Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Menu
Resumo: A intenção do artigo é basicamente relatar a experiência de um grupo vocal amador na utilização de um software
de transmissão em tempo real de som e imagem para a realização de ensaios a distância, destacando as possibilidades e
limitações no uso da citada ferramenta para tal finalidade. O trabalho é desenvolvido sob uma perspectiva interdisciplinar,
analisando o caso descrito quanto à organização do ensaio coral a distância e seu potencial educativo-musical. As conclusões
apontam a possibilidade de uso dessa forma de ensaio em complementação aos ensaios presenciais.
Palavras-chave: educação a distância (EaD), ensaio coral a distância (ECaD), canto coral, educação musical.
Distance choral rehearsal or tele-rehearsal: a new form of work organization and a new pedagogical tool for choral
singing?
Abstract: The intent of the paper is basically to describe an experience of an amateur vocal group in the use of a software
of real-time transmission of sound and video for the development of distance rehearsals, detaching the possibilities and
constraints of using this tool for this end. The work is developed under a interdisciplinary view, by analyzing the described
case concerning organization of distance choral rehearsal and its music educative potential. The conclusions point out that
this form of rehearsal can be used as complementary to the face-to-face rehearsals.
Keywords: distance learning, distance choral rehearsal, choral singing, music education.
1. Introdução
O grupo vocal amador, em que quase todos os cantores não tem conhecimento de leitura musical,
é composto hoje por 9 (nove) cantores, que atuam profissionalmente em diversas áreas, principalmente em
instituições de ensino básico e superior de São Carlos e também de Araraquara, cidade próxima também no
interior do estado de São Paulo. A regente e um dos cantores, entretanto, residem em São Paulo, capital, a 230
km de São Carlos, onde os ensaios são realizados na casa de uma cantora do Madrigal. Dada a disponibilidade
de todos os membros e a distância que implica a locomoção da regente, o grupo realiza basicamente dois
ensaios gerais mensais presenciais (com duração total de aproximadamente seis horas) e eventuais ensaios
esporádicos (gerais ou de naipe), conduzidos pela assistente do grupo. Para sanar a dificuldade de trabalho
do grupo diante de tão reduzida carga horária de ensaios, buscou-se inicialmente a alternativa de a regente
realizar gravações digitais das vozes referentes a cada naipe e transmitir os arquivos de áudio aos cantores,
para estes estudarem suas vozes individualmente, por meio de computador pessoal, aparelhos de som ou
I-Pod’s. Essa estratégia tecnológica tem auxiliado o trabalho do grupo e representa a substituição da prática
comum em coros amadores que era a gravação em fitas cassetes, pelos coralistas, do áudio referente a suas
vozes nos ensaios. De certa forma, as gravações para uso pessoal permitem aos cantores “gerenciar seu próprio
aprendizado e o ritmo [deste]” (TARY et al., 2006, p. 319).
Quanto à questão da divulgação do coro via Internet, uma inovação considerável, tal relato
exemplifica o fenômeno chamado de “glocalidade” (glocality) (cf. FUCCI AMATO; AMATO NETO;
ESCRIVÃO FILHO, 2010). Nas palavras de Porter, um mundo glocal “incorpora uma perspectiva global
com ação local, e isso é viabilizado pela Internet, que é usada como uma ferramenta de informação, troca
de diálogo e organização” (PORTER, 2001, p. 148). Quanto à experiência do Madrigal InCanto de ensaios
via Skype, objeto principal de relato deste artigo, esta traz algumas oportunidades e algumas limitações no
campo do ensaio coral a distância (ECaD). São análises dessas duas dimensões que o quadro a seguir pretende
explicitar.
4. Conclusão
Diversas são as estratégias que podem ser utilizadas em um ensaio coral, além das técnicas
convencionalmente adotadas: seminários, projeção de vídeos de outros grupos vocais ou do próprio coro,
composições temáticas, etc. (FUCCI AMATO, 2006; 2007a; 2007b). Os recursos digitais a gravações para
audição e estudo individuais e os ensaios via softwares de comunicação instantânea com áudio e vídeo somam-
se a essas ferramentas para proporcionar uma aceleração no desenvolvimento musical do coro em relação ao
que seria obtido se apenas se desenvolvessem os ensaios presenciais (com limitações de carga horária maiores
ou menores, principalmente em grupos amadores, nos quais os cantores dedicam-se a outras atividades).
