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HISTÓRIA

Antiguidade Pré-Clássica

Prof. Dr. José Maria Gomes de Souza Neto


REITOR

Universidade de Pernambuco - UPE


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PRÁTICA I
EPISTEMOLOGIA DA HISTÓRIA

Prof. Dr. José Maria Gomes de Souza Neto

Carga horária:

CONTEÚDO

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO

1. Antiguidade Pré-Clássica: Conceituação


2. Antigo Oriente Médio: caracterização espacial

CAPÍTULO 2: CIVILIZAÇÕES DA IDADE DO BRONZE

1. História e meio ambiente: o caminho para a civilização (10.000 –


4000 AEC*).
2. A Idade do Bronze inicial e a emergência das primeiras comunidades
urbanas
3. Suméria: cultura basilar.
4. Os impérios mesopotâmicos (c. 2500 – 1500 AEC)
5. Antigos monarcas do Egito (3000 – c. 1780 AEC).

CAPÍTULO 3: IMPÉRIOS E ESTADOS DA IDADE DO FERRO

1. A primeira Era dos Impérios (sécs. XVIII-XIII AEC)


2. As invasões dos Povos do Mar e o fim da Idade do Bronze (séc. XII AEC)
3. Estados e cultura no Corredor Siro-Palestino.
4. O Império Neoassírio (sécs. XIV – VIII AEC)
5. O reordenamento mundial pós-assírio
6. O Império Persa Aquemênida

Objetivo Geral

Cobrindo um arco temporal que vai da formação das primeiras cidades


no Oriente Médio (V milênio AEC) às guerras pérsicas (século V AEC),
explora a formação e o desenvolvimento das principais entidades esta-
tais daquela região, quais sejam: o Egito; as cidades-estado sumerianas;
os impérios unificadores mesopotâmicos (acádios, amoritas); o Hatti; as
populações do Corredor Siro-Palestino (fenícios, israelitas, filisteus) e os
estados multiétnicos e multinacionais (Impérios Assírio, Caldeu e Persa).

* Antes da Era Comum, sigla equivalente a a.C. (antes de Cristo) que adotaremos nesta apostila.
Objetivos Específicos

• Compreender as sociedades antigas médio-orientais não como enti-


dades estanques, mas antes culturas e estados altamente integrados,
que interagiam frequentemente.

• Discutir a pertinência de conceitos (tais como “oriental”, “ociden-


tal”, “civilização”, dentre outros), com vistas a tornar o aprendizado
da Antiguidade numa ferramenta útil e válida para o século XXI.

• Apresentar ao alunado as fontes da Antiguidade médio-oriental dis-


poníveis em português, aproximando-os das mesmas.

• Estimular a prática da pesquisa e da geração de conhecimento, mi-


nando a repetição de fórmulas prontas vigentes no ensino de História
Antiga (Karnal, 2005).
INTRODUÇÃO

CAPÍTULO 1
Prof. Dr. José Maria Gomes de Souza Neto

Carga horária:

1. Antiguidade Pré-Clássica: Conceituação

O primeiro grande desafio que precisa ser vencido ao se abordar a Anti-


guidade Pré-Clássica (ou Oriental, embora não utilizemos essa nomen-
clatura neste texto) é vencer distâncias. Claro, Grécia e Roma também
estão, espacial e temporalmente, distantes do aluno brasileiro médio;
todavia, essas civilizações estão significativamente mais próximas em
termos culturais, seja na arquitetura de grandes cidades ou mesmo em 7
entretenimentos populares, como o cinema e a tevê. O Antigo Oriente
Médio não desfruta de tamanha proximidade temática, e frequentemente
esquecemos de que muito daquilo que nos rodeia provém dessa região
e desse tempo, em particular a religião cristã, majoritária no Brasil, des-
cendente direta do monoteísmo judaico.

Décadas atrás, era comum trabalhar-se a ideia de que o Oriente Médio


fosse uma espécie de incubadora, na qual importantes conceitos foram
gestados para, logo mais, serem desenvolvidos pelas culturas suposta-
mente mais elaboradas do Ocidente. Tais noções estão ultrapassadas e,
cada vez mais, observamos as terras entre o Nilo e a Mesopotâmia como
um local de intensa criatividade, um ponto de contato de correntes eco-
nômicas e ideológicas de todo o mundo antigo, da África até a China,
cuja influência não se encerrou com o advento dos gregos - antes, pelo
contrário, em muitos casos aumentou-lhes o poder de compreensão:
a maior cidade do mundo durante dois séculos foi Alexandria, fundada
pelos gregos, mas habitada por gentes das mais variadas origens e, sem
o afluxo de conhecimento proveniente das velhas tradições egípcias, me-
sopotâmicas, dentre outras, a alta ciência que caracterizou essa cidade
não teria sido possível.

Em sua obra As Civilizações Pré-Clássicas: guia de estudo, o historiador


português Augusto Tavares resume bem a importância desta disciplina:

“Segundo o velho adágio, a luz vem do Oriente, Ex-Oriente Lux. E se é


a escrita que caracteriza a “história”, então esta nasceu nas regiões do
Médio Oriente. (...) Compreende-se que o homem moderno, o homem
da chamada civilização ocidental, sinta especial atração por essa parte do
Antigo Oriente. Em busca do sentido profundo da sua cultura, não pode
contentar-se apenas com a Grécia e Roma. Vai procurar raízes mais dis-
tantes e encontra-as nas chamadas Civilizações da Antiguidade Oriental,
já designada por “Antiguidade do Oriente Clássico” para distingui-la do
CAPÍTULO 1

“Extremo Oriente”. Recebemos dali, como herança espiritual, parte do


nosso patrimônio, o que leva Pierre Amiet a afirmar que a nossa civiliza-
ção só “paradoxalmente” é dita “ocidental”, acrescentando ainda, “esse
oriente pertence-nos como parte integrante de nosso patrimônio”. As
civilizações chamadas “mortas” do Médio Oriente Antigo sobrevivem
indelevelmente em muito que “contribuiu para a edificação do nosso
mundo cultural”. Se o uso da escrita marca uma separação, digamos que
também significa passagem e encontro. De fato, os primeiros escritos da
humanidade, que surgem no Egito e na Mesopotâmia, já no dealbar do
terceiro milênio a.C., além de conterem registros de contabilidade e in-
formações de caráter administrativo, reproduzem principalmente mitos
das origens que eram transmitidos por via oral e vinham de épocas tão
remotas que mal se podem determinar. Nesta passagem da palavra dita
para a palavra escrita, haverá separação formal, mas existe sobretudo
ligação: é a escrita a veicular pensamentos e ideias da Pré-História, com
8 toda a pureza dos seus arcaísmos, na visão mítica do mundo e das coisas
e em completo anonimato. Estes dois aspectos, referentes à mentalidade
primitiva e ao anonimato, hão-de ter-se em conta na indispensável crítica
histórica para a exegese desses primeiros escritos da humanidade”. (TA-
VARES, A. Augusto. As Civilizações Pré-Clássicas: guia de estudo. Lisboa:
Editorial Estampa, 1987, p. 25, 26).

A antiguidade do registro escrito no Oriente Médio é um tesouro incom-


parável: olhamos para as pinturas em cavernas como Lascaux, na França,
e Altamira, na Espanha, ou ainda nos costões rochosos do Parque da
Serra da Capivara, no Brasil; admiramo-nos com suas técnica e beleza,
mas, infelizmente, não podemos saber o que pensavam os artistas que
as pintaram – apenas supomos em vista do contexto dado. Os docu-
mentos escritos (alguns dos quais traduzidos para a língua portuguesa)
nos permitem compreender um pouco dos problemas, sentimentos, es-
peranças e desafios que homens e mulheres enfrentaram há milhares
de anos, e como os enfrentaram, espelhando nossa própria humanida-
de contemporânea. A Epopeia de Gilgamesh, sumeriana, e o Livro dos
Mortos, egípcio, nos põem diante da grande questão existencial: o que
ocorre após a morte. O livro bíblico de Jó pergunta por que sofrem os
justos, enquanto o Código de Hamurábi, babilônico, traz para a vivência
prática quotidiana o conceito de justiça. Listas reais em Tebas e Ur fa-
lam da sucessão dos poderosos, enquanto outros documentos falam de
greves e revoluções. A arqueologia não só descobre essa documentação
como também fornece o necessário contexto para interpretá-la, temos,
hoje, um panorama das complexas relações econômicas que marcaram
a Antiguidade Médio-Oriental.

Ainda hoje, especialistas nas mais variadas áreas trabalham para traduzir,
interpretar e compilar documentos, enquanto outros trabalham contra o
intenso contrabando de antiguidades, uma chaga que tomou proporções
jamais vistas no início deste século, depois da invasão norte-americana

CAPÍTULO 1
ao Iraque, em 2003, e a ascensão do Daesh (o Estado islâmico) em 2013.
Por tudo que vimos, a Antiguidade Pré-Clássica é um momento histórico
que o futuro profissional desta disciplina não deve deixar de estudar e
compreender.

2. Antigo Oriente Médio: caracterização espacial

No estudo da Antiguidade Pré-Clássica, o aluno precisa ter em mente o


espaço físico no qual essa história se desenrolou. A rigor, boa parte desse
período histórico (com algumas exceções pontuais) teve lugar no espaço
que hoje conhecemos como Oriente Médio, um ponto de encontro do
extremo oeste da Ásia com a pontinha da Ásia e o sudeste da Europa.

Boa parte dessa região tem clima seco, com baixo índice pluviométri-
co; há, contudo, uma série de rios oriundos de áreas montanhosas, em
cujas margens as populações humanas se concentraram. Os maiores são 9
os Tigre e Eufrates, nascidos das montanhas do Cáucaso, e o Nilo, que
serpenteia desde o coração da África até o Mar Mediterrâneo. Essa abun-
dância de água fez que ele fosse denominado Crescente Fértil.

O Egito organizou-se ao longo do Nilo, e a calha do Tigre e do Eufrates,


chamada pelos gregos de Mesopotâmia (“Terra entre Rios”), foi foco da
Civilização Sumeriana e suas derivadas, as Babilônicas e a Assíria. Entre
estes dois mais proeminentes polos de poder, orbitaram várias outras po-
pulações, algumas (como os Hititas e os Persas) construíram seu próprio
império, enquanto outras (como os pequenos reinos e cidades-estado da
Fenícia e da Síria-Palestina, o chamado Levante) serviram de entrepostos
comerciais e área de conquista militar.
CAPÍTULO 1

10
O Oriente Médio foi o epicentro da cultura da Antiguidade Pré-Clássica,
mas não esteve, de modo algum, isolado do resto do mundo: o Egito
manteve relações intensas com a África subsaariana e a Arábia; a Me-
sopotâmia, com o Irã e a Anatólia (ou Capadócia). Populações da Ásia
Central, montadas em cavalos, frequentemente investiam contra os esta-
dos médio-orientais; a região da Grécia, hoje entendida como europeia,
fez parte da organização geopolítica do Oriente Médio, sendo amiúde
influenciada pelos acontecimentos políticos, econômicos e culturais que
lá ocorriam. Dessa feita, podemos perceber que estamos diante de uma
encruzilhada de gentes de todo o Velho Mundo, que desenvolveram as
mais variadas formas de contato, tais como conversão religiosa, conquis-
ta imperial, trocas comerciais e assim por diante, influxos mútuos que
edificaram as bases de um patrimônio compartilhado.

