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ÍNDIOS

Há 12.000 anos habitavam no Rio Grande do Sul grupos humanos que viviam da caça, pesca e
coleta; não criavam e nem plantavam. O homem do interior do Rio Grande do Sul era nômade
e caçador, o do litoral era seminômade porque o mar lhe garantia o alimento. Desses grupos
humanos surgiram aqui no nosso estado três grandes nações indígenas: Jês, Guaranis e
Pampeanos. Quando o branco conquistador pisou o solo rio-grandense, no século XVI,
encontrou estas nações vivendo em plena pré-história, pois não conheciam a escrita, eram
seminômades e desconheciam o uso do metal; suas armas eram de pedra lascada.

JÊS
Descendiam dos mais antigos caçadores do interior do Rio Grande do Sul. Seus principais
grupos eram: Caaguás e Guaianás. Moravam na Serra Gaúcha, eram nômades devido às
ameaças dos inimigos e para procurar novas áreas de caça e de plantio. Tinham grande
habilidade em se locomover na mata serrana, habilidade esta que lhes garantiu a
sobrevivência ante os ataques dos índios inimigos, dos bandeirantes e dos imigrantes. Suas
casas eram de palha com quatro divisões internas, contendo de 20 a 25 famílias. No inverno
faziam buracos circulares que cobriam com mato, eram as casas subterrâneas que os protegia
do frio da serra. (Estas casas tornaram-se verdadeiras armadilhas quando os imigrantes
ocuparam este território). Andavam nus, mas no inverno alguns se cobriam de mantos tecidos
de urtigas e caraguatás. Quando tiveram contato com o branco e passaram a vestir-se,
começaram a ter doenças comuns do frio como: gripe, resfriado, bronquite e asma.
Alimentavam-se da caça, pesca, coleta, farinha de pinhão (pinhão socado) e faziam roças
rudimentares de milho, mandioca, abóbora e batata-doce. Caçavam em áreas delimitadas e
não caçavam as fêmeas, só os machos. Só os homens caçavam e eram bastante hábeis nesta
tarefa. Na época dos pinhões, animais apareciam em grande número, atraídos por este fruto.
Tinham um grande respeito pela mata, pois ela lhes provia de alimentos. Desciam a serra no
verão e iam pescar e mariscar no litoral norte, principalmente na região da cidade de Torres,
atualmente.
Na agricultura as atividades eram divididas por sexo; o homem derrubava o mato através da
coivara (queima do mato pequeno) e a mulher plantava e colhia. Na aldeia havia o feiticeiro
que dirigia a vida do grupo; cuidava da religiosidade, da cura, da época e local de caça, da
guerra, do plantio e decidia o nome do recém-nascido. O feiticeiro bebia a erva-mate em seus
rituais e, através dela, "recebia" a vontade dos deuses. Cada tribo era formada por dois
grupos, sendo que um cultuava a lua e o outro o sol. Os integrantes dos dois grupos
consideravam-se primos entre si. Os pertencentes ao clã da lua seriam guerreiros e os do clã
do sol seriam caçadores. O pai era quem escolhia o clã, da criança. Cada agrupamento formava
um clã diferente, não havia casamentos entre pessoas do mesmo clã, mas podiam casar ate
com mãe e irmã, desde que fossem de outro clã. Suas armas eram arco com corda de urtiga,
flechas com ponta de madeira endurecida no fogo ou de pedra, machados de pedra e tacapes.
As mulheres faziam cestas de fibras vegetais. Todos os grupos Jês falavam a mesma língua. A
mulher Ge era mais agressiva que o homem, chegando mesmo a bater no marido que não
reagisse.

GUARANIS
A nação Guarani era dividida em três grandes grupos:
Tapes - habitavam a zona oeste e centro-oeste do estado e seriam os futuros índios
missioneiros.
Arachanes - habitavam a banda oeste: da Lagoa dos Patos.
Carijós ou Patos - habitavam o litoral norte do Rio Grande do Sul e Porto Alegre.
Eram seminômades e abandonavam uma região quando a terra se esgotava para o plantio ou
quando rareava a caça. Concorreu, também, para este nomadismo, a procura da terra-sem-

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mal, pois acreditavam que existia algum lugar onde eles não teriam sofrimentos; este lugar
deveria ser ao leste, perto do mar.
Moravam em casas coletivas enormes, feitas de madeira e palha. Várias famílias habitavam a
mesma casa. As casas eram dispostas em círculos, protegidos por uma paliçada de troncos. As
aldeias situavam-se perto de rios, no alto das coxilhas e na encosta do planalto. Usavam
esteiras. As casas dispunham de porta para homens e porta para mulheres. Dormiam em
redes.
Os homens caçavam e guerreavam. A caça era dividida entre os caçadores. Enquanto caçavam,
o pajé ficava em transe para protegê-los. Também pescavam, com anzol de osso, lança e
timbó. Suas armas eram arco e flecha, lança, tacape e boleadeira. Eram hábeis guerreiros,
inimigos ferrenhos dos Jês. O inimigo capturado podia viver anos na aldeia, sabendo que um
dia seria devorado num ritual. Mesmo sabendo do seu destino, não fugia, porque, acreditava,
seria purificado e sua tribo também. O Guarani praticava a antropofagia ritual porque
acreditava que adquiriria as forças do inimigo.
Os homens enfeitavam-se mais que as mulheres; pintavam o corpo e usavam colares e
pulseiras. As mulheres cuidavam da agricultura, plantando milho, mandioca, batata-doce,
feijão, amendoim, fumo, abóbora e algodão. Coletavam frutas e erva mate para o chimarrão.
Fabricavam cestos para carregar os produtos da lavoura ate a aldeia, além de grandes vasos de
cerâmica para guardar alimentos, água, grãos, etc.. Em caso de mudança, os homens só
carregavam as armas, para defender o grupo e as mulheres transportavam utensílios e filhos.
Quando a mulher ganhava filhos, sozinha e isolada do grupo, o homem é que deitava na rede
em "resguardo", para enganar os maus espíritos que quisessem levar o recém-nascido. Os
guaranis enterravam seus mortos em urnas funerárias feitas de cerâmica, chamadas igaçabas.
A tribo era dirigida por um conselho tribal composto pelo morubixaba, pelo taxauá e pelo pajé.
O morubixaba era o chefe da aldeia, geralmente com mais de 60 anos e por isso respeitado por
todos pela experiência de vida. O taxauá era um chefe temporário em caso de guerra ou caça.
O pajé, ou xamã, desenvolvia atividades de magia na aldeia, sendo medico, juiz e mestre de
rituais religiosos. Os Guaranis fumavam cachimbo nas cerimônias religiosas. Os morubixabas
podiam ter mais de uma mulher, A mulher era muito disputada nas aldeias, devido a sua força
e sua mão-de-obra muito valiosa. Várias guerras houve por disputa por mulheres. Muitas
acompanhavam os guerreiros nas lutas, carregando suas armas.

PAMPEANOS
Habitavam o Pampa Gaúcho. Seus principais grupos eram: Charruas, Minuanos, Guenoas e
Jarós. Eram nômades, não cultivavam a terra e viviam somente de caça, pesca e coleta. Os
homens caçavam a ema, ave típica dos nossos pampas, com boleadeiras. Caçavam, também,
veado, anta e capivara, animais que vivem em banhados e regiões de lagoas. Alguns grupos
tinham o hábito de não comer a parte da caça que tocava no chão ao ser abatida. Assavam a
caça espetada em espetos de pau, no estilo gaúcho. Primeiramente moravam em toldos de
junco e, mais tarde, com a utilização do gado, passaram a cobrir os toldos com couro. Em caso
de mudança, a mulher era quem desmontava, carregava e montava os toldos. Viviam em
reunião de famílias. Os minuanos, que habitavam as regiões das Lagoas Mirim e Mangueira,
armavam a toldaria em cima de pequenas elevações denominadas "cerritos". Os cerritos
abrigavam-nos das enchentes, comuns nestas regiões. Eram constituídos basicamente de
terra, restos de caças, peixes e conchas. Os chefes eram temporários, pois só tinham função e=
época de guerra. Eram inimigos dos Guaranis e dos Jês. Os pampeanos roubavam os alimentos
plantados pelos Guaranis e Jês, sendo esta a causa de muitas lutas entre eles. Mais tarde os
pampeanos aliaram-se aos portugueses, comercializando o gado. Os pampeanos foram
considerados os mais selvagens e rebeldes. Com a introdução do gado na Campanha,
tornaram-se exímios cavaleiras, utilizando, com velocidade e destreza, a lança, o laço e a
boleadeira, tanto nas lutas, como nas lides com o gado. Os homens pintavam o corpo, fazendo
tatuagens. Quando as mulheres envelheciam, trocavam por outra, mais nova. Mancavam

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fumo. Usavam nos ombros mantos de peles para se abrigarem do frio, e o chiripá (espécie de
fralda). Acreditavam que todos tinham um espirito guia. Não tinham atividades religiosas. A
tradição e os valores eram pausados de pai para filho e os velhos eram respeitados. Os velhos
presidiam as toldarias e dividiam as casas cem os jovens que ainda não tinham forças para o
trabalho pesado.
Entre os Charruas os mandos e desmandos eram divididos com as mulheres. Algumas usavam
o poder da cura para persuadir os viúvos e solteiros a casarem-se com elas. As mulheres, em
sinal de luto pela morte do marido, cortavam uma falange do dedo e também uma ponta da
cabeleira negra, quase sempre calda sobre os ombros morenos e nus. Pintavam o corpo só em
ocasiões especiais. A viúva colocava um pedaço de pano ou pelo sobre os ombros e com ele
permanecia alguns dias dentro de casa, em sinal de luto.