Dadas, porém, as limitações de precisão e qualidade de áudio e a diminuição da capacidade de percepção
e ação do(a) regente, não se pode prever que o tele-ensaio tenha possibilidade, nas condições tecnológicas
atualmente disponíveis ao usuário comum dos meios eletrônicos, de substituir os ensaios presenciais. Como
ferramenta complementar e secundária a estes, entretanto, pode ser efetiva, aumentando a frequência de
interações entre os cantores e de estudos coletivos (em ensaios, paralelos aos estudos individuais). A precisão
técnica de percepção e correção de falhas e a maior segurança dos cantores (consequência do maior controle
da regente sobre o ensaio) são, entretanto, virtudes do ensaio presencial.
Referências
DE MASI, Domenico. Criatividade e grupos criativos. Tradução de Léa Manzi e Yadyr Figueiredo. Rio de
Janeiro: Sextante, 2003.
FLEURY, Afonso. O que é engenharia de produção. In: BATALHA, Mário Otávio (Org.). Introdução à
engenharia de produção. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. pp. 1-10.
FUCCI AMATO, Rita de Cássia. Uma investigação sobre práticas de ensino de fisiologia da voz e regência
coral. ICTUS, Salvador, n. 7, p. 95-112, 2006.
_____. O canto coral como prática sócio-cultural e educativo-musical. Opus: periódico da Associação Nacional
de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM), Goiânia, v. 13, n. 1, pp. 75-96, 2007a. Disponível em:
<http://www.anppom.com.br/opus/opus13/07/07-Amato.pdf>. Acesso em 28 maio 2010.
_____. Canto coral, educação musical e performance na universidade: o caso do IA-UNESP. In: ENCONTRO
ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL (ABEM), 16./ CONGRESSO
REGIONAL DA INTERNATIONAL SOCIETY FOR MUSIC EDUCATION (ISME) NA AMÉRICA
LATINA, 1., 2007, Campo Grande. Anais – Educação musical na América Latina: concepções, funções e
ações. Campo Grande: Editora UFMS/ ABEM/ ISME, 2007b. pp. 01-12.
_____.; AMATO NETO, João; ESCRIVÃO FILHO, Edmundo. Cultural services and operations management:
some epistemological foundations and a literature overview. In: INTERNATIONAL ANNUAL EUROPEAN
OPERATIONS MANAGEMENT ASSOCIATION (EUROMA) CONFERENCE, 17., 2010, Porto.
Proceedings: Managing Operations in Service Economies. Porto: EurOMA, 2010. pp. 1-10.
HALL, Richard H. Organizações: estruturas, processos e resultados. São Paulo: Prentice Hall, 2004.
HEITOR VILLA-LOBOS WEBSITE. Past Front Page – December 2009. Disponível em: <http://www.
villalobos.ca/node/3048>. Acesso em 27 dez. 2009.
LOPES, Roseli Esquerdo. As Mídias e os Meios Eletrônicos na Educação. Disponível em: <http://www.lps.
usp.br/lps/arquivos/conteudo/grad/dwnld/MidiasEMeiosEletronicos.pdf>. Acesso em 10 nov. 2004.
MADRIGAL INCANTO. Madrigal InCanto, grupo vocal a cappella. Disponível em: <http://madrigalincanto.
blogspot.com/>. Acesso em 27 maio 2010.
MAXIMIANO, Antonio Cesar Amaru. Introdução à administração. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2006.
SOUZA, Cássia. Interatividade, construtivismo e educação musical a distância. Ictus, Salvador, v. 2, pp. 69-79,
2000.
TARY, Wallace; GRINNEL, Lynn; CAREY, Lou; CAREY, James. Maximizing learning from rehearsal
activity in Web-based distance learning. Journal of Interactive Learning Research, v. 17, n. 3, pp. 319-327,
2006.