacionais complementares aos


Parâmetros Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas
tecnologias./ Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Brasília: MEC:
SEMTEC, 144p.

Embrapa - GUIA DE PRAGAS DOS GRÃOS - ICI BRASIL S.A.) 2011. Disponível
em: <http://www.cnpms.embrapa.br/publicacoes/milho_7_ed/colpragas.htm>.
Acesso em 23/02/2017.

Gomes, R. R.; Friedrich, M. 2001. A Contribuição dos jogos didáticos na aprendizagem


de conteúdos de Ciências e Biologia. In: EREBIO,1, Rio de Janeiro, 2001,
Anais..., Rio de Janeiro, p.389-92.

Knechtel, C.; Brancalhão, R. 2008. Estratégias lúdicas no ensino de ciências. Acesso em


13/04/2017.

Kishimoto, T. M. 1996. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Cortez, São Paulo.

Kishimoto, M.T. 2001. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. Cortez editora. 5ºed
São Paulo.

Kishimoto, Tizuko M. 1993. Jogos infantis: o jogo, a criança e a educação. Petrópolis,


RJ: Vozes.

Menino, F.S.; Barbosa, R.M. 2002. Uma seleção de atividades lúdicas usando dominós.
Revista de Educação Matemática, 6(7): 15-21.

259
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Micheletti, A. 1992. Classificação de Jogos e Brinquedos: a classificação ICCP – in


Friedmann, Adriana – O direito de brincar: A brinquedoteca – E. Scritta – São
Paulo.

Miranda, S. 2001. No Fascínio do jogo, a alegria de aprender. In: Ciência Hoje, 28: 64-
66.

Piaget, J. 1962. A Relação da afetividade com a inteligência no desenvolvimento mental


da criança, 26(3).

Rampazzo, L. 2015. Metodologia Científica para alunos de Graduação e Pós-graduação.


6. ed. Edições Loyola.

Santos, J.P.; Freitas, A.V.L.; Constantino, P.A.L.; Uehara-Prado, M. 2014. Guia de


identificação de tribos de borboletas frugívoras. Mata Atlântica-Norte. In:
Pereira, A.B.; Constantino, P.A.L.; (Eds). Monitoramento da Biodiversidade:
(Guia de Monitoramento), ICMBio/GIZ.

Vygotsky, L. S. 1989. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

JOVENS EDUCANDO JOVENS: A POPULARIZAÇÃO DO CONHECIMENTO


CIENTÍFICO PARA A SENSIBILIZAÇÃO AMBIENTAL EM UMA
COMUNIDADE ESCOLAR

Cintia F. CORSINI1*, Maristela CICHELERO2, Caroline Angeli SANCIO3, Lucinelda


Lauvers DETTMANN3, Beatriz RAASCH3, Carolaine BOLDT3, Jordane
BERNARDES3, Kátia Haese LINHAUS3, Katiele K. LENKE3, Keronlaine Kuster
NASCIMENTO3, Letícia LICHTENHELD3, Silvia KOSANKE3, Soéllen SCHWARZ3
& Thaimiris LAHASS3
1
Programa de Capacitação Institucional, Instituto Nacional da Mata Atlântica
²Programa de Iniciação Científica Júnior - Pesquisador do Futuro, Universidade Federal do Espírito Santo
3
Programa de Iniciação Científica Júnior - Pesquisador do Futuro, Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Professor Hermann Berger
*cintia.corsini@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO

As questões que afetam a vida humana e de outros seres devem ser tratadas
dentro das escolas, tomadas como consciência e praticada na vida cotidiana (Abreu &
Rodrigues, 2013). A Mata Atlântica é considerada um hotspot de biodiversidade: esta
floresta possui grande riqueza de espécies, alto grau de endemismo e está sob forte
ameaça pela fragmentação, sendo reduzida a pequenos remanescentes florestais (Myers
et al., 2000). Ainda assim, a Mata Atlântica tem um importante papel como prestadora
de serviços ambientais e uma imensa importância biológica, onde a maioria das espécies
brasileiras ameaçadas de extinção encontra-se nesse bioma, muitas das quais no estado
do Espírito Santo (IPEMA, 2004).
Santa Maria de Jetibá, localizada na região centro-serrana do estado do Espírito
Santo, foi colonizada a partir do final do século XIX por imigrantes europeus oriundos
da antiga Pomerânia, que implantaram um sistema agrícola familiar em pequenas
propriedades rurais. O histórico de ocupação e o relevo acidentado favoreceu a
permanência de muitos fragmentos parcialmente conectados, que ainda permitem um
razoável fluxo biológico entre eles. É estimado que o município ainda possua 36% de
sua superfície coberta por florestas nativas em estágio médio e avançado de sucessão
(Centoducatte, 2011).
Face à relevância nacional e internacional a necessidade de ações imediatas
visando à sua conservação e recuperação, a Mata Atlântica tem sido objeto de vários
programas públicos em diferentes esferas governamentais. O modo de interação do ser
humano com a natureza, por meio de suas relações sociais, do trabalho, da ciência, da
arte e da tecnologia devem ser considerados nos espaços escolares, levando em
consideração as peculiaridades de cada região e que a educação possa atuar no processo
de formação da cidadania (Abreu & Rodrigues, 2013).
A ciência é popularizada quando é utilizada uma linguagem mais explicativa,
que traduza a para um público leigo em geral, chamada de divulgação científica
(Albagli, 1996). A divulgação científica realizada dentro do ambiente escolar fortalece a
cultura científica no país através de um processo coletivo que envolve diversos
segmentos da sociedade, como: instituições de pesquisa, universidades, sociedade
científica, governo, comunicadores, educadores e estudantes (Boa-Esperança et al,
2014).
Segundo Gouvêa (2000), ela deve ser estudada como um fenômeno
comunicacional que pressupõe interação entre pesquisadores, mediadores e não-

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

especialistas, e que está contido nas diferentes práticas da educação científica e


tecnológica, seja nas práticas sociais realizadas nos espaços formais de educação
(sistema de ensino formal-escola), ou nos espaços não formais de educação. Deste
modo, um projeto que envolva popularização científica focado no tema “biodiversidade
da Mata Atlântica” contribui para a valorização pública e apoio social para as medidas
de proteção aos ecossistemas nativos e, para incentivar o interesse científico de jovens
para o estudo e conservação da biodiversidade. Assim, este trabalho teve como objetivo
gerar agentes multiplicadores de conhecimento, por intermédio dos bolsistas de
Iniciação Científica Júnior da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio
Professor Hermann Berger, para promover a divulgação científica e incentivar as boas
práticas ambientais para a conservação da biodiversidade local.

2. MATERIAL E MÉTODOS

O projeto

O presente projeto nasceu do convênio da Fundação de Amparo à Pesquisa e


Inovação do Espírito Santo (FAPES) em parceria com o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Fundo Municipal de Ciência e
Tecnologia do município da Serra (FACITEC) com o “Programa de Iniciação Científica
Júnior (Pesquisador do Futuro)”, que concedeu dez bolsas de Iniciação Científica Júnior
a estudantes dos ensinos fundamental e médio da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Professor Hermann Berger, para a participação neste projeto de
pesquisa, com a possibilidade de vivenciar a realidade do ambiente universitário, e
despertar o interesse em dar continuidade aos estudos e futuramente o ingresso no
ensino superior. Também estão inseridas uma monitora, estudante do curso de Ciências
Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e uma tutora, que é
professora da mesma Escola, para auxiliar na execução das atividades do projeto e na
atualização do conhecimento teórico a respeito do tema desenvolvido, além de contar
com um coordenador pesquisador da UFES e uma coordenadora executora do Instituto
Nacional da Mata Atlântica.

Metodologia

O trabalho retrata uma das atividades do Projeto “Da escola para a mata:
observando a natureza e popularizando a ciência” realizada por 3 educadores e 10
alunos bolsistas de iniciação científica júnior (ICJr) da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio (EEEFM) Prof. Hermann Berger.
Como o projeto visa a popularização científica focada no tema “animais
ameaçados” para a conservação da biodiversidade da Mata Atlântica, os bolsistas ICJr
participaram de duas oficinas de capacitação no Instituto Nacional da Mata Atlântica
sobre “Identificação de aves da região Centro-Serrana do Espírito Santo”, ministrada
pelo Msc. José Nilton Silva no dia 24 de fevereiro de 2016, e “Identificação de
mamíferos da região Centro-Serrana do Espírito Santo”, ministrada pelo Msc. Arthur
Machado Gonçalves no dia 04 de março de 2016, onde adquiriram conhecimento sobre
esses grupos e seus status de ameaça tanto na lista brasileira quanto na lista
internacional de fauna ameaçada de extinção. Para ambas as oficinas, a educadora
Maristela Cichelero desenvolveu apostilas com informações complementares aos temas
e a lista de espécies de aves e mamíferos ameaçados de extinção encontrados na região
Centro-Serrana do Espírito Santo.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Após a aprendizagem teórica, o conteúdo utilizado para o embasamento teórico


para a montagem da palestra sobre “Aves e Mamíferos ameaçados de extinção da região
Centro-Serrana do Espírito Santo” foi retirado de pesquisas sobre os animais destacados
nas oficinas e para dar suporte visual para a palestra foram realizadas pesquisas online
de vídeos e imagens.
A palestra foi montada no editor de apresentações da Microsoft, em arquivo
padrão do Microsoft PowerPoint, e formatada em duas versões: uma voltada para os
alunos do Ensino Fundamental I, com uma linguagem mais acessível e de fácil
compreensão, e outra para alunos do Ensino Fundamental II e Médio da escola com
uma linguagem mais elaborada, buscando apresentar termos científicos para a
popularização da informação científica.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A palestra foi realizada no dia 30 de março de 2016 e todas as turmas da EEEFM


Prof. Hermann Berger foram atendidas. Os alunos de iniciação científica júnior
buscaram o conhecimento sobre as espécies da fauna ameaçada de extinção além das
aulas de capacitação concedidas. Deste modo, a construção do conhecimento foi
fundamenta pela abordagem científica e transformada para uma abordagem participativa
no sentido de traduzir conceitos científicos para uma linguagem mais acessível e
esclarecedora para a comunidade estudantil. Ao ministrar as palestras, obtiveram
sucesso ao repassar todos os conhecimentos sobre as espécies ameaçadas de extinção na
região centro-serrana do Espírito Santo de forma bem diversificada para atender todas
as turmas da escola, de acordo com a faixa etária do público atendido. Assim, cumpriu-
se a meta de popularização do conhecimento científico dentro da escola.
De acordo com Cumplido & Prieto (2009), é necessário desenvolver uma
metodologia onde tanto o educador quanto o educando possam construir um
conhecimento direcionado. Ao buscar a abordagem crítica da Educação Ambiental é
necessária a implantação de uma alfabetização ecológica incluindo o estudo da ecologia
sobre o qual o educando deve ter claro os conceitos de natureza e da relação homem-
natureza. Além disso, ele deve reconhecer valores diante de sua responsabilidade para
que possa elaborar discursos e saberes a partir da realidade conhecida.
Como o número de espécies ameaçadas de extinção vem crescendo, é importante
saber as causas para que também se possa atuar na conservação das mesmas. As causas
são muitas, desde caça e biopirataria até a destruição de habitats e exploração
descontrolada dos recursos (Primack & Rodrigues, 2001). Os estudantes do ICJr
relataram a importância do conhecimento sobre as espécies ameaçadas de extinção e
replicar essas informações aos demais. Foi importante para todos os alunos que
participaram do ciclo de palestras aprenderem sobre o assunto e percebeu-se uma maior
mobilização e comoção sobre o referido tema após as palestras parte da comunidade
escolar. Se os alunos forem sensibilizados a respeito das causas e quais animais estão
ameaçados de extinção, irão difundir a informação não só no espaço escolar, mas
também dentro da comunidade social, atingindo um maior alcance de sensibilização.
Após assistir à palestra e ver os resultados gerados com a reação dos estudantes
ao absorver conhecimento, uma professora da escola deu o seu depoimento: “O
professor de Ciências e Biologia pode não ter tanto contato com a fauna e a flora de
certa forma, mas tem o prazer de trabalhar com a educação ambiental, desconstruir
muitos conhecimentos errados sobre o meio ambiente. Ele pode fazer com que os
alunos passem a pensar diferente e o melhor: ver e colocarem em prática tudo que foi
ensinado”.

263
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A percepção ambiental abrange toda maneira de olhar o ambiente – em como o


ser humano compreende as leis que o rege – que é resultante de conhecimentos,
experiências, crenças, emoções, cultura e ações. Ainda assim, existe uma discrepância
entre as imagens culturais da natureza, como a sociedade a enxerga, e a organização real
da mesma. Desta forma, o ser humano age no meio ambiente de acordo com a sua
percepção, que em geral é inadequada, gerando diversos problemas ambientais (da Silva
& Leite, 2008).
Em todo o mundo se faz necessário medidas urgentes para uma conscientização
da sociedade. Novos conceitos sobre a importância da preservação do meio ambiente no
dia-dia devem ser difundidos, e a educação ambiental é uma ferramenta que contribuirá
significativamente neste processo de conscientização (Medeiros et al., 2011). Chassot
(2003) fala que a alfabetização científica terá sido alcançada quando a compreensão de
conhecimentos, procedimentos e valores gerados pelo ensino da ciência contribuírem
para tomada de decisões.
Fica evidente a importância de sensibilizar pessoas para que sejam atores
responsáveis e com consciência ambiental, conservando o ambiente saudável no
presente e para o futuro (Effting, 2007). Após a palestra direcionada para os alunos do
Ensino Fundamental I da EEEFM Prof. Hermann Berger, uma mãe fez o seguinte
comentário sobre a atividade: “Uma ótima iniciativa! E a recompensa é grandiosa... meu
filho do primeiro ano veio da escola me falando tudo o que aprendeu. E uma das
explicações foi: mãe, você sabia que não se pode jamais matar um porco espinho? Não
vou deixar ninguém fazer isso, ele está ameaçado!”.
Mesmo que a criança não tenha aprendido o nome científico do “porco espinho”
(Chaetomys subspinosus) por exemplo, a popularização da informação científica
realizou o objetivo de transmitir a informação sobre a biologia do animal (que não joga
seus “espinhos” nas pessoas) e por isto não se deve matá-la por medo ou falta de
conhecimento.
Considerando a importância da temática ambiental e a visão integrada do
mundo, no tempo e no espaço, Effting (2007) acredita que esse processo de
sensibilização da comunidade escolar pode fomentar iniciativas que transcendam o
ambiente escolar, atingindo tanto o bairro no qual a escola está inserida como
comunidades mais afastadas nas quais residam alunos, professores e funcionários. A
sensibilização, em todos os âmbitos, é de extrema importância por abordar espécies que
eles já possuem certo contato e convívio. E com esse projeto, passando essas
informações, os alunos tendem a discutir mais sobre os assuntos de conservação. Tal
fato foi observado pelos estudantes do ICJr observaram uma maior sensibilização por
parte dos alunos ao discutir esse assunto.

CONCLUSÃO

O resultado do trabalho é positivo uma vez que durante as palestras e logo após,
no diálogo domiciliar aqui compartilhado, já se podia notar o grau de sensibilização
acerca dos animais ameaçados de extinção da região centro-serrana do Espírito Santo,
por parte dos alunos da EEEFM Professor Hermann Berger. Os estudantes bolsistas de
ICJr participaram ativamente da sensibilização por meio do diálogo e da interação com
a comunidade escolar, seja outros alunos, professores ou pais, e puderam fazê-los
refletir a respeito do que pensavam e faziam para a conservação da biodiversidade,
mudando atitudes relacionadas ao ambiente que fazem parte e agregando conhecimento
extraescolar em prol da conservação da natureza.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo


(FAPES) em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e o Fundo Municipal de Ciência e Tecnologia do município da
Serra (FACITEC) pelas bolsas de Iniciação Científica Júnior, Monitoria e Tutoria e pelo
apoio financeiro ao projeto. À Universidade Federal do Espírito Santo pela execução do
projeto junto ao Instituto Nacional da Mata Atlântica e apoio dos pesquisadores destas
instituições na capacitação dos bolsistas ICJr. Aos ex-bolsistas do projeto Fernando
Vesper Neimeg, Jonas Vesper e Stefany Pereira dos Santos pelo empenho e participação
nas atividades de Educação Ambiental.

LITERATURA CITADA

Abreu, G. G. & Rodrigues, M. A. 2013. O tratamento de educação ambiental nas


escolas públicas e privadas: um estudo de caso nas escolas do ensino
fundamental da cidade de Uruçuí-PI. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico
Conhecer, Goiânia, 9(16): 2371-2384.

Albagli, S. 1996. Divulgação científica: informação científica para a cidadania? Ciência


da informação, 25 (3): 396-404.

Boa-Esperança, T. C. R.; Filomeno, C. E. S. & Lage, D. A. 2014. Divulgação científica


no ambiente escolar: uma proposta a partir do uso de mídias digitais. Revista da
SBEnBIO, 7: 1582-1591.

Centoducatte, L.A. 2011. Fragmentação da Mata Atlântica e Conservação do muriqui-


do-norte, Brachyteles hypoxanthus (Primates, Atelidae). Dissertação de
Mestrado não publicada, Programa de Pós-graduação em Biologia Animal,
Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória.

Chassot, A. 2003. Alfabetização científica: uma possibilidade para a inclusão social.


Revista Brasileira de Educação, 22: 89-100.

Cumplido, D. C. O. & Prieto, N. G. 2009. Educação Ambiental Escolar: um processo


contínuo na formação do cidadão consciente. Coleciona, V: 9-12.

da Silva, M. M. P. & Leite, V. D. 2008. Estratégias para realização de educação


ambiental em Escolas do ensino fundamental. Revista Eletrônica do Mestrado
em Educação Ambiental, 20: 372-392.

Effting, T. R. 2007. Educação ambiental nas escolas públicas: realidade e desafios.


Trabalho de conclusão de curso, Especialização Planejamento para o
Desenvolvimento Sustentável, Centro de Ciências Agrárias, Universidade
Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon. 78p.

Gouvêa, G. A 2000. Divulgação científica para crianças: o caso da Ciência Hoje das
crianças. Tese de Doutorado, Centro de Ciências Sociais, Universidade Federal
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 305 p.

265
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Instituto de Pesquisas da Mata Atlântica – IPEMA. 2004. Conservação da Mata


Atlântica no Estado do Espírito Santo: Cobertura florestal, unidades de
conservação e fauna ameaçada. Programa Centros para a Conservação da
Biodiversidade – Conservação Internacional do Brasil, Vitória, 112p.

Medeiros, M. C. S., Ribeiro, M. D. C. M., & FERREIRA, C. M. D. A. 2011. Meio


ambiente e educação ambiental nas escolas públicas. mbito Jurídico, Rio
Grande, XIV, (92). Disponível em: http://www.ambito-
juridico.com.br/site/index.php?artigo_id=10267&n_link=revista_artigos_leitura.
Myers, N., Mittermeier, R. A., Mittermeier, C. G., Fonseca, G. A. B. & Kent, J. 2000.
Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, 403: 853-845.

Primack, R. B. & Rodrigues, E. 2001. Biologia da conservação. Editora Planta,


Londrina, 328 p.

266
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

EDUCAÇÃO AMBIENTAL: UMA FERRAMENTA DE CONSERVAÇÃO DA


NATUREZA

Cintia F. CORSINI1*, Raphael Becalli SOARES1, Maristela CICHELERO2

1
Programa de Capacitação Institucional, Instituto Nacional da Mata Atlântica
² Programa de Iniciação Científica Júnior - Pesquisador do Futuro, Universidade Federal do Espírito
Santo
*cintia.corsini@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO

A natureza é explorada como se fosse um recurso inesgotável, vista de forma


fragmentada, sem a preocupação e o respeito com as relações dinâmicas do equilíbrio
ecológico e sua capacidade de suportar os impactos sobre ela, o que resulta nos
problemas ambientais da atualidade (Guimarães, 2007). Uma medida adotada para
minimizar esses danos e aumentar a preocupação sobre conservação da natureza é a
educação ambiental. Definida como uma educação cidadã, implica a revisão de
conceitos e posturas do sujeito para superar a apatia diante dos problemas fundamentais
da humanidade e perceber-se como parte desses problemas e como responsável pelas
suas possíveis soluções (Silva, 2007). Como a educação é um processo na formação do
cidadão que pode transformar conceitos, a escola deve ser o ambiente social e o local
onde o professor tem a oportunidade de dar sequência ao processo de aprendizagem dos
alunos na fixação de suas convicções no convívio com a sociedade e na percepção do
certo e do errado em relação ao meio ambiente (Abreu & Rodrigues, 2013).
Em seu artigo, Cumplido & Prieto (2009) discutem que ao trabalhar Educação
Ambiental na escola é necessário promover a cidadania utilizando metodologias críticas
e participativas, com interação entre todos os atores sociais (professores, alunos e
comunidade), para a transmissão de conhecimentos ecologicamente corretos e a
sensibilização do educando com a causa ambiental. A Lei 9.394, de 20 de dezembro de
1996, Art. 3º, inciso II, determina “às instituições educativas, promover a educação
ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem” e a Lei
nº 9.795, de 27 de abril de 1999, Art. 2º completa ao citar que, “a educação ambiental é
um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente,
de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em
caráter formal e não-formal”.
É preciso enxergar a crise ambiental como resultado de um processo de
esgotamento, de uma civilização que compreendeu o progresso como um processo de
dominação e controle do meio ambiente e principalmente estar consciente que este
caminho deve ser revisto e adequado. Nesse sentido os PCNs (Parâmetros Curriculares
Nacionais), apontam que é fundamental para a escola uma abordagem que considere
questões relacionadas à manutenção da vida dos seres vivos num geral e dos seres
humanos, e que trabalhe essa interação por meio de suas relações sociais. Tais debates
devem ser conduzidos em ambiente escolar, por ser um espaço de formação de
cidadãos, e o meio ambiente deve ser um tema transversal considerando as
peculiaridades de cada região, pois a educação capacita os estudantes para lidar com
questões do cotidiano, possibilitando adquirirem novos valores e conhecimentos ao
tomarem decisões.
O município de Santa Maria de Jetibá, localizado na região Centro Serrana do
Estado do Espírito Santo, com sede nas coordenadas 20° 02’ 0,85” S e 40°
41’ 58,55” W, possui 18.703 hectares de Mata Atlântica do domínio fitogeográfico de

267
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Floresta Ombrófila Densa Montana distribuídos em diversos fragmentos de grande


importância para a conservação da biodiversidade, o que representa 25,43 % da Mata
Atlântica original no município (Fundação SOS Mata Atlântica, 2015; Santos et al,
2012). É uma região que foi colonizada a partir do final do século XIX, em sua maioria,
por imigrantes europeus da antiga Pomerânia, que implantaram um sistema agrícola de
pequenas propriedades familiares rurais, desenvolvendo principalmente olericultura e
avicultura (Santos et al, 2012). Para tal, foi praticado o desmatamento e incêndios de
florestas para abertura de áreas agricultáveis, corte de árvores para construção de casas e
lenha e caça para alimentação (Crepaldi, 2015). Visando a educação ambiental para a
conservação da natureza, este trabalho buscou proporcionar uma vivência e
questionamentos aos alunos que serão multiplicadores de conhecimento e formadores
de opiniões para sensibilização de crianças e jovens na escola.

MATERIAL E MÉTODOS

O histórico da educação ambiental na escola

A Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Hermann Berger


iniciou o trabalho com educação ambiental e difusão científica em 2005, a partir do
“Projeto Mata Viva”, que teve por finalidade sensibilizar a comunidade escolar, além de
reflorestar uma área de três hectares, onde anteriormente era uma área de pastagem.
Com sucesso deste projeto, e a partir do apoio do Projeto Muriqui - ES
(TFCA/FUNBIO) em 2007, a escola continuou a investir em projetos relacionados à
preservação, onde participou na formação do Núcleo de Observadores da Natureza
(NONA), objetivando estimular o interesse de jovens pela conservação da
biodiversidade na Mata Atlântica. Dando continuidade às atividades de educação
ambiental e aproveitando um espaço no pátio da escola, foi construído o “Jardim
Sustentável”, para o desenvolvimento de atividades pedagógicas e práticas de cunho
ambiental, utilizando materiais reciclados, doados pela comunidade local. Em 2014,
uma parceria com o Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) também foi firmada
para a continuação da capacitação de jovens, uma vez que esta instituição desempenha
um papel importante na conservação da biodiversidade, desenvolvendo ações de
educação ambiental e atividades de difusão científica voltadas para o público escolar e
comunidade em geral.

O projeto

O presente projeto nasceu do convênio da Fundação de Amparo à Pesquisa e


Inovação do Espírito Santo (FAPES) em parceria com o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Fundo Municipal de Ciência e
Tecnologia do município da Serra (FACITEC) com o “Programa de Iniciação Científica
Júnior (Pesquisador do Futuro)”, que concedeu dez bolsas de Iniciação Científica Júnior
a estudantes dos ensinos fundamental e médio da Escola Estadual de Ensino
Fundamental e Médio Professor Hermann Berger, para a participação neste projeto de
pesquisa, com a possibilidade de vivenciar a realidade do ambiente universitário, e
despertar o interesse em dar continuidade aos estudos e futuramente o ingresso no
ensino superior. Também estão inseridas uma monitora, estudante do curso de Ciências
Biológicas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e uma tutora, que é
professora da mesma Escola, para auxiliar na execução das atividades do projeto e na

268
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

atualização do conhecimento teórico a respeito do tema desenvolvido, além de contar


com um coordenador pesquisador da UFES e uma coordenadora executora do INMA.

Metodologia

O trabalho retrata uma das atividades do Projeto “Da escola para a mata:
observando a natureza e popularizando a ciência” realizada no período de fevereiro de
2016 a abril de 2017 com 4 educadores e 10 alunos bolsistas de iniciação científica
júnior (ICJr) da EEEFM Prof. Hermann Berger.
Como o projeto visa o desenvolvimento de atividades de educação ambiental
voltadas para sensibilização sobre combate à poluição no meio rural e a importância de
ações educativas para a conservação da biodiversidade, os bolsistas ICJr participaram de
uma oficina de capacitação sob a orientação do professor de biologia convidado,
Raphael Becalli Soares, e também foi desenvolvida pela monitora do projeto uma
apostila sobre o tema Educação Ambiental que abordou a questão do crescimento dos
movimentos ambientalistas, os quais promoveram um avanço tecnológico e científico,
mas não o suficiente para conter o processo de degradação em curso. Adicionalmente,
foi salientado o comportamento da sociedade no meio rural, que faz uso indiscriminado
de agrotóxicos e afeta a cadeia dos organismos que fazem parte desse meio.
A oficina aconteceu em 17 de fevereiro de 2016, e foi dividida em dois
momentos. O momento teórico contou com a apresentação de três conceitos de
educação ambiental: o primeiro da Política Nacional de Educação Ambiental - Lei nº
9795/1999, Art 1º - "Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente,
bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade"
(Brasil, 1999); o segundo dos Parâmetros Curriculares Nacionais – meio ambiente,
saúde, Art. 2° - “A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade
intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um
caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando
potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social
e de ética ambiental” (Brasil, 1997); e o terceiro do autor Mousinho (2003) "Processo
em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental,
garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o
desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das
questões ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade,
procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a transformação
social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política". Os conceitos
foram analisados junto com os alunos para apresentar a preocupação que existe em
relação ao tema. Em seguida o conceito de Mousinho (2003) foi confrontado com o
projeto ICJr da escola para destacar as partes que ajudariam no projeto para a
elaboração de como aplicá-las. Após estudar as definições de educação ambiental e os
objetivos dos projetos foi lançada uma provocação: “Existe algo para mudar no planeta
em prol do meio ambiente?”. Com essa provocação o ministrante teve como objetivo
ouvir a opinião dos alunos em relação às ações sociedade-meio ambiente. Após essa
provocação o gargalo da pergunta foi estreitando para o que é preciso mudar no país, na
cidade, na escola, na casa de cada um e por fim nas ações do cotidiano, ou seja a
preocupação individual para as questões ambientais. Baseado nas diretrizes do projeto,
os alunos foram direcionados a voltar o debate para o ambiente escolar: “Como
despertar a preocupação individual e coletiva para questões ambientais, garantindo o

269
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

acesso a informação em linguagem adequada, estimulando uma consciência crítica para


mudar questões culturais (costumes) e adequar questões éticas (atos) dentro da escola?”.
Então surgiu a necessidade de eleger um plano de fundo (motivo, causa, provocação)
forte o suficiente para gerar uma mobilização e apresentar atrativos para divulgar,
envolver e executar as ações. O plano de fundo escolhido pelos alunos do projeto foi a
revitalização do jardim da escola com restauração e inclusão de elementos reutilizados
(o próprio termo “reutilizados” foi fruto de um diálogo diferenciando reduzir, reciclar e
reutilizar) além das plantas, para tornar o ambiente mais vivo, alegre e atrativo,
objetivando despertar nos alunos o afeto pelo ambiente que auxiliam no cuidado. Para
elaborar um roteiro de ações algumas questões foram debatidas pelo ministrante junto
aos alunos, questões referentes a logística, como por exemplo, escolha do local, como
conseguir o material, quem vai executar, como agregar pessoas e quem precisa autorizar
para que essas ações aconteçam no ambiente escolar.
Enfim chega o momento prático, ao divulgar essas ações para envolver a
comunidade escolar. Os bolsistas ICJr elegeram o método de mural justificando que
todos as turmas de todos os períodos e níveis de ensino teriam acesso. Para isso foi
desenvolvido um treinamento para elaboração de cartazes: preocupações com
enquadramento, tamanho e tipo da letra, ilustrações, e tipo de informações foram
repassadas aos estudantes em conjunto com a monitora, professora e a coordenadora do
projeto. Para finalizar a oficina os alunos apresentaram seus cartazes uns para os outros
para serem averiguados e possivelmente readequados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram realizados aproximadamente 30 encontros com frequência semanal e no


decorrer foram construídos conceitos e delineadas estratégias de revitalização e
manutenção do “Jardim Sustentável”. A cada encontro o grupo analisava o jardim e
fazia um levantamento das demandas: se precisava regar, se faltava terra, mudas,
recipientes, etc., baseando-se nos 3Rs – reduzir, reutilizar e reciclar. Então, como a
escola havia sido reformada a pouco tempo, foram disponibilizados os materiais
inutilizados para os ICJr reaproveitarem no jardim. Suportes de lâmpadas viraram
jardineiras, botas se transformaram em recipientes, bicicletas velhas agora são
decoração, pneus foram modificados em canteiros.
Trajber (2007) avalia que para garantir qualidade de vida para a nossa e para as
futuras gerações, precisamos mudar valores e atitudes individuais e coletivas, a começar
por viver com o planeta em mente. Com o passar dos anos a tendência é a população
aumentar e, consequentemente, o consumo e a geração de resíduos sólidos, devido à
maior demanda por alimentos e utensílios domésticos (Abreu & Rodrigues, 2013). Os
alunos se envolveram, dividiram tarefas e cada etapa foi um aprendizado, desde o
contato com a terra até o preparo de um canteiro. Essas atividades de jardinagem
serviram para valorizar o trabalho em equipe e demonstraram que a unidade escolar
com flores e plantas bem regadas e cuidadas, é também uma maneira de preservar a
escola. A partir do cotidiano de vida da escola e da sociedade, a Educação Ambiental
deve promover o desenvolvimento de hábitos e atitudes sadios de conservação
ambiental e respeito à natureza (Loureiro et al, 2009). É importante que a educação
contemple no ambiente escolar a necessidade de conscientizar alunos e sociedade para a
reutilização e o reaproveitamento dos resíduos sólidos (Abreu & Rodrigues, 2013).
Trajber (2007) acredita que um pensamento crítico mais responsável e solidário, por ser
comprometido com o coletivo, e voltado para a simplicidade, por ser menos

270
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

individualista, consumista e competitivo, pode nos levar, e aos nossos jovens


estudantes, a uma postura que permita um presente e um futuro sustentável.
A comunidade escolar sempre se dispôs a ajudar. As mudas das plantas que
compuseram o jardim foram doadas pelos pais dos alunos e vizinhos da escola. Ao ver o
jardim já bem estruturado, com as plantas crescendo e já com flores, os alunos se
mostram satisfeitos e passaram a observar mais o local, mesmo fora do dia em que as
atividades são realizadas na escola, demonstrando o sentimento de cuidado. Guimarães
(2007) expõe que um caminho que pode ser trilhado pela perspectiva crítica da
educação ambiental é o da ampliação do ambiente educativo para além da escola
superando a fragmentação e a dualidade que tradicionalmente não se complementam
entre educação formal (escolar) e não-formal. As ações de educadores ambientais
devem propor a criação e promover a ocupação de espaços possíveis, onde os princípios
participativos possam se expressar na perspectiva construtivista de novos saberes e
práticas que estimulem a organização coletiva e espaços colaborativos. Trazer a
realidade de fora da escola para dentro e retornando com ações educativas na
comunidade é um processo educativo instigador para o desenvolvimento de uma
educação ambiental em seu caráter crítico, que se inicia na escola, mas se realiza para
além de seus domínios.
As ações têm despertado nos alunos de Iniciação Científica Júnior um exercício
de transformação no espaço escolar, não só externo como no jardim, mas também nos
corredores da escola, onde a sensibilização ambiental foi realizada com a confecção de
cartazes sobre os temas: Terra, água, fauna, flora e saúde, salientando a problemática da
poluição ambiental em meio rural, envolvendo as espécies ameaçadas de extinção, e as
possíveis soluções. Durante as atividades de confecção dos cartazes, os alunos da ICJr
discutiram a importância da educação ambiental para formação de cidadãos engajados
na transformação das relações da natureza com a sociedade, com um ambiente mais
limpo. De acordo com Abreu & Rodrigues (2013), os avanços da educação ambiental
são um importante meio para frear as irracionalidades praticadas com o meio ambiente e
representam progresso nos esforços de escolas, sociedade e governo no sentido de
melhorar a qualidade de vida no planeta.
A educação ambiental inserida nas práticas escolares pode significar a inserção
da escola e dos saberes que se processam em seu interior num movimento de análise e
reflexão profunda do sentido de estar no mundo, vendo-o como potência e possibilidade
(Silva, 2007). Esse tipo de trabalho é de suma importância, pois a construção da
educação ambiental crítica é fundamentada dentro da reflexão individual e das atitudes
coletivas dos alunos de ICJr e dessa forma, a mensagem transmitida aos estudantes irá
gerar incentivos para manter a escola sempre limpa e ainda influenciar a comunidade
escolar a cuidar do ambiente. Deste modo, Guimarães (2007) corrobora afirmando que a
educação ambiental deve ser crítica, que compreende a sociedade numa perspectiva
complexa, em que cada indivíduo possui influência, mas ao mesmo tempo a sociedade,
os padrões sociais influenciam os indivíduos, promovendo mudanças recíprocas. Nessa
relação se constrói o processo de uma educação política que forma atores conscientes,
aptos a atuarem coletivamente no processo de transformações sociais, em busca de uma
nova sociedade ambientalmente sustentável.
A partir das atividades de educação ambiental no Jardim Sustentável e com os
cartazes exibidos no espaço escolar, os alunos da ICJr observaram a percepção dos
estudantes sobre as temáticas ambientais trabalhadas e notaram que as crianças são as
mais sensíveis à informação: “É um trabalho de formiguinha. Aos poucos vamos
obtendo resultados. As crianças são as que mais observam e interagem relatando o que
vivenciam nas suas casas, se eles economizam água, se é separado o lixo, etc”. (J.B.)

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

“Pelo meu ver houve mais aproveitamento das crianças. Ouvi algumas opiniões
dos meus colegas dizendo que os cartazes não ficaram legais espalhados pela escola.
Muitos também nem devem ter lido as informações”. (B.H.)
De acordo com Guimarães (2007), problemas socioambientais não são
solucionados por mudanças comportamentais de cada indivíduo. Eles podem se
constituir em temas geradores que questionam e problematizam a realidade para
compreendê-la por sujeitos em processo de conscientização. Além de alertar ao
indivíduo sobre a problemática ambiental, torna-se oportuno também questionar o
porquê essa sociedade gera tanto problema e disso promover toda uma discussão do seu
modo de produção e consumo para saber como agir.
Os alunos ICJr também perceberam que a disponibilização da informação afeta
toda a comunidade escolar, como os funcionários ali inseridos:
“Eu acredito que os murais são importantes, os alunos podem não comentar, mas
eles prestam atenção no que está exposto. Os funcionários da escola ficam informados
sobre os assuntos abordados”. (L.D.)
De forma contrária à educação tradicional, essa é uma educação voltada para
uma ação-reflexiva, coletiva, para a relação interativa em que seu conteúdo está para
além dos livros, está na realidade socioambiental ultrapassando os muros das escolas
(Guimarães, 2007). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – (LDB), em seu
Artigo 1º, relata que a educação considera a formação do indivíduo no ambiente
familiar, na sociedade, na formação escolar nos movimentos sociais e nas manifestações
culturais (Brasil, 1996). Nesse sentido o avanço da Educação ambiental é importante
para que com o passar do tempo os alunos tenham conhecimento para criar alternativas
que erradique práticas incoerentes e prejudiciais ao meio ambiente.

CONCLUSÃO

Ao orientar os alunos de ICJr no desenvolvimento de atividades de educação


ambiental dentro de suas escolas, eles passaram a exercer o papel de replicadores,
atingindo um público mais amplo, e difundindo a relevância da conservação da
natureza, atingindo também o núcleo familiar que nem sempre têm acesso aos espaços
onde o tema é debatido. Por este motivo acredita-se que o desenvolvimento deste
trabalho contribuiu para formar esses alunos como modelos para comunidade em geral,
preocupados em conservar os recursos naturais e buscar adesão de mais pessoas através
da sensibilização por meio de divulgação de informações e alternativas que buscam
melhorar a relação homem-natureza no caminho para o desenvolvimento sustentável.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio financeiro ao projeto pela Fundação de Amparo à


Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) em parceria com o Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e o Fundo Municipal de Ciência
e Tecnologia do município da Serra (FACITEC). À Universidade Federal do Espírito
Santo pela execução do projeto junto ao Instituto Nacional da Mata Atlântica e apoio
dos pesquisadores destas instituições na capacitação dos bolsistas ICJr. À diretora da
Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Professor Hermann Berger, Lucinelda
Lauvers Dettmann e à professora tutora Caroline Angeli Sancio pelo espaço, apoio e
aprendizado junto aos alunos de iniciação científica Beatriz Raasch, Carolaine Boldt,
Fernando Vesper Neimeg, Jonas Vesper, Jordane Bernardes, Kátia Haese Linhaus,

272
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Katiele Lenke Kosanke, Keronlaine Kuster Nascimento, Letícia Lichtenheld, Silvia


Kosanke, Soéllen Schwarz, Stefany Pereira dos Santos e Thaimiris Lahass.

LITERATURA CITADA

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Trajber, R. 2007. Cidadania e consumo sustentável: nossas escolhas em ações


conjuntas. p. 143 – 150. In: de Mello, S. S. & Trajber, R. (orgs). Vamos cuidar
do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental na escola. Brasília:
Ministério da Educação, Coordenação Geral de Educação Ambiental: Ministério
do Meio Ambiente, Departamento de Educação Ambiental: UNESCO. 248 p.

274
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ESTRATÉGIAS E FERRAMENTAS PARA POPULARIZAÇÃO DA


ORNITOLOGIA DENTRO DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA
ATLÂNTICA – INMA

José Nilton da SILVA¹* & Arlindo SERPA-FILHO¹

¹Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA


*josniltonsilva@gmail.com

INTRODUÇÃO

A difusão científica ou popularização da ciência é a capacidade de falar de


ciência de forma lúdica e de aprendizado com a população, estas linguagens podem ser
apresentadas de diversos meios sejam impressos, digitalizados, formais, redes sociais,
comunicação e por provocação a este aprendizado difusor (Porto, 2009). Sendo assim é
importante abordar temas que facilitem o entendimento da população e a facilidade
dedivulgá-los, se este tema já for de algum conhecimento da população isso torna as
estratégias de difusão ainda mais efetivas (Albigli, 2003; Porto 2009).
A ornitologia é uma das áreas mais amplas dentro da área da zoologia e do ramo
das ciências naturais e do meio ambiente, sendo a mesma muito visada por
pesquisadores ou mesmo por curiosos e simpatizantes das aves. O significado da
palavra Ornitologia vem do grego Ornito= aves e logia=estudo, sendo assim estudo das
aves. Na história da ornitologia Aristóteles foi um dos primeiros a escrever relatos
sobre as aves em sua obra Sobre a história dos animais, continuada em Roma, mais de
três séculos depois, por Plínio, o Velho. Várias obras da Idade Média e do início da era
moderna registram observações pessoais relevantes sobre aves (Sick, 1997, Sigrist,
2014).
As observações ornitológicas no Brasil iniciaram-se nos período da colonização
e entre as referências mais antigas feitas à avifauna brasileira, destacam-se as que se
encontram no livro do Arcabuzeiro do alemão Hans Staden, que foi prisioneiro dos
índios por volta de 1553. A essa fonte somam-se as informações esparsas nas obras de
dois franceses, o franciscano André Thevet e o calvinista Jean de Léry, bem como nas
de outros religiosos e viajantes. O estudo das aves indígenas figura como um dos
capítulos mais importantes da História naturalis Brasiliae (1648), do naturalista
holandês Georg Marcgrave. Dentre a história da ornitologia destaca-se também o
estudioso Alfred Russel Wallace que realizara muitos estudos ornitológicos importantes
e de grande valia na ornitologia brasileira, assim como o Catalogue of the Birds in the
British Museum (1874-1875) Catálogo de aves do Museu Britânico, que marcou época
e até hoje constitui obra indispensável aos estudiosos. Dentre os principais estudos da
ornitologia brasileira destacam-se os trabalhos realizados no Museu Nacional, no Rio de
Janeiro; no Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará; e no Museu Paulista,
que em 1907 publicou um catálogo das aves do Brasil, seguido por edições ampliadas.
Outras obras fundamentais de referência são As aves do Brasil (1894-1900), de Emílio
Goeldi, e Catálogo das aves amazônicas (1914), de Emilie Snethlage. No entanto, a
obra Ornitologia Brasileira feita por Hemult Sick em 1997 é considerada a obra mais
completa e melhor detalhada da ornitologia no Brasil.
No estado do Espírito Santo a Ornitologia teve seu destaque e pioneirismo com o
padre José de Anchieta e com o estudioso e pesquisador Augusto Ruschi nas décadas de
60 a 80 e logo após sua morte seus trabalhos foram referências e guias para novos

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

pesquisadores e estudiosos das aves no estado do Espírito Santo. Augusto Ruschi e


fundou o Museu de Biologia Professor Mello Leitão, hoje atual instituto Nacional da
Mata Atlântica – INMA. Uma área muito importante para o MBML hoje atual INMA
foi por muitos anos a área da zoologia com ênfase maior para a ornitologia, entretanto,
com o falecimento do pesquisador Augusto Ruschi em 1986, esta área passou a ter uma
menor abordagem na instituição que agora passará a focar em áreas ambientais diversas,
como todos os grupos zoológicos além de botânica. Assim, após estes acontecimentos
surgiu-se um carências na área dentro da instituição principalmente na questão de
estudos e difusão da ornitologia e da coleção ornitológica da instituição e em acréscimo
a isto, a falta de informações adequadas e construtivas a respeito das aves,
principalmente para os visitantes da instituição, assim tendo necessidades de maiores
informações sobre as aves para o publico visitante do INMA.
No INMA, durante visitas de leigos ocorrem perguntas diversas sobre as aves do
parque do INMA, ou mesmo sobre aves que se encontram taxidermizadas em
exposição. Observa-se que as ferramentas ornitológicas que o INMA oferece, têm um
inestimável valor para a difusão científica dentro e fora da instituição, embora não
sejam explorados mais detalhadamente e com as devidas estratégias, estes materiais
ornitológicos do INMA podem se tronar uma grande ferramenta para a difusão
científica do INMA. Desta forma o trabalho tem como objetivos apresentar produtos de
difusão em ornitologia, demonstrando o potencial da área para popularização da ciência
e da difusão científica no INMA.

MATERIAL E MÉTODOS

Os trabalhos foram realizados dentro do Instituto Nacional da Mata Atlântica -


INMA, localizado no município da Santa Teresa, região serrana do estado do Espírito
Santo. Onde foram feitos registros fotográficos das espécies de avifauna do parque, após
tais esforços e registros fotográficos os registros foram trabalhados em programas de
edição fotográfica como Photoscape e Adobe Photoshop. Deu-se início a produção e
confecção do guia pratico das aves do parque do INMA tendo informações
taxonômicas, ecológicas e curiosidades sobre cada espécie e de outros materiais
derivados e de apoio com cunho de popularização e difusão científica da Ornitologia
dentro da instituição. Os critérios para a seleção das imagens foram à qualidade da
imagem e a relevância da espécie quanto a sua raridade e facilidade de avistamento
dentro do parque do INMA. Concomitantes aos procedimentos de tratamentos das
imagens foram trabalhados textos informativos sobre as espécies selecionadas, tendo
nestes textos informações taxonômicas, geográficas, ecológicas e curiosidades. Além
disso, textos sobre a importância da área florestada do INMA para a conservação das
espécies de aves foram elaborados. Foram observados locais estratégicos dentro do
parque da instituição, nestes locais estratégicos seriam colocadas sinalizações com
imagens das aves que são mais facilmente observadas no mesmo, dessa forma
facilitando a interação dos visitantes com o guia das espécies e com a identificação das
mesmas. Tais produtos tiveram detalhes em suas confecções o que tornaria a visitação
ao parque do INMA mais dinâmica e como um aprendizado sobre as aves dentro da
instituição INMA. Ao final de cada visita seria proposto ao visitante responder um
questionário avaliativo sobre o potencial de aprendizado em ornitologia que os produtos
ofereceram.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram confeccionados produtos e materiais com informações sobre as espécies


de aves que ocorrem dentro do parque do INMA. Tendo o guia prático uma quantia de
24 espécies com informações ecológicas, taxonômicas, geográficas e curiosidades
(figura 1). Neste mesmo guia existem detalhes interativos onde os visitantes podem
assinalar as espécies que foram avistadas durante seu passeio no parque. Nesta mesma
dinâmica foram confeccionados banners (figura 2) com espécies de possível facilidade
de observação e nestes com informações sobre as mesmas. O jogo de tabuleiro (quebra-
cabeça) foi produzido tendo cada quebra-cabeça à imagem de uma espécie de ave assim
como informações sobre a mesma (figura 3). Um pequeno folder informativo foi
elaborado tendo este uma visão mais resumida do que pode ser observado das aves,
tendo uma função de “cartão de visita” para atividades ornitológicas (figura 4).
Os materiais produzidos tornam os passeios dentro do parque do INMA uma
verdadeira interação com a ornitologia, pois além da aprendizagem sobre as aves o
visitante poderá tornar sua visita mais interativa e dinâmica dentro do parque
zoobotânico do INMA.