EXTERMÍNIO DOS ÍNDIOS NO RIO GRANDE DO SUL


Era costume do homem branco dizer que esta terra não tinha dono; ela tinha dono, era dos
indígenas que aqui moravam. Eles defenderam bravamente seus territórios, mas o branco, ao
derrubar as matas, tentar catequizar os índios e lutar com armas de fogo, conseguiu varrer do
solo rio-grandense as tradições, a lingual os valores e a cultura do índio do nosso estado. Os
pampeanos, chamados pelos brancos de "infiéis", pagaram caro por não aceitar o aldeamento
jesuítico. Foram exterminados lutando contra guaranis aldeados e espanhóis. Vale considerar
que vários grupos pampeanos, como os Jarós, foram exterminados por outros grupos
pampeanos. Os sobreviventes das lutas contra os espanhóis passaram a trabalhar para os
mesmos como peses e tropeiros. Os Charruas reagiram ferozmente à ocupação de duas terras,
atacando as povoações, de onde roubavam gado, erva-mate e fumo. Os guaranis aceitaram os
aldeamentos jesuíticos e se aliaram aos espanhóis. Constituíram um exército armado que
lutava ao lado dos espanhóis, contra os portugueses. Na Guerra Guaranítica foram quase que
totalmente dizimados. Os grupos que habitavam o leste do estado foram exterminados pelos
bandeirantes. Os Jês, embora resistissem bravamente na defesa de seu território, também não
tiveram melhor sorte. Muitos Jês tombaram em lutas com os Guaranis, seus inimigos; caíram
em mãos dos bandeirantes e muitos também morreram lutando contra os imigrantes que
vieram ocupar suas terras. Ofereceram maior resistência e sobrevivência por que sabiam
locomover-se nas matas como ninguém. As casas subterrâneas serviram de verdadeiras
armadilhas contra os imigrantes.
Os poucos índios que restaram destas nações foram ainda dizimados pelas doenças trazidas
pelo branco. Hoje no nosso estado temos pequenas reservas indígenas no norte do estado,
como Nonohay, e Cacique Doble, onde vivem juntos, descendentes dos Guaranis e Jês, outrora
inimigos. Encontramos, ainda hoje, nas beiras das estradas gaúchas, grupos guaranis,
vendendo balaios; eles não aceitaram viver nas reservas e preferiram o nomadismo, ainda
procurando a Terra Sem Mal.

TRADIÇÕES
Os indígenas do Rio Grande do Sul legaram-nos vários hábitos que hoje fazem parte nossos
costumes e tradições, como:
- várias palavras que estão no nosso vocabulário: mirim, piá, caipira, marcela e nomes de
varias cidades do nosso estado, etc..
- hábito de tomar chimarrão;
- uso de poncho e chiripá;
- conversar de cócoras;
- tomar chás;
- comer churrasco;
- uso do laço e boleadeiras;
- comer pinhão assado;
- a família caminhar em fila.

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OS ERVATEIROS
Descobertas novas terras, os boatos de grandes riquezas correram ate a Espanha. A cobiça dos
homens trouxe muitas caravelas para buscar o ouro, a prata e as pedras preciosas. Muito
sangue índio e espanhol foi derramado durante as viagens às matas desconhecidas. Várias
tentativas de construções de fortes e vilas não lograram êxito por causa dos ataques doa
índios. Parecia que a América nunca seria conquistada. Ate que surge o forte Nossa Senhora da
Assunção, com população espanhola. Em torno deste forte ergueram-se ranchos de barro e

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santa-fé para o abrigo dos recém-chegados; mais tarde foram erguidos: palácio, igreja,
oficinas. Foi a primeira capital do Prata. Mas a obra colonizadora não resistiu à cobiça do
homem, prosseguindo a luta pelos tesouros da nova terra. E Assunção foi palco de lutas
políticas, várias famílias são enforcadas na praça e outras fogem para as selvas. Chegam à
Espanha as noticias das desordens que campeavam no Prata. Vários "adelantados"
(governadores) são enviados para trazer a paz.
Com a vinda do General Irala a conquista da América se consolidou. Numa das expedições de
conquista, Irala pisou as terras de Guairá (Paraná) onde foi recebido por várias tribos guaranis,
com alegria e hospitalidade. Estes índios eram mais fortes, alegres e possuíam usos e costumes
diferentes de outras tribos desta grande nação. Entre estes hábitos, um chamou a atenção dos
espanhóis, era o uso generalizado de uma bebida feita com folhas picadas, tomada num
pequeno porongo através de um canudo de taquara. Os índios informaram aos espanhóis que
era "cadi", a bebida do mate. Antes esta bebida era de uso exclusivo dos pajés, depois foi
estendida aos guerreiros para ficarem fortalecidos para as lutas. Quando a paz voltou, o uso da
bebida continuou, pois todos estavam acostumados a ela. As folhas desta erva eram
facilmente encontradas pelos índios, pois onde viviam tinha muitas árvores, eram os ervais.
Os soldados espanhóis provaram desta bebida e sentiram que de fato ela causava bem estar,
tirava o cansaço e era repousante. Ao retornarem a Assunção, os soldados levaram um bom
carregamento de erva-mate. Em Assunção os índios trabalhavam como escravos para os
espanhóis, caçando, plantando e coletando frutas. Com a descoberta da erva-mate, os índios
passaram a fazer viagem ate Guairá para buscá-la. As viagens eram longas, sofridas, muitos
índios morriam pelo caminho de fome, febres, ataques de animais selvagens e insolação. A
Igreja tentou acabar com o hábito do chimarrão e com os escravos da erva-mate; tentou a
excomunhão e depois espalhou histórias de envenenamento, doenças causadas pela erva-
mate. Mas estas medidas nada adiantaram, o consumo do mate continuava, principalmente
entre os pobres e os soldados. Até que Felipe III, rei da Espanha, proíbe a escravidão dos
índios, devendo seus trabalhos serem remunerados e a extração da erva-mate seria feita
quatro vezes por ano e paga. Tais ordens foram obedecidas por pouco tempo, logo tudo volta
a ser como antes. A erva-mate chegou a ser moeda corrente na América.

MISSÕES
No século XV Portugal e Espanha eram os grandes descobridores de novas terras. Para evitar
disputas pelas terras descobertas, os dois países fizeram um acordo que foi chamado de
Tratado de Tordesilhas. Este tratado dizia o seguinte: "as terras descobertas a leste seriam de
Portugal e as terras descobertas a oeste seriam da Espanha". A linha de referência seria o
Meridiano de Tordesilhas. No Brasil esta demarcação não foi bem definida, os portugueses
acreditavam que suas terras iriam ate o sul do atual estado de São Paulo. Assim o Rio Grande
do Sul pertencia á Espanha e ficou fora da colonização portuguesa. Com a união das duas
coroas, Portugal e Espanha, não havia mais o Tratado de Tordesilhas, assim o Rio Grande do
Sul começou a receber a ação missionária de padres jesuítas a serviço da coroa portuguesa.
Houve várias tentativas de catequizar os índios do nosso litoral, mas estas missões não
lograram êxito, devido à ação escravagista doe paulistas e por revolta de índios que não
aceitavam a ação missionária.
Chamava-se missão a ação de evangelizar, levar a fé cristã aos índios. Os jesuítas que atuavam
em nome da coroa espanhola também tentaram catequizar os índios em terras espanholas,
mas suas missões também não surtiram o efeito desejado, pois tão logo os jesuítas se
retiravam das aldeias, os índios voltavam a viver conforme seus hábitos, abandonando a fé
cristã. Os jesuítas então receberam ordem da coroa espanhola de fundar reduções para os
indígenas. Redução era uma aldeia onde os índios viviam sob a orientação e ação missionária
contínua dos jesuítas. Na redução os índios estavam a salvo dos escravagistas portugueses e
espanhóis.

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Em 1610, os jesuítas espanhóis iniciaram as fundações de reduções na região de Guaíra, hoje
norte do Paraná; foram fundadas 15 reduções nessa região.
Em 1626 o padre Roque Gonzales de Santa Crus conseguiu atravancar o rio Uruguai e fundar a
redução de São Nicolau. Outros jesuítas também penetraram no Rio Grande do Sul fundando
outras reduções que geralmente reuniam em suas aldeias índios Guaranis Tapes; foram
fundadas nessa época 18 reduções no Rio Grande do Sul. Os jesuítas escolheram a Nação
Guarani para reduzir por várias razões: estes índios acreditavam em alma, eram acostumados
a obedecer o chefe, eram seminômades, estavam habituados à agricultura, faziam trabalhos
artesanais com cerâmica, palha e algodão e eram dóceis.
Em 1634 foi introduzido o gado nas reduções do Rio Grande do Sul pelo padre Cristóvão de
Mendoza, para a criação extensiva:. A criação de gado nas estâncias das reduções fez com que
os índios não abandonassem as aldeias quando faltasse alimento.
Em 1636 começam os ataques dos bandeirantes às reduções. Estes atacavam as aldeias para
escravizar os índios missioneiros e roubar o gado. Os bandeirantes capturavam os índios
aldeados porque estes já sabiam plantar e tinham alguma profissão como: carpintaria, olaria e
sabiam ler e escrever. Os jesuítas retiraram os índios que sobreviveram aos ataques para a
outra margem do rio Uruguai, onde foram viver nas reduções seis-tentes na Argentina e no
Paraguai.
Em 1641 o bandeirante Manoel Pires tentou atacar os missioneiros que já estavam na margem
ocidental do rio Uruguai, sendo derrotado na Batalha de Mbororê.
Com o fim da união entre Portugal e Espanha, o Tratado de Tordesilhas volta a ter validade;
não poderiam ser invadidas as terras de outro rei, por isso os bandeirantes se retiraram aqui
do sul e passaram a explorar as minas do atual estado de Minas Gerais.

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VACARIA DO MAR
Para os índios permanecerem nas aldeias jesuíticas, havia uma necessidade primordial, não
faltar alimentos. Caso faltasse alimentação, os índios reduzidos abandonavam suas reduções e
voltavam a viver segundo seus hábitos, crenças e costumes. Visando a suprir essa necessidade,
o gado foi introduzido nas reduções do Rio Grande do Sul em 1634, pelo jesuíta Cristóvão de
Mendoza. O gado também seria utilizado na agricultura e no transporte. Quando os
bandeirantes atacaram as reduções do Rio Grande do Sul, os jesuítas transferiram o gado para

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o sul do rio Jacuí, hoje a campanha gaúcha. Este gado encontrando boas pastagens e aguas se
reproduziu, formando a vacaria do mar, composto por rebanho de gado chamados chimarrão".
Destes rebanhos era retirado o gado para alimentar os índios das reduções da margem direita
do rio Uruguai. Mais tarde, portugueses e espanhóis descobriram a Vacaria do Mar e deram
inicio à exploração desordenada do gado. Eram abatidos animais para tirar couro e sebo e
eram retiradas tropas de gado muar e bovino para serem vendidas em São Paulo, na feira de
Sorocaba. Estas tropas, na sua grande maioria, iriam alimentar os escravos que trabalhavam
nas minas de Minas Gerais e para o transporte de carga. Em 1739, não mais havia gado nesta
vacaria.

VACARIA DOS PINHAIS


O gado das estâncias missioneiras espalhou-se para duas regiões do Rio Grande do Sul: a
Vacaria do Mar e a Vacaria dos Pinhais. Foi iniciativa dos jesuítas separar o gado de cria por
regiões agrestes, onde pudessem seguir o curem da natureza, evitando os abates feitos pelos
próprios índios aldeados, pelos pampeanos e pelos espanhóis. Com a exploração da Vacaria do
Mar, cresce ao nordeste do nosso estado, a Vacaria dos Pinhais. Para lá também foram
transferidos rebanhos da Vacaria do Mar, pelos índios missioneiros. O gado de cria também
fora transportado para esta vacaria, visando ao abastecimento das aldeias missioneiras.
Esta região do Rio Grande do Sul, com matas de pinheiros e de difícil acesso, cortada por vários
rios, serras e ratas, concentrou enorme quantidade de reses. Esta Vacaria estava mais ao
alcance das missões paraguaias do que dos tropeiros lagunenses e paulistas. A exploração
desta vacaria por espanhóis e portugueses teve seu inicio muito mais tarde. Primeiro pelos
coureadoros espanhóis que negociavam com a Colônia do Sacramento. Por volta de 1715 os
tropeiros lagunenses e paulistas descobrem esta vacaria, empenhados em descobrir novas
rotas para conduzir as tropas vindas do sul.

