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KAHASHI

f o t o s TATEWAKI NIO
A COR DO SABOR
a c u l i n á r i a a f e t i v a de Shin Koike

JO TAKAHA5HI
f o t o s T A T Ê W A K I NIO

MELHDR/llVIErMaS
SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS 6

PREFÁCIO 9

GASTRONOMIA É ARTE? 11

A arte do sabor 13

Cozinha e t r a d i ç ã o 17

Osechi ryôri Z2

Culinária, diplomacia, c i ê n c i a s e ecologia 24

C o n s o l i d a ç ã o de u m a cultura alimentar 45

Culinária: Uma arte integrada 55

Níguirizustii no m o r i a w a s e 57

Palavras-chave na culinária j a p o n e s a 61

OS MANTRAS DO SABOR 75

Em busca do sabor subliminar 77

Filho de peixeiro 89

Al, o c o m e ç o de t u d o 99

A fase á u r e a do A i z o m ê 104

Todo o universo vibra e m A u m 127

DOIS SAMURAIS DO CORTE 133

O SABOR DO SOM 145

ENTRE RECEITAS E RECIPIENTES 155

UMA E X P E D I Ç Ã O G A S T R O N Ó M I C A 167

Em busca dos sabores perdidos 168

O dia Eatrip 179

Sexta-feira: A chegada 181

Gniguiri: O c o m f o r t f o o d do J a p ã o 187

S á b a d o : O dia f l u t u a n t e 191

D o m i n g o de luz 201

RECEITAS 209
AGRADECIMENTOS
Cozinhar é um ato de amor. O ingrediente universal, que não deve faltar em
nenhuma receita, é o afeto. De todas as artes, a culinária é, certamente, a
expressão mais amorosa e aquela que mais aproxima o artista e o apreciador
de forma Intensa e completa, convocando todos os sentidos do nosso corpo.

Por isso, a nossa reverência, em primeiro lugar, ao chef Shin Koike. Pela sua
cozinha criativa e cheia de surpresas, que encanta paladares e olhares. Pela
densidade de seus conceitos e filosofia que aplica diariamente na preparação
de seus pratos. Seu ato é um caldo de afeto, e sua paciência em abrir seu
mundo para a realização deste livro, um ato de generosidade quase intangível.

O olhar sensível, silencioso e concentrado do fotógrafo Tatewaki Nio possi-


bilitou o registro visual deste mundo de Shin Koike, muitas vezes oculto nas
sutilezas de sua cozinha. A cumplicidade dedicada a este livro extrapolou a
dimensão dos pratos, focando o universo mais íntimo do artista Shin Koike. Era
o nosso projeto tomando forma em cores e sombras que exalam delicados e
profundos aromas.

Minha mais sincera gratidão ao editor Breno Lerner, pelo acolhimento ao


projeto e pelo seu atento e sensível olhar também como estudioso e amante
da cultura gastronómica, A Clarice Lima Fabricanti, responsável editorial, que
com orientações precisas, sempre afetuosas, ajudou a colocar os talheres
e pratos nos devidos lugares no momento desta degustação, À equipe da
Editora Melhoramentos, que acompanhou cada etapa deste processo, para
que não faltasse nenhum ingrediente. A Erika Kamogawa, pelo book design
primoroso e o tempero visual que tornou esta nossa aventura ainda mais
saborosa. A Liliana Granja de Morais e Sofia Nanka Kamatani, pelo trabalho de
back stage e checagem de mantimentos.

Aos patrocinadores, que acreditaram neste projeto, como uma forma de


difundir esse amor através dos paladares: Sr. Kazuya Mori, da Kikkoman do
Brasil, interessado em difundir os verdadeiros sabores da cultura gastronómica
japonesa; Sr, Shigeo Yamakav\/a, diretor-presidente da Yamaha do Brasil,
grande entusiasta da culinária de Shin Koike; à Fundação Kunito Miyasaka,
sempre atenta aos projetos que integram o Brasil e o Japão. Aos colaboradores
anónimos, que viabilizaram este projeto de maneira sutil, mas sempre presente.
Meu profundo agradecimento a Dirce, minlia esposa e parceira de todos os pro-
jetos de vida e que muniu esta iniciativa de entusiasmo e perspectivas claras. Às
minhas filhas, Mika e Nina, que, cada uma com sua arte, ensinaram-me novos
olhares, o que me permitiu, na prática, descobrir novas sensibilidades. E não pode-
ria deixar de agradecer a todas as cachorras de nossas vidas - Pipoca, Angel, Mel,
Lola, Teca, Nala, que partiu durante a escrita das últimas páginas, e a recém-che-
gada Bella - , para as quais preparamos, todos os dias, refeições com muito afeto:
ossinhos de galinha e legumes tenros colhidos na chácara e cozidos num rico cal-
do, em retribuição ao amor incondicional que elas nos manifestam. Todos unidos
pelos momentos de prazer que uma comida feita com amor pode proporcionar.

Este é, pois, um convite para compartilharmos este universo, permeado de sabo-


res e saberes e temperado com muito amor.

Jo Takahashi, inverno de 2012


PREFÁCIO
O aparente paradoxo do título deste livro é revelado ao leitor, que provavel-
mente, como eu, vai lê-lo "de enfiada" do começo ao fim, com poucas paradas
e rápidas reflexões.

Jo Takahashi, com seu enorme conhecimento da cultura e das tradições japo-


nesas, desafia nossos cinco sentidos com seu texto sobre a fascinante figura
de Shin Koike e sua arte.

Felizmente, cada vez mais chefs v ê m descobrindo nos últimos tempos o que
Koike demonstra e Jo descreve de form.a categórica: o sabor tem cor, tem
aroma e tem textura. E ninguém melhor do que os japoneses e sua culinária
para nos revelar isso.

Afirma Jo que a tríade ten-chi-jin (céu-terra-homem), que rege a estética da


arte tradicional japonesa e, por consequência, a estética da sua cozinha, mos-
tra-nos como o céu envolve a terra, que produz os insumos, que o homem
transforma. Ao transformá-los, agrega-lhes a sua arte, o que destaca os artis-
tas dos demais mortais.

Shin Koike é um desses artistas, que as mazelas do destino colocaram no


Brasil. Não satisfeito com o roteiro que se configurava à sua frente, resolveu
modificá-lo, estabelecendo-se no Brasil. Seu fascínio pelos ingredientes locais
só é superado por sua estética impecável e pela raríssima combinação de
técnicas ancestrais com ingredientes atuais, o que resulta em sabor com cor,
textura e aroma.

A leitura de A Cor do Sabor é um passeio pela cultura japonesa e pelas, por


um lado complexa e por outro extremamente simples, criatividade e técnicas
de Koike, que vai fascinar o leitor, cativar o estudioso e desafiar o cozinheiro.

Como o umami - o propalado quinto gosto descrito pelos japoneses no


início do século XX - , A Cor do Sabor, com certeza, "despertará a sensação do
delicioso" em todos aqueles que o lerem.

Breno Lerner
GASTRONOMIA É ARTE?
f
A ARTE DO SABOR
Se as artes visuais introduzem pelo olhar os paradigmas que com-
põem a estética das formas; se a música insinua nas sensações
auditivas os acordes da expressão acústica e dela se apreendem
as notas e melodias que encantam nossas almas; se a literatura
nos revela, através das letras, o mundo, exterior e interior, e é "uma
extensão da memória e da imaginação", como dizia o poeta Jorge
Luis Borges; e, se a culinária, através da elaboração dos insumos
apropriados, é capaz de alimentar corpo, alma e intelecto através
das experiências gustativas, então, por dedução, podemos qualifi-
car a gastronomia como arte.

Não é difícil entender como arte a proposta da culinária criativa do


chef Shin Koike. A sua ousadia transcende até as regras da tradição
gastronómica japonesa, introduzindo elementos que normalmente
não visitariam a mesa servida com uma refeição clássica. Mas Shin
Koike não está preocupado com as regras e, sim, com a reação que
ele poderá provocar no comensal. Para ele, quanto mais inusitado,
melhor. Uma ousadia a que os artistas frequentemente se lançam.
Ele não está sozinho nessa tendência. Com o status cultural que a gas-
tronomia vem adquirindo nas três últimas décadas, a mídia e, mais espe-
cificamente, o mundo das artes, começam a reconhecer na gastronomia
um processo de criação que pode ser mesmo bastante semelhante à
expressão artística.

Nesse panorama, 1980 é um marco na linha do tempo. É o ano em que o


hoje consagrado chef espanhol Ferran Adrià passou de simples lavador
de pratos a cozinheiro e, a partir daí, a explorar os caminhos da cozinha
molecular, ao lado de Heston Blumenthal, introduzindo novas tecnolo-
gias na culinária e provocando assim experiências de sabores e texturas
gustativas jamais desbravadas.

O grande sinal de que os chefs podem mesmo estar adquirindo o


status de artista, deixando de ser simplesmente alquimistas de sabores
ou feiticeiros da cozinha, foi dado em 2007, quando, na prestigiada
Documenta de Kassel, na Alemanha, ele, Ferran Adrià, que hoje atende
na Êl Bulli Foundation, na Catalunha, Espanha, foi aclamado como
artista no mais importante evento de arte contemporânea do planeta.
O reconhecimento, pela crítica de arte internacional, de que a arte
contemporânea mais uma vez conquista novas plataformas de açào era
evidente. Quando toda a tendência mundial tentava explorar os novos
territórios das artes na cidade, em forma de arte pública, ou na arte
eletrònica, e em ambas o sentido da interatividade estava cada vez mais
presente, a Documenta foi caçar novos valores na cozinha, um lugar tão
improvável quanto não usual para a prática, peio menos ortodoxa, da
criação artística.

Tão revolucionária quanto a culinária de Adrià foi esta visão de que a


arte pode mesmo estar em lugares inusitados, não no horizonte do
conhecimento, mas inserida em nosso cotidiano, em nosso tato, olfato e
paladar, e configurada no formato de uma arte efémera, cuja apreciação
SG mede pelo tempo necessário para saciar a fome.
No entanto, a realidade que se nota e outra. Além de falta de conhecimen-
to técnico e do correto manuseio dos utensílios, o iovem pretendente
3 cozinheirc as vezes se lança no mercado sem a devida nocao
das tradições e, muitas vezes, da técnica. O conhecimento dos saberes
essenciais da cozinha é a única maneira para se permitir criar uma culiná-
ria autoral, e o caminho até lá é longo e, na maioria das vezes, tedioso,
pois exioe uma prática constante.

Para alguns chefs, porém, é um erro pensar em gastronomia como arte.


Além de sua efemeridade, pode-se dizer muito pouco num prato de co-
mida, justificam-se. Outra limitação fundamental é que a gastronomia
é uma relação interpessoal entre o cozinheiro e o comensal e, mesmo
que seja num banquete para centenas de pessoas, há uma limitação im-

posta pela loqistica e pelo-, lie j u seia, seiía cuesiionavei ro-


tular como arte um ritual que tem receptores exclusivos e previamente
determinados.

No Japão, no entanto, a efemeridade já é um padrão estético e quase


uma condição para algo se tornar arte. Se não, a transformação dos jardins
ianoneses de acordo com as mutações das estacões a desqualificaria como
arte. O que dizer, então, do ikebana, o deli amo floral que dura c
tempo médio de sobrevivência das flores separadas da planta original? I
se a efemeridade é incorporada como linguagem também na poesia, n<
literatura, na música e no cinema, poi a culinária:
f

Investir e m requinte, sutileza e poesia e potencializar o apelo visual através


de composições plásticas no prato sempre constituíram u m assunto que
atraiu os chefs de cozinha dos restaurantes mais tradicionais. Para esses
ctiefs, a gastronomia, e x a t a m e n t e por ser e f é m e r a , proporciona a plena
interaçào das intenções do criador, o chef, com o comensal. É aquele
m o m e n t o mágico e de surpresa que vai se descortinando na sequência
dos pratos de uma típica refeição kaiseki, constituindo u m a narrativa visual
e gustativa, tão apropriada quanto a leitura de u m romance ou a audição
de u m concerto, com direito a m o v i m e n t o s , ritmos e apoteoses. E, ainda
no que diz respeito à destinação limitada da comida, isso t a m b é m não
seria problema na estética japonesa. O ritual do chá, o chanoyu, muitas
vezes é praticado e m cubículos de menos de nove metros quadrados,

onde cabem tn latro pessoas. E n e m oor isso o chanov

ser consiOGíano arte, Deio iii •tiui 1,1 fie artes tradicionais, assim
como a caligrafia shodò, a pintura sumié ou a composição de poemas
tanka. O charme, no caso do chá, está e x a t a m e n t e no processo de apreciar
a evanescência do t e m p o , que se completa mais ainda se houver u m
e n t o r n o de natureza trabalhada, como u m jardim japonês, o microcosmo
mais adequado para a ambientação dessa prática.