Figura 1. Guia prático das aves do parque do INMA, capa e uma das páginas do
conteúdo do produto, ao lado da caixa de informação os quadrados em azul são os
espaços para serem assinalados pelos para cada espécie observada.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 2. Sinalizações (Banner) a serem alocadas em pontos estratégicos do INMA.

Figura 3. Jogo de tabuleiro (quebra-cabeça) com uma espécie bastante observada


dentro do parque do INMA.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 4. Folder informativo com uma visão geral das aves e da ornitologia dentro do
INMA, sendo este uma espécie de “cartão de visita”.

A alfabetização científica encontra seu significado ampliado no contexto da


sociedade atual, na qual os sujeitos obtêm de forma rápida informações acerca das mais
variadas áreas, inclusive sobre o desenvolvimento da ciência. Os meios de comunicação
de massa exercem grande presença na vida cotidiana, trazendo para perto o que parecia
estar tão longe. Porém, estar informado não é o bastante para criar cidadãos capazes de
se posicionarem criticamente perante o mundo, é preciso oferecer subsídios para que os
indivíduos possam compreender essa gama de informações, e possam lidar com elas de
forma sábia e consciente (Porto, 2009).
Estes métodos de divulgação e popularização da ciência através da interação
provocam os leigos para o conhecimento sobre o determinado assunto abordado
(Albagli, 1996). A capacidade de popularizar e divulgar determinado assunto estão
diretamente relacionados aos meios nos quais estes são apresentados ao publico
(Albagli, 1996; Loureiro, 2003; Porto, 2009). Segundo Sick (1997) as aves são
espécimes que atraem a atenção do homem, não só pelas suas colorações, mas também
pelo vasto repertório sonoro que estas podem apresentar durante suas vocalizações.
Desta forma, utilizar estes espécimes para a divulgação científica torna-se uma
estratégia promissora. Entretanto os meios que proporcionam a interação das pessoas
com estes seres tornam aas estratégias de difusão científica da ornitologia no INMA
ainda com proporções mais otimistas.

CONCLUSÃO

Os materiais produzidos para a difusão da ornitologia no INMA são de grande


importância para popularizar o assunto e também hastear o nome do INMA perante as
demais instituições. Desta forma, é de grande importânciao potencial que os produtos
apresentados possuem para divulgar a ornitologia dentro do INMA, assim podendo
tornar as visitas cada vez mais dinâmicas dento da instituição.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AGRADECIMENTOS

Ao graduando Renan Betzel por ceder algumas imagens das aves, ao setor de
difusão por apoiar o trabalho, ao biólogo Raphael Becalli por sugestões de grande valia
nos produtos apresentados. Ao senhor Rosemberg Ferreira Martins (in memorian) por
proporcionar métodos de trabalhar as imagens, além de ter cedido programas para a
edição das mesmas.

LITERATURA CITADA

Albagli, S. 1996. Difusão científica: informação científica para a cidadania? Ci. Inf.,
Brasília, v. 25, n3. 396-404p.

Loureiro, M.M. 2003. Museu de ciência, divulgação e hegemonia. Ci. Inf., Brasília, v.
32, n. 1, 88-95p.

Porto, C. M. 2009. Difusão e cultura científica: alguns recortes. EDUFBA, 230 p,


Salvador – BA.

Sick, H. 1997. Ornitologia brasileira: uma introdução. Editora nova fronteira. Rio de
Janeiro, 912p.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PROJETO CAÇA-ARANHA: AÇÃO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NO


INSTITUTO NACIONAL DA MATA ATLÂNTICA

Antonio Marcos COELHO1*, Sâmela da Silva RECLA1, Luiza Monique CORRÊA1,


André Poça SUAVE1, Thayna da Silva RAYMUNDO2, Wesley Dondoni COLOMBO2,
Cecilia WAICHERT2 & Isabel De Conte Carvalho de ALENCAR1
1
Instituto Federal do Espírito Santo – Campus Santa Teresa
2
Universidade Federal do Espírito Santo - Campus Goiabeiras
*antonio.marcos.coelho@hotmail.com
INTRODUÇÃO

O conhecimento científico, embora crescente, muitas vezes não chega à


sociedade. O mundo atual exige novas formas de pensar, agir e sentir, as quais seriam
favorecidas por uma aproximação entre o conhecimento científico e o Ensino de
Ciências e Biologia (comunicação pessoal). Experiências vivenciadas no curso de
licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes)
Campus Santa Teresa (leituras, reflexões, discussões, estágios) têm trazido diversas
discussões sobre a formação docente em prol de uma sociedade cientificamente
informada e consciente. Neste contexto, constata-se a necessidade de preparar os futuros
professores de Ciências e de Biologia para serem mediadores das produções científicas
para a comunidade, promovendo a divulgação científica na escola e em espaços de
educação não formais.
No Espírito Santo, um dos espaços não formais que mais merecem destaque é o
Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), antigo Museu de Biologia Mello Leitão
(MBML), localizado no município de Santa Teresa. O MBML foi fundado por Augusto
Ruschi em 1949, sendo uma organização não governamental por 34 anos e incorporado
ao Governo Federal em 1983 através da Fundação Nacional Pró-Memória, hoje Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do Ministério da Cultura (Mendes &
Padovan, 2000). Entretanto, em 2014 o antigo MBML alterou sua denominação para
INMA através da Lei 12.954.
O Ifes Campus Santa Teresa tem explorado pouco a proximidade com o INMA
na formação de futuros docentes. O espaço do INMA poderia permitir experiências de
pesquisa e extensão, promovendo a atuação do licenciando em atividades de
planejamento e execução para a popularização científica. Museus e centros de ciências
são locais de possível articulação entre espaços não formais e a formação docente,
possibilitando atuação futura dos licenciados nesses espaços (Ovigli, 2011). Ainda, para
Sabbatini (2003):
“Os museus e os centros de ciências se destacam na atual
discussão sobre a criação de uma cultura científica generalizada
para toda a sociedade, como instituições capazes de conectar os
avanços e as questões relacionados com a ciência e a tecnologia
aos interesses do cidadão comum”.
Em museus, a diversidade dos invertebrados usualmente é pobremente
explorada e portanto, de pouco acesso ao público não-científico (comunicação pessoal).
Dentre os invertebrados, os insetos habitam a Terra a cerca de 479 milhões de anos e
são os organismos mais abundantes no planeta (Misof et al., 2014). Os himenópteros
(abelhas, vespas e formigas) são insetos amplamente conhecidos pelo público em geral,
especialmente as abelhas, como agentes polinizadores e pela produção de mel; e as
formigas, como insetos sociais abundantes e que, assim como algumas abelhas, podem

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

causar injúrias ao homem. As vespas, porém, também se destacam como agentes


polinizadores e de interesse médico por sua picada dolorosa e injeção de veneno. As
vespas são predadores e parasitoides de outros artrópodes, incluindo pragas agrícolas,
sendo imprescindíveis para a manutenção do equilíbrio ecológico de populações
(LaSalle & Gauld, 1993). Os micro-himenópteros, ou microvespas, são os mais diversos
e abundantes himenópteros (LaSalle & Gauld, 1993). Dentre as vespas de maior
tamanho corporal estão as caça-aranhas também popularmente conhecidas como cavalo
do cão (Hymenoptera, Pompilidae). Pompilídeos variam de <2mm, ex. Ageniella Banks
(Waichert & Pitts, 2012) a 65 mm, como em Pepsis Fabricius (Vardy, 2000). Elas são
frequentemente registradas devido ao seu tamanho e pelo seu comportamento de caçar
aranhas em trilhas e estradas (Wasbauer, 1995). A diversidade de cores assemelha-se a
das borboletas (Vardy, 2000), aguçando a curiosidade do público.
Todas as caça-aranhas predam aranhas, as quais paralisam e depositam um ovo;
ao eclodir, a larva consome a aranha (Wasbauer, 1995). Essas vespas possuem
diversidade 1) comportamental, variando de solitárias a parasociais (fêmeas irmãs que
nidificam juntas); e 2) arquitetônica de ninhos, os quais podem ser escavados em solo,
cavidades preexistentes e ninhos de barro construídos pela fêmea (Waichert et al.,
2015). As vespas caça-aranhas são também importantes para a polinização de algumas
plantas (Shuttleworth & Johnson, 2009). É frequente e popular a publicação de vídeos
de caça-aranhas predando tarântulas em redes sociais e em sites de compartilhamento de
vídeos. Por fim, essas características fazem dessas vespas organismos interessantes para
a comunidade não-científica, principalmente porque são táxons com grandes chances de
gerar empatia ao público, portanto, são um excelente modelo para trabalhos de
divulgação científica de vespas com ferrão.
Por fim, propomos este presente trabalho na perspectiva de estreitar laços entre
Ifes e INMA bem como possibilitar a formação mais abrangente para o licenciado em
Ciências Biológicas e oferecer atividades de divulgação científica a comunidades
preconizadas nos projetos de pesquisas desenvolvidas pelas duas instituições. Além
disso, o projeto busca consolidar parceria já existente do Ifes com a Universidade
Federal do Espírito Santo (UFES). A atividade de extensão “Projeto Caça-Aranha” visa
divulgar conhecimento científico sobre insetos e, mais especificamente, das vespas com
ferrão da família Pompilidae (Hymenoptera, Aculeata).
O presente trabalho busca compartilhar e analisar as atividades desenvolvidas
até o momento pelo “Projeto Caça-Aranha” através de um relato de experiência. As
atividades realizadas objetivaram uma abordagem qualitativa sob a ótica do papel
ambiental das vespas caça-aranhas a partir de exposições dinâmicas e interativas com o
público visitante no INMA, contribuindo com o acesso às informações de boa qualidade
para a formação do cidadão e também do futuro docente em formação pelo Ifes.

MATERIAL E MÉTODOS

As atividades do projeto foram desenvolvidas no INMA. No dia das crianças (12


de outubro de 2016), o INMA promoveu uma exposição intitulada “O mundo fascinante
dos insetos”, a qual permaneceu por um mês. A exposição ofereceu como programação
de abertura diversas atividades como: filmes e documentários sobre insetos; atividades
lúdicas com a temática insetos; jogos como o “entomoquiz” e rodas de capoeira, nos
períodos matutino e vespertino. Diversos modelos didáticos sobre insetos, coleções
entomológicas,
representação de insetos em maquetes entre outros foram expostos durante este
período.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

As atividades do “Projeto Caça-Aranha” fizeram parte da programação de


abertura dessa exposição, e foram abertas para todo o público, porém, o público alvo
eram crianças a partir de cinco anos de idade. As atividades foram ofertadas durante o
dia inteiro, tendo sido realizada em cada turno (matutino e vespertino) em três etapas:
(1) mapa conceitual com uso de figuras (obtidas através da internet, veja Apêndice I);
(2) trilha caça-aranha e (3) atividades de pinturas e quebra-cabeças foram planejadas
principalmente para crianças e mediadas pelos membros da equipe do projeto.
O mapa conceitual imagético foi utilizado para análise do conhecimento prévio e
desmistificação de conhecimentos errôneos, muitas vezes passados de geração em
geração, através das figuras disponibilizadas. Os participantes foram incentivados a
compartilhar histórias, lembranças e fatos que sabiam sobre as vespas de forma geral e
para isso, utilizamos 15 imagens selecionadas previamente que pudessem ser
relacionadas às vespas. Destacamos que no turno matutino o mapa conceitual imagético
foi realizado em ambiente fechado, porém com o maior movimento de visitação no
INMA no período vespertino a mesma atividade foi realizada ao ar livre. Para a trilha
caça-aranha, foram escondidos cerca de 10 modelos de aranhas em uma área externa do
INMA, para que as crianças pudessem procurá-las na trilha (Figuras 1A-B). Os modelos
de aranhas foram confeccionados com material de baixo custo e fácil acesso como:
isopor, EVA, jornal, cola, arames e tintas guache. O intuito dessa atividade foi fazer as
crianças atuaram como se fossem vespas a procura de aranhas, simulando como essa
interação ocorreria na natureza. As atividades extras foram entregues às crianças, como
quebra-cabeças para serem montados e um desenho para que elas pudessem colorir e
levar para as suas casas como uma lembrança da oficina, ou poderiam deixar os seus
desenhos expostos em um mural no INMA (Figuras 2A-B).

A B
Figuras 1 (A-B). Atividade de trilha interativa. A. Crianças procurando aranhas no
jardim rupestre do INMA. B. Detalhe de uma aranha confeccionada com isopor, papel,
cola e tinta guache. (INMA, 12/10/2016).

A B

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figuras 2 (A-B). Crianças realizando as atividades extras. A. Jogo quebra-cabeça. B.


Desenho da vespa caça-aranha para colorir. (INMA, 12/10/2016).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em cada turno, as imagens foram compartilhadas e o público procurava


relacioná-las organizando um mapa conceitual imagético. Conforme os participantes
expressavam suas opiniões sobre o assunto, os mediadores compartilhavam uma
sequência de novos conhecimentos, com o propósito de desmistificar e reconstruir
alguns conhecimentos relacionados às vespas. A maior parte dos relatos associavam as
vespas ao perigo, demonstrando que a maioria tem muito medo das mesmas, devido,
principalmente as suas "picadas". Segundo Buzzi (2010), estes insetos são temidos pelas
suas doloridas picadas. No entanto, alguns participantes conseguiram relacionar as
vespas à polinização o que demonstra um conhecimento prévio mais elaborado ou, pelo
menos, uma melhor observação do ambiente. Essa observação foi interessante, pois os
principais polinizadores são as abelhas e secundariamente outros insetos como as vespas
(Buzzi, 2010). No final, os mediadores aproveitaram as colocações dos participantes e
introduziram com maiores detalhes informações sobre as vespas caça-aranhas que,
embora sejam facilmente reconhecidas, são pouco difundidas. Abordar a família
Pompilidae, deixou o público surpreso e curioso, principalmente pelo seu
comportamento de capturar aranhas para servirem de hospedeiras para suas crias.
Na segunda atividade, as crianças foram conduzidas ao jardim rupestre (veja as
Figuras 1A-B) do INMA, onde participaram de uma atividade denominada "Caça a
aranha". Dez modelos de aranhas foram espalhados por diversos locais simulando
nichos ocupados pelas mesmas. Durante a realização desta atividade, as crianças
ficaram bastante empolgadas, solicitando que a mesma fosse realizada várias vezes. Foi
observado que muitas trabalharam em grupos, onde até os responsáveis pelos
participantes ajudaram na caça às aranhas. Rau (2011) sugere que as brincadeiras de faz
de contas são partes integrantes do mundo social das crianças, o qual inclui a família,
além disso, interações com colegas trazem diferentes aspectos do cotidiano de cada um,
os quais se inter-relacionam e ampliam a socialização. Esta foi a atividade mais
apreciada pelo público. A realidade interna do jogo (a forma que cada um absorve e
entende o jogo) predomina sobre a externa (a forma que o jogo é realizado, uma mesma
realidade para todos), colocando a imaginação em ação; há prazer e alegria, as crianças
ficam mais dispostas a buscar novas ideias em jogos do que em outras atividades não
recreativas (Rau, 2011).
Neste momento foi observada a interação entre as crianças que participavam da
oficina, e também foi possível notar que, novamente os responsáveis por elas
participaram, demonstrando grande interesse pelo que estava sendo realizado. Devemos
ressaltar que nem todos os participantes se interessaram pelas atividades propostas no
terceiro momento, reforçando que a função lúdica do jogo, expressa a ideia de que sua
vivência propicia a diversão (Rau, 2011).
Embora algumas crianças tenham trabalhado em grupo, observamos que outras
competiram, esquecendo-se do objetivo principal que era simular o comportamento das
vespas. Segundo Brandão (2015), quando os jogos se tornam competitivos, somente
alguns participantes se divertem, pois os outros saem com sentimento de derrota. A
ludicidade tem como característica lidar com as emoções e por isso traz à tona
sentimentos de alegria, companheirismo e cooperação, mas também evoca sentimentos
de frustração (Rau, 2011). A frustração foi observada durante a atividade “caça a
aranha” quando as crianças não encontravam os modelos de aranhas.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Atividades como estas visam ampliar a perspectiva didática do licenciado em


Ciências Biológicas, trazendo novas ideias e experiências para sua futura docência. A
sala de aula e laboratório ainda são os ambientes onde transcorrem a maior parte das
atividades de um curso de Biologia. No entanto, esses lugares por si só não permitem
que os licenciandos atinjam formação plena se não forem também incluídas atividades
extraclasses, como aulas de campo e atividades em espaços não formais de ensino,
proporcionando contato direto com a realidade de um professor. Em outras palavras,
quanto mais as experiências educativas se assemelharem às futuras situações em que os
futuros professores aplicarão seus conhecimentos, mais fácil se tornará a transferência
do aprendizado ao educando (Krasilchik, 2004). Para que ocorra essa interação é
importante que haja um vínculo forte entre a instituição de ensino e os espaços não
formais considerando que mesmo com a presença de Museus e outros espaços próximos
à escola. O desconhecimento dos professores quanto a esses espaços limitam o
aproveitamento dos potenciais pedagógicos das coleções (Marandino et al., 2008). O
papel educacional dessas instituições tem sido ampliado nas últimas décadas, o que
reflete nas formas pelas quais esses espaços participam da educação científica, além de
experiências de inclusão da perspectiva da mediação na formação inicial do professor
nos cursos de licenciatura (Ovigli, 2011).

CONCLUSÃO

O público geral associa vespas ao perigo e secundariamente a polinização. O uso


didático da divulgação científica associado ao mapa imagético e modelos interativos
como ferramentas pedagógicas proporcionou mudanças no ambiente de aprendizagem,
favorecendo a construção do conhecimento científico e da capacidade crítica do
educando, além de servir como modelo que pode ser replicado para o ensino de outros
temas.
Embora os museus existam há muito tempo, hoje, como resultado da ampliação
do processo de divulgação científica e da tendência a expandir o escopo da educação
escolar, essas instituições têm cada vez mais um papel na educação e no ensino de
biologia (Krasilchik, 2004). É relevante verificar as oportunidades educacionais que o
INMA oferece, pois em conjunto com o Ifes, isso amplia as possibilidades da realização
de atividades fora da sala de aula e de laboratórios. De acordo com Krasilchik (2004)
por mais que a organização do trabalho fora da escola seja difícil, os resultados são
promissores para a formação tanto do docente quanto para o discente.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio da equipe de Zoologia do INMA durante o planejamento e


a execução das atividades do projeto; a CAPES pela bolsa de doutorado de Wesley D
Colombo; FAPES/Profix #71026436 pela bolsa de pós-doutorado de Cecilia Waichert e
apoio financeiro; Juliete Ferreira da Costa, Rayane Veríssimo da Silva e Francyne
Machado da Silva pelas colaborações durante a execução das atividades do projeto.

LITERATURA CITADA

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Shimizu, S., Slipinski, A., Stamatakis, A., Song, W., Su, X., Szucsich, N. U.,
Tan, M., Tan, X., Tang, M., Tang, J., Timelthaler, G., Tomizuka, S., Trautwein,
M., Tong, X., Uchifune, T., Walzl, M. G., Wiegmann, B. M., Wilbrandt, J.,
Wipfler, B., Wong, T. K. F., Wu, Q., Wu, G., Xie, Y., Yang, S., Yang, Q.,
Yeates, D. K., Yoshizawa, K., Zhang, Q., Zhang, R., Zhang, W., Zhang, Y.,
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Apêndice I

Imagens usadas nas atividades de divulgação científica no INMA.


Imagem quebra-cabeças:
http://vignette4.wikia.nocookie.net/pokepediabr/images/6/61/015Beedrill.png/revision/l
atest?cb=20161215011234&path-prefix=pt-br

Imagens mapa imagético:


a) Pompilidae:
a. https://c2.staticflickr.com/6/5591/15119991216_d4f44bf420_b.jpg
b. http://alfredocolon.zenfolio.com/img/s/v-3/p45258233-3.jpg
c. https://photos.smugmug.com/Members-only/Countries-
Pro/Madagascar/i-
JHBsV3Q/0/80bcab72/X2/Tarantula%20hawk%20%28Pompilidae%29
%20with%20spider%20prey%20%283%29-X2.jpg
d. http://www.wci.colostate.edu/Assets/jpeg/Hymenoptera/Pepsis.prob.ang
ustimarginataIMG_9324.JPG
b) Flor:
a. http://flores.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/margarida-
1/margarida-3.jpg
c) Borboleta:
a. http://insectos.mundoentrepatas.com/imagenes/corpo-das-
borboletas.jpg?phpMyAdmin=PfqG0iessiXP%2C5Zcan9pxZp0nv2
d) Super-herói:
a. http://3.bp.blogspot.com/-
sLYQW1CUyf0/UByF1MxfRoI/AAAAAAAABpY/R8w67jrq8cw/s160
0/vespa.jpg
e) Injúrias:
a. http://saudesos.com/wp-content/uploads/bfi_thumb/boca-inchada-
33pvl1i3q0g90kwnkot6ve.jpeg

287
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

b. http://www.mdsaude.com/wp-content/uploads/picada-abelha.jpg
c. http://www.dedetizacaoinsetan.com.br/prevencoes/picadas-de-insetos-
como-prevenir/
f) Mel:
https://static.tuasaude.com/media/article/32/02/beneficios-do-
a.
mel_11170_l.jpg
g) Polinização:
a. https://static.independent.co.uk/s3fs-
public/styles/article_small/public/thumbnails/image/2013/06/05/18/web-
bees-epa.jpg
b. http://4.bp.blogspot.com/-lDOhct-
GsV8/VOlYzSroUII/AAAAAAAAGH0/u6ht7MFKQrM/s1600/Covered
.jpg
h) Seringas:
a. https://assets.xtechcommerce.com/uploads/images/medium/176e28889d
1d80f0bcfd8848bb9f9431.jpg
i) Abelhas:
a. http://photos.demandstudios.com/getty/article/251/56/89791800.jpg

288
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Etnobiologia

PERCEPÇÕES DE UMA FAMÍLIA LINHARENSE SOBRE OS INSETOS A


PARTIR DE SUAS HISTÓRIAS E EXPERIÊNCIAS DE VIDA

Évellin F. dos SANTOS¹*, Karina S. FURIERI, Marcos C. TEIXEIRA


1
Pós-Graduação em Educação Ambiental - FVC
*favalessa@gmail.com

INTRODUÇÃO

A cultura é um agente de identificação pessoal e social, que se caracteriza por


um somatório de costumes, tradições e valores, o que leva ao sentimento de pertencer a
um lugar, fé ou povo (RODRIGUES, 2008). As manifestações culturais são importantes
por resgatarem a cidadania. Dentre essas manifestações têm-se as tradições herdadas,
que são conhecimentos adquiridos dos velhos para os mais novos por intermédio de
mitos e símbolos (DIEGUES & ARRUDA, 2001).
Frequentemente os personagens desses mitos são ligados aos animais, que
assumem diferentes papéis. Nesse aspecto os insetos ganham destaque por serem e
terem características bastante variadas e grande diversidade. No mundo, já foram
registradas mais de 751.000 espécies de insetos vivas descritas pelos cientistas
(WILSON, 1992). Esses animais vêm influenciando a cultura humana desde muito
tempo (COSTA NETO, 2000). Essa influência é evidenciada nas diferentes formas de
expressão cultural, aparecendo na literatura, música, cantigas de roda, lendas, medicina
e culinária popular dentre outros em diferentes partes do mundo (LENKO e
PAPAVERO, 1996). Estão associados a acontecimentos benéficos, maléficos e
previsões do tempo (COSTA NETO, 2003). Esses conhecimentos etnoentomológicos
são importantes fontes de conhecimento sobre a vida de algumas espécies (BLAKE e
WAGNER, 1987), havendo registros de controles de pragas fitossanitárias realizados a
partir dos mesmos (LIMA, 2000). Os insetos apresentam uma enorme diversidade de
espécies nos trópicos e possuem um importante papel nos estudos aplicados em biologia
tropical, diversidade de comunidades e conservação de habitats (BORROR e
TRIPLEHRON, 1989). Neste estudo objetivou-se analisar as percepções de uma família
linharense sobre os insetos a partir de suas experiências vivenciadas com esses animais.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta é uma pesquisa qualitativa do tipo etnográfica. A técnica de coleta de dados


utilizada foi a entrevista semiestruturada. Para encontrar os entrevistados foi utilizada a
técnica “Bola de Neve” (GOODMAN, 1961). No caso dessas entrevistas, os primeiros
entrevistados não apenas indicando, mas participando de novas entrevistas. Foram
considerados “insetos” todos os organismos citados pelos entrevistados como
pertencentes ao grupo, mesmo não estando sistematicamente relacionados ao grupo
taxonômico insetos. Para o registro das entrevistas foi utilizado um gravador de áudio
quando autorizado pelos participantes.
O presente estudo constitui um recorte para uma pesquisa mais ampla, ainda em
desenvolvimento, cuja área de estudo é a região do Mosaico da Foz do Rio Doce. O
Mosaico abrange três municípios, Linhares, Sooretama e Aracruz. Como projeto piloto,

289
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

foi feito um recorte para o município de Linhares, pois este possui a maior
representatividade das Unidades de Conservação do Mosaico.
A maioria dos entrevistados descende de italianos e moram ou moraram há pelo menos
20 anos no município de Linhares-ES. Todos eles passaram parte da infância ou toda
ela na roça. Foram entrevistadas 12 pessoas com idades variadas de 80 a 27 anos, em
seis encontros realizados de abril a maio de 2016. Após as gravações e transcrição das
entrevistas, as informações foram analisadas através da Análise de Conteúdo (BARDIN,
1977).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletadas 101 histórias. Predominaram elementos factuais (76) e, em


menor frequência, conhecimento popular (25), sendo que os mitos e lendas foram
incluídos nessa categoria. Foram registradas 46 etnoespécies. A palavra “inseto”
também designou outros animais como minhoca, lesma, caracol, aranha, escorpião,
morcego. Outros animais citados como insetos também foram registrados por Costa
Neto e Carvalho (2000) e Costa Neto (1999). Os significados dados pelos entrevistados
às etnoespécies foram: Diversão, Crendice, Nojo, Perigo e Medo, podendo estar em
mais de uma categoria. Esse padrão de classificação etnozoológico foi explicado por
Costa Neto (1999) a partir da hipótese da ambivalência entomoprojetiva, na qual o ser
humano tende a projetar sentimentos de nocividade, periculosidade, repugnância e
menosprezo a animais não-insetos, agrupando-os nessa categoria culturalmente
determinada. A ambivalência é empregada no sentido da sociologia, se referindo à
atitude de oscilar entre valores diversos e antagônicos. Os organismos citados como
insetos nas histórias também ganham significados de diversão, sendo utilizado por
muitos entrevistados para substituir os brinquedos que não tinham na infância, como:
“É, joaninha a gente brincava direto mesmo”. As atividades lúdicas com os insetos
também foram encontradas por Lenko e Papavero (1996) e Lima (2000b) onde as
borboletas, besouros, gafanhotos, dentre outros, foram registrados sendo utilizados
como brinquedos. O costume de se espetar um palito na tanajura para brincar também
foi registrado por Lima et al. (1999) e Veiga (2000). As histórias estão ligadas
principalmente à infância dos entrevistados, fase em que ocorrem os primeiros contatos
com insetos (LOPES et al, 2013). A infância é um período mais fácil para se aprender
coisas novas e desenvolver empatias e simpatias (WILSOM, 1993).
A relação dos entrevistados com os insetos e não-insetos citados e reunidos na
categoria “diversão” expõe as consequências de uma cultura herdada que foi
historicamente construída com base na superioridade humana sobre as demais espécies
(SHELDRAKE, 1991; GONÇALVES, 2008). Ainda que não se possa atribuir à prática
de enfiar palitos em tanajuras, por exemplo, uma característica de crueldade intencional,
essas práticas referendam a história humana construída a partir da ideia de que a
natureza foi criada para o prazer e utilidade humana (SHELDRAKE, 1991;
GONÇALVES, 2008). Por outro lado, o uso dos insetos e não-insetos para fins lúdicos,
como no caso de: “Também gostamos muito de brincar correndo atrás de borboletas”,
nos proporciona uma reflexão acerca dos processos biofílicos que envolvem a história
da relação humana com a natureza. Assim, as narrativas dos entrevistados expõem o
lado negativo da relação homem-natureza presente na brincadeira inocente da criança
que faz do inseto o helicóptero, o soldado ou a lanterna de brinquedo. A manutenção
dessa cultura de não reconhecimento do valor intrínseco das demais espécies ainda se
mantém na sociedade e no seio familiar. Essa cultura se contrapõe às possibilidades de
exploração dos aspectos biofílicos dificultando a inauguração de outras percepções

290
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

sobre a natureza. Já a biofobia é evidenciada principalmente nas reações de medo


podendo estar ligada as reações de perigo e nojo, como: “Asha, se ta lá mexendo em
alguma coisa que eu não quero, eu falo assim: eu vi uma barata aí. Ah!”. Alguns
relatos apresentaram algumas simpatias, crendices e conhecimento popular,
provenientes da observação de certas espécies e passadas de pais para filhos, sendo
agrupadas na categoria Crendices, como: “O marimbondo perta-goela quando ele pica
a gente aí num dói, dói é na garganta, tem que correr e beber agua logo se não fecha
ne.”.
Ao longo das entrevistas fica evidenciado a cultura atrelada aos conhecimentos
biológicos tradicionais, resultado ao longo de gerações de experiências acumuladas,
experimentação e troca de experiência (ELLEN, 1997). Esses conhecimentos
tradicionais são utilizados no senso comum para interpretação do comportamento de
determinados insetos relacionando-os a fenômenos naturais, como, por exemplo, a
previsão de condições meteorológicas (COSTA NETO, 2004). A esses insetos alguns
autores conferem a condição de entomoindicadores entre os quais se situam a cigarra
(COSTA NETO, 2003) e as formigas (LUCENA et al., 2002; ROSATO, 1984). Em
algumas situações, a entomoindicação encontra sustentação cientifica, pois, a ausência
ou presença de determinado inseto pode indicar as condições do ambiente (POSEY,
1987). A crença de que a lagartixa, considerada inseto pelos entrevistados, passa
cobreiro também foi observada por Costa Neto e Silva (2004).
Muitos organismos aparecem tanto na categoria “Medo” quanto na categoria
“nojo”. A sensação de nojo é expressa por todas as comunidades humanas, porém
variam dentre as culturas (ROZIN et al., 1984). Essa sensibilidade está bastante
correlacionada com o medo (MATCHETT & DAVEY, 1991). Porém, alguns
entrevistados ao longo das entrevistas fizeram questão de frisar que sentem apenas nojo,
não chegando ao medo. Assim como em Costa Neto e Silva (2004), a expressão
“inseto” é frequentemente associada a animais de aparência desagradável que provocam
nojo, sensação de perigo, nocividade, repugnância ou transmissores de doenças
(COSTA NETO, 1999; COSTA NETO & PACHECO, 2004; COSTA NETO &
CARVALHO, 2000; COSTA NETO & SILVA, 2004). O sentimento de nojo
possivelmente é transmitido cultural e socialmente (DAVEY, 1994). Sentimentos
semelhantes relacionados aos mesmos etnoinsetos indicam que a família é importante na
manutenção ou modificação das percepções sobre as formas de relação com a natureza.
Dessa forma, a educação familiar pode abrir ou dificultar o caminho para a Educação
Ambiental tanto formal quanto não-formal, considerando que a educação acontece como
parte da ação humana de transformar a natureza (CARVALHO, 2004) e está presente no
dia a dia de todos.

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293
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ETNOZOOLOGIA DE MORCEGOS EM SANTA TERESA – ES

Ronald Rodrigues VIEIRA¹*, Gabrielly Benaducci TOLENTINO¹, Lucas do Carmo


MOTTA¹ & Sílvia Ramira LOPES¹
1
Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA)
*ronald_rodrigues15@hotmail.com
INTRODUÇÃO

O conhecimento da população sobre determinado grupo de animal é de extrema


importância para a aplicação de planos para a conservação, tornando a etnozoologia
uma ferramenta complementar ao conhecimento científico (Pinto, 2011).
Os morcegos são animais com importância do ponto de vista ecológico,
econômico e médico sanitário. São excelentes dispersores de sementes, atuando na
regeneração de áreas degradadas e no controle de insetos, embora também estejam
incluídos no ciclo da raiva.
Trabalhos que possuem objetivos de avaliar o conhecimento de pessoas sobre
determinado grupo tornam-se necessários a fim de desmitificar crendices que podem
por em risco algumas espécies, gerando medidas efetivas para a conservação, atribuindo
à importância ecológica que outros morcegos possuem e os reais perigos médicos-
sanitários que os envolvem, principalmente, os morcegos hematófagos (Rocha-Mendes
et al. 2005; Scavroni et al., 2008; Pinto 2011). Assim, o presente estudo teve como
objetivo analisar qual o conhecimento sobre mitos, crenças, percepção, promover
popularização do conhecimento com os turistas que visitam a Casa Lambert sobre os
morcegos e informar aos visitantes a importância desse grupo para o meio ambiente.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado na Casa Lambert, uma das primeiras construções do


município de Santa Teresa (19º56’12" S, 40º35’28" W), cidade que fica à 80 km da
capital, localizado na área Central Serrana do Estado de Espírito Santo (Instituto
Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, 2011).
Os visitantes foram recepcionados pelo guia da Casa Lambert (funcionário da
prefeitura) e conduzidos para observação dos artefatos que contam a história da família.
Após a visitação, os participantes maiores de 18 anos foram convidados a participar
desta pesquisa e os que aceitaram, foram instruídos a assinar o Termo de Consentimento
Livre e Esclarecimento. Logo em seguida, receberam um questionário contendo
perguntas que abordaram temas sobre quirópteros envolvendo a biologia e o
conhecimento dos turistas para tal grupo. As questões também investigaram as relações
culturais, crenças, aspectos cinegéticos locais, repúdio, reverência ou desprezo. Na
sequência foi observada a reação das pessoas mediante aos animais taxidermizados
(emprestados pelo Museu de Biologia Mello Leitão - INMA), e foram inseridos alguns
morcegos de pelúcia presos no teto, despertando o interesse e atenção dos visitantes, em
uma tentativa de sensibilização afim de retirar dúvidas a respeito desses animais. No
final da pesquisa, os turistas receberam um folder informativo sobre a importância dos
morcegos para o meio ambiente.
Para obtenção dos resultados foi realizada uma análise qualiquantitativa dos
questionários. A obtenção dos dados ocorreu no período de fevereiro a setembro de

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2016, totalizando 134 questionários, sendo aplicados nos dias de funcionamento da


Casa Lambert.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os inquiridos eram de 31 cidades diferentes do Brasil e 1 da Espanha,


prevalecendo cidades do estado do Espírito Santo, com maior participação de mulheres
(n=76) do que homens (n=57), sendo que (n=1) não respondeu. Em relação à zona de
moradia dos entrevistados prevaleceu a zona urbana (n= 114), em detrimento à rural
(n=15), e 5 pessoas não responderam. As idades dos entrevistados foram agrupadas em
escalas, considerando 10 grupos, agrupados de 5 em 5 anos cuja média de idade foi de
36 anos (menor idade 18 anos, maior idade 67 anos).
Verificou-se que dos participantes com idades entre 18 – 22 anos (n=22), 55%
desconheciam a importância dos morcegos para o meio ambiente e 45% desse grupo
sabiam da relevância desses animais.
Na pergunta sobre a classificação dos quirópteros, quando questionado sobre a
que grupo taxonômico os morcegos pertencem, 86% das pessoas responderam
corretamente, classificando-os como mamíferos (sendo que 1% dos entrevistados
mencionou que morcego é um rato), 2% dos entrevistados relacionaram morcegos com
insetos, 1% citou como vampiro, enquanto 3% fizeram associações com as aves.
Somente 7% dos entrevistados não souberam classifica-los e 1% não respondeu.
Entre os entrevistados que classificaram os morcegos como mamíferos, 60%
tinham ensino superior completo, 22% estavam cursando o ensino superior, 12%
haviam concluído o ensino médio, 3% ensino fundamental completo e 1% não tinha
concluído o ensino fundamental e 2% dos que responderam não relatou sua
escolaridade. Segundo o estudo de Gomes (2015), que comparou zonas e escolaridade,
mesmo os entrevistados que estavam cursando ou já haviam cursado o ensino superior,
não deram respostas condizentes às informações científicas da espécie, enquanto de
forma geral no presente estudo, pessoas de diferentes graus de escolaridade souberam
classificar os morcegos dentro dos mamíferos, mostrando conhecimento sobre as
informações básicas desses animais. A confusão dos quirópteros com insetos (n=3) e
aves (n=4) no presente estudo, pode ser considerada comum, uma vez que os morcegos
são os únicos mamíferos com capacidade fisiológica de voo, além disso, esses animais
possuem hábitos de voarem a noite e muitas vezes são considerados estranhos (Feijão-
Paiva, 2010; Gomes, 2015).
As respostas que remeteram aos mitos e crendices populares foram de baixa
expressividade, tendo como resposta vampiro 1% e Molossidae 1%. A associação dos
morcegos com os vampiros vem dos primórdios, devido ao fato da criação do
personagem Drácula conhecido mundialmente (Ribeiro, 2015).
Ainda hoje existem comparações dos quirópteros com ratos, isso acontece pela
semelhança desses animais com a família Molossidae, encontrada facilmente nas casas,
além da crença que morcegos são cegos, existem mitos antigos em que os ratos velhos
poderiam se transformar em morcegos (Gomes, 2015). Além disso o nome morcego, foi
criado a partir das palavras em latim muris (rato) e coecus (cego), reforçando os mitos e
preconceitos que esses animais sofrem (Reis et al., 2007). Essa correlação com rato
também foi constatada no atual estudo, sendo que o participante que marcou esta opção
tinha ensino médio completo.
Ainda hoje existem comparações dos quirópteros com ratos, isso acontece pela
semelhança desses animais com a família Molossidae, encontrada facilmente nas casas,

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

além da crença que morcegos são cegos, existem mitos antigos em que os ratos velhos
poderiam se transformar em morcegos (Gomes, 2015).
No questionário foram abordados temas como: biologia, comportamento, mitos e
importância da espécie para o meio ambiente. De todos participantes apenas 3 relataram
nunca terem visto um morcego. Quanto aos locais de visualização os mais citados
foram: casa (n=81), rua (n=72), sítio (n=59), livros/revistas (n=49), mídia (n=48) e não
responderam (n=1). Ter a casa como principal local de visualização era esperado.
Segundo Bruno e Kraemer (2010), muitos morcegos entram nas residências, a procura
de frutos ou soluções adocicadas que são oferecidas aos beija-flores. Além disso, a
família Molossidae possui como um dos seus habitats forros e telhados de casa,
facilitando assim a visualização dentro das residências. A principal espécie relatada
como já vista foi a Artibeus lituratus, espécie sinantrópica e plástica que se adapta bem
as cidades. A mesma foi reconhecida pelos visitantes quando o visualizaram
taxidermizado devido presença das listras faciais brancas que são bem proeminentes,
caracter taxonômico de fácil de identificação. O segundo local de visualização mais
citado foi rua (n=72), e isso pode ser explicado devido a presença de árvores como
Piper sp. que compõem o meio urbano e muitas vezes fornecem alimento e refúgio a
esses animais que estão fora dos ambientes florestais (Bianconi et al., 2004; Passos e
Graciolli, 2004; Evangelista, 2009;). Outro local de visualização significante foi sítio
(n=59), já que na zona rural existem fragmentos florestais, árvores frutíferas, maiores
oportunidades para observação e conhecimento da história natural e características
morfológicas de seres vivos (Bianconi et al., 2004; Passos e Graciolli, 2004;
Evangelista, 2009;).
No que diz respeito a opção livros/revistas (n=49), no presente trabalho houve
uma quantidade expressiva de pessoas que afirmaram já terem tido contato através deste
meio de informação. Spiassi (2008), afirmou em seu estudo a importância dos livros na
formação dos alunos, no estudo de Candotti (1999), foi relatado o valor da divulgação
dos trabalhos em revistas especializadas; podemos atribuir o grande número de acertos
em relação a classificação dos morcegos (n=115) à informações desses animais contidas
em livros e revistas. Mídia (novelas/filmes) (n=48) também foi uma das opções para a
pergunta sobre visualização, muitos temas da biologia e importância do animal podem
ser abordados em documentários, já em novelas e filmes, esses animais podem ser
retratados de forma equivocada, alimentando o imaginário popular, remetendo o lado
vampiresco e ganhando uma reputação ainda mais negativa, tendo como exemplo as
novelas brasileiras Vamp e o Beijo do Vampiro que retratou de forma errônea esses
animais.
Também foram levantados dados sobre a sensação das pessoas ao avistarem um
morcego, dentre os quais se destacou: medo (n=71), nojo (n=39), indiferença (n=9),
alegria (n=13), afeto (n=8) e outros (n=14). Das respostas, medo (n=71) foi a que mais
se destacou, dentre eles 68% dos participantes eram mulheres, 31% homens e 1 % não
relatou o sexo. O fato de mulheres sentirem mais medo do que os homens também foi
constatado no trabalho de (Feijão-Paiva, 2010). Esse sentimento de medo pode estar
ligado a associação dos morcegos com criaturas misteriosas, ato de se alimentar de
sangue, hábitos noturnos e ser lembrado como vampiro (Bernard, 2005). Muitos
também demonstraram sentimento a nojo (n=39). Segundo Gomes (2015), as relações
das pessoas com os morcegos, tendem a mudar de acordo com as regiões e diversidade
cultural, muita das vezes sendo expressados sentimentos de felicidade quando se vê
algum animal nas proximidades das residências.
Com intuito de descobrir se a população conhece as guildas tróficas desses
animais, a maior parte dos entrevistados disseram saber do que eles se alimentam

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

(n=114), mas boa parte dos participantes não sabiam do que os morcegos se
alimentavam (n=20). Dentre os que responderam saber, a opção que mais se destacou
foi frutas (n=104), seguida por sangue (n=50), insetos (n=42), néctar (n=32), carne
(n=3) e (n=2) pessoas marcaram saber mais não marcou nenhuma opção. A resposta
mais citada foi frutas (n=106), pode ser justificada pelo fato de que muitas árvores
frutíferas compõem o paisagismo urbano, tornando fácil a visualização desses animais
nessas árvores e fazendo assim a correlação de frutas como habito alimentar (Gomes,
2015).
Sangue (n=50) foi a segunda mais mencionada, de todos os hábitos alimentares,
é a que mais gera polêmica, pelas lendas e mitos que os norteiam, mas de acordo com o
estudo de Bernard (2005) somente 3 de aproximadamente 1000 espécies de morcegos
são hematófagas e estão distribuídas pela América Latina. Os insetos também foram
relatados pelos turistas (n=42) como pertencente à cadeia alimentar dos morcegos. Do
total de morcegos existentes 70% deles são insetívoros, comuns em áreas antrópicas e
fácil visualização, possuem um alto valor ecológico e econômico (Drummond, 2004).
Outro hábito alimentar ponderado foi néctar (n=32), muitas residências possuem
plantas, que em épocas de floração e esses animais as visitam extraindo o pólen como
alimento. Morcegos com esses hábitos alimentares acabam desempenhando um
importantíssimo papel de polinização destas espécies (Gomes, 2015).
Quando perguntados sobre qual a reação ao encontrar um morcego, a maior
parte dos entrevistados disseram que apenas observam (n=98), relacionando esse
número de respostas com o sentimento de medo (n=71) e que o maior local de
visualização desses animais foi em casas (n=81), é possível constatar que apesar dos
sentimentos negativos, as pessoas respeitam esses animais e não agem de forma
prejudicial aos quirópteros. Alguns participantes disseram ter reações de pânico (n=30)
ao avistarem esses animais, Bernard (2005) afirma em seu trabalho que morcegos
sempre despertam algum tipo de reação nas pessoas, na maioria das vezes, pode
provocar sentimentos de repúdio explicado pela má percepção que a população possui
em relação a esses animais. Uma pequena parte dos entrevistados disseram que tentam
capturar para depois soltar (n=6) enquanto outros chamam autoridades competentes e a
opção de matar o animal, totalizando respectivamente (n=4).
Com relação à utilização desses animais na alimentação, 92% das pessoas não
acham que os morcegos servem para serem comidos, enquanto 7% acham que sim e
apenas 1% diz não saber. No que diz respeito a essa questão, notamos uma má
compreensão dos participantes quanto à forma que a pergunta foi elaborada, quando foi
perguntado “os morcegos servem de alimento? ” Houveram dúvidas se essa alimentação
estava relacionada a um enfoque predatório, de outros animais para com os morcegos,
ou humano, mesmo possuindo uma segunda parte que perguntava: “se sim, conhece
alguém que já comeu? ”, mesmo diante as dúvidas, a pergunta foi considerada, visto que
quando mal compreendida, havia o real entendimento do participante na segunda parte.
Dos que responderam sim foi baixo o número de resposta a respeito de conhecer alguém
que já havia se alimentado de morcegos (n=1), enquanto (n=8) disseram não conhecer.
Diante da pergunta se os morcegos desempenham funções importantes para o ser
humano e para natureza, a maior parte dos entrevistados demonstraram saber de sua
importância (n=97), enquanto outros marcaram não ter nenhum tipo de importância
(n=36) e diz não saber (n=1). Foram citados diversos benefícios que esses animais
desempenham, dentre eles: dispersores de sementes (n=33). No trabalho de Althoff
(2007) foram citadas algumas espécies como dispersores eficientes, atuando para
regeneração vegetal de novas áreas. As respostas que remetiam a predação de animais
pelos morcegos ou ainda que eles serviam de alimento para outros animais foram

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

agrupadas em um único quesito - cadeia alimentar (n=16), de acordo com Drummond


(2004) os morcegos se alimentam de pequenos carnívoros e alguns insetos realizando
manutenção populacional e equilíbrio do ecossistema (n=28) outra resposta citada pelos
turistas, realizando também o controle de pragas (n=9), mencionada pelos entrevistados
como forma de contribuição para o meio ambiente. Uma pequena quantidade dos
inquiridos relataram saber que eles desempenham um papel importante na polinização
das plantas (n=9). Houve pessoas que marcaram que os morcegos possuem importância,
mas não sabia explicar quais seriam (n=19).
Sobre a crendice popular que os morcegos atacam pessoas, poucos entrevistados
responderam sim (n=8) e só quando ameaçados (n=12), a maior quantidade de respostas
foram: não (n=55) e depende da espécie (n=43), ainda houve um número significativo
de participantes que diziam não saber (n=20). Observou-se que uma minoria teve a
percepção que os morcegos atacam pessoas e grande parte dos entrevistados disseram
que os morcegos não atacam as pessoas e/ou que depende da espécie.
Ao perguntar: na sua opinião qual é o motivo pelo qual os morcegos estão
ocorrendo com frequência nas cidades, os visitantes demonstraram conhecimento sobre
a evasão dos morcegos, assinalando desmatamento (n=110), como resposta mais citada.
Segundo, Althoff (2007) com o avanço das práticas econômicas, houve o aumento
exorbitante do desmatamento da floresta Atlântica, e estudos comprovaram que o
desmatamento acarreta na diminuição drástica da riqueza de morcegos.
Com a perda do seu habitat natural, os morcegos procuram ambientes
antropizados, sendo assim a opção procura de abrigo (n=26) foi uma das respostas mais
citadas pelos participantes da pesquisa, mostrando que eles sabem que os morcegos
utilizam construções civis (forro de casa). Com a destruição do seu habitat os seus
alimentos se tornam escassos, os obrigando procura-los nas cidades, onde se tem uma
abundância de alimentos como insetos e árvores frutíferas, Carneiro et al. (2009), n=34
concordaram com esta opção e n=5 demonstraram desconhecimento da sua frequência
na cidade.
No que diz respeito à transmissão de doenças por esses animais aos seres
humanos, a maior parte das respostas associaram a algum tipo de doença (n=103), parte
dos entrevistados disseram que não são transmissores (n=21), enquanto disseram não
saber (n=7) e não responderam (n=3). A raiva foi a mais citada (n=53), seguida por um
número de pessoas que sabiam que os morcegos podem transmitir doenças, mas não
souberam classifica-las (n=31), não responderam (n=14), ainda houveram outras
respostas menos expressiva como: alergia (n=1), ebola (n=2), leptospirose (n=1), virose
(n=1) e histoplasmose (1). Segundo o trabalho de Carneiro et al., (2009) raiva é causada
por um vírus da família Rhabdoviridae, que ataca o sistema nervoso central, levando a
morte do paciente e os quirópteros estão entre os principais transmissores desta doença,
perdendo somente pelo cão. Entretanto, existe um número relevante de pessoas que
sabem que eles transmitem alguma doença, mas não correlaciona com nenhuma (n=45).