COLÔNIA DO SACRAMENTO
Para segurar o domínio das terras do sul do Brasil e para participar do contrabando da prata do
Pernil Dom Manoel Lobo aportou em 12 de janeiro de 1580 à península junto à ilha de São
Gabriel, no Rio da Prata. Fundaria neste local o forte militar e criaria um porto livre de
comercio. Desembarcaram com Dom Manoel Lobo 200 homens, 60 negros escravos, dois
jesuítas, oito índias e um mulher branca. Os espanhóis e os índios guaranis das reduções
atacaram em agosto de 1680 a Colônia do Sacramento e mataram os portugueses. A Espanha,
para não guerrear com Portugal, devolve a Colônia do Sacramento a Portugal, em 1681. Ao
longo dos anos, a Colônia do Sacramento prosperou, em 1734 já havia 2600 habitantes e 327
casas. O inicio da colonização deu-se com a instalação de 60 famílias transmontanas (casais
portugueses que vieram para o Brasil e aqui se instalaram, longe do litoral). Os navios traziam
do Rio de Janeiro, tecidos, alimentos, ferramentas, escravos, madeiras e ferro. Da Bahia vinha
o sal para a salga da carne e do couro. A Colônia do Sacramento contrabandeava com Buenos
Aires, que era apenas um porto militar, proibido de receber navios mercantes.
No inicio, a Colônia do Sacramento exportava prata, que recebia de contrabando de Potosí,
Peru e depois, mais tarde, o couro de toda a região platina, do gado da vacaria do mar.

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TROPEIROS E ESTÂNCIAS
Para dar maior apoio e defeca à Colônia do Sacramento, foi fundada Laguna, em Santa
Catarina. Com a fundação de Laguna, os portugueses intensificaram o comércio entre estas
duas vilas, fazendo as viagens pelo litoral, pois eram mais seguras que as viagens pelo mar.
Graças a este caminho , os portugueses descobriram a Vacaria do Mar, começando, assim, a
sua exploração. Os tropeiros vinham de Laguna arrebanhar o gado e levar tropas de mulas e de
gado vacum para serem vendidos na feira de Sorocaba, em São Paulo. Os donos das minas de
Minas Gerais vinham a essa feira comprar o gado da Vacaria do Mar, para alimentar os
escravos negros. As mulas eram vendidas para o transporte de cargas. Tropeiro é o homem
que conduz a tropa, que leva o gado de um lugar para o outro . Os tropeiros negociavam com

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os índios pampeanos, que arrebanhavam o gado da Vacaria do Mar. Grandes rebanhos eram
trocados por colares, facas, armas, fumo e etc.. Os espanhóis também entraram nesse-
comércio, do qual também participavam os gaudérios. O gaudério era um homem sem pátria,
sem lei e sem família. Vestia-se como os Charruas, com botas de garrão de potro, chiripá
poncho. Assaltavam estâncias missioneiras e também roubavam o gado da Vacaria do Mar.
Eram conhecidos na. Vacaria do Mar como chansadores (contrabandistas). Os tropeiros, ao
longo de suas viagens, faziam paradas para descanso da tropa e dos homens, eram as
invernadas. Nas invernadas havia os currais para o gado, O tropeiro Cristóvão Pereira
estabeleceu o caminho das tropas e currais, ao longo do litoral, EM Torres e ao norte do canal
de Rio Grande foram montados postos de cobrança de pedágio do gado, retirado da Vacaria
do Mar. Estes postos de pedágio, na época, eram chamados de registros. Esta rota dos
tropeiros pelo litoral era muito acidentada, tendo que atravessar muitos rios, Em 1727, foi
descoberto outro caminho, era a estrada de Morro dos Conventos, de onde as tropas atingiam
facilmente Lages, Curitiba e Sorocaba.

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SETE POVOS DAS MISSÕES
Retorno dos Jesuítas e índios Missioneiros ao RGS
Para impedir a penetração portuguesa nas terras do sul, o governo espanhol ordena aos
jesuítas o retorno à margem oriental do Rio Uruguai. Seriam fundados povoados no Rio
Grande do Sul, Como havia falta de brancos colonizadores, vieram com os padres os guaranis
das reduções. As terras seriam ocupadas com lavouras e estâncias. Teve inicio a segunda fase
das reduções jesuíticas aqui no nosso estado, chamada os Sete Povos. A primeira redução
construída foi São Francisco de Borja, em 1682. Os povoados seriam edificados seguindo o
modelo dos povoados espanhóis. O retorno ao nosso estado foi bem ordenado: primeiro
vieram alguns índios, liderados por um jesuíta, para a escolha dos locais das reduções,
construção das casas e o primeiro plantio. Cada redução teria, no máximo, 30 quilômetros de
distância da outra, para facilitar a comunicação em caso de perigo e necessidade de socorro.
As comunicações eram feitas no alto das igrejas, com sinais de espelho durante o dia e sinais
luminosos durante a noite.
Quando as casas estavam prontas, e o primeiro plantio na época de colheita, vinha o restante
dos habitantes daquela redução. Foram fundadas neste retorno sete reduções:
- São Francisco de Borja, em 1682;
- São Nicolau, em 1687;
- São Luiz Gonzaga, em 1687;
- São Miguel Arcanjo, em 1687;
- São Lourenço, em 1690;
- São João, em 1697;
- Santo Ângelo, em 1707.
- São Nicolau, fundada em 1626, pelo padre Roque Gonzales, teve sua construção no mesmo
local onde anteriormente foi construída. Duas tragédias marcaram o inicio desta redução: um
furacão e um incêndio que destruíram quase tudo. Mais tarde esta redução foi construída com
pedras.

MISSÕES – II PARTE

O ÍNDIO NAS ALDEIAS MISSIONEIRAS


O índio das reduções, em sua maioria, era Guarani, mas eram aceitos, também, índios de
outras nações: Jês, Pampeanos, desde que aceitassem o batismo, viver segundo as leis das
missões e os costumes dos Guaranis. Os índios eram muitos ingênuos e, para não serem
enganados pelo branco colonizador, era proibida a entrada de outro branco que não fosse um
missionário. O Guarani era como criança grande: indolente, imprevidente, fugiam do trabalho
sistemático, era dócil, trabalhava muito bem em esculturas, fazia instrumentos musicais e
gostava muito de musica. Foi através da musica que os jesuítas levaram o índio ao trabalho.

GOVERNO
Cada 40 ou 50 famílias eram confiadas a quatro ou seis caciques que determinavam e
controlavam o trabalho e distribuição de terras. O cacicado era hereditário.

FAMÍLIA
Os rapazes e moças casavam entre 15 e 17 anos, os noivos eram escolhidos pelas pais. Havia
vários casamentos num dia só, com uma grande festa para todos. A comunidade dava aos
casais a casa, a comida e a festa.

ENSINO
Os filhos dos caciques e os rapazes mais bem dotados aprendiam a ler e a escrever, além de
aprenderem também técnicas agrícolas.

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Às meninas eram ensinados trabalhos de tricô, costura e bordado. Todas as crianças que não
iam a escola aprendiam técnicas de agricultura e o oficio que quisessem aprender, nas oficinas.
Os professores eram índios, supervisionados por jesuítas.
Nas horas de lazer e descanso as crianças ficavam com a família.

VESTUÁRIO
As mulheres fiavam, teciam e costuravam as roupas, todas iguais; não usavam meias e nem
sapatos. Os homens usavam calças parecidas com chiripá e uma blusa do pano branco. As
mulheres usavam vestido sem mangas que descia até os calcanhares, um cinto e uma túnica
com mangas que só tiravam quando trabalhavam na lavoura. Recebiam uma muda de roupa
os adultos e duas mudas as crianças, no começo do ano.

HABITAÇÃO
A principal edificarão das aldeias missioneiras era a igreja, que ficava no centro. Na frente da
igreja, uma enorme praça chamada curralão. Cercavam a praça, em fileiras paralelas, as casas
dos índios, todas iguais, do tijolos não queimados e com telhas de barro. Todas as casas
tinham um avarandado, assim, andava-se em toda a aldeia sem apanhar sol ou chuva. As casa
não tinham janelas, só a porta da frente e a dos fundos; as repartições eram feitas com couros
e esteiras. O cemitério era do lado leste da igreja, junto ao hospital. r:o outro lado, a oeste da
igreja, ficava a casa dos jesuítas, o colégio e as oficinas. Tinha, também, a casa dos órfãos e
viúvas (cotiguaçú), a casa das ferramentas e das armas. Nos fundos da igreja ficavam a horta e
o pomar dos padres.

AGRICULTURA
Era coletiva três dias na semana; dois dias da semana cada família plantava em sua roça. O
produto plantado era de todos; as ferramentas eram de todos.
Plantavam: milho, mandioca, abóbora, trigo, algodão, cana-de-açúcar, hortaliças, arvores
frutíferas e erva mate.

PECUÁRIA
O gado das reduções era criado em est5ncias longe das aldeias. Perto das aldeias eram
mantidas invernadas, com gado de corte e leiteiro, cujos produtos eram repartidos entre
todos. A criação de pequenos animais domesticas, corno porcos, galinhas, patos, perus, era
feita dentro das aldeias.
O couro e o sebo eram vendidos em Buenos Aires ou trocados por sal e ferramentas

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OFICINAS
Os Índios tinham grande capacidade de imitar e, graças a esse dom, foi fácil ensinar-lhes as
artes mecânicas. Nas reduções fazia-se tudo que se necessitava, havia oficinas de: marcenaria,
carpintaria, funilaria, olaria, tipografia, farmácia, tecelagem, moinho, escultura e
industrialização da erva-mate.