20
OSECHI RYÔRI
Um banquete para começar o ano

0 Japão não tem tradição cristã. As comemorações d e Natal são mer(Ds pretextos
comerciais, promovidos por alguns restaurantes para c ferecer, digamos, um evento
exótico. F no Ano Novo que o Japão capricha, E, no quesitc3 culinária, destacc3 - s e 0 osechi
ryòri. Como o Ano-Novo e feriado, quase todos os rest aurantes fecham suas portas.
0 osectii ryôri é essencialmente uma culinária doméstic 3, preparada trad cionalmentG
pelas donas de casa, para oferecer às visitas de parentes

0 chef Sfiin Koike preparou um típico osechii ryòri pc ra esta publicaç 30, 0 prato,
entretanto, não está disponível em seu cardápiotradiciorlal.

0 osechi lyóri tem uma conotação religiosa, de oferenda3 aos deuses, des ejando uma
colheita farta, paz e ttaíiquilidade para a família e prosperic adeaosfilhosedeascendentes.

Todos os alimentos que compõem o osechi ryôri são ac ondicionados em finas caixas
laqueadas, chamadas júbako (caixas empilhadas). São trê B caixas justapost as, cheias de
iguarias.

As caixas, como ficam à disposição das visitas durant e alguns dias, não recebem
ingredientes crus.

Na primeira caixa, o Ichi-no-Jú, vão pequenos aperitivos, que são saboread os com uma
dose de sakè. Os mais comuns são o kazunoko (ovas de arenque, que aqc i receberam
folhas de ouro, para dar uma conotação de celebração , 0 kuromame (s oja preta), o
kamaboko (pasta de peixe, semelhante ao gefiltefish], a omelete doce. os tazukuris
(filhotes de peixe caramelizado com açúcar, shoyu e mirir

A segunda caixa, o Ni-no-Jú, recebe as iguarias grelhada s. Peixe pargo e c amarão sáo
as estrelas dessa caixa. No entanto, o chef Shin Koike se :)ermitiu uma recr ação, já que
este osechi ryôri foi feito no Brasil. Ele introduziu um file^ de pirarucu grei "lado e finas
fatias de picanha, enrolando aspargos ao molho de miss ô com maracujá, ntroduzindo
assim elementos da culinária brasileira numa tradição tip camente japonês 3.

Para a terceira caixa, o 5an-no-Jú, são reservados os leg umes cozidos, err caldo dashi
e shoyu. Entram kabotcha (abóbora japonesa), inhame. cenoura, enorme D cogumelos
shiitake, gobô (bardana), renkon (raiz d e lótus), konnyakij (uma gelatina ti -me feita de
batata) e gengibre.

1
CULINÁRIA, DIPLOMACIA, CIÊNCIAS E ECOLOGIA
No Japáo, a cerimónia do chá tem também um caráter receptivo. Muitas autoridades
estrangeiras, especialmente as que visitam o país em missões diplomáticas, s ã o
convidadas a experimentar o chanoyu. Por essa peculiaridade, o chá tem também um
forte apelo de promoção da diplomacia e do conhecimento de cultura nipônica. Neste
quesito, a gastronomia também cumpre sua finalidade diplomática, pois é impensável
uma reunião de chanceleres sem um jantar de confraternização, Kazuaki Obe, cônsul-
-geral do Japão em São Paulo até junho de 2012, fechou uma parceria com o premiado
chef Shin Koike, praticante de uma nova culinária japonesa que une elementos de
outras identidades, como a francesa, adota ingredientes brasileiros, como o pirarucu,
e exercita uma culinária japonesa de precisão com toques autorais. O chef foi sempre
convocado para preparar os banquetes na residência oficial do cônsul para as
personalidades convidadas. Essas ocasiões pedem um protocolo de qualidade que
reúna o prazer da boa comida com o discurso das identidades, bem ao gosto da
diplomacia. E o chef Shin Koike é consciente de seu papel, a serviço da imagem de
uma nação.

4
Segundo o teórico do siow food, o italiano Carlo Petrini, a gastronomia é uma ciência
aglutinadora de outras ciências, como a química (especialmente na culinária molecular
isso se torna evidente} e a física, assim como a biologia, a ecologia, a sociologia, a
economia e a psicologia. E por que não incluir a geografia e a política? E, extrapolando
todas as ciências e talvez até ingressando no território da filosofia, por que não entender
a gastronomia como uma ciência da felicidade? Afinal, comemos desde que nascemos.
O leite materno é o primeiro banquete de nossas vidas e já vem carregado de umami,
o quinto sabor, o gosto da densidade, O segundo é a comida da mãe, e desta ninguém
esquece. Por trás das aventuras gastronómicas, há uma busca incessante pela felicidade.
A filosofia do slow food segue os caminhos da ecogastronomia, unindo o prazer com
uma alimentação responsável, que está atenta à economia do planeta, à biodiversidade
e à ética com a natureza.

Além de ter potencial para pertencer às artes, exercendo a excelência do fazer artesanal
e poder ser uma ferramenta para uso diplomático, a gastronomia ainda ensaia um
namoro com a ciência, propondo a culinária molecular de laboratório. Atualmente,
mais uma vocação da gastronomia está sendo descoberta, e esta vem dos campos da
ecologia.
A despeito de toda essa tendência de ampliar o campo de ação da gastronomia, é
preciso retornar mais uma vez aos conceitos da culinária japonesa e perceber que todas
essas extensões da culinária já estavam nitidamente desenhadas no Japão tradicional.

Ten-chi-jin ( ^ ' í Ê - A ) , ou céu-terra-homem, é a tríade que rege a estética japonesa,


e nela se inclui a culinária. O céu envolve e contém todos os insumos. A terra os
produz e transforma. Produto e testemunho do céu e da terra, o homem é formado
pelas mesmas substâncias dos insumos. Assim, a vida é resultante das mudanças e
transformações que regem o ciclo da natureza, É uma fisiologia cósmica, irrefutável,
inexorável. Por isso, para os japoneses, o sentido e a coerência não são originados do
espírito humano, mas da ordem do microcosmo.

Essa ordem da natureza é explicada também pelo taoismo, que diz que o homem só
consegue se organizar de forma correta se integrado à natureza, pelo caminho do Tao.
Os peregrinos taoistas se retiravam da sociedade para poder contemplar a natureza e
assim compreendê-la através da intuição e da observação. Esses conceitos chineses
moldaram a filosofia zen-budista, e hoje percebemos que os conceitos que regem a
ecologia estão muito sintonizados com esses pensamentos orientais.
C O N S O L I D A Ç Ã O DE U M A C U L T U R A A U M E N T A R
Êm todas as culturas, o sistema alimentar constitui a plataforma
de sua existência. É o mesmo sistema que rege a preservação das
espécies animais. Quando uma etapa do ciclo alimentar é quebrada,
há o risco de uma espécie desaparecer ou provocar migrações, de-
sestruturando todo o ecossistema. A garantia do sistema alimentar
das espécies constitui a base e a condição para a existência delas.
Quando os hominídeos da espécie homo sapiens se dispersaram
pela Terra, tentaram encontrar alimentos dentro do seu sistema
ecológico e geográfico. Aqueles que não conseguiram, tentaram
migrações e diásporas.
A fase primitiva da humanidade, calcada na colheita de raízes e
pequenos animais, deu lugar, há mais de 10 mil anos, ao controle
rudimentar de sua cadeia alimentar com a adoçáo da agricultura e
da pecuária.
Os povos que se assentaram em terras férteis desenvolveram a
agricultura, especialmente de cereais, e basearam sua existência
no trigo e no arroz. Já os povos que vagavam pelo norte da Eurásia
aprenderam a domar carneiros e renas, criando a pecuária nómade
e extraindo dela a carne para a sua sobrevivência.

44 I 45
A ocupação do arquipélago japonês aconteceu por volta de 14 mil anos antes de Cristo, no
final da quarta glaciação. O povo j ò m o n descendia da tradição coletora, mas foi surpreen-
dido com a riqueza das terras japonesas. Com a abundância da água e dos produtos m a r i -
nhos, supriu as necessidades de proteínas. Já no final da era Jômon, teve início o cultivo do
arroz, que passou a integrar a dieta j u n t o com as avelas. Foi então que começou a surgir a
base f u n d a m e n t a l da dieta dos japoneses, que não m u d o u muito no decorrer dos milénios
seguintes: arroz, produtos do mar e grãos essenciais para a obtenção das proteínas. Dos
produtos marinhos, destacavam-se a sardinha da costa marítima e o bagre dos rios. Já
nessa era existem registros de produtos feitos à base de soja.

Mas a dieta japonesa se consolidou m e s m o na era A z u c h i - M o m o y a m a , entre 1573 e 1503.


Nessa época, praticamente todos os pratos da culinária japonesa e s t a v a m criados e pro-
vados. Surgiram t a m b é m as regras de etiqueta típicas da culinária japonesa. A introdução
da cultura ocidental da era fvleiji encontra a dieta japonesa consolidada desde essa época.

Toda cultura é sustentada por u m repertório de sabores que c o m p õ e m o que se pode


chamar de culinária nacional, e m oposição à culinária internacional. Essa culinária agrega
elementos da sabedoria secular e popular à obtenção e ao preparo dos insumos e, por
estar diretamente ligada à construção do prazer, t e m u m inerente processo de criação que
e m muito se assemelha à construção artística. Além de inspirar os valores mais subjetivos
da cultura, ela é t a m b é m construtora de identidade.
strução do sabor é composta da doçura, do salgado, da acidez, do amargor e do
G Cada cultura tem sua maneira própria de obter esses sabores essenciais de fontes
u meio ambiente e transformá-los em condimentos, criando o sabor nacional. A
nação desses condimentos, harmonizados pela sabedoria do tempo, é que cria a
dade do sabor cultural.

05 japoneses, os ingredientes básicos que identificam a sua culinária provêm da


D shoyu e o missô. Evidentemente, existem outros ingredientes que se somam a
ilém de muitos outros produtos essenciais, mas nada é mais

mental do nue o misso e

05 nistoricos anoi isso adquiriram a forma e consistência


na era Azuchi-Momoyama, Foi nessa época que se consolidou o padrão do arroz
prato principal, acompanhado de missoshiru (sopa de missô), dos peixes e dos
. do mar. O missô e o shoyu entraram como condimentos essenciais no hábito ali-
mentar japonês. Mas o que havia de temperos, antes dessa época? Havia, desde a era
um exemplar rudimentar do shoyu, chamado hishio, que viria a ser o protótipo

lum do shovu e do miss(


0 h i s h i o e r a o b t i d o d a f e r m e n t a ç ã o rl a t u r a l d e a l i m e n t o s c u r t i d o s

em 5aL E r a m e m p r e g a d o s o p e i x e , a c a r n e , v e r d u r a s e c e r e a i s , e

cada u m deles produzia u m a f e r m e? n t a ç à o própria, c o m gostos

diferenciados.

Há m e n ç õ e s s o b r e o Inishio n a l i t e r a t ij r a c h i n e s a clássica, e s p e c i a l -

m e n t e e m Zhòufi - Rituais dos Zhou ( ji í L ) , escrito e n t r e os s é c u l o s

IV G III a.C, 0 q u e c o m p r o v a g u e o s chitn e s G S J á u s a v a m e s s e t e m p e -

ro d e s d e a q u e l e p e r í o d o , e m e s p e c i a l 0 5 t e m p e r o s à b a s e d e p e i x e .

q u e s e a l a s t r o u p e l o S u d e s t e Asiático1 , o n d e se p o p u l a r i z o u c o m o

n o m e d e n a m pia, e g u e dá o s a b o r característico d a culinária d o

V i e t n á , d a Tailândia e m e s m o d a Chins}, n a r e g i ã o a d j a c e n t e a e s s e s

países.

No c a s o d o J a p ã o , há r e g i s t r o s d e q u e avelãs eram empregadas

p a r a a p r o d u ç ã o d e s s e c o n d i m e n t o (J G s d e a e r a J ò m o n . í v l a s s o -

m e n t e n a e r a Y a m a t o ( 6 1 6 - 8 9 4 ) é g u f? a p r o d u ç ã o e m l a r g a e s c a l a

c o m e ç o u a s e esboçar. No p e r í o d o \^ara (710-794) já s e i n s t a l o u

uma r e p a r t i ç ã o pública p a r a a d m i n i s t r a r a p r o d u ç ã o d o h i s h i o , e

n a e r a H e i a n (794-1185), no a p o g e u c u l t u r a l , 0 h i s h i o p a s s o u a s e r

comercializado de leste a oeste. A 3téria-prima e r a o karabishio,

p r o v e n i e n t e da China e produzido, esse n c i a l m e n t e , c o m soja e t r i g o .

Já 0 missô t e v e u m d e s e n v o í v i m e ri t o a partir do hishio. Além

de c o n d i m e n t o , e r a u s a d o p a r a m a ii t e r o s a l i m e n t o s p o r l o n g o

p e r í o d o e m c o n s e r v a . Já na era A z uc h i - M o m o y a m a , e r a c o m u m

0 emprego do missô c o m o c o n h e c ia m o s a g o r a , n o missoshiru,

mas e r a usado também em cozidos G grelhados, Tratava-SG

realmente de um i n g r e d i e n t e d e rrl u l t i u s o , portátil (Gfa usado

em a c a m p a m e n t o s de guerra). Os m o n g e s o utilizaram para

d e s e n v o l v e r o s h ô j i n r y ò r i , a culinária v e g e t a r i a n a z e n - b u d i s t a .

