Você está na página 1de 3

Prof.

Fernando Araújo
2º ano
Tema 01 – Povos originários do Brasil: os tupi

POVOS ORIGINÁRIOS DO BRASIL: OS TUPI

Pindorama, terra das palmeiras, era o nome dado pelos Tupi às terras que hoje conhecemos por Brasil. Os
milhões de indígenas que viviam nestas terras não falavam a mesma língua. Além dos quatro grupos
principais, Tupi, Aruak, Caribe e Jô, havia outros menores. Na verdade, a população indígena era formada por
muitos povos, muitas famílias, muitas aldeias. Cada um dos povos indígenas tinha sua própria cultura. Havia,
no entanto, alguns elementos comuns a todos eles.

Antes da chegada dos portugueses, existiam cerca de 1 300 línguas nativas, ou seja, línguas das populações
locais. Hoje restam menos de 200. Muitos grupos indígenas só falam sua língua materna. Outros, no entanto,
só conhecem a língua portuguesa, pois perderam muitos elementos de sua cultura original ao entrarem em
contato com os não indígenas no decorrer do tempo.

Nômades e Seminômades

A maior parte desses grupos era nômade, ou seja, não tinha moradia fixa. Viviam da pesca, da caça e da coleta
de frutos e raízes. Percorriam as florestas caçando animais, navegavam pelos rios tentando pegar peixes,
aprendiam a reconhecer ervas medicinais, buscavam regiões onde se fixavam enquanto houvesse alimento.
Quando não conseguiam mais garantir a sobrevivência, mudavam o lugar da aldeia. Desmontavam suas ocas e
deslocavam-se até encontrar outro local onde pudessem ficar.

Outros povos indígenas, além da caça, pesca e coleta, também praticavam a agricultura. Plantavam mandioca,
milho, feijão e batata-doce. Quando o solo já não era mais fértil, e os recursos se tornavam escassos,
mudavam-se para outras regiões. Eram grupos seminômades, ou seja, mantinham residência fixa por mais
tempo e desenvolviam técnicas de cultivo do solo.

A mandioca era um dos seus principais alimentos. Dela faziam farinhas, bebidas, caldos e mingaus. Suas
raízes eram plantadas e colhidas pelas mulheres, que também preparavam os alimentos. As técnicas para o
plantio, colheita e preparo da mandioca eram passadas de mãe para filha em todas as aldeias.

As comunidades indígenas

Os costumes indígenas eram muito particulares. Viviam nus. Faziam bebidas alcóolicas de raízes. Cada tribo
tinha seus rituais, suas festas, seus cantos, suas brincadeiras.

Nas tribos, toda a produção era dividida entre os seus integrantes. Não havia ricos nem pobres. A posse da
terra era coletiva e também os instrumentos de trabalho. Não havia propriedade privada, ou seja, ninguém era
dono sozinho da terra, dos instrumentos de trabalho ou alimentos. A posse era coletiva.

Todos pertenciam a uma comunidade, todos trabalhavam, todos brincavam, todos festejavam suas vitórias.
Um guerreiro que se destacasse por sua habilidade de caçar ou guerrear tornava-se um ídolo da tribo. As
mulheres sentiam-se honradas com sua presença. Os mais novos queriam seguir os seus passos. Os mais
velhos ficavam orgulhosos de seu desempenho. Era como um craque de futebol. Um artilheiro que traz alegria
a sua torcida.

A noção de trabalho era também muito particular. Quando os recursos naturais eram abundantes, trabalhavam
poucas horas por dia. Se houvesse necessidade, trabalhavam um pouco mais: apenas o necessário para a
sobreviver da tribo. Viviam sob uma economia de subsistência. Não se produzia com o objetivo de fazer
comércio. Não havia dinheiro. No máximo, alguns instrumentos, armas e ferramentas pessoais poderiam ser
trocados por outros.
Prof. Fernando Araújo
2º ano
Tema 01 – Povos originários do Brasil: os tupi
Nas aldeias, todos trabalhavam. Aos homens cabia a guerra, a caça produção de armas e ferramentas. Às
mulheres, em geral, eram reservadas a responsabilidade pelo cuidado dos filhos, a produção de cerâmica e as
atividades agrícolas. Havia, portanto, uma divisão sexual do trabalho.

Desde criança, o indígena aprendia a fazer seus instrumentos: arcos, flechas, lanças, enfeites, utensílios de
cerâmica, chocalhos, ocas e fogueiras. Como todas as crianças, os pequenos imitavam a vida adulta em suas
brincadeiras e brinquedos.

O olhar dos portugueses

A partir de 22 de abril de 1500, quando os portugueses passaram a frequentar a América, a vida das
comunidades indígenas começou a se alterar. Os europeus buscavam riquezas, vestiam roupas pesadas,
carregavam armas de fogo, desejavam propriedades. Não entendiam corno essas pessoas podiam viver nuas.
Por que não procuravam acumular riquezas? Como conseguiam viver em comunidades baseadas no princípio
da igualdade social? Questões como essas talvez tenham incomodado os portugueses ao depararem com os
nativos que encontraram aqui na época em que chegaram.