CONCLUSÃO

A maioria dos participantes deram respostas condizentes à biologia,


comportamento e importância da espécie para o meio ambiente
Os resultados das análises demonstraram que a maioria dos entrevistados
encaram os morcegos com medo. Este julgamento baseia-se na aparência e no hábito
alimentar dos hematófagos, amplamente divulgado na mídia e na cultura implementada
na própria região dos participantes. Uma das soluções para esses conflitos seria o

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

aumento de trabalhos que envolvam a educação ambiental e que permitam um contato


mais próximo e benéfico com os quirópteros.
Manuseando exemplares conservados em álcool os turistas puderam reconhecer
as características fundamentais do grupo, com as amostras dos crânios e suas
respectivas dentições bastante variáveis, enfatizando a importância de hábitos
alimentares, cuja diversidade resulta em dispersão de sementes, controle de populações
de insetos e polinização. Dessa forma, o conhecimento deixou de ser memorístico, para
ser um conhecimento significativo.

LITERATURA CITADA

Althoff, S.L. 2007. A comunidade de quirópteros, sua biologia e ecologia no Parque


Natural Municipal Nascentes do Garcia, Estado de Santa Catarina, Brasil. Tese
de Doutorado. Curso de Pós-Graduação em Biologia Animal, Intituto de
Biocências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto
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Bernard, E. 2005. Morcegos vampiros, sangue, raiva e preconceito. Ciência Hoje, v.36,
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Bianconi, G.V. et al., 2004. Diversidade de morcegos (Mammalia, Chiroptera) em


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Estado de Minas Gerais. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical,
v.42, n.4, p. 449-451.

Drummond, S.M. 2004. Morcegos – Verdades e Mitos. Uma análise acerca do


conhecimento sobre os morcegos na sociedade: folclore, ciência e cultura.
Monografia de licenciatura em Ciências Biológicas, Universidade Estadual do
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Evangelista, T.H.C.S. 2009. Diversidade de morcegos (Mammalia, Chiroptera) no


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Feijão-Paiva, V.M. 2010. Educação Ambiental: impacto na percepção e mudança de


atitudes em relação aos morcegos. Dissertação de Mestrado. Curso de Pós-
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Gomes, M.C.B. 2015. Morcegos (Mammalia: Chiroptera) segundo uma abordagem


biológica, mitológica, simbólica e etnozoológica. Dissertação de Mestrado.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Curso de Pós-Graduação em Zoologia, Universidade Estadual de Feira de


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300
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PERCEPÇÕES DOS MORADORES DO ENTORNO DA RESERVA


BIOLÓGICA AUGUSTO RUSCHI EM RELAÇÃO AOS ANFÍBIOS ANUROS

Fernanda Cristina Ferreira LIRIO1,2*, Rodrigo Barbosa FERREIRA³

¹Graduação em Ciências Biológicas - Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Espírito Santo


² Programa de Capacitação Interna – Instituto Nacional da Mata Atlântica / INMA
³Departamento de Zoologia / Universidade Vila Velha - UVV
*nanda_clf@hotmail.com

INTRODUÇÃO

A aplicação da etnobiologia permite verificar o entendimento de determinada


sociedade sobre o conhecimento e conceituações acerca da biologia (Posey, 1986).
Dentro da etnobiologia, temos a etnozoologia, que é o estudo da tradição humana e a
sua relação com a fauna local, analisando suas práticas e visões (Posey, 1987; Begossi
et al., 2002). Pesquisas envolvendo grupos humanos e o seu conhecimento tradicional
permite uma visão de interação, consequentemente a conservação de determinado grupo
biológico. Segundo Maroti et al., (2000), investigar a percepção ambiental nos grupos
socioculturais devem fazer parte de projetos que tratam da relação entre homem e meio
ambiente. Dessa forma, quando a percepção é colocada em questão pelo ser humano,
possibilita sua avaliação, causando assim a reflexão sobre sua atuação no ambiente em
que vive (Marin et al., 2003).
As comunidades do entorno de unidades de conservação (UC) é um grupo
fundamental para proteção e manejo da biodiversidade, pois estes interagem com as
áreas naturais a partir de suas propriedades particulares. Por exemplo, as práticas
agrícolas, extrativistas e de urbanização, que afetam negativamente a biodiversidade
local. Alguns grupos faunísticos são mais sensíveis a estas alterações, como é o caso
dos anfíbios. A maioria dos anfíbios anuros (sapo, perereca e rã) depende de ambientes
florestais e aquáticos para manutenção do ciclo de vida. Estudos voltados ao
conhecimento popular sobre anfíbios anuros ainda são escassos, provocando ausência
de conhecimentos que poderiam contribuir para a conservação deste grupo taxonômico
e, consequentemente, do ecossistema como um todo (Alves et al., 2010). O município
de Santa Teresa, localizado no estado do Espírito Santo, região sudeste do Brasil, detém
de elevada biodiversidade (Rödder et al., 2007; Almeida et al., 2011). Por apresentar
muitos fragmentos remanescentes do bioma Mata Atlântica, é uma das localidades mais
bem investigadas do Espírito Santo quanto à composição de anfíbios anuros, sendo
classificada como uma área de extrema importância biológica para a conservação deste
grupo de vertebrados no Brasil (Rödder et al., 2007). A Reserva Biológica Augusto
Ruschi (RBAR) é um dos maiores remanescentes da Mata Atlântica no Espírito Santo.
Por meio de entrevistas, o presente estudo objetivou investigar a percepção dos
moradores do entorno da RBAR sobre os anfíbios anuros, na tentativa de delinear um
perfil do entendimento, das crenças e juízos que as pessoas fazem destes animais. Para
Hanazaki (2003) o contato-diálogo com as comunidades, e toda informação advinda
desta, permite planejar estratégias de intervenção para fins conservacionistas. Assim,
como trabalhos que avaliam a percepção ambiental da pessoa podem ser utilizados
como ferramentas para educação e sensibilização (Santos et al. 2000).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo
O estudo ocorreu na comunidade de Alto Santo Antônio, no entorno da Reserva
Biológica Augusto Ruschi – RBAR (Figura 1).

Figura 1. Localização da Reserva Biológica Augusto Ruschi, Santa Teresa, Espírito


Santo, Brasil.

As entrevistas aconteceram entre os dias 17 de 18 de junho de 2016.


Inicialmente, através de visitas às residências foram expostos as intenções e os objetivos
deste estudo aos moradores e líderes comunitários. Uma cartilha com as informações a
respeito do projeto, dos anfíbios, e da RBAR foi entregue aos participantes. Cada
entrevistado assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) quando
adulto, e Termo de Assentimento (TA) quando menor de idade. Com a devida
autorização dos participantes os diálogos foram gravados, e posteriormente transcritos
para melhor entendimento e obtenção dos dados.

Coleta de dados
Os participantes responderam o questionário individualmente e sem um tempo
pré-determinado. Primeiro foi levantado a característica dos entrevistados com as
seguintes informações: nome, idade, sexo, religião, escolaridade, ocupação, tempo de
habitação e o uso do ambiente natural para subsistência. Também foi verificada a
percepção do morador quanto a existência da Reserva Biológica Augusto Ruschi. As
metodologias utilizadas para a coleta de dados foram 1) entrevista não-estruturadas e 2)
entrevista semi-estruturadas. Segundo Bernard (1996) o primeiro método consiste em
realizar uma entrevista através de diálogo agradável, mas que se tenha o mínimo de
controle das informações obtidas. O segundo método, também descrito por Bernard
(1996) se baseia em uma lista de questionamentos ou tópicos pré-escolhidos. Após as
entrevistas, foi organizado um evento de popularização da ciência no qual foram
expostos os resultados parciais deste estudo, fotografias dos anfíbios, seu ciclo de vida,
terrários com espécimes vivos, além de atividades interativas com adultos e crianças.
Com autorização das pessoas entrevistadas, as imagens das entrevistas, bem como de
algumas espécies de anfíbios que os próprios participantes nos enviaram pelo celular,

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

também foram expostas neste evento. Esse movimento ocorreu no centro comunitário,
da comunidade de Alto Santo Antônio, entorno da RBAR. Este evento foi uma proposta
de retorno para as pessoas que fazem parte das comunidades do entorno da RBAR,
tendo o intuito de difundir a importância e conservação os anfíbios e deste Unidade de
Conservação.

Análise de dados
Para organização inicial, as entrevistas foram gravadas, posteriormente
transcritas e planilhadas para tabulação dos dados e análises simples de percentagem.
Todas as informações obtidas das entrevistas não-estruturadas e semi-estruturadas
foram analisadas, segundo Hays (1976), por meio do modelo de união das diversas
competências individuais, todas as informações transmitidas pelos participantes foram
consideradas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO.

Características dos entrevistados


Ao total foram entrevistadas dezoito pessoas, sendo 67% (N=12) mulheres e
33% (N=06) homens. A idade média das mulheres foi de 43 anos (15 a 71 anos). Em
relação aos homens, obteve-se percentual com idade variável de 29 a 76 anos, e média
de 59 anos. Este mesmo padrão entre o sexo feminino e masculino foi registrado por
Lucena (2011), onde 77% dos entrevistados em seu estudo foram mulheres, com média
de 44 anos, e os homens com média de 55 anos. Sobre o tempo de moradia, registramos
que 33% dos entrevistados residem a mais de 50 anos na localidade, o restante se divide
entre cinco e quarenta e nove anos de habitação. Podemos observar que pessoas mais
velhas e nascidas em zona rural fixam residência nestes lugares até seu falecimento; o
contrário acontece quando se trata dos filhos desses moradores, pois surgindo a
oportunidade de estudo e emprego não hesitam viver em áreas urbanas; além de que
muitas das pessoas com pouco tempo de residência, são as que migraram de outras
cidades (Lucena, 2011). Sobre o grau de instrução dos entrevistados, as mulheres
(N=12) apresentaram escolaridade maior, quando comparada aos homens (N=6).
Destes, dez mulheres e cinco homens não concluíram o ensino fundamental; um homem
possui ensino médio completo; uma mulher possui curso superior completo, sendo esta
professora de uma escola primária local; e uma mulher possui curso técnico em
administração. Lucena (2011) também observou em seus estudos que 33% dos seus
entrevistados não possuem o ensino fundamental completo. Dentre a ocupação
profissional dos entrevistados a que se destacou foi a de agricultor, com 56%; seguida
de aposentado com 17% e estudante com 11%; as ocupações de dona do lar, professor e
operador de tratamento de esgoto ficaram com 1% cada. Lucena (2011) em estudos
etnológicos registrou 39% dos entrevistados tendo a agricultora como fonte de renda.

Experiência
A respeito da avaliação de experiência dos moradores com os anfíbios anuros, a
primeira questão foi: conhece sapo, perereca e rã? E 100% dos entrevistados
responderam que conhecem esses animais. Apesar de a maioria dos entrevistados terem
pouco conhecimento ecológico sobre esses animais, os anfíbios anuros são notados e
reconhecidos pelos moradores (Oliveira & Freire, 2015). Seger et al., (2011)
observaram que a maioria dos participantes (N=40) conhecia parte ou todos os
indivíduos de anfíbios anuros apresentados. Sobre o sentimento dos entrevistados em
relação aos anfíbios, a grande maioria (N%= 38) disse ser indiferente. Contudo o

303
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

sentimento de medo vem em seguida (N%=22), sendo esta a resposta de todas as


mulheres. No gráfico abaixo é possível visualizar as diferentes percepções obtidas
(figura 2).
8
7
Número de entrevistados

6
5
4
3
2
1
0
Nojo Medo Indiferente Gosta Feliz Rejeição

Figura 2. Respostas sobre qual o sentimento que cada entrevistado tem a respeito dos
anfíbios.

Acreditamos que este resultado está diretamente relacionado com a área habitada
e o estilo de vida que estas pessoas levam. Como a maioria reside e trabalha em zona
rural, o contato com os anfíbios anuros se torna rotineiro, uma vez que Santa Teresa,
apesar das atividades agrícolas ameaçarem sua biodiversidade, ainda é um município
com muitos remanescentes florestais, logo proporciona ambientes ideais para ocorrência
desses animais. Consequentemente proporciona ao morador de entorno de unidade de
conservação um maior contato e tolerância com os anuros.
Sobre os mitos e lendas envolvendo os anfíbios (tabela 1), das dezoitos pessoas
entrevistadas, metade (N=9) disseram se lembrarem justamente dos pais alertando-as
para terem cuidados e não pegar o sapo na mão. A outra metade (N=9) não sabem ou
não se lembraram de histórias. Contudo, são comuns relatos sobre estes animais
provocarem repulsa por serem considerados venenosos e nojentos, acarretando
crueldades, e até sua morte (Alves et al., 2010; Moura et al., 2011).

Tabela 1. Respostas sobre a pergunta: você conhece alguma história sobre os anfíbios?

“Não, só falavam que os que soltam leite são venenosos, não pode mexer.”

“Única coisa que minha mãe falava esses de preferência que fica perto de casa, que dá
mas não é muito não. Evitar, deixar o bicho quieto, porque quando urina voa dentro do
olho da pessoa.”

304
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

“Eu sei que Augusto Ruschi morreu pelo sapo, né?”

“Não, não. Só essa mesmo de que não era bom ficar brincando com eles, pra não fazer
xixi no olho, mas nem sei se é verdade. Dizem que se cair no olho cega, então eu tenho
o maior medo de acontecer com os meninos.”

Os anfíbios sempre foram discriminados e muitos dos motivos das pessoas terem
esse sentimento é por seus pais fantasiarem essas histórias para protegê-los; essa
justificativa foi citada por uma entrevistada. É possível enxergar uma relação estreita
entre estes dois últimos questionamentos, quando praticamente metade das pessoas se
posicionou neutra ao serem indagadas sobre seus sentimentos e metade das respostas foi
negativa quando questionados sobre a ciência ou lembrança de histórias envolvendo
anfíbios. Desta forma, isso pode indicar que em zona rural os anfíbios não se
apresentam como uma ameaça de fato aos moradores, uma vez que suas atividades
diárias permitem maior contato com estes animais. Oliveira & Freire (2015), citam que
a presença de anfíbios em áreas agrícolas foi mencionada por 79% dos participantes.
Como parte dos entrevistados deste estudo trabalha em áreas agrícolas,
consequentemente há um maior contato com os anfíbios anuros em áreas como
plantações de café e áreas úmidas, justificando assim maior tolerância com os anfíbios.
Quando questionados sobre a existência desses animais próximos as suas residências,
todos responderam que há anfíbios em suas propriedades. Ao especificarmos sobre o
local onde os anfíbios foram avistados, a maioria (N=8) respondeu no terreiro (área
externa a residência). Quatro dos entrevistados responderam que encontram com esses
animais na lavoura de café e em corpos d'água (lagoa, rio, poço) (Figura 3).

Figura 3. Resposta sobre o local onde os entrevistados viram anfíbios.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A maioria dos entrevistados disse visualizar os anfíbios em volta (terreiro) de


suas residências. Este resultado está diretamente relacionado às respostas da questão
sobre o que estes animais comem. Quinze entrevistados apontaram os insetos como
principal alimento dos anfíbios anuros. Podemos observar que o fato dos anuros,
principalmente os sapos, se exporem mais durante a noite em buscas de invertebrados,
que por sua vez são atraídos pelas luzes das residências, proporciona este contato com
as pessoas. Estes resultados também foram registrados por Oliveira & Freire (2015), em
estudo realizado em áreas agrícolas do semiárido brasileiro, onde a maioria dos
entrevistados (N=48%) disse haver um controle populacional dos insetos por eles serem
fonte de alimento para o sapo-cururu. Para obter informações sobre o período de
atividade dos anfibios, fizemos a seguinte pergunta: você vê mais sapo, rã e perereca de
dia ou de noite? Entre os dezoitos participantes, dezesseis responderam que veêm esses
animais mais no período noturno, e complementaram dizendo que eles frequentam os
quintais e varandas a noite, rodeando luzes das casas e postes em busca de alimentos.
Duas pessoas responderam que veêm os anfíbios durante dia, e complementam dizendo
que esse contato visual ocorreu durante a “panha” do café, pois segundo estes
participantes “algumas pererecas esverdeadas e brancas ficam escondidas dormindo nas
folhas do café”. Estas respostas tem relação com a seguinte pergunta: o que os anfíbios
comem? Do total dos participantes (N=18), quinze responderam que os anfibios anuros
comem moscas e borboletas, se remetendo à algumas lembranças de cenas vistas de
sapos embaixo de postes a espreita de insetos para se alimentarem; uma pessoa disse
que comem minhocas e larvas e duas não souberam responder. Quando questionados se
já mataram algum anfíbio e como, de todos os entrevistados (N=18), quatorze pessoas
(N=77%) disseram nunca ter matado ou ferido algum anfíbio. Das quatro pessoas
restantes, duas mulheres afirmaram ter matado uma vez algum desses animais; duas
mulheres disseram ter jogado sal em um individuo de anfíbio para espantá-lo. Percebe-
se que para esta questão os homens se mostraram mais tolerantes aos anuros em relação
as mulheres, que por sua vez tiverem atitudes enérgicas ao se sentirem ameaçadas por
estes animais. Podemos observar mais um fator favorável aos anfíbios quando obtemos
as seguintes respostas do questionamento: qual sua atitude quando se depararam com
sapo, perereca ou rã. Metade (N=9) dos entrevistados disse não fazer nada, seguido de
uma pessoa que disse proteger os anfíbios; seis entrevistados disseram espantar com a
vassoura quando percebem a presença de sapos e pererecas dentro de suas residências;
uma pessoa disse jogar sal; e outra disse jogar água nos sapos quando eles se
aproximam de sua varanda, pois, segunda este participante, os sapos gostam de água.
Quando questinados sobre a utilidade/importância dos anfibios, 12 entrevistados
afirmaram que estes animais tem utilidade na cadeia alimentar e controle de insetos. Na
tabela 2 é apresentado algumas respostas.

Tabela 2. Respostas sobre a pergunta: você sabe se sapo, perereca e rã tem alguma
utilidade para o ser humano?
“Controla os insetos”
“Cadeia alimentar, um vai comendo o outro. Mas pra mim não. fora a rã q come, não
sei.”
“Acho q sim, controla os insetos que prejudicam as lavouras”
“Cadeia alimentar, um vai comendo o outro. Mas pra mim não. fora a rã q come, não
sei.”

306
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

“Acredito que naturalmente serve pra controlar praga, brocas, os bichos que destroem
a lavoura. A rã eles aproveitam.”

A princípio, quando questionados, de forma geral, se é possivel utilizar os


anfibios para alimentação humana, todos os entrevistado afirmaram que humanos não
podem comer anfíbios. Porém, com o decorrer da conversar 83% especificaram que
poderiam comer somente a rã. Em contra partida, 17% das respostas afirmaram que
anfibio nenhum é comestível. Onze pessoas afirmaram que os anfibios não podem ser
pegos na mão, quando indagadas se sapo, rã ou perereca pode pegar na mão? Cinco
pessoas disseram que podem sim ser pegos na mão; apenas uma pessoa disse não saber
e uma disse que só a rã pode ser pega. Quando questionadas sobre o motivo dessa
resposta, as pessoas responderam que os anfibios podem dar cobreiro, micoses ou
mesmo não pegam por medo e nojo. Este resultado também foi encontrado em Seger e
colaboradores (2011). Isso evidencia a falta de conhecimento acerca da ecologia dos
anfibios, demonstrando que há uma lacuna de ações de educação ambiental em
ambientes não formais. Desta forma isso sustenta os mitos e lendas a repeito dos
anfibios.

CONCLUSÃO

Percebe-se que a maioria dos participantes tem a percepção da existência dos


anfíbios, e se mostraram tolerantes a esses animais. Sobre a ecologia dos anfíbios os
entrevistados também mostraram conhecimento sobre as informações básicas, como:
alimentação, reprodução, onde vivem e importância e utilidade. É provável que a ação
para popularização da ciência promovida pelos autores deste estudo, resulte em maior
conhecimento e conservação dos anfíbios por meio dos moradores do entorno da
RBAR, visando assim a relevância e importância deste e outros grupos faunísticos.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Projeto Bromeligenous pelo suporte logístico.

LITERATURA CITADA

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308
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Gestão Ambiental

O USO DE CHIRONOMIDAE (INSECTA: DIPTERA) COMO


BIOINDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL AQUÁTICA: UM
LEVANTAMENTO SOBRE OS TRABALHOS REALIZADOS NO BRASIL

Aurélio Castro SCHMITTEL1* & Arlindo SERPA-FILHO2


1
Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA)
2
Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA)
*e-mail: bio.aurelio@gmail.com.

INTRODUÇÃO

Os estudos de biomonitoramento fazem uso de resposta (alterações) que


organismos indicadores demonstram, apresentando-se de maneira importante para a
avaliação dos ambientes que se encontram alterados tanto por ações antrópicas, quanto
para alterações biológicas (Allan et. al, 1997; Allan & Johnson, 1997). Callisto et al.,
(2005) diz que os insetos aquáticos, são classificados como macroinvertebrados
bentônicos e são amplamente utilizados como bioindicadores de qualidade da água e
saúde de um ecossistema por apresentarem as características de: ciclo de vida longo,
chegando a viver em torno de semanas, meses ou até mesmo mais de um ano;
organismos grandes (maiores de 125mm ou 250mm); sésseis ou de baixa mobilidade,
sendo quase sedentários, assim, são mais fáceis de serem amostrados. Geralmente
encontra-se uma alta riqueza dos grupos de diversos macroinvertebrados, mas, apenas
um tem a possibilidade, na classificação de insetos, em persistir em ambientes com alto
grau de alteração antrópica ou que tem liberação de efluentes industriais, os
Chironomidae. Eles podem indicar que o ambiente possui altos valores de matéria
orgânica, pois dentre suas características, apresenta baixa mobilidade motora e que
contribui como um fator importante no grupo macroinvertebrados bentônicos, pois, se
tornam os organismos mais distribuídos e abundantes nos ecossistemas de água doce
(Epler, 2001, da Silva et al. 2008). Estudos com macroinvertebrados aquáticos tem
buscado estabelecer fatores da diversidade e distribuição dos insetos aquáticos. O qual
tem ganhado espaço na literatura, principalmente, ao permitir a comparação da fauna
dos insetos aquáticos com a ação antrópica com a qual esperada sem esta perturbação
(Cardoso-Leite & Bispo, 2010). Representado por organismos resistentes, as larvas da
família Chironomidae, pertencente à ordem Diptera, são capazes de viver em lugares
sem oxigênio. São detritívoras e sua alimentação é de matéria orgânica (sedimentos), o
que favorece sua adaptação a diversos ambientes. Assim como os Oligochaeta, os
Chironomidae possuem o hábito de viver na faixa bentônica, mas também podendo
viver em qualquer outro habitat (da Silva et al., 2008). Os insetos da família
Chironomidae, Macquart, (1838), possuem ampla distribuição biogeográfica
demonstrando alta diversidade de espécies. Os imaturos podem ser encontrados tanto no
Ártico quanto na Antártica, em zonas abissais das mais profundas coleções de
ambientes dulcícolas do mundo, assim como em áreas montanhosas, poças de água,
água com alta concentração de material orgânico em decomposição, rios, riachos, lagos,
lagoas, nas regiões marinhas onde os imaturos colonizam o bento do litoral marinho e
em fitotelmas (Ashe, 1983; Reiss, 1982; Ashe et al., 1987; Armitage et al. 1995). O
presente estudo buscou reunir artigos que trouxessem informações sobre Chironomidae,

309
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

utilizando como palavras chave principais “biomonitores”, “índices biológicos”


associadas ao termo “Chironomidae” As informações foram extraídas de artigos que
relatam o tema publicados nos últimos 15 anos no Brasil. Com isso foi possível
observar as lacunas que ainda existem em torno do assunto e assim verificar possíveis
ações que possam preenche-las.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa foi realizada, através de um levantamento bibliográfico,


objetivando gerar novos conhecimentos teóricos úteis e gerar subsídios ao avanço
científico sobre as questões referentes aos temas biomonitoramento e sobre a família
Chironomidae, sem obrigação de realizar uma pesquisa de caráter prático. Esta pesquisa
é classificada como exploratória, pois, visa conhecer fatos e fenômenos relacionados ao
tema, através de um levantamento bibliográfico e descritivo, realizado pela internet de
artigos publicados no Brasil no período de 15 anos entre 2000 e 2015, em que
referenciam a família Chironomidae e trabalhos de biomonitoramento. Acessando os
sites do Google Acadêmico (scholar.google.com.br), Scielo (scielo.br), Dialnet
(dialnet.unirioja.es), Periódico Capes (periódicos.capes), Associação Brasileira de
Limnologia (ablimno.org.br), Web of Science (webofknowledge.com) e Fórum
Ambiental da Alta Paulista (amigosdanatureza.org.br), foram utilizadas as palavras
chaves: Chironomidae, biomonitoramento e índices biológicos, também usados de
formas compostas: Chironomidae e índices biológicos e Brasil ou Chironomidae e
biomonitoramento e Brasil. Os trabalhos buscados foram organizados de acordo com a
ordem cronológica, elaborando uma tabela contendo as seguintes informações: título,
autor/ano, comentário e o estado em que foi desenvolvido. Após o termino da
elaboração da tabela, foi possível analisar e classificar os trabalhos como sendo: “sobre
levantamento”, “uso de índices”, e “alterações morfológicas”, com essa classificação
podemos analisar os artigos de acordo com o uso dos Chironomidae para o diagnóstico
ambiental das áreas, abordando qual é a forma mais utilizada e a menos utilizada pelos
pesquisadores atuais, formando assim uma lista onde contém a citação do trabalho. Foi
possível realizar um levantamento da distribuição dos trabalhos já publicados de acordo
com seus respectivos estados brasileiros, apresentando o valor relativo ou valor absoluto
em cada um dos estados em cada região, gerando gráficos de números de artigos/estado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram localizados 50 artigos (Tabela 1*) que referenciaram a família em


trabalhos de biomonitoramento, todos preenchendo os pré-requisitos. A busca dos
artigos foi efetuada via internet e estes foram sistematizados em tabela.

Tabela 1. Organização e sistematização dos artigos encontrados. * está tabela é um


esboço da tabela final da organização dos artigos localizados.
Área de
Título do artigo Autores/ano Descrição do artigo
estudo

310
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Foi observado nesse artigo, que fazem


uso dos chironomidae como
bioindicadores em pontos no rio e
Organismos bentônicos
também no reservatório de Sobradinho,
bioindicadores da
Queiroz et. onde que no rio foi detectada uma
qualidade das águas da Bahia (BA)
al. (2000) espécie que costuma ser encontrada em
bacia do médio São
locais eutrofizados, o estudo trouxe a
Francisco
necessidade de se fazer estudos mais
detalhados no rio desde sua cabeceira à
sua foz.
Neste artigo os autores fizeram uso das
Using Chironomus larvas de Chironomus para detectar a
(Chironomidae: diptera) Kuhlmann presença das alterações no aparelho São Paulo
mentum deformities in et. al, (2000) bucal como ferramenta para o (SP)
environmental assessment. biomonitoramento de ambientes
aquáticos.

Deformities in larval Neste trabalho os autores estudaram a


Chironomus (diptera, ocorrência das anomalias no gênero
Callisto et. São Paulo
Chironomidae) from the Chironomus, associando com a
al, (2000) (SP)
Piracicaba river, southeast presença de metais pesados na coluna
brazil. d’água.

Estes posteriormente foram classificados de acordo com o uso da referida


família, indicando as palavras-chave usadas nos trabalhos e separando-as em três
tópicos conforme abaixo na tabela 2.

Tabela 2. Listagens dos artigos localizados e separados pela metodologia aplicada em


seus estudos.

Abílio et. al, (2005); Abílio et. al, (2007); Aburaya & Callil (2007); Amorim &
Castillo (2009); Amorim et. al, (2004); Batista et. al, (2010); Biasi et. al, (2010);
“Levantamento” Galdean et. al, (2000); Giulliati & Carvalho (2009); Leal et. al, (2004); Peiró &
Alves (2006); Queiroz et. al, (2000); Rosin & Takeda (2007); Sanserverino &
Nessimian (2008); Silveira et. al, (2006); Trivinho-Strixino & Strixino (2005).

Anjos et. al, (2011); Baptista et. al, (2013); Barbola et. al, (2011); Barrili et. al,
(2012); Callisto et. al, (2001); Copatti et. al, (2010); Copatti et. al, (2014); Couceiro
et. al, (2012); Da Silva et. al, (2007); Da Silva et. al, (2008)¹; Da Silva et. al,
(2008)²; Da Silva et. al, (2011); Dornifeld et. al, (2005); Ferreira et. al, (2012); Hepp
et. al, (2008); Kleine & Trivinho-Strixino (2005); Konig et. al, (2008); Mazzoni et.
“Uso de índices” al, (2014); Milesi et. al, (2008); Monteiro et. al, (2008); Morais et. al, (2010);
Nascimento et. al, (2011); Nunes et. al, (2014); Oliveira & Callisto (2010); Piedras
et. al, (2006); Resende & Takeda (2007); Rocha et. al, (2012); Santana et. al,
(2009); Silva et. al, (2007); Suriano & Fonseca-gessner (2004); Taniwaki & Smith,
(2011); Teles et. al, (2013).

“Alterações Biasi & Restello, (2010); Callisto et. al, (2000); Kuhlmann et. al, (2000).
morfológicas”

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Algo notado em todos os trabalhos referentes ao tema, é que todas as


metodologias foram acompanhadas de analises físico-químicas dos ambientes aquáticos
estudados. Dos artigos lidos e buscados cerca de 31 (64 %) dos artigos já publicados são
feitos com uso de índices para obtenção dos resultados, e 16 artigos (32 %) fazem uso
do levantamento e 3 artigos (4 %) fazem uso das alterações morfológicas para o
diagnóstico ambiental das áreas. Dos trabalhos pesquisados cerca de 44% (22 artigos) se
encontram na região sudeste, e cerca de 30% (15 artigos) na região sul, já a região
nordeste contribuiu com 6 artigos, cerca de 12 %, a região centro-oeste contribuiu com
5 artigos, cerca de 10% e a região norte foram encontrados 4% (2 artigos) (Gráfico 1).

4% 10%
Sul
30% Sudeste
12% Nordeste
Norte
Centro -Oeste
44%

Figura 1. Distribuição dos artigos localizados por macrorregiões brasileira em %

Quando conduzimos a pesquisa sobre os estados, podemos observar a


predominância dos estado de São Paulo (SP), com 13 artigos, cerca de 26%, seguido
pelos estados do Rio Grande do Sul com 10 (20%), seguido por Paraná (PR) e Minas
gerais (MG) com 5 artigos respectivamente cerca de 10%, Rio de Janeiro (RJ) aparece
com 4 artigos, cerca de 8% cada, Paraíba (PB) e Mato Grosso do Sul (MS) possuem 3
artigos respectivamente cerca de 6% e os estados que contribuíram com 1 artigo, cerca
de 2% cada, sendo eles os estados de Sergipe (SE), Goiás (GO), Amazonas (AM),
Bahia (BA), Rio Grande do Norte (RN), Pará (PA) e Mato Grosso (MT) (Gráfico 2*).

15

10

BA SE RN PA AM GO MT MS PB RJ MG PR RS SP

Figura 2. Distribuição dos artigos localizados por estados brasileiros. * Os estados não
presentes ou ausentes no gráfico não possuíam dados sobre o tema.

Adentrando às macrorregiões brasileiras (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul


Sudeste) podemos observar diversas lacunas que ainda precisam ser preenchidas com
estudos, como na região sul podemos notar uma superioridade do Rio Grande do Sul, o

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

que pode estar ligado com a presença de instituições de pesquisas da região, e a


ausência de artigos produzidos e publicados referente ao tema estudado no estado de
Santa Catarina, podendo estar relacionado pela falta de incentivo a trabalhos desse tema
ou pela falta de interesse dos pesquisadores na região no estado. Na Região Sudeste,
observamos a superioridade do estado de São Paulo em relação aos outros estados,
observando também a ausência de artigos no estado do Espirito Santo, Isso ocorre não
só pelos centros de pesquisa, mas, também pelo apoio financeiro e incentivo à
realização dos trabalhos. Outro fator a ser apresentado como uma possível justificativa
seria o fato desta ser uma região mais impactada, com bastante poluição antrópica. Na
Região Centro-Oeste, pode-se observar que Mato Grosso é o estado com mais artigos
publicados sobre o tema estudado, onde o Distrito Federal não possui, podemos dizer
assim que isso se dá pelo fato da região sul mato-grossense se localizar próximo dos
laboratórios de pesquisa de SP e Paraná, onde que pesquisadores vão ao estado fazer
essas pesquisas, ou então, pode-se ter um maior incentivo financeiro nessa região do
que nas demais. Na região Nordeste, a Paraíba é o estado com maior quantidade de
artigos, sendo observado também que os estados de Alagoas, Ceará, Maranhão,
Pernambuco e Piauí, não possuem artigos publicados, visto que quase todos os estados
próximos ao litoral e com presença da Mata Atlântica já tiveram estudos sobre o tema,
podendo ser justificativa para uma maior dominância nessas áreas, o fato da Paraíba ser
dominante na região, pode se dar pela riqueza de espécies encontradas na área e por
possuir laboratórios de pesquisas. Na Região Norte, observa-se que os estados de
Amazonas e Pará possuem um artigo cada e os demais estados da região não possuem, o
que é bem negativo já que possuem ainda os maiores remanescentes de Floresta
Amazônica, o que demonstra uma possível lacuna na divulgação dos artigos ou de
interesse da comunidade cientifica em trabalhar com a questão do biomonitoramento.

CONCLUSÃO

Com este trabalho foi possível observar as lacunas que ainda existem em torno
do tema e assim poderá ser tomada as devidas ações que possam preenchê-las. Dos
artigos localizados, mais da metade faz referência ao uso da família com índices para
avaliação ambiental, e a forma menos utilizada é a análise das deformidades de algumas
espécies, já que é muito complicado chegar ao conhecimento de qual espécie encontra-
se no ambiente estudado, A macrorregião brasileira com maior quantidade de trabalhos
localizados foi a região sudeste, tendo o estado de São Paulo com a maior quantidade de
artigos localizados, sendo explicado por possuir regiões degradadas necessitando o
acompanhamento de sua qualidade, possuir instituições de pesquisa e apoio financeiro.

LITERATURA CITADA

Allan, J. D., Erikson, D. L., Fay, J. 1997. The influence of catchment land use on stream
integrity across multiple spatial scales. Freshwater Biology, v37, p.49-161.

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Freshwater Biology, v. 37, p. 107-111.

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314
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ADUBO ORGÂNICO COMO ALTERNATIVA NA ADUBAÇÃO


NITROGENADA DO MILHO E AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE
ECONÔMICA

Alexandre Morais BORGES1*, Milson de Oliveira LOPES1, Lázaro Brito BORGES2


1
Instituto Federal do Espírito Santo – campus Santa Teresa
2
Escola Família Agrícola de Chapadinha
*alexandreboorges@gmail.com
INTRODUÇÃO

O milho (Zea mays L.) é uma das espécies mais cultivadas no Brasil, sendo que
a cultura é de grande importância para o agronegócio nacional, além de servir como
base de sustentação para as pequenas propriedades (Oliveira et al, 2009). Anualmente,
são cultivados aproximadamente quinze milhões de hectares, os quais são responsáveis
por cerca de 78 milhões de toneladas de grãos (IBGE, 2015). No entanto, para que a
cultura possa alcançar um bom desempenho produtivo, é necessário que as suas
demandas nutricionais sejam atendidas, para isso se faz necessário realizar práticas,
como de adubação.
Entre as práticas de fertilização recomendadas para a cultura do milho, a
adubação nitrogenada é considerada a mais importante. Segundo Meira et al. (2009) o
nitrogênio é o nutriente mineral mais exigido pelo milho, podendo se tornar um fator
limitante no desenvolvimento da cultura, sendo necessário o uso de adubação
nitrogenada para complementar a quantidade fornecida pelo solo.
O manejo da adubação nitrogenada é um dos mais complexos, devido a fatores
relacionados ao custo dos fertilizantes nitrogenados em decorrência de problemas na
eficiência de algumas fontes (Menezes, 2004) e ao seu potencial poluente, tanto para as
águas de superfície quanto subterrâneas. As transformações e perdas características
desse nutriente ocorrem por processos de mineralização e imobilização, nitrificação e
desnitrificação, lixiviação e volatização (Bono et al, 2008)
Algumas fontes são utilizadas para atender às exigências de nitrogênio, dentre
elas a ureia, que se destaca no Brasil por apresentar alta concentração de nitrogênio
(44% de N) na forma de amina, porém apresenta expressivas perdas por volatilização de
NH3 e perdas por lixiviação (Civardi et al., 2011). A quantidade de N perdida por
volatilização, após a aplicação de ureia sobre a superfície do solo, pode atingir valores
extremos de até 78 % do N aplicado (Cabezas et al., 1997).
Várias estratégias estão sendo adotadas para minimizar as perdas no emprego de
fertilizantes nitrogenados solúveis como a ureia, entre elas a utilização de nitrogenados
com liberação controlada. Esses fertilizantes possuem a característica de serem
envolvidos por partículas menos hidrossolúveis, que dificultam a ação imediata de
enzimas como a uréase, consequentemente, os mesmos são disponibilizados de forma
gradativa para as plantas. Segundo Cantarella (2008), experimentos conduzidos nos
EUA mostraram maior eficiência no uso de nitrogênio da ureia protegida em relação à
ureia normal (sem revestimento), principalmente em solos arenosos.
Por outro lado, a utilização de fontes orgânicas de nitrogênio, tais como o
esterco de galinha, vem se tornando uma alternativa interessante para os produtores da
região serrana do estado do Espírito Santo, o que tem sido favorecido pela alta
concentração de granjas. Além de melhorar os atributos físicos do solo, o esterco de
galinha possui Nitrogênio na sua composição química. Entretanto, os efeitos são

315
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

altamente dependentes da quantidade de esterco aplicada por unidade de área, haja vista
que a concentração de Nitrogênio é uma das principais dificuldades que limita
integralmente a utilização do esterco de aves como fonte de nitrogênio.
Diante do potencial de produção de esterco de galinha no estado do Espírito
Santo associado à escassez de estudos sobre a sua viabilidade econômica em culturas, o
presente estudo objetivou avaliar comparativamente o esterco de galinha com outras
fontes de adubação nitrogenada a fim de verificar o seu desempenho agronômico e o
retorno econômico em relação ao custo/benefício.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado no setor de culturas anuais do Instituto Federal do


Espirito Santo, campus Santa Teresa, com altitude média de 130 m, em solo classificado
como Latossolo Amarelo Eutrofico, textura argilosa.
O delineamento experimental foi em blocos casualizados (DBC) com sete
tratamentos e quatro repetições, totalizando 28 unidades experimentais. Os tratamentos
(T) utilizados foram: T1: ureia comum; T2: ureia protegida; T3: esterco de galinha; T4:
mistura de ureia comum (25%) + esterco de galinha (75%); T5: mistura de ureia comum
(50%) + esterco de galinha (50%); T6: mistura de ureia comum (75%) + esterco de
galinha (25%), T7: testemunha, sem aplicação de nitrogênio. A dosagem de Nitrogênio
utilizada nos tratamentos foi de 100 kg/ha, o qual está de acordo com o Manual de
Recomendação de Calagem e Adubação para o Estado do Espirito Santo (Prezotti et. al.
2007).
O plantio foi realizado em janeiro de 2016, com o espaçamento de 0,80 cm e
com densidade de plantio de 4 plantas/metro (Figuras 1 e 2). Cada unidade experimental
foi composta por quatro linhas de cultivo com cinco metros de comprimento, das quais
foram avaliadas como área útil, as duas linhas centrais, desprezando-se 0,5 metros em
ambas as extremidades. As irrigações foram realizadas utilizando-se um pivô central.
Ao longo do desenvolvimento da cultura vivenciou uma escassez hídrica, contudo os
resultados foram bastante satisfatórios (Figuras 3 e 4).

Figuras 1 e 2. Sulcos utilizados para semeio (esquerda) e plantas de milho com 30 dias
de idade (direita).

316
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3 e 4. Milho recém-adubado com ureia comum (direita) e milho seco com 110
dias após o plantio (esquerda).

Os dados foram coletados em maio de 2016, sendo avaliados os seguintes


parâmetros: número médio de fileiras de grãos por espiga; número médio de grãos por
fileiras; massa de 1000 grãos e produtividade de grãos com 13% de umidade. Foi
realizada análise estatística, baseada em teste Tukey a 5%, para a melhor visualização
dos resultados obtidos. Para cada tratamento, em função das fontes de nitrogênio, foi
calculada a receita obtida com a produção de milho. Além disso, considerando os
valores dos custos das fontes nitrogenadas foi calculada a fonte que obteve o maior
retorno econômico. Cabe ressaltar que não foram calculados os custos de frete e mão de
obra utilizada para distribuir os insumos, visto que esses valores podem variar de acordo
com a região.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos para o número de fileiras de grãos e número de grãos por


fileira encontram-se expressos na Tabela 1. Observa-se que, exceto a testemunha (T7),
os demais tratamentos não apresentaram diferenças significativas. Esse comportamento
pode ser explicado pelo fato de fatores genéticos interferirem de maneira mais
significativa para essas variáveis analisadas. Entretanto, o tratamento que não foi
utilizada nenhuma adubação nitrogenada apresentou diferença estatística pelo teste
tukey a 5%, o qual salienta que mesmo que fatores do genótipo interno sejam
fundamentais para determinar o incremento de número de fileiras e de grãos por fileira a
ausência de adubação nitrogenada interfere de forma negativa nessas variáveis.

Tabela 1. Números de fileiras e número de grãos de milho por fileira em função do


tratamento.
Número de grãos por
Tratamentos Número de Fileiras
fileira
T1 15,15 a 31,55 a
T2 15,17 a 31,17 a
T3 15,35 a 32,68 a
T4 15,32 a 32,47 a
T5 15,20 a 31,20 a
T6 15,15 a 31,15 a
T7 14,75 b 27,50 b
As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível
de 5% de probabilidade.

A tabela 2 apresenta os resultados da massa em gramas de 1000 grãos a 13 % de


umidade e a produtividade em toneladas por hectare. Observa-se que houve diferença
significativa entre os tratamentos, sendo que no tratamento que utilizou somente esterco
de galinha (T3) como fonte de nitrogênio, a média de 1000 grãos foi maior que as
demais. O comportamento do esterco de galinha provavelmente foi decorrente dos
benefícios complementares da matéria orgânica que melhora as propriedades do solo,
resultando em maior crescimento e desenvolvimento das plantas, especialmente pela

317
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

maioria dos solos brasileiros apresenta baixa disponibilidade de fósforo que é


potencializada pela acidez (Durigon et al., 2002).

Tabela 2. Massa de 1000 grãos de milho a 13 % de umidade em função do tratamento.


Tratamentos Massa (g) de 1000 grãos Produtividade ton.ha-1
T1 212,8 c 5,063 cd
T2 209,5 c 5,075 cd
T3 227,7 a 5,660 a
T4 217,6 b 5,370 b
T5 214,2 bc 5,130 c
T6 213,5 bc 4,900 d
T7 180,0 d 3,640 e
As médias seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo Teste de Tukey ao nível
de 5% de probabilidade.

Observa-se, ainda, que o tratamento composto de adubação integral de esterco


de galinha apresentou a maior produtividade por hectare. Os tratamentos de ureia
comum e protegida não apresentaram diferença estatística, já os tratamentos que
utilizaram diferentes percentuais de esterco de galinha e ureia comum apresentaram
diferença significativa, porém ficaram com produções inferiores ao tratamento que
utilizou somente esterco de galinha como fonte nitrogenada.
Segundo Brady (1989) embora certa fração da matéria orgânica dos estercos seja
decomposta e liberada em curto período após sua aplicação, outra fração é transformada
em húmus, que é mais estável; sob esta forma, os elementos são liberados lentamente.
Assim, os componentes do esterco, convertidos em húmus, exercerão influência nos
solos, de maneira persistente e duradoura.
Ao comparar os resultados de produtividade obtidos nesse trabalho, constata-se
uma divergência em relação aos resultados encontrados por Meira (2006), que realizou
trabalho com milho utilizando diferentes fontes de N convencionais e especiais e não
observou diferença significativa para as variáveis de produtividade. Por outro lado,
todas as médias de produtividade de milho estimadas no trabalho, em todos os
tratamentos, foram superiores à média do Estado.
Apesar do esterco de galinha ter proporcionado a maior produtividade, deve-se
salientar que o modelo de produção que utilize somente a adubação orgânica como
fonte de N possui como fator limitante a operacionalidade do processo, principalmente
em lavouras de grande extensão de área, uma vez que a distribuição do esterco de
galinha é um dos principais empecilhos. No entanto, o modelo de produção que utilize
apenas matéria orgânica pode se tornar uma medida bastante interessante para pequenas
propriedades. Assim, o ideal é que se busque o equilíbrio entre a utilização de fontes
químicas e orgânicas, haja vista que os tratamentos que utilizaram respectivamente,
75% e 50% de ureia e 25% e 50% de esterco de galinha, para atender a demanda de N,
apresentaram produtividade que não difere estatisticamente pelo teste Tukey a 5% de
probabilidade dos tratamentos que utilizaram integralmente apenas ureia comum e ureia
protegida.
A partir dos dados de produção, calculou-se o custo em função de cada fonte de
nitrogênio utilizada para se obter o respectivo retorno financeiro do investimento (tabela
3). Observa-se que o tratamento que utilizou somente esterco de galinha como fonte
nitrogenada apresentou a maior lucratividade, cerca de R$ 6.952,48. No entanto, os

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

tratamentos que utilizaram esterco de galinha tanto integralmente ou parcialmente


podem apresentar custos adicionais dependendo da região onde se localiza a
propriedade, haja vista que o frete é um dos principais fatores que onera o custo de
aquisição dessas fontes, e o seu valor é variável de acordo com a região.
Cabe ressaltar que o tratamento que não utilizou adubação nitrogenada
apresentou menor produtividade e menor retorno financeiro do investimento, o que
justifica a viabilidade do uso da adubação nitrogenada. De acordo com Veloso et al.
(2012) a utilização de nitrogênio na adubação de cobertura do milho reflete nos
processos bioquímicos da planta, melhorando a constituição de proteínas, enzimas,
coenzimas, ácidos nucléicos e clorofila, contribuindo para elevar a produtividade do
milho devido ao aumento da taxa fotossintética da planta, produzindo e acumulando
mais fotoassimilados nos grãos.