O Oriente Médio foi o epicentro da cultura da Antiguidade Pré-Clássica,


mas não esteve, de modo algum, isolado do resto do mundo: o Egito
manteve relações intensas com a África subsaariana e a Arábia; a Me-
sopotâmia, com o Irã e a Anatólia (ou Capadócia). Populações da Ásia
Central, montadas em cavalos, frequentemente investiam contra os esta-
dos médio-orientais; a região da Grécia, hoje entendida como europeia,
fez parte da organização geopolítica do Oriente Médio, sendo amiúde
influenciada pelos acontecimentos políticos, econômicos e culturais que
lá ocorriam. Dessa feita, podemos perceber que estamos diante de uma
encruzilhada de gentes de todo o Velho Mundo, que desenvolveram as
mais variadas formas de contato, tais como conversão religiosa, conquis-
ta imperial, trocas comerciais e assim por diante, influxos mútuos que
edificaram as bases de um patrimônio compartilhado.
CIVILIZAÇÕES DA

CAPÍTULO 2
IDADE DO BRONZE

Prof. Dr. José Maria Gomes de Souza Neto

Carga horária:

1. História e meio ambiente: o caminho para a


civilização (10.000 - 4000 AEC)

O “ ‘despertar da cultura’ envolveu a criação de novas formas de obter


alimentos, o que resultou no crescimento populacional e em novos mo- 11
dos de organização econômica e social” (Klein, Edgar, 2005, p.222).

Até por volta de 10.000 AEC, existiam cerca de 10 milhões de seres hu-
manos no planeta inteiro. Já havíamos chegado a todos os quadrantes,
com exceção das massas polares e das ilhas mais afastadas. Éramos in-
variavelmente poucos, organizados em pequenos grupos, especializados
em meio ambiente específico, coletando determinados tipos de frutos
e bagas, movimentando-nos para outras paragens quando a safra ter-
minava; seguíamos rebanhos de animais selvagens, possivelmente co-
nhecíamos os períodos de desova de peixes, quando estes seguiam em
piracema rio acima; raras eram as comunidades que podiam dar-se ao
luxo de permanecerem no mesmo lugar o tempo todo. Essa existência
era profundamente integrada à natureza circundante, aos ritmos impos-
tos pelos elementos.

Esses nossos antepassados, porém, não eram menos inteligentes que


nós - eram homens e mulheres com a mesma capacidade cerebral, que
ao longo de gerações observaram atentamente o mundo que os cercava,
e perceberam que se sementes caídas no chão surgiam brotos - e deci-
diram tentar reproduzir esse fato em condições controladas. Esse passo
importantíssimo ocorreu diversas vezes em alguns milhares de anos: en-
tre as populações do sul da China (comprovadamente há 13.500 anos
AEC, mas pode ter sido num tempo mais recuado) e bem mais ao norte,
nas margens do rio Amarelo, e também no México. Na calha do Tigre
e do Eufrates, seres humanos começaram a cultivar duas gramíneas, o
trigo (Triticum) e a cevada (Hordeum), cujas pequeninas sementes eram
ricas em carboidratos, fonte de energia; empiricamente, manejaram as
plantas, cruzando as espécies mais resistentes e de maior produtivida-
de, gerando assim exemplares mais proveitosos à alimentação humana.
Esse processo nada mais é que a criação de um meio-ambiente artificial,
criado para satisfazer a necessidade não das espécies que lá viviam, mas
daquelas que as cultivava.
Esses grãos tornaram-se os alicerces nutritivos dessas populações. A
CAPÍTULO 2

caça, a pesca e a coleta continuavam sendo realizadas, mas se tornaram


complementos dos cereais – não por acaso, muitos trechos literários an-
tigos deles falam como a base da vida, dentre os quais está a oração do
Pai Nosso, que fala do “pão nosso de cada dia” como símbolo da susten-
tação diária. Trigo e cevada eram moídos entre pedras, um dos utensílios
mais antigos de que se tem notícia, e a farinha resultante era unida à
água e ao sal e tornava-se, além de pão, mingau, incrementando a dieta
de jovens e dos velhos e gerando sensível crescimento populacional. As
populações com acesso a essa nova alimentação sedentarizaram-se e,
pelos milênios que se seguiram, incrementaram o manejo agrícola, do-
mesticando outras plantas e animais.
Observe este mapa:

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Como se vê, nos milênios que se seguiram à domesticação do trigo,


outros vegetais foram sendo igualmente manejados e adequados à ali-
mentação humana: frutas como uva, maçã, pera e romã eram pouco
mais que pequenos invólucros para sementes, com limitada quantidade
de açúcar, enquanto a azeitona requeria um elaborado processo de de-
molho na salmoura para tornar-se comestível.
Nesse mapa, são vistos alguns dos primeiros animais domesticados pelo

CAPÍTULO 2
homem, a maior parte deles para a obtenção de proteína: o cão (Canis
lupus), oriundo da Ásia Central ou da Rússia, é a espécie mais próxima de
nós e, embora tenha sido utilizada também como alimento, sua função
primordial era ajudar na caça e na segurança das comunidades. Porcos
(Sus), cabras (Capra) e carneiros (Ovis), animais de pequeno porte e ma-
nejo simples, foram criados primeiramente no Oriente Médio. Os bois
(Bos) provêm da região do Mar Egeu e, ao mesmo tempo, da Índia, de
onde também vieram as galinhas (Gallus), enquanto do Egito e do Le-
vante criavam-se patos, gansos (Anser) e pombos (Columba). A caça e a
pesca continuaram existindo, mas o grosso da proteína consumida pe-
los agrupamentos humanos provinha dessas espécies e seus produtos, a
exemplo de leite e ovo.

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Os animais, contudo, não foram domesticados apenas para servir de


alimento; a força física de algumas espécies foi essencial para o surgi-
mento de sociedades mais complexas: os asnos, criados no Egito e na
Mesopotâmia, foram os primeiros motores da civilização; montados em
cavalos nômades da Ásia Central, dominaram seguidas vezes os estados
médio-orientais, cujos exércitos mais pesados e lentos não apresenta-
vam oposição à altura; por fim, a resistência de dromedários e camelos
tornou o deserto quente (no caso dos primeiros) e frio (para os segun-
dos) acessíveis.

2. A Idade do Bronze inicial e a emergência das


primeiras comunidades urbanas

A domesticação de animais e plantas representou um feito crucial para


a Humanidade. No Oriente Médio, na Índia, na China, nas Américas,
sociedades criavam ambientes artificiais que lhes forneciam alimento em
maior quantidade e regularidade, permitindo significativos aumentos po-
pulacionais, possibilitando crescente segmentação social, especialização
do trabalho e consequente desenvolvimento de novas tecnologias. Por
CAPÍTULO 2

outro lado, a manutenção e vigilância de plantações cada vez mais exten-


sas, além de rebanhos, demandaram o surgimento de um novo arranjo
social, ao qual chamamos de cidade. Em poucos milênios, dezenas delas
foram fundadas no Oriente Médio, do Irã até o Egito; algumas floresce-
ram graças ao seu campo de cultivo; outras, por oferecerem materiais e
artigos desejados por outras povoações; ou ainda por estarem nas rotas
de passagem dessas mercadorias. A Jericó Neolítica1 é um bom exemplo;
em seu auge, por volta de 8000 AEC comportava uma população de mais
de 1000 pessoas, sustentada por campos cerealíferos, água abundante
e redes comerciais; tal sucesso demandou a edificação de uma muralha
protetora e, posteriormente, de uma torre de pedra de 8,5m de altu-
ra. Construções dessa natureza denotam a existência de uma sociedade
complexa, com chefias organizadas e farta mão de obra.

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Outro local que chama a atenção para as mudanças que ocorreram nesse
período é Çatal Huyuk, nome turco atual de um povoamento a sul da
Anatólia, que pode ser vista abaixo numa reconstituição do professor
Maurizio Forte, da Durham University. Mais importante centro comer-
cial de sua época, em seu apogeu (c. 6500 AEC) abrigava entre 5000 e
10.000 habitantes, que viviam em sólidas moradias. Embora cercada por
campos férteis, seu florescimento deveu-se primordialmente ao comér-
cio, pois não era só um entreposto comercial, mas uma rica fonte de ob-
sidiana, vidro vulcânico extremamente afiado, que era empregado como
objeto cortante antes da invenção da metalurgia.

1Não confundir com a atual cidade de Jericó, fundada muito depois. A Jericó Neolítica é um assen-
tamento próximo à cidade de mesmo nome.
CAPÍTULO 2
Fonte: http://smartheritage.com/tartessos-awards/2009-awards

Mas além de sua enorme população e dos seus contatos comerciais, 15


outros elementos muito característicos de Çatal Huyuk testemunham a
complexidade da sua população:

Fonte: https://blog.education.nationalgeographic.com/2014/01/15/explosive-evidence-
-for-the-worlds-oldest-map/

Essa imagem é o esboço de uma pintura mural encontrada em Çatal


Huyuk, que representava a cidade junto ao vulcão Hasan Dagi; os acha-
dos arqueológicos atestam a relação entre a pintura e real conformação
da cidade, indicando a existência do domínio tanto da técnica artística
quanto da observação empírica.

Em Çatal Huyuk, também foram descobertos indícios (dentre os mais


antigos) de uma religião organizada: alguns edifícios possuíam, possi-
velmente, a função de templos: eram ornamentados com sofisticados
murais pintados e cabeças de touro (um símbolo de masculinidade) em
tamanho natural, reproduzidas em gesso. Da mesma forma, foi encon-
trada a estátua de uma deusa-mãe, uma mulher gorda, sentada num tro-
no e guardada por dois leões. Essa figura, de uma fêmea dominante e
dois machos submissos, será comum em todas as religiões ancestrais do
Oriente Médio.

A localização das cidades mostra que as redes comerciais baseavam-se


em centro distantes um dos outros cerca de 50km; ou seja, a obsidiana
escavada em Çatal Huyuk não seria levada diretamente para Jericó, por
exemplo, mas passaria de ponto em ponto, até encontrar seu destino
final. A origem dessa malha possivelmente residiu na necessidade de
produtos básicos, como o sal, e foi ficando mais e mais elaborada, incor-
porando bens exóticos como conchas e manufaturas, um escambo que
CAPÍTULO 2

seria magnificado com a invenção da fundição dos metais.

A metalurgia não foi uma criação divina, mas antes o acúmulo de milha-
res de anos de inovações tecnológicas e observação empírica. Um dos
primeiros alimentos cozidos foi o pão (c. 10500 AEC), que exigia estrutu-
ras de fornos; essas construções foram sendo adaptadas para outros fins,
em especial a cerâmica, que surge no Oriente Médio, em período muito
próximo, uma passagem que exigiu maior controle do calor das forna-
lhas; essa equação exigia o conhecimento tanto dos combustíveis quanto
da ação do ar (oxigênio) na manutenção das chamas. A observação da
natureza alertou espíritos atentos que determinadas rochas tornavam-se
líquidas quando submetidas a calor excessivo, por exemplo, de vulcões.
Por volta de 7500 AEC, este know-how acumulado permitiu-lhes atingir
a temperatura necessária (183º) para liquefazer algumas dessas pedras
e, concomitantemente, outros processos foram criados, da purificação
do material à descoberta das ligas: o cobre ligado ao estanho gerava o
16 bronze, mais resistente e cortante que os originais, uma descoberta que
mudou o rumo das populações médio-orientais de uma vez por todas.