Os indígenas, por sua vez, não conseguiam entender os europeus, que enchiam navios com troncos de
pau-brasil, árvore que existia em toda a extensão da Mata Atlântica. De onde vinham não havia lenha para se
aquecer ou cozinhar? A terra que tinham não era suficiente para alimentar seus filhos? Por que atravessavam
mares para chegar a lugares tão distantes? Por que achavam que o modo de vida dos indígenas era errado?

Os xamãs

Na maior parte das tribos havia um xamã, pessoa com profundo conhecimento da natureza, das plantas
medicinais e da memória dos antepassados. Era o curandeiro, medicava os doentes com plantas e rezas, dava
conselhos, comandava os rituais e as celebrações.

O xamã gozava de muito prestígio na comunidade. Recebia presentes, enfeites, tabaco, bebida. Mas não
exercia nenhum poder político. Não havia rei, imperador ou monarca entre os grupos indígenas.

Os indígenas acreditavam que o poder do xamã era espiritual. Com seus instrumentos musicais, sobretudo o
maracá, uma espécie de chocalho, ele convocava e escalava uma seleção de espíritos da natureza para
restabelecer o equilíbrio dos membros da comunidade.

Os mitos

Para as comunidades indígenas, as ações cotidianas são repetições de situações muito antigas. Situações
ocorridas no princípio dos tempos. Praticadas por antepassados, heróis ou deuses.

Esses acontecimentos são explicados pelos mitos: narrativas e lendas que contam a origem do mundo, da
humanidade e das comunidades indígenas. Os mitos esclarecem os significados da natureza, estabelecem as
regras das tribos e mantêm as tradições da comunidade. A guerra, a divisão sexual do trabalho, a moral entre
homens e mulheres e o casamento eram realizados a partir desses modelos.

A vida indígena é uma repetição contínua de gestos ocorridos em um passado muito distante. Cada ação,
acompanhada de seus mitos, é uma forma de lembrar das origens dos povos indígenas.

Terra sem mal

Os Tupi deslocavam-se continuamente no sentido leste-oeste, pois acreditavam existir urna região que era a
morada de seus ancestrais e, ao mesmo tempo, um lugar de abundância, juventude e imortalidade: a terra sem
Prof. Fernando Araújo
2º ano
Tema 01 – Povos originários do Brasil: os tupi
mal. Profetas indígenas percorriam as aldeias apresentando-se corno reencarnação de antepassados heroicos e
procurando convencer seus habitantes a abandonar o trabalho e a dançar. As peregrinações em busca dessa
verdadeira Terra Prometida provocavam um comportamento seminômade e desenraizado entre os Tupi.

Em razão disso, a sedentarização completa era incompreensível para sua cultura. A prática de erguer novas
aldeias em outros lugares, seja em busca da terra sem mal, seja provocada pela escassez da caça ou o
esgotamento do solo, constituía-se elemento inseparável da vida dos Tupi.

Guerra e paz

Em busca de alimentos, as tribos indígenas deslocavam-se pelo território de Pindorama. Ao passarem ou se


fixarem em áreas habitadas por outros povos e nações indígenas, muitas vezes entravam em guerra.

Era o momento de os homens demonstrarem suas habilidades e valentia. Destacavam-se no manejo dos arcos,
na pontaria das zarabatanas (tubos através dos quais se sopram pedras ou setas envenenadas), na força das
bordunas (espécie de bastão ou porrete feito de madeira).

A guerra, no entanto, não era apenas a luta contra os inimigos, mas o duelo e a dificuldade que levavam ao
desenvolvimento das virtudes dos guerreiros e ao aperfeiçoamento da comunidade.

Em geral, os grupos indígenas eram comandados por um chefe guerreiro um integrante da tribo muito
respeitado que já havia demonstrado sua valentia e sua capacidade de comando.

Prisioneiros e canibalismo

Os derrotados tinham de abandonar suas aldeias. Ou, então,


pagar tributos aos vencedores. Em certas tribos, alguns
prisioneiros eram transformados em escravizados, que seriam
integrados às tarefas agrícolas das aldeias, trabalhando ao lado
das mulheres.

Outros derrotados teriam uma sorte diferente. Em algumas


tribos (as tupinambá, por exemplo) costumava-se praticar o
canibalismo. Comiam-se os inimigos. Mas não todos só os
melhores.

Os prisioneiros considerados mais valentes e corajosos eram levados para as aldeias dos vencedores. Tinham
seus fermentos curados. Eram alimentados durante meses. Recebiam mulheres da aldeia para namorar.

Depois de muitas luas, os indígenas reuniam-se para o grande banquete. Todos participavam. Acreditavam
que. devorando O corpo do guerreiro inimigo, adquiriam sua força e suas qualidades. O prisioneiro morria
com honras. Os Tupinambá o comiam com gosto. A morte era uma festa.

Você também pode gostar