Tabela 3. Análise dos de custos em função da fonte nitrogenada aplicada e retorno


financeiro do investimento em função do tratamento.
Investimento
Produção Faturamento com a Fonte Retorno
Tratamentos
(kg.ha-1) (R$.ha-1)* Nitrogenada (R$.ha-1)
(R$)
T1 5063 6480,64 266,4, 6214,24
T2 5075 6496,00 310,00 6186,00
T3 5666 7252,48 300,00 6952,48
T4 5370 6873,60 291,00 6582,60
T5 5130 6566,40 281,94 6284,46
T6 4900 6272,00 279,47 5992,53
T7 3640 4659,20 - 4659,20
*Preço da saca de (50kg) de milho, comercializada em Vitória, ES, R$ 64,00.
Levantamento realizado 10/2016.

CONCLUSÃO

A ureia comum e a ureia protegida não apresentaram diferença estatística de


produtividade pelo teste Tukey a 5% de probabilidade. Em relação ao retorno
econômico financeiro, a ureia comum apresentou maior taxa de lucratividade quando
comparada com a ureia protegida.
O tratamento que utilizou integralmente esterco de galinha como fonte
nitrogenada apresentou a maior produtividade, 5666 kg.ha-1 e o maior retorno
econômico R$ 6952,48.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal do Espírito Santo, campus Santa Teresa, pelo apoio na


realização deste estudo.

LITERATURA CITADA

Bono, J. A. M. Rodrigues, A. P. A. C.; Manuad, M.; Albuquerque,J. C.; Yamamoto, C.


R.; Chermouth, K. S.; Freitas, M. E. 2008. Modo de aplicação de fertilizantes
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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Brady, N. C. 1989. Natureza e propriedades dos solos. Rio de Janeiro: Freitas Bastos,
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Cantarella, H. 2008. Fontes alternativas de nitrogênio para a cultura do milho.


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Civardi, E. A.; Silveira Neto, A. N.; Ragagnin, V. A.; Godoy, E. R.; Brod, E. 2011.
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320
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

AVALIAÇÃO DA DEGRADAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS: UM


ESTUDO DE CASO NO INTERIOR DE SANTA TERESA - ES

Alexandre Morais BORGES*, Francisco Braz DALEPRANE; Raylander Bregonci


COLOMBO, Duarte Frederico HELL & André Lucas Reboli PAGOTO
Instituto Federal do Espírito Santo – campus Santa Teresa
*alexandreboorges@gmail.com

INTRODUÇÃO

Segundo Silva et al. (2016), os estudos sobre a temática ambiental vêm


ganhando importância para diversos segmentos da sociedade, tornando-se o foco de
estudantes, pesquisadores e órgãos públicos. O desenvolvimento e os avanços dos meios
tecnológicos ligados à falta de sensibilização por parte do ser humano diante dos
recursos ambientais estão ocasionando desequilíbrio e aumento nos índices de
degradação do meio ambiente (Silva et al., 2016).
A degradação ambiental quando chega aos níveis mais graves provoca impactos
sociais, econômicos, culturais, políticos e principalmente ao ambiente. Essa degradação
vem se intensificando ao longo dos anos, o que tem reduzindo a fauna e a flora silvestre,
proporcionando severas perdas econômicas na agricultura (Sousa et al., 2007). Assim, a
ação antrópica negativa ocasiona perda da biodiversidade e da qualidade de vida da
população, seja rural ou urbana (Silva et al., 2015).
Atualmente o processo produtivo na agricultura é altamente dependente de
produtos e técnicas que degradam o meio ambiente, o uso abusivo de agrotóxicos e
adubos químicos, cultivos em áreas inapropriadas como topos de morros, uso intensivo
de maquinários agrícolas pesados, entre outros, contribuem de forma direta para a
degradação dos solos, assoreamento dos rios e poluição do solo e d´água.
Segundo dados da FAO (2015), 30% das terras agricultáveis do mundo
apresentam algum estádio de degradação, com percas anuais de aproximadamente 24
bilhões de toneladas de solos férteis, o que influencia diretamente nos aspectos de
produção animal, vegetal e alimentação humana, com dados alarmantes de uma
população com aproximadamente dois milhões de desnutridos (Roberts & Ryan, 2015).
Por outro lado, a conservação do solo e da água caracteriza um conjunto de
medidas capazes de manter ou recuperar as condições físicas, químicas e biológicas do
solo, estabelecendo critérios para seu uso e manejo de forma a não comprometer sua
capacidade produtiva. Estas medidas visam proteger o solo, prevenindo-o dos efeitos
danosos da erosão, da compactação e da contaminação, dentre outros problemas,
aumentando a disponibilidade de água e nutrientes e a atividade biológica do solo,
criando condições adequadas ao desenvolvimento das plantas (Paiva & Araújo, 2012).
O município de Santa Teresa está localizado na região serrana do estado do
Espirito Santo. Caracteriza-se por possuir pequenos agricultores que utilizam a
atividade cafeeira, pecuária e olericultura como principal fonte de renda. Nesse sentido,
com o objetivo de conhecer as situações atuais de degradação/conservação ambiental na
região, realizou-se um estudo observacional ao longo de um trecho do curso do rio
Santa Maria do Doce.

321
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo observacional foi realizado em agosto de 2015, sendo o ponto inicial


de observação consistiu no distrito de Várzea Alegre (Santa Teresa) até a divisa do
município de Santa Teresa e Itarana. Ao longo do percurso foram observadas as
seguintes variáveis: a) Cultivos em áreas improprias; b) Preparo do solo inadequado; c)
Plantios no sentido da vertente topográfica; d) Plantio em curvas de nível; e) Consórcio
de culturas; f) Uso de cobertura morta; g) Uso de capina intensiva; h) Prática de
queimada; i) Presença de terraços. Utilizou-se uma escala de 0 a 5 para quantificar o
peso das observações das variáveis no decorrer do percurso. Sendo, a nota 0 atribuída
quando a variável avaliada foi observada acima de quatro vezes; a nota 1 quando
observada quatro vezes; nota 2 quando observada três vezes; nota 3 quando observada
duas vezes; nota 4 quando observada um vez e a nota 5 quando não foi observada a
presença da variável no percurso realizado. Cada uma das variáveis expostas acima foi
avaliada para ambos os lados da estrada. Os dados obtidos foram quantificados a partir
das notas atribuídas para as variáveis observadas. Para uma melhor visualização e
interpretação dos resultados foram elaborados gráficos de teia com os dados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas figuras 1 e 2 estão indicados que os dados coletados apresentaram diferentes


notas para as variáveis observadas no decorrer da área de estudo. As letras (A-I) se
referem às variáveis, e os números (1-6) se referem às escalas. A análise é feita
observando a posição da letra com o número, tendo como referencial o centro do gráfico,
nesse sentindo as linhas o gráfico de teia representa o nível de intensidade para cada
variável avaliada. Abaixo é fornecida uma discussão das variáveis.

Figura 1. Distribuição das notas de avaliação das variáveis (referente à margem direita
da rodovia que liga Várzea Alegre a Itarana).

Figura 2: Distribuição das notas de avaliação das variáveis (referente à margem


esquerda da rodovia que liga Várzea Alegre a Itarana).

322
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Sendo:

a) Cultivos em áreas improprias: a região serrana situada entre Santa Teresa e Itarana se
caracteriza por ser uma área com declividade bastante acentuada. Diante disso, os
processos de cultivos nessas áreas devem ser tratados com bastante cautela, haja vista
que a utilização sem critérios pode acelerar e favorecer o processo de erosão. No
entanto, atualmente, observou-se cultivos de larga escala em áreas inapropriadas, tais
como a presença de lavouras de café em topos de morros e cultivos em áreas com
declividade superior a 45%. Sendo observados com maior frequência em ambos os
lados das margens da rodovia.

b) Preparo do solo inadequado: o preparo de solo nessa região se caracteriza por ser
bastante tradicional, ou seja, os produtores utilizam da aração e gradagem para o
preparo dos seus terrenos. Porém, observa-se que essas técnicas são empregadas de
forma inadequada, haja vista a alta incidência de áreas que são aradas de morro abaixo.
Ao fazer aração e gradagem em sentido vertente à topografia do terreno o produtor
aumenta os índices de erodibilidade do solo. Acredita-se que o principal motivo para ser
utilizar tal método está relacionado com a sua facilidade operacional, porém, sabe-se
que esta técnica contribui para a degradação do solo e sua utilização não é mais
recomendada.

c) Plantios no sentido da vertente topográfica: observou-se que o uso de plantio de


culturas no sentido da vertente topográfica é bastante comum pelos os produtores,
plantios de café e eucalipto se destacam neste quesito na referida avaliação. Logo, isto
acaba favorecendo a erosão do solo e a consequente perda de fertilidade da área, haja
vista que utilizando esse método de distribuição espacial de plantas, os processos
erosivos são favorecidos. Acredita-se que a adoção dessa prática é devido a falta de uma
assistência técnica para a maioria dos produtores da região avaliada.

d) Plantio em curvas de nível: a utilização de linhas em curvas de nível é bastante


frequente na região. Utilizadas principalmente em culturas como o café, em que a

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

mesma possui a função de diminuir a força das enxuradas, minimizando a erosão,


aumentam a umidade do solo, ao impedir a descida rápida da água e aumentam a
produção da lavoura, pois as substâncias nutritivas não são perdidas pelo processo de
erosivo.

e) Consórcio de culturas: observou-se a utilização de consórcios entre culturas de café x


banana. No decorrer do trecho não houve a incidência de utilização de leguminosas a
fim de melhorar as condições físicas e químicas do solo. Os produtores também não
utilizam cordões vegetativos e quebra ventos. Isso pode ser explicado pela falta de
conhecimento dos benefícios que os mesmos podem proporcionar ao solo.

f) Uso de cobertura morta: no decorrer de todo percurso foi observada somente seis
vezes a utilização de cobertura morta, acredita-se que isso está relacionado com intensa
utilização de herbicidas, que por sua vez dificulta a manutenção da cobertura morta.
Sabe-se que a cobertura morta é uma prática essencial para a conservação de água no
solo e para a prevenção de possíveis erosões provocadas pelo o impacto da gota da
chuva no solo.

g) Uso de capina intensiva: os sinais do uso da capina intensiva foram observados por
diversas vezes, caracterizando uma técnica extremamente difundida na região. O
emprego da mesma vem a favorecer a erosão, culminado na perda de potencial
produtivo do solo. Observou-se capinas intensivas nas culturas de café, pimenta do
reino, tomate e mamão. Durante a avaliação percebeu-se que foram utilizados métodos
químicos (herbicidas) ou manuais (enxadas) para o controle das ervas daninhas
presentes nas lavouras. Sendo assim, podemos afirmar que se faz necessário um apoio
técnico por parte de empresas privadas e públicas com o objetivo de disseminar práticas
que visam a conservação do solo.

h) Prática de queimada: a prática de queimada é bastante comum em áreas de pastagem


na região, a mesma é utilizada com intuito de fornecer matéria orgânica prontamente
disponível para as gramíneas, favorecendo a rebrota da mesma após as chuvas. Porém,
em contra partida, a mesma danifica as propriedades microbiológicas do solo e favorece
a impacto direto da chuva no solo, o que pode culminar em processos erosivos (Araújo
& Paiva, 2003).

i) Presença de terraços: observou-se a presença de terraço, que possibilita a contenção


da água da chuva, favorecendo a infiltração da água no solo, diminuindo os efeitos de
enxurradas causadas pela água das chuvas, que, consequentemente, reflete no menor
assoreamento dos rios. Sendo que há uma predominância de terraços do tipo nível, os
quais foram construídos devido as características fisio-química dos solos de Santa
Teresa-ES favorecerem o processo de infiltração da água no solo.

CONCLUSÃO

A região que liga Várzea Alegre x Itarana apresentou indicativos de degradação


altíssimos, principalmente nos quesitos: cultivos em áreas impróprias, preparo do solo
inadequado e uso de capina intensiva, no qual podemos afirma que através destes
parâmetros a região se encontra bastante degrada, principalmente nas beiras de córregos
e topos de morros, locais esses que são essências estarem conservados e protegidos para
condicionar uma agricultura sustentável. Por outro lado, o uso de práticas

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

conservacionistas também foi observado, como o plantio em curvas de nível e plantio


em consórcio. Estudos como este, sobre a avaliação da degradação ambiental, são
importantes para servi de base para a elaboração de projetos de recuperação de áreas
degradas contribuindo para a gestão ambiental dos recursos.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal do Espírito Santo, campus Santa Teresa, pelo apoio na


realização deste estudo.

LITERATURA CITADA

Araújo, Q. R. & Paiva, A. Q. 2003. Aspectos básicos de manejo e conservação do solo


na região Caucaeira In: 25ª Semana do Fazendeiro, Uruçucuca, Bahia Agenda
Técnica da 25ª semana do Fazendeiro. Ilhéus, Bahia: CEPLAC/CEPEC/SIDOC.

FAO – Organização das Nações unidas para Agricultura e Alimentação. Segurança


alimentar: a luta para garantir terra fértil a futuras gerações. Disponível em:
https://www.fao.org.br/FAOsRrgps.asp. Acesso em 10 de abril de 2017.

Paiva, A. Q. & Araújo, Q. R. 2012. Fundamentos do manejo e da conservação dos solos


na região produtora de cacau da Bahia, Ilhéus-BA, 115-134.

Roberts, T. L. & Ryan, J. 2015. Solo e Segurança Alimentar. Piracicaba: International


Plant Nutrition, Informações agronômicas, 150: 3p.

Silva, P. L. F., Cavalcante, A. C. P. & Silva, A. G. 2016. Avaliação da degradação dos


recursos ambientais: um estudo de caso em uma propriedade rural de
Pilõezinhos-PB. Revista Monografias Ambientais – REMOA, 15 (1): 132-140.

Silva, D. D. E.; Felizmino, F. T. A. & Oliveira, M. G. 2015. Avaliação da degradação


ambiental a partir da prática da cultura do feijão no município de Tavares-PB.
Holos, 8: 148-165.

Sousa. R. F.; Barbosa, M. P.; Sousa Júnior, S. P.; Guimarães, C. L. 2007. Estudo da
degradação das terras do município de São Domingos do Cariri, Estado da
Paraíba. Caminhos da Geografia, 8 (22): 130-136.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Subárea: Zoologia

AVES OBSERVADAS NO IFES SANTA TERESA

Helio Pena de Faria JUNIOR1*, Marcus Vinicius Sandoval PAIXÃO1, Gleides


Pulcheira PAIXÃO1, Marcelo BOZETI1 & Polyana Pulcheira PAIXÃO2
1
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa
²Climev – Vitória
*hpena@bol.com.br

INTRODUÇÃO

No Brasil existem cerca de 1.800 espécies de aves, nos diversos biomas, da


Amazônia à Caatinga, do Cerrado à Mata Atlântica, do Pantanal aos pampas (Dalgas,
2005), não é a toa que a sabiá laranjeira foi eleita como a ave símbolo do Brasil, sendo
que a maioria das espécies endêmicas do Brasil é encontrada na Mata Atlântica,
especialmente nas terras baixas do litoral sudeste e no nordeste.
Espécies que necessitam de habitat e alimentação específicos são mais diversas e
abundantes em ambientes bem preservados, enquanto fragmentos e áreas cuja vegetação
tenha sofrido algum tipo de alteração tendem a perder tais espécies (Gray et al. 2007,
O’Dea & Whittaker, 2007).
As aves desempenham importantes tarefas na natureza, segundo Dalgas (2005)
onde tem aves, tem qualidade de vida e tem negócios valorizados. Elas têm a força para
conduzir investimentos num condomínio bem planejado ou até para conseguir votos
para administradores bem intencionados. Uma cidade com parques, jardins, bela
arborização e muitas flores consegue atrair sabiás, canarinhos, bigodinhos, periquitos,
beija-flores, um sem números de pássaros.
O objetivo da pesquisa foi catalogar as aves observadas no Campus do IFES
Santa Teresa.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi desenvolvido ao longo do ano de 2015 na fazenda do IFES


Campus Santa Teresa, ES, com área de 620 ha, localizado na meso região Central
Espírito-Santense, coordenadas geográficas 19º48’59”S e 40º40’39”W, com altitude de
135 m. O clima da região caracteriza-se como Cwa, mesotérmico, com estação seca no
inverno e forte pluviosidade no verão (classificação de Köppen), com precipitação anual
média de 1.404,2 mm e temperatura média anual de 19,9 °C, com máxima de 32,8 °C e
mínima de 10,6 °C (Incaper, 2011).
A coleta de dados foi realizada sempre no período diurno, nas primeiras horas da
manhã quando as aves saem a procura de alimento, com uma câmera fotográfica Canon
EOS Rebel xsi, contando ainda com uma lente objetiva com um zoom de 300 mm.
Caminhos eram percorridos, visitando árvores frutíferas como mamoeiros, castanheiras
e outras, que eram monitorados e observados, prédios e construções eram vigiadas,
setores como bovino, caprino, pocilga foram percorridos na expectativa de fazer o maior
registro de aves que fosse possível, fazendo assim uma representação do maior número
de espécies.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

As fotos registradas foram armazenadas e catalogadas pelo nome vulgar e nome


científico das espécies para registro de forma digital.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram registradas 560 fotos diversas das espécies que habitam a área estuda,
onde pode-se afirmar que a avifauna da área de estudo é muito rica e diversificada. Um
total de 49 aves foram registradas nesse trabalho, encontraram-se ainda algumas
espécies que pelo medo do ser humano, se tornaram ariscas e arredias e não foram
registrados, mas suas presenças foram verificadas.
As áreas de pomar foram as que apresentaram o maior número de registro de
espécies, seguidos do entorno das áreas de mata e em terceiro lugar as áreas onde se
localizam os prédios do Campus.
De acordo com a Tabela 1, apresenta-se as espécies catalogadas na área estudada
e os nomes científicos de acordo com Dalgas (2005) e Venturini (1996).
Tabela 1. Aves catalogadas no Campus do IFES.

Nome Vulgar Nome científico


Alma de gato Piaya cayana
Amola faca ou aracuã Ortalis guttata aracuan
Anu branco Guira guira
Anum coroia Crotofaga major
Araçari de bico branco Pteroglossus aracari
Ararimba de calda ruiva Galbula ruficauda
Beija- flor tesourão Eupetomena macroura
Beija-flor do rabo branco Phaethornis pretrei
Bem te vi Pitangus sulfuratus
Bem te vi rajado Myodynastes maculatus solitarius
Canario da terra Sicalis flaveola
Cardeal do nordeste Paroaria dominicana
Coleiro Sporophila caerulescens
Coruja buraqueira Speotito cunicularia (Fig. 1)
Falcão quiri-quiri Falco (tinnunculus) sparverius (Fig. 3)
Frango d’agua azul Porphyrio (porphyula) martinicus (Fig.4)
Garça Casmerodius albus
Garcinha branca Egreta (garzetta) thula
Garrincha Troglodytes aedon
Guaxe Cacicus haemorrhous
Gavião carijó Buteo (Rupornis) magnirostris (Fig. 8)
Jacupemba Penelope superciliares
João de barro Furnaris rufus
Periquitão maracanã Aratinga leucophthalmus (Fig. 2)
Periquito rei ou Jandaia de testa amarela Aratinga (solstitialis) auricapila
Pica pau de topete vermelho Campephilus melanoleucos
Pica pau do campo Colaptes campestris
Pomba amargosa Columba plumbea
Quero quero Vanellus chilensis
Rolinha comum Columbina talpacoti
Rolinha fogo apagou Columbina (Scardafella) squammata
Sabiá do campo Minus saturninus

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Sabiá do peito branco Mimus gilvus


Sabiá laranjeira Turdus rufiventris
Saíra Dacnis cayana
Saíra azul Dacnis cayana
Saíra de sete cores Tangara seledon
Sanhaço azul Thraupis episcopus
Sanhaço de encontro amarelo Thraupis ornata
Saracura do brejo Aramides saracura (Fig. 6)
Seriema Cariama cristata (Fig. 5)
Siriri Tyannus melancholicus
Sofrê Icterus jamacaii (Fig. 7)
Tiriba de testa vermelha Pyrrhura (frontalis) frontalis
Tiziu Volatinia jacarina
Trinca ferro Saltator maximus
Urubu Coragyps atratus
Urubu de cabeça vermelha Cathartes aura
Viuvinha Arundinicola leucocephala

Figura 1. Coruja buraqueira Figura 2. Periquitão maracanã

Figura 3. Falcão quiri-quiri Figura 4. Frango d’agua

Figura 5. Seriema Figura 6. Saracura

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 7. Sofrê Figura 8. Gavião carijó


Para manter as aves devemos também manter e preservar a natureza, pois aves e
árvores estão intimamente relacionadas, um depende diretamente do outro, as árvores
disponibilizam seus frutos para as aves saciar a fome e as aves dispersam as sementes
para a perpetuação das árvores.

CONCLUSÃO
Foi observada uma grande diversidade de aves no campus estudado, mostrando
que o local apresenta-se como um ambiente favorável ao desenvolvimento das espécies
catalogadas, pelas características que apresenta a área como local de preservação e
diversidade de plantas que atuam como fonte de alimento.

LITERATURA CITADA
Dalgas, J. f. 2005. Aves Brasileiras e plantas que as atraem. 3ª ed. São Paulo: Dalgas
ecotec. 480p.
Gray, M. A., Baldauf, S. L., Mayhew, P. J. & Hill, J. H. 2007. The response of avian
feeding guilds to tropical forest disturbance. Conservation Biology, 21: 133-
141.
Incaper. 2011. Planejamento e programação de ações para Santa Teresa. Programa de
assistência técnica e extensão rural PROATER, Secretaria de Agricultura.
O’Dea, N. & Whittaker, R. J. 2007. How resilient are Andean montane forest bird
communities to habitat degradation? Biodiversity Conservation, 16: 1131-
1159.
Venturini, A. C.; Ofranti, A. M. S.; Varejão, J. B. M. & Paz, P. R. 1996. Aves e
Mamímeros na restinga: Parque estadual Paulo Cesar Vinha. Guarapari:
Gráfica Espírito Santo.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

LIBÉLULAS (INSECTA, ODONATA) COMO BIOINDICADORES DE


POLUIÇÃO QUÍMICA DO CÓRREGO SÃO SILVANO, COLATINA-ES

Jacimar Berti BOTI1, Diogo Rocha BOTI2


1
Instituto Federal do Espírito Santo, Campus Santa Teresa,
2
Professor de Química, Vitória-ES
* jbertiboti@bol.com.br

INTRODUÇÃO

Atualmente, devido ao crescimento da população das cidades, principalmente da


população ribeirinha de diversos mananciais aquáticos, tem se observado um aumento
das atividades antrópicas sobre os recursos naturais. O córrego São Silvano é um
manancial que outrora foi água potável (informação pessoal) e, atualmente, é
extremamente poluído, apresentando largura de 2 a 5 m, profundidade de 0,20 m a 0,90
m, é formado pela junção das águas do Córrego Estrela e Córrego do Ouro. A junção
dessas águas ocorre próximo ao SESI/SENAI, no bairro Carlos Germano Naumann,
Colatina-ES e percorre todo o bairro urbano de São Silvano que é o maior bairro da
cidade de Colatina-ES.
Nos últimos anos, na área urbana de seu percurso, tem se observado uma
acentuada agressão antrópica com lançamento de efluentes domésticos, resíduos
químicos de postos de combustíveis ribeirinhos, óleo diesel, graxa e outros resíduos
químicos de oficinas mecânicas, fábricas de móveis, ferro velhos e lixo doméstico, que
vem assoreando o seu leito, trazendo graves conseqüências aos moradores ribeirinhos
desse pequeno manancial. Sabe-se, porém, que ecossistemas aquáticos têm sofrido
muito com diversos tipos de poluentes que vem alterando os nichos ecológicos de
maneira significativa, causando múltiplos impactos ambientais negativos resultantes de
atividades de lançamento de efluentes domésticos e industriais não tratados (Goulart &
Callisto, 2003). Além disso, as comunidades biológicas refletem a integridade ecológica
total dos ecossistemas e apresentam limites de tolerância a diferentes alterações das
mesmas (Alba-Tercedor, 1996).
Os bioindicadores são espécies, ou grupo de espécies, cuja presença e distribuição
indicam características de impactos ambientais em um ecossistema aquático (Callisto &
Gonçalves, 2002). Portanto, o monitoramento ecológico de espécies aquáticas
bioindicadoras, constitui uma ferramenta de extrema importância para avaliar o
comportamento dessas espécies em ecossistemas que sofreram intensa ação antrópica
com dejetos químicos.
As libélulas são insetos predadores que habitam os ecossistemas de água doce e
estão associadas às plantas aquáticas e ao fundo dos corpos d’água, podendo ser
utilizados como bioindicadores da qualidade ambiental, principalmente para o
monitoramento de bacias hidrográficas (De Marco Jr. 1998; Ferreira-Romero 1998).
Esses insetos são considerados importantes em monitoramento da qualidade ambiental
dos ecossistemas porque, principalmente os indivíduos adultos, são facilmente
identificados em espécies (Carle, 1999) e podem ser sensíveis ou tolerantes a
contaminantes da água (Watson et. al, 1982). O estudo desses insetos em relação aos
ambientes aquáticos é de suma importância, pois (Peruquetti & De Marco Jr. 2002)
relataram que a ação de impactos antrópicos sobre a comunidade de Odonata é pouco
estudada no Brasil.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Diante dos fatos analisados, os objetivos do presente estudo foram verificar a


abundância de indivíduos e a riqueza de espécies da ordem Odonata que podem
apresentar-se como potenciais indicadores da poluição química no Córrego São Silvano.

MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi realizado no córrego São Silvano, centro urbano do município de


Colatina-ES, bairro de São Silvano, nos meses de janeiro e fevereiro de 2013. Colatina
encontra-se em uma região de clima extremamente quente durante o verão, com média
de temperaturas máxima 38ºC e mínima de 26ºC (Clima Tempo, 2016). Para monitorar
os insetos, foram marcados seis pontos de coletas e observações, sendo dois pontos com
ambientes moderadamente degradados (AMD), isto é, com pouca ação antrópica e
localizados no início da formação desse córrego. Os outros quatro pontos são
acentuadamente degradados (AAD), com grande ação antrópica, localizados na área
central do bairro S. Silvano.
O ponto 1 (AMD) (19º 32’20”S e 40º 38’29”W), lótico e lêntico, localizou-se no
Córrego Estrela, a 600 m da junção das águas com o Córrego São Silvano, com
profundidade de 0,40 m e largura de 1,5 m, com fundo argiloso, água com pequena
quantidade de resíduos urbanos, presença de pequenas árvores (mangueiras, embaúbas,
assa-peixes) e gramíneas na vegetação ribeirinha em ambas as margens. O comprimento
amostrado foi de 50 m. O ponto 2 (AMD) (19º 31’23”S e 40º 36’28”W) lótico, com
0,30 m de profundidade, largura de 2,0 m, fundo argiloso, com efluentes domiciliares e
resíduos urbanos, localizou-se na junção das águas do córrego estrela com o córrego do
ouro, com presença de gramíneas em suas margens e algumas árvores frutíferas
(mangueiras, cajueiros, abacateiros e jaqueiras), o comprimento amostrado foi de 50 m.
O ponto 3 (AAD) (19º 30’21”S e 40º 37’28”W), lótico e lêntico, formando-se alguns
pequenos lagos, localizado a 400m, após o encontro das águas, no córrego S. Silvano,
com presença de efluentes domiciliares e resíduos urbanos apresentando gramíneas em
suas margens, com 0,40 m de profundidade, largura de 3,0 m, e fundo argiloso e
arenoso, o comprimento amostrado foi de 40 m. O ponto 4 (AAD) (19º 32’23”S e 40º
36’29”W), localizado a 800m do ponto 3, no centro do bairro S. Silvano, lótico, com
presença de efluentes domiciliares e resíduos urbanos de óleos lubrificantes e óleo
diesel queimado na água, com fundo argiloso e 0,30 m de profundidade, largura de 2 m,
com vegetais herbáceos em suas margens e a distância amostrada foi de 40m. (Figura 1)
O ponto 5 (AAD), (19º 29’24”S e 40º 35’27”W), localizado a 800m do ponto 4, lótico
com fundo argiloso e 0,40m de profundidade com largura de 2,0 m e presença de
efluentes domiciliares e resíduos urbanos de óleos lubrificantes queimado e óleo diesel
na água (Figura 2), com vegetação de gramíneas e pequenas árvores em suas margens, a
área amostrada foi de 40 m.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Ponto 4, com seus contaminantes químicos na água e a espécie Perithemis


mooma pousada (Fotos do autor).

Figura 2. Ponto 5, mostrando os poluentes químicos na água (Fotos do autor).

O ponto 6 (AAD), (19º 31’26”S e 40º 33’29”W), lótico, localizado na foz com o
rio doce, com fundo argiloso e arenoso, 0,40 m de profundidade e largura de 3,0 m, com
presença de efluentes domésticos e resíduos químicos de oficinas mecânicas com
vegetação de gramíneas e algumas árvores de porte médio em uma das margens. A área
amostrada foi de 50 m. Em todos os pontos amostrados, a temperatura foi registrada,
utilizando-se termômetro de máxima e mínima, bem como, com auxílio de GPS as
coordenadas geográficas foram anotadas. Em cada ponto amostrado, foram feitas seis
observações e coletas, com duração de uma hora, as coletas foram realizadas em dias
ensolarados com temperaturas variando entre 28 e 39 °C, e intervalo de observação
entre 9 e 12 horas e entre 13 e 15 horas, totalizando-se 36 horas. As libélulas foram
coletadas com auxílio de rede entomológica e depositadas em vidros etiquetados,
contendo algodão com éter, e posteriormente acomodados em envelopes de papel. Em
laboratório as libélulas foram analisados em estereomicroscópio para a identificação em
famílias e gêneros; alguns exemplares foram conduzidos ao Museu de entomologia da
Universidade Federal de Viçosa para a identificação em espécies.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram coletados 43 espécimes de libélulas nos seis pontos amostrados, e dentre


estes, foram identificados 08 espécies, distribuídas em 03 famílias (Libellulidae,
Calopterygidae e Coenagrionidae) sendo que os pontos 1 e 2 foram mais abundantes,
com amostragem de 17 e 12 indivíduos respectivamente, bem como o ponto 6, com 9
indivíduos, apresentando nesses pontos maior abundância de indivíduos e maior riqueza
de espécies (tabela 1). A maior abundância de indivíduos foram observados no período
entre 13 e 15 h, com exceção dos pontos 4 e 5, onde foi amostrado uma única espécie no
período entre 9 e 12 h. Libellulidae foi a família com maior representatividade nesse
estudo.

Tabela 1. Espécies, famílias e número de indivíduos de libélulas amostrados nos


respectivos pontos (P1, P2, P3, P4, P5 e P6) do Córrego S. Silvano – Colatina-ES.
Espécies de Libélulas Famílias P1 P2 P3 P4 P5 P6
Erythrodiplax fusca Libellulidae 02 03 01 03
(Rambur,1842)
Hetaerina rosa Selys, 1857 Calopterygidae 03 02 02
Ischnura capreola Selys,1876 Coenagrionidae 01
Ischnura fluviatilis Selys, 1876 Coenagrionidae 04 03
Micrathyria sp. Libellulidae 02
Orthemis discolor (Burmeister, Libellulidae 01
1839)
Pantala flavescens (Fabricius, Libellulidae 02 02 01
1798)
Perithemis mooma Kirby, 1889 Libellulidae 02 02 03 03 02 03
Pontos amostrados (P1, P2, P3, P4, P5 e P6)

Acreditamos que a maior abundância de indivíduos e riqueza de espécies que


foram amostradas nos pontos 1 e 2 possa estar relacionadas ao ambiente lótico, com
fundo argiloso e vegetação em suas margens que servem de poleiro para as espécies de
Odonata, pois a vegetação ciliar é um importante componente para os ecossistemas
lóticos, essa vegetação serve de dispersão para muitos animais, contribuindo assim, para
a riqueza em espécies (Naiman et al., 1993), entretanto, Richards et. al. (1996)
relataram que as condições ecológicas locais do percurso d’água tem uma enorme
influência na riqueza de espécies de Odonata.
A presença de Hetaerina rosa nos pontos 1, 2 e 6 pode ser explicado pelo extrato
argiloso das margens do córrego para reprodução e presença de gramíneas, que servem
de pouso para esses insetos. Em estudos realizados por Peruquetti & De Marco Jr,
(2002) mostrando os efeitos da alteração ambiental sobre comunidades de Odonata,
relataram que essa espécie esteve presente em dois ambientes com vegetação ciliar e em
ausência de vegetação ciliar, porém, relataram ainda, que a preferência dessa espécie
foi, em maior número, nos ambientes sem vegetação ciliar.
Ischnura fluviatilis foi bem amostrada nos pontos 1 e 2 (Tabela 1), pois nesses
pontos, apresentando vegetação de gramíneas em ambas as margens, ambiente
moderadamente degradados e fundo argiloso, existem condições ecológicas favoráveis à
reprodução dessa espécie Peruquetti & Gessner (2003). Esses autores também
encontraram essa espécie somente em ambientes com essas características ecológicas.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Pantala flavescens foi encontrada patrulhando nos pontos 1, 2 e 6 (Tabela 1).


Esses ambientes oferecem também condições reprodutivas propícias para essa espécie,
tais como: vegetação ciliar, oferecendo campo de pouso, com ambiente lótico, margens
e fundo argiloso. Corbet (1999) relatou que os machos dessa espécie são
frequentemente encontrados defendendo territórios próximos de corpos d’água,
mencionou ainda, que é comum ocorrer a oviposição realizado pelas fêmeas de P.
flavescens em poças d’água.
Erythrodiplax fusca foi encontrada pousada próximo das margens do córrego, nos
pontos 1, 2, 3 e 6 ocorrendo maior abundância de indivíduos nos pontos 2 e 6 (Tabela
1). A contaminação da água nesses pontos não é tão agressiva como em outros pontos
relatados nesse estudo e, por tanto, E. fusca foi ausente nos pontos 4 e 5, que são
extremamente poluídos com produtos químicos (óleo diesel, graxa, óleo combustível
queimado) e efluentes domésticos na água, tanto nas margens quanto no fundo d’água
(Figura 4 e 5). Watson et. al. (1982) encontraram, em riachos que recebem efluentes
domésticos, uma diminuição na abundância de espécies de Odonata, quando destacaram
que a maioria das espécies podem ser sensível aos contaminantes da água.
Perithemis mooma foi amostrado em todos os pontos, com 15 indivíduos (Tabela
1), essa espécie foi a única encontrada nos pontos mais poluídos por produtos químicos
na água (P4 e P5). Juen et. al. (2014) também encontraram maior número de indivíduos
de P. mooma em ambientes altamente poluídos. Gorham & Vodopich (1992) e Ferreras-
Romero (1998) relataram que algumas espécies são sensíveis e outras tolerantes a
alterações físico-químicas da água.

CONCLUSÃO

Diante dos resultados encontrados nesse estudo, acreditamos que P. mooma pode
ser uma dessas espécies de Odonata altamente resistente a poluição, principalmente no
que se refere à poluição química, o que foi observado nesses pontos amostrados do
córrego S. Silvano.

LITERATURA CITADA

Alba-Tercedor J. 1996. Macroinvertebrados acuáticos y calidad de las aguas de los ríos.


IV Siaga, Almeria, vol. II: 203-213.

Callisto, M. & Gonçalves, J. F. Jr. 2002. A vida nas águas das montanhas. Ciência Hoje
31 (182): 68-71.

Carle, F. L. 1999. Environmental monitoring potential of the Odonata, with a list of rare
and endangered Anisoptera of Virginia. United States. Odonatologica 8(3): 319-
323.

Clima Tempo. Disponível em: http://www.climatempo.com.br/cidade/colatina-es,


(16/7/2016).

Corbet, P. S. 1999. Dragonflies: behavior and ecology of Odonata. Comstock,


Ithaca/NY, 829 p.

334
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2014. Composição e Riqueza de Odonata (Insecta) em riachos com diferentes
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335
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A FÊMEA DE Peregrinus maidis (ASHMEAD, 1890) EM ITATIAIA, ESTADO


DO RIO DE JANEIRO (INSECTA: HEMIPTERA: DELPHACIDAE)

Elidiomar Ribeiro DA-SILVA1*, Virgínia CODÁ1, Diego Paschoa TRINDADE1 &


Luci Boa Nova COELHO2

1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, IBIO, UNIRIO.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, UFRJ.
*elidiomar@gmail.com.
INTRODUÇÃO

Peregrinus maidis, originalmente descrita como Delphax maidis Ashmead,


1890, é uma cigarrinha da família Delphacidae com distribuição cosmopolita, mais
prevalente em áreas tropicais e subtropicais da África, América, Ásia, Austrália, Índia,
ilhas dos oceanos Atlântico e Pacífico (Singh & Seetharama, 2008). Costa et al. (1971),
Waquil (1997), Casela et al. (1998) e Singh & Seetharama (2008) referem-se à P.
maidis como importante vetor de patógenos em milho, Zea mays Linnaeus (Poales:
Poaceae). A ligação com o milho é tão efetiva que à espécie foi conferido o nome
comum “corn planthopper” por parte da Entomological Society of America (Singh &
Seetharama, 2008). Já foi sugerido que sua introdução na América Central contribuiu
para o colapso da civilização maia (Brewbaker, 1979; Tsai & Wilson, 1986). Em que
pese sua importância como praga do milho, P. maidis também ocorre em muitas outras
espécies vegetais, como o sorgo, Sorghum sp. (Poales: Poaceae) (Singh & Seetharama,
2008).
Por conta de sua importância econômica, P. maidis é uma das espécies mais
intensamente estudadas de Delphacidae. Segundo Tsai & Wilson (1986), os adultos de
P. maidis são bem conhecidos. Porém, como detalhes da morfologia descritiva da fêmea
(Figura 1) ainda não foram suficientemente abordados, especialmente ao que se refere à
genitália, a mesma é presentemente redescrita, com base em exemplares procedentes do
município de Itatiaia, Estado do Rio de Janeiro.

Figura 1. Peregrinus maidis (Ashmead, 1890), fêmea, vista lateral.

MATERIAL E MÉTODOS

Os exemplares foram obtidos quando estavam aprisionados em dois lustres, em


uma edificação no distrito de Penedo, município de Itatiaia, Estado do Rio de Janeiro
(Figuras 2-3). Cada lustre é iluminado por uma lâmpada fluorescente branca, com
potência 15 watts. Como muitos grupos de insetos são fototropicamente positivos
(Dadmal & Khadakkar, 2014), tal procedimento de coleta se mostra eficiente tanto para

336
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

inventários entomofaunísticos como em estudos de biologia populacional (Da-Silva et


al., 2016). Os lustres são inspecionados mensalmente, o que garante o bom estado de
preservação dos exemplares. Após o recolhimento, os insetos são triados e
identificados. Os exemplares estudados estão depositados no Laboratório de
Entomologia Urbana e Cultural (LABEUC), da Universidade Federal do Estado do Rio
de Janeiro (UNIRIO), e na Coleção Entomológica José Alfredo Pinheiro Dutra (IBRJ),
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, RJ. O local de
coletas, embora situado em uma área urbana, está bem próximo a pequenos trechos
preservados de Mata Atlântica. O distrito de Penedo ainda apresenta remanescentes
naturais entremeados ao núcleo urbano principal (Santos & Teixeira, 2010).

Figura 2. Imagem do Google Maps do ponto de coletas (assinalado), Penedo, Itatiaia,


RJ.

Figura 3. Vista da área externa ao ponto de coletas, Penedo, Itatiaia, RJ. Detalhe:
retirada de insetos acumulados em lustre.

A parte final do abdome dos exemplares foi destacada e imersa em hidróxido de


potássio, em banho-maria, para diafanização das peças genitais (Oman, 1949; Da-Silva

337
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

& Coelho, 2015). Essas estão acondicionadas em micro tubo com glicerina, montado
em alfinete, junto ao exemplar. As fotografias dos exemplares foram obtidas com o uso
de Windows Phone de lente Zeiss acoplado à ocular de microscópio estereoscópico
Physis e microscópio óptico Taimin, posteriormente automontadas por meio do uso do
programa Combine ZP®.
Como são raros os casos em que detalhes do ovipositor de Delphacidae são
descritos, utilizou-se presentemente a terminologia corriqueira em um outro grupo de
Auchenorrhyncha, os Cicadellidae (Mejdalani, 1993; Da-Silva & Coelho, 2015; Silva et
al., 2017).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Redescrição

Peregrinus maidis (Ashmead, 1890) - fêmea (Figuras 1, 4-16).


Tamanho corporal de cerca de 4 mm. Coloração geral bege com manchas
castanho-escuras; cabeça, em vista dorsal, com carenas esbranquiçadas; pronoto e
mesonoto com faixas longitudinais contínuas, sendo três faixas esbranquiçadas na
região central e uma castanha nas laterais, todas entremeadas por faixas amarelas.
Antenas (Figuras 5-9) castanho-amareladas, escurecidas no ápice dos artículos; olhos
negros; carena mediana da face bifurcada aproximadamente à altura do ponto de
inserção das antenas; face preponderantemente castanho-escura, parte superior mais
clara (Figuras 7-8). Esporão tibial das pernas posteriores com diminutos espinhos
negros na margem externa (Figura 10). Asas anteriores (Figuras 1, 4, 11)
preponderantemente translúcidas, com marcações castanho-escuras; margem anal com
mancha alongada na região mediana do clavo; região apical com faixa semicircular
partindo da área central, na altura do ápice do clavo, até pouco além da região mediana
das células a3, a4 e a5 e se estendendo também por cada veia até a margem da asa; veias
de a1 com manchas alongadas na parte apical; margem costal com mancha ovalada, em
ponto oposto ao ápice do clavo.

338
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figuras 4-6. Peregrinus maidis (Ashmead, 1890), fêmea: 4, vista dorsal; 5, cabeça e
pronoto; 6, cabeça e tórax, vista dorsolateral.

339
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figuras 7-11. Peregrinus maidis (Ashmead, 1890), fêmea: 7, cabeça e tórax, vista
ventral; 8, cabeça, vista laterofrontal; 9, antena; 10, ápice e esporão da tíbia posterior;
11, asa anterior.

Válvulas do ovipositor (Figuras 12-16) alongadas; válvulas I (Figuras 12-13)


com comprimento aproximadamente 15 vezes a altura máxima, ranhuras transversais na
parte apical, mais efetivas na margem dorsal, expansão ventral na área subapical
membranosa; válvulas II (Figuras 14-15) fortemente fusionadas, comprimento
aproximadamente 10 vezes a altura máxima, margem dorsal com conspícua fileira de
dentes assimétricos, cada um deles com elevação suave proximal e abrupta distal;
válvulas III (Figura 16) cerca de 8 vezes mais longa que alta, suavemente curvada
apicalmente.
Um dos poucos artigos com ênfase na descrição das peças genitais de fêmeas de
Delphacidae, especialmente as válvulas do ovipositor, é o de Heady & Wilson (1990).
Nele, foram descritos a morfologia das peças, embora sem muito detalhamento, e o
comportamento copulatório de espécies do gênero Prokelisia Osborn, 1902
(Delphacinae), que é da mesma subfamília de Peregrinus Kirkaldy, 1904. Em termos
comparativos, as válvulas são igualmente alongadas em ambos os gêneros, sendo a
válvula I aparentemente menos delgada em Peregrinus maidis e com a expansão

340
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

membranosa ventral mais desenvolvida. Na válvula II, os dentes da margem dorsal de


P. maidis são bem desenvolvidos, lembrando os de Prokelisia crocea (Van Duzee,
1897) e Prokelisia carolae Wilson, 1982 (Heady & Wilson, 1990). A válvula III, pouco
caracterizada por Heady & Wilson (1990), é aparentemente mais curvada apicalmente
em P. maidis em relação ao que ocorre em Prokelisia.

Figuras 12-16. Peregrinus maidis (Ashmead, 1890), fêmea – válvulas do ovipositor:


12, válvulas I; 13, ápice da válvula I; 14, válvulas II; 15, ápice das válvulas II; 16,
válvula III.

CONCLUSÃO

Peregrinus maidis é uma espécie introduzida no Novo Mundo e, graças à sua


grande potencialidade dispersiva e ao fator econômico, tem preocupado muito as
autoridades fitossanitárias. Sua ocorrência em áreas afastadas de grandes plantações
agrícolas, associada à marcante polifagia, indicam que as áreas naturais podem abrigar
estoques da espécie Com as descrições taxonômicas abarcando também detalhes da
genitália das fêmeas, coisa ainda incipiente para o grupo, novas características
diagnósticas devem vir a ser incorporadas, contribuindo para a melhor compreensão das
relações interespecíficas.

AGRADECIMENTOS

Aos revisores anônimos, cujas críticas foram fundamentais para o incremento do


manuscrito. As atividades de campo foram parcialmente custeadas pelo grupo
“Entomólogos Estradeiros” (https://www.facebook.com/EntomologosEstradeiros/).

LITERATURA CITADA

Brewbaker, J. L. 1979. Diseases of maize in the wet lowland tropics and the collapse of
classic Maya civilization. Economic Botany, 33:101-118.

Casela, C.; Renfro, R. B. & Krattiger, A. F. 1998. Diagnosing maize diseases in Latin
America. ISAAA, Ithaca, 57 p.