Ao mesmo tempo, o aumento populacional progressivo demandava


maior produção de alimentos e a longo prazo foram precisamente as
regiões que puderam prover mais comida que se tornaram mais rele-
vantes. Esse salto foi dado, em primeiro lugar, pelas cidades ao sul da
calha do Tigre e do Eufrates, cerca de 6000 AEC: densamente povoadas,
ao longo de um milênio desenvolveram técnicas tais como a irrigação, a
drenagem e o arado, aumentando sensivelmente sua fronteira agrícola.
Talvez como descoberta autóctone, talvez como influência mesopotâmi-
ca, em período contemporâneo os habitantes do Vale do Nilo criaram
instrumentos semelhantes. Dessa forma, separadas por áreas desérticas,
estavam plantadas as sementes daquelas que, futuramente, seriam as
duas civilizações essenciais do Oriente Médio.

2. Suméria: cultura basilar


No IV milênio AEC, as duas grandes regiões irrigadas do Oriente Médio

CAPÍTULO 2
não só apresentavam alto crescimento vegetativo2 de suas populações
autóctones como também atraíam imigrantes e nômades. Alguns vinham
ameaçar as cidades, seus campos e comércio, mas a maioria se instalava
e contribuía para seu desenvolvimento. O Egito concentrava no vale do
Nilo gente oriunda de locais tão distantes quanto a Núbia e o Levante,
sendo palco de uma intensa troca cultural entre africanos e asiáticos.

Na Baixa Mesopotâmia, não era diferente: elamitas (atual sudeste do Irã)


e semitas da Península arábica encontravam-se às margens do Tigre e do
Eufrates, numa época em que os dois rios desembocavam direta e sepa-
radamente no Golfo Pérsico. Os desafios para os habitantes dessa região
não eram pequenos: tratava-se de um grande pântano salobro, com re-
gime de chuva incerto, ameaçados pelas tempestades de areia que vi-
nham do sul, assolados por enchentes, malária, e carentes de material de
construção, como madeira e pedra. Essas adversidades foram contorna-
das com séculos de engenhoso trabalho: os pântanos foram drenados, a
água dos rios canalizada para a agricultura; na falta de material de cons- 17
trução, as fibras da cana eram trançadas e com elas edificavam-se casas,
cercas, faziam-se botes. Para as construções mais importantes, como
muralha, usavam-se centenas de milhares de tijolos de barro secos ao
sol. A poesia de um povo muito posterior a essa época, os sumerianos,
registrou na Epopeia de Gilgamesh a memória desses agitados tempos:

“Conheces a cidade de Shurrupak, que fica às margens do Eufra-


tes? A cidade envelheceu, assim como os deuses que ali moravam.
Havia Anu, o senhor do firmamento e pai da cidade; o guerreiro
Enlil, seu conselheiro; Ninurta, o ajudante; e Ennugi, que vigiava os
canais. Entre eles também se encontrava Ea. Naqueles dias a terra
fervilhava, os homens multiplicavam-se e o mundo bramia como
um touro selvagem” (1992, p. 149).

Essa gente agitada construiu dezenas de cidades, estabeleceu redes de


comércio que iam da Síria ao Golfo Pérsico, ampliou a fronteira agrícola
como jamais havia sido feito. Sua liderança religiosa exigia a construção
de grandes torres, conhecida pelo nome babilônico de zigurate e, entre
4000 e 3000 AEC, surgiu a primeira metrópole da história: Uruk, uma ci-
dade amuralhada, com arquitetura monumental, sofisticada manufatura
e uma sociedade complexa, que pode ter chegado a comportar 20.000
pessoas e na qual já há registro de diversas castas ou grupos sociais.

2 A diferença entre mortes e nascimentos.


CAPÍTULO 2

Fonte: https://www.mirrorservice.org/sites/gutenberg.
18 org/5/2/6/6/52664/52664-h/52664-h.htm

Essa imagem é o esboço de um artefato encontrado nessa cidade, o cha-


mado Vaso de Uruk (3200-3000 AEC), uma peça escavada em alabastro.
Na primeira faixa, a figura maior, possivelmente um sumo-sacerdote,
tem esse tamanho para ressaltar a sua importância, uma convenção
que permaneceu na arte mesopotâmica posterior. Ele possui servos, e
uma sacerdotisa recebe oferendas (atrás dela podem ser vistas outras
várias, como animais e comidas). A segunda faixa mostra homens nus e
de cabeça raspada carregando oferendas. Não sabemos exatamente sua
função (camponeses? Escravos?) mas, certamente estão numa posição
hierárquica inferior à dos personagens maiores acima deles. Por fim, na
última linha, há a representação de animais (carneiros e ovelhas), plantas
e água, abaixo dos seres humanos.

No final do IV milênio, um povo começou a se infiltrar na Baixa Meso-


potâmia; chamavam-se a si mesmos Ùĝ Saĝ Gíg-Ga (Cabecinhas Pretas),
mas nós os conhecemos melhor por um nome posteriormente conferi-
do: sumérios. De origem incerta (a hipótese mais tradicional menciona
as montanhas do Cáucaso), eles se infiltraram na região e terminaram
por dominá-la, comandando as cidades.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Standard_of_Ur_-_War.jpg
Essa imagem mostra uma das faces do Estandarte de Ur (2600 AEC), a

CAPÍTULO 2
caixa de ressonância de uma lira, e retrata a realidade da guerra entre os
sumerianos. As batalhas entre as cidades-estado eram uma constante:
os soldados eram armados com capacete, gibão de couro endurecido,
machado e adaga. Os carros de guerra eram puxados por quatro asnos,
e eram lançados sobre o exército inimigo, atropelando os combatentes.
Ao final, os derrotados eram sacrificados, e seus corpos deixados aos
animais carniceiros.

Mas o quotidiano político-militar não foi a herança mais relevante dos


sumerianos. Muito mais importante, eles herdaram os modelos primiti-
vos de registro escrito e os transformaram em escrita propriamente dita.

19

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Tableta_con_trillo.png

Esse exemplo data de 3500 AEC, antes da hegemonia sumeriana, portan-


to, e retrata um exemplo de escrita pictográfica, ou seja, cada desenho
representa uma coisa: mão, pé, cabeça, e assim por diante. Não há regis-
tro da língua falada por quem o fez, ou de ideias abstratas.

Fonte:https://en.wikipedia.org/wiki/File:Letter_
Luenna_Louvre_AO4238.jpg

Em torno de 3100-2900 AEC, já sob os sumérios, surge uma nova forma


de escrita, a ideográfica, na qual as incisões representam não apenas
uma coisa específica, mas também uma ideia, quantidades, situações, e
assim por diante. Como o barro era o material mais abundante na Baixa
Mesopotâmia, os primeiros escritores utilizavam-no para registrar suas
notas; os sumérios sofisticaram essa técnica, reduzindo os desenhos a
uma série de incisões retas, mais fáceis de serem traçadas na argila mole,
e utilizavam pedaços de caniço para deixar as marcas, mais fundas no
início, mas rasas no final, uma forma de cunha. Por causa disso, a essa
escrita os historiadores do século XIX chamaram Cuneiforme.
Os sumerianos foram escritores compulsivos. Muitos dos seus docu-
CAPÍTULO 2

mentos são registros contábeis, entrada e saída de grãos, animais e ma-


nufaturas dos armazéns do templo; não obstante, chegaram até nós leis,
muitos provérbios, listas de reis, registros históricos, poemas. Sabemos,
por exemplo, que eles se organizavam em cerca de vinte cidades-estado
independentes, comandadas por um rei (lugal) ou por um rei-sacerdote
(ensi). Cada uma delas possuía uma divindade padroeira, e seus cida-
dãos acreditavam que seu deus ou deusa morava no templo no alto do
zigurate. Tudo pertencia a esses seres divinos, e os sacerdotes, na condi-
ção de seus representantes, eram os gestores desse patrimônio.

A cultura escrita sumeriana foi a mais importante da história mesopotâ-


mica. Povos e impérios que os sucederam milênios adentro, preserva-
ram seus escritos, traduziram-nos, compuseram estórias seguindo seus
moldes.

3. Os impérios mesopotâmicos (c. 2500 - 1500 AEC)


20
O milênio de dominação sumeriana na Mesopotâmia não mudou carac-
terísticas essenciais da região: ela continuava densamente povoada, sen-
do passagem de algumas das rotas comerciais mais importantes do mun-
do, e atraindo migrantes e invasores. Várias tribos semíticas do norte da
Península Arábica ingressaram em territórios das cidades-estado, ao que
parece num movimento pacífico, uma migração semelhante àquela que
trouxera os próprios cabecinhas pretas à região.

Cerca de 2300 AEC, o chefe de uma dessas tribos, os acádios, reuniu to-
das as cidades-estado sob seu domínio, e adotou o título de Charrukénu,
rei legítimo – em português, Sargão. Seus descendentes permanecerão
no poder mais um século e meio, unificando não apenas a Suméria, mas
toda a Mesopotâmia, chegando até o Mar Mediterrâneo.
Ao fim do Império Acadiano, ocorreu nova fragmentação, um período

CAPÍTULO 2
conhecido como a Renascença Sumeriana. Nas últimas décadas do séc.
XVIII AEC, outra tribo semita, os amoritas, retomaram o ímpeto de unifi-
cação imperial e voltaram a reunir a Mesopotâmia sediados em sua capi-
tal, Babilônia, um período conhecido como Primeiro Império Babilônico.

21

Esses mais de cinco séculos de idas e vindas políticas deixaram um pro-


fundo legado cultural: os semitas tornaram-se herdeiros legítimos da tra-
dição sumeriana, e não apenas não a deixaram morrer como levaram-na
a um patamar jamais experimentado. O idioma sumeriano progressiva-
mente deixou de ser utilizado pelo povo, mas se tornou a língua máxima
da cultura letrada, apanágio de escribas longamente treinados no uso
do cuneiforme, que inclusive adaptaram a escrita cuneiforme à língua
semita - o chamado acádico-babilônico, linguagem clássica da literatura
mesopotâmica.

Durante séculos, gerações de escribas compilaram listas e listas de pala-


vras sumerianas, reuniram-nas em dicionários, traduziram-nas, compila-
ram e comentaram textos antigos, juntaram poesias independentes em
sagas coesas... um trabalho que produziu as obras máximas das letras
mesopotâmicas: a Epopeia de Gilgamesh, a Exaltação a Inanna, o Código
de Hamurábi e o Enuma Elish, dentre várias outras.

A Epopeia de Gilgamesh é a reunião de histórias orais sobre Gilgamesh,


um antiquíssimo rei de Uruk; os sumerianos as compilaram indepen-
dentemente, e no período acadiano elas começaram a ser reunidas num
mesmo ciclo. A epopeia como hoje a conhecemos não é anterior a 1300
AEC, e tem a assinatura de Sinleqiunnini, feiticeiro, exorcista e escriba
babilônico.

A Exaltação a Inanna foi a obra maior de um dos maiores autores da Me-


sopotâmia, e a primeira pessoa a assinar um texto: a sumo-sacerdotisa
Enheduanna. Filha do imperador Sargão, ela pontificava no mais impor-
tante templo do seu tempo, o zigurate da cidade de Ur. Meio acadiana
e meio suméria, em seu tempo de vida teve início o sincretismo oficial
CAPÍTULO 2

das divindades sumerianas com as semitas, um processo que duraria


séculos, montando um panteão divino e costurando histórias e mitos
diversos. Seus escritos tornaram-se clássicos, aprendidos por gerações
de escribas milênios adentro.