M a s foi n o x o g u n a t o Tokugav\/a (160:3-1868) g u e o m i s s ô ganhou

v a r i a ç õ e s d e tipo e g o s t o . Foi g u a n d 0 as d i f e r e n ç a s d e t e m p e r o s

r e g i o n a i s s e d e s t a c a r a m , e m e s m o hc3je 0 " m i s s ô d a t e r r a " a i n d a é

um p r o d u t o querido e venerado.

5'
o império da KikJcoman, que ainda preserva procedimentos de
fabricação adotados liá mais de 350 anos. Por isso, é o único
sf^oyu que tem autorização para ser servido na Casa Imperial. Uma
vez por ano, o excedente dessa produção é vendido no varejo,
mas é preciso encomendar com antecedência, e a fila de espera
é grande. Todos querem provar a iguaria que encanta a Família
Imperial há quatro séculos.

Temos uma boa notícia. O melhor shoyu começa a entrar no


mercado brasileiro, em razão do crescente interesse do público
gourmet. Mas não só. Os grandes chefs, como Shin Koike, fazem
questão de usar o shoyu elaborado de forma autêntica; não pela
marca ou por preciosismo, mas pela leveza e refinamento do
sabor exigidos em sua Criação.

S2 I 53
tl.

NIGUIRIZUSHI NO MORIAWASE
PALAVRAS-CHAVE NA CULINÁRIA JAPONESA

O Qoverno iaDones pleiteia a classificação, oel


nonesa como Hatrimonio L

Kahuki. o Nc
SHÔJiN RYÔRI (iflíif^íi)
A culinária shôjin, originariamente criada pelos monges no século
XIII, é basicamente vegetariana, portanto, não inclui peixes e frutos
do mar. Entram no cardápio somente os ingredientes da estação,
colhidos das matas: raízes, tubérculos, grãos, nozes e folhas, em
apresentações visuais requintadas. Hoje, o shôjin ryôri é preparado
com técnicas sofisticadas.

64 I 65
Às vésperas de completar sete anos, quando Shin ingressou na escola primária,
tinha início a Olimpíada de Tóquio, e m 1954, outro marco i m p o r t a n t e na história do
Japão m o d e r n o . Era a primeira Olimpíada e m solo asiático e marcava a reintegração
do Japão no cenário internacional após a derrota na Segunda Guerra Mundial.
A pira inaugural foi acesa por u m j o v e m atleta de d e z e n o v e anos, Yoshinori Sakai,
que nasceu e m Hiroshima, no exato dia da explosão da b o m b a atómica. Nada mais
simbólico para u m ritual de renascimento.

j aconteceu u m a das passagens mais misteriosas de sua vida. Certo conhecido (que
epois, s o u b e m o s , desapareceu do nada) fez a Shin uma proposta. Ele desejava
investir e m gastronomia no Brasil e pediu a Shin que fosse conhecer o país, para
•esquisar suas demandas, avaliar seu mercado potencial. O misterioso investidor lhe
•agou a passagem, as despesas e aiguns meses de trabalho. Foi o suficiente para
hin se encantar com o Brasil. Isso foi no início de 1990, uma fase conturbada da
•conomja brasileira, que ainda lutava para domar a inflação.

iin r e t o r n o u ao Japão com alouns resultados da nesc ao e n c o n t r o u o


I conhecido, linha sumido e ate hoje nao reapareceu na vida de Shin. O f a t o e

iG Shin fizera a l g u m a s boas a m i z a d e s e m São Paulo d u r a n t e sua pesquisa e não

Dor aoui de col

aura ntes c
' e m presa

le nertení

lorque me
i t e r e s s e dí
A Shin não agradava essa vizinhança. Não a vizinJ-ianca e Mas estar dentro de
um universo de diversidade, no qual nem sempre o importante seria a apreciação
da comida, e cuja frequência estaria no simples aplacamento da fome. Nos meses de
preparação de mudança, Shin começou a arquitetar a construção de um restaurante
seu, definitivo. Não mais um pequeno bistrô, para a1 ler nove ou cez comensais,
um lugar onde pudesse colocar em prática, de fato, a sua culinária de criação, com as
ousadias que as experimentações lhe permitiram consolidar.

No silêncio, como é de praxe aos japoneses quando se preparam para um pulo maior,
contou com a adesão de novos sócios, que lhe deram carta branca para compor um
ousado cardápio, em que o forte era o "menu confiance". O Al foi entregue a seu chef
assistente, Daiske Takao, que, por mais algum tempo, atendeu os clientes que tinham
ficado hipnotizados com o mantra do Al, enquanto Shin preparava o sequndo mantra.
A FASE ÁUREA DO AIZOMÊ
Estava tudo pronto para a inauguração do segundo
Koike. O Aizomê foi inaugurado no dia 3 de maio de 2C
o recado do seu autor foi dado no sistema proposto do cardápio, A cada dia, u m a nova
I combinação de pratos, u m m e n u confiance rotativo. Assim, o cliente assídua poderia vir
todos os dias da semana e dificilmente veria o m e s m o cardápio repetido. Esse m e n u
confiance, disponível e m sua plenitude nos jantares, recebeu uma versáo abreviada no
almoço, para refeições executivas mais rápidas, p o r é m diferenciadas. O que chama a
atenção nas criações do chef Shin no seu Aizomê são m e s m o os pratos com referências
da autêntica e tradicional culinária japonesa, mas reinventada, ora pelas influências
francesas adquiridas no Escoffier de Ginza, ora pela introdução de ingredientes b e m
brasileiros, como é o caso do t s u k e m o n o de ctiuchu, uma inesquecível conserva da
hortaliça-fruto tão característica de nossa terra, preparada e m salmoura com cachaça,
; outra bebida tipicamente brasileira, resultando, p o r é m , e m uma das mais marcantes
entradinhas do cardápio do Aizomê.
I

i Alguns pratos, que p o d e m ser pedidos à ia carte, impressionam pela complexidade do


sabor. O t e m p u r a de cogumelo Portobello, a pescada-branca à meunière ao molho de
; miiho-verde e o filé-mignon e m p a n a d o e recheado com foie gras são todos criações
i baseadas e m receitas típicas japonesas, com u m a releitura francesa ou introdução de
• elementos brasileiros.
Aizomé é uma técnica de tingimento. "Minha culinária é um tingimento. Os ingredien-
tes que vão cliegando a mim, eu os vou tingindo de acordo com a minha cor", filosofa
o chef Shin Koil<e, Sim, é uma filosofia e um conceito de criação. Uma pista para en-
tender os sabores desse lobo solitário da cozinha.
A excelência desse trabalho autoral foi reconhecida pela revista Veja, que anualmente
premia os melhores restaurantes da cidade de São Paulo, a grande capital gastronómica
do país. O Aizomé foi eleito o melhor restaurante japonês do ano 2009-2010 e coroou,
com incontestável reconhecimento, a trajetória de Shin Koike. Tratava-se, acima de
tudo, de um reconhecimento da critica e do jornalismo especializado na arte desse
chef que, munido de sua sólida bagagem e formação na culinária tradicional japonesa,
ousou experimentar os segredos da cozinha francesa e descobriu nos ingredientes
brasileiros uma nova fonte de texturas e sabores. Harmonizados com maestria,
em vez de se tornarem em uma enorme confusão, como muitas cozinhas fusion
derraparam, esses pratos elaborados por Shin Koike se transformaram em obras de
arte. Efémeras, por terem seu momento de permanência reduzido, mas eternas no
encantamento da memória.
Ê desta vez o foco vai para o saque, o líquido sagrado. Siiin introduz enn seus
conceitos de empreendinnento o Sakagura, a adega de saque. O local tem inspirações
nos izal<aya, os botecos que se espalfiam por todo o Japão, acolhedores pontos de
encontro, onde as pessoas podem tomar sua bebida acompanhada de petiscos em
pequenas porções, como as tapas espanholas.

Por isso o Sakagura Al é um estabelecimento que se divide em dois: um boteco des-


contraído e um espaço gastronómico intimista. O lado descontraído tem uma arquite-
tura de izakaya. No térreo, para acolher rapidamente os clientes que v ê m à procura de
um happy hour ou para fechar a noite com estilo. Já o espaço intimista fica no andar
inferior, como uma cave, com sushi bar, onde se pode degustar os melhores rótulos
de saque.

Propostas diferenciadas, para momentos diferenciados.

Aliando essas duas propostas, Shin Koike harmoniza sua culinária afetiva com a co-
zinha autoral num único lugar. Esse é o grande diferencial que se torna o desafio da
maturidade de Shin.
lijima bm matéria de cutelaria, a marca alemã Solingen e imbatível no mundo todo. As
facas japonesas também são excelentes, e sua técnica de produção vem de uma tradí(;ào
de mais de quatro séculos de história. Os artesãos de espadas, que foram proibidos de
fabricá-las no novo regime após a Restauração Meiji, tiveram que migrar para a confecção
de facas, mas sofreram imposições legais de controle de produção anual. Afinai, as facas
também são armas poderosas, e o governo limitou a sua produção para ter esse controle
de segurança. Só que, com essa imposição, os artesãos cuteleiros não puderam sobreviver.
Passaram então a produzir também tesouras. Eu diria que mais da metade das tesouras
japonesas são produzidas por esses artesãos que herdaram técnicas de cutelaria de
espadas. Mas tesouras e facas, em sua essência, têm conceitos de corte diferentes. Por
isso, essas tesouras japonesas não se alinham muito com a minha teoria de corte. Da
mesma forma, acredito que exista um universo de facas que eu não conheço. Outro dia,
fiquei sabendo que existem facas diferentes para o corte do sashimi, A faca de Kansai
(reqião de Osaka) é aquela chamada yanagiba, comprida e com ponta fina. Já a faca de
Kantô (região de Tóquio) é retangular, mais própria para descascar e cortar legumes.

Koike - Sim, a faca retangular é chamada de takohiki.

lijima - Pois é, eu acredito que os chefs querem possuir um arsenal de boas facas.

Koike - Quando resolvi fincar o pé no Brasil, eu me propus a não me apegar muito aos
velhos costumes. Isso não significava o abandono das tradições, mas é fato que não queria
icar me nreocuoando com o nue não exisi a foi a condição aue e
mesmo para viver no Brasil. Para operar uma cozinha, por exemplo, eu nao tinha condições
de oferecer a todos os jovens cozinheiros uma faca japonesa, que exige uma formação
muito específica para o seu manuseio. Meu desafio então passou a ser até onde podemos
chegar utilizando exclusivamente as facas disponíveis no mercado brasileiro. Já no meu
caso, nunca deixei de usar as facas com as quais sempre me identifiquei. Essa é a única
maneira que o meu corpo conhece de obter um resultado satisfatório.

lijima - Realmente, as facas são mesmo a alma do cozinheiro,

Koike - No caso da culinária japonesa, a precisão e a estética do corte são fundamentais,


e somente as facas japonesas podem proporcionar esse resultado. Num corte de
sashimi, a diferença na qualidade do corte é visível a olho nu, especialmente nos cantos.

A Taca laoonesa oe .e corte oreciso por causa a ;eu fio, chamado de kataba,
e é especialmente adequada para o bom acabamento do corte de peixes. Já as facas
ocidentais têm fio duplo, que deformam o corte.
a o u 'inoG

auodei 9ujie

U3
a p r e n d e r a f a z e r• C(: r t e •s e x u b e r a n t e s . Eu p r o c u r o s e m p r e m o s t r a r - l h e s q u e 0 c a m i n h10 d a

f o r m a ç ã o é u m a G' scoí a p a r a a v i d a i n t e i r a , q u e t r a n s c e! n d e o s m o d i s m o s . 1s s o e n v o I v e a

l i m p e z a . A h u m i ll d £ i d e d 0 c a b e l e i r G i r o d o l i m p a r o S G U .Sa l ã o . Eu v a r r o m e u q u a r t e i r ã 10 h á

d e z e s s G t e a n o s , t o d a s a s m a n h ã s . H o j e , a l g u n s v i z i n h o si s e i n t e g r a r a m a e s :Ba p r á t i c a . N ó s

t e m o s u m d o s q u a r t e i rc)e5 m a i s l i m p o s d a c i d a d e , i s s o é c o n s t r u i r u m a m b i e n t e .