Costa, A. S.; Kitajima, E. W. & Arruda, S. C. 1971. Moléstias de vírus e de micoplasma


do milho em São Paulo. Revista da Sociedade Brasileira de Fitopatologia, 4:39-
41.

341
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Dadmal, S. M. & Khadakkar. S. 2014. Insect faunal diversity collected through light
trap at Akola vicinity of Maharashtra with reference to Scarabaeidae of
Coleoptera. Journal of Entomology and Zoology Studies, 2(3):44-48.

Da-Silva, E. R. & Coelho, L. B. N. 2015. Descrição da fêmea de Curtara (Labata)


ushima Coelho & Da-Silva, 2012 (Insecta: Hemiptera: Cicadellidae).
Enciclopédia Biosfera, 11(21):2157-2166.

Da-Silva, E. R.; Coelho, L. B. N.; Trindade, D. P.; Barbosa, M. S. & Campos, T. R. M.


2016. Population dynamics of Cicadellidae and Delphacidae (Hemiptera) in an
urban environment of the Rio de Janeiro City, p. 91-100. In: Da-Silva, E. R.;
Passos, M. I. S.; Aguiar, V. M.; Lessa, C. S. S. & Coelho, L. B. N. (Eds.). Anais
do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Universidade
Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). 190 p.

Heady, S. E. & Wilson, S. W. 1990. The planthopper genus Prokelisia (Homoptera:


Delphacidae): morphology of female genitalia and copulatory behavior. Journal
of the Kansas Entomological Society, 63(2):267-278.

Mejdalani, G. 1993. Morfologia da cabeça de Versigonalia ruficauda (Walker, 1851),


com notas sobre a terminologia (Homoptera, Cicadellidae, Cicadellinae). Revista
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Oman, P. W. 1949. The Nearctic leafhoppers (Homoptera: Cicadellidae). A generic


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Santos B. J. B.; Martins, L. & Teixeira, J. B. 2010. Guildas de aranhas de um fragmento


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Disponível em: http://simposio.izma.org.br/pdf_2010/31.pdf (22/04/2017).

Silva, R. S.; Cavichioli, R. R.; Takiya, D. M. & Mejdalani, G. 2017. Descriptions of


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342
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PRIMEIRO REGISTRO DE Neoperkinsiella MUIR, 1926 NO ESTADO DO RIO


DE JANEIRO: DESCRIÇÃO DA FÊMEA DE N. testacea (FOWLER, 1905)
(INSECTA: HEMIPTERA: DELPHACIDAE)

Elidiomar Ribeiro DA-SILVA¹*, Luci Boa Nova COELHO2, Diego Paschoa


TRINDADE1

1
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, IBIO, UNIRIO.
2
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, UFRJ.
*elidiomar@gmail.com.
INTRODUÇÃO

O gênero neotropical Neoperkinsiella Muir, 1926 (Delphacinae: Delphacini) é


composto por duas espécies válidas: N. guaduae Muir, 1926, do Equador, e N. testacea
(Fowler, 1905), com ocorrências registradas no Equador, na Guatemala e no Panamá. A
espécie-tipo do gênero, por designação original, é N. williamsi Muir, 1926 (sinônimo
júnior de N. testacea) (Bartlett, 2011). Perkinsiella bulli Fennah, 1979, da Papua Nova
Guiné (Fennah, 1979), é considerada por alguns autores como pertencente à
Neoperkinsiella, posicionamento que carece de confirmação. Poucos são os registros do
gênero na literatura, fazendo com que o mesmo seja considerado raro. Contrariando o
que acontece com muitos Delphacidae, a importância econômica do grupo parece ser
limitada. O único registro de planta-hospedeira é relativo à ocorrência de N. guaduae no
bambu Guadua sp. (Poales: Poaceae), perto do
vilarejo de Mera, no Equador (Muir, 1926). Do
ponto de vista taxonômico, Neoperkinsiella é
similar à Stobaera Stal, 1859, por apresentar
antenas achatadas e pelo padrão de coloração
das asas anteriores (Kramer, 1973).
Embora o gênero não esteja
formalmente registrado no Brasil, a página
Discover Life (2017) lista três exemplares
machos de N. testacea, procedentes de Nova
Teutônia, Estado de Santa Catarina,
depositados na North Carolina State
University, Estados Unidos. No presente
trabalho, é apresentado o registro bibliográfico
formal do gênero e da espécie no Brasil, com
base na descrição de um exemplar fêmea Figura 1. Neoperkinsiella testacea
(Figura 1). (Fowler, 1905), fêmea, vista lateral.

MATERIAL E MÉTODOS

A partir de coletas com aspiradores manuais, realizadas em novembro de 2016


na Vila da Fumaça, Resende, foi obtido um exemplar fêmea, caracterizando o primeiro
registro do gênero no Estado do Rio de Janeiro. O sítio de coletas (22,285 S, 44,275 W)
(Figuras 2-3) é uma pequena mancha florestada residual na margem da Estrada Falcão-
Fumaça (RJ-151), com elementos de Mata Atlântica secundária, capoeirões e
gramíneas.

343
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

O exemplar em questão está depositado no Laboratório de Entomologia Urbana


e Cultural (LABEUC) da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO),
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. A parte final do abdome foi destacada e imersa em hidróxido
de potássio, em banho-maria, para diafanização das peças genitais (Oman, 1949; Da-
Silva & Coelho, 2015). Essas estão acondicionadas em microtubo com glicerina,
espetado junto ao exemplar. As fotografias do exemplar foram obtidas com o uso de
Windows Phone de lente Zeiss acoplado à ocular de microscópio estereoscópico Physis,
posteriormente automontadas usando-se o programa Combine ZP®. A espécie foi
determinada com base em Fowler (1905) e Bartlett (2011).

Figura 2. Imagem do Google Maps do ponto de coleta (A), Estrada Falcão-Fumaça,


Resende, RJ.

Figura 3. Aspectos do ponto de coleta, Estrada Falcão-Fumaça, Resende, RJ.

RESULTADOS

Descrição: Neoperkinsiella testacea (Fowler, 1905) - fêmea (Figuras 4-9).

344
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Tamanho corporal de cerca de 6 mm. Coloração geral ocrácea, com manchas castanhas
(Figuras 4-5).
Antenas castanhas, cada artículo escurecido apicalmente; olhos negros; face castanha,
com uma faixa transversal clara entre as bases das antenas e outra na região da sutura
clipeal; duas outras faixas transversais claras, mais estreitas e pouco nítidas, uma entre
as faixas mais largas anteriormente descritas e outra entre os olhos (Figuras 6-7).

Figuras 4-9. Neoperkinsiella testacea (Fowler, 1905), fêmea: 4, vista dorsal; 5, vista
ventral; 6, cabeça, vista frontal; 7, cabeça, vista látero-frontal; 8, metade apical da asa
anterior; 9, ápice da tíbia posterior, esporão tibial e tarso posterior.

Pronoto e mesonoto com faixas longitudinais laterais castanhas (Figura 4). Asas
anteriores (Figuras 4, 8) com veias pontuadas de castanho-escuro; pequena mancha
castanha, na margem interna, próxima ao ápice do ramo comum das veias anais; região
apical com três faixas curvas castanhas difusas. Fêmures, tíbias e tarsos com faixas
transversais castanho-escuras interrompidas; espinhos da margem externa do esporão
tibial negros (Figura 9).

345
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Esternitos (Figura 5) com grupos de cerdas e manchas castanho-escuras arredondadas.


Ovipositor não ultrapassando o ápice do abdome; válvulas do ovipositor alongadas;
válvula I com margem dorsal levemente sinuosa a partir da base do terço mediano,
culminando no ápice agudo; válvulas II fortemente fusionadas pela margem dorsal;
válvula III de mesma espessura ao longo de sua extensão, ápice estreitamente
arredondado.

Material estudado
BRASIL, Estado do Rio de Janeiro, município de Resende, distrito de Vila da Fumaça,
Estrada Falcão-Fumaça (RJ-151), 1 ♀, 07-xi-2016, D.P. Trindade & M.S. Barbosa col.
(LABEUC).

DISCUSSÃO

O gênero Neoperkinsiella está bibliograficamente registrado na América Central


e no norte da América do Sul (Fowler, 1905; Bartlett, 2011). O encontro de um
exemplar, a primeira fêmea conhecida do gênero, de N. testacea no Estado do Rio de
Janeiro, além dos três exemplares da espécie registrados pela internet para o Estado de
Santa Catarina, são indicadores de uma ampla distribuição ao longo da Região
Neotropical. O baixo número de exemplares conhecidos do grupo evidencia a
necessidade de realização de coletas adicionais e inventários entomofaunísticos,
especialmente nos biomas em risco de redução de área, como a Mata Atlântica.

CONCLUSÃO

Levando-se em conta que os estudos taxonômicos gerais e as determinações


específicas em Delphacidae são quase que completamente baseados em machos, a
descrição de detalhes da genitália das fêmeas, inclusive os internos, pode trazer novas
possibilidades para as investigações de parentesco interespecífico. Também é
interessante ressaltar que mesmo áreas naturais residuais, periféricas a ambientes
urbanizados, devem ter a sua entomofauna inventariada, estratégia que se mostra
eficiente para o preenchimento das lacunas do conhecimento da distribuição das
espécies. Em assim procedendo, certamente muitos registros novos serão revelados.

AGRADECIMENTOS

As atividades de campo foram parcialmente custeadas pelo grupo “Entomólogos


Estradeiros” (https://www.facebook.com/EntomologosEstradeiros/).

LITERATURA CITADA

Bartlett, C. R. 2011. List of the Delphacidae of the New World. Disponível em:
https://ag.udel.edu/research/delphacid/pdf/new%20world%20delphacidae%20fe
b%201%202011.pdf (08/04/2017).

Da-Silva, E. R. & Coelho, L. B. N. 2015. Descrição da fêmea de Curtara (Labata)


ushima Coelho & Da-Silva, 2012 (Insecta: Hemiptera: Cicadellidae).
Enciclopédia Biosfera, 11(21): 2157-2166.

346
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Discover Life. 2017. Neoperkinsiella testacea. Disponível em:


http://www.discoverlife.org/mp/20m?kind=Neoperkinsiella+testacea
(08/04/2017).

Fennah, R. G. 1979. New species and new records of Perkinsiella (Hemiptera:


Delphacidae) from Papua New Guinea. Bulletin of Entomological Research,
69:507-517.

Fowler, W. W. 1905. Order Rhynchota. Suborder Hemiptera-Homoptera. (Continued).


Biologia Centrali-Americana, 1:125-139.

Kramer, J. P. 1973. Revision of the American planthoppers of the genus Stobaera


(Homoptera: Delphacidae) with new distributional data and host plant records.
Proceedings of the Entomological Society of Washington, 75(4):379-402.

Muir, F. A. G. 1926. Contributions to our knowledge of South American Fulgoroidea


(Homoptera). Part I. The family Delphacidae. Experiment Station of the
Hawaiian Sugar Planters’ Association, Entomological Series, Bulletin, 18:1-51.

Oman, P. W. 1949. The Nearctic leafhoppers (Homoptera: Cicadellidae). A generic


classification and check list. Memoirs of the Entomological Society of
Washington, 3:1–253.

347
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

BIODIVERSIDADE DE TYPHLOCYBINAE (INSECTA: HEMIPERA:


CICADELLIDAE) NO DISTRITO DE ITAIPAVA (PETRÓPOLIS, RJ), COM
BASE NO RECOLHIMENTO DE EXEMPLARES ATRAÍDOS POR
ILUMINAÇÃO ARTIFICIAL

Luci Boa Nova COELHO1* & Elidiomar Ribeiro DA-SILVA2


1
Laboratório de Entomologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, UFRJ
2
Laboratório de Entomologia Urbana e Cultural, Departamento de Zoologia, IBIO, UNIRIO
*lucibncoelho@gmail.com.
INTRODUÇÃO

A ordem Hemiptera é a mais numerosa dentre os insetos hemimetábolos, estando


dividida em quatro subordens: Sternorrhyncha, Auchenorrhyncha (anteriormente
enquadradas em uma ordem à parte, Homoptera), Heteroptera e Coleorrhyncha (Carver
et al., 1991). Auchenorrhyncha representa um grupo diversificado de insetos fitófagos,
ocorrendo em uma variedade de ecossistemas, podendo ocorrer em árvores, arbustos,
herbáceas e gramíneas. Sua distribuição é regida pela distribuição das plantas
hospedeiras, explorando uma ampla variedade de espécies. Muitas se estabeleceram em
plantas não relacionadas às hospedeiras originais e até se tornaram pragas de
importância econômica. Várias espécies são abundantes em diferentes cultivos vegetais
e podem causar danos significativos, alimentando-se da seiva e, assim, transmitir
patógenos (Nielson, 1985; Giustolin et al., 2009). Os Cicadellidae (Hemiptera:
Auchenorrhyncha), comumente conhecidos como cigarrinhas, formam um grupo
cosmopolita, com altos índices de abundância de indivíduos e de riqueza de espécies
(Coelho, 1997). Apesar de ser um grupo de grande diversidade taxonômica e
reconhecida importância econômica para agricultura (Evans, 1946), a fauna de
Cicadellidae em nosso país é ainda pouco conhecida (Zanol & Menezes, 1982; Coelho,
1997). Typhlocybinae é a segunda maior subfamília de Cicadellidae e, segundo as
classificações mais atuais, está dividida em cinco tribos, com um total aproximado de
6.000 espécies descritas, muitas das quais podendo colonizar ambientes urbanos.
O ambiente urbano é resultado das interações de fatores ambientais, biológicos e
socioeconômicos, em um espaço construído por homens e predominando sobre o
ambiente natural, causando grandes mudanças (Brun et al., 2007). Apesar de ser pouco
estudada em comparação a ecossistemas preservados (Coelho & Da-Silva, 2015), os
ambientes urbanos abrigam uma grande quantidade de animais, incluindo insetos. Por
causa da urbanização, tais ambientes têm fragmentos de diferentes tipos de vegetação,
com diferentes tamanhos e formas, geralmente compostas por espécies de plantas
oportunistas ou exóticas (parques, praças, lagos, jardins e edifícios de uma cidade).
Muitos desses locais são usados como abrigo por uma variedade de animais, permitindo
até mesmo a colonização por novas espécies, que se adaptarama tais habitats
urbanizados (Brun et al., 2007).
O presente trabalho teve como objetivo inventariar os gêneros e espécies de
Typhlocybinae ocorrentes em uma localidade dentro do perímetro urbano do distrito de
Itaipava, 3º distrito de Petrópolis, Estado do Rio de Janeiro.

348
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

As coletas foram realizadas em um estabelecimento comercial (22.405703S,


43.142737W; altitude 750m) às margens da Rodovia Washington Luís (BR-040), em
Itaipava, que dista cerca de 5 quilômetros da Reserva Biológica de Araras (Figura 1). O
ponto de coletas foi escolhido visando preencher lacunas de registros de espécies,
abordando ambientes normalmente negligenciados em estudos sobre o grupo. Os
exemplares foram obtidos por meio do recolhimento mensal dos insetos aprisionados
em duas luminárias de teto do tipo plafon (Figura 2), com lâmpadas fluorescentes
compactadas de 20W, que funcionam como substitutos das armadilhas convencionais,
mostrando-se um procedimento adequado não só para inventários, mas também para
estudos ecológicos (Da-Silva et al., 2016). Respeitando-se devidamente o intervalo
entre as datas de coleta, o material obtido passa a ser utilizável em estudos de biologia
populacional e sazonalidade. Além disso, nosso trabalho prioriza o aproveitamento
científico de insetos já mortos que, de outro modo, seriam descartados.

Figura 1. Mapa mostrando o ponto de coletas (seta) e parte da Reserva Biológica de


Araras, ambiente de Mata Atlântica, em Petrópolis, RJ.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 2. Recolhimento dos insetos aprisionados em lustre, em Itaipava, Petrópolis, RJ.


A identificação das espécies se dá, principalmente, mediante observação da
genitália do macho. Para o estudo da morfologia das estruturas genitais masculinas,
fundamental para a taxonomia, e também das estruturas femininas, foram empregadas
as técnicas de Coelho & Nessimian (2009) e Mejdalani (1998), respectivamente. Os
exemplares obtidos estão depositados na Coleção Entomológica José Alfredo Pinheiro
Dutra, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observamos a ocorrência de 27 espécies, pertencentes aos gêneros Alconeura


Ball & DeLong, 1925, Dikrella Oman, 1949, Dikrellidia Oman, 1928, Empoasca
Walsh, 1826, Kunzeana Oman, 1949, Joruma McAtee, 1924, Omegalebra Young,
1957, Parallaxis McAtee, 1926 (Figura 3), Protalebrella Young, 1952 (Figura 4),
Rhabdotalebra Young, 1952 (Figura 5), Solanasca Ghauri, 1974 e Typhlocybella Baker,
1903 (Figura 6). Dentre elas, várias representam novas ocorrências para o Brasil e/ou
Rio de Janeiro, e outras são espécies até então desconhecidas para a Ciência. Quando
comparados a um levantamento similar, realizado no município de Piraí, RJ, onde foram
registradas 13 espécies (Coelho & Da-Silva, 2015), tais números demonstram a
importância do presente estudo e justificam sua continuidade, ampliando para outras
localidades do município e diversificando os métodos de coleta. O município de
Petrópolis conta com apenas 19 espécies de cigarrinhas registradas, nenhuma
pertencente à subfamília Typhlocybinae.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3. Parallaxis vacillans McAtee, 1926. Figura 4. Protalebrella brasiliensis


(Baker, 1899).

Figura 5. Rhabdotalebra hambletoni


Young, 1957. Figura 6. Typhlocybella minima Baker, 1903.

CONCLUSÃO

Com base em material coletado, é possível perceber a importância e eficiência


do método de coleta, visando um maior conhecimento sobre a diversidade, riqueza e
biologia das espécies. Foram assim obtidas 27 espécies de Typhlocybinae em Itaipava,
número bem superior ao obtido em um inventário similar, realizado por Coelho & Da-
Silva (2015), que obtiveram 19 espécies em Piraí. Como etapa subsequente ao trabalho,
pretende-se implementar o estudo da comparação de ocorrência de espécies em locais
urbanizados com aquelas de áreas protegidas, de maior diversidade botânica.

AGRADECIMENTOS

Aos gestores e funcionários do Posto Capivari, Itaipava, Petrópolis, RJ. As


atividades de campo foram parcialmente custeadas pelo grupo “Entomólogos
Estradeiros” (https://www.facebook.com/EntomologosEstradeiros/).

LITERATURA CITADA

Brun, F. G. K.; Link, D. & Brun, E. J. 2007. O emprego da arborização na manutenção


da biodiversidade de fauna em áreas urbanas. Revista da Sociedade Brasileira de
Arborização Urbana, 2(1):117-127.

Carver, M.; Gross, G. F. & Woodward, T. E. 1991. Hemiptera, p. 429-509. In:


C.S.I.R.O. (Ed.). The insects of Australia. Melbourne: Melbourne University
Press. 1137 p.

351
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Coelho, L. B. N. 1997. Análise faunística de Cicadellidae (Insecta: Homoptera) em área


de Mata Atlântica. Dissertação de Mestrado não publicada, Programa de Pós-
graduação em Entomologia, Universidade Federal de Viçosa. 73 p.

Coelho, L. B. N. & Da-Silva, E. R. 2015. Inventário preliminar dos Typhlocybinae


(Hemiptera: Cicadellidae) do município de Piraí, Estado do Rio de Janeiro, p.
20. In: Livro de Resumos do III Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro
(EntomoRio). Rio de Janeiro: UNIRIO. 89 p.

Coelho L. B. N. & Nessimian J. L. 2009. Three new species of Dikrella Oman


(Hemiptera: Cicadellidae: Typhlocybinae) from Minas Gerais State, Brazil.
Zootaxa, 2142:20-28.

Da-Silva, E. R.; Coelho, L. B. N.; Trindade, D. P.; Barbosa, M. S. & Campos, T. R. M.


2016. Population dynamics of Cicadellidae and Delphacidae (Hemiptera) in an
urban environment of the Rio de Janeiro City, p. 91-100. In: Da-Silva, E.R.;
Passos, M.I.S.; Aguiar, V.M.; Lessa, C.S.S. & Coelho, L.B.N. (Ed.). Anais do III
Simpósio de Entomologia do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: UNIRIO. 190 p.

Evans, J. W. 1946. A natural classification of leaf-hoppers (Jassoidea, Homoptera). Part


1. External morphology and systematic position. Transactions of the Royal
Entomological Society of London, 96(3):47-60.

Giustolin, T. A.; Lopes, J. R. S.; Querino, R. B.; Cavichioli, R. R.; Zanol, K.; Azevedo
Filho, W. S. & Mendes, M. A. 2009. Diversidade de Hemiptera,
Auchenorrhyncha em agroecossistemas e fragmento de floresta nativa do Estado
de São Paulo. Neotropical Entomology, 38(6):834-841.

Mejdalani, G. 1998. Morfologia externa dos Cicadellinae (Homoptera, Cicadellidae):


comparação entre Versigonalia ruficauda (Walker) (Cicadellini) e Tretogonia
cribrata Melichar (Proconiini), com notas sobre outras espécies e análise da
terminologia. Revista Brasileira de Zoologia, 15(2):451-544.

Nielson, M. W. 1985. Leafhoppers systematics, p.11-39. In: Nault, L. R. & Rodríguez,


J. G. (Eds.). The leafhoppers and planthoppers. New York: Wiley. 500 p.

Zanol, K.M.R. & Menezes, M. 1982. Lista preliminar dos cicadelídeos (Homoptera,
Cicadellidae) do Brasil. Iheringia, série Zoologia, 61:9-65.

352
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

PREFERÊNCIA ALIMENTAR DE FORMIGAS Camponotus spp.


Veronica Loureiro BRIDI1*, Bruna Pereira SILVESTRE1, Bárbara Rohr Decothé
FONSECA1, Elias Reis DOS ANJOS1 & Thayanne RANGEL1
1
Instituição Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, campus Santa Teresa.
*e-mail: veronicalbridi@gmail.com

INTRODUÇÃO

As formigas ocupam o planeta há cerca de 50 milhões de anos e correspondem a


um dos grupos de indivíduos mais abundante, possuindo entre 18 e 20 mil espécies, e
resistente no mundo (Holldobler, Wilson, 1990). Estima-se que das espécies existentes,
aproximadamente 2.000 ocorrem em território brasileiro (Bueno, 2003; Bueno,
Campos-Farinha, 1999). As formigas são artrópodes da Classe Insecta, Ordem
Hymenoptera, juntamente com as vespas e abelhas, sendo constituídas de uma única
família – Formicidae. São insetos eussociais (assim como os cupins), ou seja, formam
uma sociedade com níveis avançados de organização – castas - (Holldobler, Wilson,
1990). Tal característica se deve ao fato destes indivíduos terem desenvolvimento
polimorfismo, ou seja, várias formas corporais. As formigas são conhecidas, também,
por apresentarem divisão de trabalho entre seus indivíduos, os quais podem apresentar
uma estimativa de vida que varia dos 4 aos 15 anos de idade (Robinson, 1996). Além
disso, constituíram o primeiro grupo de predadores eussociais a viver e forragear solos e
material vegetal apodrecido no chão, desenvolvendo secundariamente a vida arborícola
– como ocorreu em algumas das espécies do gênero Camponotus (Holldobler, Wilson,
1990), instrumento de investigação do trabalho em questão.
As formigas do gênero Camponotus são conhecidas popularmente por formigas
carpinteiras, devido ao seu hábito de cavar a madeira para nidificar (Yamamoto, 2004).
Além disso, estabelecem-se em um ou vários ninhos (monodômicos e polidômicos,
respectivamemte) podendo formar, inclusive, o que se conhece por ninhos satélites, os
quais são apêndices do ninho principal (Zorzenon, 2009). Amplamente encontradas em
regiões tropicais e temperadas (Robinson, 1996) espécies de Camponotus ocorrem
abundantemente no continente americano, correspondendo a cerca de 1.500 espécies
encontradas no mundo, entre as quais, cinco ocorrem no território brasileiro:
Camponotus rufipes, Camponotus atriceps, Camponotus arboreus, Camponotus
fuscocinctus e Camponotus crassus (Zorzenon, 2009). Outra característica importante é
que tais formigas são generalistas, ou seja, vivem bem em quase todos os ambientes, o
que também reflete na sua dieta alimentar, uma vez que são onívoras (Solis et al.,
2009). Visto isso, o trabalho foi desenvolvido com o objetivo de identificar a
preferência alimentar das formigas do gênero Camponotus, a partir da escolha aleatória
de três ninhos desta e a disposição de alimentos próximos aos ninhos. O trabalho se faz
relevante, pois ao se identificar a preferência alimentar destas formigas, torna-se
possível realizar controle biológico das mesmas, uma vez que são consideradas
“pragas”, pois podem construir seus ninhos em mudas e plantas, no geral, além de
invadirem residências..

MATERIAL E MÉTODOS

Tal trabalho foi desenvolvido em 3 etapas: experimento em campo, análise


laboratorial e levantamento bibliográfico. O campo de estudos foi o Instituto Federal do
Espírito Santo, campus Santa Teresa, localizado no distrito de São João de Petrópolis,

353
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Estado do Espírito Santo, onde foram selecionados três ninhos em pontos distintos. Para
as atividades em campo, levaram-se os seguintes alimentos: refrigerante à base de cola,
banana, maçã, óleo de soja, carne de frango cozida, amido de milho, doce
industrializado (pirulito), folha de abacateiro, pão, os quais foram dispostos em ordem e
posição distintas, como pode ser observado nas figuras 1, 2 e 3 a seguir:

Figura 1. Registro do primeiro formigueiro analisado bem como a disposição dos


alimentos empregados.

Figura 2. Registro do segundo formigueiro utilizado para o experimento e os alimentos


utilizados no mesmo. A ordem de disposição foi: óleo, refrigerante, carne, pirulito,
amido de milho, folha de abacateiro, maçã, banana e pão.

354
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 3. Terceiro e último formigueiro das espécies do gênero Camponotus e


alimentos utilizados que foram dispostos na seguinte ordem: óleo, refrigerante, carne,
maçã, pirulito e pão foram colocados ao mesmo tempo e folha de abacateiro e banana
colocados por último. Obs: neste caso, o amido não foi utilizado uma vez que não foi
visitado nos demais.
Como observado, nos três casos (figuras 1, 2 e 3), os alimentos foram todos
dispostos próximos à entrada do formigueiro, para que as formigas fossem de fato
atraídas por eles. Para posterior análise em laboratório (utilizando lupas), objetivando
visualização das estruturas morfológicas das formigas, coletou-se um indivíduo de cada
espécie nos respectivos pontos. O levantamento bibliográfico se fez necessário para
identificação das formigas estudadas e, também, com a finalidade de comparar os
resultados aqui encontrados sobre sua preferência alimentar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A priori, foram identificados dois morfotipos do gênero, denominadas, aqui, de


Espécie 1 e Espécie 2. Ambas se diferenciam pelo padrão de cores: a E1 é marrom, com
o abdome preto e a E2 é preta, com listras branco-amareladas no abdome. Além disso,
as formigas apresentavam uma diferença quanto ao tamanho: a E1 era
consideravelmente maior do que a E2 (cerca de dois a três milímetros). Quanto à
preferência alimentar, as formigas apresentaram o mesmo tipo de comportamento no
que concerne aos alimentos dispostos. Tais comportamentos são analisados a seguir. O
primeiro fato observado foi de que as formigas estudadas preferiram o pão e a carne ,
conforme observado nas figura 4.

355
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 4. Formigas carregando migalhas de pão, à esquerda, e migalhas de carne, à


direita.

Tal característica foi confirmada por Longino (2002), o qual diz que estas
formigas procuram “[...] particularmente por carboidratos e proteínas, sendo observadas
frequentemente visitando nectários extraflorais”. Tesch et al (2014) também concordam
com isso, destacando que as formigas da fase adulta, principalmente, buscam por
alimentos ricos em carboidratos, sobretudo os líquidos, pois necessitam de mais energia
do que as formigas das fases mais jovens, devido às suas atividades desempenhadas. A
carne, por sua vez, também foi bastante visitada, como observado na figura 4, isso
porque o gênero Camponotus, em si, é bastante atraído por proteína animal (Zorzenon,
2009) já que se alimentam, inclusive, de restos de insetos. Além disso, esta é bastante
requisitada pelas formigas quando em fase larval (Tesch et al, 2014), sendo necessária,
indiretamente, para formação e crescimento das larvas. Neste caso, em específico, uma
sugestão é de que a proteína pode ser aproveitada para a formação de fungos no ninho,
os quais servirão para posterior nutrição dos fungos.
Quanto ao pirulito, o refrigerante (figura 6), a maçã e a banana (figura 7)
também foram observados “visitantes”, porém em menor frequência, o que pode ser
observado mais à frente na tabela 1:

Figura 6. Formiga da Espécie 1 se alimentando do pirulito, à esquerda, e do refrigerante


à base de cola, à direita.

Tabela 1. Relação entre tipo de alimento e quantidade de formigas.


Alimento Quantidade de formigas em cada ninho

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ninho 1 Ninho 2 Ninho 3


Pão 21 15 13
Carne 20 23 14
Doce 2 1 2
Refrigerante 1 1 2
Maçã 0 1 1
Banana 2 1 6

No caso do pirulito, o que pode ser explicado é o fato de tais formigas não
preferirem açúcares invertidos (xarope quimicamente produzido a partir do açúcar
comum – sacarose) para a sua dieta ou a concentração do mesmo é ínfimo, não sendo
tão atrativo (Solis et al., 2009). Além disso, pode ser de difícil assimilação pelas
formigas, mesmo após o fracionamento, pois o aparelho digestivo das mesmas é
adaptado a alimentos preferencialmente líquidos. Quanto ao refrigerante, o fato de
possuir outros ingredientes pode interferir tal experiência e, mesmo sendo um líquido,
pode não ter sido tão visitado por não ser passível de carregamento até o ninho.
Em relação às frutas, como observado na figura 7, as formigas Camponotus
(Solis et al., 2009) apresentaram comportamento intrigante: poucas formigas se
alimentaram delas.

Figura 7. À esquerda, única formiga (espécie 2) se alimentando da maçã e, à direita,


formigas da espécie 1 se alimentando da banana.

Isso, possivelmente devido ao grau de consistência das frutas, uma vez que, no
último ninho, a banana que se apresentava mais amolecida teve um grau de atratividade
maior do que aquelas que estavam mais consistentes. Segundo Cannon (1998), tais
formigas possuem preferência por frutose (entre outros açúcares comuns), o que
explicaria o fato de elas serem atraídas por frutas mais maduras e, por conseguinte, mais
amassadas.
A folha do abacateiro, o amido de milho e o óleo, por sua vez, não foram
utilizados pelas formigas. Isso porque as mesmas não se alimentam de partes vegetais,
por não digerirem a celulose (no caso da folha). Quanto ao amido e o óleo, a explicação
plausível é que não apresentam nenhum grau de atratividade (odor, sabor). Tal resultado
também foi constatado em outro trabalho (Solis et al., 2009), cuja explicação se baseou
no estado físico em que os alimentos gordurosos se encontravam: aqueles que estavam
em estado sólido eram mais atrativos do que aqueles em estado líquido.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONCLUSÃO

Podemos inferir que as formigas do gênero Camponotus observadas, conseguem


distinguir as fontes alimentícias. Constatou-se também, quanto à preferência alimentar,
que tais formigas têm uma maior predileção por alimentos ricos em carboidratos e
proteínas (neste caso, pão e carne), não sendo fortemente atraídas por alimentos
açucarados industrializados (como era esperado). A partir da obtenção de tais dados, é
importante ressaltar que alguns cuidados devem ser tomados como evitar que tais
alimentos, sobretudo proteínas, carboidratos e açúcares, fiquem à disposição destas
formigas na natureza - uma vez que o gênero Camponotus é reconhecido por nidificar
madeira, o que pode acarretar prejuízos em lavouras - mas também dentro das
residências, visto que buscam construir seus ninhos em mobílias, gerando prejuízos.

LITERATURA CITADA

Bueno, O.C. 2003. Formigas na área urbana. Biológico, São Paulo, v.65, n.1/2, p.93-94,
jan./dez., 2003.~

Bueno, O.C. & Campos-Farinha, A.E. DE C. As formigas domésticas. In: Mariconi,


F.A.M. (Ed.). Insetos e outros invasores de residências. Piracicaba: FEALQ.
1999

Cannon, C.A. 1998. Nutritional Ecology of the Carpenter Ant Camponotus


pennsylvanicus (De Geer): Macronutrient Preference and Particle Consumption.
Dissertation submitted to the Faculty of the Virginia Polytechnic Institute and
State University. Blacksburg, Virginia, Junho de 1998.

Holldobler, B. & Wilson, E.O. 1990. The ants. Harvard University Press, 1990. Cap. 2,
p. 4 – 83.

Robinson, W.H. 1996. Urban entomology: insect and mite pests in the human
environment. Chapman & Hall, 1996.

Solis, D.R., Bueno, O.C. & Moretti, T.C. 2009. Preferência Alimentar Da Formiga
Urbana Camponotus Vittatus Forel (Hymenoptera: Formicidae). Arquivos de
Instituto Biológico, São Paulo, v.76, n.4, p.755-759, out./dez., 2009.

Tesch, J.A., Brunelli W.A. & Srbek-Araújo, A.C. 2014. Preferência alimentar de um
morfotipo de formiga com forrageio diurno numa área de Mata Atlântica sobre a
Formação Barreiras. Revista Natureza online, n 12, p. 254 e 255, 2014.

Yamamoto, M. 2004. Ecologia e comportamento da formiga Camponotus sericeiventris


Guérin, 1838 (Formicinae, Camponotini) no cerrado. Dissertação de Mestrado
em Ecologia e Conservação de Recursos Naturais. Universidade Federal de
Uberlândia, MG, 2004.

Zorzenon, F.J. 2009. Levantamento, dimensionamento de danos e manejo de cupins


subterrâneos e formigas carpinteiras em arborização urbana. Instituto Biológico,
da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, São Paulo, 2009.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

ESTADO DA ARTE DA PESQUISA EM SISTEMÁTICA DO CLADO


Nemuroglanis (SILURIFORMES: HEPTAPTERIDAE)

Maridiesse Morais LOPES1,2 & Luisa Maria SARMENTO SOARES1,2


1
Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA
2
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
*maridiessemorais@gmail.com

INTRODUÇÃO

A família neotropical Heptapteridae Gill, 1861 é um grupo monofilético


sustentado com base em cinco sinapomorfias (Lundberg & McDade, 1986; Ferraris,
1988; Lundberg et al., 1991) composto por bagres de pequeno e médio porte que
tipicamente habitam riachos com águas turbulentas (Bockmann & Guazzelli, 2003).
Atualmente, com 208 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017), alocadas em 24
gêneros (Shibatta, 2003; Ferraris, 2007; Ortega-Lara, 2012). Compreende desde
espécies troglomórficas, exemplificada por Rhamdiopsis krugi Bockmann & Castro,
2010 conhecida para ambientes subterrâneos no alto rio Paraguaçu, na Chapada
Diamantina, estado da Bahia, até espécies em miniatura (menos do que 20 mm no
comprimento padrão), como Horiomyzon retropinnatus Stewart, 1986 do Alto
Amazonas (Sarmento-Soares et al., 2016).
Pouco mais da metade dos gêneros em Heptapteridae pertence a um grupo
monofilético reconhecido com base em 16 sinapomorfias, denominado como clado
Nemuroglanis (Ferraris, 1988; Bockmann, 1994). A saber: Acentronichthys Eigenmann
& Eigenmann 1889, Cetopsorhamdia Eigenmann & Fisher 1916, Chasmocranus
Eigenmann 1912, Heptapterus Bleeker 1858, Horiomyzon Stewart 1986, Imparfinis
Eigenmann & Norris 1900, Mastiglanis Bockmann 1994, Nannoglanis Boulenger 1847,
Nemuroglanis Eigenmann & Eigenmann 1889 (atualmente Imparales e Medemichthys
como sinônimos juniores, de acordo com Bockmann & Ferraris, 2005), Pariolius Cope
1872, Phenacorhamdia Dahl 1961, Rhamdioglanis Ihering 1907, Rhamdiopsis Haseman
1911 e Taunayia Eigenmann & Norris 1900 (Lundberg & McDade 1986; Bockmann &
Ferraris 2005; Bockmann & Castro 2010). Phreatobius Goeldi, considerado por alguns
autores como membro do clado Nemuroglanis, recentemente foi reconhecido como um
clado separado dentro da superfamília Pimelodoidea (Sarmento-Soares et al., 2016).
Apesar de sua morfologia altamente distinta as características em Phreatobius não
permitem sua alocação em uma família em separado (Sullivan et al., 2013). O conjunto
do clado Nemuroglanis atualmente é composto por 75 espécies válidas (Eschmeyer &
Fong, 2017), alocadas desde gêneros com representantes amplamente distribuídos pela
região neotropical, como Imparfinis, que com 21 espécies representa quase um terço do
clado, até gêneros monotípicos, a saber: Mastiglanis, Taunayia, Acentronichthys,
Horiomyzon, Nannoglanis e Pariolius, restritos a determinadas regiões.
O início do século XXI corresponde ao período mais produtivo da história da
ictiologia brasileira, com o número de espécies descritas superior àquele do início do
Século XX, até então com o maior número de contribuições (Buckup et al., 2007;
Langeani et al., 2007a). Os peixes constituem o grupo mais diversificado entre os
vertebrados e a real grandeza dessa diversidade está longe de ser conhecida (Galves et
al., 2009). No caso do clado Nemuroglanis, há ainda o agravante da própria história
problemática da sistemática de Heptapteridae. Segundo Bockmann & Guazzelli (2003),

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

apesar de ser um clado altamente distinto, a família permaneceu não diagnosticada por
muito tempo e alguns de seus gêneros foram até mesmo historicamente associados a
membros de diferentes famílias, como Trichomycteridae, Doradidae e Auchenipteridae.
Assim, muitos gêneros de Heptapteridae carecem de estudos revisivos (Aguilera et al.,
2010).
Inventários do estado da arte têm por objetivo realizar levantamentos do que se
conhece sobre um determinado assunto a partir das pesquisas realizadas em uma
determinada área (Brandão et al., 1986). Nesse sentido, apresenta-se o estado da arte
sobre as pesquisas em sistemática do clado Nemuroglanis, com ênfase nos avanços do
conhecimento das duas últimas décadas, breve histórico de cada gênero e lacunas para
um melhor entendimento, além de comentários sobre a sistemática das espécies
distribuídas na Mata Atlântica.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho constitui-se de uma revisão da literatura especializada sobre a


sistemática do clado Nemuroglanis, com ênfase nos estudos publicados nas duas últimas
décadas (janeiro/1997 a abril/2017). O levantamento da literatura foi realizado durante
os meses de março e abril de 2017. Foram consultadas publicações sobre o tema
disponibilizadas nas bases de dados do portal de periódicos da Capes e das plataformas
Researchgate e Scielo. Os descritores utilizados nas buscas foram: “Heptapteridae”,
“clado Nemuroglanis” e o nome de todos os gêneros do clado, separadamente. Dentre
os resultados das buscas apenas foram selecionados e analisados os trabalhos que tratam
da sistemática do grupo. Embora o clado tenha sido proposto por Ferraris (1988) e
corroborado por Bockmann (1994) os gêneros que o compõe são mais antigos e
carregam sua própria trajetória. Assim, um breve histórico da sistemática de cada um
deles também é fornecido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram encontrados vinte artigos científicos versando sobre a sistemática do


clado Nemuroglanis publicados nas duas últimas décadas, a figura 1 mostra a
categorização por assunto. Nas sessões abaixo são apresentadas 1) as contribuições
desses estudos para o avanço do conhecimento da sistemática do grupo, 2) breve
histórico de cada gênero e lacunas atuais para o seu melhor entendimento, com imagens
de representantes do grupo (figuras 2-15) e 3) comentários acerca da sistemática das
espécies distribuídas na Mata Atlântica, um bioma megadiverso e ameaçado.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Categorização por assunto dos estudos publicados entre janeiro de 1997 a
abril de 2017, sobre a sistemática do clado Nemuroglanis.

Contribuições das duas últimas décadas para o avanço do conhecimento

Descrições de espécies. Nas duas últimas décadas foram descritas oito espécies
pertencentes ao clado Nemuroglanis, sendo: Phenacorhamdia provenzanoi e
Phenacorhamdia taphorni, ambas descritas por DoNascimiento & Milani (2008);
Rhamdiopsis krugi Bockmann & Castro, 2010; Heptapterus qenqo Aguilera, Mirande &
Azpelicueta, 2010; Heptapterus mbya Azpelicueta, Aguilera & Mirande, 2011;
Imparfinis timana e Imparfinis usmai, ambas descritas por Ortega-Lara, Milani,
DoNascimiento, Villa-Navarro & Maldonado-Ocampo (2011) e Nemuroglanis furcatus
Ribeiro, Pedroza & Rapp Py-Daniel, 2011.

Redescrições de espécies. Duas espécies foram redescritas nesse período.


Cetopsorhamdia nasus Eigenmann e Fisher, 1916 por Ortega-Lara (2012), que
compreende a espécie tipo do gênero. Cabe ressaltar que esse trabalho fornece uma
descrição detalhada da osteologia da espécie e poderá servir de base para futuras
revisões a fim de aclarar a diagnose do grupo e Phenacorhamdia anisura (Mees, 1987)
por DoNascimiento & Milani (2008), restrita à bacia do Alto rio Apure, Venezuela.

Mudanças taxonômicas. Atualmente Imparales e Medemichthys são sinônimos


juniores de Nemuroglanis (ver Bockmann & Ferraris, 2005). E Phreatobius,
considerado por alguns autores como membro do clado Nemuroglanis, foi reconhecido
por Sullivan et al., (2013) como um clado separado dentro da superfamília
Pimelodoidea, como exposto acima.

Novos registros. Foram encontrados três estudos sobre novos registros de espécies, um
ampliando a distribuição de Imparfinis borodini para a bacia do rio de Contas, no
nordeste do Brasil (ver Sarmento-Soares et al., 2016), outro ampliando o limite norte da
distribuição de Imparfinis mishky para ao sul da província de Misiones, na Argentina
(ver Bogan et al., 2015) e outro registrando Phenacorhamdia tenebrosa para a bacia do
rio Paraná na Argentina (ver Giorgis et al., 2012).

Estudos citogenéticos. Algumas espécies do clado Nemuroglanis foram caracterizadas


citogeneticamente, como Cetopsorhamdia iheringi, Rhamdiopsis microcephala (ver
Kantek et al., 2015), Imparfinis mirini, Imparfinis minutus (ver Ferreira et al., 2014),
Heptapterus mustelinus (ver Yano & Margarido, 2012), Imparfinis cf. schubarti,
Taunaya bifasciata e Phenacorhamdia tenebrosa (ver Borba et al., 2011). Segundo
Kantek et al., (2015) mais estudos envolvendo Heptapteridae podem auxiliar na
elucidação da citotaxonomia e evolução cromossômica da família.

Breve histórico dos gêneros e lacunas de conhecimento

Nemuroglanis Eigenmann & Eigenmann 1889. Estabelecido como gênero tipo para o
clado por Bockmann (1994). Atualmente, com 4 espécies válidas (Eschmeyer & Fong,
2017), distribuídas no sistema do rio Orinoco na Colômbia, curso superior do sistema
do rio Negro no Brasil e na Venezuela e afluentes superiores do sistema do rio
Amazonas no Brasil, Equador e Peru (Bockmann & Ferraris, 2005). Apesar de ser
antigo, o monofiletismo de Nemuroglanis foi corroborado por Bockmann e Ferraris

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

apenas em 2005. Sustentado com base em nove sinapomorfias, os referidos autores


fornecem uma diagnose para o gênero que, até então, estava baseada em uma
combinação de caracteres.

Figura 2. Nemuroglanis lanceolatus. MCZ 8169. Holótipo. Imagem: All Catfish


Species Inventory. Fotógrafo: MCZ staff.

Cetopsorhamdia Eigenmann & Fisher 1916. Atualmente, com 9 espécies válidas


(Ortega-Lara, 2012; Eschmeyer & Fong, 2017) distribuídas em riachos de pequeno e
médio porte dos sistemas dos rios Magdalena, curso superior do rio Paraná, sistemas
dos rios Amazonas, Orinoco e São Francisco e sistema do lago Maracaibo (Bockmann,
1998). Bockmann (1998) em tese não publicada, ressalta o não monofiletismo do
gênero Cetopsorhamdia em sua composição. Ruiz & Román-Valencia (2006)
descreveram alguns aspectos taxonômicos de C. nasus e C. boquillae e forneceram um
diagnóstico para as espécies, sem aprofundar no diagnóstico do gênero e sua posição
filogenética. O gênero permanece indefinido, entretanto, Ortega-Lara (2012) se propõe
a futuras revisões taxonômicas e estudos filogenéticos.

Figura 3. Cetopsorhamdia iheringii. MCNIP s/no. Imagem: Tiago Pessali.

Chasmocranus Eigenmann 1912. Com 9 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017),
distribuídas em riachos de pequeno porte do sistema de drenagens costeiras da região
das Guianas, do sistema do rio Orinoco, e do sistema do rio Amazonas, nas bacias dos
rios Negro, Xingú e Tocantins (Bockmann, 1998). A validade de Chasmocranus foi
corroborada por Bockmann (1998), que forneceu alguns caracteres considerados
apomórficos para o reconhecimento genérico. Desde então, nenhum outro estudo foi
realizado.

Figura 4. Chasmocranus longior. FMNH 53208. Holótipo. Imagem: All Catfish


Species Inventory. Fotógrafo: Mike W. Litmann.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Heptapterus Bleeker 1858. Com 11 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017),
distribuídas na América do Sul, do Suriname a Buenos Aires e ao longo da região
andina da Argentina, Bolívia e Peru (Aguilera et al., 2010). Permanece
insatisfatoriamente diagnosticado, com necessidade de uma revisão filogenética
(Aguilera et al., 2010).

Figura 5. Heptapterus mustellinus. MCP 11249. Imagem: Bockmann (1998).


Fotografia: R.M.C. Castro.

Imparfinis Eigenmann & Norris 1900. Atualmente, com 21 espécies válidas


(Eschmeyer & Fong, 2017), distribuídas da Costa Rica a Argentina (Ortega-Lara et al.,
2011). Ao final do século XX uma tentativa de diagnosticar filogeneticamente
Imparfinis foi realizada por Bockmann (1998), sugerindo o gênero como válido e
fornecendo uma diagnose por combinação de quatro caracteres considerados
apomórficos. Atualmente, Imparfinis permanece incipientemente diagnosticado
(Ortega-Lara et al., 2011; Sarmento-Soares et al., 2016), desde a sua descrição, nenhum
carácter exclusivo foi oferecido para seu reconhecimento (Ortega-Lara et al., 2011).