O Reinado de Hamurábi (c. 1792–1750 AEC) marca a hegemonia de Ba-


bilônia como a capital política e cultural da Mesopotâmia. Diferentemen-
te do Império Sargônida, não havia nele somente a expressão de uma
superioridade militar, mas também do exercício imperial de unificação,
representado pelo (mas sem se limitar a) código que leva o seu nome:

“Quando Hammurabi proclama do código de sua estela: ‘Que o ho-


mem oprimido, que está implicado em um processo, venha diante
de minha estátua de rei da justiça, leia, atentamente, minha estela
escrita e ouça minhas palavras preciosas. Que minha estela resolva
sua questão, ele veja o seu direito, o seu coração se dilate!”, devem-
22 -se interpretar tais palavras (...) não em um sentido legal, mas sim,
em um sentido moral. A estela apresenta inúmeras decisões e sen-
tenças do próprio rei. Ela tem, portanto, um valor paradigmático. É
um exemplo se sentenças justas e de intervenção do rei em favor
da justiça e da ordem na comunidade. Ela dá aos que procuram seu
direito confiança na justiça do rei (...)” (Bouzon, 1987, p. 28).

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Milkau_
Oberer_Teil_der_Stele_mit_dem_Text_von_Ham-
murapis_Gesetzescode_369-2.png

A partir do reinado de Hamurábi, Babilônia se tornou a capital cultural


da Mesopotâmia, cidade onde a mais alta literatura era redigida; seus
pensadores deram continuidade ao trabalho começado séculos antes pe-
los colegas acadianos, produzindo um panteão comum que incluísse e
sincretizasse as divindades sumerianas e semitas: a teologia criada nesse
contexto concluiu esse exercício de criação, situando a divindade padro-

CAPÍTULO 2
eira de Babilônia, Marduk, no ponto mais alto entre os deuses, um arran-
jo reafirmado a cada ano novo, quando o poema Enuma Elish (Quando
no Alto) era entoado, descrevendo a origem dos deuses e do universo,
na qual Marduk era o herói supremo.

4. Antigos monarcas do Egito (3000 - 1500 AEC)

Egito e Mesopotâmia desenvolveram histórias paralelas durante mais de


um milênio; houve, certamente, contatos entre os dois focos civilizacio-
nais, comprovado por diversos achados arqueológicos. Todavia, enquan-
to estados e impérios surgiam e desapareciam entre o Tigre e o Eufrates,
no Vale do Nilo houve uma tendência muito primitiva à unificação.

O processo de desertificação do Saara (iniciado por volta de 10.000 AEC)


levou populações do norte africano e do Oriente Médio a se concentra-
rem em volta do Nilo, junto com gentes oriundas da Núbia, norte do
23
atual Sudão.

O Vale do Nilo se divide em duas regiões bem características: o Alto e o


Baixo Egito. O rio nasce em montanhas no centro da África e serpenteia,
descendo até o Mar Mediterrâneo, e o Alto Egito, como o próprio nome
já diz, é a mais elevada, mais seca. A outra é a parte onde o Nilo se abre
como uma flor de lótus em direção ao mar, de clima mais ameno, e mais
aberto às influências estrangeiras.

Os egípcios chamavam seu país, Kemet, a “terra preta”, e a si mesmos,


“os pretos”; para além do fator étnico (eles tinham, efetivamente, a pele
escura), essas denominações lembravam o valor que davam ao Nilo e
suas enchentes: o vermelho do deserto era o sinônimo da morte, dos
animais perigosos, enquanto a escuridão e a fertilidade do húmus depo-
sitado nas margens do rio representava a vida, o universo ordenado, a
fartura.
Diferentemente da Mesopotâmia, os ciclos do Nilo eram pontuais: entre
CAPÍTULO 2

julho e outubro era a estação da cheia, seguida pelo recesso das águas e
a semeadura (de novembro a fevereiro); por fim, vinha a época da colhei-
ta, de março até junho. A frase de Heródoto, “o Egito é uma dádiva do
Nilo”, ficou famosa, e com razão, mas este presente não significava pou-
co trabalho: a cada fim de temporada de enchente, as terras precisavam
ser novamente reorganizadas; o húmus, ser espalhado. Posteriormen-
te, com o crescimento populacional, serviços de irrigação precisaram
ser construídos para aumentar o terreno arável. Pescadores tiravam das
águas os peixes (os que seriam levados para lugares mais distantes pre-
cisavam ser salgados). Hortas de regadio produziam verduras, frutas e
legumes o ano todo. A vida dos habitantes de Kemet era qualquer coisa,
menos preguiçosa.

No IV milênio AEC, os povoados em volta do Nilo se organizavam indivi-


dualmente em volta de uma aldeia fortificada e de um ancestral comum,
geralmente representado por um animal ou imagem humana. Essas
24 unidades serão chamadas de sepat, pelos egípcios, e de nomos, pelos
gregos, e deram origem à boa parte da cultura egípcia mais tradicional.
Esses pequenos agrupamentos lutavam pelo controle de terras agricul-
turáveis e formavam federações, que incluíam cada vez mais nomos, até
que surgiram dois reinos: o Alto e o Baixo Egitos, que seriam unificados
por volta de 3150 AEC, surgindo assim o primeiro império da história da
humanidade.

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/
File:Narmer_Palette_smiting_side.jpg

Essa unificação foi, certamente, resultado de conflitos, como pode ser


atestado pela imagem acima, uma foto da Paleta de Narmer, artefato
produzido nessa época. A figura central usa uma coroa real, segura um
inimigo derrotado pelos cabelos, e está pronto a esmagar-lhe a cabeça
com um porrete. Abaixo deles, duas figuras caídas já encontraram a mor-
te. Essa peça é considerada um dos documentos históricos mais antigos,

CAPÍTULO 2
por possuir, inclusive, uma inscrição: entre as duas figuras com chifres
de touro, há um peixe-gato dentro de um símbolo para “palácio”, indi-
cando tratar-se do rei de nome Narmer (o termo egípcio para o animal
aquático). Essa fase de estabilização do estado unificado é chamada de
período Proto-dinástico (3150 - 2686 AEC).

Entre 2686 e 2181 AEC já se percebe um estado egípcio claramente uni-


ficado, um período chamado de Antigo Império. A figura do rei3 será o
traço de união entre os dois reinos, do Alto e do Baixo, e os diversos no-
mos. Ao longo de sua história, jamais os monarcas foram tão poderosos
quanto nessa época: eram vistos como verdadeiros deuses encarnados,
os Hórus-reis, a mais alta esfera da vida militar, da vida religiosa e da
administração civil. Embora os vários chefes dos nomos se mantivessem
em suas chefias, em cada uma delas, escribas reais realizavam um cui-
dadoso escrutínio de todas as potencialidades: área plantada, colheitas,
oferta de mão de obra e assim por diante. Essas informações eram en-
caminhadas ao palácio e interpretadas pelos funcionários, sendo o mais 25
alto deles o tjati, ou vizir, primeiro-ministro que respondia diretamente
ao monarca. Essa burocracia, a primeira criada na História, administra-
va a justiça, organizava os celeiros estatais e ordenava o financiamento
dos templos. Séculos de estabilidade fizeram do Egito uma terra nota-
velmente próspera, com crescente população, atividades econômicas
diversificadas e integradas, cenário que tornou possível um programa
de construções monumentais que ninguém jamais havia executado em
lugar algum.

“O que vinha primeiro: a organização ou a pirâmide? Parece impossível


que uma possa ter acontecido sem a outra. À medida que a burocracia
respondia aos desafios da construção da pirâmide, os construtores de
pirâmides tiravam plenas vantagens da melhor administração que lhes
permitia convocar trabalhadores, encomendar e distribuir tarefas. Não
é por coincidência que a 4ª Dinastia mostra o primeiro florescer da es-
crita hierática, a forma cursiva e simplificada da escrita hieroglífica, mais
elaborada e trabalhosa, que seria doravante utilizada em todos os docu-
mentos e inscrições não monumentais.” (Tyldesley, 2005, p. 197).

A figura do morro possuía, no imaginário egípcio, um lugar muito espe-


cial: remontava ao início do universo, quando das águas do caos ergueu-
-se uma ilha, tornando-se, assim, um símbolo da ordem. Majoritaria-
mente, durante a III e a IV Dinastias egípcias (sécs. XXVII-XXV AEC) esse
conceito foi materializado por imensos monumentos de pedra:

3 O termo “faraó” para rei do Egito está popularizado e não é incorreto. Contudo, ele só será utiliza-
do muito tempo depois, no final do Novo Império. Desta forma, no momento optamos por manter
denominações gerais, como “rei” ou “monarca”.
CAPÍTULO 2

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cour_du_Heb_Sed.jpg

A primeira delas, a Pirâmide Escalonada, construída para o rei Djoser


(c. 2665-2645 AEC,) sob o comando de Imhotep, um gênio de várias
facetas: escriba, sacerdote, arquiteto, médico e administrador real. Além
do monumento funerário em si, foi edificado um verdadeiro complexo
funerário, circundado por uma muralha de mais de 10 metros de altura,
26 além de uma imensa estrutura subterrânea, que reproduzia os cômodos
do palácio real, para que no além-túmulo o monarca gozasse de todo o
conforto que teve em vida.

O ímpeto pela construção de pirâmides perdurou por, pelo menos, mais


de um século. Os sucessores de Djoser encomendaram mais desses mo-
numentos, cada vez maiores e complexos: em vez da estrutura em de-
graus, desenvolveu-se o padrão clássico, com os lados lisos, que atingiria
o apogeu no complexo funerário de Gizé.

Fonte: https://ar.wikipedia.org/
wiki/%D9%85%D9%84%D9%81:Cheops_pyramid_01.jpg

O complexo de Gizé é famoso pelas três pirâmides, a maior delas, a de


Quéops, vista anteriormente, e pela esfinge; todavia, ele é composto
por muitos mais que essas construções: há literalmente centenas de tú-
mulos e mastabas, destinados às famílias reais e aos altos funcionários;
templos funerários dedicados aos monarcas defuntos e, num poço, foi
encontrado, em 1954, o barco que levou o corpo do rei Quéops à sua

CAPÍTULO 2
morada final.

Menos impressionante, mas de forma alguma menos importante, próxi-


mo ao complexo foram encontrados os restos da cidade que abrigou os
milhares de funcionários que, durante décadas, trabalharam na constru-
ção dos monumentos. Contrariamente ao conhecimento vulgar, esses
operários não eram escravos, mas homens livres, pagos pelo seu esforço
com comida, cerveja e tecidos. Viviam nesse acampamento, trabalhavam
em turnos e recebiam refeições e tratamento médico. O volume de mão
de obra empregada nessas construções só foi possível graças à complexa
administração que organizava o país: dos peixes salgados do Mediter-
râneo aos cereais do Alto Egito; das pedras cortadas que chegavam aos
canteiros de obras aos milhares de ferreiros que produziam e afiavam
ferramentas de bronze. Durante mais de um século, o Egito encarou um
desafio que nenhuma outra sociedade humana poderia.
27
Aliás, mesmo para o Egito, o esforço foi grande demais: pirâmides con-
tinuaram sendo construídas, mas jamais com a qualidade daquelas de
Gizé; muitas eram edificadas com tijolos de barro que se dissolviam
com o tempo. O poder real enfraqueceu-se, e os senhores dos nomos
tornaram-se progressivamente mais ousados, alguns chegando mesmo
a afrontar os monarcas. Durante mais de cem anos, o estado unificado
deixou de existir, um período conhecido como o I Intermediário (2181 –
2040 AEC).