Koike - L u t a m o s n.a cc)Z i n h a c o n t r a o e g o c e n t r i s m o , p o r q u G n o s s o t r a b a l h o é c o l e t i v 0 . Eu

v e n d o e m m e u r e s t a u r c i n t e , 0 A i z o m ê , o O m a k a s s è , u mla r e f e i ç ã o c o m p l e t a q u e é s e r v i d a

e m e t a p a s , u m rTIÉm u C(D n f i a n c e . S e u c o n t e ú d o m u d a t(Ddos o s d i a s , o q u e é b o m pc3ra 0

c l i e n t e a s s í d u o . 1Mc I S é t: o m t a m b é m p a r a o s c o z i n h e i r o s , p o i s e l e s n ã o t ê•m u m a ro t i n a

m o n ó t o n a e s ã o o{ 3rig;3Cj o s a p e n s a r s e m p r e n a t e m p e r a t u r a d o d i a , n a l u z ida e s t a c a 0 . Eu

s e m p r e f a ç o corr^ ci u e rr l e u s c o z i n h e i r o s s e s i n t a m r e s p o n s á v e i s , c a d a u m cl e l e s , p o r e s s e

p r o c e s s o c o l e t i v c) d e t r a i D a l h o .

lijima - C o m i s s o vc3cê Pi• o c u r a t r a n s m i t i r a e s s ê n c i a d a c: u l i n á r i a j a p o n e s a . . .

Koike - Isso G tc3 0 d i f í ci l q u a n t o t r a n s m i t i r u m a c u l t u r a . Eu e s p e r o q u e os l e i t o r e s cj e s t e

l i v r o q u e e s t á se?ncJ o F : r o d u z i d o a s s i m i l e m a l g u n s c o n c í5Ítos q u G r o s u l t a r a r r1 d e s s a rrl i n h a

i n t e r a ç ã o c o m a cui l t u r a b r a s i l e i r a . A f i n a l , e s c o l h i e s t e p.ais p a r a m o r r e r , Che g u e i a q u i c o m

t r i n t a e p o u c o s ei n c )s. E:rí3 u m t e r r i t ó r i o a b s o l u t a m e n t e n o v o p a r a m i m , 0 sig n i f i c a d o dl e s s a

e s c o l h i a e s t á e m m ostt a r 0 q u e p o s s o d e i x a r a q u i p a r a cDS b r a s i l e i r o s .

lijima - V e r d a d e . Ta n t 0 e u c o m o v o c ê t í n h a m o s u m a carreira promissora no J a p ã iD. Eu

trabalhava n u m dc )s rní í l h o r e s s a l õ e s d e T ó q u i o , e m hl a r a j u k u , b a i r r o o n d i5 s ã o geradas

a s t e n d ê n c i a s . V OCiê t r al D a i h a v a n a l i n h a d e f r e n t e , n o s m e l h o r e s r e s t a u r a ri t e s d o Jc3pão.

D i f e r e n t e m e n t e d o S 0 1j t r o s i m i g r a n t e s , n ã o v i e m o s p a r i3 c á p o r f a l t a d e o p ç ã o o u f u c3Índo

d a p o b r e z a . B u s caim o ^ i 1n o B r a s i l n o v o s h o r i z o n t e s . P o r i s s o é n a t u r a l q u e t e n h a m o !5 u m

e n t u s i a s m o m u i t 0 1m a i i Of • e m d e i x a r r e g i s t r a d a s a q u i as rl o s s a s p e g a d a s . Os i m i g r a n t e s q u e

vieram a n t e r i o r rn e n t e c r i t i c a m a n o s s a p o s t u r a , d i z e n cj o q u e f o m o s a q u i a c o l h i d o s pGlO

b e r ç o e s p l ê n d i d c> q UG e l e s c o n s t r u í r a m . N ã o t e n h o a m e n o r i n t e n ç ã o d e ne' g a r q u e 1n a v i a

um ambiente f a v o ráví -1 p a r a a n o s s a i n t e g r a ç ã o . ívias e s t a m o s c o n t r i b u i n (J o c o m no v o s

v a l o r e s p a r a a f o• rrrlaçc 30 b r a s i l e i r a : isso e n v o l v e e d u c a ç ã10 d e b a s e , f o r m a ç ã c) d e u m a iá t i c a .

c o n s c i e n t i z a ç ã o id o m e 'ic) a m b i e n t e . V e j a o c a s o d o t e r r e m o t o e d o t s u n a m i iq u e assoLa r a m

0 J a p ã o e m 2011. E les d ' e i x a r a m d e s e r u m a c a t á s t r o f e p o r q u e o s j a p o n e s o 's c o n s e g cj i r a m

se r e e r g u e r e s e rc í c u p ) G •rar, p o r q u e h a v i a u m a e d u c a ç ã íD d e b a s e , u m a a d r rl i r á v e l étic: a d e

r e s p e i t o e d e cc) n \ ' i v ê n i :ia. N o t ó r i a s t a m b é m s ã o a seri s i b i l i d a d G e a c a p a il i d a d e d e per-

c e p ç ã o d o s b r a s ilei ros. cDO e l e s p u d e r e m aliar e s s a s q u ca l i d a d e s a u m a f o r ml a ç ã o d e 1b a s G ,

t e r e m o s u m a s o cieí d a c J G ' G x o m p l a r , q u e v a i s e r v i r d e ref' e r ê n c i a p a r a o m u n d o . 0 s e u l i v r o

certamentG d e v f ?rá! CO n1;er e s s a s l i ç õ e s p a r a o s b r a s i l e i r o s e p a r a o m u n d o . N o s s a f u n ç ã o

só e s t á c o m e ç a ri d c ).
Koik9 - Como assim? Você já consolidou sua vida...

lijima - Não. Enquanto você cozinlna o que sabe fazer, certamente atingirá um resultado ideal. Mas
e depois? Quando você deixar de cozinhar, o que terá a dizer para as futuras gerações? O mesmo
vale para o meu caso. Enquanto eu segurava a tesoura, tinha convicção no meu trabalho. Mas agora
chegou o momento de transmitir os ensinamentos para quem vai prosseguir. Por isso nosso trabalho
só está começando.

Hideaki lijima nasceu em 1950, na província de Saitama, no Japão. Cresceu vendo


seu pai trabalhar como barbeiro. Nos anos 1970, com o certificado de cabeleireiro, vai
para Tóquio, onde passa por vários salões de beleza, até fixar-se no disputado salão
de Hideo Imai, no bairro de Harajuku. Ganha destaque como hair designer, criando
novas tendências de corte. Vem ao Brasil em 1979 e começa a trabalhar numa rede
de salões de beleza de um amigo. Em 1982 abre o seu primeiro salão Soho. Com uma
moderna filosofia de trabalho, a rede Soho chega a ser a segunda maior rede de
beleza do Brasil. Participa da ONG Zeladoria do Planeta e colabora assiduamente para
a limpeza urbana. Traz para o Brasil o movimento Yosakoi Soran, de dança coletiva, e
passa a promover um festival que em 2012 completa a sua décima edição.
£ por isso Ed se lembrou do mestre que ensinou a Jun Sakamoto os segredos do sushi: o lendário
e personalíssimo Takatomo Hachinohe, sushiman e proprietário do Komazushi (aberto em 1969,
encerrando suas atividades em 2002, após falecimento do mestre).
- Foi o Hachinohe que me ensinou a comer sushi corretamente - confessou Ed.

E como é comer corretamente? Não banhar o sushi no molho de shoyu, para começar. Molhar
somente o lado do peixe. Pegar o sushi com a mão, com os três dedos. Mas ele tinha fama de

- Comigo ele sempre foi muito simpático.

Ed credita essa aceitação à sua humildade.


- Eu sempre respeito os mestres, não acho graça em inventar sobre uma coisa que já foi criada
e pensada.

E, por falar em mestres, Ed perguntou se alguém já havia provado o Sukiyabashi Jiro, perto do
Mercado de Tsukiji, em Tóquio. Esse que até virou filme, depois que recebeu 3 estrelas do Guia
Michelin.
- Não, infelizmente, não tivemos ainda o orazer.

E começamos a falar de música. Hoje o tema era jazz e pop japonês


- Kikuchi Masafumi, Hino Terumasa...
- Mas você fala como os japoneses: sobrenome e nome, Ed.
- Sim, porque, quando eu perguntava sobre Terumasa Hino, ninguém entendia.

Faz sentido. E Ed sabe de tudo. Achávamos que Hino Terumasa vivia em Nova Yorl<.

- Não, ele está lá em Tóquio. E o filho dele arrebenta no Japão.


- Provavelmente, os conhecimentos de Ed Motta sobre música japonesa são maiores do que
os da média dos japoneses.
- Sadao Watanabe tocava como John Coltrane, e eu gostava - prossegue Ed. - Ele foi um dos
primeiros músicos estrangeiros a gravar com músico brasileiro.

Que pérola, essa informação.

- É um disco que tem o Monumento às Bandeiras, em São Paulo, na capa, 1966: Sadao Watanabe,
Hermeto Pascoal...

A memória dele, além de musical, é fotográfica!


- Mas adoro pop também. Naoya Matsuoka, por exemplo! A pegada pop instrumental da época
em que Shin Koike começava a cozinhar profissionalmente, no Japão. Taeko Ohnuki. Ela não é
muito conhecida. Não é popular. Mas é muito boa.

Fomos verificar. Suas colaborações com Ryuichi Sakamoto são sublimes.

- E aquele cantor, o Kosaka Chu. Ele canta tremulando, uma loucura... Bom pra caramba, O David
Bowie fica imitando isso, O Jacques Morelenbaum me convidou para participar do CD Casa, com
Ryuichi Sakamoto.

É verdade, Ed canta com Paula Morelenbaum a faixa "Imagina", de Tom Jobim. Shin Koike
considera este o melhor CD que ele tem. E arremata:

- A música brasileira me enfeitiçou e me prendeu por aqui.


- Infelizmente, não conheci o Saka (Ryuichi Sakamoto). Eu só gravei, E a Paula? É a melhor voz
para as músicas de Tom Jobim. Aquela voz aveludada dela é o máximo - entusiasma-se Ed.

Mas o dueto com Paula é para ficar registrado na história, de tão lindo.
- Mas sabe qual é o meu sonho? - Ed até levanta o corpo para revelar. - É gravar um disco com
músicos japoneses. Eu escalaria o Fumio Itabashi no piano, Takeo Moriyama na bateria, Isao
Suzuki no baixo. - E acrescenta: - O Hozan Yamamoto, no shakuhachi (flauta de bambu),

A lista de Ed parece não ter fim,

- Masabumi Kikuchi, o piano dele é fantástico. Tem um disco dele, com o shakuhachi de Hozan
Yamamoto, que é um negócio.
Fomo5 pesquisar. E um disco dedicado ao jardim Ryoanji, que fica em Kyoto. Um jardim de pedras
que tem uma beleza metafísica. E a música deles também.

- E o que dizer de Yosuke Yamashita? Ele é um génio. Sim, ele se apresentou aqui no Brasil,
nos anos 1980. Foi um sucesso. Era conhecido como um pianista radical, tocava até com os
cotovelos. Mas ultimamente converteu-se a um jazz piano mais suave, até buscando o básico

Yosuke Yamashita também se apresentou no Brasil nos anos 1990, com um percussionista de taiko
(tambor japonês) chamado Eitetsu Hayashi, Vieram junto alguns músicos de jazz, como Shigeharu
Mukai, Ed Motta se espantou.

- Mukai? Ele é o melhor trombonista do mundo!! Tenho todos os discos deie!!!

Impressionante esse Ed.

Nisso veio um arenque cozido fantástico, servido com suas ovas. Ed se divertiu com o estalar das
ovas. Muito musical, por sinal.

- Shigeharu Mukai, Masahiko Togashi, Toku, Maaya Sakamoto, Mizuhashi Takashi, Hideo Shiraki,
George Otsuka Trio...

A lista de Ed Motta parece não ter fim. Mas por que essa curiosidade sobre jazz japonês?

- Curiosidade, não. É fato. O Japão é o país onde se toca o melhor jazz do mundo. E a Momoe
Yamaguchi, a cantora pop? Pois é, ela teve fases horríveis, parecia cantora de karaokê. Mas, com
"Dancing Starshine", ela provou ser uma ótima cantora.

Shin serviu uma sequência de ótimos sushis. Mas Ed Motta ficou no uni (ouriço-do-mar)
fresquíssimo, servido sobre uma fatia de limão e polvilhado com flor de saí.

- Adoro uni. No Japão levava caixinhas de uni para ficar comendo no quarto do hotel.

Nakahara, produtor musical em Tó( n dos maiores conhecedores de musica bi


Japão, disse que t d Motta e, provavelmente, o maior comedor de um que ele conhece.

- A propósito, quantos discos de música japonesa você tem, Ed? perguntou curiosamente o chel
Shin Koike,

enno cerca ae oroulha-se Ed, Ninouérr sil deve ter tantos.

O celular tocou. Era o produtor de Ed Motta chamando.

Pena que tem o show daqui a pouco, senão eu ficava a tarde toda aqui.

Nós também, Ed!


Terra. Água. Fogo. Os elementos comuns à cerâmica de Kimi e às receitas de
Shin, Da terra e da água, Shin se abastece dos insumos que serão a base
de suas criações gastronómicas. Da terra, Kimi extrai a argila que se transforma
em objetos, depois de passar pela água. O fogo molda as receitas de Shin e as
formas criadas por Kimi. A relação com esses elementos naturais é uma constante
tanto do cotidiano de Shin como do de Kimi.