Figura 6. Imparfinis minitus. MBML 7751. Imagem: Leydiane Rodrigues.

Phenacorhamdia Dahl 1961. Com 10 espécies válidas (Eschmeyer & Fong, 2017),
distribuídas em pequenos riachos dos sistemas dos rios Orinoco, Amazonas, Paraná-
Paraguai e São Francisco e sistemas de drenagens costeiras da região das Guianas
(Bockmann, 1998). Britski (1993) forneceu alguns comentários sobre a validade de
Phenacorhamdia, com base em características morfológicas externas como
potencialmente diagnósticas para o gênero. Bockmann (1998) confirmou a validade do
grupo, corroborando alguns dos caracteres previamente propostos por Britski (1993).
DoNascimiento & Milani (2008) comentaram sobre evidências de relações entre
espécies.

Figura 7. Phenacorhamdia tenebrosa. MBML 7953. Imagem: Luisa Sarmento.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Rhamdioglanis Ihering 1907. Atualmente, com 2 espécies válidas (Eschmeyer & Fong,
2017), distribuídas em drenagens costeiras da Mata Atlântica, do Rio de Janeiro a Santa
Catarina (Bockmann & Guazzelli, 2003). Historicamente, alguns autores apontaram o
gênero como sinônimo-júnior de Imparfinis. Bockmann (1998) reconheceu o gênero
como válido e forneceu uma diagnose baseada em uma combinação de caracteres.
Ambas as espécies do gênero carecem de estudos revisivos.

Figura 8. Rhamdioglanis frenatus. Rio Vermelho, SP. Imagem: Luciano Lazzarini


Wolff. Disponível em Fishbase.

Rhamdiopsis Haseman 1911. Atualmente, com 3 espécies válidas (Eschmeyer & Fong,
2017), a última descrita foi o bagre troglóbio Rhamdiopsis krugi Bockmann & Castro
2010, para cavernas da Chapada Diamantina, Bahia, Nordeste do Brasil. O gênero está
sendo estudado e estão sendo preparadas publicações de potenciais espécies novas
(Bockmann & Guazzelli, 2003). Uma potencial espécie nova de bagrinho, Rhamdiopsis
sp., compreende populações endêmicas da caverna Toca do Gonçalo, no município de
Campo Formoso, semi-árido da Bahia, em estudos em andamento por F. A. Bockmann
e M. E. Bichuette.

Figura 9. Rhamdiopsis microcephala. Rio das Velhas. Imagem: Reproduzido de Lütken


(2010).

Monotípicos. Atualmente, o clado Nemuroglanis aloca 6 gêneros monotípicos,


comentados brevemente abaixo. A saber: Acentronichthys, Horiomyzon, Mastiglanis,
Nannoglanis, Pariolius e Taunayia. Historicamente, assim como os demais gêneros do
clado, alguns apresentam uma taxonomia confusa.

Acentronichthys Eigenmann & Eigenmann, 1889. Estabelecido para alocar uma única
espécie, Acentronichthys leptos, cuja localidade-tipo é o município de São Mateus,
norte do Estado do Espírito Santo. A espécie é distribuída em córregos costeiros do Rio
de Janeiro a Santa Catarina, no Espírito Santo é conhecida apenas da sua localidade de
tipo (Bockmann & Guazzelli, 2003). Ferraris (1988) considerou como membro do clado
Nemuroglanis, posteriormente, essa posição foi confirmada por Bockmann (1994).
Apesar de atualmente este ser um gênero monotípico, historicamente já foi sugerido
como sinônimo júnior de Heptapterus e chegou a alocar, no passado, até três espécies.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 10. Acentronichthys leptos. MBML 1458. Rio do Peixe Grande, na ponte da
fazenda da portuguesa, Cumuruxatiba, Prado- BA. Imagem: Luisa Sarmento.
Horiomyzon Stewart, 1986. Estabelecido para alocar uma única espécie, Horiomyzon
retropinnatus, originalmente designada como sua espécie-tipo, distribuída nas bacias do
rio Amazonas e Napo (Bockmann & Guazzelli, 2003). Em 1998, era considerado o
membro mais raro em Heptaperidae, visto que apenas o holótipo da sua espécie tipo era
conhecido (ver Bockmann, 1998). Recentemente, uma potencial nova espécie foi
registrada para o rio Madeira e está em processo de descrição por Flávio A. Bockmann
(LIRP), John G. Lundberg (ANSP) e Willian Ohara (UFRO).

Figura 11. Horiomyzon retropinnatus. FMNH 96553. Holótipo. Imagem: All Catfish
Species Inventory. Fotógrafo: Mike W. Litmann.

Mastiglanis Bockmann, 1994. Estabelecido por Bockmann (1994) para Mastiglanis


asopos, sendo esta, espécie tipo por monotipia, distribuída nas bacias dos rios
Amazonas, Capim e Orinoco (Bockmann & Guazzelli, 2003). Neste mesmo trabalho, o
autor sugere Mastiglanis como membro do clado Nemuroglanis e o considera como
sendo o seu gênero mais basal. Segundo Bockmann (1998), Mastiglanis é, ao lado de
Gladioglanis, o único gênero diagnosticado através da análise cladística de seus
caracteres.

Figura 12. Mastiglanis asopos. ZUEC 5932. Amazonas. Imagem: Ivan Sazima.
Disponível em Fishbase.

Nannoglanis Boulenger, 1887. Descrito para alocar Nannoglanis fasciatus, espécie


tipo por monotipia, conhecida para a bacia do rio Napo (Bockmann & Guazzelli, 2003).
Originalmente, o gênero foi atribuído à Trichomycteridae, sendo reconhecido como
membro de Heptapteridae em 1991 (Lundberg et al., 1991). Historicamente,

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

considerado como sinônimo de Pariolius por Gosline (1940) e de Heptapterus por Mees
(1974).

Figura 13. Nannoglanis fasciatus. BMNH 1880.12.5.149-150. Síntipo. Imagem: All


Catfish Species Inventory. Fotógrafo: Mark Allen.
Pariolius Cope, 1872. Estabelecido por Cope em 1974 para incluir uma única espécie,
Pariolius armillatus, espécie tipo por monotipia, distribuída no Alto Rio Amazonas,
Brasil e Peru (Bockmann & Guazzelli, 2003). Segundo Bockmann (1998) foi mantido
por muito tempo na família Trichomycteridae, devido, por um lado, a referência original
de Cope sobre sua íntima relação com Trichomycterus.

Figura 14. Pariolius armillatus. Imagem: All Catfish Species Inventory. Fotógrafo:
Mark Sabaj Pérez.

Taunayia Eigenmann & Norris, 1900. O gênero Taunayia foi estabelecido


originalmente por Ribeiro em 1918 para uma única espécie, Taunayia marginata,
distribuída nas drenagens do Alto Paraíba do Sul e Tietê (Bockmann & Guazzelli,
2003). Historicamente, o gênero foi tratado como um membro de Auchenipteridae (ver
Jordan, 1923) e Pimelodidae (ver Britski, 1972). Segundo Bockmann (1998) a origem
do equívoco da sua posição familiar remonta desde sua descrição, em que não foi
especificada a família que pertencia. Taunayia marginata foi considerada sinônimo de
Taunayia bifasciata (Eigenmann & Norris 1900) e redescrita por Oliveira & Britski
(2000).

Figura 15. Taunayia bifasciata. Imagem: Kátia Freire. Disponível em Fishbase.

Sistemática das espécies na Mata Atlântica

O traço marcante da ictiofauna de Mata Atlântica é seu grau de endemismo,


resultante do processo de evolução histórica das espécies em área geomorfologicamente
isolada das demais bacias hidrográficas brasileiras (MMA, 2000). Na Mata Atlântica
ocorrem dez espécies pertencentes ao clado Nemuroglanis, alocadas nos gêneros
Acentronichthys, Rhamdioglanis, Imparfinis e Rhamdiopsis. Os gêneros
Acentronichthys (com 1 espécie, A. leptos) e Rhamdioglanis (com 2 espécies, R.

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frenatus e R. transfasciatus) são endêmicos do bioma Mata Atlântica. O gênero


Imparfinis é amplamente distribuído pela região neotropical, contando com 5 espécies
com distribuição conhecida para a Mata Atlântica, I. piperatus, espécie-tipo do gênero,
descrita para o estado de São Paulo, Sudeste do Brasil, I. borodini, descrita para a bacia
do rio Paraná, porém com distribuição ampliada recentemente para o rio de Contas,
Nordeste do Brasil (Sarmento-Soares et al., 2016), I. mirini, conhecida para a bacia do
rio Paraná e I. hollandi e I. mishky, ocorrentes em drenagens do sul do país.
Historicamente, Imparfinis foi considerado como um sinônimo sênior de Rhamdioglanis
e mesmo atualmente a distinção entre esses dois gêneros é confusa. Quanto à
Rhamdiopsis, como exposto acima, o gênero está sendo revisado e com potenciais
novas espécies sendo estudadas.

CONCLUSÃO

Nas duas últimas décadas ocorreram relativamente poucos avanços no


conhecimento da sistemática do clado Nemuroglanis. Este fato pode estar relacionado
com a pouca representatividade das espécies em coleções científicas, associado ao
limitado número de taxonomistas trabalhando com o grupo. Futuros estudos envolvendo
abordagens em taxonomia integrativa, a exemplo de estudos citogenéticos e análises
moleculares em Sistemática, bem como de outras fontes de caracteres como dados
provenientes de miologia ou neuroanatomia, podem contribuir para elucidar as lacunas
de conhecimento mencionadas, principalmente para os gêneros pobremente
diagnosticados e representantes distribuídos na Mata Atlântica que carecem de estudos
revisivos. Dessa maneira, espera-se que, no futuro, tenhamos melhor entendimento
sobre esses diversificados e endêmicos peixes de riachos.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) pelo apoio. À Fundação de


Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo – FAPES, pela bolsa de doutorado
concedida (MML) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico – CNPq, pela bolsa PCI-DA (LMSS). A Maria Elina Bichuette pelas
informações sobre a potencial nova espécie de Rhamdiopsis da Toca do Gonçalo. Pela
cessão das imagens agradecemos a Leydiane Nunes Rodrigues, Tiago Pessali e ao
banco de imagens do Fishbase e do All Catfish Species Inventory Project.

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371
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

LEVANTAMENTO DA AVIFAUNA DA POUSADA SÍTIO CANAÃ, SANTA


TERESA – ESPÍRITO SANTO

Renan Luxinger BETZEL1*, Francieli Loss PUGNAL1, Charles Gladstone Duca


SOARES2 & Sílvia Ramira LOPES 1
1
Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA)
2
Universidade Vila Velha (UVV)
*renanbetzel@gmail.com

INTRODUÇÃO

O Brasil é um dos países com maior biodiversidade do mundo, possuindo cerca


de 8.291 espécies de vertebrados, das quais 1.919 são espécies de aves conhecidas
(Piacentini et al., 2015), sendo assim o segundo grupo de vertebrados mais abundante
em todo o País. Neste sentido, estudos de levantamento de espécies são cada vez mais
importantes para que se tenha conhecimento desta imensa biodiversidade e são um dos
pilares que embasam a tomada de decisões a respeito de empreendimentos que vão
impactar o meio ambiente (Silveira et al., 2010). A partir de levantamentos faunísticos é
possível descobrir grande parte da diversidade de espécies que existem na região, sendo
possível assim criar subsídios para o seu manejo e conservação (Dias & Mikich, 2006).
O bioma da Mata Atlântica abrangia praticamente todo o ambiente costeiro do
Brasil, que hoje encontra-se devastado e mesmo assim ainda possui a segunda maior
riqueza de espécies da fauna e da flora do País (Santos, 2010). Além da perda natural de
seu habitat, a expansão da agricultura e o uso de agrotóxicos podem levar a morte das
aves (Valdes, 2007). Por esses motivos um elevado número de espécies corre risco de
extinção, onde segundo Marini & Garcia (2005), a Mata Atlântica possui um total de
112 espécies ameaçadas, sendo que destas 54 são endêmicas. No estado do Espírito
Santo 85 espécies de aves são consideradas ameaçadas de extinção, sendo que 26 são
categorizadas como vulnerável, 17 em perigo e 38 criticamente em perigo e 4 já estão
regionalmente extintas (Simon, 2009).
A perda e fragmentação de habitat também é um problema para a conservação
da biodiversidade no município de Santa Teresa, sendo um dos maiores problemas
enfrentados pelas espécies da fauna e flora local. Mesmo com a presença de relevantes
unidades de conservação, o município sofre com a fragmentação de habitats pela
exploração imobiliária, expansão da agricultura e uso de agrotóxicos, fatos associados à
fragmentação florestal e que causam alterações no tamanho, na dinâmica, na
composição e nas interações tróficas das populações de aves do local (Laurance &
Vasconcelos, 2009).
Estes dados confirmam que este bioma necessita de ações voltadas para a
conservação de suas espécies que correm sério risco de extinção (Santos, 2010). Dessa
forma, esse trabalho visa conhecer a riqueza de espécies de aves que ocorrem em uma
área de Mata Atlântica localizada na Pousada Sítio Canaã, o que favorece a formulação
de ações que visam à conservação das mesmas.

372
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A Pousada Sítio Canaã está localizada as coordenadas 19º55’11”S e


40º38’41”O, a aproximadamente 6 km do Centro da cidade de Santa Teresa e está a
uma altitude de 900 metros. É caracterizada por possuir em seus domínios a Mata
Atlântica. A pousada possui uma área de aproximadamente 85 hectares, sendo que deste
total cerca de 75% ainda é recoberto por mata nativa bem preservada, onde a
fitofisionomia predominante é a de Floresta Ombrófila Densa. Dentro da pousada é
possível se observar áreas com vegetação primária, locais em regeneração e alguns
lugares mais abertos com água abundante, possuindo assim uma grande variedade de
ambientes.

Coleta de dados

A coleta dos dados ocorreu de duas formas principais, por meio de pontos fixos
e o deslocamento em transectos, que segue a metodologia proposta por Aleixo &
Vielliard (1995), Develey (2003) e Ribon (1998).
O método de pontos fixos visa registrar as espécies presentes em um
determinado local em função de um tempo pré-estabelecido. No presente trabalho foram
demarcados um total de 16 pontos distintos, sendo que destes, 6 encontram-se
localizados em áreas abertas e 10 estão compreendidos em ambientes florestais. Cada
ponto foi demarcado a uma distância de pelo menos 200 metros entre um ponto e outro.
Nestes pontos a observação das espécies foi feita durante 10 minutos, anotando as
espécies e o número de indivíduos de cada espécie encontradas em planilhas de campo,
tendo o cuidado de não registrar o mesmo indivíduo mais de uma vez no mesmo ponto.
As condições climáticas e físicas do ambiente também foram anotadas.
O outro método utilizado foi o de transectos que consiste em caminhadas por
trilhas dentro da pousada, que objetiva registrar as espécies presentes nestas trilhas. Este
método foi utilizado apenas para a análise qualitativa das espécies, pois a área
percorrida é maior do que a amostrada nos pontos fixos, o que aumenta as chances de se
registrar o mesmo indivíduo mais de uma vez. O deslocamento nestes transectos foi
feito em uma velocidade constante, evitando-se andar muito rapidamente e evitando ao
máximo a produção de ruídos nas trilhas, o que propicia uma boa observação das
espécies, além de não afugentar as mesmas. Foram delimitadas 6 trilhas na pousada,
onde 2 destas compreendem áreas abertas e as outras 4 são no interior da mata,
incluindo assim todos os ambientes encontrados na área de estudo.
A amostragem em campo ocorreu durante 8 meses (agosto de 2016 a março de
2017) abrangendo períodos de épocas mais quentes e outras com temperaturas mais
amenas. As incursões à campo foram realizadas a cada 15 dias, durante todo o final de
semana (2 dias) e nestes dias as observações foram feitas no período da manhã das
06:00 às 11:00 horas, e no período da tarde, das 16:00 às 18:00 horas.
A identificação das espécies encontradas ocorreu por meio de contato visual e/ou
auditivo. Foram utilizados dois binóculos 8x40 e um Guia de Campo da Avifauna
Brasileira (Sigrist, 2014) para a identificação das espécies em campo. Além do registro
visual, também foram realizadas gravações das vocalizações das espécies, o que
auxiliou na identificação das mesmas. A nomenclatura e a classificação taxonômica
utilizada no trabalho seguiu Piacentini et al. (2015).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o período estudado foi possível observar um total de 190 espécies na


Pousada Sítio Canaã (Tabela 1), demonstrando desta forma um alto número de espécies
de aves no local. Foram realizadas um total de 19 incursões à campo o que totalizou 133
horas de observação. Dentre os passeriformes a família com maior riqueza específica foi
Tyrannidae com 21 espécies, seguida de Thraupidae com 20 espécies e, entre os não-
passeriformes as famílias que merecem destaque são Trochilidae com 15 espécies,
seguida de Accipitridae com 8 espécies.
No trabalho foi possível detectar algumas espécies ameaçadas de extinção a
nível estadual como Penelope obscura (Vulnerável), Spizaetus melanoleucus
(Vulnerável), Touit melanonotus (Em Perigo), Touit surdus (Em Perigo) (Simon et al.,
2007) e outras 3 espécies ameaçadas a nível nacional, Touit melanonotus (Vulnerável),
Amazona rhodocorytha (Em Perigo), Grallaria varia (Vulnerável) (Silveira & Straube,
2008), o que demonstra a importância da Pousada Sítio Canaã como um refúgio para
estas espécies.

Tabela 1. Lista das espécies encontradas na Pousada Sítio Canaã.


Tinamidae
Crypturellus obsoletus inambuguaçu
Crypturellus tataupa inambu-chinta

Anatidae
Amazonetta brasiliensis ananai

Cracidae
Penelope obscura jacuguaçu
Ortalis araucuan aracuã-de-barriga-branca

Cathartidae
Cathartes aura urubu-de-cabeça-vermelha
Cathartes burrovianus urubu-de-cabeça-amarela
Coragyps atratus urubu

Accipitridae
Elanoides forficatus gavião-tesoura
Ictinia plumbea sovi
Geranospiza caerulescens gavião-pernilongo
Rupornis magnirostris gavião-carijó
Geranoaetus albicaudatus gavião-de-rabo-branco
Buteo brachyurus gavião-de-cauda-curta
Buteo albonotatus gavião-urubu
Spizaetus melanoleucus gavião-pato

Rallidae
Aramides saracura saracura-do-mato
Pardirallus nigricans saracura-sanã
Gallinula galeata galinha-d’água

Charadriidae

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Vanellus chilensis quero-quero

Columbidae
Columbina talpacoti rolinha-roxa
Patagioenas picazuro asa-branca
Patagioenas plumbea pomba-amargosa
Leptotila verreauxi juriti-pupu
Leptotila rufaxilla juriti-de-testa-branca
Geotrygon montana pariri

Cuculidae
Piaya cayana alma-de-gato

Strigidae
Pulsatrix koeniswaldiana murucututu-de-barriga-amarela

Caprimulgidae
Nyctidromus albicollis bacurau

Apodidae
Chaetura cinereiventris andorinhao-de-sobre-cinzento
Chaetura meridionalis andorinhao-do-temporal

Trochilidae
Phaethornis squalidus rabo-branco-pequeno
Phaethornis pretrei rabo-branco-acanelado
Phaethornis eurynome rabo-branco-de-garganta-rajada
Eupetomena macroura beija-flor-tesoura
Aphantochroa cirrochloris beija-flor-cinza
Florisuga fusca beija-flor-preto
Colibri serrirostris beija-flor-de-orelha-violeta
Lophornis magnificus topetinho-vermelho;
Chlorostilbon lucidus besourinho-de-bico-vermelho
Thalurania glaucopis beija-flor-de-fronte-violeta
Leucochloris albicollis beija-flor-de-papo-branco
Amazilia versicolor beija-flor-de-banda-branca
Amazilia lactea beija-flor-de-peito-azul
Heliodoxa rubricauda beija-flor-rubi
Calliphlox amethystina estrelinha-ametista

Trogonidae
Trogon viridis surucuá-de-barriga-amarela
Trogon surrucura surucuá-variado
Trogon rufus surucuá-dourado

Alcedinidae
Megaceryle torquata martim-pescador-grande
Chloroceryle americana martim-pescador-pequeno

Galbulidae

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Galbula ruficauda ariramba

Bucconidae
Malacoptila striata barbudo-rajado

Ramphastidae
Ramphastos vitellinus tucano-de-bico-preto
Selenidera maculirostris araçari-poca
Pteroglossus bailloni araçari-banana
Pteroglossus aracari araçari-de-bico-branco

Picidae
Picumnus cirratus picapauzinho-barrado
Veniliornis maculifrons picapauzinho-de-testa-pintada
Piculus aurulentus pica-pau-dourado
Colaptes melanochloros pica-pau-verde-barrado
Celeus flavescens pica-pau-de-cabeça-amarela
Dryocopus lineatus pica-pau-de-banda-branca
Campephilus robustus pica-pau-rei

Cariamidae
Cariama cristata seriema

Falconidae
Caracara plancus carcará
Milvago chimachima carrapateiro
Herpetotheres cachinnans acauã
Micrastur ruficollis falcão-caburé
Falco rufigularis cauré

Psittacidae
Pyrrhura frontalis tiriba
Touit melanonotus apuim-de-costas-pretas
Touit surdus apuim-de-cauda-amarela
Pionus maximiliani maitaca
Amazona rhodocorytha chauá

Thamnophilidae
Terenura maculata zidedê
Dysithamnus stictothorax choquinha-de-peito-pintado
Dysithamnus mentalis choquinha-lisa
Thamnophilus palliatus choca-listrada
Thamnophilus caerulescens choca-da-mata
Myrmoderus loricatus formigueiro-assobiador
Pyriglena leucoptera papa-taoca-do-sul
Drymophila ferruginea trovoada

Conopophagidae
Conopophaga lineata chupa-dente

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Grallariidae
Grallaria varia tovacuçu

Formicariidae
Chamaeza meruloides tovaca-cantadora

Dendrocolaptidae
Dendrocincla turdina arapaçu-liso
Sittasomus griseicapillus arapaçu-verde
Xiphorhynchus fuscus arapaçu-rajado
Campylorhamphus falcularius arapaçu-de-bico-torto
Lepidocolaptes squamatus arapaçu-escamoso
Dendrocolaptes platyrostris arapaçu-grande
Xiphocolaptes albicollis arapaçu-de-garganta-branca

Xenopidae
Xenops rutilans bico-virado-carijó

Furnariidae
Furnarius figulus casaca-de-couro-da-lama
Furnarius rufus joão-de-barro
Lochmias nematura joão-porca
Automolus leucophthalmus barranqueiro-de-olho-branco
Anabazenops fuscus trepador-coleira
Philydor rufum limpa-folha-de-testa-baia
Phacellodomus rufifrons joão-de-pau
Certhiaxis cinnamomeus curutié
Synallaxis ruficapilla pichororé
Cranioleuca pallida arredio-pálido

Pipridae
Manacus manacus rendeira
Ilicura militaris tangarazinho
Chiroxiphia caudata tangará

Oxyruncidae
Oxyruncus cristatus araponga-do-horto

Onychorhynchidae
Myiobius barbatus assanhadinho
Myiobius atricaudus assanhadinho-de-cauda-preta

Tityridae
Schiffornis virescens flautim
Pachyramphus castaneus caneleiro

Cotingidae
Carpornis cucullata corocoxó
Procnias nudicollis araponga

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Platyrinchidae
Platyrinchus mystaceus patinho

Rhynchocyclidae
Mionectes rufiventris abre-asa-de-cabeça-cinza
Leptopogon amaurocephalus cabeçudo
Tolmomyias sulphurescens bico-chato-de-orelha-preta
Todirostrum poliocephalum teque-teque
Poecilotriccus plumbeiceps tororó
Myiornis auricularis miudinho
Hemitriccus diops olho-falso
Hemitriccus nidipendulus tachuri-campainha

Tyrannidae
Hirundinea ferruginea gibão-de-couro
Camptostoma obsoletum risadinha
Elaenia flavogaster guaracava-de-barriga-amarela
Elaenia mesoleuca tuque
Phyllomyias fasciatus piolhinho
Phyllomyias griseocapilla piolhinho-serrano
Attila rufus capitão-de-saíra
Myiarchus tuberculifer maria-cavaleira-pequena
Myiarchus swainsoni irré
Myiarchus ferox maria-cavaleira
Sirystes sibilator gritador
Rhytipterna simplex vissiá
Pitangus sulphuratus bem-te-vi
Myiodynastes maculatus bem-te-vi-rajado
Megarynchus pitanguá neinei
Myiozetetes similis bentevizinho-de-penacho-
vermelho
Tyrannus melancholicus suiriri
Empidonomus varius peitica
Colonia colonus viuvinha
Fluvicola nengeta lavadeira-mascarada
Lathrotriccus euleri enferrujado

Vireonidae
Cyclarhis gujanensis pitiguari
Hylophilus poicilotis verdinho-coroado

Hirundinidae
Pygochelidon cyanoleuca andorinha-pequena-de-casa
Stelgidopteryx ruficollis andorinha-serradora
Progne tapera andorinha-do-campo
Progne chalybea andorinha-grande

Troglodytidae
Troglodytes musculus corruíra
Pheugopedius genibarbis garrinchão-pai-avô

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Turdidae
Turdus flavipes sabiá-una
Turdus leucomelas sabiá-branco
Turdus rufiventris sabiá-laranjeira
Turdus amaurochalinus sabiá-poca
Turdus albicollis sabiá-coleira

Mimidae
Mimus saturninus sabiá-do-campo

Passerellidae
Zonotrichia capensis tico-tico

Parulidae
Setophaga pitiayumi mariquita
Basileuterus culicivorus pula-pula

Icteridae
Cacicus haemorrhous guaxe
Icterus jamacaii corrupião
Gnorimopsar chopi pássaro-preto
Molothrus bonariensis chupim

Thraupidae
Schistochlamys ruficapillus bico-de-veludo
Tangara cyanoventris saíra-douradinha
Tangara sayaca sanhaço-cinzento
Tangara cyanoptera sanhaço-de-encontro-azul
Tangara palmarum sanhaço-do-coqueiro
Tangara ornata sanhaço-de-encontro-amarelo
Tangara cayana saíra-amarela
Sicalis flaveola canário-da-terra
Haplospiza unicolor cigarra-bambu
Chlorophanes spiza saí-verde
Hemithraupis ruficapilla saíra-ferrugem
Volatinia jacarina tiziu
Trichothraupis melanops tiê-de-topete
Lanio cristatus tiê-galo
Tachyphonus coronatus tiê-preto
Dacnis cayana saí-azul
Coereba flaveola cambacica
Sporophila caerulescens coleirinho
Saltator maximus tempera-viola
Saltator similis trinca-ferro

Cardinalidae
Caryothraustes canadensis furriel

Fringillidae

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Euphonia chlorotica fim-fim


Euphonia violácea gaturamo
Euphonia pectoralis ferro-velho

Passeridae
Passer domesticus pardal

A avifauna local é distribuída pelos diversos microhabitats disponíveis dentro da


pousada, desde áreas abertas com água disponível até ambientes de mata densa e
fechada, o que propicia vários nichos ecológicos para as espécies presentes no local e
consecutivamente uma maior diversidade de espécies.
O município de Santa Teresa possui 3 Unidades de Conservação (UCs), a
Estação Biológica de Santa Lúcia, a Reserva Biológica Augusto Ruschi e o Parque
Natural Municipal de São Lourenço, sendo que todos estes já possuem trabalhos que
objetivaram realizar o levantamento de sua avifauna. O município também possui
alguns outros trabalhos realizados fora destas UCs com o mesmo objetivo.
Dentre os trabalhos já realizados no município pode-se destacar os das UCs:
Estação Biológica de Santa Lucia com 302 espécies (Ruschi, 1977) e 248 espécies
(Simon, 2000); Reserva Biológica Augusto Ruschi com 256 espécies (Novaes et al.,
2016); Parque Natural Municipal de São Lourenço com 176 espécies (Prefeitura
Municipal de Santa Teresa, 2009), além de outros realizados fora destas UCs como, por
exemplo, na região urbana do município com 93 espécies (Silva & Martinelli, 2011) e
outro realizado por Willis & Oniki (2002), que analisaram as partes altas e baixas do
município e constataram um total de 405 espécies na região.
Todos estes levantamentos demonstram que o município de Santa Teresa possui
uma enorme variedade de espécies de aves, e também a Pousada Sítio Canaã, sendo que
o presente estudo apresentou mais espécies do que o Parque de São Lourenço e a região
urbana do município. Este levantamento feito na pousada apresentou menos espécies do
que os levantamentos feitos nas outras UCs do município, fato que pode estar
relacionado de que essas UCs possuem uma extensão muito maior do que a pousada e
possuem um maior grau de preservação, o que possibilita que espécies crípticas com
alta sensibilidade a ambientes alterados habitem somente estes locais como Santa Lúcia
e a ReBio Augusto Ruschi.
Em relação à curva de rarefação (Figura 1), pode-se observar que esta ainda não
se estabilizou, demonstrando assim que caso haja um número maior de amostragens,
provavelmente mais espécies seriam detectadas para a área de estudo.

380
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Curva de rarefação das espécies encontradas na Pousada Sítio Canaã.

Os dados encontrados pelo presente trabalho evidenciaram que a Pousada Sítio


Canaã oferece habitats para inúmeras espécies, incluindo espécies ameaçadas de
extinção e por isso a manutenção de suas áreas é importante para preservação destas
espécies. A riqueza de avifauna registrada pode ser um atrativo para Pousada fazendo
dela um ponto de observação, sendo explorada como ecoturismo.
O ecoturismo se efetuado de forma sustentável, pode auxiliar na preservação de
áreas como da Pousada Sítio Canaã e também de algumas unidades de conservação,
pois este traz benefícios financeiros para o local, que podem ser revertidos em ações que
visam a conservação e preservação destas áreas. Porém, é essencial que a prática do
ecoturismo tenha um planejamento crítico, para que desta forma auxilie na conservação
e não se torne inviável financeiramente (Zaú, 2014). Um dos ramos do ecoturismo é a
observação de aves (birdwatching) que cada vez mais vem ganhando adeptos no
território nacional (Valadares, 2015). Ainda segundo este autor, a observação de aves
vem movimentando o mercado do ecoturismo nacional, pois já existem vários grupos
que viajam o país com o objetivo de observar e/ou fotografar aves. O município de
Santa Teresa possui um grande potencial para a observação de Aves, pois como já dito
acima, o município possui um elevado número de espécies que podem ser observadas,
além de manter boa parte de seu território ainda bem preservado, fatores que podem ser
explorados para atrair os observadores de aves e desta forma, obter recursos financeiros
e consecutivamente auxiliar na preservação destas espécies.

CONCLUSÃO

Com esse trabalho, pode-se verificar que a Pousada Sítio Canaã abriga um
elevado número de espécies, sendo algumas destas ameaçadas de extinção,
demonstrando assim que a preservação das áreas nativas da Pousada é importante para
auxiliar na preservação e manutenção destas espécies de aves, já que áreas preservadas
se tornam cada vez mais escassas no domínio da Mata Atlântica.

AGRADECIMENTOS

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Agradecemos ao proprietário e a todos os funcionários da Pousada Sítio Canaã.


E a ESFA pela concessão de bolsa.

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383
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

INVENTÁRIO PRELIMINAR DA AVIFAUNA DO MUNICÍPIO DE


COLATINA – ES

Renan Luxinger BETZEL

Escola Superior São Francisco de Assis (ESFA)


renanbetzel@gmail.com
INTRODUÇÃO

O município de Colatina está localizado na região noroeste do estado do Espírito


Santo, o qual era originalmente recoberto pela Mata Atlântica. No entanto, este bioma
está altamente fragmentado no estado, restando apenas cerca de 12,6% de sua cobertura
natural (SOS Mata Atlântica, 2016). Este aspecto, igualmente, pode ser observado no
município em questão, o qual possui poucos locais com vegetação nativa, uma vez que
a maior parte de seu território compreende áreas com plantios e ambientes urbanizados.
Este processo de fragmentação, que é observado em toda a Mata Atlântica, afeta os
organismos que vivem nestes locais, inclusive a avifauna. Ferreira (2009) afirma que
algumas espécies são prejudicadas pela diminuição de seu habitat, declínio de um
recurso alimentar ou a perda de uma relação ecológica importante, fatores que são
influenciados pela fragmentação florestal.
Algumas espécies de aves respondem rapidamente a alterações feitas no meio
em que vivem, podendo desaparecer do local ou terem suas populações reduzidas, o que
faz destas espécies bons bioindicadores da qualidade daquele determinado ambiente
(Argel-de-Oliveira, 1993). Sendo assim, levantamentos faunísticos, quando bem
executados, se tornam importantes para auxiliar na tomada de decisões que visam a
conservação destas espécies e também do meio em que estão inseridas (Silveira et al.,
2010).
No mundo, atualmente, existem mais de 13.000 espécies de aves (BirdLife
International, 2016), distribuídas em todos os continentes. O Brasil possui um
considerável número de espécies, tendo em seu território um total de 1.919 espécies de
aves (Piacentini et al., 2015), o que o coloca entre os países mais biodiversos, em
relação a este grupo. A Mata Atlântica tem grande contribuição para a quantidade de
espécies que ocorrem no Brasil, já que este bioma abriga grande riqueza faunística,
podendo ser encontradas 891 espécies de aves (Moreira-Lima, 2013). Ainda sobre a
Mata Atlântica, um estado que merece destaque em relação à diversidade de Aves é o
Espírito Santo, pois mesmo não tendo grandes dimensões, cerca de 46.089 km²
(Governo do Estado do Espírito Santo, 2017), este reúne 654 espécies de Aves (Simon,
2009).
Colatina ainda não possui nenhum trabalho que apresente um inventário de
espécies de aves, que ocorrem dentro de seus domínios, desta forma, o presente trabalho
tem como objetivo principal apresentar uma lista preliminar de espécies que possuem
ocorrência no município em questão.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O município de Colatina se localiza na região noroeste do estado do Espírito


Santo, possui uma área de 1.416 Km² e apresenta uma temperatura média anual de 28°C

384
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

(IBGE, 2017). Segundo o IBGE (2004) a cobertura vegetal de Colatina é composta


basicamente por vegetação secundária e atividades agrárias, sendo que a maior parte do
município pertence à tipologia vegetal Floresta Estacional Semidecidual e pela Floresta
Ombrófila Densa em algumas outras regiões do município. A cidade é cortada pelo Rio
Doce, sendo este e seus afluentes as principais fontes de água de toda cidade. Sua
economia é baseada principalmente na indústria têxtil, no comércio e na agricultura,
fatores que favorecem que o município tenha poucas áreas florestadas, e as que ainda
persistem, estejam muito fragmentadas. O estudo se desenvolveu basicamente em três
localidades do município, são elas: Córrego do Almoço (19°28'9.01"S e
40°45'15.23"O), São João Grande (19°27'37.36"S e 40°49'58.05"O) e Córrego
Cascatinha (19°28'24.49"S e 40°42'20.30"O). Adicionalmente, registros ocasionais
feitos fora destas localidades, porém dentro dos limites do município, também foram
considerados.

Coleta de dados

Os registros foram obtidos por meio de caminhadas dentro e fora de fragmentos


florestais e deslocamentos em áreas rurais das três localidades citadas acima, e registros
ocasionais na área urbana do município também foram considerados. Estas caminhadas
foram realizadas em horários variados durante o dia, principalmente durante a manhã,
normalmente entre as 06:00 e 12:00 horas e no final da tarde, de 15:30 até o sol se pôr,
que são os horários mais propícios para observação de aves, além de algumas
amostragens realizadas à noite, entre 18:00 e 22:00 horas, com o intuito de se observar
aves com hábitos noturnos. As observações começaram no mês de janeiro de 2015 e se
estenderam até abril de 2017, com campanhas em todos os meses desse período. As
identificações ocorreram por meio de contato visual e/ou auditivo com as espécies,
tendo o auxílio de um guia de campo (Sigrist, 2014) e, em alguns casos onde se era
possível, foram feitos registros fotográficos e/ou sonoros para posterior análise e
identificação das espécies. Estes registros encontram-se depositados em sítio eletrônico
(Wikiaves, 2017). As definições do grau de ameaça de extinção de cada espécie seguiu
a Lista das Aves Ameaçadas de Extinção no Estado do Espírito Santo (Simon et al.,
2007), para nível estadual, MMA (2014) para nível nacional e, para nível mundial,
seguiu a IUCN (2016). Toda a ordem e classificação taxonômica do presente trabalho
segue Piacentini et al. (2015).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi possível verificar elevado número de espécies no município de Colatina. No


total, foram anotadas 217 espécies de aves (Tabela 1), o que equivale a cerca de 33% de
todas as aves com ocorrência confirmada para o estado do Espírito Santo. As espécies
encontram-se distribuídas em 57 Famílias distintas, dentre os não-passeriformes as
Famílias mais abundantes foram Trochilidae com 11 espécies, seguido de Ardeidae e
Accipitridae com 10 espécies cada, e, em relação aos passeriformes, as Famílias que
merecem destaque são Tyrannidae com 23 espécies e Thraupidae com 19 espécies.
Embora tenha sido verificada elevada riqueza para o município, é possível que este
número seja ainda maior, uma vez que, mesmo nos últimos meses de amostragem foram
anotados novos registros. Tal fato poderá ser confirmado a partir de novos estudos,
ampliando-se os locais de amostragens e empregando-se técnicas complementares,
como redes de neblina. Este trabalho demonstra sua importância por ser um dos

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

primeiros realizados no município, em especial, por produzir a primeira lista de espécies


de aves feita em Colatina.

Tabela 1. Lista das espécies de Aves encontradas no município de Colatina/ES.


Tinamidae Ictinia plumbea Crotophaga major
Crypturellus parvirostris Geranospiza caerulescens Crotophaga ani
Crypturellus tataupa Heterospizias meridionalis Guira guira
Rhynchotus rufescens Rupornis magnirostris Tapera naevia
Geranoaetus albicaudatus
Anhimidae Pseudastur polionotus Tytonidae
Anhima cornuta Buteo brachyurus Tyto furcata
Buteo albonotatus
Anatidae Strigidae
Dendrocygna viduata Aramidae Megascops choliba
Dendrocygna autumnalis Aramus guarauna Pulsatrix koeniswaldiana
Cairina moschata Strix virgata
Amazonetta brasiliensis Rallidae Glaucidium brasilianum
Aramides saracura Athene cunicularia
Cracidae Pardirallus nigricans Asio clamator
Penelope superciliaris Gallinula galeata
Ortalis araucuan Porphyrio martinicus Nyctibiidae
Nyctibius griseus
Podicipedidae Charadriidae
Tachybaptus dominicus Vanellus cayanus Caprimulgidae
Vanellus chilensis Nyctidromus albicollis
Phalacrocoracidae Nyctidromus hirundinaceus
Nannopterum brasilianus Recurvirostridae Hydropsalis parvula
Himantopus mexicanus Hydropsalis torquata
Ardeidae Himantopus melanurus
Tigrisoma lineatum Apodidae
Nycticorax nycticorax Scolopacidae Streptoprocne biscutata
Butorides striata Tringa solitaria Chaetura cinereiventris
Bubulcus ibis Chaetura meridionalis
Ardea cocoi Jacanidae
Ardea alba Jacana jacana Trochilidae
Syrigma sibilatrix Phaethornis idaliae
Pilherodius pileatus Rynchopidae Phaethornis pretrei
Egretta thula Rynchops niger Eupetomena macroura
Egretta caerulea Aphantochroa cirrochloris
Columbidae Florisuga fusca
Cathartidae Columbina talpacoti Chrysolampis mosquitus
Cathartes aura Columbina squammata Chlorostilbon lucidus
Cathartes burrovianus Columbina picui Hylocharis cyanus
Coragyps atratus Columba livia Amazilia versicolor
Patagioenas picazuro Amazilia lactea
Pandionidae Zenaida auriculata Heliomaster squamosus
Pandion haliaetus Leptotila verreauxi
Trogonidae
Accipitridae Cuculidae Trogon viridis

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Elanoides forficatus Piaya cayana


Harpagus diodon Coccyzus melacoryphus Alcedinidae
Megaceryle torquata Thamnophilidae Tyrannus savana
Chloroceryle amazona Myrmotherula axillaris Empidonomus varius
Chloroceryle americana Formicivora serrana Myiophobus fasciatus
Formicivora rufa Fluvicola nengeta
Galbulidae Herpsilochmus Arundinicola leucocephala
rufimarginatus
Galbula ruficauda Thamnophilus palliatus Gubernetes yetapa
Thamnophilus ambiguus Satrapa icterophrys
Bucconidae Taraba major Xolmis velatus
Malacoptila striata Xolmis irupero
Xenopidae
Ramphastidae Xenops rutilans Vireonidae
Ramphastos vitellinus Vireo chivi
Pteroglossus aracari Furnariidae
Furnarius figulus Corvidae
Picidae Furnarius rufus Cyanocorax cristatellus
Picumnus cirratus Phacellodomus rufifrons
Melanerpes candidus Certhiaxis cinnamomeus Hirundinidae
Veniliornis maculifrons Synallaxis frontalis Pygochelidon cyanoleuca
Colaptes melanochloros Stelgidopteryx ruficollis
Colaptes campestris Pipridae Progne tapera
Celeus flavescens Manacus manacus Progne chalybea
Dryocopus lineatus Tachycineta albiventer
Campephilus robustus Tityridae Tachycineta leucorrhoa
Pachyramphus
polychopterus
Cariamidae Troglodytidae
Cariama cristata Rhynchocyclidae Troglodytes musculus
Tolmomyias sulphurescens Pheugopedius genibarbis
Falconidae Tolmomyias poliocephalus
Caracara plancus Tolmomyias flaviventris Donacobiidae
Milvago chimachima Todirostrum poliocephalum Donacobius atricapilla
Herpetotheres Todirostrum cinereum
cachinnans
Micrastur semitorquatus Myiornis auricularis Tudidae
Falco sparverius Turdus leucomelas
Falco rufigularis Tyrannidae Turdus rufiventris
Falco femoralis Camptostoma obsoletum Turdus amaurochalinus
Falco peregrinus Elaenia flavogaster
Capsiempis flaveola Mimidae
Psittacidae Myiarchus swainsoni Mimus saturninus
Primolius maracana Myiarchus ferox
Psittacara Myiarchus tyrannulus Motacillidae
leucophthalmus
Eupsittula aurea Pitangus sulphuratus Anthus lutescens
Forpus xanthopterygius Philohydor lictor
Pionus maximiliani Machetornis rixosa Passerellidae

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Amazona vinacea Myiodynastes maculatus Zonotrichia capensis


Amazona farinosa Megarynchus pitangua Ammodramus humeralis
Amazona amazonica Myiozetetes cayanensis
Amazona rhodocorytha Myiozetetes similis Parulidae
Tyrannus melancholicus Setophaga pitiayumi
Icteridae Tangara cayana Cardinalidae
Psarocolius decumanus Nemosia pileata Caryothraustes canadensis
Cacicus haemorrhous Conirostrum speciosum Cyanoloxia brissonii
Icterus jamacaii Sicalis flaveola
Gnorimopsar chopi Volatinia jacarina Fringillidae
Chrysomus ruficapillus Coryphospingus pileatus Euphonia chlorotica
Molothrus oryzivorus Dacnis cayana Euphonia violacea
Molothrus bonariensis Coereba flaveola
Sturnella superciliaris Sporophila lineola Estrildidae
Sporophila nigricollis Estrilda astrild
Thraupidae Sporophila ardesiaca
Schistochlamys Sporophila caerulescens Passeridae
ruficapillus
Paroaria dominicana Sporophila leucoptera Passer domesticus
Tangara sayaca Emberizoides herbicola
Tangara palmarum Saltator maximus

Dentre as espécies que ocorrem em Colatina, cinco constam na lista de espécies


ameaçadas do estado do Espírito Santo, são elas: Pseudastur polionotus (VU),
Nyctidromus hirundinaceus (CR), Amazona vinacea (CR), Amazona farinosa (CR) e
Cyanoloxia brissonii (CR). Além disso, apenas Amazona rhodocorytha e Amazona
vinacea são ameaçados em nível nacional, ambos classificados como “Vulnerável”
(VU), sendo que estas mesmas duas espécies são classificadas globalmente como “Em
perigo”, o que totaliza seis espécies ameaçadas de extinção no território do município de
Colatina. Em relação a essas espécies, somente Amazona rhodocorytha ocorre de forma
abundante no município, sendo registrada em diversas oportunidades, ao longo do
estudo. As demais espécies ameaçadas contaram com pouquíssimos registros, sendo P.
polionotus, N. hirundinaceus e C. brissonii observados apenas uma vez nas áreas
estudadas.
As regiões norte e noroeste do Estado contam com poucos trabalhos que visam
inventariar as espécies ali presentes, sendo o município de Linhares um dos poucos que
contam com este tipo de trabalho. Srbek-Araujo et al. (2014) realizou o levantamento
das espécies de aves que ocorrem na Reserva da Natural da Vale, encontrando um total
de 391 espécies. Outros municípios situados na região serrana do estado possuem
trabalhos deste tipo em seu território, como por exemplo, Santa Maria de Jetibá com
196 e Itarana com 198 espécies (Venturini et al., 2000), Santa Teresa com 405 espécies
no total (Willis & Oniki, 2002), sendo que este município apresenta duas grandes
unidades de conservação, a Estação Biológica de Santa Lucia, que possui cerca de 248
espécies (Simon, 2000) e a Reserva Biológica Augusto Ruchi, com aproximadamente
256 espécies (Novaes et al., 2016). Por fim, na porção sul do estado do Espírito Santo,
há dois trabalhos, sendo um no município de Anchieta, que conta com 168 espécies
(Dario, 2010) e outro, que engloba grande parte da região sul, que identificou 513
espécies distintas (Bauer, 1999).
Colatina se comparado com outras cidades do estado como, por exemplo, Santa
Teresa ou Linhares, apresenta um número muito menor de espécies, porém esta situação

388
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

pode estar ligada ao fato de que tais municípios preservam boa parte de suas florestas
nativas, já que possuem grandes unidades de conservação e consequentemente,
propiciam maior diversidade da ornitofauna nestes locais. Fato contrário ao observado
no município de Colatina que, possui poucas Unidades de Conservação da natureza
(UC) e praticamente toda vegetação que ainda resta na cidade é composta por florestas
secundárias, que se encontram extremamente fragmentadas, acarretando no
empobrecimento das comunidades avifaunísticas destes locais. Segundo Laurance &
Vasconcelos (2009), fragmentos pequenos possuem menor riqueza e densidade de
espécies, se comparados com fragmentos maiores ou com florestas contínuas.