ERVA MATE, FERRO, MADEIRA E TIPOGRAFIA


Os índios já tomavam o chimarrão, mas os jesuítas, pelo temor de que' nela se viciassem e pelo
tempo de trabalho que era perdido para toma-lo, proibiram o consumo da erva-mate. Provado
que o mate não viciava os jesuítas permitiram o seu uso, estipulando horários para o seu
consumo, começando, assim, o plantio dos grandes ervais. A erva-mate era vendida ou trocada
por ferramentas em Buenos Aires. O ferro era extraído na redução de São João, da pedra-
formiga. O padre Antonio Sepp, descobridor do ferro nas reduções, construiu a primeira
fundição deste metal no RGS. Nas fundições eram feitas ferramentas, utensílios domésticos,
além de sinos de cobre e ornamentos sacros de estanho.
A madeira era extraída para o uso das aldeias; nas construções, nas esculturas e queima de
lenha. As matas eram preservadas.
Foi numa aldeia missioneira que surgiu o primeiro livro do RGS. Vários livros foram escritos por
índios, em guarani e espanhol.

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FUNDAÇÃO DE RIO GRANDE
Com o objetivo de auxiliar a defesa da Colônia do Sacramento, povoar a região e regular as
relações entre os diferentes elementos povoadores, o Brigadeiro Jose da Silva Pais desembarca
no Canal de Rio Grande em 19 de fevereiro de 1737, encontrando-se com o sertanista
Cristóvão Pereira que o aguardava com uma tropa de gado. No local onde Cristóvão Pereira
aguardava a chegada de Silva Pais, à margem direita do Canal de Rio Grande, o Brigadeiro
ergue a primeira guarnição militar no Rio Grande do Sul, que recebeu o nome de Forte Jesus
Maria e Jose. Este forte deu origem à primeira vila gaúcha. Junto ao Forte, Silva Pais manda
edificar uma igreja, denominada Ermida de Jesus Maria e José da Fortaleza da Praia. Mais
tarde, construiu outro forte, o de Santana do Estreito, localizado mais ao sul do Canal de Rio
Grande. Para ampliar mais a defesa, construiu outro forte, o de São Miguel, este em território
uruguaio. Foram enviados recursos para defesa e desenvolvimento da povoação que se
formaria em torno do presídio Jesus Maria e Jose. Ali chegavam armas, munições, tropas,
suprimentos de farinha e os povoadores. A região litorânea, compreendida entre a Colônia do
Sacramento e o Canal de Rio Grande, era percorrida por aventureiros (índios, espanhóis,
portugueses e mestiços). Comercializavam e contrabandeavam o gado da Vacaria do Mar.
Estes indivíduos foram para as proximidades do Forte Jesus Maria e José, atraídos pelo
comercio que o futuro povoado prometia. Além dos aventureiros, havia o atraso no
pagamento do soldo às tropas, originando indisciplina dos soldados do forte e a falta de moças
casadouras para os soldados que ali estavam e que se uniam com índias e escravas.
Havia necessidade da presença de gente limpa, ligada a compromissos de família para alicerçar
o povoado que ali iria nascer. No final do ano de 1737, chegavam a Rio Grande alguns casais
povoadores, vindos da Colônia do Sacramento e outros casais do Rio de Janeiro, de São Paulo,
Bahia, Pernambuco e alguns índios Tupis e Guaranis das reduções. No ano seguinte também
chegavam alguns casais das ilhas da Madeira e dos Açores. Alguns casais do Rio de Janeiro e da
Bahia, trouxeram consigo escravos.
A esses casais foram doadas sesmaria para a criação de gado e datas para a agricultura.
A alimentação dos pioneiros era constituída só de proteínas, pelo consumo da carne
abundante nesta região. Esta dieta transtornou a saúde das pessoas que vieram do Reino, da
Bahia, de Minas e do Rio de Janeiro, que não estavam acostumados a ingestão tão grande de
carne.
Em 1738, chegam em Rio Grande as primeiras sementes de trigo, que foram plantadas pelos
casais povoadores. Rota cultura foi ampliada com a vinda dos casais de número, os Açorianos.
Nesta época também foi criada pelo governo militar, ao norte do canal, a estância Real do
Bojuru, para o fornecimento de carnes e cantarias à Guarnição da Comandância.

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TRATADO DE MADRI
A Linha de Tordesilhas nunca ficou bem definida para Portugal e Espanha. Esta imprecisão foi a
causa de muitas guerras entre as duas coroas; era necessário substituir o meridiano de
Tordesilhas por outro instrumento diplomático que desse exatidão aos limites ultramarinos.
Com o casamento do rei da Espanha com a princesa portuguesa e, do rei de Portugal com a
princesa espanhola, foi possível fazer um novo tratado entre as duas coroas. Em 1750, foi
assinado o Tratado de Madri na Espanha. Este tratado, no Rio Grande do Sul, dizia que a
Colônia do Sacramento seria entregue aos espanhóis e os Sete Povos das Missões seria
entregue aos portugueses. Pela primeira vez no mundo foi feito um tratado em que se adotou
os limites naturais como fronteiras e que cada coroa ficaria com o território que já tivesse
ocupado.
À Espanha muito interessava este tratado, porque o contrabando entre a Colônia do
Sacramento e Buenos Aires provocava uma sangria nos cofres da corda, espanholas, As
mercadorias saia e entravam sem o pagamento dos impostos aos órgãos oficiais.
O Tratado de Madri determinava que os índios missioneiros deveriam abandonar suas
reduções, podendo levar seu gado, o produto de suas lavouras e outros bens, evitando, assim,
possíveis revoltas dos índios contra Portugal.
Para assegurar a posse dos Sete Povos, Portugal mandaria para lá casais açorianos para
colonizar.

GUERRA GUARANÍTICA
Os índios missioneiros foram criados no ódio contra os portugueses, sempre engrossaram as
tropas de soldados espanhóis nas lutas contra os portugueses na Colônia do Sacramento, logo,
não entenderam porque seu rei ordenam que abandonassem seus povos e suas terras,
entregando-os ao inimigo que sempre combateram.
Deveriam mudar-se para outras reduções entre os rios Uruguai e Paraná. Os missioneiros
daquela região não aceitaram essa mudança porque lá não havia mais terra para assentar os
povos com suas lavouras.
Os Jesuítas ficaram numa posição muito difícil, pois deviam obedecer o tratado mas também
tinham muito amor e zelo pelos catecúmenos e seus povos. Em algumas reduções, os índios
prenderam os jesuítas, liberando-os apenas para rezar a missa.
Os missioneiros reuniram-se para se opor aos homens que aqui viriam traçar a linha
demarcatória do tratado.
Gomes Freire de Andrada comandaria os portugueses no cumprimento do tratado.
Determinou a construção de vários postou de abastecimento das tropas portuguesas, entre
eles o Forte Jesus e José, na confluência do Rio Pardo com o Rio Jacu/. Este forte receberia dos
missioneiros o nome de Tranqueira do Rio Pardo, pela resistência que manteve aos ataques
dos missioneiros. Ali também nasceu a atual cidade de Rio Pardo. No Canal de São Gonçalo,
que liga a Lagoa Mirim com a Lagoa dos Patos, Gomes Freire manda construir outro forte,
chamado Forte de São Gonçalo.
Em 12 de novembro de 1752, teve inicio a demarcações em Castilhos. Em 27 de fevereiro de
1753, os índios missioneiros detiveram os demarcadores em Santa Tecla; eram comandados
por Sepé Tiarajú, alferes real de São Miguel. Os demarcadores atribuíram a resistência dos
índios aos jesuítas que queriam proteger seus tesouros escondidos nos povos.
Portugueses e espanhóis recuaram e esperaram novas ordens da coroa-espanhola. Enquanto
não vinham novas ordens, os jesuítas tinhas esperanças que o tratado fosse revogado, pelo
menos a cláusula XVI, que tratava da evacuação do território.
Em maio de 1753 veio a ordem da Espanha: seria dado o prazo de um mês para as Missões
serem evacuadas, caso contrário, os dois exércitos iniciariam a campanha.
Em maio de 1754 teve inicio a investida contra na Missões, saindo Andonaengui, governador
de Montevidéu, com um exército de dois mil soldados, seguindo a margem esquerda do Rio

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Uruguai. Os portugueses chefiados por Gomes Freire de Andrada, deveriam esperar o
comandante espanhol em Rio Pardo. O inverno rigoroso, as inundações e os ataques dos
Índios, fizeram com que os espanhóis retrocedessem para Montevidéu. Gomes Freire, com
muito trabalho e perda de gq0o e de soldados, conseguiu chegar a Rio Pardo.
Enquanto Gomes Freire aguardava ordens do comandante Andonaengui, em Rio Pardo, os
missioneiros cercavam e hostilizavam o forte. Os caciques queriam entabular um
entendimento com o General português. Foram recebidos dentro do forte e chegaram a
assinar um tratado, firmado por Gomes Freire de Andrade e caciques das Missões de Santo
Ângelo e São Luiz. Este tratado dizia que os portugueses não passariam de Rio Pardo em
direção ao noroeste e os missioneiros manter-se-iam em seus Povos.
Gomes Freire recebeu e assinou o tratado com os Índios missioneiros, não o destruindo,
porque ao exército português não competia dirigir a ação contra os índios, apenas apoiar o
exército espanhol.
O ano de 1755 fora quase todo consumido em preparativos para o ataque às Missões.
No início do ano de 1756, reuniram-se os exércitos espanhol e português, na cabeceira do Rio
Negro e marcharam em direção aos Sete Povos. Durante a marcha os exércitos sofreram vários
ataques de guerrilhas comandadas por Sepé Tiarajú. No dia 7 de fevereiro de 1756 morre Sepé
Tiarajú num ataque contra os espanhóis.
Apesar da morte de Sepé, as lutas continuaram e com mais intensidade. Os exércitos moviam-
se com lentidão devido ao forte calor e aos aguaceiros. A luta culminaria no dia 10 em Caibaté,
quando os exércitos encontram 1500 índios guaranis comandados por Nicolau Neenguirú,
corregedor da redução de Concepción.
Os índios armados com flechas, lanças, boleadeiras e algumas espingardas, enfrentaram dois
exércitos armados e treinados. O massacre foi inevitável, morreram mais de 1000 índios,
enquanto os portugueses tiveram um morto e os espanhóis dois.
Os exércitos continuaram rumando para as Missões, e, ao longo do caminho ainda sofreram
ações de guerrilhas missioneiras. No dia 16 de maio de 1756 espanhóis e portugueses entram
em São Miguel, que ardia em chamas, sendo que deste incêndio salvou-se apenas a igreja.
Os exércitos espanhóis e portugueses arrasaram com a resistência missioneira, mas não
apressaram o cumprimento do tratado, pois os trabalhos de demarcação foram ate a foz do
Ibicuí, sendo, ai, paralisados.
Não havia mais interesse das partes em cumprir o tratado, pois os espanhóis descobriram
muito tarde que estavam entregando sete povoados prósperos, com casas de pedra, imensas
lavouras e, os portugueses constataram que não havia minas e nem tesouros na região.
Alguns missioneiros permaneceram na região missioneira, outros foram para as reduções da
margem ocidental do Rio Uruguai.
Os portugueses quando de lá se retiraram, trouxeram missioneiros para fundarem a aldeia dos
Anjos (Gravataí), São Nicolau do Rio Pardo e Cachoeira. O tratado de Madri serviu apenas para
destruir os Sete Povos, pois a guerra abalou a confiança dos índios nos jesuítas e nas
autoridades, além de destruir estâncias , lavouras e ervais.
Mais tarde, em 1761, este tratado foi anulado com o Tratado de Rio Pardo.