Eventualmente, o reino egípcio ressurgiu, só que em diferentes parâme-


tros: uma nova dinastia, a XI (2025-1991 AEC), governava com bases
mais terrenas que seus antecessores: sem perder o status divino, eram
também militares experimentados, que derrotaram adversários ao trono
e se impuseram sobre os senhores locais, estabelecendo as bases para
o Médio Império (2040 – 1782 AEC). O poder real fora reconquistado
belicamente, e a lógica de sua manutenção mudou: diferentemente do
milênio que o precedera, o trono egípcio ultrapassaria suas fronteiras
históricas em direção ao sul, o país de Kush.

Conhecida por nós como Núbia, era uma região contígua ao Egito; cul-
tural e etnicamente aparentadas, ambas populações viviam ao longo do
Nilo, só que os núbios mais ao sul, no último trecho montanhoso do rio
antes de chegar no Egito. Era uma região fértil, com vasta mão de obra,
ricas minas de ouro e contatos comerciais com a África subsaariana. A
dominação egípcia era de tal maneira importante que seguidos monarcas
mandaram construir fortes imensos ao longo do rio: um dos maiores,
Buhen, visto a seguir, ocupava uma área de 13.000m² e era virtualmente
inexpugnável.
CAPÍTULO 2

28
Fonte: Franck Monnier, Les forteresses égyptiennes. Du Prédynastique au Nouvel Empire,
collection Connaissance de l’Égypte ancienne , Safran (éditions), Bruxelles, 2010, 978-2-
87457-033-9, http://www.safran.be/proddetail.php?prod=CEA11

Os recursos advindos da anexação da Núbia tornaram possíveis quase


três séculos de calmaria no Egito, o período de ouro da literatura egípcia.
IMPÉRIOS E ESTADOS

CAPÍTULO 3
DA IDADE DO FERRO

Prof. Dr. José Maria Gomes de Souza Neto

Carga horária:

1. A primeira Era dos Impérios (sécs. XVIII-XIII AEC)

29

Esse mapa marca os dois principais centros civilizacionais do Antigo


Oriente Médio: a Mesopotâmia e o Egito. Nos primeiros milênios de his-
tória escrita, suas respectivas expansões militares ocuparam-se, primor-
dialmente, do controle do território ao longo das correspondentes bacias
fluviais e apenas secundariamente com o domínio de porções fora desses
núcleos: os egípcios dominaram a Núbia, enquanto acadianos e amoritas
ocuparam porções dos litorais do Golfo Pérsico e no Mar Mediterrâneo.

Ambos os polos desenvolveram estruturas militares poderosas e, para


ambos, o comércio era uma fonte importante de riqueza; assim, a gana
por novos territórios os levou à expansão imperial, um caminho no qual,
inevitavelmente, acabariam por colidir.
A expansão imperial africana, o Egito, e as asiáticas (algumas) eventual-
CAPÍTULO 3

mente se voltaram para uma região fundamental, seja para a segurança


política, seja para a dominação econômica: o Corredor Siro Palestino,
uma área que ia da Síria à península do Sinai, espremida entre o deserto
sírio e o Mediterrâneo. Por ela passavam não só os produtos mais co-
biçados do comércio internacional mas também os nômades invasores
que ameaçavam as fronteiras imperiais. Controlar essa região tornou-se
uma questão de vida ou morte para os impérios.

30

Essa importância é salientada quando observamos o mapa acima: todo


império, antigo ou moderno, exibe a imagem do poder, expressa, fre-
quentemente, na solidez de suas fronteiras. Não obstante, tais fronteiras
são sempre um risco, precisam ser porosas o suficiente para permitir o
comércio e a circulação de bens e pessoas, mas fechadas o bastante para
repelir incursões violentas de inimigos estrangeiros. Além disso, o custo
de mantê-las precisa se manter dentro dos limites de cada estado.

Esse cenário se torna ainda mais complexo quando se percebe que o


adversário nem sempre é um igual, com estrutura bélica semelhante:
no século XVIII AEC, em volta das fronteiras dos dois grandes estados,
circulavam inúmeras tribos, algumas delas utilizando-se de uma nova
tecnologia, o cavalo domesticado. A rapidez dessas novas montarias dei-
xava inertes os grandes, mas lentos exércitos baseados na infantaria e
nos pesados carros puxados por asnos.

Às ameaças externas, somaram-se as internas: com pouco mais de dois


séculos separando-os, o Médio Império Egípcio e o Antigo Império Ba-
bilônico deixaram de existir; em cerca de 1782 AEC, o estado egípcio
voltou a se dividir em dois reinos e, em 1580 AEC, a Babilônia caiu pe-
rante invasores hititas. Tinha início um período de desarranjo político no
Oriente Médio.

Com as fronteiras fragilizadas, os nômades movimentaram-se mais li-


vremente pela região; semitas da região de Canaã entraram no território
egípcio, fato cuja memória a Bíblia preservou: “E Jacob soube que havia

CAPÍTULO 3
alimento no Egito, e Jacob disse aos seus filhos (...) Eis que escutei que
há alimento à venda no Egito; descei ali e comprai-os para nós, e vivere-
mos e não morreremos. E os 10 irmãos de José desceram pra comprar
trigo no Egito” (Gênesis, 42:1-3). Alguns desses asiáticos, chamados de
Hicsos pelos egípcios, chegaram a estabelecer um domínio na região do
Delta.

Mais ao norte, indo-europeus, como os hititas e, possivelmente, os hur-


ritas, adentraram a cena, tendo os primeiros provocado a queda do Im-
pério Babilônico, e estabeleceram estados na Anatólia e na Síria, respec-
tivamente. O trono da antiga capital foi ocupado por outra população
estrangeira, os Cassitas, que se tornaram os novos senhores da Baixa
Mesopotâmia.

Ao fim de todas essas mudanças, o século XVI AEC trouxe à tona um


mapa geopolítico bastante modificado:
31

O Egito recuperou primeiro a dianteira; príncipes tebanos expulsaram


os Hicsos, reunificaram o estado, abrindo o período conhecido como
Novo Império (1570-1070 AEC), uma época de ouro para o País do Nilo:
faraós conquistadores como os Tutmés I e III e Ramsés II transformaram
o reino numa potência internacional, com exército forte e vias comerciais
riquíssimas

Essa nova política imperialista não se limitou à Núbia recuperada mas


seguiu em direção à Ásia, onde o faraó Tutmés III chegou a atingir o norte
do rio Eufrates. Nessa nova situação, o Corredor Siro-Palestino passou a
ser considerada sua área de influência.

Havia, porém, outros competidores nessa cena, os hurritas, vindos da


Ásia, fundaram o Mittani, um império reunindo pedaços do limite norte
do finado Império Babilônico e, ampliando-os, um estado que ia do Irã
ao Mar Mediterrâneo, tornou-se uma extensão complicada, sem defesas
naturais, chocando-se com várias outras potências, dentre as quais os
egípcios, na Palestina.
Outro reino desafiava a hegemonia hurrita: o Hatti, governado pelos hiti-
CAPÍTULO 3

tas, outra população migrante que, a partir de sua praça-forte, no centro


da Anatólia, representava uma ameaça constante ao Mitanni. Durante
300 anos, o xadrez geopolítico médio-oriental seria definido entre a po-
tência do Nilo e esses dois competidores asiáticos.

Orbitando em volta dessa troica, havia estados economicamente im-


portantes, como Babilônia, uma potência manufatureira governada pela
dinastia Cassita, e as cidades micênicas, o extremo ocidental da rede
econômica imperial.

Politicamente, as potências imperiais estavam em constante conflito:


uma situação de atrito ocorria no Corredor Siro-Palestino, onde hurritas
e egípcios dispenderam décadas numa guerra constante pela hegemo-
nia. O desgaste de um conflito dessas proporções não deve ser desconsi-
derado, ainda mais quando inimigos mais ao norte, os hititas, realizavam
constantes incursões no Mittani. Premidos por esses inimigos, os líderes
32 hurritas celebraram um acordo de paz com o Egito, mas pouco tempo de-
pois, na década de 1340 AEC, seu estado foi conquistado pelos hititas, que
herdaram não só seus territórios mas também os desejos expansionistas.

Fonte: Foto: Nevit Dilmen (d). https://commons.wikimedia.org/wiki/


File:Museum_of_Anatolian_Civilizations_1320169_nevit.jpg?uselang=fr

Os hititas eram um povo indoeuropeu e contavam possivelmente com o


melhor exército de sua época. O relevo aí visto, exposto no Museu das
Civilizações Anatolianas, em Ankara, na Turquia, mostra um dos seus
carros de combate mais resistentes e pesados entre os egípcios. Seus
soldados usavam capacetes, armas leves e pesadas e se moviam em for-
mação cerrada. A expansão imperial hitita levou-os ao conflito com o
Egito, que atingiu o auge por volta de 1275 AEC, quando os exércitos dos
dois impérios bateram-se perto da praça fortificada de Kadesh, na Síria.
Nenhum dos lados sagrou-se vencedor completamente e, após mais al-
gumas décadas de conflito desgastante para ambos os lados, foi assinado
um acordo de paz, o mais antigo que chegou até nós. Este tratado in-
cluía um pacto de não agressão, o reconhecimento mútuo das fronteiras
acordadas, auxílio na eventualidade de ataques de terceiros e a troca de
princesas reais (este item, contudo, o Egito jamais chegou a cumprir).
Essa primeira Era dos Impérios foi marcada por intensa integração eco-

CAPÍTULO 3
nômica. Como vimos, as rotas comerciais estavam abertas desde milê-
nios, mas o contato entre os grandes estados se intensificou fortemente:
graças à documentação hitita e, especialmente, às egípcias encontradas,
sabemos que embaixadores dos diversos reinos visitavam frequente-
mente as cortes, oferecendo presentes reais, reafirmando ou estabele-
cendo alianças comercias. O Egito era, de longe, o estado mais abastado
e controlava não só os bens oriundos da África subsaariana, mas também
os incensos árabes, elemento de grande procura. Mesmo durante perío-
dos de guerra, o comércio não era interrompido de todo, mas os acordos
de paz tornavam os caminhos e as rotas navais mais seguras e confiáveis,
estimulando as trocas. Logo não eram apenas os grandes estados médio-
-orientais que se conectavam, mas também pequenas nações fora dessa
região: sabemos com certeza que Alashiya (o Chipre) e diversas cidades
micênicas (na região do mar Egeu) mantinham intenso comércio com o
Oriente imperial.
33
2. As invasões dos Povos do Mar e o fim da Idade do
Bronze (séc. XII AEC)

Um elemento tecnológico aflorou perto do final da primeira Era dos Im-


périos: o ferro. Até então, os exércitos eram basicamente formados por
armas de bronze, liga metálica conhecida desde há muito e cujo manu-
seio era largamente sabido. No norte do Oriente Médio (ou na Ásia Cen-
tral), contudo, teve início a fundição do ferro, um metal cujo alto ponto
de fusão (1535º) exigia o domínio de técnicas novas, não apenas para os
fornos, mas também para malhar o metal, tornando-o menos quebradi-
ço. É possível que os hititas já se utilizassem de armas de ferro, mas estas
só seriam verdadeiramente inseridas no contexto médio-oriental num
momento seguinte, no qual a geopolítica da região estaria amplamente
transformada.