"Kimi se inspira em formas naturais para criar", interpreta Shin. Kimi concorda.
Ela observa as formas encontradas na natureza e, pela sua perfeição, só lhe
resta reverenciar. Mas Kimi vai um pouco além. Como uma homenagem, ela
reinterpreta essas formas da natureza.

Shin também, por vezes, inspira-se na natureza para criar suas receitas. Introduz
folhas, flores para compor os pratos, como se eles fossem um pequeno jardim.

Extrair algo da natureza para se inspirar, para então devolver as criações à


natureza. Esse é um princípio que Kimi e Shin executam com maestria.

As formas de Kimi têm apelo contemporâneo, mas sempre lembram a natureza.


Isso dá tranquilidade a Shin, que, há longos anos, confia o receptáculo de suas
receitas às cerâmicas de Kimi. Curvas, recortes, apesar de suas propostas
contemporâneas, remetem sempre ao orgânico. Por isso Shin acredita que os
pratos e tigelas de Kimi são os recipientes ideais para sua cozinha. "As comidas
e nós que as preparamos nos sentimos à vontade, sem a tensão de ter que
dialogar com linguagens complexas."

Há um elo em comum que une os dois artistas?


A culinária de Shtn não é a cozinha tradicional japonesa, mas uma cozinha autoral, com inspiração
japonesa. Kimi segue a mesma linha. Ela não pratica a cerâmica tradicional japonesa. Inspira-se em
suas técnicas e processos, mas suas formas são livres e contemporâneas. Esse é o ponto de união
entre os dois.

E Kimi, vendo as receitas preparadas ser acondicionadas em seus recipientes, como se sente?

É delicioso ver esse processo - suspira Kimi,

Tentar imaginar qual foi o raciocínio de Shin, quando ele faz a leitura dos recipientes dela para acomodar
a receita mais apropriada, é uma diversão para a autora das cerâmicas. Uma nova interpretação em
cima da reinterpretação do chef. Vamos dizer que, no caso desses dois artistas, a reinterpretação
deve ser entendida, sempre, como uma reinvenção.

Quando se dirige ao ateíiê de Kimi, Shin nunca vai com a intenção de abastecer sua cozinha com novos
pratos. Certo espírito de curiosidade e de aventura o motiva a ir até o ateliê onde Kimi reinventa a
natureza. Shin sabe que a ceramista certamente pensou em alguma função para suas peças, mesmo
que não muito definidas. Se o fossem, seriam utilitárias, e as cerâmicas de Kimi não são para esse fim.
Mas é nesse teor, aberto e provocativo, que Shin encontra o espaço para eie mesmo propor um modo
de trabalhar com essas cerâmicas, Por exemplo, Kimi se surpreendeu quando Shin escolheu vasos que
eram apropriados para acolher, no máximo, arranjos florais, o ikebana. Eram peças chamadas cestas
e foram concebidas como esculturas, ou seja, sem fins utilitários, Shin as transportou para o projeto
gastronómico Êatrip, em Ilha Grande, e íé, orgulhosamente, serviu nelas arroz branco, compondo-o
com folhas de banana nativa,

- Surpreendente, é um ikebana comestível - admitiu uma Kimi sorridente quando soube. Na verdade,
antes de Kimi, todos os integrantes do projeto gastronómico se surpreenderam com a ousadia.

- Gosto de surpreender os clientes - conta Shin. Para eie, servir comida é um ato cénico. Sua cozinha
é seu estúdio de ensaio e também o camarim. O balcão ou as mesas da saia de tatame de seu
restaurante são os palcos onde se desenrolam suas criações gastronómicas, que parecem mesmo
dançar sobre eles.

- Quero, um dia, usar a cesta com mizuhiki (um laço ornamental para acondicionar presentes), para
clientes muito especiais. Seria uma embalagem sobre outra embalagem envolvendo a comida. Abrir
cada camada desse presente é um ato que gera surpresas. Os japoneses chamam isso de "odoshi".
Trata-se de uma estratégia de criar espanto nos clientes, Shin se emociona com esses novos projetos,
Kimi passou a admirar SInin por eie sempre querer provocar surpresas assim
nos seus clientes,

- Ele é provavelmente mais criativo do que eu - admira-se Kimi,

Mas existem artistas que não gostam que suas peças sejam manuseadas,
manipuladas e inseridas em contextos diferentes daquilo a que foram em
princípio designadas. Kimi só faz restrições a que pessoas sem gosto estético
manipuíem suas peças. Mas, se o usuário tiver um senso criativo que
potencialize o valor intrínseco de suas obras, ela não vê problemas,

- Há que se ter uma relação de confiança entre o artista e o apreciador de


sua obra.
As antigas porcelanas japonesas têm desenhos e acabamentos precisos, "São belas, mas frias. Falta
emoção", sustenta o chef Shin. As porcelanas são realmente frias ao tato. Elas têm superfície lisa
coberta com belos desenhos, mas não convidam a uma interação de tato. Já a cerâmica tem a sua
textura, uma superfície áspera, mas confortável, um erotismo que convida ao diálogo com o toque. De
certa forma, é aquela relação de confiança que Kimi menciona e que dá extensão de vida à cerâmica.

E a comida nessas peças? Há uma tendência internacional, cada vez mais valorizada, a reconhecer
que a comida deve ser apresentada de maneira muito simples, visualmente falando. Um recipiente de
impacto, com uma pequena porção de comida. Uma proposta bem apropriada à arte de hoje.

Mas Shin pensa diferente: "Comida é refeição. É preciso transmitir calor humano na composição do
prato, e acho que uma pequena e única porção não é suficiente para transmitir esse calor humano."
Há, de fato, uma tendência a usar o prato como moldura. Alguns chefs até preferem trabalhar com
pratos quadrados ou retangulares, para facilitar a composição. Sobre eles, uma pequena porção de
comida e uma pincelada magistral e caljgráftca de molho. "Uma composição minimalista, arte visual
pura, mas não uma refeição", contesta Shin.

Shin explica melhor sua predileção peias cerâmicas de Kimi. Elas são absorvidas pela sensibilidade
de Shin para se tornar receptáculo de sua culinária afetiva. Uma mão terna que acolhe a paixão. Uma
mão em que ele possa confiar absolutamente, para depositar ali o seu afeto.

Mas, antigamente, os chefs se preocupavam tanto com os pratos? Essa relação entre receitas e
recipientes ou entre conteúdo e continente é antiga no Japão e remonta aos preceitos do primeiro
gastrônomo da história japonesa, Kitaoji Rosanjin {1883-1959), Rosanjin era um calígrafo, ceramista
e restauranteur. Fundou o Bishoku Kurabu (Gourmet Club), um restaurante exclusivo para sócios
gourmands. Ali, o próprio Rosanjin preparava a comida e apresentava-a em cerâmicas de sua autoria.
Talvez a relação comida-recipiente tenha começado nesse circuito fechado e acabou virando uma
referência.
Hoje, os clientes de Shin têm curiosidade de perguntar de quem
é a cerâmica. O perfil dos clientes está mudando, é certo, mas,
convenhamos, são pessoas que v ê m procurar a culinária afetiva do
chef Shin, pessoas com sensibilidade para notar onde esse afeto
está repousando.

E voltando à questão dos pratos que são simples moldura para as


pinceladas de molhos: aqui, sim, existe uma tradição na culinária
de Shin que remonta aos seus ancestrais. A culinária ocidental,
particularmente a francesa, é extremamente pictórica. Já na
culinária japonesa, há uma ênfase na composição dos ingredientes,
sem mascarar com molhos. Isso exige tridimensionalidade na
apresentação. "Acho que a culinária ocidental está mais para a
pintura. A culinária japonesa tende a ser mais escultura", compara o
chef Shin Koike.

Devaneios à parte, é fato que essa tridimensionalidade da culinária


japonesa exige uma densidade, que pode ser potencializada pelo
recipiente de cerâmica, Por isso a parceria da cerâmica com a comida
japonesa é imprescindível. Para assegurar a parceria de estilos, de
pensamentos, de filosofia é que os chefs estão sempre à procura
de ceramistas com os quais possam compartilhar conceitos, A arte
do sabor é a arte do saber,

Cerâmica é barro. A argila é moldada e introduzida no forno em aíta


temperatura. Parece paradoxal, mas no fogo alto a forma se con-
gela. Essa forma estática vai receber agora insumos e ingredientes
crus, orgânicos. Esse contraste é interessante, mas ambas, cerâmica
e comida, se juntam e se transformam no alimento para a alma.
I

Os h a b i t a n t e s dessa p e q u e n a c o m u n i d a d e ficaram chocados c o m essa fatalidade e suas


consequências, c o m baixas no t u r i s m o , o q u e sinalizava u m a fase de p r o f u n d a s dificuldades
para a s u s t e n t a b i l i d a d e da região. Contudo, a solidariedade de t o d a a ilha fez com q u e
a c o m u n i d a d e se reerguesse e organizasse o Festival de Cultura Japonesa, q u e e m 2011
c o m e m o r o u sua terceira edição. O Festival, como não poderia deixar de ser, foi dedicado à
m e m ó r i a de todas as vítimas da catástrofe, e m t o m solene.

Foi no m e s m o traçado de reconstrução do turismo, da autoestima e da vocação de Ilha


Grande que o projeto Eatrip foi proposto para a comunidade pela produtora A m a n d a Hadama,
moradora e ativista de Ilha Grande. A ação do projeto Fatrip iria se unir a esse propósito de
dar visibilidade ao turismo e chamar o público para apreciar esse paraíso na Terra e quase
u m cantinho de Okinawa, devido às semelhanças da paisagem e da cor do mar. Guardadas as
devidas proporções, Okinawa e Ilha Grande bem que poderiam ser ilhas irmãs.
SEXTA-FEIRA: A CHEGADA
Os participantes da expedição, todos de São Paulo, chegaram a Angra dos Reis após sete ho-
ras de estrada, É uma viagem cansativa, mas promete recompensas, especialmente no trechc
entre Ubatuba e Parati, para quem opta pela Rodovia Rio-Santos, com paisagens belíssimas
e paradas deliciosas. Já para quem desce por Barra Mansa, a paisagem da serra é de tirar c

A travessia até ilha Grande é feita por uma escuna, providenciada pela própria Pousada Nautilus,
e leva uma hora, tempo suficiente para alimentar as nossas expectativas mais remotas de
como será esta expedição,

O chef Shin Koike nos aguardava no deck, onde a escuna iria aoortar junto à pousada. Ele havia

preparado uma surpresa para os participante m lanchinho de boas-vindas, composto de


oninuiri fbolinhos de arroz) em vários sabores.
]
I
ONIGUIRI: O COMFORT FOOD DO JAPÃO

o oniguiri é u m simples bolinho de arroz branco prensado entre as


duas mãos. Desse m o d o , o bolinho assume o f o r m a t o do espaço
vazio, naturalmente triangular, que resulta das duas mãos que se
j u n t a m e m ligeira curvatura e se encaixam entre si, u m f o r m a t o
muito prático t a m b é m para se comer.

Sim, o oniguiri é, por excelência, o comfort food do Japão, Preparado


para levar como lanche e indispensável nos piqueniques, é t a m b é m
uma refeição de emergência. Tanto que, após o t e r r e m o t o e o
t s u n a m i ocorridos no Japão e m 2011, quando houve u m colapso
de abastecimento de comida até nas grandes cidades, o primeiro
item que desapareceu das prateleiras das lojas de .conveniência e
supermercados foi e x a t a m e n t e o oniguiri.

O oniguiri é realmente u m alimento muito prático e que t e m extre-


ma a u t o n o m i a . Pode ser servido simplesmente, envolto e m u m a
alga marinha crocante, ou receber recheios incrementados, como
ameixa curtida, peixe, vegetais ou pasta de missò. Por si só já se
basta, além de não exigir prato n e m talheres para o seu consumo.
Devido a sua consistência, é t a m b é m facilmente transportável.
A relação dos japoneses com o oniguiri é muito antiga. Lady Murasaici, poetisa e autora do monumental
Contos de Guenji [Genji Monogatari), revela em seu diário Murasaki Shikibu Nikki que o oniguiri já era
apreciado em pleno século XI. Os samurais costumavam levar para os campos de guerra os bolinhos
de arroz envoltos em folhas de bambu, que ajudavam a conservá-los por mais tempo, preservando
também a umidade ideal e o sabor.

Fácil de preparar, o oniguiri pode ser considerado o primeiro fasf food da humanidade e sobrevive
até os dias de hoje sem muitas alterações. Para atender à demanda, os japoneses inventaram até
máquinas de fazer oniguiris e são eles que abastecem as lojas de conveniência e os supermercados
de todo o Japão,

O oniguiri não é um tipo de sushi, embora muitas vezes seja confundido com ele. Enquanto o oniguiri
é preparado com arroz branco sem tempero e salgado no momento em que é moldado com as mãos,
o bolinho do sushi requer que o arroz seja temperado com vinagre apropriado. O oniguiri foi uma
invenção dos japoneses para tornar o arroz transportável, enquanto o sushi foi criado como uma
maneira de conservar o peixe.