CONCLUSÃO

Com a execução do presente estudo, pôde-se observar que, o município de


Colatina ainda abriga considerável riqueza de espécies, mesmo tendo grande parte de
seu território composto por áreas abertas e urbanas, e com sua vegetação fragmentada e
degradada. Foi possível verificar que o local possui espécies de difícil detectabilidade e
algumas ameaçadas de extinção a nível estadual, nacional e global, fatores que
evidenciam que o município estudado necessita ampliar áreas naturais e criar novas
UCs, com a finalidade de à proteção e preservação da avifauna, bem como de demais
elementos da biodiversidade.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos meus amigos e familiares pelo auxílio e incentivo na execução


deste trabalho.

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S.; Carrano, E.; Frans, I.; Lees, A. C.; Lima, L. M.; Pioli, D.; Schunck, F.;
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391
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DIVERSIDADE DE NÁIADES DE ODONATA EM TRECHOS COM


DIFERENTES COBERTURAS DE DOSSEL EM UM RIACHO PRESERVADO
DE MATA ATLÂNTICA

Natália Resende de SOUZA1,2*, Bruna Maria SILVA2,3, Thiago Fonseca de BARROS2,4


& Jorge Luiz NESSIMIAN2,3,4

1
UERJ – Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Ecologia e Evolução
– PPGEE.
2
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. IB – Instituto de Biologia
3
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Zoologia - PPGZ
4
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro. Programa de Pós-graduação em Ecologia - PPGE
*resendens@gmail.com

INTRODUÇÃO
Baseado no comportamento de termorregulação, as libélulas adultas podem ser
classificadas em espécies “voadoras” (fliers), que se mantém voando a maior parte do
tempo, e espécies “pousadoras” (perchers), que ficam mais frequentemente pousadas
(Corbet 1962). Os voadores são considerados endotérmicos (espécies de maiores
tamanhos), já as espécies pousadoras podem regular sua temperatura por meio de
irradiação solar (heliotérmicos), possuindo tamanho médio, ou são conformadores
termais (troca de calor entre o animal e o meio) como por exemplo aquelas de pequeno
porte (Osses, 2004). As diferenças de mecanismos termorreguladores entre as espécies
podem exercer influências nos horários de atividade e sobre os habitats utilizados pelas
libélulas (De Marco, 1998). Portanto, maior luminosidade em um ambiente pode ser um
dos fatores que determinam a riqueza de espécies em Odonata (Ward, 1982).
Existem indicativos de que espécies na fase adulta da subordem Zygoptera
apresentam maior abundância em áreas de sub-bosque do que em áreas abertas e as
espécies da subordem Anisoptera demonstraram maior abundância em áreas abertas do
que em áreas fechadas (Scoss et al., 2001). Esse padrão pode ser explicado com base na
relação entre o tamanho do corpo das espécies analisadas e sua fisiologia. Em áreas de
mata fechada, as espécies contam principalmente com a temperatura do ambiente para
termorregulação. Já em áreas abertas o aquecimento por irradiação direta se torna tão ou
mais importante que a convecção para manter o animal em atividade. Sendo assim, o
maior tamanho das espécies das áreas abertas, pertencentes à subordem Anisoptera,
pode ser explicado pela maior dificuldade de atingirem o limiar de temperatura
necessário ao início de sua atividade. Isso provavelmente explicaria o investimento em
habitar uma área aberta, onde ganhariam calor mais rapidamente por irradiação. Em sua
fase larval, odonatas são aquáticas e ocupam habitats que variam pelo tipo de substrato,
velocidade de correnteza, tempo de duração e de acordo com características químicas e
físicas da água (Cardoso, 2011). Porém até o momento não foi avaliada a influência da
incidência de luz solar em sistemas lóticos sobre a composição de náiades de Odonata.
Desta forma, trabalhamos com a hipótese de que o número de indivíduos de
náiades (fase larval) da subordem Zygoptera seja maior em trechos de riacho com maior

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

cobertura de dossel, enquanto a subordem Anisoptera seja mais abundante em trechos


de riacho com menor cobertura de dossel. O objetivo deste trabalho é avaliar se a
distribuição de adultos demonstrada por Scoss et al. (2001) pode ser também atribuída
às náiades da ordem Odonata.

MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo

As coletas foram realizadas na cabeceira da bacia hidrográfica do Rio Paquequer,


município de Teresópolis (Figura 1), dentro do Parque Nacional da Serra dos Órgãos
(PARNASO). Este parque está situado na região serrana do Rio de Janeiro, cuja área
abrange 20.024 ha nos municípios de Petrópolis (43,0%), Guapimirim (25,9%), Magé
(17,7%) e Teresópolis (13,4%) (Guimarães et al., 2009; PARNA-ICMBIO, 2016).

Figura 1. Localização do Parque Nacional da Serra dos Órgãos no Estado do Rio de


Janeiro. Retirado de http://www.icmbio.gov.br/portal/images.

Caracterização do habitat
O rio Paquequer apresentou um grau de impedimento de simetria bem elevada,
pois se encontrava bem seco e com muitos matacões formando ilhas e delimitando
trechos de água corrente e remansos. Em áreas mais abertas, com menor cobertura de
dossel houve predominância de mata ciliar fechada secundária. Substratos
predominantes foram matacões, folhiço e pouca areia.

393
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Coleta de espécimes
As coletas foram realizadas no período das 9:00 às 12:00 e de 14:00 às 17:00 ao
longo de dois dias em 2016. Os animais foram coletados com redes do tipo Brundin e
D-net, triados manualmente, identificados em microscópio estereoscópico e por fim
devolvidos ao ambiente. A coleta foi realizada em cinco transectos transversais ao
riacho, separados por, no mínimo, 10 metros de distância. Dentro de cada transecto
foram amostrados pelo menos cinco subamostras. A caracterização do substrato, mata
ciliar e cobertura de dossel foram realizados por estimativa indireta, por percepção
visual. As áreas estudadas foram categorizadas entre áreas fechadas (cobertura de dossel
superior a 55%) e áreas abertas (cobertura de dossel igual ou menor que 55%).

Cálculo do percentual de frequência de substratos


Dentro de cada transecto, o substrato de pelo menos cinco subamostras foi
registrado. Posteriormente foi realizado o cálculo do percentual de cada substrato nas
subamostras, e por fim calculada a média de cada substrato para cada área.Um teste
Qui-quadrado foi realizado para verificar se as ocorrências das famílias de odonatas
diferem entre as áreas.
Para verificar possíveis relações entre as variáveis abióticas e a presença dos
grupos taxonômicos nas áreas estudadas, foi realizada uma Análise de Correspondência
Canônica (ACC). A ACC possibilita uma ordenação direta de gradientes, explicando a
distribuição das espécies em relação às variáveis ambientais (Ter Braak, 1987; 1995).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diversidade e abundância de táxons por áreas


A média de cobertura de dossel das áreas fechadas foi de 67% e de 25% em
áreas abertas. A largura média das áreas sombreadas foi de 9,34 m e de 11,29 m nas
áreas abertas.Em ambas as áreas, Zygoptera foram mais numerosos com 62 indivíduos
(85%) em áreas abertas e 29 indivíduos (59%) em áreas fechadas. Já os Anisoptera
capturados foram 31(15%) em áreas abertas e 20(41%) em áreas fechadas. A Família
mais abundante em áreas abertas foi Coenagrionidae (n = 33), esta não ocorrendo em
áreas fechadas. As famílias Libellulidae e Calopterygidae, foram mais abundantes em
áreas abertas (n = 22, n = 24), do que em áreas fechadas, (n = 8, n = 11). Já as famílias
Aeshnidae e Gomphidae apresentaram abundâncias semelhantes tanto em áreas abertas
(n = 9, n = 3) quanto nas fechadas (n = 6, n = 3) (Figuras 2 e 3).
Os resultados não corroboraram com a hipótese, na qual ocorreria uma
abundância maior de Zygoptera em trechos mais sombreados, visto que os mesmos
foram mais abundantes em ambas as áreas. Este resultado vai de encontro ao predito por
De Marco, 2005, em que ratifica que a subordem Zygoptera ocupa geralmente habitats
em interior de matas, como a mata ciliar observada nas margens do rio Paquequer. De
acordo com o resultado do teste Qui-quadrado as distribuições das Famílias de todas as
amostras entre as áreas, foram similares (aberta p>0,05 e fechada p=0,99). As maiores

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

riqueza e abundância encontradas em áreas abertas podem ser explicadas pela maior
largura destes trechos e, portanto, maior entrada de luz solar nos mesmos. Desta forma,
espécies maiores (que dependem de maior incidência solar para termorregulação)
também ocupam estes mesmos locais. Outras variáveis não trabalhadas, como a
diferença entre profundidades e variação no fluxo da água entre os pontos coletados,
também poderiam explicar as diferenças na composição das náiades.

Figura 2. Abundância de náiades de Odonata coletados por subordem e famílias em


áreas fechadas.

Figura 3. Abundância de náiades de Odonata coletados por subordem e famílias em


áreas abertas.

Ordenação de dados abióticos e bióticos por amostra (microhabitat)

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Os autovalores dos dois primeiros eixos de ordenação canônica foram


respectivamente 0.303 e 0.167, com o primeiro eixo de variação da ACC explicando
cerca de 46% da variação total e o segundo eixo explicando cerca de 25%.
A ordenação das Famílias em relação às variáveis abióticas (Figura 4) demostrou
no primeiro eixo, que as variáveis dossel e substrato de cascalho explicaram melhor a
presença das náiades da Família Megapodagrionidae. Tal resultado corrobora com
Carvalho & Nessimian (1998) que demostraram a preferência da família
Megapodagrionidae por microhabitat similar. Já o substrato pedra (muitas vezes coberto
por epiliton) explica melhor a presença de náiades da Família Coenagrionidae (Tabela
1).

Figura 4. Diagrama de ordenação das parcelas produzido pela ACC, baseada na


distribuição das famílias em 50 pontos amostrados (25 em área aberta e 25 em área
fechada) e variáveis abióticas (Dossel, Substratos e Largura) dos mesmos. As Famílias
são representadas por nomes e as variáveis abióticas por vetores.

Tabela 1. Coeficiente de Correlação entre as variáveis abióticas e os dois primeiros


eixos de ordenação da ACC.

Variáveis
Eixo 1 Eixo 2
Abióticas
Folhiço -0.1889 0.8531
Cascalho -0.7053 -0.4433

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Pedra 0.7787 -0.1866


Areia -0.0338 0.2670
Dossel -0.6553 -0.3193
Largura 0.0623 0.0239

CONCLUSÃO
As variáveis abióticas medidas não foram importantes para determinar a
distribuição das Famílias nas áreas amostradas. Por outro lado, a abundância e riqueza
encontradas caracterizaram a composição e distribuição de Náiades de Odonata em um
ambiente de riacho de Mata Atlântica. Outro fator poderia melhor explicar a
distribuição observada: a presença de troncos de árvores caídos dentro do rio,
possibilitando uma maior separação no uso dos recursos disponíveis no ambiente e a
coexistência de uma quantidade maior de grupos taxonômicos. Além disso, outros
fatores podem afetar a distribuição dos imaturos, tendo em vista que, após a oviposição,
estes se distribuem no corpo d’água procurando satisfazer requisitos como respiração,
alimentação e refúgio.

AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao Professor Jorge Nessimian pela prazerosa e produtiva
disciplina de Ecologia de Insetos Aquáticos, ao PARNASO por disponibilizar o espaço,
à parceria de trabalho prático e escrito das integrantes e pelas contribuições de Thiago
Barros nas análises e texto.

LITERATURA CITADA
Cardoso, P. 2011. Riqueza e abundância de adultos de odonatas (insecta) em lagoas e
riachos em uma transição cerrado-floresta amazônica, Brasil. Dissertação de
mestrado. Programa de pós-graduação em ciências ambientais (CELBE),
Universidade do Estado do Mato Grosso, Cáceres.
Corbet, P.S. 1962. (eds.) A biology of dragonflies. London, Witherby, 247p.
De Marco, P. Jr.; Latini, A.O. & Resende, D.C. 2005. Thermoregulatory constraints on
behavior: patterns in a Neotropical dragonfly assemblage. Neotropical
Entomology, 34: 155-162.
De Marco, P.J. 1998. The amazonian campina dragonfly assemblage: patterns in
microhabitat use and behaviour in a foraging habitat (Anisoptera).
Odonatologica. 27(2): 239-248.
Guimarães, R.F., Gomes, R. A. T., de Carvalho Júnior, O. A., de Souza Martins, E., de
Oliveira, S. N., & Fernandes, N. F. 2009. Análise temporal das áreas
susceptíveis a escorregamentos rasos no Parque Nacional da Serra dos Órgãos

397
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

(RJ) a partir de dados pluviométricos. Revista Brasileira de Geociências. São


Paulo. 39(1):190-198.
Nessimian, Jorge Luiz, and A. L. Carvalho. 1998. Ecologia de insetos aquáticos. Séries
Oecologia Brasiliensis, PPGEUFRJ, p.3-28. Rio de Janeiro.
Osses, F., Zuquim, G., Rodrigues, L., Cunha, N., & Baldissera, R. 2004. Calor, luz,
câmera, ação: termorregulação de odonata em um igarapé da Amazônia
Central. Livro do curso de campo “Ecologia da Floresta Amazônica”(G.
Machado & P. De Marco Jr., eds.). PDBFF/INPA, Manaus.
Parque Nacional da Serra dos Órgãos - PARNA-ICMBIO. Disponível em:
http://www.icmbio.gov.br/parnaserradosorgaos/. Acessado em 26/07/2016.
Scoss, L. M., Vieira, D. L., Ferreira, K. M., Ceotto, P. C., & Ruiz, B. 2001. Influência
do habitat e da temperatura sobre o início da atividade de libélulas (Odonata).
Curso de campo ecologia de floresta amazônica. p. 6-9.
Souza, L.O.I.; Costa, J. M. & Oldrini, B. B. 2007. Odonata. In: Guia on-line:
Identificação de larvas de Insetos Aquáticos do Estado de São Paulo.
Froehlich,C.G. (org.). Disponível em:
http://sites.ffclrp.usp.br/aguadoce/Guia_online. Acessado em 26/07/2016.
Ter Braak, C.J.F. 1987. The analysis of vegetation-environment relationships by
canonical correspondence analysis vegetation, 69(1):60-77.
Ter Braak, C.J.F. 1995. Ordination. in: Jongman, R.H.G.; Ter Braak, C.J.F.; Van
Tongeren, O.F.R. Data analysis in community and landscape ecology.
Cambridge: Cambridge University Press, p. 91-173.
Ward, J.V. & J.A. Stanford. 1982. Thermal responses in the evolutionary ecology of
aquatic insects. Annual Review of Entomology, 27: 97-117.

398
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CURCULIONÍDEOS (COLEOPTERA: CURCULIONIDAE) DEPOSITADOS


NA COLEÇÃO ENTOMOLÓGICA DO INSTITUTO NACIONAL DA MATA
ATLÂNTICA

Arlindo SERPA-FILHO1*, Diego Vinicius BRAUN2 & Silvia Ramira Lopes


CALDARA2
1
Instituto Nacional da Mata Atlântica, Programa de Capacitação Institucional
2
Graduação em Ciências Biológicas, Escola Superior São Francisco de Assis
*serpafilhoa5@gmail.com

INTRODUÇÃO

As coleções biológicas constituem um patrimônio memorial da biodiversidade,


essencial para o desenvolvimento científico, tecnológico e também para a segurança
nacional (Camargo et al., 2015).O Instituto Nacional da Mata Atlântica – INMA, onde
está inserido o Museu de Biologia Professor Mello Leitão é uma das instituições que
abriga coleções biológicas representativas do bioma da mata atlântica. Erguida pelo
mesmo fundador da instituição, Augusto Ruschi, a coleção entomológica, foi iniciada
por volta de 1934 e abriga variados grupos de insetos, coletados principalmente no
estado do Espírito Santo. A coleçãoseapresentam fora dos padrões de curadoria
entomológica e não há um inventário das espécies ali acondicionadas. Entre os grupos
mais representativos deste acervo está a ordem Coleoptera, com mais de 900
exemplares..,A ordem Coleoptera, se apresenta como uma das ordens mais diversas da
classe Insecta, principalmente a família Curculionidae, que possui cerca de
40.000 espécies, representando um total de 5% das espécies animais descritas, e
possuindo sozinha mais espécies que qualquer outro filo animal de não
artrópodes(Brusca & Brusca,2007). A característica principal para identificação da
família é a cabeça alongada em um rostro geralmente alongado e cilíndrico voltado para
baixo, podendo ser reto ou curvo. Em sua extremidade se encontra o aparelho bucal
mastigador, e possuem antenas genículo-capitadas ou genículo-clavadas articuladas na
parte mediana do rostro(Galloet al., 2002). Neste trabalho são apresentadas as
atividades de curadoria na coleção de Curculionidae do Instituto Nacional da Mata
Atlântica, que permitiram restaurar, organizar, identificar e inventariar os exemplares
contidos neste acervo, tornando-o ativo e disponível para estudos diversos.Este acervo,
até o ano de 2015 encontrava-se fora dos padrões convencionais de curadoria e devido a
isto vêm sendo realizadas atividades buscando sua restauração e organização.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado no acervo entomológico do Instituto Nacional da Mata


Atlântica entre janeiro de 2016 a fevereiro de 2017. O acervo está acondicionado em
uma sala climatizada por ar condicionado e umidade controlada por desumidificador. Os
exemplares estão dispostos em gavetas de madeira, com fundo de isopor, ou em
pequenas caixas de compartimentalização dentro das gavetas, que estão distribuídas em
três armários, totalizando 66 gavetas entomológicas.
Este grupo taxonômico foi avaliado, buscando conhecer seu estado de
conservação eo manejo adequado a ser utilizado durante o processo de curadoria.

399
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Durante a organização dos exemplares, os mesmos foram dispostos em caixas de


polipropileno, permitindo compartimentar as gavetas e separar os exemplares de acordo
com o gênero ou espécie. Estas caixas de compartimentalização foram identificadas e
organizadas em ordem alfabética, conforme o grupo taxonômico acondicionado,
permitido a fácil localização dos exemplares de interesse. Os espécimes sujos de poeira
foram limpos com uso de pincel umedecido com álcool, e os espécimes que
apresentavam tagmas quebrados foram restaurados através da fixação com uso de cola
(acetato de polivalina) a base d’água. Como medida preventiva ao ataque de fungos e
insetos pragas de coleções foi feita a aplicação de paraformaldeído no interior de cada
gaveta.A identificação foi realizada a partir da consulta ao especialista Celso Lima
Godinho Jr,comparação com o acervo virtual da ESALQ/USP, e através do material de
Lima (1950); Barbosa et al. (2011) e Godinho-Jr (2011).Visando o tombamento destes
espécimes na instituição, cada exemplar recebeu uma etiqueta correspondente ao seu
número-tombo, entre os números MBML 941 e MBML 987. Estas etiquetas foram
dispostas paralelas ao inseto e às etiquetas com informações dos espécimes. Todas as
informações contidas nas etiquetas foram relacionadas em uma planilha contendo dados
como o número de tombo, classificação taxonômica, dados da coleta (coletor, data,
localidade, método), determinador, entre outros dados relevantes disponíveis.Os dados
sobre cada exemplar foram disponibilizados no banco de dados onlineSpeciesLink,
assim como as outras coleções do INMA, permitindo seu acesso a qualquer interessado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

No quesito de avaliação do estado de conservação, foi verificada a infestação de


fungos em 13,33% (n=6) dos exemplares e apenas em 2,22% (n=1) houve a necessidade
de fazer a restauração a partir da fixação de tagma com acetato de polivalina. Após os
tratamentos, os exemplares foram reincorporados à coleção, sem apresentar mais sinais
de infestação até a finalização do trabalho. Não foram encontrados holótipos ou
parátipos no acervo. Os exemplares foram dispostos em um total de 29 caixas de
compartimentalização, depositadas em duas gavetas entomológicas.Foram identificados
45 exemplares, sendo 19 identificados em nível de gênero, e 26 identificados em nível
de espécie, correspondendo, pelo menos, 29 espécies distintas. Há a representatividade
de cinco subfamílias na coleção de Curculionidae, sendo elas: Baridinae (3),
Conoderinae (2), Dryophtorinae (9), Entiminae (18), e Molitynae (13). Quanto à
procedência dos exemplares, constatou-se que a grande maioria,91,11% (n=41), é
proveniente de coletas no estado do Espírito Santo apresentando coletas também de
Minas Gerais (4,44% n=2), e São Paulo (4,44% n=2). Entre as coletas no Espírito Santo,
observou-se que a maior parte é proveniente do município de Santa Teresa (48,78%
n=20), seguida de Cariacica (31,70% n=13), Linhares (12,19% n=5), Barra de São
Francisco (4,87% n=2), e Itapemirim (2,43% n=1). Observa-se que as coletas são
provenientes, em sua maioria, de Unidades de Conservação: Estação Biológica de Santa
Lúcia, Parque Municipal de São Lourenço (Santa Teresa); Reserva Biológica de Duas
Bocas (Cariacica); Reserva Biológica de Sooretama (Linhares); Parque Municipal
Natural Sombra da Tarde (Barra de São Francisco).Vale ressaltar que dentro do acervo
de coleópteros, a família Curculionidae é uma das que reúne uma
quantidadeconsiderável de exemplares e espécies.O conhecimento e divulgação dos
dados de procedência permite conhecer a biogeografia de espécies, gerando novos
registros de ocorrência, e orientandoos especialistas para áreas estratégicas para
compreender a biodiversidade da entomofauna brasileira, a partir do aumento da
quantidade e qualidade de amostragens (Menezes et al. 2012).O resgate e

400
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

disponibilização de informações, principalmente de coleções biológicas antigas,


possibilita conhecermos a fauna coletada em ambientes que ainda conservavam suas
características originais e, a partir disto, buscar alternativas para a conservação
ambiental (Siewertet al. 2010).Ressalta-se que até o ano de 2015, este acervo
encontrava-se fora dos padrões convencionais de curadoria e devido a isto vêm sendo
realizadas atividades buscando sua restauração e organização. O inventário dos
curculionídeos do INMA ajudará a compreender a diversidade e distribuição deste
grupo, especialmente para o estado do Espírito Santo, que possui poucos estudos
relacionados à família Curculionidae, e mais amplamente, para o bioma da Mata
Atlântica.Mantida conforme as regras convencionais de curadoria entomológica, esta
parte do acerco está preservada e disponível, permitindo seu estudo, crescimento e
constante atualização.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à Escola Superior São Francisco de Assis, pela concessão de bolsa


de Iniciação Científica; ao Instituto Nacional da Mata Atlântica por viabilizaro estudo
na coleção entomológica e para o professorCelso Lima Godinho Jr.pelo auxílio na
identificação dos exemplares.

LITERATURA CITADA

Barbosa, M.L.L., I.A. Ferreira, C.R.V. Fonseca & F.B.P. Gouveia, 2011. Cholini
(Coleoptera: Curculionidae: Molytinae) housed in theInvertebrateCollectionofthe
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus, Brazil. Acta Amaz, 41:
401-408.

Brusca, R.C. & G.J. Brusca, 2007. Invertebrados. 2. ed. Rio de Janeiro, Guanabara
Koogan, 968 p.

Camargo, A.J.A., C.M. Oliveira, M.R. Frizzas, K.C. Sonoda& D.C.V. Corrêa, 2015.
Coleções entomológicas: legislação, coleta, curadoria e taxonomia para as
principais ordens. Brasília, EMBRAPA, 117 p.

Costa Lima, A.M. Insetos do Brasil. Escola Nacional de Agronomia, 1950, 12 tomos.

Gallo, D., O. Nakano, S. Silveira-Neto, R.P.L. Carvalho, G.C. Baptista, E. Berti-Filho,


J.R.P. Parra, R.A. Zucchi, S.B. Alves, J.D. Vendramim, L.C. Marchini, J.R.S.
Lopes & C. Omoto, 2002. Entomologia agrícola. Piracicaba, FEALQ, 920 p.

Godinho-Jr, C. L., 2011. Besouros e Seu Mundo. Rio de Janeiro, Technical Books
Editora, 477 p.

Menezes, E.C., A.M. Silva-Neto, F.E.L. Nascimento & F.R. Bravo,2012. Lista dos
Cerambycidae, incluindo 12 Holótipos, presentes no Museu de Zoologia da
Universidade Estadual de Feira de Santana e o Primeiro Registro da espécie
ChrysoprasisairiNapp& Martins para o Brasil. EntomoBrasilis, 5: 49-58.

Siewert, R.R., E.J.E. Silva & L.L. Marques, 2010. Catálogo do Acervo de Borboletas
(Lepidoptera: Papilionoidea) Depositadas no Museu de História Natural da

401
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Universidade Católica de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. EntomoBrasilis, 3:


77-84.

402
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CONTRIBUÇÃO PARA UMA BIBLIOTECA CARIOTÍPICA VIRTUAL DE


MAMÍFEROS TERRESTRES DO BRASIL

Núbia Rodrigues dos SANTOS1* & Roberta PARESQUE2


1
Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Centro Universitário Norte do Espírito Santo,
Universidade Federal do Espírito Santo
2
Departamento de Ciências da Saúde, Centro Universitário Norte do Espírito Santo, Universidade Federal
do Espírito Santo
*nubiarodrigues.nrs@gmail.com

INTRODUÇÃO

No Brasil, a classe Mammalia está dividida em 12 ordens (Paglia et al., 2012),


sendo 7 delas pertencentes aos mamíferos terrestres de médio e grande porte. São estas:
Artiodactyla (10 espécies); Carnivora (33 espécies); Cingulata (11 espécies);
Lagomorpha (1 espécie); Perissodactyla (1 espécie); Pilosa (8 espécies); Primates (118
espécies). Em geral, a diversidade de espécies de mamíferos em cada bioma brasileiro é
diferente entre estes grupos (Paglia et al., 2012).
Com a grande diversidade da fauna brasileira, estudos com dados de citogenética
são importantes para diferenciação e caracterização das espécies, determinação
cromossômica das espécies, definição do papel funcional da heterocromatina
constitutiva, origem dos rearranjos cromossômicos, significado adaptativo dos
polimorfismos cromossômicos, diferenças citogenéticas entre espécies relacionadas e
variabilidade cromossômica quanto à dinâmica das populações (Yonenaga, 1977; Reig,
1984).
Além disso, esse tipo de informação é de extrema importância para os estudos de
taxonomia e sistemática, por esclarecer problemas taxonômicos por meio do
estabelecimento dos cariótipos das espécies (Paresque et al., 2004).
Cada espécie é caracterizada por um cariótipo, que pode haver diferenças onde
espécies que sejam de uma mesma família ou gênero, apresentem variação no número
diplóide como no caso do gênero Mazama, que apresenta uma ampla distribuição
geográfica pelo país (Varela et al., 2010) e um padrão de polimorfismo cariotípico
muito complexo com variação tanto no número diplóide (2n), quanto no número de
braços autossômicos (NA) (Abril et al., 2010).
Frente a este cenário, reunir informações cariotípicas em um único guia virtual,
frequentemente atualizado, contribuirá como uma ferramenta confiável, para auxiliar
pesquisadores na consulta de dados citogenéticos para estudos na área de sistemática,
evolução e taxonomia.

MATERIAL E MÉTODOS

Para reunir os dados sobre os cariótipos das espécies, foi feito um levantamento
de dados citogenéticos disponíveis na literatura através de publicações científicas.
Foi realizada a construção de uma planilha geral apresentando informações
como: 2n (número diploide), NA (número de braços autossômicos), forma dos
cromossomos sexuais, além de referência bibliográfica.
A partir dessas informações, foram gerados arquivos Portable Document File
(PDF) para cada espécie contendo: nome, autor e ano de publicação, além das
informações cariotípicas, imagens dos cariótipos em coloração, referência bibliográfica

403
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

e link para download do arquivo, que em breve estarão disponíveis na biblioteca virtual
(http://www.nupea.saomateus.ufes.br/) para consulta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram reunidos dados citogenéticos de 41 espécies de mamíferos terrestres do


Brasil pertencentes a 6 ordens, sendo 10 espécies da ordem Artiodactyla, 12 espécies da
ordem Carnivora, 9 espécies da ordem Cingulata, 1 espécie da ordem Lagomorpha, 1
espécie da ordem Perissodactyla e 8 espécies da ordem Pilosa (Tabela 1).
A partir dos resultados obtidos, foi possível observar uma ampla variação
cariotípica na ordem Artiodactyla com número diploide que variou de 2n=26 e NA=46
em Tayassu pecari (Andrea et al., 2001; Adega et al., 2007) até 2n=70 e NA=70 em
Mazama gouazoubira (Neitzel 1979). Ainda, Mazama americana apresentou maior
variação cariotípica, com 2n= 42 a 53 e NA= 48 a 56 (Cursino et al., 2014). Sugere-se
que esse complexo padrão de polimorfismo cariotípico é devido aos rearranjos
cromossômicos ocorridos em ancestrais comuns (Almeida et al., 2001).

CONCLUSÃO

A partir dos dados observados, é possível concluir que ainda é necessária uma
maior busca bibliográfica de estudos de cariótipos, visto que algumas espécies ainda
não possuem seus dados citogenéticos apresentados, como é o caso de representantes da
ordem Primates. Além disso, há espécies que ainda não possuem o cariótipo descrito,
como a espécie Cabassous chacoensis, pertencente à ordem Cingulata (Jacintho et al.,
2009).

Tabela 1. Compilação dos dados obtidos. A lista conta com os nomes das espécies,
nome popular e informações cariotípicas como: 2n, NA, forma dos cromossomos X e Y
e as respectivas referências.

404
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Ordem Artiodactyla
N spp Família Cervidae Nome popular 2n NA Referência X Y
1 Blastocerus dichotomus Cervo-do-Pantanal 66 74 Duarte & Giannoni 1995 Metacêntrico grandeSubmetacêntrico pequeno
2 Mazama americana Veado-mateiro 42 a 53 48 a 56 Cursino et al. 2014 Submetacêntrico Metacêntrico
3 Mazama bororo Veado-bororó-de-São-Paulo 32 a 34 46 Duarte & Jorge 2003
4 Mazama gouazoubira Veado-catingueiro 70 70 Neitzel 1979 Acrocêntrico grande Acrocêntrico pequeno
5 Mazama nana Veado-bororó-do-sul 36 a 40 56 a 60 Abril & Duarte 2008 Metacêntrico médio Metacêntrico pequeno
6 Mazama nemorivaga Veado-da-Amazônia 68-69 70 Fiorillo et al. 2013 Submetacêntrico médio Metacêntrico pequeno
7 Odocoileus virginianus Veado-da-cara-branca 70 74 Wurster & Benirschke, 1967 Submetacêntrico grande Metacêntrico pequeno
8 Ozotoceros bezoarticus Veado-campeiro 68 74 Duarte & Giannoni 1995 Metacêntrico grandeMetacêntrico pequeno
N spp Família Tayassuidae Nome popular 2n NA Referência X Y
9 Pecari tajacu Cateto, caititu 30 46 Lima et al 2004 Acrocêntrico médio Acrocêntrico pequeno
10 Tayassu pecari Queixada, porco-do-mato 26 46 M. Andrea et al. 2001;F. Adega etAcrocêntrico
al. 2007 médio Acrocêntrico pequeno
Ordem Carnivora
N spp Família Canidae Nome popular 2n NA Referência X Y
11 Atelocynus microtis Cachorro-do-mato-de-orelha-curta
74-76 76 Wurster & Benirschke 1968 Submetacêntrico Submetacêntrico
12 Cerdocyon thous Cachorro-do-mato 74 106 Hatanaka et al. 1998 Submetacêntrico grande Acrocêntrico pequeno
13 Chrysocyon brachyurus Lobo-guará 76 78 A. Pieńkowska-Schelling et al. 2008
Submetacêntrico grande Acrocêntrico médio
14 Lycalopex gymnocercus Raposa-do-campo 74 76 Brum-Zorrilla & Langguth Submetacêntrico Acrocêntrico
15 Lycalopex vetulus Raposinha 74 76 Wurster and Benirschke 1968 Metacêntrico Metacêntrico
16 Speothos venaticus Cachorro-vinagre 74 Carvalho et al. 2009 Submetacêntrico grande Acrocêntrico pequeno
N spp Família Felidae Nome popular 2n NA Referência X Y
17 Leopardus geoffroyi Gato-do-mato-grande 38 72 Wurster and Benirschke 1968 Metacêntrico médio Submetacêntrico pequeno
18 Panthera onca Onça-pintada 38 72 Ledesma et al. 2004 Submetacêntrico médio Submetacêntrico pequeno
19 Puma yagouaroundi Gato-mourisco 38 76 Wurster and Benirschke 1968 Submetacêntrico médio ?
N spp Família Mustelidae Nome popular 2n NA Referência X Y
20 Eira barbara Irara 38 68 Wurster and Benirschke 1968 Submetacêntrico médio ?
N spp Família Procyonidae Nome popular 2n NA Referência X Y
21 Bassaricyon alleni Olingo 38 68 Wurster and Benirschke (1967,1968)
Submetacêntrico médio Subacrocêntrico pequeno
22 Nasua nasua Quati 38 68 Wurster and Benirschke 1968 Submetacêntrico médio Subacrocêntrico pequeno
Ordem Cingulata
N spp Família Dasypodidae Nome popular 2n NA Referência X Y
23 Cabassous chacoensis Tatu-de-rabo-mole-pequeno AINDA NÃO DESCRITA (Jacintho et al. 2009)
24 Cabassous tatouay Tatu-de-rabo-mole-grande 50 68 Barroso and Seuánez 1991 Metacêntrico pequeno Acrocêntrico
25 Cabassous unicinctus Tatu-de-rabo-mole 46 Jacintho et al. 2009 Submetacêntrico médio Acrocêntrico pequeno
26 Dasypus hybridus Tatu-mulita 64 81 Saez et al. 1964 Submetacêntrico Acrocêntrico
27 Dasypus kappleri Tatu-de-quinze-quilos 64 Redi et al, 2005
28 Dasypus novemcinctus Tatu-galinha 64 78 Beath et al. 1962, Bernirschke etMetacêntrico
al. 1969, Jorge
grandeAcrocêntrico
et al. 1977 pequeno
29 Dasypus septemcinctus Tatuí 64 76 Barroso and Seuánez 1991 Submetacentrico Acrocentrico
30 Euphractus sexcinctus Tatu-peba 58 Jorge et al. 1977, Barroso and Seuánez
Submeta/Acro
1991 Submeta/acro
31 Priodontes maximus Tatu-canastra 50 Bernirschke and Wurster 1969 Submetacêntrico Metacêntrico
32 Tolypeutes matacus Tatu-bola 38 Jorge et al. 1977 Metacêntrico Acrocêntrico
Ordem Lagomorpha
N spp Família Leporidae Nome popular 2n NA Referência X Y
33 Sylvilagus brasiliensis Tapeti 40 68 Langguth & Sousa, 2003 Submetacêntrico grande Submetacêntrico pequeno
Ordem Perissodactyla
N spp Família Tapiriidae Nome popular 2n NA Referência X Y
34 Tapirus terrestris Anta 80 80 Houck et al. 2000 Submetacêntrico grande Acrocêntrico pequeno
Ordem Pilosa
N spp Família Bradypodidae Nome popular 2n NA Referência X Y
35 Bradypus torquatus Preguiça-de-coleira 50 64 Azevedo et al. 2012 Submetacêntrico Metacêntrico
36 Bradypus tridactylus Preguiça-de-três-dedos 52 56 G. Dobigny et al. 2005 Metacêntrico Metacêntrico
37 Bradypus variegatus Bicho-preguiça 54 Azevedo et al. 2012
N spp Família Cyclopodidae Nome popular 2n NA Referência X Y
38 Cyclopes didactylus Tamanduá 64 100 Jorge et al. 1985; Jorge 2000 Submetacêntrico pequeno
N spp Família Megalonychidae Nome popular 2n NA Referência X Y
39 Choloepus didactylus Preguiça-real 65 G. Dobigny et al. 2005
40 Choloepus hoffmanni Preguiça-real 49 61 J. Corin-Frederic 1969 Metacêntrico
N spp Família Myrmecophagidae Nome popular 2n NA Referência X Y
41 Myrmecophaga tridactyla Tamanduá-bandeira 60 108 Pereira Júnior et al. 2004 Metacêntrico grandeAcrocêntrico pequeno
42 Tamandua tetradactyla Tamanduá-mirim 54 108 G. Dobigny et al. 2005 Metacêntrico grandeAcrocêntrico pequeno

LITERATURA CITADA

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406
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

USO DE ARMADILHAS E SOLUÇÕES ATRATIVAS PARA O


MONITORAMENTO DE ADULTOS DE MOSCAS-DAS-FRUTAS EM POMAR
DE GOIABEIRA

Alexandre Morais BORGES1* & Daniele Steiner SCHIMILDT1


1
Instituto Federal do Espírito Santo – campus Santa Teresa
*alexandreboorges@gmail.com
INTRODUÇÃO

As moscas-das-frutas são as pragas de maior expressão econômica na


fruticultura mundial. Sua importância está relacionada diretamente aos danos que
causam aos frutos, aos elevados custos necessários ao seu controle e aos prejuízos, que
advêm com as restrições fitossanitárias impostas nas relações comerciais internacionais
de frutos in natura. No mundo anualmente são perdidos aproximadamente 1 bilhão de
dólares devido aos danos causados por essas pragas (Godoy et al., 2011). A fora os
danos diretos, são pragas quarentenárias que limitam o comércio de frutas entre os
países (Carey & Dowel, 1989; Aluja, 1994). No Brasil, as espécies de moscas-das-frutas
de importância econômica pertencem a quatro gêneros: Anastrepha Schiner, Ceratitis
Macleay, Bactrocera Macquart e Rhagoletis Loew (Zucchi, 2000).
O controle das mosca-das-frutas pode ser realizado com inseticidas sintéticos, os
quais, se utilizados excessivamente, podem causar contaminação ambiental e afetar a
saúde humana (Monteiro et al., 2007). Neste contexto, o monitoramento por meio de
armadilhas que contenham atrativos alimentares é um dos métodos mais prático de
confirmar a incidência das moscas em pomares (Salles, 2003), fornecendo informações
sobre o momento adequado para adoção de medidas de controle (Nascimento et al.,
2000).
Entre as principais demandas do programa nacional de controle de moscas-das-
frutas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento estão os estudos sobre
detecção, monitoramento e distribuição de espécies de Tephritidae de importância
econômica (Raga et al., 2006). A eficácia do controle das moscas-das-frutas é
dependente da disponibilidade de bons atrativos e armadilhas (Salles, 1999; Nascimento
et al., 2000), tanto para os sistemas de monitoramento como para o emprego de iscas
tóxicas (Calkins & Malavasi, 1995).
As armadilhas McPhail têm sido amplamente utilizadas para monitoramento de
moscas-das-frutas em várias partes do mundo, especialmente para as espécies de
Anastrepha e Bactrocera, para as quais não existem atraentes sexuais produzidos em
escala comercial (Aluja et al., 1989). Porém, a eficácia deste método está intimamente
ligada à disponibilidade de bons atrativos para esse tipo de armadilha. Em muitos casos,
o emprego de atrativos ineficazes podem comprometer os resultados do monitoramento,
devido à falta de padrão de qualidade e consequente baixa eficácia de captura desses
insetos (Raga et al., 2006).
Sendo o custo um fator importante a ser considerado quando se trabalha em
programas de monitoramento e/ou controle de pragas, especialmente quando envolve
produtores com baixa renda, as armadilhas confeccionadas com material alternativo
podem ser uma opção viável para avaliar a população da praga visando racionalizar o
controle, a exemplo do que foi observado por Bressan & Teles (1991) e Salles (1999),
que também avaliaram Anastrepha spp. Essas armadilhas alternativas, por serem de
material barato, de fácil disponibilidade, reutilizável, desinteressante para furto e de

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

fácil confecção pelos usuários, podem ser utilizadas pelos pequenos e médios
produtores no controle das moscas-das-frutas, sem trazer ônus adicionais na produção
(Azevedo et al., 2012). Neste sentido, o objetivo do presente estudo foi avaliar a
eficácia de armadilhas alternativas e atrativos alimentares no monitoramento das
moscas-das-frutas em pomar de goiabeira.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em uma área de 0,5 hectare de cultivo de goiaba,


no Setor de Culturas Perenes do Instituto Federal do Espírito Santo - Campus Santa
Teresa, durante o mês de Abril de 2015. Utilizou-se um delineamento em blocos ao
acaso no esquema fatorial 3 x 3 (atrativos x armadilhas), com quatro repetições, as quais
foram para atrativos: 1) solução de água + proteína hidrolisada (5%), 2) solução de água
+ vinagre de banana (10%); 3) solução de água + suco industrializado de goiaba (10%)
e para armadilhas: 1) MC Phail (figura 1), 2) garrafa PET de 2000 mL (figura 2) e 3)
garrafa PET de 600 mL (figura 3), pintadas de amarelo até aproximadamente 1/3 da
altura, com o intuito de aumentar a atratividade, sendo que logo acima da parte colorida
foram feitos orifícios com cerca de 2 cm de diâmetro, onde realizou-se 4 orifícios
equidistantes nas garrafas de 600 mL, e 6 orifícios equidistantes nas garrafas de 2000
mL, para a disseminação do odor da solução e entrada dos insetos.
As armadilhas (n=81) foram instaladas em uma área de 0,3 hectares de goiaba,
onde foram dispostas nas plantas do pomar a cerca de 1,5 m de altura, sendo tais plantas
escolhidas ao acaso. Não foi instalada mais de uma armadilha na mesma planta. Uma
semana após a montagem do experimento as armadilhas foram recolhidas para a
contagem do número de capturas de moscas-das-frutas, tal levantamento foi realizado
com auxílio de lupa estereoscópica.
Os valores médios de moscas-das-frutas coletados nas repetições de cada
tratamento foram submetidos à análise estatística pelo teste Tukey a 5% de
probabilidade.

Figura 1. Armadilha padrão tipo MCPhail.

408
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figuras 2 e 3. Armadilha confeccionada com garrafa PET de 2000mL e 600mL,


respectivamente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foram capturadas moscas das frutas apenas da espécie Ceratitis Capitata. Os


valores das médias de captura, assim como os resultados da análise estatística, estão
expressos na tabela 1.

Tabela 1. Médias de moscas das frutas capturadas em diferentes armadilhas e atrativos


alimentares em pomar de goiaba.
Atrativos Alimentares
Armadilhas
Proteína Hidrolisada* Vinagre Suco de Goiaba
McPhail 734,1 Aa 89,7 Ab 127,1 Ab
PET 2000 mL 105,7 Ba 5,9 Bb 7,0 Bb
PET 600 mL 73,7 Ba 6,7Bb 13,4 Bb
*Médias seguidas da mesma letra maiúscula na coluna e minúscula na linha não diferem
estatisticamente entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey.

A armadilha do tipo McPhail apresentou o melhor resultado em relação à


eficiência de captura de moscas das frutas. O que corrobora com o estudo feito por
Barelli & Galli (1998), em pomares de goiabeira localizados em Jaboticabal-SP, em que
a armadilha McPhail capturou mais moscas das frutas, sendo 68% superior às outras
armadilhas testadas. Estes resultados podem ser explicados pelo fato do diâmetro de
abertura do orifício desta armadilha ser maior que as demais armadilhas testadas no
experimento, facilitando a entrada do inseto. Acredita-se que provavelmente o diâmetro
de abertura da armadilha pode ter interferido no processo de dispersão do odor do
atrativo utilizado, haja vista que fisicamente quanto maior for a abertura do orifício
maior será a dispersão do odor do atrativo para o meio.
As duas armadilhas de garrafas PET não apresentaram diferenças significativas
entre si, podemos afirmar que o tamanho da garrafa, juntamente com a quantidade de
orifícios utilizados, não interferiu na eficiência das armadilhas. Ao compararmos esses
resultados com a armadilha MCPhail fica nítido que o tamanho do orifício de abertura

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

presente nas armadilhas testadas possui maior fator de interferência em relação ao


número de orifícios das mesmas.
Por outro lado, Lorenzato (1984) verificou que as armadilhas de garrafa PET são
mais práticas para o monitoramento dos tefritídeos que o modelo McPhail, por ser de
fácil aquisição, adequação, reposição, uso específico em pomares e oferecer perspectiva
promissoras para uso extensivo no meio rural. As garrafas PET se mostraram capazes de
capturar moscas das frutas, podendo ser recomendadas para o monitoramento desses
insetos em pequenas propriedades com recursos financeiros escassos, ademais, esse tipo
de armadilha reduz o passivo ambiental causado pelas garrafas PET. No que se refere a
sua utilização em grandes lavouras, se faz necessário maiores estudos.
Dentre os atrativos testados, independente do tipo de armadilha utilizada, a
proteína hidrolisada apresentou a melhor eficiência em atrair as moscas-das-frutas. Isso
é explicado pelo fato da proteína hidrolisada ser um atrativo desenvolvido em condições
laboratoriais, a qual foi desenvolvida exclusivamente para o propósito de atrair moscas
das frutas. Já os atrativos “suco de goiaba” e “vinagre”, quando utilizados em
armadilhas de garrafas PET apresentaram resultados semelhantes, logo se pode afirmar
que se torna necessário realizar mais estudos em relação à concentração desses
atrativos.
Em todos os atrativos alimentares utilizadas no experimento ocorreu captura de
insetos de outras ordens. Entretanto, futuros estudos podem esclarecer se os insetos
capturados são outras pragas da plantação ou inimigos naturais das moscas-das-frutas.
Ademais, a captura dos inimigos naturais facilita a propagação das moscas e
consequentemente acarreta o seu aumento populacional.

CONCLUSÃO

As armadilhas do tipo Mcphail demonstraram maior eficiência em capturar


moscas-das-frutas em relação às armadilhas do tipo garrafa PET, independente do
atrativo utilizado. Em relação aos atrativos, a proteína hidrolisada apresentou melhor
média na captura de moscas-das-frutas para todas as armadilhas testadas.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Federal do Espírito Santo, campus Santa Teresa, pelo apoio na


realização deste estudo.