Os acordos de paz da década de 1260 AEC entre egípcios e hititas trou-


xeram a aparência de estabilidade à região: os dois principais estados,
detentores das forças armadas mais poderosas de seu tempo, haviam
concertado um status quo comum, encerrando séculos de conflitos, esti-
mulando fortemente a economia regional. Cidades-estado como Ugarit,
no litoral da Síria, ou as muitas fortalezas cananeias, na Palestina, se favo-
receram da pacificação e da consequente ampliação das rotas, conforme
registrado pela arqueologia. O mesmo fato se dava em locais como Troia,
no norte do mar Egeu, Micenas e Pilos, na atual Grécia. Mas, em meros
cinquenta anos, o tempo de uma vida, tudo se transformaria: todo o
Mediterrâneo Oriental seria revirado pelas invasões de povos nômades,
chamados pelos egípcios de “Povos do Mar”.
CAPÍTULO 3

Esse mapa mostra seu complexo quadro de movimentação: com base


34 em deslocamentos originais (cujas razões são desconhecidas) nos Bál-
cãs, eles forçaram a entrada tanto nas cidades micênicas quando nas
anatolianas, destruindo as mais ricas, mesmo as mais bem defendidas,
como Micenas. Cada região conquistada fazia aumentar a onda humana,
somando-lhe de refugiados em fuga a mercenários tornados em piratas.
Como se vê, apesar do termo “Povos do Mar”, eles não formavam uma
unidade, um único povo, mas, antes, a reunião de várias populações des-
locadas, que buscavam fugir ou aproveitar-se da situação de desordem.

O Egito, único país que, de alguma forma, resistiu às invasões, nos for-
neceu algumas das informações mais importantes sobre esse período
complexo: o faraó Ramsés III, vencedor das invasões, mandou registrar
em seu templo funerário que,

“Os estrangeiros armaram um complô em suas ilhas. De repente os


países desapareceram e foram dispersos na batalha”. Nenhum país
resistia às suas armas, a começar pelo Hatti, Kode, Carquemish, Ar-
zawa, Alashiya. Todos foram destruídos de uma só vez. Foi montado
em um lugar ao norte do Amurru. Eles exterminaram sua população,
e o país ficou como se jamais houvesse existido.

Essa narrativa condiz com os achados arqueológicos: uma primeira leva


seguiu pelos Bálcãs até o sul, destruindo as cidades micênicas e, de lá,
seguiram para atacar Creta e o Chipre; outra leva entrou pela Anatólia,
arremetendo sobre as cidades ligadas ao Império Hitita e arrasando-as,
inclusive a capital, Hatusas. Um terceiro grupo tornou-se pirata, e segui-
ram em barcos saqueando os portos mais ricos do Mediterrâneo. Estas
duas últimas ondas se dirigiriam para o mesmo local: o Egito.

O grupo que veio por terra saiu atacando as cidades do Corredor Siro-
-Palestino, e chegou ao território egípcio por volta de 1178 AEC, quando
então foi derrotado. É interessante notar que muitos guerreiros foram
capturados, mas, além deles, os relevos no templo mostram pessoas
(inclusive mulheres e crianças) fugindo em carros de boi, demonstrando

CAPÍTULO 3
que refugiados também compunham essas ondas humanas, na busca
por novas áreas de assentamento e, certamente, se aproveitando do res-
to dos saques.

35
Fonte: Gravura do séc. XIX mostra guerreiros sher-
den armados, conforme representados no templo
funerário do faraó Ramsés III. https://upload.wiki-
media.org/wikipedia/commons/d/d5/Relief_Sher-
den_Breasted_2.jpg

Cerca de três anos depois, os piratas chegaram ao Delta do Nilo; diferen-


temente do grupo que viera por terra, os relevos não mostram civis entre
os atacantes, somente homens fortemente armados, alguns dos quais
mercenários que já haviam sido contratados pelo próprio Egito. Os escri-
bas preocuparam-se em registrar os nomes desses atacantes, alguns dos
quais conhecidos, como os Peleset (filisteus), os Tursha (“troianos”?),
dentre outros. Esse ataque marítimo malsucedido ao Egito marcou o fim
das grandes invasões dos Povos do Mar.

A estrutura imperial internacional, que havia sido edificada durante mais


de um século no Oriente Médio, ruiu em pouco mais de cinquenta anos.
Como bem sintetizou a arqueóloga e historiadora N. K. Sandars, uma
autoridade no período:

“Os anos que transcorrem entre, aproximadamente, 1220 e 1150


AEC são testemunhos da desaparição da influência egípcia no Le-
vante, da ruína total do Império Hitita na Anatólia, (...) e da destrui-
ção generalizada das cidades do Oriente mediterrânico, Chipre e do
território grego continental. Começou assim um extenso período
de decadência absoluta e relativo isolamento, cuja dureza é muito
difícil de explicar. No Egeu, esta Idade das Trevas se prolongou até
finais do séc. IX AEC, e na Anatólia até quase a mesma data. O Egito,
ainda que debilitado, manteve uma aparência de civilização. No Le-
vante, o eclipse foi menos prolongado, mas não menos verdadeiro,
com israelitas, filisteus e arameus lutando pelas antigas fortalezas
cananeias. É fácil encontrar provas desta situação nas cidades sa-
queadas, nas muralhas destruídas, nas comunicações interrompi-
das, no despovoamento e na pobreza.” (2005, p. 17).
3. Estados e cultura no Corredor Siro-Palestino
CAPÍTULO 3

36

Esse era o quadro do Corredor Siro-Palestino até as invasões dos Povos


do Mar, uma região densamente povoada, com intenso contato com os
polos mais ricos, como a Mesopotâmia, a Anatólia e o Egito, cuja atuação
econômica fundamental era o comércio: as cidades costeiras de Dor até
Ugarit dedicavam-se à navegação, vendendo principalmente madeira de
cedro das montanhas do Líbano, além de servir de intermediários para
matérias primas e bens manufaturados. As fortalezas continentais, por
sua vez, agiam como atravessadoras, cuidando das rotas mercantes, con-
trolando pontos-chaves das travessias.

A passagem dos Povos do Mar eclipsou essa organização. Algumas pra-


ças, como Ugarit, jamais se recuperaram, mas a maioria delas demons-
trou uma notável capacidade de recuperação e, em menos tempo que os
grandes impérios, voltou a ser ocupada, seja por generais hititas fugidos,
seja por populações locais até então sem expressão, mas que, com seus
poderosos vizinhos fora do cenário, ocuparam o papel principal. Socie-
dades menos complexas se mostraram mais resistentes à destruição: os
cananeus, por exemplo, eram urbanos, profundamente dependentes do
comércio internacional e, portanto, incapazes de sobreviver sem esses
investimentos; populações periféricas e seminômades puderam fugir,
refugiar-se em zonas de difícil acesso e retornar ao fim do turbilhão.

Entre essas populações emergentes, estava uma tribo de cananeus, os


israelitas, vivendo como pastores (e eventualmente salteadores) no limi-
te das cidades e unidos em torno do seu deus tribal, tiveram mobilidade
o suficiente para despistar a onda dos invasores e, após sua passagem,
estabeleceram o controle sobre a porção sul do Corredor Siro-Palestino,
inicialmente com um estado unificado, Israel (séc. XI AEC), de onde um
outro reino, Judá (séc. X AEC), separou-se.
Várias cidades da atual costa libanesa eram herdeiras diretas de suas an-

CAPÍTULO 3
tepassadas pré-invasões; cada uma possuía total independência política
e instituições próprias, mas seus costumes religiosos e práticas econômi-
cas eram largamente comuns. Nos séculos que se seguiram, os gregos os
chamariam a todos de Phoenikés, os vermelhos (não há uma explicação
pacificada sobre a razão dessa denominação), donde vem nosso termo
atual, Fenícios. Eles recuperaram a estrutura da maioria das antigas pra-
ças fortes, reabriram rotas comerciais esquecidas havia décadas, e im-
plantaram as mais sofisticadas manufaturas do Oriente Médio. Dentre
todas as cidades, uma destacou-se, a maior de todas, Tiro, que assumiu
a proeminência por volta do séc. X AEC.

37

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Hippos_2.
jpg?uselang=fr

Essa foto mostra detalhe de um relevo assírio com navegadores fení-


cios (possivelmente tírios) transportando madeiras. Em barcos pequenos
como esse, ou em grandes embarcações de carga, desbravaram as águas
do Mediterrâneo, primeiramente no litoral asiático até o Egito, depois su-
bindo e chegando até a Grécia. No século IX, eles já estavam no Mediter-
râneo Ocidental, onde fundaram a colônia de Cartago, na atual Tunísia,
de onde seguiram para o sul da Península Ibérica e para as costas atlân-
ticas da África. Essas colônias e entrepostos abasteciam as manufaturas
metropolitanas, e os fenícios eram famosos pela variedade de produtos
que ofereciam, de badulaques e jarros de vidro a tecidos tingidos com
púrpura, uma caríssima tintura vermelha que somente eles conheciam.
A Bíblia guardou a memória da riqueza que o comércio trouxera aos Fe-
nícios e, sobre Tiro, lemos em Ezequiel, 27:2-28:

“cidade estabelecida na entrada do mar (...) proclamas: ‘Sou a per-


feição da beleza!’. Tuas fronteiras estão no coração dos mares ( ...).
Dos ciprestes de Senir fizeram todas as tuas tábuas; buscaram ce-
dros do Líbano para fazer mastros para ti. De carvalhos de Bashan
fizeram os teus remos; teu tombadilho foi revestido de marfim (...)
Tarshish comercializava contigo a profusão de toda sorte de rique-
zas, como prata, ferro, estanho e chumbo, que trocavam por tuas
mercadorias (...) Os comerciantes de Shevá (Sabá) e Ramá trocavam
por tuas mercadorias os melhores perfumes, além de pedras precio-
sas e ouro ( ...) Tuas riquezas, teus marinheiros, teus pilotos, teus
construtores, teus comerciantes e teus guerreiros”.
É bastante provável que a necessidade de registrar suas transações co-
CAPÍTULO 3

merciais tenha empurrado os fenícios a simplificar a escrita hieroglífica


egípcia; tentativas dessa natureza já existiam há certo tempo, mas uma
nova forma de registro escrito só emergiu verdadeiramente nesse perío-
do histórico:

38

Como se pode perceber nesse quadro, o proto-canaanita já era uma sim-


plificação dos hieróglifos; o fenício, seu descendente, confere a cada um
dos símbolos um som específico, mas sem vogais, apenas consoantes
– caberia ao leitor conhecer a palavra lida e preenchê-la com os sons
das vogais4. Interessante notar que a primeira letra do abecedário fenício
chama-se alef, e a segunda, beith – relacione à nossa palavra “alfabeto”
e perceberá qual a origem primeira da nossa escrita.

A escrita alfabética surgida no Corredor Siro-Palestino foi a mais impor-


tante contribuição cultural dessa região, pois através dos seus contatos
comerciais, os fenícios levaram aos gregos essa técnica, que a partir de-
les chegou à Itália, utilizada por etruscos e latinos. No próprio Oriente
Médio, diversas línguas semíticas passaram a ser registradas nessa escri-
tura mais simples, em especial a maior obra da literatura médio-oriental,
a Bíblia Hebraica.