O chef Shin Koike surpreendeu a tripulação do projeto Eatrip, na chegada em Ilha Grande, preparando
uma seleção de oniguiris como boas-vindas. Muitos lã nunca haviam experimentado essa iguaria,
até porque não é um item comum em restaurantes, por ser considerado de consumo doméstico.

A recepção na Ilha e o início dessa expedição gastronómica não poderiam ter sido mais afetuosos.
SÁBADO: O DIA FLUTUANTE
Hiroko acorda às 4 horas da manhã para começar a preparar o café da
manhã. Para os participantes do Gatrip, ela preparou vários tipos de
pães, destacando-SG os de escarola e os de linguiça, bem como seus
levíssimos croissants.

Sábado já começava a raiar com um grande desafio. Montar o jantar,


que seria oferecido num restaurante flutuante, a meia hora da
pousada, numa embarcação. A dificuldade era de ordem logística:
transportar tudo para lá, a partir da Pousada Nautilus. Isso incluía
pratos, talheres, as cerâmicas de Kimi Nii e, claro, todos os ingredientes,
insumos e bebidas. Com muito esmero, a produção comandada por
Amanda Hadama e o proprietário da pousada, Kazuo, fizeram um
milagre. Decoração simples, com lampião a gás e velas sobre a mesa.
Os preparativos levaram dois dias.
DOMINGO DE LUZ
A pouca luz do jantar exercitou o paladar em sua plenitude e despertou o lado ying
da alma. Por Í550 o domingo de sol prometia um último banquete regado a luminosidade.
O lado yang estava naturalmente convocado. Após o lauto café da manhã e um
passeio de escuna ao largo das verdejantes praias da ilha, o chef Shin e seu pelotão de
apoio, que consistia em seu assistente Celso Amano, Hiroko, dona Tsuruco e ajudantes
da cozinha da Nautilus, prepararam um almoço no deck da pousada, no melhor estilo
domingueiro. A brasa foi aquecida para receber o peixe beijupirá, o lombo assado
no missô e a sensacional pupunha. Sashimi em cortes generosos: beijupirá da Ilha,
pargo, xerelete, salmão e polvo fresquíssimo. Ê um yaki udon, macarrão grosso frito
que harmonizou muito bem com os grelhados, e o yosenabe, o cozido de legumes,
peixe e frutos do mar, O mesmo oniguiri que recebeu a expedição no dia da chegada
compareceu aqui, uma vez mais, só gue, agora, grelhado no carvão. Era o bolinho da
despedida, com desejo de boa viagem de retorno.
A missão estava cumprida. Apesar da comida, todos estavam muito leves, porque era afeto
em forma de alimento, e esse alimento vai para a alma. O conceito do projeto Eatrip é repensar
a postura da alimentação, pois a vida é uma viagem pontuada por refeições. Compartilhar
momentos em que a refeição preparada de maneira muito simples, com espírito comunitário
embalado pela natureza, se transforma numa dádiva, especialmente se pensarmos que a
ação se configurou num ritual de comunfiáo da vida com o alimento.

204 I 20S
CALDO BÁSICO DASHi

O caldo dashi é a base e a alma de muitas receitas japonesas. Ò dashi


é responsável pelo umami, o sabor que deixa o paladar mais apurado e
provoca aquela sensação de densidade e profundidade no gosto,

O preparo do caldo dashi é um processo de extração e infusão. Extrai-se o


sabor da alga konbu, deixando-a primeiro de molho na água para depois
cozinhá-la rapidamente em água quente. A infusão é feita com os flocos
de peixe seco.

O caldo pode ser preparado em duas etapas. O primeiro caldo é chamado


de ichiban dashi, considerado nobre, obtido da primeira utilização da
alga e usado no preparo do consome osuimono, uma sopa rala, mas
incrivelmente densa de sabor, A mesma alga ainda pode ser reaproveitada
num segundo caldo, o chamado niban dashi, que é utilizado nos mais
diversos pratos; por exemplo, no macarrão udon ou soba ou num bom
missoshiru.
CALDO BÁSICO DA5HI

INGREDIENTES PARA 500 ML DE CALDO


500 mi de água filtrada ou mineral
5 cm de alga konbu
10 g de iriko {peixe japonês, seco), sem a cabeça
30 g de katsuobushi {flocos de peixe bonito, seco)
PREPARO

Em u m a panela com a água, deixe a alga konbu e os peixinhos iriko de


molho por 30 minutos. Então leve tudo ao fogo e cozinhe por 10 minutos.
Retire a alga (descarte-a) e acrescente m e t a d e do katsuobushi.
A s s i m que levantar fervura, a p a g u e o fogo e acrescente o restante dos
flocos de peixe.

Deixe o caldo repousar por alguns minutos, ou seja, até que o katsuobushi
desça para o fundo da panela. Coe antes de utilizar.
S O P A DE C A R Á C O M Q U I A B O

pa fria, de fácil preparação. É leve e refrescante, m u i t o apropriada pare

os aias ae verão.
SOPA DE CARÁ COM QUIABO

INGREDIENTES PARA 6 PORÇÕES


500 ml de Caldo Básico Dashi (receita na página 212)
-200 g de cará
100 g de quiabo
Sal
30 g de gengibre

PARA SERVIR
60 g de cogumelo nameko em conserva
25 g de cebolinha
100 g de ova de ouriço-do-mar
Folha de ouro para decoração (opcional)
PREPARO
Prepare o caldo dashi conforme a receita e reserve-o.
Descasque o cará, corte e m tiras de a p r o x i m a d a m e n t e de 0,5 cm e reserve.
Polvilhe os quiabos com sal e e s f r e g u e - o s com as mãos. Dessa forma,
você os higieniza e elimina os pelos.
Aqueça água n u m a panela e, q u a n d o l e v a n t a r f e r v u r a , adicione os quiabos-
Deixe ferver por cerca de 1 minuto e retire do fogo, pois a fervura deve ser
rápida para não amolecer o vegetal. Escorra n u m a peneira e, e m seguida,
dè u m choque térmico com á g u a fria. Assim você m a n t é m a cor verde.
Corte os quiabos ao meio e retire todas as.sementes.
Rale o gengibre e reserve.

Bata o caldo dashi, as tiras de cará, o quiabo, o gengibre ralado e sal a


gosto no liquidificador. Em seguida, leve a sopa à geladeira e deixe por
cerca de 2 horas.

APRESENTAÇÃO
Sirva e m taças individuais e decore com cogumelo nameko, ovas de
ouriço-do-mar, cebolinha picada e folha de ouro (se for usá-la).
OSTRA E MARISCO BRANCO GRELHADOS

ISCO branco, simi o JaDão, e encontrado no Brasil, na reqiao


le Santa Catarina, e comercializado congelado, tste e um prato que promo*
ntensa exneriência olfaliva, trazendo os melhores aromas do mar. •
-•ara ter o sabor ace ostra e o marisco devem ser arelhados levemeni
OSTRA E MARISCO BRANCO GRELHADOS

INGREDIENTES PARA 1 PORÇÃO


OSTRA GRELHADA

2 ostras, vivas e frescas


1 limão-siciliano

Uma pitada de yuzu koshò (pimenta de yuzu)

MARISCO GRELHADO

3 mariscos brancos, congelados

1 colher (café) de manteiga e m t e m p e r a t u r a ambiente


'/2 dente de alho ralado
Salsinha crespa, picada, a gosto
1 colher (sopa) de saque

PARA SERVIR
Sal

V.' c l a r a de ovo

Rodelas de limão-siciliano
PREPARO DA OSTRA

j r e l h e - a s e m toqo alto. Quando comer, )r espuma e abi


conchas, retire-as do fogo. Tempere l e v e m e n t e com 3 gotas de suco de

limào-siciliano e uma pitada de vuzu koshô.

PREPARO DO MARISCO
Descongele os mariscos e m t e m p e r a t u r a ambiente. Em seguida, grelhe-oí

Junte a manteiga, o alho ralado, a salsinha a gosto e o saque e misture


bem. Tempere os mariscos com esse molho.

APRESENTAÇÃO
Misture 150 g de sal e a clara de ovo, para obter u m a pasta de consistência
firme, que vai servir de apoio para as ostras e os mariscos.
Enfileire porções dessa pasta n u m a bandeja ou prato e, por cima, a r r u m e as
ostras e os mariscos preparados. Acrescente u m a rodela de limão-siciliano
ao lado de cada u m e, se quiser, c o m p l e m e n t e com fatias de t o m a t e cereja
e u m t o q u e de folha de nanten (folhagem japonesa, conhecida t a m b é m
como nandina).
CARRÊ DE CORDEIRO COM BARDANA COZIDA E PIMENTA GRELHADA

Este carrê de cordeiro é de fácil preparo e t e m t e m p e r o suave. A ele o chef Shin adiciona
a bardaria (gobô), ingrediente típico da culinária tradicional japonesa, adaptando-a ao
sabor ocidental.
PREPARO DA CARNE

Tempere o carrê com saí. Amasse g r ã o s de pimenta a gosto e espalíne-a sobre a carne.
A q u e ç a u m a frigideira e adicione u m fio de óleo. Em fogo alto, d o u r e os dois lados
do carrê. O chef recomenda malpassado. Depois, passe-o para u m a f o r m a retrataria e
leve-a ao forno preaquecido (200 °C). Asse-o por uns 3 minutos, ate dourar, e retire-o
do forno. Para finalizar, regue o carrê com o saque e f l a m b e - o ,

PREPARO DA BARDANA

Descasque a bardana e deixe-a mergulhada na á g u a com limão por 1 h, para retirar o


amargor. Numa panela com á g u a e o arroz, f a ç a u m p r é - c o z i m e n t o rápido da bardana,
O arroz t a m b é m ajuda a retirar o amargor. Depois, acrescente o mirin e deixe cozinhar.
Ê m outra panela, misture 12 colheres (sopa) de caldo dashi, o shoyu e a ç ú c a r a gosto.
Retire da outra panela a bardana j ã cozida e adicione-a a esse caldo. Cubra com papel-
- a l u m í n i o e deixe cozinhar e m fogo baixo, para que n ã o seque,

PREPARO DA PIMENTA-VERDE

Lave as pimentas e fure-as com u m palito. Grelhe-as n u m a friqideira, sem óleo,

APRESENTAÇÃO
Para servir, a r r u m e n u m prato o carrê, a bardana e as pimentas grelhadas.
ARROZ J A P O N Ê S COM GENGIBRE E M1550SHIRU ESPECIAL
5HÕGA GOHAN TO AKADA5HÍ MI5505HIRU

Ima reteiçao truqal D arroz, o irre aroma de nennibrG

or e e estimulante,
ARROZ JAPONÊS COM GENGIBRE E MISSOSHIRU ESPECIAL
5HÕGA GOHAN TO AKADA5HI MISSOSHIRU

INGREDIENTES PARA 5 PORÇÕES


ARROZ

3 copos de arroz japonês


30 g de gengibre

2 Vz copos (250 ml) de água


Vz copo (100 ml) de saque
60 m l de shoyu

3 cm de alga konbu

MISSOSHIRU ESPECIAL
500 ml de Caldo Básico Dashi [receita na página 212)
100 g de akadashi missò (pasta de soja)
200 g de nameko (cogumelo) e m conserva
20 g de t o f u

'Á colher (sopa) de alga w a k a m e , seca


5 g de cebolinha picada
Conserva de legume a gosto (opcional)
O chef indica takuan (nabo curtido)
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1
1
1

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1

RABADA À MODA JAPONESA

Na região de Sendai, zona atingida pelo terremoto e pelo tsunami de 2011, os


japoneses preparam a rabada. Esta é uma adaptaçãc) da rabada japonesa ao
estilo brasileiro, servida com o molho de ponzu, uma fr uta cítrica do Japão.