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IMIGRAÇÃO AÇORIANA
Com a penetração portuguesa no Rio Grande de São Pedro, havia necessidade de casais para
povoar e colonizar as terras, assegurando, assim, a posse das mesmas.
O pedido da vinda de casais para o sul do Brasil foi feito desde a fundação da Colônia do
Sacramento, mas poucos casais para aqui vieram, sendo, na sua grande maioria, casais
portugueses e brasileiros vindos de Laguna, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais e São Paulo.
O Arquipélago dos Açores é um conjunto de nove ilhas vulcânicas que pertencem à Portugal.
A. erupção vulcânica na Ilha de Faial flagelou seus moradores que foram transferidos para
outras ilhas do arquipélago. A superpopulação das ilhas, a falta de terras para o plantio, os
muitos flagelos da natureza e a miséria em que viviam, levaram os açorianos a pedir novas
terras ao Rei.
Em 1746, foi ordenada a vinda de casais de número (grupos de 60 casais que seriam
distribuídos em cada povoado a ser formado). Os colonizadores não poderiam ter mais de 40
anos os homens e as mulheres não mais de 30 anos.
Deu-se inicio à propaganda para atrair os novos colonizado-' res, sendo-lhes oferecido:
passagem gratuita ate a nova morada, ferramentas, aramas, sementes, alimentação por um
ano, isenção do serviço mi litar, datas para plantar, duas vacas, uma égua, quatro touros e dois
cavalos, sendo os touros e os cavalos para uso de mais de ura família, e dinheiros
Estas promessas, não foram devidamente cumpridas, pois as datas demoraram muito a serem
repartidas e doadas. (Data era uma determinada porção de terra para plantar).
No inicio do ano de 1748, chegam em Santa Catarina os primeiros casais açorianos, os quais
enfrentaram uma longa viagem onde passaram fome, ficaram doentes, enfrentaram epidemia
como o escorbuto, e más acomodações, Vários morreram na travessia do Atlântico,
principalmente crianças. As outras viagens que aconteceram, trazendo mais casais açorianos,
não foram diferentes da primeira.

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Em 1752, começam a chegar em Rio Grande os primeiros casais açorianos que desembarcaram
em Santa Catarina. Os açorianos seriam levados para a região Missioneira, mas enquanto não
se cumpria o tratado de Madrid, foram conduzidos a vários núcleos que seriam por eles
povoados, como: Rio Grande, Viamão, Porto do Viamão (Porto Alegre), Triunfo, Santo Amaro e
Rio Pardo. Depois da invasão espanhola, os casais que habitavam o Rio Grande, foram pare o
Uruguai, outros fugiram para o Norte, povoando: Estreito, Taquari, Santo Antônio da Patrulha,
Mostardas e Cachoeira. Alguns se dirigiram à região da campanha, adquirindo sesmarias,
dedicando-se à pecuária, povoando, assim, a campanha gaúcha. O açor/sano adaptou-se bem
ao Rio Grande de São Pedro, dedicando-se à agricultura, plantando: trigo, algodão, centeio,
cevada, legumes, arroz, cebola, alpiste, melancia, cana de açúcar e uva. Povo católico, de
principio morais rígidos, os açorianos fizeram respeitar seus lares e suas famílias. Os índios, os
castelhanos, os gaudérios, os aventureiros, que se aproximaram dos povoados dos ilhéus,
assimilaram seus costumes e suas tradições. Dos açorianos também é a hospitalidade que o
gaúcho herdou, hoje tão apreciada pelos turistas.
Suas festas religiosas como: Terno de Reis, Festas Juninas, Festa do Divino, assim como as
procissões, as novenas e os presépios ajudaram a formar a tradição gaúcha. £ arquitetura bem
portuguesa de nossas primeiras construções, assim como o uso do tamanco e do chapéu de
palha, são costumes que se somaram na formação das tradições do gaúcho.
Na culinária gaúcha os açorianos contribuíram com: sonho, arroz de leite, os famosos doces
portugueses e uma grande variedade de pratos com peixe. Na música e na dança
tradicionalista gaúcha, os ilhéus deixaram a sua herança, como: o balaio, o tatu, o pezinho, a
cana verde, a dança do pau de fita. O açoriano ainda transmitiu ao gaúcho a técnica de plantar
pelo sistema do pousio (cultiva-se a terra por dois anos consecutivos e deixa-se ela descansar
por outros dois anos).

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INVASÃO ESPANHOLA
Desde a anulação do Tratado de Madrid, e= 1761, a política entre a Espanha e Portugal estava
muito delicada. Portugal se alia à Inglaterra na Guerra dos Sete Anos, na Europa, e não
participa do Pacto de Família, ficando, assim, novamente contra a Espanha. Sabendo dos
atritos políticos entre as duas coroas, D. Pedro Cevallos, governador de Buenos Aires, prepara-
se para invadir as possessões portuguesas aqui no sul. Gomes Freire, sabendo dos planos de
Cevallos, fortifica e abastece o Forte Jesus Maria e Jose e mobiliza a população de Rio Pardo

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para a defesa do povoado. Esta defesa faria jus ao apelido que recebeu este forte: Tranqueira
de Rio Pardo. A Espanha declara guerra a Portugal e, em 29 de outubro de 1762, D. Pedro
Cevallos invade a Colônia do Sacramento. Para assegurar a defesa das possessões portuguesas,
Gomes Freire manda construir, em fins de 1762, o Forte Santa Tereza, situado ao sul do Forte
de São Miguel. O governador de Buenos Aires segue a sua marcha conquistadora, tomando os
Fortes Santa Tereza e São Miguel, em 1763. Estes fortes foram facilmente conquistados por
Cevallos, devido às ordens contraditórias entre seus comandantes. A maioria dos soldados
entregou-se com seu comandante e muitos fugiram em direção a Rio Grande. O governador de
Rio Grande, Elói Madureira, deveria a muito tempo ter conduzido sua administração e a
população com seus bens para a outra margem do canal, mas não toou tal providencia. Com a
chegada dos soldados dos fortes conquistados, houve uma fuga em massa dos soldados e da
população. Armazéns foram saqueados, igrejas assaltadas e não havia canoas suficientes para
a travessia do canal. Os colonos açorianos foram os que mais sofreram, gente pobre e se=
proteção, tiveram que abandonar suas lavouras e seus animais para o invasor. Muitos destes
colonos, surpreendidos em suas chácaras pelos espanhóis, foram enviados para o Uruguai,
onde se estabeleceram. Outros fugiram para a Campanha Gaúcha, dedicando-se à pecuária.
No dia 24 de abril de 1763 o comandante espanhol D. Jose Molina ocupa Rio Grande. Os
portugueses tentaram defender a outra margem do canal, impedindo e investida espanhola
ate Rio Pardo e ate a Ilha de Santa Catarina. Mas diante do ataque fulminante de Cevallos, os
poucos soldados portugueses não resistiram. Os espanhóis postaram guardas em São José do
Norte e impediram a passagem de embarcações portuguesas pelo canal. Os portugueses
tinham dificuldades de abastecer e articular seus soldados, pois não podiam navegar na Lagoa
dos Patos e no canal de Rio Grande. O comércio entre os povoados também estava
comprometido. A sede do governo fora transferida para a Capela do Viamão, onde já havia um
registro. Os portugueses adotam a prática de guerrilhas na Campanha e no nordeste do
estado, privando OB espanhóis de gado e cavalhadas. Com a assinatura do Tratado de Paris, a
Espanha deveria entregar a Portugal a Colônia do Sacramento e Rio Grande. Cevallos entregou
a Colônia do Sacramento, mas negou-se a entregar Rio Grande. Em julho de 1767 os jesuítas
são expulsos dos Sete Povoo. A direção das aldeias missioneiras foi confiada aos Franciscanos e
administradores passaram a cuidar dos negócios das Missões. A expulsão dos jesuítas das
Missões trouxe tranquilidade aos portugueses, pois os índios não aceitaram os novos chefes e
voltaram à vida selvagem. O coronel José Marcelino de Figueiredo e nomeado governador de
Rio Grande de São Pedro em nove de março de 1769. Recebe ordens de fundar novas
povoações para impedir novas invasões espanholas. José Marcelino transfere a sede do
governo para Porto dos Casais e cria as fragua sias de Taquari e Santo Amaro. Em 1772, os
missioneiros constroem o Forte de Santa Tecla para dali as tropas espanholas partirem e
atacar Rio Pardo e Campos do Viamão, este forte localizava-se perto de Baga. O exercito
espanhol avança em direção a Rio Pardo mas e surpreendido pelas tropas de Rafael Pinto
Bandeira. Mas os espanhóis não se detém e chegam ate Rio Pardo, porém recuam e retornam
para Rio Grande, sendo fustigados pelas guerrilhas portuguesas. Em fevereiro de 1776 as
tropas luso-brasileiras cercam o Forte de Santa Tecla e, em 24 de março, os espanhóis
entregam o forte que é arrasado pelos luso-brasileiros. Estes depois ocupam as estâncias
missioneiras, roubam o gado e dividem as terras entre o rio Jacuí e Camaquã, em sesmarias.
Finalmente, em 2 de abril de 1776, os portugueses retomam a vila de Rio Grande, após o cerco
por terra e mar.
Os espanhóis não queriam aceitar a derrota em Rio Grande e prepararam nova ofensiva por
mar. Como foram impedidos de chegar a Rio Grande, devido aos fortes ventos, resolvem
atacar a Colônia do Sacramento e, em 3 de abril de 1777, começam a desmantelar a fortaleza
que motivou tantas lutas. A paz retorna às duas coroas com a assinatura do Tratado de Santo
Ildefonso, em 12 de outubro de 1777, o qual estabelecia que a Colônia do Sacramento seria
entregue aos espanhóis e seriam criados os campos neutrais ao longo da linha divisória.
Campos Neutrais

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Os campos neutrais estabelecidos no Tratado de Santo Ildefonso, constituíam faixas de terras
compreendidas entre a Lagoa Mirim e a Lagoa Mangueira e a costa marítima. Também ficaria
reservado, no restante da linha divisória, um espaço suficiente entre as duas nações. Nos
campos neutrais, portugueses e espanhóis, não poderiam construir povoações, fortalezas,
guardas ou postos de tropas. Assim esta terra ficaria neutra, sendo, também, proibida a
passagem de portugueses e espanhóis. A Espanha, ao exigir os campos neutrais, tinha o
objetivo de terminar com o contrabando, principalmente da prata do Parti, e evitar o
crescimento do comércio livre que já existia nesta região. Este corredor de terras neutras não
impediu o comércio aqui no sul, pois as tropas de mulas e cavalos e a indústria de charque que
se desenvolveu ao longo do Canal de São Gonçalo, continuaram a transitar pelo território.
Ainda eram comercializados fumo, ponchos e ervas.
Os campos neutrais trouxeram novas preocupações para os moradores de Rio Grande de São
Pedro, pois estas terras atraíram aventureiros, mestiços, índios e brancos rebeldes à ordem,
tornando-se uma terra de ninguém. A demarcação dos campos neutrais nunca acabou, sendo
que os demarcadores foram até a região de Santa Maria e dali retornaram, após a conquista
definitiva da região das Missões.