“Quando falamos da Bíblia, estamos nos referindo à coleção de textos


antigos, conhecida durante longo tempo como Velho Testamento, ago-
ra, comumente mencionado pelos estudiosos como a Bíblia Hebraica. É

4 Imagine se em português, em vez de escrevermos BOLO, BOLA, BALA e BILE, escrevêssemos so-
mente BL: assim funcionava o primeiro alfabeto fenício, e assim funcionam os alfabetos semíticos,
como o hebraico e o árabe, até hoje. Somente o contexto no qual a palavra aparece poderá dizer
qual dos substantivos é o apropriado.
uma coleção de lendas, leis, poesia, profecias, filosofia e história escrita

CAPÍTULO 3
quase inteiramente em hebraico, com poucas passagens em aramaico,
que se tornou a língua usual do Oriente Médio depois de 6000 a.C.
essa coleção compreende 39 livros, divididos, a princípio, por assunto
ou por autor, ou, no caso dos mais longos, como Samuel 1 e 2, Reis 1 e
2, e Crônicas 1 e 2, pelo tamanho padrão dos rolos de papiro. A Bíblia
Hebraica é a principal escritura do judaísmo, a primeira parte do cânone
da cristandade e uma rica fonte de alusões e de ensinamentos éticos do
islã, transmitidos por meio do texto do Alcorão.” (Finkelstein, Silberman,
2003, p. 17).

A Bíblia preservou o testemunho da complexa textura religiosa que mar-


cava o Corredor Siro-Palestino: a maioria das cidades possuía trindades
divinas, geralmente representadas por um casal masculino e feminino
mais seu filho, uma organização que devia muito à religião egípcia. Os
israelitas desenvolveram um caminho diverso, inicialmente reconhecen-
do outras divindades, mas reservando a uma apenas a adoração, prática
conhecida como monolatria; ao longo do tempo, surgiu o monoteísmo, a 39
crença na existência exclusiva de um único deus, e a consecutiva rejeição
de todos os demais. Essa entidade era conhecida pelo teônimo YHWH,
Yahuweh, o Jeová latinizado. Nos séculos X e IX, os profetas judeus com-
bateram constantemente a influência de cultos politeístas sobre o povo,
personificando nas antigas divindades a perversidade do mundo, uma
prática fundamental para todas as tradições religiosas que se originaram
desse campo primitivo.

4. O Império Neoassírio (sécs. XIV – VIII AEC)

A passagem dos Povos do Mar pelo Oriente Médio desorganizou a es-


trutura política que surgira e florescera há séculos na região e, durante
cerca de 200 anos, a figura do império desapareceu da geopolítica; o
único grande estado que verdadeiramente resistiu, o Egito, passou a re-
presentar um papel secundário, muito mais voltado para as questões
internas; a Anatólia jamais voltou a ser sede de uma grande monarquia;
a Babilônia estava sob controle de diversas tribos semitas, em especial
os caldeus. Nesse vácuo, as dezenas de pequenos estados do Corredor
Siro-Palestino se desenvolveram e enriqueceram.

Mas havia outro grupo, os assírios, povo semita que habitava a porção
mais ao norte de Mesopotâmia, uma região montanhosa, de agricultura
difícil e baixa produtividade econômica. Essa gente já fora citada em do-
cumentos acadianos e, frequentemente, organizava-se num reino unifica-
do que, após algum tempo, se esfacelava. Quando da chegada dos Povos
do Mar, haviam criado um império que conquistara a Babilônia e toda a
calha do Tigre e Eufrates, mandavam embaixadas à corte egípcia e repre-
sentavam a maior ameaça aos hititas. Inicialmente esse estado resistiu às
invasões, mas, possivelmente, a onda de refugiados desencadeada deve
ter provocado desestabilização e, embora jamais tenha sumido de todo,
o reino assírio reduziu-se apenas ao território em volta da capital, Assur.
Do século IX ao VIII AEC, contudo, o expansionismo assírio ressurgiu,
CAPÍTULO 3

manifesto primeiramente na própria Mesopotâmia, mas logo em seguida


se dirigindo ao ocidente:

40

Do seu epicentro norte-mesopotâmico, a Assíria contemplava o Orien-


te Médio Ocidental, com suas ricas manufaturas e importantes ligações
comerciais. Os pequenos estados, longe de se unirem, viviam constante-
mente em guerra, apenas a cidade fenícia de Tiro, graças à sua condição
insular, podia apresentar alguma resistência à dominação.

Para exercer o papel de potência regional, os assírios montaram uma


força armada como jamais fora vista antes:

Fonte: Esboço do séc. XIX de um relevo assírio.


https://en.wikipedia.org/wiki/File:Tiglath-Pile-
ser_II_-_1889_drawing.jpg

A infantaria dividia-se em leve e pesada, como já ocorrera com os hititas,


e também havia os conhecidos carros de guerra. Os arqueiros, além de
numerosos, passaram a ser um corpo específico dentro do exército, e
da Ásia Central foi importada a técnica do arco e da flecha sobre cavalo,
que desbaratava as tropas a pé. Além disso, conforme a imagem, tam-
bém criaram máquinas de sítio, os chamados aríetes, tanques de guerra
primitivos, cobertos de couro duro ou madeira e, com homens em seu
bojo, que os empurravam até as muralhas das cidades, quando então

CAPÍTULO 3
seus ocupantes martelavam-nas com os aríetes, troncos de madeira com
ponta de ferro. Como esses muros não usavam argamassa (somente a
fricção e a força da gravidade que os mantinham em pé), a aplicação
dessa arma provocava, em tempo relativamente curto, o desabamento.

Além da excelência de suas tropas, os assírios acrescentaram (ou, pelo


menos, celebrizaram) a prática do terror de estado: observem na ima-
gem, logo acima do aríete, três corpos pendurados, vítimas da tortura
conhecida como empalhamento, no qual longas estacas eram enfiadas
em prisioneiros, geralmente pelo ânus, provocando uma morte lenta e
dolorosa. Igualmente usuais eram orelhas, nariz, pés e mãos de homens
capturados, além da deportação de populações inteiras que resistissem à
invasão. Essas cenas foram eternizadas na arte assíria, especialmente nos
relevos de pedra que ornamentavam os palácios reais.

41

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Map_of_Assyria.png

Entre 824 e 671, o Império Assírio tornou-se o maior que já existira no


Oriente Médio, o primeiro a possuir territórios não só na Ásia mas tam-
bém na África, após a conquista do Egito. Era um domínio imenso, man-
tido a ferro e fogo, pelo pânico e a violência oficial – uma estratégia efi-
ciente, mas não perfeita, pois o pesado jugo assírio provocava frequentes
rebeliões. A simples existência de uma elite guerreira impõe limitações,
pois, a longo prazo, é progressivamente mais difícil suprir a demanda
de exímios guerreiros, ocorrendo a necessidade de recorrer aos povos
dominados para compor a maioria da infantaria leve, retirando muito
do poder de impacto antes conhecido. Por outro lado, a política assíria,
além de não granjear aliados estrangeiros gerava inimizades poderosas
de estados e populações que se imaginavam os próximos a serem inva-
didos; assim sendo, entre 625 e 623 AEC, uma coalizão internacional
formou-se contra o império, liderada pelos babilônicos rebeldes e pelos
Medos do Irã, acompanhados pelo pequeno protetorado de Judá e diver-
sas tribos centro-asiáticas. Em 612 AEC, as tropas medas, comandadas
pelo Xá Ciaxares, invadiram e arrasaram a capital assíria, terminando as-
sim sua era dos tronos manchados de sangue. Mais uma vez, temos a
CAPÍTULO 3

Bíblia como guardiã da memória da Antiguidade e, em Naum, 2:9 – 15,


lemos o que significou a derrota da Assíria para a população do Oriente
Médio: “Ficou indefesa a rainha e foi levada para o cativeiro; suas servas,
com os corações aflitos, gemem como pombas. Nínive parecia um poço
de águas tranquilas desde seus primeiros dias, mas, agora, é palco para a
fuga desordenada. (...) Nínive será esvaziada, violada e ficará deserta (...)
Onde está a guarida dos leões, onde amamentava a leoa seus filhotes e
por onde andavam destemidos, sem encontrar quem os amedrontasse?
O leão estraçalhava sua presa para dar alimento a suas crias e dividi-la
com a leoa (...) Vê que Me pus contra si, Nínive, diz O Eterno (Jeová)
dos Exércitos. Destruirei pelo fogo tuas carruagens, que se desfarão em
fumaça, e a espada abaterá teus filhos; farei desaparecer da terra tuas
presas e a voz de teus mensageiros não mais será ouvida”.

5. O reordenamento mundial pós-assírio


42 Com a queda dos assírios, um interessante arranjo político internacional
foi desenhado, e as potências vencedoras concertam uma nova ordem:
aos Medos coube à Assíria propriamente dita, desde o norte Mesopotâ-
mico até a Anatólia, terras que se somavam ao território próprio já con-
quistado, que ia até o atual Afeganistão – nesse momento, a Média era
o estado mais extenso do planeta. Babilônia por sua vez era governada
por uma dinastia semita; os caldeus, o chamado Império Neobabilônico
(626-539 AEC), embora sensivelmente menor que a Média, reunia as
mais importantes praças de manufatura do Oriente Médio, as cidades
fenícias e algumas das rotas de comércio mais lucrativas do seu tempo.
Outras potências regionais, como o Egito e a Lídia, foram respeitadas em
suas fronteiras, de forma que, pela primeira vez, desde o século XIII AEC,
havia uma ordem mundial acordada entre os estados mais poderosos.

Essa nova ordem se impunha no centro de um universo expandido, no


qual o Oriente Médio era a porção definitivamente mais rica, mas bus-
cava articular-se com todos os territórios conhecidos. Fenícios e, depois,
os gregos, abriram novas rotas marítimas, estabelecendo colônias desde

CAPÍTULO 3
o Mar Negro até a Espanha. Quando as cidades fenícias foram domina-
das pelos assírios, seus descendentes, os cartagineses, tornaram-se um
império, reunindo as antigas colônias no Mediterrâneo Ocidental e am-
pliando-as: no séc. VII, seus navegadores estabeleceram contatos com
as Ilhas Britânicas e a costa africana até o Senegal, e o historiador grego
Heródoto chega a mencionar a circunavegação da África. Na esteira des-
se processo, povos como os etruscos e latinos, da Itália, e os celtas, da
Europa Ocidental, passaram a interagir econômica e culturalmente com
o Oriente Médio.

Outrossim zonas afastadas, como o Kush (atual Sudão) e os estados do


norte da Índia relacionaram-se com as fronteiras imperiais mais próxi-
mas, e seus produtos e ideias iam sendo passadas de porto em porto.
O comércio de grande volume foi intensificado pela invenção da moeda
no litoral asiático do mar Egeu. Isso posto, o mapa da economia mundial
tornou-se sensivelmente mais complexo.
43

Das caravanas árabes que cruzavam ao deserto no lombo de camelos


aos barcos cartagineses que singravam o Atlântico, dos mercadores nas
margens do rio Indo aos celtas da Espanha, França e Inglaterra, formara-
-se uma complexa rede de conexões que, inicialmente, levava apenas
mercadorias, mas que em breve espalharia ideias, religiões, doenças, es-
pécies animais e vegetais.