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RABADA À MODA JAPONESA

INGREDIENTES PARA 6 P O R Ç Õ E S
1 kg de rabo de boi
100 ml de c a c h a ç a

2 c a b e ç a s de alho cortadas ao meio


1 m a ç o de cebolinha
1 cenoura cortada e m rodelas

2 cebolas
10 g de p i m e n t a - d o - r e i n o

P U R É DE C A R Á
2 carás

1 colher (chá) de Caldo B á s i c o Dashi (receita na p á g i n a 212)


1 colher (café) de pasta wasabi comprada pronta

COMPLEMENTOS
1 m a ç o de espinafre
nabo

1 pimenta d e d o - d e - m o ç a
m a ç o de cebolinha picada

MOLHO PONZU
6 laranjas-peras
4 limóes

1 concha de vinagre de arroz


Caldo B á s i c o Dashi (receita na p á g i n a 212) na m e s m a q u a n t i d a d e dos
ingredientes acima

250 ml dc shoyu Kikkoman Less Sodium (embalagem verde)


1 concha de katsuobushi (peixe bonito) e m lascas
UNAGUi COM BOLINHO DE ARROZ GRELHADO
UNAGUI NO KABAYAKI TO YAKI ONIGUIRI

o unagui (enguia) é muito apreciado e popuiar no Japão, sendo considerado um


alimento energético. Aqui, o chef Shin sugere um molho adocicado acompanhando
o também popular bolinho de arroz japonês, levemente grelhado.
5U5HI DE PARGO EM BARRA
TAI NO BÕZU5HI

A proposta desta receita é um sushi num formato diferente do que é


servido usualmente nos restaurantes. O peixe pargo combinado com o
camarão seco, típico da Amazónia, dá um toque especial ao sabor do sushi.
I
SUSHI DE PARGO EM BARRA
TAIN0BÕZU5HÍ

INGREDIENTES PARA 5 P O R Ç Õ E S
1 filé (200 g) de pargo, com pele

5 g de shari {arroz para sushi j á cozido)


Pimenta d e d o - d e - m o ç a

PARA SERVIR

2 folhas de shiiso (ou perilla) cortadas e m tiras


1 pimenta d e d o - d e - m o ç a
Vi talo de a l f i o - p o r ó
Pasta de yuzu

C a m a r ã o seco da A m a z ó n i a
Karasumi (ovas de tainha defumada)

SHARl

(arroz de sushi já cozido)


2 x í c a r a s (chá) de arroz j a p o n ê s

3 x í c a r a s (chá) de á g u a mineral
Vz x í c a r a (café) de vinagre de arroz
3 colheres (sobremesa) de a ç ú c a r

1 colher (café) de sal

2 p e d a ç o s (5 cm) de alga konbu

PREPARO DO SHARl

Lave o arroz com á g u a filtrada e deixe-o de m o l h o por 30 minutos. Lave-o


n o v a m e n t e , a t é a á g u a ficar cristalina. E n t ã o adicione a á g u a mineral e
a tina de madei
CARPACCIO DE WAGYÚ À MODA JAPONESA

o wagyú, ou bife kobe, é uma das carnes mais nobres do mundo.


Uniformemente marmorizada, ela se torna tão macia que derrete na boca.
Aqui o chef Shin Koike sugere o corte da carne em finas fatias, como
é oferecida no shabu-shabu, o cozido de carnes vegetais variados,
guarnecida com macarrão soba, de trigo sarraceno, ao molho de tahine.

242 I,
CARPACCIO DE WAGYÚ À MODA JAPONESA

INGREDIENTES PARA 1 PORÇÃO


3 fatias finas do filé-mignon de wagyú fresco
20 g de soba (macarrão de trigo sarraceno)
3 folhas de shiso (ou perilla)

MOLHO
1 colher (sopa) de tahine (pasta de semente de gergelim)
2 colheres (sopa) de leite
2 colheres (sopa) de molho ponzu
1 dente de alho ralado
1 colher (café) de gengibre ralado
PR
TOFU DE GERGELIM
GOMADOFU

Considerado u m prato i m p o r t a n t e da shôjin ryòri, a culinária vegetariana japo-


nesa, o g o m a d o t u pode ser u m a ó t i m a entrada, pela leveza e delicadeza de sua
textura. Ele n ã o é propriamente u m t o f u , pois n ã o é obtido por meio da coagula-
ç ã o do leite de soja, e sua p r e p a r a ç ã o é muito simples. Um dos seus ingredientes
G o amido de kuzu, a raiz de uma trepadeira nativa do J a p ã o {Pueraha (obata),
conhecida p o p u l a r m e n t e como araruta nipònica. Esta é o espessante ideal para
a p r e p a r a ç ã o desta receita, pois d á elasticidade e c o n s i s t ê n c i a , sem interferir no
sabor. Aqui o amido é combinado com o tahine, a pasta de gergelim.
TOFU DE GERGELIM
GOMADOFU

INGREDIENTES PARA 16 FATIAS


150 g de tahine (pasta de gergelim)
3 litros de água mineral ou filtrada

150 g de amido de kuzu


1 colher (chá) de sal
1 colher (sopa) de saque

1 colher (café) de açúcar

CALDO DE SOBA

500 ml de Caldo Básico Dashi (receita na página 212)


2 colheres (sopa) de shoyu (molho de soja)
1 colher (sopa) de saque seco

PARA A MONTAGEM DO PRATO

110 g de ovas de salmão

2 colheres (sopa) de wasabi (ou raiz-forte) comprada pronta

PREPARO DO TOFU DE GERGELIM

Dilua o tahine e m 1 litro de água (mineral ou filtrada) e peneire com u m

pano de algodão. Reserve todo o liquido, torcendo b e m o pano utilizado.


o v o PERFEITO
ONSEN TAMAGO

o ovo perfeito é uma tendência na alta gastronomia. No Japão os ovos eram


cozidos em águas termais de alta temperatura, daí o nome onsen tamago
(literalmente, ovo cozido nas termas). O resultado é o ovo com gema cremosa
e clara macia. O chef Shin Koike faz uma releitura dessa tradição e propõe o
inverso: o ovo fica,com a gema consistente e com a clara mole.

\
ovo PERFEITO
ONSEN TAMAGO

INGREDIENTES PARA 1 PORÇÃO


1 ovo inteiro
Sal
1 colher (chá) de vinagre
1 lula (50 g) fresca, limpa
1 colher (chá) de cogumelo nameko, em conserva
Vz colher (café) de alga vA/akame, seca
Pepino fatiado (uma porção pequena)
1 limão-siciliano
2 colheres (sopa) de Caldo de Soba (receita na página 248)
Vz colher (café) de gengibre ralado

PREPARO
Deixe o ovo descansar em temperatura ambiente, em água salgada (proporção
de 10% de sal em relação à medida de água) por 10 minutos.
N u m a p a n e l a , a q u e ç a á g u a suficiente para cobrir o ovo. Q u a n d o levantar

fervura, a p a g u e o fogo e acrescente o vinagre e o ovo, c o m cuidado para

não quebrá-lo. Tampe a panela e deixe-o descansar durante 20 minutos.

Retire o o v o da p a n e l a e m e r g u l h e - o na á g u a g e l a d a até q u e esfrie c o m -

pletamente. Reserve.

E n q u a n t o o o v o esfria, p r e p a r e o s a s h i m i d e lula.

L i m p e a lula e retire a p e l e c o m u m a faca a p r o p r i a d a . Depois, c o r t e - a e m

tiras d e 2 m m de e s p e s s u r a .

P r e p a r e o caldo de s o b a c o n f o r m e indicado na receita.

APRESENTAÇÃO

Elimine a casca do o v o e c o l o q u e - o n u m a tigela. E m seguida, adicione

o s a s h i m i d e lula, o n a m e k o , p e p i n o f a t i a d o e o w a k a m e . D e c o r e com

limáo-siciliano e cubra c o m o caldo de s o b a . Para finalizar, adicione o

gergelim ralado.

S u g e s t ã o d o chef: c a s o n ã o t e n h a lula f r e s c a , v o c ê p o d e s u b s t i t u í - l a p e l o

macarrão somen.
SUFLÊ DE CHOCOLATE COM TIRAMISU DE TOFU E PASTEL DE SOBA

Esta sobremesa festiva promove a harmonização de muitos sabores e texturas,


O encontro do suflê de chocolate com tiramisú de tofu é inusitado, e, para acentuar
mais ainda o coniunto, o chef Shin Koik( Dastel de soba
SUFLÊ DE CHOCOLATE COM TIRAMI5Ú DE TOFU E PASTEL DE SOBAi

TIRAMI5U
100 g de queijo mascarpone
125 g de açúcar
1 t o f u (400 g) do tipo kinugoshi
250 g de creme de leite fresco
10 g de gelatina e m pó, incolor e sem sabor

PASTEL DE SOBA

80 g de trigo sarraceno
80 g de farinha de trigo

80 ml de água mineral o u filtrada

PREPARO DO SUELÊ

Separe os ovos e reserve as claras.


Na tigela da batedeira, misture as gemas, 50 g de açúcar e a farinha de trigo. Bata até
obter uma textura cremosa. Reserve.

Usando a batedeira, bata as claras com o r e s t a n t e do açúcar e m p o n t o de m e r e n g u e


e reserve.

f
CHEESECAKE DE TOFU C O M C A L D A DE FRUTAS V E R M E L H A S :

No Japão, é c o m u m preparar s o b r e m e s a s à base de tofu. O chef Shin Koike^


introduziu e s s a opção e m s e u cardápio, na qual combina as raízes japonesas
com sua f o r m a ç ã o na escola francesa de gastronomia.
*. ^^^^
CHEESECAKE DE TOFU COM CALDA DE FRUTAS VERMELHAS

INGREDIENTES P A R A 10 PORÇÕES

CHEESECAKE

10 g d e g e l a t i n a e m p ó , i n c o l o r e s e m s a b o r

1 t o f u ( 4 0 0 g) kinugoshi

125 g d e c r e a m c h e e s e

2S0 m l d e c r e m e d e leite f r e s c o

125 Q d e a ç ú c a r

CALDA DE FRUTAS V E R M E L H A S

5 0 g d e s e m e n t e s d e g r o s e l h a o u flor d e u m e (ameixeira) c o r t a d a e m tiras

25 g d e a m o r a

50 g de frainboesa

100 o d e açúcar

100 m l d e á g u a m i n e r a l o u f i l t r a d a

20 m l de r u m

D a e miiii'.

PREPARO DO CHEESECAKE

Lave o tofu e seque-o c o m u m pano d e algodão.

N u m a vasilha, peneire o tofu, adicone o cream cheese, derretid n banho-maria


^cre
iun o do

o
SORVETE DE RAPADURA COM GELATINA DE CAFÉ

Esta sobremesa é uma homenagem aos sabores e aromas do


Brasil. Inspirado no açúcar mascavo japonês (kokutò), o chef
Shin Koike o substitui por rapadura, agrega cachaça e propõe
uma gelatina de café.

262I263
i.

SORVETE DE RAPADURA COM GELATINA DE CAFÉ

INGRrniFNTES PARA IS PORCÕFS


I pote do sorvete de creFiie de 1 litro
8 0 q do rapadura
4 0 ml do cachd(,,3

C^ei ATINA nc CAÍ É

S g do gelatina e i n pó, incolor e som sabor


^^5 ml de-^ café preparado, som açúcar
15 ml de licor de café
PREPARO DO SORVETF

Deixe o pote de sorvete na t e m p e r a t u r a a m b i e n t e por ZO m i n u t o s e misture os p e d a ç o s de

rapadura. Acrescente a c a c h a ç a e leve ao freezer n o v a m e n t e .

PREPARO OA GFl AlINA DF CAFE

Dilua a gelatina o m d collioies (sopa) de á g u a e a q u e ç a no micro-ondas por 30 segundos.

Acrescente o cafíT' e o licor de c a f é e misture bem. Despeje numa f o r m a de 2(] x 12 cm e

deixe na geladeira por 2 horas, o u a l é a gelatina ficar firme. Corte-a e m cubinhos.

APRESENTAÇÃO

Deixe o s o r v e t e e m t e m p e r a t u r a a m b i e n t e a t é ficar l i g e i r a m e n t e a m o l e c i d o e sirva-o e m

tigelinhas individuais, adicionando os c ubinhos de gelatina de c a f é j u n t o à bola de s o r v e t e .

264 I 255
^l ^^^l
LEGENDAS EXPLICATIVAS

GASTRONOMIA É ARTE?
p, 48-49
Pargo e c a m a r ã o grelhado. Uma pi-
Merluza negra, com molho yuzu- tada de flor de sal e aspargo, cogu- Tirashizushi: são peixes e frutos do
misso [pasta de missõ com suco de melo shimeji, cebolinha, nabo ralado mar sobre uma cama de arroz de
laranja yuzu), cogumelo eringue, es- e limão-siciliano. sushi. Aqui, o chef Shin preparou o
pinafre hôrensò, flor de abóbora ka- tirashi com vieira crua do Canadá,
Facas Aritsugu, confeccionadas botcha e gengibre curtido, ovas de ounço-do-mar, ovas de sal-
artesanalmente com técnica que mão, ovas de capelim laranja, impor-
remonta a mais de 400 anos, Shin tado dos Estados Unidos, Acompanha
Koike herdou a faca de baixo do pai, nabo ralado levemente apimentado,
e ela e s t á menor de tanto já ter sido p. 52-53 ciboulette e folhas de ouro.
amolada. Ilustrações: cortesia da Kikkoman.
p. 28
Filé Mignon grelhado com molho
de t a r ê e vinho tinto seco, berinjela
grelhada e foie-gras com pimenta-
-rosa.
O pai de Shin, Shoji (à direita), em seu p. 62
p. 10 balcão de sushi. A mais frugal das refeições: arroz
Yakigani [King crab do Alasca grelha- branco, missoshiru, tsukemono (no
do) - apoiado em uma cama de sal caso, chuchu), s a l m ã o grelhado e
com clara de ovo e limão-siciliano. uma pimenta americana.