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O charque já era produzido no Rio Grande do Sul pelos jesuítas, nas reduções. Os
charqueadores (gaudérios), os Tropeiros, os estancieiros e os militares, também faziam o

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charque, como processo de conservação da carne que sobrava das carreadas. Este charque era
um produto caseiro, feito em pequena escala e não era comercializado. As estâncias do litoral
gaúcho, a partir de 1725, iniciam a fabricação do charque para seu consumo, sendo que o
couro e o sebo eram exportados. Na região do Quinta foi onde primeiro surgiram as
charqueadas no litoral. José Pinto Martins, português, produzia carne-seca no Ceará. Se instala
às margens do rio Pelotas, em 1779, e dá início à fabricação do charque em grande escala, para
exportação. Em pouco tempo são instaladas várias charqueadas ao longo do rio Pelotas e do
Canal de São Gonçalo. Jose Pinto Martins não foi o pioneiro das charqueadas, mas deu o
impulso comercial ao charque e desenvolveu e povoou uma região do nosso estado, ate então
deserta. Mais tarde as charqueadas acompanharam o povoamento e a instalação das estâncias
no nosso estado. Do litoral, as charqueadas foram sendo instaladas seguindo o rio dos Sinos,
chegando às margens do Guaíba e do Baixo Jacu/. Durante um século o charque foi o produto
básico da economia rio-grandense. Acompanhavam-no o couro, as gorduras e outros produtos
da indústria saladeiril. O charque era vendido para o centro e o norte do Brasil, principalmente
para a alimentação dos escravos. O trabalho nas charqueadas era duro e estafante, nem
mesmo um branco pobre aceitava trabalhar nas charqueadas. Surge a necessidade da mão-de-
obra escrava com o crescimento da produção. Em pouco tempo todas as tarefas nas
charqueadas eram feitas por escravos e, aos brancos, eram destinados os trabalhos de
administração e controle dos escravos.

NEGRO NO RIO GRANDE DO SUL


Os negros entraram no Rio Grande do Sul com os primeiros casais povoadores de Rio Grande e
com alguns oficiais militares, na condição de escravos. Mais tarde, alguns estancieiros donos
de sesmarias, também trouxeram escravos. Nas estâncias o trabalho escravo restringia-se às
lides domésticas e às lavouras. Os negros abasteciam a casa de égua, lenha, ordenha de leite,
cuidavam dos animais domésticos, plantavam, cozinhavam, lavavam roupa e cuidavam da
limpeza, organização e abasteci mento da casa do senhor da estância. Os primeiros
estancieiros do Rio Grande do Sul não utilizavam o negro como peão, pois poucos peões índios
e mestiços davam conta do serviço com o gado, junto com o patrão. Além disso a atividade
campeira exercida pelo senhor branco, o escravo não poderia fazê-la. Só depois de muitos
anos, com a mão-de-obra indígena escassa e que o negro passou às lides campeiras,
acompanhando seu senhor e tornando-se ótimo peão. Vale salientar, também, que no
principio o peão negro não usava o cavalo, para não facilitar uma provável fuga e não ficar em
igualdade com os peões brancos e o seu senhor. Na agricultura, os açorianos apelaram para o
trabalho do negro, na derrubada das matas e na abertura de estradas. O trabalho negro
também se fez presente nas plantações de trigo dos açorianos.
Na região de colonização alemã e italiana não foi utilizado o trabalho do negro escravo, devido
a uma lei que proibia o trabalho do negro como escravo. É na charqueada que a presença do
negro escravo se destaca, pois todo o trabalho neste estabelecimento é feito por ele.
Carneadores, salgadores, graxeiros, marceneiro, pedreiro, carpinteiros, tripeiros, carreteiros,
serventes, escravos para o serviço da casa eram algumas atividades realizadas pelo negro
escravo nas charqueadas. O trabalho nas charqueadas era tão estafante que servia de ameaça
aos senhores do norte do Brasil aos seus escravos. Durante o verão e o outono era intenso o
trabalho com a matança do gado e a salga dg carne. Eram 12 ou 14 horas diárias de trabalho,
expostos ao sal que lhes corroía a pele e a carne, ao calor do fogo das graxeiras e do sol
estendendo mantas de charque e matando o gado.
A presença do negro também se fez presente nas lutas rio-grandenses, defendendo a
propriedade do seu senhor dos ataques dos espanhóis, nas lutas pelas fronteiras rio-
grandenses e na Revolução Farroupilha. Aos negros escravos que se alistassem às tropas
republicanas eram-lhes oferecidas cartas de alforria. Mesmo lutando ao lados dos brancos
pelo mesmo ideal, os acampamentos de guerra doe negros eram separados doe brancos e, ao
negro, era proibido o uso de armas de fogo. Nas cidades antigas, o negro escravo fazia a maior

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parte do serviço que hoje é feito por máquinas: puxava água dos poços ou trazia das fontes,
abastecia a casa de alimentos e lenha, cozinhava, lavava, passava roupa, fiava, tecia e
costurava a mão; carregava cargas, cuidava de animais domésticos; eram carpinteiros e
marceneiros; nos estabelecimentos comerciais trabalhavam nos depósitos e não atendiam o
balcão. Assim como aconteceu em todo o pais, aqui no Rio Grande do Sul também teve a
existência de quilombos (lugares onde negros escravos fugidos viviam). Existiram quilombos na
Serra de Tapes, perto de Pelotas e na região do Litoral Norte.
Influências do negro na cultura e folclore rio-grandense
No folclore gaúcho encontramos várias lendas negras, embora seja salientada somente a do
Negrinho do Pastoreio. Temos lendas negras como: Pai Manoel, Lagoa Negra; Lenda da Lagoa
da Pinguela, Santa Rosa, Torres da Igreja das Dores, Escrava Honrada, Pai Quati, Andorinha,
Ressuscitado e Cambai. No vocabulário gaúcho também encontramos palavras de origem
africana, como: matungo - cavalo velho; chandango, mocotó, fulo, tunda, monjolo, quitanda,
cachimbo, milonga, sanga, cacimba, marimbondo, mondongo, pombo, fandango; chambão -
surrado; gimbo - moeda; fuá -arisco; moleque - guri. Também na culinária o negro deixou sua
contribuição: o mocotó, a feijoada e o quibebe. Não podemos deixar de salientar a cozinha
religiosa, imensa e variada. Era feita pelos negros e oferecida aos seus santos, mas muito
apreciada pelos brancos, como: quindim, cocadas, rapaduras, pratos com carne de porco,
galinha e carneiro. Nas festas tradicionais temos também a contribuição do negro, tais como a
de Nossa Senhora, dos Navegantes, Divino Espirito Santo, São Benedito e o Carnaval. No
litoral: congadas, quicumbis, moçambiques.
O negro trouxe para o Rio Grande do Sul seus cultos religiosos que atualmente tem seguidores
brancos, como: o batuque e a umbanda.

CONQUISTA DAS MISSÕES


Após a assinatura do Tratado de Santo Ildefonso, em 1777, o Rio Grande de São Pedro viveu
alguns anos de paz e a capitania prosperou. Novos casais açorianos aqui chegaram,
intensificando a agricultura nas datas repartidas e doadas; a indústria do charque e da
tourama progredia e a pecuária crescia com a instalação de inúmeras estâncias nas sesmarias
doadas. A paz trouxera a diminuição dos militares que trocaram as fileiras por sesmarias,
tornando-se proprietários de estâncias. Os povoados e as estancias prosperavam,
contrastando com a pobreza e a desorganização dos Sete Povos. Desde a expulsão dos
Jesuítas, os Sete Povos, entregues à administradores leigos, perderam todo o seu apogeu e
organização social: casas em ruínas e lavouras abandonadas, os índios voltando a viver
conforme seus antigos costumes, aventureiros de ambas as Coroas roubando o gado das
estâncias missioneiras. Os portugueses_ sabiam da situação em que se encontravam os Sete
Povos, além de abandono social e econômico, estavam praticamente desguarnecidos de força
militar e os poucos índios que lá moravam, odiavam os administradores espanhóis. Logo as
Misses tornaram-se uma presa fácil e tentador& para os portugueses. Na Europa, a Espanha
declara guerra a Portugal, em 2 de março de 1801; este acontecimento repercutiu em Rio
Grande de São Pedro, o governador Veiga Cabral retine os poucos recursos e soldados que
dispõe, (convocou os soldados, anistiou desertores e chamou licenciados), fortalece a Vila de
Rio Grande e a tonteira de Rio Pardo. Prevendo ti perigo ante uma nova guerra contra os
espanhóis e constatando a miséria do exército português, o povo supriu espontaneamente a
organização militar. Esta união levou o exercito português à vitória. Os espanhóis tombem
estavam com seu exercito enfraquecido. Diante do ataque das forças portuguesas recuaram
para suas fortificações, porem não resistiram muito tempo. Os espanhóis entregaram aos
portugueses o Forte de Cerro Largo e outros pontos de fronteira, como o Forte Santa Tecla, a
vila São Gabriel do latovi e uma vasta região duo Missões.
José Borges do Canto era um dos soldados anistiados, conhecedor dos campos do oeste do Rio
Grande de São Pedro, fazia o tráfico de mu ares e gado vacum daquela região. Ao apresentar-
se em Rio Pardo, recebeu a missão de atacar os Sete Povoe. Se desse certo seria promovido à

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capitão, mas se fracassasse seria abandonado como desertor, não com prometendo, assim, o
governo da capitania. Com armas e munições e a liberdade de engajar nesta missão homens
que quicassem colaborar, Borges do Canto partiu com 14 desertores. Durante a jornada
incorporaram-se 26 combatentes e mais 300 índias missioneiros descontentes. Depois de
atacar alguns redutos fortificados, Borges do Canto dirige-se para São Miguel, agora já com um
exército de 1000 índios. No dia 8 de agosto de 1801 sitiou São Miguel e 3 dias depois o
governador espanhol entrega esta missão. Com o auxílio dos caciques guaranis as outras
missões foram também entregues pelos espanhóis, havendo resistência apenas em São Borja,
a qual foi vencida em 23 de novembro. A região missioneira foi povoada por tropeiros
paulistas e curitibanos que receberam sesmarias. A posse das Missões pelos portugueses
Sofreu ainda muitos ataques de espanhóis descontentes com a perda deste território. Quando
a noticia de paz entre as duas Coroas aqui chegou, os luso-brasileiros ampliaram a capitania de
Rio Grande de São Pedro, somando-se, ao território português, as Missões, ate o rio Ibicuí e
toda a área sul, do rio Camaquã ate o rio Jaguarão.