6. O Império Persa Aquemênida

Babilônia não era apenas a sede de um poderoso império, mas, sobre-


tudo, a maior cidade do mundo; sua população chegou, talvez, a meio
milhão de habitantes, a qual se caracterizava pela extrema diversidade;
governada por imigrantes caldeus, a maioria de seus moradores eram na-
tivos mesopotâmicos. O maior rei babilônico, Nabucodonosor, em 587
CAPÍTULO 3

AEC, conquistou o reino de Judá, trazendo para a sua capital a elite da


população judaica, povo que prosperou nos negócios e nas artes e se
tornou parte essencial da vida econômica. Mesmo quando o xá da Pérsia,
Ciro, permitiu aos seus descentes retornarem à Judeia, uma sólida comu-
nidade permaneceu na Babilônia. Comerciantes e viajantes do mundo in-
teiro cruzavam suas muralhas –árabes, gregos, fenícios, egípcios – e não
seria estranho pensar que, mesmo elementos de terras muito distantes
como celtas, etruscos e indianos, chegaram a conhecê-la. Babilônia era a
capital do mundo conhecido.

Seu império, conquanto riquíssimo, era relativamente débil. Suas for-


ças armadas eram preparadas para lidar com os pequenos estados do
Oriente Médio, como o próprio reino de Judá, não poucas vezes, foi
desbaratado por forças significativamente inferiores. Diferentemente dos
seus antecessores assírios, os caldeus jamais conquistaram o Egito, e
a carência de uma marinha tornou inexpugnável a cidade de Tiro. Tais
44 resultados indicavam que, na eventualidade da aparição de uma nova
potência militar, o estado neobabilônico não resistiria, e esse adventício
veio do oriente, do sul do Irã.

Os reinos da Média e de Babilônia possuíam acordos formais de respei-


to às fronteiras, celebrado, inclusive, com a troca de princesas reais e,
enquanto Xás da Média ocuparam o trono, o tratado foi respeitado. Em
550 AEC, contudo, uma linhagem paralela ascendeu proveniente de um
território ao sul, a Pérsia, um reino irmão, mas bem menos elaborado
que os sofisticados medos. Ciro uniu os dois reinos sob sua dinastia,
a Aquemênida, e deu início a uma série de conquistas territoriais, que
incluiu o território de Babilônia em 539 AEC e, sob seus sucessores, o
Império Persa se tornaria o maior estado de sua época e um dos maiores
de toda a história, como pode se ver a seguir.

Fonte: Modificações sobre imagem criada por Ali Zifan. https://


en.wikipedia.org/wiki/File:Achaemenid_Empire_(flat_map).svg
Não obstante, esse império seria mais outra extensa expansão imperial,

CAPÍTULO 3
não fossem alguns detalhes: herdeiro direto do padrão meda de gover-
no, instituiu uma administração provincial extremamente avançada para
a época; continuava havendo, e não deve restar dúvida a esse respeito,
a força como vetor principal – o exército persa era um dos maiores do
mundo e, assim, permaneceu durante séculos, mesmo após o fim dos
aquemênidas. Mas, contrariamente aos assírios, sua presença nas pro-
víncias não se baseava no terror, mas na obediência: as terras que acei-
tavam o Xá como seu regente eram pouco perturbadas, suas elites locais
permaneciam em seus postos, a população civil não era massacrada,
e os impostos eram calculados como porcentagem da produção anual,
respeitando flutuações de um ano para outro.

Ciro estabeleceu um regime de tolerância religiosa que se tornou padrão


para todos os seus sucessores: embora os persas adorassem o deus úni-
co, profetizado por Zaratustra, não impunham essa fé aos demais; pelo
contrário, os Xás compreenderam que, em cada terra em que chegas-
sem, deveriam reverenciar a tradição e honrarem as divindades locais, 45
costume que não passou despercebido. Dois documentos de dois locais
diversos atestam-no. O primeiro, dos sacerdotes de Babilônia, preserva-
do num cilindro de terracota:

“O deus Marduk considerou a totalidade dos países. Viu-os e bus-


cou um rei justo ao qual conduziria pela mão. Chamou-o pelo seu
nome: Ciro, rei de Ansham. O deus Marduk viu com gozo seus atos
piedosos e seu coração justo e, como um amigo e companheiro,
partiu ao seu lado, inclinou para mim o grande coração dos babilô-
nicos e eu, a cada dia, tratava de honrá-lo.”

O outro, um trecho da Bíblia, Isaías 45, 1-3.

“Assim disse o Eterno a Seu ungido, a Ciro, cuja destra tenho forta-
lecido para que consiga submeter nações (...) Andarei à tua frente
e aplainarei os caminhos escarpados; destruirei portões de cobre e
partirei suas travas de ferro. Darei a ti tesouros escondidos, a rique-
za oculta em lugares secretos”.

Ambos os documentos dão testemunho da prática de respeito às insti-


tuições locais, reservada para as populações que não tivessem resistido
à conquista. Obviamente, não se pode deixar de perceber o elemento
propagandístico de atitudes dessa natureza, mas o ambiente que criam é
inegavelmente mais produtivo que o assírio.

O mais importante sucessor de Ciro foi Dario (521 - 486 AEC), um dos
maiores monarcas de todos os tempos. Nessa época, o império já era
a estrutura política mais extensa que o Velho Mundo conhecera, e as
tensões eram significativas, cabendo ao Xá desenvolver um conjunto de
reformas políticas e econômicas que tornaram possível a administração
de tão vastos territórios; estes foram divididos oficialmente em provín-
CAPÍTULO 3

cias, ou satrápias, cerca de 20 distritos governados por representantes


reais, com direito a cobrar impostos e outorgar leis, além de manter suas
próprias cortes e forças armadas. Contudo, para evitar que tais figuras
periféricas se tornassem excessivamente independentes, não só guarni-
ções imperiais eram mantidas localmente mas também funcionários e
espiões imperiais.

Essa estrutura agia localmente, estimulando o potencial econômico de


cada região, mas a ação metropolitana era claramente percebida, por
exemplo, em relação às estradas: já havia algumas delas desde a épo-
ca assíria, mas os persas investiram em caminhos que cruzavam países
inteiros, calçados e guarnecidos em trechos regulares, com delegacias.
Essas estruturas foram construídas para uso oficial, mas favoreceram em
muito a economia, permitindo a circulação mais rápida de pessoas e
mercadorias. Cultivos e animais domésticos foram introduzidos, e o sul
46 da Mesopotâmia viu crescer colheitas de arroz vindo da Índia, de onde
também foram trazidas as galinhas, que se tornaram ubíquas em todo o
Mediterrâneo.

O modelo imperial persa foi o coroamento do processo político que teve


lugar após a queda dos assírios, no qual o terror deixou de ser uma prá-
tica corriqueira da sujeição, dando lugar a certo respeito institucional efi-
ciente, que não abdicou da força militar, mas a guardou para momentos
específicos da conquista ou da repressão, não mais como forma de ocu-
pação. Esse modelo foi copiado por estruturas que se seguiram, como o
Indiano e o Macedônico, o qual, por sua vez, estabeleceu o padrão para
os romanos. Esse é, possivelmente, o maior legado dos persas.

FILMOGRAFIA

Filmes, os mais fidedignos, ao recriarem o passado, são sempre agentes


de construção de cultura histórica, fato claramente perceptível nas pro-
duções dos circuitos comerciais, geralmente dotadas de elenco estelar,
pesados investimentos econômicos, ostensiva reconstituição de época e
efeitos visuais impressionantes. Dessa forma, o cinema pode e deve ser
encarado como um objeto de pesquisa e reflexão pelo profissional de
história. Apresentaremos alguns títulos e comentaremos o início de um
catálogo cinematográfico sobre a Antiguidade Pré-Clássica.

É digno de nota que o Egito e as histórias bíblicas representam quase a


totalidade das produções que versam sobre a Antiguidade Pré-Clássica.
Ainda carecem de maior representatividade a Mesopotâmia, os fenícios
e o Império Persa.
CAPÍTULO 3
A Bíblia (The Bible: In the Beginning...).
Ano: 1966. País: EUA/Itália. Direção: John
Huston.

Uma das melhores (e raras) representa-


ções do livro do Gênesis, numa ordem
que vai da criação do mundo à história de
Abraão. Filme típico da escola norte-ame-
ricana e, portanto, esteticamente correto e
imageticamente impressionante. Destacam-se a história do Dilúvio,
a Torre de Babel e a destruição de Sodoma e Gomorra.

É sempre difícil trabalhar questões bíblicas em sala de aula, mas o


professor de Pré-Clássica não pode se furtar a fazê-lo.

Deuses do Egito (Gods of Egypt). Ano: 2016.


47
País: EUA/Austrália. Direção: Alex Proyas.

Uma das raras representações da mitologia


egípcia no cinema. Recentemente lançado, é
de fácil acesso tanto para o professor quanto
para os alunos. Há uma grande questão ét-
nica nesta produção: a quase totalidade dos
atores é branca, o que permite um excelente
ponto de discussão em sala de aula sobre et-
nicidade e representação. Embora não seja um grande filme, ele cer-
tamente marca a imaginação de quem o assiste e, por isso mesmo,
o professor terá boa oportunidade para debates.

Faraó (Faraon). Data: 1966. País: Polônia.


Direção: Jerzy Kawalerowicz.

A mais perfeita transposição para as telas


do Antigo Egito, um exemplo de produção
esmerada em cada detalhe. Os técnicos po-
loneses passaram meses no Museu do Cai-
ro para reproduzir das perucas aos carros
de guerra. O filme foi todo filmado no Egi-
to, nos templos e nos pântanos às margens
do Nilo. O filme se baseia no romance do polonês Bolesław Prus:
na decadência do Novo Império egípcio, o faraó e os sacerdotes
disputam o poder. As figuras são fictícias, mas o contexto é preciso,
da decadência do império egípcio.
CAPÍTULO 3

Noé (Noah). Ano: 2014. País: EUA. Dire-


ção: Darren Aronofsky.

Mais uma transposição de histórias bíblicas


para o cinema, e uma boa oportunidade
para comparar com A Bíblia: enquanto este
é uma narrativa bem tradicional, Noé é uma
interessante subversão não só da persona-
gem bíblica mas também da memória que
o Ocidente vem construindo dele. É um fil-
me que traz várias referências a figuras bí-
blicas (os anjos de quatro asas, os vigilantes, Tubalcaim, a arca), mas
todos retratados de uma forma muito distante do tradicional – até os
animais que embarcam na arca são diferentes. Por tudo isso, é uma
oportunidade excelente para trabalhar memória e história.

48 O egípcio (The egyptian). Ano: 1954. País:


EUA. Direção: Michael Curtiz.

Este filme é baseado no romance homôni-


mo do escritor finlandês Mika Waltari, que
construiu seu texto referindo-se à História
de Sinuê, um texto do Médio Império. O
romance é um clássico, mas o filme é ex-
tremamente datado. É, em verdade, a adap-
tação do visual típico dos filmes romanos
transposto para as areias egípcias. Ainda
assim, é uma das raras representações do
Antigo Egito no cinema, e um ponto de discussão e debate em sala
de aula.

SITES

Irrigation Museum. http://www.irrigationmuseum.org/exhibit2.aspx


Leitorado Antiguo. https://www.facebook.com/leitorado.antiguo/
BIBLIOGRAFIA BÁSICA

CAPÍTULO 3
Documentos:

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• BOUZON, Emanuel. Uma coleção de direito babilônico pré-ham-


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CAPÍTULO 3

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50
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