LITERATURA CITADA

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

DISTINÇÃO ENTRE ESPÉCIES DO GÊNERO Trichomycterus


(ACTINOPTERYGII: TRICHOMYCTERIDAE) NAS BACIAS DOS RIOS
JEQUITINHONHA E PARDO UTILIZANDO ANÁLISES DE MORFOMETRIA
GEOMÉTRICA

Lorena TONINI1*, Juliana Paulo da SILVA1, Silvia Britto BARRETO2, Luísa Maria
SARMENTO-SOARES1,3

1
Instituto Nacional da Mata Atlântica, Programa de Capacitação Institucional
2
Universidade Federal da Bahia – UFBA
3
Universidade Federal do Espírito Santo – UFES
* lorenatonini.bio@gmail.com

INTRODUÇÃO

Os peixes de água doce da família Trichomycteridae constituem um grupo


diversificado, com cerca de 41 gêneros e 200 espécies distribuídas em oito subfamílias
(de Pinna, 1998; de Pinna & Wosiacki, 2003). Conhecidos popularmente como
cambevas, os representantes desta família são peixes de pequeno porte (de Pinna, 1998)
e se distribuem pelas Américas do Sul e Central (de Pinna & Wosiacki, 2003).
Dentro deste grupo, destaca-se o gênero Trichomycterus, cujas espécies são
caracterizadas pela presença de um par de barbilhões nas extremidades da boca e
ausência de espinhos nas nadadeiras. Esses peixes também possuem odontódeos fora da
cavidade oral que constituem placas na região opercular (de Pinna & Wosiacki, 2003), o
que permite que ancorem e se movam em substratos mais consolidados. Estas
adaptações os tornam capazes de resistir a fortes correntezas e ocupar as cabeceiras de
rios (de Pinna, 1998). Além disso, o grupo tem sido caracterizado com uma dieta
variada, composta principalmente por itens de origem animal (Ribeiro & Menin, 1996).
Em Trichomycterus, o conhecimento sobre os padrões de distribuição das
espécies e endemismos regionais é limitado. Isso gera muitas incertezas taxonômicas e
dificulta a obtenção de estimativas mais precisas sobre a real diversidade do grupo.
Nesse contexto, abordagens como a morfometria geométrica podem ser aplicadas para
fins taxonômicos, pois permite identificar até mesmo as variações sutis na forma por
meio da utilização de marcos anatômicos (Rohlf, 1993; Rohlf, 1999). Diante disso, nos
propomos a desenvolver o presente estudo, focando em avaliar, por meio da
morfometria geométrica, diferentes morfotipos de Trichomycterus encontrados nas
bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo.
A bacia do rio Jequitinhonha nasce na Serra do Espinhaço, no município do
Serro/MG, a uma altitude aproximada de 1.300 m. Seu curso percorre 920 km até a foz
no oceano Atlântico, junto à cidade de Belmonte, atravessando o território mineiro em
uma extensão de 760 km, sendo os últimos 160 km percorridos no estado da Bahia. Ao
norte, faz limite com a bacia do rio Pardo, ao sul com a bacia do rio Doce, ao sudeste
com a bacia do Mucuri e com várias outras pequenas bacias independentes (Sucuruçu,
Itanhém, Buranhém e Peruípe) e a oeste com a bacia do rio São Francisco, desaguando
no oceano Atlântico a leste (Ferreira & Silva, 2012).
A bacia do rio Pardo, por sua vez, percorre uma extensão de 565 km na região
hidrográfica mineira do Atlântico Leste, mesorregião Norte de Minas e do Sul Baiano,
onde abrange quase 30 municípios. Limita-se ao sul com a bacia do rio Jequitinhonha,
ao norte com a bacia do rio de Contas e do rio Colônia, a oeste com a bacia do rio São

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Francisco e a leste com o oceano Atlântico, onde deságua a 18 km a norte da foz do rio
Jequitinhonha. Seus principais afluentes são, pela margem esquerda, os ribeirões Salitre,
Ribeirão e Vereda e os rios São João do Paraíso e Catolé Grande. Pela margem direita,
destacam-se os rios Mosquito, Macarani e Maiquinique (CEMIG, 2017).
As bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo compartilham várias espécies, sendo a
maioria considerada endêmica destas drenagens (Camelier & Zanata, 2014). Assim, o
trabalho tem como objetivo avaliar a distinção entre morfotipos de Trichomycterus das
bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo por meio da morfometria geométrica.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram avaliados 72 indivíduos provenientes de diferentes localidades, sendo 58


da bacia do rio Jequitinhonha, nomeados em morfotipos, a saber: (Trichomycterus aff.
trefauti [07], T. jequitinhonhae [11], T. tete [10] e Trichomycterus sp. “araçuaí” [30]), e
14 da bacia do rio Pardo, considerado um único morfotipo: T. bahianus. O material
analisado é proveniente das coleções do Instituto Nacional da Mata Atlântica (MBML)
e do Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Londrina (MZUEL).
Para as análises morfométricas, foram obtidas imagens da vista lateral esquerda
dos espécimes, com escala métrica, utilizando uma câmera digital Canon SX50. Com o
software TpsDig2 versão 2.16 (Rohlf, 2010), foram inseridos nas imagens 7 marcos
anatômicos: (1) região interorbital; (2) região posterior da nadadeira peitoral; (3) região
anterior da nadadeira pélvica; (4) região anterior e (5) posterior da nadadeira dorsal; (6)
região posterior e (7) anterior da nadadeira anal; e 11 semimarcos, totalizando 18 pontos
(Figura 1). Posteriormente, todos os pontos foram alinhados por meio da sobreposição
de Procrustes no MorphoJ versão 1.06 (Klingenberg, 2011). Com este mesmo software,
foi realizada a Análise de Variáveis Canônicas (AVC), a fim de verificar as diferenças
na forma do corpo entre os diferentes morfotipos/espécies. Também foi realizada uma
Análise de Validação Cruzada para verificar a precisão dos dados.
Para verificar as semelhanças da forma do corpo entre os morfotipos, foi
realizada uma análise de agrupamento utilizando o método UPGMA com 10.000
permutações no software PAST 2.17c com base nas distâncias morfométricas médias
(Hammer et al., 2001). Adicionalmente, foi executada uma análise de variância
(ANOVA) para verificar se as diferenças no tamanho do centroide entre os morfotipos
foram significativas ou não, e as médias foram comparadas por meio do teste de Tukey
a 1%.

Figura 1. Vista lateral esquerda de um exemplar de Trichomycterus jequitinhonhae


evidenciando os marcos e semimarcos anatômicos utilizados para as análises (marcos de
1 a 7; semimarcos de 8 a 18).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da AVC indicaram diferenças significativas (p<0,05) quanto a


forma do corpo entre os morfotipos avaliados, sendo que as três primeiras variáveis
explicaram 88,05% da variação total. Por meio da validação cruzada (entre os cinco
morfotipos e grupos par-a-par), 41% foram classificados corretamente dentro de cada
grupo. Dentre os morfotipos, T. bahianus apresentou uma separação mais clara dos
demais táxons (Figura 2 [A]).
Alguns morfotipos dentro da bacia do rio Jequitinhonha, como T. tete e
Trichomycterus sp. “araçuaí”, também apresentaram-se separados. Embora ambos
ocorram na mesma bacia, suas distribuições são distintas, uma vez que T. tete pode ser
encontrado na região central da Bahia (no município de Mulungu do Morro), enquanto
Trichomycterus sp. “araçuaí” é conhecido para o nordeste de Minas Gerais, nos
municípios de Setubinha e Itamarandiba (mais próximos da região central do estado).
Isso pode indicar uma clara diferenciação na forma do corpo decorrente do isolamento
geográfico.
Como observado nas grades de deformação, as regiões que mais contribuíram
para a separação dos morfotipos foram a região da narina (ponto 8) e a do pedúnculo
caudal (ponto 14). Os pontos 10, 11 e 12 da região dorsal e 16, 17 e 18 da ventral
também apresentaram uma pequena variação (Figura 2 [B-D]), o que pode estar
relacionado a uma variação na altura do corpo entre os morfotipos.

Figura 2. Análise de Variáveis Canônicas (AVC) para espécies de Trichomycterus das


bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo. (A). Grades de deformação para os dois

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

primeiros eixos das Variáveis Canônicas (B e C para AVC1; D e E para AVC2). Os


escores negativos estão dispostos no lado esquerdo, e os positivos à direita do gráfico.

A análise de agrupamento pelo método UPGMA e com correlação cofenética de


60% evidenciou dois grupos com alto valor de suporte (100%): o primeiro formado por
T. aff. trefaut e T. bahianus, e o segundo formado por T. jequitinhonhae, T. “araçuaí” e
T. tete, sendo esta última a espécie mais divergente dentro do segundo grupo.

Figura 3. Análise de agrupamento pelo método UPGMA mostrando as distâncias


morfométricas médias entre a forma do corpo de espécies de Trichomycterus das bacias
dos rios Jequitinhonha e Pardo.

As diferenças no tamanho do centroide entre as espécies foram significativas (p


< 0,01) (Figura 4) e, considerando a média dos valores, os indivíduos de T. tete foram
significativamente maiores do que os indivíduos de T. jequitinhonhae e T. “araçuaí”.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 4. Box-plot demonstrando a variação do tamanho do centroide em espécies de


Trichomycterus para as bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo. As barras mostram os
valores médios ± desvio padrão. Letras diferentes representam valores médios
significativamente diferentes de acordo com o teste de Tukey a 1%.

CONCLUSÃO

O estudo de morfometria geométrica aplicado a espécies de Trichomycterus das


bacias dos rios Jequitinhonha e Pardo apresentou, até o momento, resultados
satisfatórios, permitindo diferenciar morfotipos com base na forma do corpo e no
tamanho generalizado dos indivíduos (tamanho do centroide). Para morfotipos com
sobreposição, sugere-se a análise de mais indivíduos, o que pode resultar em uma
melhor diferenciação. Adicionalmente, os resultados da morfometria geométrica aqui
obtidos, quando avaliados conjuntamente com dados morfológicos e moleculares,
auxiliarão na resolução de incertezas taxonômicas em Trichomycterus das bacias dos
rios Jequitinhonha e Pardo à luz da taxonomia integrativa, contribuindo para um
conhecimento mais robusto acerca da diversidade de espécies para este gênero na
região.

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA), ao CNPq pelas bolsas PCI-DD


concedidas às duas primeiras autoras e PCI-DA à quarta autora, a Joelcio Freitas pelo
auxílio nas análises morfométricas e aos colegas da equipe do setor de Zoologia do
INMA.

LITERATURA CITADA

Camelier, P. & A. M. Zanata. 2014. Biogeography of freshwater fishes from the


Northeastern Mata Atlântica freshwater ecoregion: distribution, endemism, and
area relationships. Neotropical Ichthyology, 12: 683-698.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

CEMIG. 2017. A Bacia do Rio Pardo. Disponível em: http://www.cemig.com.br/pt-


br/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_programas/ambientais/peixe_
vivo/Paginas/rio_pardo.aspx. Acesso em 23 de abril de 2017.

de Pinna, M. C. 1998. Phylogenetic relationships of neotropical siluriforms (Teleostei:


Ostariophysi): historical overview and synthesis of hypotheses. Pp. 279-330. In:
Malabarba L. R.; R. E. Vari; Z. M. Lucena & C. A. Lucena (eds.). Phylogeny
and classification of neotropical fishes. Edipucrs, Porto Alegre.

de Pinna, M. C. C., & W. Wosiacki. 2003. Trichomycteridae. Pp. 270-290. In: Reis R.
E.; S. O. Kullander & C. J. Ferraris, Jr. (eds.). Check list of the freshwater fishes
of South and Central America. Edipucrs, Porto Alegre, 729p.

Ferreira, V. O. & M. M. Silva. 2012. O clima da Bacia do Rio Jequitinhonha, em Minas


Gerais: subsídios para a gestão de recursos hídricos. Revista Brasileira de
Geografia Física, 2: 302-319.

Hammer, Ø., Harper, D.A.T., and Ryan, P.D. 2001. PAST: Paleontological Statistics
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Klingenberg, C. P. 2011. MorphoJ: an integrated software package for geometric


morphometrics. Molecular Ecology Resources, 11: 353-357.
Ribeiro, C. A. O. & E. Menin. 1996. Anatomia do tubo digestivo de Trichomycterus
brasiliensis (Reinhardt) e suas relações com os hábitos alimentares (Siluroidei,
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Rohlf, F. J. 1993. Relative warp analysis and an example of its application to mosquito
wings. In: Marcus, L. F.; E. Bello & A. Garcia-Valdecasas (eds.). Contributions
to Morphometrics. Museo Nacional de Ciencias Naturales (CSIC), Madrid, 8:
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Rohlf, F. J. 1999. Shape statistics: Procrustes superimpositions and tangent spaces.


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Rohlf, F. J. 2010. TpsDig2: thin plate spline digitizing landmarks (version 2.16).
Department of Ecology and Evolution, State University of New York at Stony
Brook, Stony Brook, New York.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

OS Trichomycterus (SILURIFORMES: TRICHOMYCTERIDAE) DA BACIA DO


RIO JEQUITINHONHA

Juliana Paulo da SILVA1,2*, Lorena TONINI1,2 & Luisa Maria SARMENTO-


SOARES1,2
1
Instituto Nacional da Mata Atlântica - INMA
2
Bolsista CNPq do Programa de Capacitação Institucional PCI/MCTI
*1414juliana@gmail.com

INTRODUÇÃO

O nome Jequitinhonha, de origem indígena, é composto pelo prefixo Jequi, que


significa armadilha para apanhar peixes, e Tinhonha rio largo, é considerado um rio
com alto grau de endemismo e um alto número de espécies ameaçadas (Rosa & Lima,
2008).
No século XIX a bacia do rio Jequitinhonha recebeu os naturalistas Auguste
Saint-Hilaire (1816 – 1817), Von Martius e Von Spix (1817 - 1820), além de
expedições científicas como a Thayer Expedition (1865 – 1866) (Feio e Caramaschi
1995).
Trichomycteridae é a segunda família mais rica em espécies de água doce dentre
os Loricarioidea, com 280 espécies em 41 gêneros e oito subfamílias (de Pinna, 1998;
Eschmeyer & Fong, 2014). Inclui peixes de pequeno porte, que não chegam a
ultrapassar 100 mm de comprimento padrão e costumam enterrar-se no substrato onde
se alimentam de pequenos invertebrados (Machado & Sazima, 1983, de Pinna &
Wosiacki, 2003; Fernández & Schaefer, 2009).
As três espécies de Trichomycterus conhecidas para a bacia do rio Jequitinhonha
foram formalmente descritas em 2004, quando foi também atribuída uma nova
ocorrência de T. alternatus para o trecho médio da bacia do Jequitinhonha, uma espécie
até então citada apenas para a bacia do rio Doce (Triques & Vono 2004).
Os terços superior e médio do rio Jequitinhonha foram os mais explorados do
ponto de vista ictiológico. Apesar de diversos naturalistas e pesquisadores terem
contribuído de forma significativa para o conhecimento da ictiofauna, o conhecimento
sobre o gênero Trichomycterus ainda é incipiente para a bacia, tornando-se necessárias
revisões taxonômicas, para uma melhor compreensão morfotipos do gênero
Diante das dificuldades em identificar as espécies de Trichomycterus para a
bacia do rio Jequitinhonha, o presente estudo pretende investigar as três espécies
descritas e mais a citada para a bacia, na tentativa de entender a diversidade de espécies
deste gênero na bacia, bem como averiguar ainda a possibilidade de novos táxons. Na
presente proposta, pretendemos reunir os dados morfométricos e morfológicos
conferindo uma diagnose para cada uma das espécies que facilite seu reconhecimento
com base em morfologia externa.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

A bacia do rio Jequitinhonha compreende uma área de mais de 70.000 km²,


tendo mais de 60.000 no nordeste do estado de Minas Gerais km² e uma pequena parte
no sudeste do estado da Bahia. (Cemig, 2017) (Figura 1).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

A bacia do rio Jequitinhonha é atravessada por três diferentes biomas


característicos. O bioma predominante para a bacia é o cerrado, estando presente no
médio para o alto curso, próximo aos municípios de Grão Mongol, Botumirim e
Turmalina.
Já o bioma Caatinga está presente no médio e alto curso, próximos aos
municípios de Araçuaí, Coronel Murta e Salinas (Feio & Caramaschi 1995). Por fim, o
bioma Mata Atlântica está presente no médio baixo curso da bacia do Jequitinhonha no
estado da Bahia e em pequena parte do estado de Minas Gerais.
Os principais contribuintes para a bacia pela margem direita são os rios Araçuaí
(principal contribuinte), Rubim do Sul, Piauí e Pinheiros. Já pela margem esquerda, os
principais contribuintes são os rios Itacambiruçu, Macaúbas, Tabatinga, Vacaria,
Salinas, Itinga, São Francisco e Rubim do Norte, destacando-se, em função do seu
potencial hídrico, as sub-bacias dos rios Itacambiruçu e Salinas.
A Ecorregião Mata Atlântica Nordeste é composta pelos sistemas fluviais que
drenam as encostas orientais da Serra da Mantiqueira e do Espinhaço até a costa
Atlântica, entrecorta os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Bahia e
Sergipe (Sarmento-Soares, 2014). Na Serra do Espinhaço, região onde nasce o rio
Jequitinhonha, a vegetação é bem diversificada, predominando amplas chapadas,
vegetação de cerrado e manchas de floresta estacional. No Médio Jequitinhonha,
estendendo-se do município de Araçuaí até o extremo na jusante da parte mineira da
bacia, na divisa com o estado da Bahia, em ambas as margens predomina vegetação de
caatinga e florestas estacionais. O relevo fortemente ondulado e os solos muito
susceptíveis à erosão são características presentes em todas as unidades de paisagem.
(Ferreira, 2011).

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Figura 1. Bacia hidrográfica do rio Jequitinhonha com indicação dos registros de espécies de Trichomycterus reconhecidas no presente estudo.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Foram realizadas avaliações morfométricas, merísticas e morfológicas externas


em 77 exemplares. O material examinado e os respectivos dados de coleção de cada um
estão indicados ao final da breve diagnose de cada espécie. Para as medições foi
utilizado paquímetro digital Mitutoyo de 200 mm, com precisão de décimos de
milímetro. As contagens e medidas tradicionalmente utilizadas para identificação das
espécies dos grupos se basearam nos trabalhos de Tchernavin (1944), complementado
em Trajano & de Pinna (1996).
Ao todo, 77 exemplares foram contados, medidos e/ou analisados para fins de
identificação. Uma breve diagnose das espécies é apresentada a seguir.
Assim, para assegurar a identidade das espécies e conferir os respectivos padrões
de distribuição regional, foram reunidas informações de cunho morfológico e
morfométrico, para reconhecimento das espécies e inferência dos respectivos limites de
distribuição.
Para a realização do presente estudo, foi examinado o material depositado na
coleções ictiológicas do Instituto Nacional da Mata Atlântica (MBML Peixes); Museu
de Zoologia da Universidade Estadual de Londrina (MZUEL); Museu de Ciências da
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (MCNIP) e Museu Nacional/ UFRJ
(MNRJ).

RESULTADOS

O gênero Trichomycterus é o mais especioso da família Trichomycteridae, com


161 conhecidas para a região Neotropical, na América Central e do Sul, desde a Costa
Rica até a Patagônia. Deste conjunto, dezesseis destas espécies ocorrem na Mata
Atlântica Nordeste, a saber: T. landinga Triques & Vono, 2004, T. itacambirussu
Triques & Vono, 2004, T. jequitinhonhae Triques & Vono, 2004, descritas para o rio
Jequitinhonha em Minas Gerais, T. bahianus Costa, 1992, descrita para o rio Una, na
Bahia, T. pradensis Sarmento-Soares, Martins-Pinheiro, Aranda & Chamon, 2005,
descrita para o extremo sul da Bahia, T. tete Barbosa & Costa 2011, T. payaya
Sarmento-Soares, Zanata & Martins-Pinheiro 2011 também descritas da Bahia. No
Espírito Santo temos as descrições de T. caudofasciatus Alencar & Costa, 2004, T.
mimosensis Barbosa, 2013, T. pantherinus Alencar & Costa, 2004, T. longibarbatus
Costa, 1992, T. gasparinii Barbosa 2013, e para Minas Gerais foram descritas
Trichomycterus brunoi Barbosa & Costa, 2010, do alto rio Itabapoana, em Alto Caparaó,
e ainda T. alternatus (Eigenmann, 1917) e T. argos Lezama, Triques & Santos, 2012 do
baixo rio Doce e sub-bacia do rio Casca respectivamente. Trichomycterus immaculatus
(Eigenmann & Eigenmann 1889), ainda que descrita a partir de material do rio
Paraibuna, bacia do rio Paraíba do Sul, foi registrada para o sul do Espírito Santo e,
portanto também ocorre na Mata Atlântica Nordeste (Sarmento-Soares & Martins-
Pinheiro.
Ainda que as espécies em Trichomycterus não representem um grupo
monofilético, estas podem ser reconhecidas por uma combinação de caracteres como a
presença de barbilhões nasais, junto à narina anterior, barbilhões rictais, junto ao canto
da boca, ausência de espinhos nas nadadeiras, e placas de odontóides sobre o opérculo e
interopérculo (De Pinna & Wosiacki, 2003). Apesar de Trichomycterus ser facilmente
distinguido dos demais Siluriformes que habitam os rios da Mata Atlântica, a distinção
entre as espécies é dificultada diante dos muitos nomes disponíveis e ainda pelo fato da
separação entre elas, baseada principalmente em colorido, ser confusa.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Para facilitar o reconhecimento das espécies na bacia com base em morfologia


externa, fornecemos a seguir uma diagnose das espécies descritas e os morfotipos
reconhecidos por nós para a área de estudo.

Trichomycterus landinga Triques and Vono, 2004

Figura 2. Trichomycterus landinga.


Holótipo MZUSP 58496. Vistas dorsal,
lateral e ventral. Foto: Osvaldo T.
Oyakawa.
Diagnose: Distância da origem da dorsal
ao meio da base dos raios caudais 1.5 na
distância predorsal. Cabeça larga,
quadrada. Primeiro raio de peitoral
prolongando em filamento (Fig.2).
Colorido: Manchas pequenas (menor ou
igual ao tamanho da órbita ocular), nas
partes látero-dorsais do corpo tendendo a
diminuir no sentido do ventre. Indivíduos
menores que 40 mm CP tem manchas
alinhadas formando uma faixa
intermitente.
Comparação: espécie descrita a partir de
exemplar único da localidade tipo, e assinalada para trechos do médio Jequitinhonha.
Triques & Vono (2004) diagnosticaram Trichomycterus landinga a partir de detalhes do
colorido, como a presença de uma série de pequenas máculas escuras (menores que o
diâmetro ocular), cujas pintas tornam-se esparsas em direção ao ventre. Outra
característica mencionada na descrição original é o primeiro raio da nadadeira peitoral
prolongado em filamento curto, menor que o comprimento do focinho (Triques &
Vono, 2004). Em uma comparação com a congênere Trichomycterus pradensis, que
ocorre ao sul do sistema do rio jequitinhonha, observamos diferenças quanto ao número
de raios ramificados na nadadeira peitoral, com 7 raios (vs. 8 em T. pradensis).
Distribuição Geográfica: Médio Jequitinhonha.
Material examinado: Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MCNIP 29, 1 (50.3
mm CP), ribeirão Escura, sub-bacia Itacambiruçu, mun. Itacambira- MG. MCNIP s/n°,
5, 30- 55 mm CP, Ribeirão Ventania afluente do Rio Itacambiruçu, mun. Grão Mongol-
MG.

Trichomycterus itacambirussu Triques and Vono, 2004

Figura 3. Trichomycterus itacambirussu. MCNIP s/no.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Diagnose: Distância da origem da dorsal ao meio da base dos raios caudais 1.5 na
distância predorsal. Cabeça larga e quadrada. Nadadeira dorsal com sete raios
ramificados; nadadeira peitoral com seis a sete raios ramificados; nadadeira anal com
cinco raios ramificados. Primeiro raio de peitoral prolongando em filamento.
Colorido: Manchas pequenas (menor ou igual ao tamanho da órbita ocular), nas partes
látero-dorsais do corpo tendendo a diminuir no sentido do ventre.
Comparação: espécie conhecida para a localidade-tipo, e assinalada para trechos do
médio e baixo Jequitinhonha (citada em Sarmento-Soares, 2008). A comparação com a
congênere T. landinga indicou ampla sobreposição dos dados morfométricos e
merísticos, o que sugere a necessidade de maiores investigações quanto a distinção entre
ambas espécies.
Distribuição Geográfica: Médio Jequitinhonha.
Material Examinado: Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MCNIP s/no., 3, 20-
45 mm CP, estrada de terra entre Grão Mongol e Josenópolis. Mun. Josenópolis -MG.
(Fig.3).

Trichomycterus jequitinhonhae Triques & Vono 2004

Figura 4. Trichomycterus jequitinhonhae. MZUEL 7342.

Figura 5. Trichomycterus jequitinhonhae. MCNIP s/no. Foto: Tiago C. Pessali.

Diagnose: Cabeça reta, não deprimida, triangular. Olho grande. Olhos pequenos, 11-
12% no comprimento da cabeça; filamento peitoral curto a moderado. pedúnculo caudal
baixo. Nadadeira dorsal com 6-7 raios ramificados; nadadeira peitoral com 7 raios
ramificados; nadadeira anal com 5 raios ramificados. nadadeiras pélvicas separadas
entre si. caudal truncada. Barbilhão maxilar atinge a base do opérculo. Barbilhões nasal
e rictal longos, alcançando a placa opercular.
Colorido: O padrão de colorido mais comum em indivíduos desta espécie é a presença
de manchas circulares grandes e escuras no corpo (Fig. 4). Em alguns indivíduos, tais
manchas tendem a formar uma faixa descontínua no meio do corpo (lembrando tabletes
retangulares- Fig. 5), sendo estas maiores e sequenciais no flanco e próximas ao dorso.

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Indivíduos menores com uma faixa lateral nítida, interrompida ou contínua, ao longo da
linha lateral.
Comparação: espécie conhecida para a localidade-tipo, e assinalada para outros pontos
da bacia em estudos recentes (e.g. Andrade Neto, 2010). Morfologicamente muito
semelhante a Trichomycterus bahianus, o que requer maiores investigações.
Distribuição Geográfica: Médio Jequitinhonha.
Material Examinado: Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MZUEL 7141, 4 ex.
(42.5 – 60.1 mm CP) Córrego Casa Nova, Bocaiuva; MZUEL 7236, 2 (40.5 – 43.0 mm
CP) estrada de terra Itamarandiba; MZUEL 7342, 7 ex. (36.5 – 52.9 mm CP). Caminho
para Posses, Leme Do Prado.
Bahia, bacia do rio Jequitinhonha: MNRJ 32128, 6 (51.1 – 57.8 mm CP), MNRJ 31971,
1 (44.9 mm CP) Rio Ribeira, próximo nascente em União Baiana- BA.

Trichomycterus bahianus

Figura 6. Trichomycterus bahianus. MBML 2116.

Diagnose: Cabeça deprimida, larga (79-83% CC), com formato triangular ou quadrado.
Olhos pequenos (13-15% CC). Barbilhão maxilar atinge a base do opérculo. Barbilhões
nasal e rictal curtos, não alcançando a placa opercular. Filamento peitoral curto a
moderado (6-10% no comprimento do primeiro raio ramificado). Pedúnculo caudal
moderado a alto (8-10% no CP). Nadadeira dorsal com 6-7 raios ramificados; nadadeira
peitoral com 6-7 raios ramificados; nadadeira anal com 5 raios ramificados. Nadadeira
caudal levemente emarginada.
Colorido: Colorido com manchas arredondadas grandes (maiores que o diâmetro
orbital) sobre as laterais do corpo. Em exemplares menores (CP inferior a 40 mm) uma
faixa lateral pálida, interrompida ou contínua, pode estar presente ao longo da linha
lateral (como ilustra a Fig.6).
Comparação: Espécie descrita a partir de material do rio Una, e registrada para
contribuintes do rio Pardo- BA (Cetra et al., 2010). Aqui pela primeira vez assinalada
para o baixo rio Jequitinhonha.
Distribuição Geográfica: Rio Una, rio Pardo e baixo rio jequitinhonha.
Material Examinado: Minas Gerais- Bacia do rio Jequitinhonha: MBML 2561, 1 c&s
(49.4 mm CP), Jacinto, tributário do córrego Areia, próximo a Jaguarão. MNRJ 32128,
9; MBML 1495:10, MBML 2116:2. MBML 1495, 9 (42.6 – 63.9 mm CP) afluente do
Córrego da Areia logo após a cidade de Jaguarão, no sentido de Jacinto. MG; MBML
1504, 1 ex. (82.23 mm CP) Córrego Areinha próximo a Salto da Divisa. Jacinto;
MBML 1508, 2 ex. (50.57 – 52.16 mm CP) Córrego do Empedrado próximo à Santo
Maria do Salto; MBML 2116, 2 (39.5 di&co – 45.8 mm CP). Afluente do Córrego da
Areia logo após a cidade de Jaguarão, no sentido de Jacinto, mun. Jacinto.
Bahia- Bacia do rio Pardo: Bahia: MBML 1579, 2 (57.6 - 60.9 mm CP), Wenceslau
Guimarães, córrego da Piaba, Reserva Biológica Wenceslau Guimarães; MBML 1580

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Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

(48.3 - 64.7 mm CP), Boa Nova, tributary of rio Urubu, near Valentim Village; MBML
1585, 10 (51.2 - 110.0 mm CP), Boa Nova, riacho Timorante, near Valentim Village;
MBML 1587, 2 (45.8 - 51.9 mm CP), Boa Nova, tributary of rio Valentim; MBML
1592, 6 (45.0 - 75.3 mm CP), Afluente do Rio Valentim, abaixo da Cachoeira Sete de
Setembro, Boa Nova; MBML 1595, 14 (71.4 - 76.1 mm CP), Rio Panelinha no povoado
de Biscó. Camacan; MBML 1598, 2 (53.3 – 56.9 mm CP), Rio Panelinha no povoado
de Biscó, mun. Camacan; MBML 1604, 1 (84.6 mm CP), Afluente do Ribeirão Água
Preta. Jussari. MBML 1609, 4 (71.1 – 95.6 mm CP), Afluente do Rio Colonia. Jussari.
MBML 2142, 2 c&s (52.5- 57.5 mm CP), Rio Panelinha no povoado de Biscó, mun.
Camacan. MNRJ 31935, 2 (47.5 – 55.5 mm CP). MNRJ 32022, 7 ex., Rio Panelinha no
povoado de Biscó- Camacã. MNRJ 32029, 2 (36.2 – 37.9 mm CP); MNRJ 31941, 2
(45.0 – 50.4 mm CP); MNRJ 32243, 80 ex. 23.4- 69.0 mm CP), Rio Panelinha no
povoado de Biscó- Camacan; MNRJ 32246, 2 (63.6 – 65.2 mm CP); MNRJ 31932, 1
(66.8 mm CP); MNRJ 32244, 3 (57.2 – 69.5 mm CP).
Bahia- Bacia do rio Cachoeira: MNRJ 31935, 3 ex., Afluente do Ribeirão Água Preta
tributário do Rio Colonia, Jussari- BA.
Bahia- Bacia rio Una: MNRJ 31932, 2 ex., Afluente do Rio Aliança na RPPN Serra do
Teimoso, Jussari- BA

Trichomycterus sp. “araçuaí”

Figura 7. Trichomycterus sp. araçuaí. MZUEL 7279, 62.2 mm CP, afluente do rio
Itamarandiba, mun. Itamarandiba- MG.

Diagnose: Cabeça deprimida, baixa, quadrada em vista dorsal. Olho pequeno (12-15%
CC). Filamento peitoral curto. Pedúnculo caudal alto, em continuidade com a nadadeira
caudal. Nadadeira dorsal com 6-7 raios ramificados; nadadeira peitoral com 7-8 raios
ramificados; nadadeira anal com 5 raios ramificados; nadadeiras pélvicas separadas;
caudal truncada ou levemente arredondada. Barbilhão maxilar alcança a base do
opérculo. Barbilhões nasal e rictal longos, ultrapassando a vertical da órbita ocular.
Colorido: colorido reticulado, com manchas grandes, em alguns indivíduos formando
uma faixa lateral interrompida ao longo da linha lateral (Fig.7). Nadadeiras com
manchas escuras esparsas.
Comparação: Em rótulo de coleções associado a T. landinga, possivelmente por causa
da cabeça baixa e faixa lateral escura intermitente.
Distribuição Geográfica: Aparentemente endêmico da sub-bacia do rio Araçuaí, um
dos principais contribuintes do rio Jequitinhonha.
Material Examinado – Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MZUEL 10713, 4
(54.1 – 75.8 mm CP) Afluente do rio Itamarandiba. Veredinha – MG; MZUEL 7216, 9
(31.3 – 56.6 mm CP) Córrego Itacarambi. Itamarandiba - MG; MZUEL 7236, 2 ex.
(40.6 – 45.3 mm CP) Ribeirão Itanguá, estrada de terra. Mun. Itamarandiba; MZUEL
7272, 3 (54.1 – 76.7 mm CP) Córrego Retiro da Serra, afluente do Itamarandiba.
Itamarandiba; MZUEL 7279, 4 (43.64 – 63.27 mm CP) Afluente do Itamarandiba.
Itamarandiba; MZUEL 7979, 4 (40.5 – 62.2 mm CP) afluente do Itamarandiba.

426
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Itamarandiba. MZUEL 10736, 4 ex. (43.8 – 61.9 mm CP). Afluente do rio Setubal. Sub
bacia do rio Araçuaí. Setubinha; MNRJ 32122, 1 (63.2 mm CP).

Trichomycterus sp. aff. T. trefauti

Figura 5. Trichomycterus sp. aff. T. trefauti. MZUEL 7077, 84.1 mm CP, Córrego
Pedraria. Mun. Diamantina- MG.

Diagnose: Nadadeira anal na vertical da porção anterior da nadadeira dorsal. Pedúnculo


caudal alto, entre 15-25% CP (vs. 10-12% nas espécies congêneres examinadas).
Mancha elíptica sobre a base da nadadeira caudal. Corpo em colorido reticulado.
Nadadeira dorsal com sete raios ramificados; nadadeira peitoral com seis raios
ramificados; nadadeira anal com cinco raios ramificados; olhos bem pequenos, 11- 12%
no comprimento da cabeça; nadadeiras com manchas escuras; nadadeiras pélvicas
separadas; Placa opercular de odontóides escura. O barbilhão maxilar atinge a base do
opérculo. Barbilhões nasal e rictal longos, ultrapassando a vertical da órbita e chegando
a alcançar a placa opercular. Nadadeira caudal truncada.
Colorido: Corpo com manchas pequenas escuras (menores ou iguais ao diâmetro
orbital). Nadadeiras ímpares com manchas escuras. (Fig.5).
Comparação: Assinalada para as cabeceiras fluviais em Diamantina e Olhos d’água
respectivamente, esta espécie é morfologicamente semelhante a Trichomycterus trefauti,
Wosiacki, 2004, descrita da bacia do rio das Velhas, contribuinte do rio São Francisco,
com a qual compartilha a posse de uma mancha elíptica sobre a base da nadadeira
caudal. O pedúnculo caudal hipertrofiado, mais alto que o restante do corpo, e o
pequeno tamanho do olho são características não compartilhadas com os demais
Trichomycterus na bacia do rio Jequitinhonha. O número de 6 raios ramificados na
peitoral difere ligeiramente do encontrado para as demais espécies presentes na bacia do
Jequitinhonha (com 6-7 raios). Necessário ainda confrontar os indivíduos de
Trichomycterus sp. aff. T. trefauti com Trichomycterus brasiliensis Lütken, 1874,
espécie originalmente descrita da foz do rio das Velhas, bacia do rio São Francisco, em
Minas Gerais. O complexo T. brasiliensis tem distribuição assinalada para o alto rio São
Francisco no estado de Minas Gerais e pequenas bacias adjacentes no sudeste do Brasil
(Mehanna, 2014). Maiores estudos se fazem necessários para assegurar sua identidade.
Distribuição Geográfica: Alto rio Jequitinhonha, nos contrafortes da Serra do
Espinhaço.
Material Examinado: Minas Gerais, bacia do rio Jequitinhonha: MZUEL 7077, 2
(64.6 – 84.1 mm CP), Córrego Pedraria. Diamantina. MZUEL 7097, 4 (41.35 – 52.27
mm CP), Córrego Carambola. Olhos D’água.

427
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

Tabela 1. Medidas morfométricas das espécies de Trichomycterus e morfotipos assinalados para a bacia do rio Jequitinhonha.
Trichomycterus Trichomycterus Trichomycterus Trichomycterus Trichomycterus
Medidas landinga jequitinhonha bahianus sp.araçuaí sp.aff. T. trefauti
Amplitude- Min- Amplitude- Min- Amplitude- Min-
Max Média Amplitude- Min- Max Média Max Média Amplitude- Min- Max Média Max Média
Comprimento padrão 50.3 – 50.3 50.3 72.7 – 24.7 50.7 82.2 - 39.5 54.5 84.1 - 26.4 47.4 84.1 - 26.4 47.4
Comprimento total 56.5 – 56.5 56.5 84,6 28,7 58.5 93.6 - 46.5 61.8 96.8 - 29.2 54.1 96.8 – 29.2 54.1
13.4 - 3.3
Alt. do corpo 5.6 - 5.6 5.6 13.2 - 3.2 7.9 12.6 – 5.1 6.9 13.4 - 3.3 6.4 6.4
Lar. do corpo 7.2 – 7.2 7.2 6,9 - 4,3 5.9 13.5 - 4.8 6.6 10.8 - 2.9 5.9 10.8 - 2.9 5.9
Filamento da peitoral 4.3 – 4.3 4.3 11.6 – 8.3 10.1 15.3 - 8.1 10.8 12.3 - 6.3 9.0 12.3 – 6.3 9.0
Comp.dos raios da
peitoral 10.6 – 10.6 10.6 8.1 – 5.9 6.8 11.4 - 7.0 8.5 8.6 - 5.1 6.7 8.6 - 5.1 6.7
Alt. do pedunculo caudal 31.4 – 31.4 31.4 10.4-2.8 6.4 9.0 - 3.6 5.0 9.4 - 3.1 5.0 9.4 - 3.1 5.0
Comp.do pedunculo
caudal 35.5 – 35.5 35.5 16.2 – 4.5 10.5 18.3 - 7.9 12.1 17.4 - 8.5 11.8 17.4 - 8.5 11.8
Compr. Pré-dorsal 27.7 – 27.7 27.7 48.5 – 15.4 32.8 51.8 - 24.8 34.0 56.2 - 25.1 32.5 56.2 - 25.1 32.5
Não foi
Compr. Pré-anal Não foi medido medido 51.9 – 16.5 36.0 59.6 – 27.9 37.8 64.9 – 26.6 37.5 64.9 - 26.6 37.5
Não foi
Compr. Pré-pelvica Não foi medido medido 45.4 – 13.7 29.3 45.4 – 22.0 29.1 51.6 - 21.7 29.7 51.6 – 21.7 29.7
Compr. Base da nadadeira Não foi
dorsal Não foi medido medido 7.3 – 2.9 5.1 9.1 - 4.5 6.1 8.5 - 3.1 5.1 8.5 – 3.1 5.1
Compr. Base da nadadeira Não foi
anal Não foi medido medido 5.6 – 1.8 3.8 6.3 – 3.9 5.0 6.1 - 2.3 3.7 6.1 - 2.3 3.7
Não foi 7.1
Compr. Barbilhão nasal Não foi medido medido 7.3 – 3.5 5.5 10.6 - 5. 7.0 11,7 - 4,5 7.1 11.7 - 4.5
Não foi
Compr. Barbilhão maxilar Não foi medido medido 8.2 – 6.2 6.8 13.7 – 5.5 7.6 10.4 – 4.8 7.4 10.4 - 4.8 7.4
Não foi 9.7 - 4.1
Compr. Barbilhão rictal Não foi medido medido 6.8 – 3.9 4.9 10.5 - 4.5 6.8 9.7 - 4.1 6.2 6.2
Não foi
Compr. Da cabeça Não foi medido medido 10.5 – 1.4 6.7 17.9 – 8.7 10.9 14.8 – 7.5 9.8 14.8 7.5 9.8

428
DISCUSSÃO

Existem três espécies nominais de Trichomycterus para a bacia do Jequitinhonha,


todas descritas em Triques & Vono (2004) para a sub-bacia do rio Itacambiruçu. Ao
avaliarmos a composição da ictiofauna no conjunto da bacia, foi possível observar a
presença de dois morfotipos adicionais para a bacia.
Ressaltamos que o padrão de colorido não é diagnóstico para nenhuma das espécies
avaliadas, muito pelo contrário. Polimorfismos são observados.
Ainda que três espécies tenham sido descritas para o rio Jequitinhonha, todas elas
pertencem a uma mesma microregião. No presente estudo reconhecemos similaridades
entre duas das três espécies de Trichomycterus descritas para a bacia do rio Jequitinhonha.
A diversidade de formas nos contrafortes serranos da Serra do Espinhaço e a diversidade
no baixo curso fluvial entrecortando a Bahia merecem ser mais bem investigadas. A
dificuldade em separar Trichomycterus landinga e T. itacambirussu nas amostras avaliadas
é um indicativo que os estudos com a bacia precisam seguir em continuidade.
A avaliação de material do rio jequitinhonha na Bahia sugere que a ictiofauna de
Trichomycterus na bacia não seja endêmica, havendo compartilhamento de T. bahianus,
uma espécie até então conhecida dos rios Una e Pardo, bacias hidrográficas ao norte do rio
Jequitinhonha. Trichomycterus tete, descrita para a bacia do rio de Contas, difere de T.
bahianus pelo olho maior e cabeça triangular, e aparentemente não ocorre na área de
estudo.
Ainda que Trichomycterus alternatus tenha sido referenciado como presente na
bacia por Triques & Vono (2004), nossos resultados indicam que tal espécie não ocorre na
bacia, sendo endêmica da bacia do rio Doce. A maioria dos indivíduos de Trichomycterus
alternatus possui um padrão de colorido uniforme, sem pintas ou vermiculações, e uma
nadadeira caudal mais escura que o corpo. Variação entre os padrões de colorido é comum
ser observado em espécies de Trichomycterus, onde há indivíduos com máculas e outros
com colorido uniforme. As populações do rio Jequitinhonha também apresentam variação
na pigmentação.
Estudos em taxonomia integrativa visam aclarar as dificuldades no reconhecimento
das espécies com complexidade (Dayat. 2005), e consideramos que este seja um caminho
importante para resolução do problema de identificação das espécies presentes na bacia do
rio Jequitinhonha.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pela bolsa PCI- DA (LMSS) e bolsa PCI-DD (JPS e LT). A Ronaldo
Pinheiro pela organização do mapa da bacia do rio Jequitinhonha. A Tiago Pessali pela
cessão de uso de imagens de Trichomycterus. Aos colegas do Museu Nacional/UFRJ, pela
hospitalidade durante visitas para exame de material comparativo (LMSS). Aos colegas do
setor de Zoologia, INMA, pelo apoio. Ao colega Osvaldo Takeshi Oyakawa do MZUSP,
por ceder às imagens do holótipo de T. landinga.

LITERATURA CITADA

Andrade Neto, F.R. 2010. MG. Biota, Belo Horizonte, v.2, n.5, dez./jan. Instituto Estadual
de Florestas — MG. Diretoria de biodiversidade Gerência de Projetos e Pesquisas.
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http://www.cemig.com.br/ptbr/A_Cemig_e_o_Futuro/sustentabilidade/nossos_prog
Anais do VI Simpósio sobre a Biodiversidade da Mata Atlântica – 08 a 11 de junho de 2017

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abril de 2017.

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430
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(Siluriformes) from Jequitinhonha Basin, Minas Gerais State. Ichthyological
Explorations of Freshwaters, v. 15, n. 2, p. 161-172, 2004.

Material comparativo:

Trichomycterus alternatus: Espírito Santo: MBML 636, 3 (71,2-103.3 mm CP), Itaguaçu,


Fazenda Coser. MBML 765, 1 (94,1 mm CP), rio Santa Joana. MBML 2602, 1 c&s (44.0
mm CP), Santa Teresa, rio Santa Maria do Rio Doce, na Cachoeira do Rúdio.

Trichomycterus brasiliensis: MNRJ 11346, 1, paralectótipo, Rio de Janeiro: Itatiaia, Mont


Serrat, ribeirão da Tapera. MNRJ 11347, 1, paralectótipo, Rio de Janeiro: Itatiaia, Mont
Serrat, ribeirão da Tapera. MNRJ 21425, 1, Minas Gerais: rio Paraopeba, em Cristiano
Otoni, próximo a ponte velha. MNRJ 21554, 1, Minas Gerais: tributário do rio Ouro
Branco, bacia do rio Paraopeba na estrada Ouro Branco-Santa Rita do Ouro Preto.

Trichomycterus pradensis: Médio Peruípe- MNRJ 28485, 6 ex.; Médio Itanhém- MNRJ
28491, 1 ex.; Alto Itanhém- MNRJ 28492, 1 ex. MNRJ 28490:16; Médio Jucuruçu- MNRJ
28486, 1 ex. MNRJ 28487, 9 ex. MNRJ 28483, 20 ex.; Alto Jucuruçu- MNRJ 28489, 2 ex.
MNRJ 28488, 12 ex.; Médio Frades- MNRJ 32085,1 ex.; Alto Frades- MNRJ 32066:1
MNRJ 31993,4 ex. e MBML 1474:4; Baixo Buranhém- MNRJ 31950, 1 ex. MNRJ
32071:9 e MBML 1520, 9 ex.; Médio Buranhém- MNRJ 32050, 25 ex. e MBML 1480,10
ex.; Alto Buranhém- MNRJ 32101, 4 ex.; Alto Buranhém- MNRJ 32034, 16 ex. MNRJ
32102, 34 ex. e MBML 1489, 8 ex. Córrego Dezoito, bacia do rio Itaúnas; MNRJ 17263, 1
ex. (43.6 mm CP), MNRJ 17265, 1 ex. (45.6 mm CP), MNRJ 21429, 1 ex. (70.6 mm CP),
rio Itauninhas, bacia rio Itaúnas. Bahia: MBML 1474, 4 ex. (30.9- 34.6 mm CP), Itabela,
rio São Gonçalo na estrada Itabela a Guaratinga; MBML 1480, 10 ex. (45.1- 50.8 mm CP),
Guaratinga, córrego Itu na estrada Guaratinga a Buranhém; MBML 1520, 9 ex. (36.3- 57.5
mm CP), Santa Cruz de Cabrália, rio Santo Antônio próximo a Barrolândia. MNRJ 28491,
1 ex. parátipo (35.1 mm CP), Medeiros Neto, córrego Água Fria.

Trichomycterus tete: MBML 7201, 2 ex. (47.0-83.9 mm CP). Afluente do rio Brumado,
Rio de Contas- BA; MBML 7207, 1 ex., (65.0 mm CP). Nascente do rio de Contas, Rio de
Contas- BA.

Trichomycterus aff. trefauti: MZUSP 36966, 2 parátipos, (36.6-54.2 mm CP) tributário do


rio das Velhas, bacia São Francisco, mun. Trinta Réis, Minas Gerais.

431
ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO MUSEU DE BIOLOGIA MELLO
LEITÃO – SAMBIO

Foto da capa: Primeiro lugar no concurso fotográfico do VI SIMBIOMA


categoria “Máquina Fotográfica” de Alexander Tamanini Mônico

Foto contra-capa: Segundo lugar no concurso fotográfico do VI SIMBIOMA


categoria “Aparelho Celular”de Gabrielly Benaducci Tolentino

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