IMIGRAÇÃO ALEMÃ
Quando a família real veio para o Brasil, em 1808, o rei D. João percebeu a necessidade de
povoar e colonizar o Brasil. Por isso, liberou a imigração estrangeira.
No inicio do século XIX, as terras de fácil ocupação estavam mãos de sesmeiros ou de
posseiros. As terras de difícil acesso, coma nos sertões e nas florestas, estavam desertas.
O governo acaba com as doações ou compras de sesmarias e dá inicio a uma nova fase
colonizadora.
Seriam criadas pequenas colônias agrícolas, onde se desenvolveria a classe média para
movimentar o mercado interno; povoaria as terras de difícil acesso; aumentaria a população
brasileira; serviria de exemplo à sociedade brasileira da época, que via o trabalho só para
escravos; iria diversificar a produção, que era basicamente oriunda da pecuária.
Após a independência do Brasil, fazia-se necessário aumentar ac tropas do novo exército
brasileiro. D. Pedro I, seguindo sugestões de sua esposa D. Leopoldina, libera a imigração de
alemães para o Brasil.
Aos imigrantes alemães eram prometidos: passagem gratuita, doações de lotes de terra
(datas), dinheiro para manter-se por um ano e meio, seriam naturalizados, seriam cidadãos
brasileiros, liberdade de religião, não pagariam impostos por 10 anos, doação de bois, cavalos
e ferramentas, de acordo com o número de pessoas de cada família.
Muitos alemães desejavam abandonar sua pátria superpovoada e buscar novas oportunidades
em outros países, onde pudessem ter um pedaço de terra para produzir, oferecendo um
futuro melhor aos seus filhos, com liberdade política e independência econômica. Inicia-se na
Europa a explosão industrial, com a valorização dos profissionais técnicos e a produção no
campo voltando-se para as mate rias-primas. Abandona-se a agricultura de subsistência, para
fornecer lã ;ara as indústrias têxteis. Sobra mão-de-obra não especializada nas cidades para a
qual os salários pagos são baixíssimos. Logo os alemães tinham bons motivos pare emigrar.
Dos 841 primeiros imigrantes alemães que chagaram no Brasil, somente 38 foram enviados
para o Rio Grande do Sul. O restante ficou no Rio de Janeiro, incorporando-se ao exercito
brasileiro. Os alemães enviados ao Rio Grande do Sul seriam conduzidos para a antiga Real
Feitoria do Linho-Cânhamo. No dia 18 de julho de 1824 chegam em Porto Alegre, onde são
recebidos pelas autoridades, sobem o rio dos Sinos em lanches e desembarcam em 25 de julho
de 1824 (25 de julho e o Dia do Colono atualmente em nosso estado). Estiveram arranchados
nos barracões dos escravos da Feitoria do Linho-Cânhamo, ate que iniciasse a medição dos
lotes de terra. A demarcação das datas de moraram muito. Muitas desavenças entre as
famílias dos colonos ocorreram, devido a reedições erradas das datas. A Feitoria do Linho-
Cânhamo recebeu o nome de Colônia de São Leopoldo, em homenagem à imperatriz D.
Leopoldina. Ate 1830 entraram na província 4856 imigrantes alemães, fundando, além de São
Leopoldo, São Pedro de Alcântara e Três Forquilhas, ambas perto de Torres. Os imigrantes

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alemães não eram somente agricultores, havendo, entre eles, médicos, farmacêuticos,
joalheiros, seleiros, canoeiros, ferreiros, carpinteiros, pintores, sapateiros, alfaiates e
pedreiros. Com elementos de profissões tão variadas, os alemães deram início à indústria
familiar nas sedes dos povoados, dando origem às primeiras indústrias gaúchas. Durante a
Revolução Farroupilha foi interrompida a vinda de imigrantes alemães para o Rio Grande do
Sul. Somente com o termino desta luta é que reinic6ou a vinda de novos imigrantes alemães,
começando o avanço colonizador pela Costa da Serra e os Vales do Cai, Taquari e Jacuí. Os
alemães fundaram várias cidades no Rio Grande do Sul, como: Santa Cruz do Sul, São Sebastião
do Cai, Canela, Gramado, Estrela, Lajeado, Sapiranga e Dois Irmãos. Na tentativa frustrada de
enviar colonos alemães para a região da Missões, surgiram as cidades fundadas pelos
imigrantes que por aquela região se espalharam, como: Santa Rosa, Ijuí, Cruz Alta, Santa
Bárbara e Criciumal. Mais tarde esta região recebeu novos imigrantes alemães. Os imigrantes
alemães enfrentaram várias dificuldades no Rio Grande do Sul, como: demora e marcação
errada das datas, dinheiro prometido não era recebido - eram logrados ao recebê-lo em
gêneros alimentícios, não conheciam sementes apropriadas e a época do plantio, ataques dos
índios (Jês), diferentes cultos religiosos (católico e protestante), ausência de escolas, língua
estranha, dificuldade de comunicação com os povoados.
Os alemães contribuíram na formação dos usos e costumes gaúchos: Na culinária com as
cucas, defumados, chucrute, salsicha, cerveja, salada de batutas, geleias, chimias, pães
caseiros, além do hábito do café colonial, tão apreciado por nós e por turistas. Na agricultura
com o plantio de centeio, cevada, fumo, batata-inglesa e trigo. Nas danças com a polca, a
valsa, a mazurca e a rancheira. Nas festas com as festas natalinas (ceia, árvore de natal,
presentes), Kerbs, Festa do Rei do Tiro, Coelho da Páscoa, com o ninho cheio de doces. Nos
jogos com o baralho e o boião. Além destes usos e costumes, suas casas muito limpas,
pintadas, com belos jardins, muitos enfeites e bordados, serviram de modelo para muitos lares
gaúchos.

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REVOLUÇÃO FARROUPILHA
Há muitos anos os gaúchos estavam descontentes com o Governo Imperial. A província de Rio
Grande de São Pedro só era lembrada pelo governo quando este necessitava de soldados para
defender suas fronteiras e de alimentos e montarias para prover suas tropas.

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Os gaúchos nunca tiveram indenização pelos danos das guerras; era negado aos gaúchos fazer
cursos militares para oficiais; posados impostos recaiam sobre o charque; apenas uma escola
funcionava, das 28 existentes na época, por falta da professores; não havia estradas,
policiamento, pontes para circulação de produtos; os militares recebiam seus vencimentos
atrasados; os presidentes da província não eram os indicados pelos gaúchos.
Diante deste quadro tem inicio, na província de Rio Grande de São Pedro, um movimento
liberal cujo objetivo principal era separar a província do resto do Brasil, criando-se um pais
republicano. Este movimento era liderado pela elite rio-grandense, formada por estancieiros,
comerciantes, oficiais do exército e da guarda nacional.
O movimento Farroupilha já existia no Brasil, fundado por militares descontentes e exilados da
corte. Em 1832 é fundado, em Porto Alegre, o partido Farroupilha, logo o termo farrapos ou
farroupilha não diz respeito a tropas de gaúchos esfarrapados.
A revolução levou 6 anos para ser planejada e recebe apoio da maçonaria e do clero. A
maçonaria fazia sem despertar suspeitas, através de Sociedades Literárias (teatros, jornais,
folhetins) e muitos sacerdotes eram a favor da revolução, sendo alguns pertencentes à
maçonaria.
No dia 19 de setembro de 1835, uma força revolucionária de 200 homens, comandados por
Vasconcelos Jardim e Onofre Pires, acampava na Azenha.
O governo manda ao seu encontro pequena tropa que foi repelida pelos farroupilhas. No dia
20 de setembro Bento Gonçalves entra em Porta Alegre, vindo de Guaíba. O presidente, Dr.
Antonio Rodrigues Fernandes Braga foge e assume em seu lugar o vice, Dr. Marciano Pereira
Ribeiro.
No início a corte tomou uma medida prudente, não mandando tropas contra os farroupilhas e
nomeando presidente da província o Dr. Araújo Ribeiro, que era gaúcho e primo de Bento
Gonçalves. O novo presidente chega sem soldados e sem armamentos, porém deixa se
envolver por forças conservadoras da cidade de Rio Grande.
Os farrapos manobram a Assembleia Legislativa e impedem a posse de Araújo Ribeiro. Em 15
de julho de 1836, Porto Alegre caiu nas mãos dos imperiais e nunca mais seria farroupilha.
Em 1839 é criada a Brigada Militar que ajudará as tropas imperiais na defesa de Porto Alegre
contra as investidas dos farroupilhas, recebendo o titulo de Leal e Valorosa.
Em 11 de setembro de 1836 e proclamada a República Rio-grandense pelo General Antonio de
Souza Neto, sendo sua primeira capital a vila de Piratini, de 10-11-1836 a 14-02-1839.
Bento Gonçalves e eleito Presidente da República, mesmo estando preso no Forte do Mar, na
Bahia, de onde conseguiu fugir, auxiliado pela maçonaria, retornando ao Rio Grande do Sul.
Os farrapos criaram uma república independente do resto do Brasil, adotando uma nova
bandeira, escudo de armas, hino nacional, concediam cidadania, tinham representantes
diplomáticos nos países vizinhos, leis próprias, exercito, projeto de constituição e um jornal
oficial, "0 Povo", que circulava publicando decretos, noticias e proclamações.
Mais tarde a República Rio-grandense teve mais duas capitais: Caçapava, de 14-02-1839 a 23-
03-1840 e Alegrete, até o fim da Revolução.
Os revolucionários necessitavam de um porto para escoar a produção da república e comprar
armas e munições, pois os portos de Porto Alegre e Rio Grande estavam sob o controle dos
imperiais. Decidiram, então, tomar o porto de Laguna, em Santa Catarina. Destaca-se, nesta
fase da revolução, a construção e transporte de grandes lanchas, o Seival e o Rio Pardo. Foram
transportados por terra, com o auxilio de 200 juntas de bois, navegando a Lagoa dos Patos, o
rio Capivari ate o canal de Tramandaí; somente o Seival conseguiu chegar ao alto mar.
Com o auxilio de Jose Garibaldi, os farrapos tomaram Laguna e proclamaram a República.
Juliana, que teve curta duração, de 22-07-1839 a 15-11-1839. Esta expedição malograda dá
inicio ao declínio da revolução, pela perda de homens, armas e munições.
A liderança que Bento Gonçalves tinha entre os farrapos começo a cair diante do
retardamento das eleições dos constituintes e, após, pelo atraso em dar posse aos eleitos.
Essas atitudes deixaram clara, entre os farrapos, a ditadura militar de Bento Gonçalves.