Salada Hiyashi Chuka: m a c a r r ã o frio

yi
em caldo agridoce com leve toque
de ó l e o de gergelim, com fios de
omelete doce, tomate, naruto (mas-
sa de peixe) e p i m e n t ã o .
Um prato festivo, que o chef Shin Koi-
ke chama de Kaisen Jú: uma farta se-
leção de frutos do mar sobre arroz de WÊÊÊÊÊÊÊÊ P-58
sushi. Entram: sashimi de pargo com Um niguirizushi de atum (maguro),
pimenta de yuzu, olhete (buri), atum com brotos de nabo (kaiware), deco-
com nabo e broto de nabo, tartare de •l^^^H p. 66
rado com a b ó b o r a em tiras.
peixe carapau com gelatina de ponzu, Pargo (tai) com gengibre ralado, ca- Foto: Japan National Tourism Orga-
robalo com pimenta yuzu, polvo com marão, cenoura e espinafre hôrensò. nization.

V
pasta de pimenta kanzuri, caviar e
ovas de salmão, lula, ovas de ouriço-
-do-mar, enguia, folha de shiso, broto
de rabanete, broto de nabo, pepino,
casca de laranja yuzu em fatias.
^^^m p.58
p. 44 Niguirizushi de peixe serra (katsuo),
Moqueca Japonesa (Burajiru-fu Yo-
^^^^H p. 70
grelhado, com uma pitada de pasta
Refinamento visual no arranjo para
senabe). Camarão, peixe tamboril de yuzu, pimenta vermelha seca cor-
o osechi ryôri.
(ankò), patas de king crab do Alasca, tada em tiras bem finas e gari (gen-
marisco branco, tomate, cogumelo, gibre curtido).
cebolinha japonesa, acelga chinesa, OS MANTRAS DO SABOR
pimenta americana verde com caldo
• H H ^ H p. 20 de tucupi (caldo de mandioca típico da
Sashimi de Camarão com Robalo: ro- Amazónia),
balo, camarão, cabeça de c a m a r ã o
frito, nabo, cebolinha e pepino, com Niguirizushi de atum (maguro), com
p. 74-75
uma folha de capuchinho e tomate ovas de ouriço-do-mar, acompanha-
No Empório Luso-Brasileiro Rei do
cereja para enfeitar e uma fatia de do de pepinos prensados no sal.
Bacalhau, Mercado Municipal de São
limão-siciliano. Tudo imerso no molho
Paulo, sendo atendido por seu pro-
ponzu. ^ p.47
prietário, Marcelo Nunes,
Fatias de sashimi de atum s ã o envol-
tas em alga marinha frita (maguro no
isobeyaki) e depois imersas no molho
ponzu, com nabo ralado levemente • ^ ^ H p.59
apimentado, uma semente de guin- Niguirizushi de robalo (suzuki), com
-nan (gingko biloba), tiras de alho- karasumi (ovas defumadas de tai-
Visual festivo para começar o ano: -poró, cebolinha japonesa G pimenta nha), nabo ralado e cebolinha, com Observando sabores subliminares no
osechi ryóri. americana, tudo grelhado. gengibre curtido. Mercado Municipal de São Paulo,
p. 78-79
Provando sabores brasileiros: suco
de açaí do Banana Juice, no Mercado
Municipal de São Paulo,
p. 95
Siri-mole frito, ao estilo karaague,
O siri-mole é envolto em amido de
milho antes de ser frito. Decorado
com semente de guin-nan (gingko bi-
a p.l03
Niguirizushi de vieira (hotate)
A vieira é canadense, maior e mais
carnuda que a brasileira. Aqui ela
recebe um toque de pasta de yuzu
p.118
Trocando impressões com o chef
Adriano Kanashiro,

loba) e pimenta biquinho. Acompanha (cítrico japonês). Acompanha uma


um molho ponzu. pequena porção de gan (gengibre
BKi p.82 curtido).
p.120
Sabores paulistanos: o icònico e ge-
Workshop com Satoshi Sato, chef
neroso sanduíche de mortadela do
executivo do Restaurante Ginza Ran-
Bar do Mané, no Mercado Municipal
getsu (Tóquio), da divisão de Sukiyaki,
de São Paulo,
e Adriano Kanashiro, ao fundo.

p, 96 p. 106
Tofu frito (aguedashidófu) e uma Sashimi de atum com molho de kimi-
seleçêo de legumes, também fritos zu (maguro no kimizuzoe) - aqui as
. a p. 83 com caldo de soba, acompanhado de fatias de atum recebem um molho à
Provando sabores brasileiros, servido cogumelo nameko, nabo ralado com base de gema de ovo, um pouco de
p. 121
por Marcos Rogério Coelho Martins, gengibre e mizuna, uma hortaliça saque e vinagre. Para acompanhar,
Carne wagyú, berinjela fatiada e co-
Em O Empório das Frutas, Mercado também conhecida como mostarda espinafre, nabo, cenoura e broto de
gumelo shimeji grelhado sobre um
Municipal de São Paulo. japonesa. Na seleçào de legumes nabo. Flocos de katsuobushi, peixe
molho à base de missó.
entram: aspargo, berinjela, abóbora seco, e gergelim ralado, para dar o
japonesa, broto de bambu. perfume.

:1 p. 87
Shin com a mãe, Nori Koike, p. 122
p. 110 Carpacdo de polvo com ovas de tai-
p. 97 Espetinho de picanha com cebolinha nha defumada (karasumi), decorado
Um bolinho de soba (trigo sarraceno), japonesa e pimenta americana verde com uma fina fatia de pimenta bi-

KJ
frito. Envolto com kinako {farinha de com nabo ralado. quinho e uma tira de limão-siciliano.
soja torrada) e servido com sorvete Decoração complementar: tiras de
de chá verde com chips de chocolate. gengibre-mioga, tomate cereja, tiras
p. 88
de cebola roxa e folha de capuchinho.
Avaliando o peixe do dia. Em Pesca-
dos Crescente,
p. 112
O chef em entrevista para a editora
Marta Barbosa, da Revista Prazeres
da Mesa.
p. 98
p, 90 p.123
O chef Shin Koike não é um barman,
Segurando um peixe-sapo. Em Pes- Pirarucu e moti à moda akedashi
mas desenvolveu esta receita para
cados Crescente, Mercado Municipal Peixe com uma pitada de sal, envolto
os dias quentes de verão. Balizado
de São Paulo. com amido e frito,
de Sunset Romã, vai champanhe com
O moti (bolinho de arroz glutinoso)
gelatina kanten feito de vinagre de p.116 é decorado com tiras de alho-poró
romã e pêssego (produto da Kikko- Uma montagem de sashimi de atum e pimenta vermelha. Caldo leve para
man), com sementes de romã.

S
e pargo. macarrão soba.
Entram cará fatiado com broto de
nabo (kaiware) envolto no sashimi
p. 92
de atum, nabo com ameixa japone-
Um owan ryõri, caldo servido em t i -
sa em conserva {umeboshi}, pepino,
gela de madeira laqueada (ow/an).
abóbora japonesa kabotcha e nabo
Aqui o chef Shin propõe um de ca-
em tiras, com wasabi.
marão e pargo ensopado com legu-
mes. Entram também ervilha torta, p. 102 p. 124
cogumelo nameko, macarrão sòmen, O sushi prensado é chamado de bat- Ensopado de camarão com vieira e
um umeboshi - ameixa japonesa em terazushi. Aqui o chef Shin preparou legumes
conserva - , gengibre e minicenoura, o battera com o carapau (aji), em sal- Sômen (macarrão fino), vieira, ca-
em caldo de peixe extraído com alga moura, e envolve com shiroita konbu, p. 117 marão, cebolinha japonesa, ervilha
konbu, gengibre, saque e temperado uma alga própria para este tipo de Com o jovem Sasaki, braço direito do torta, gengibre-mioga com limão-si-
sushi. No topp/ng, gergelim branco. chef Shin Koike, no Aizomê, ciliano em caldo dashi com gengibre.
UMA EXPEDIÇÃO GASTRONÓMICA

p. 199
p. 125 p. 193 Sashimi de pargo.
Tatakl de filé-mignon, molho ponzu Um ritual: orar pelos seres abatidos
com nabo ralado, pimenta americana que serão preparados como alimen-
p. 178
verde, com tiras fininhas de alho-poró to. Gratidão e reverência pela vida.
Shin colhe tenros brotos de bambu.
e pimenta vermelha.
Molho ponzu; laranja-pera, limão,
shoyu, katsuobushi (lascas de peixe iHk'' p. 202

seco) e vinagre. Ceviche de corvina.

p. 195
p.178
Colhendo vieiras.
Tripulação do primeiro projeto Eatrip.

p. 203
Sashimi de salmão, atum, polvo e o
p.iza beijupirá pescado na Ilha,
ÍLU. p. 195
Ambientação retro marca a identi-
1^:- p. 180 Preparando a decoração do flutuan-
dade visual do novo templo gastro- RECEITAS
Tripulaç. ip chegando em Ilha te, cenário do jantar inesquecível.
nómico de Shin Koike.
Grande.

p, 130 p. 180 p.196 ; p. 2 4 6


Reunião para discutir os detalhes O editor Raimundo Gadelha e sua O chef Shin Koike preparou panceta Shin trabalhando na campanha de
do projeto, O sócio Roberto Ng, Lú- esposa, Marly Koraicho, se servem (buta no kakuni), que foi disposta em solidariedade às vítimas do terre-
cia Miyuki, o produtor de arte Akira do sushi de boas-vindas preparado cilindros de bambu, confeccionados lá moto e tsunami no Japão, em 2011,
Goto e o arquiteto Samy Dayan, pelo chef Shin Koike. mesmo na ilha. no Hotel Unique em São Paulo, Ele
preparou o gomadofu, um prato re-
presentativo da culinária vegetaria-
O SABOR DO SOM na budista. O gomadofu é feito com
pasta de gergelim e amido de kuzu.
Nesta receita, Shin o incrementou
p, 197 com ovas de salmão e w/asabi. Veja
p. 182-183
O escultor Yutaka Toyota observa a em Receitas, como preparar.
Nimono (cozido) numa cerâmica de
destreza do jovem chef Celso Amano,
Kimi Nii, No cozido entraram os bro-
responsável pelos sushis da noite.
tos de bambu colhidos por Shin, alga
p.153 konbu, nabo e pedaços de tofu. 4^ CAPA
Shin gosta de abastecer inspirações
por meio da música. Apesar da sua
agenda cheia, vez por outra, frequen-
ta concertos e shows. p.198
Dupla dinâmica: chef Shin Koike e
p. 184
Celso Amano em produção. Aqui eles
ENTRE RECEITAS E RECIPIENTES Milanesa de porco, com molho agri-
montam uma porção de sashimi com
doce.
tempura de camar-ao e legumes, so-
bre um pedaço de folha de bananeira.

p.164
p,185
Konnyaku, feito a base de tubérculo,
Salmão ao molho de maracujá, um hit p.198
com molho de shoyu e gergelim.
que o restaurante Rangetsu oferece A cerâmica de Kimi Nii adornando re-
ainda hoje em seu cardápio. ceitas simples e afetivas.
Tsukemono de Chuchu
Shin e os sabores brasileiros. Para
temperar a conserva de chuchu, Shin
empregou sal e cachaça, em substi-
tuição ao tradicional missô. Por este
p. 165 p. 192 p. 199 espírito de brasilidade, escolhemos
Frutos da época preenchem o reci- Dona Tsuruco preparando o tofu: re- Enfim, o tofu de dona Tsuruco. Aqui, este prato, tão singelo e tâo sincero,
piente produzido por Kimi Nii. ceita tradicionat. combinado com quiabos. para ilustrar a última capa deste livro.
Editora Melhoramentos

Takahashi, Jo
A cor do sabor: a culinária afetiva de Shin Koike / Jo Takahashi; fotos de
Tatewaki Nio, São Paulo: Editora Melhoramentos, 2012. (Arte Culinária Especial}

ISBN 978-85-06-01146-1

1. Culinária japonesa, I. Koike, Shin. II. Nio, Tatewaki.


IV. Título. V, Série,

12/233 CDD 641,5

índices para catálogo sistemático:


1. Culinária japonesa 641,5
2. Receitas culinárias : Economia doméstica 541,5
3. Shin Koike - Culinária japonesa

Design gráfico e editoração eletrônica: Erika Kamogawa


Produção: Dô Cultural | Dirce Miyamura
Assistentes de Produção: Liliana Granja Morais
e Sofia Nanka Kamatani
Fotografias: Tatewaki Nio |
páginas 52 e 53 cortesia da Kikkoman |
páginas 64 Kanga-an |
páginas 66 Japan National Tourism Organization

© 2012 Jo Takahashi

© 2012 Editora Melhoramentos Ltda.

1.^ edição, novembro de 2012


ISBN 978-85-06-01146-1

Atendimento ao Consumidor:
Caixa Postal: 11541 - CEP 05049-970
São Paulo - SP - Brasil
Tel,: {11} 3874-08 8 0
www.editoramelhoramentos.com.br
sac(ajmelhoramentos,com.br

Impresso no Brasil

PATROCÍNIO

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kikkomai? ^ ISmlã ^YAMAHA


dõcuítural

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