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Em 9 de Novembro de 1842, assume a presidência da província e o comando do exército
imperial, Luis Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias). Com um exercito de 12.000 homens,
Caxias precisou de 3 anos para vencer um exercito de 3.000 e, no fim, 1.000 homens já
cansados e quase sem arma. A vantagem dos revolucionários estava no conhecimento desta
região e o sistema de guerrilhas adotado pelos gaúchos.
Apesar desta desvantagem, Caxias ocupou vilas, cidades e povoados. Por onde passava
distribuía carne e tecidos, punia os saques e o desrespeito aos lares. Assim conquistou a
simpatia da população.
Novos desentendimentos ocorrem entre os republicanos: David Canabarro trai Bento
Gonçalves, desarma os negros num acampamento e mata todos, para não dar liberdade aos
escravos. Alguns escravos, no final da guerra, ganham liberdade porque não estavam no
acampamento, encontravam-se em campanha com Antonio Neto. Estes negros foram para a
Bahia e Rio de Janeiro e lá novamente foram vendidos como escravos.
Onofre Pires desentende-se com Bento Gonçalves, indo os dois a um duelo, onde morre
Onofre Pires.
Em 1844, Bento Gonçalves inicia as conversações de paz com Duque de Caxias, mas David
Canabarro e Antonio Fontoura apossam-se da correspondência e começam a tratar a paz
diretamente com Caxias. Bento Gonçalves renuncia à presidência da república e ao comando
do exército e se recolhe a sua estância.
Os farrapos receberam proposta de ajuda do presidente Rosa, da Argentina, para lutar contra
o Império do Brasil. Com esta ameaça estrangeira, que não foi aceita pelos farroupilhas, Caxias
aceitou os termos da paz apresentados pelos revolucionários. No dia 1º de março de 1845 é
assinada a paz, perto de Poncho Verde, em Jaguarão.

ITALIANOS EM RIO GRANDE DE SÃO PEDRO


Os italianos já pisavam o solo gaúcho há muito tempo. Eram técnicos, artistas e especialistas.
Havia jesuítas italianos nas Missões; no Forte de Rio Grande padres capuchinhos italianos, na
demarcação do Tratado de Madri vieram engenheiros, cartógrafos e cirurgiões italianos; na
Revolução Farroupilha participaram italianos, com Garibaldi.
Nos núcleos urbanos são encontrados italianos ligados ao comércio ou artistas (músicos,
escultores, pintores, professores de música).
Encontramos a presença do italiano em Porto Alegre desde 1820. São os comerciantes das
esquinas com seus cafés, barbearias, açougueiros, quitandeiros, vendedores de bilhetes. A
família trabalha junto, conservando seus costumes, são pequenos burgueses. Outros se
dedicam a atividades que proporcionam lazer à população, como: cassinos, bailantas, cinemas
como: Guarani, Capitólio e Imperial.
Alguns italianos vindos de Montevidéu e Buenos Aires fixaram-se em Porto Alegre, dedicando-
se à industrialização, pois eram acostumados a morar em cidades e tinham vários ofícios. Os
italianos também marcam presença na zona da Campanha, nas cidades de: Alegrete, São
Borja, Itaqui, Quaraí, Bagé e Uruguaiana.

IMIGRAÇÃO ITALIANA
Durante a Revolução Farroupilha foi suspensa a entrada de imigrantes no Rio Grande do Sul.
No Brasil, de 1830 a 1848 diminuiu a entrada de imigrantes, porque o negro escravo era
destinados a várias atividades.
O governo imperial incentiva a imigração para substituir o trabalho escravo pelo trabalho
assalariado e, também, para conseguir o branqueamento da população brasileira. Em 1850 é
proibido o tráfico negreiro, logo, falta mão-de-obra, principalmente nos cafezais. Inicia-se o
trabalho do imigrante em sistema de parceria; ele teria participação na metade da colheita,
após serem descontados: alimentação, passagens, alojamentos. Nesse sistema os imigrantes
eram explorados e recebiam o mesmo tratamento dado pelo feitor aos escravos.

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Quando as noticias da escravidão camuflada chegam na Alemanha, o governo alemão proíbe a
vinda de mais imigrantes para a região dos cafezais. Era permitida a vinda de imigrantes
somente para zonas coloniais no Paraná, Santa Catarina Rio Grande do Sul. Os cafeicultores
buscam novos imigrantes na Itália. Por sua vez os italianos tinham vários motivos desejar sair
de sua terra natal: As guerras que havia na Itália; O horror pela guerra e o serviço militar que
era imposto aos jovens, por três anos; A pobreza em que viviam os italianos agricultores, A
falta de terras, que para muitos italianos não havia esperança de virem a ser proprietários; A
propaganda imigratória feita, prometendo enriquecimento fácil no Brasil.
Em 1870, são criadas na província do Rio Grande do Sul, as colônias Conde D'Eu e Dona Isabel,
localizadas na zona serrana. Hoje Conde D'Eu corresponde aos municípios de Garibaldi e Carlos
Barbosa. Dona Isabel hoje e Bento Gonçalves. Nestas colônias são demarcados lotes e em 1879
chegam os primeiros colonos, totalizando, ate 1875, a chegada de 3.856 imigrantes na
província. Porem os colonos preferiram ficar nos vales dos rios e os casais jovens não queriam
os lotes em locais muito distantes do mercado consumidor. Assim, a tentativa do província de
colonizar esta região fracassa.
Em outubro de 1875, o governo imperial assume a administração das colônias acima citadas e
inicia a demarcação de novos lotes na província.
Novos imigrantes italianos chegam ao Rio Grande do Sul, povoando colônias como: Fundos de
Nova Palmira (Caxias), Silveira Martins, Veranópolis, Nova Prata, Nova Bassano, São Marcos,
Antonio Prado, Farroupilha, Guaporé e Flores da Cunha.
Os italianos enfrentaram grandes dificuldades aqui no nosso estado. Chegando a suas terras,
ficavam ali em completo desabrigo: no mato sem casa para corar, sem comida, além da longa
viagem feita a pé pelas trilhas abertas a facão, levando nas costas os filhos e as bagagens. Não
fosse o pinhão e a caça, muitos morreriam de fome.
Por muito tempo lutaram contra as condições desaforáveis para seu desenvolvimento:
distância de suas terras das cidades, falta de estradas para escoar seus produtos,
desconhecimento do clima e das culturas para este clima.
Assim como imigrantes açorianos e alemães o italiano também contribuiu na formação de
hábitos e costumes do povo gaúcho. Com eles vieram: o galeto, a massa, a polenta, o vinho, os
queijos e os salames para a cozinha gaúcha. No jogos: a bocha, a mora e as reunidas com toda
a família, aos domingos. A introdução da gaita em nossos conjuntos nativistas foi herança dos
italianos.
Na agricultura os italianos introduziram o plantio da uva, além de plantarem trigo, milho,
feijão, mandioca e as verduras.
Os italianos deram inicio a grandes indústrias que hoje temos como vinho, queijo, salames,
além da metalurgia e tecelagem.
Sendo católicos fervorosos, os italianos conservam os hábitos de: rezar o terço em família,
assistir missas e procissões. Suas festas eram, na maioria, religiosas, como a Romaria de Nossa
Senhora do Caravággio, Festa da Colheitas e os filós (serões). São famosos, também, seus
corais, que acompanhavam essas festas.
A arquitetura italiana se faz presente em muitas cidades serranas, composta de casas com
grandes pordes, onde está o depósito e a cantina; nos sótãos são guardados os cereais e os
mantimentos; a cozinha era e construída separada do corpo principal da casa, para evitar
incêndios. São casas de madeira, com cobertura de madeira, contendo varandas e beirais
enfeitados com lambrequins recortados artisticamente.

NOVOS IMIGRANTES

IMIGRANTES POLONESES
Os primeiros imigrantes poloneses chegaram no Brasil em 1869 e se estabeleceram em
Brusque, Santa Catarina.

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Ao chegarem no Brasil, os poloneses desembarcavam no Rio de Janeiro e, de lá, eram
enviados, em pequenos grupos, para Santos, Paranaguá e Porto Alegre.
O governo exigia dos imigrantes poloneses que fossem casados, pobres e católicos.
Os poloneses, em sua grande maioria, eram agricultores, mas havia artesãos e tecelões. Os
artesãos preferiram as cidades aos núcleos coloniais. Os agricultores receberam seus lotes na
região do Planalto do Rio Grande do Sul.
O maior fluxo imigratório polonês foi de 1890 a 1894, sendo enviados para a região do Alto
Uruguai.
Nas comunidades polonesas, as principais autoridades eram o padre e o professor. Povo
alegre, logo que se estabeleciam em suas comunidades, já criavam a banda e a orquestra. Os
pais escolhiam para os filhos os nomes de santos; não festejavam o aniversário e sim o dia do
santo. Pelo natal fazem uma representação do Rei Herodes, similar ao Terno de Reis dos,
portugueses.

IMIGRANTES JUDEUS
Os primeiros imigrantes judeus chegaram no Rio Grande do Sul já no século XIX, com os
alemães.
Em 1904 chegam no Rio Grande do Sul os imigrantes judeus, que se estabeleceram perto de
Santa Maria. Lá receberam lotes de terra, moradia, 2 bois, 2 vacas, cavalo e dinheiro até a
primeira colheita. As crianças aprenderam português nas escolas, com outras crianças rio-
grandenses. Saldadas suas dividas, os judeus mudaram-se para Santa Maria, preferindo
radicar-se em zona urbana.
Mais tarde novos imigrantes judeus aqui chegaram, morando nos primeiros anos, em núcleos
coloniais, deslocando-se, mais tarde, para os centros urbanos, fixando-se como comerciantes.
A segunda geração procurou outras profissões, como medico, engenheiro, professor,
advogado e arquiteto.
Radicaram-se em cidades como Santa Maria, Erechim, Passo Fundo e Porto Alegre.

IMIGRANTES JAPONESES
Os primeiros imigrantes japoneses que chegaram no Rio Grande do Sul vieram de São Paulo.
Mais tarde vieram novos imigrantes japoneses, diretamente do Japão, entre 1955 e 1963.
Os imigrantes japoneses dedicaram-se ao cultivo de frutas, verduras, legumes e flores,
espalhando-se pelo nosso estado, trabalhando sempre em família. Trouxeram para o Rio
Grande do Sul a macrobiótica e as artes marciais.

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