HISTÓRIA E CULTURA INDÍGENA, AFRICANA E AMERÍNDIA
1º Ano - Ensino Médio
MÓDULO 4: OS PRINCIPAIS POVOS NATIVOS DA AMÉRICA
Os esquimós
Também conhecidos como inuítes, são um povo que vive
nas regiões árticas do Canadá, Alasca, Groenlândia e Rússia.
Eles têm uma cultura rica e única, adaptada para viver em
ambientes extremamente frios e com poucos recursos
disponíveis.
Os esquimós tradicionalmente vivem da caça de animais
árticos, como focas, baleias, renas e peixes. Eles também
praticam a pesca e a coleta de plantas e algas marinhas.
A cultura esquimó tem uma forte tradição oral, com
histórias e lendas transmitidas de geração em geração. Eles
também são conhecidos por suas habilidades em construir iglus,
casas feitas de blocos de neve compactados, que são capazes
de resistir ao vento e ao frio intenso do Ártico.
Embora muitos esquimós tenham adotado estilos de vida
mais ocidentais nas últimas décadas, alguns ainda vivem de
forma tradicional, mantendo suas tradições e línguas indígenas.
Usos e costumes
Os inuítes possuem uma dieta pobre em carboidratos,
essencialmente baseada no consumo de peixes, focas e baleias.
Os primeiros registros de expectativa de vida dos inuítes entre
1890 e 1900, quando a influência ocidental era muito menor
que hoje em dia, apontam que eles tinham uma expectativa de
vida muito menor que a do europeu de então. A ausência de
tuberculose e doenças venéreas e doenças do resto do mundo
sugerem que a causa da morte esteja ligada a doenças do
coração, derrubando o mito de dietas saudáveis sem
carboidrato.
Eles têm o costume de se alimentar do fígado cru das
caças, sua única fonte de vitamina C.
Muitos esquimós ainda caçam o urso polar de acordo com
o método empregado por seus ancestrais. Fazem-no utilizando
lanças há pelo menos dois mil anos. São necessários pelo
menos cinco esquimós para o fazer e a técnica é semelhante à
da tourada.
Historicamente sempre se vestiram com peles de animais,
porém, ao contrário dos outros povos, usam a pele voltada
para dentro, de forma a mantê-la mais próxima ao corpo e
promover um aquecimento mais adequado.
Atapascos
Os Atapascos são um grupo étnico que faz parte da família
linguística Na-Dene e habitam principalmente a região norte da
América do Norte, incluindo partes do Alasca, Canadá e
Estados Unidos.
Os Atapascos são compostos por várias subculturas, como
os Gwich'in, Han, Kaska, Dena'ina, Tanaina, entre outros. Eles
são conhecidos por sua habilidade em viver em um ambiente
de extremo frio e por suas tradições orais, como histórias,
lendas e mitos.
Historicamente, os Atapascos eram nômades e viviam da
caça, pesca e coleta de frutas e plantas silvestres. Hoje em dia,
muitos Atapascos ainda mantêm seus costumes tradicionais e
estilo de vida, enquanto outros se adaptaram à cultura
ocidental e vivem em áreas urbanas.
Algonquinos
Os Algonquinos são um grupo nativo da América do Norte,
que historicamente ocuparam uma vasta área geográfica que
se estendia desde as Montanhas Rochosas até o Oceano
Atlântico e do Canadá até a região dos Grandes Lagos nos
Estados Unidos. O nome "Algonquinos" é derivado da palavra
algonquin, que significa "nossos parentes".
Os Algonquinos eram um povo nômade e viviam da caça,
pesca e coleta de alimentos. Eles tinham uma cultura rica e
complexa, que incluía mitos e lendas, cerimônias religiosas,
danças e música.
Os Algonquinos foram colonizados pelos europeus a partir
do século XVII, o que resultou em um grande impacto sobre a
cultura e a população dos Algonquinos. No entanto, muitas
comunidades Algonquinas ainda existem atualmente, e muitas
delas continuam a manter suas tradições culturais e espirituais.
Sioux
Também chamados de Dakotas ou Lakotas, espalhavam-se
pelos estados de Dakota do Norte e do Sul, no centro-norte dos
Estados Unidos. A origem do termo Sioux remonta o século
XVII, quando seus inimigos, os Ojibwas, disseram aos franceses
que assim eram chamados. Vem do termo Ojibwa Na dou esse,
que significa "inimigo". Os franceses, ao tentar dizer o termo,
disseram Nadousioux, e os ingleses e americanos abreviaram
para Sioux.
As principais atividades econômicas dos Sioux giravam em
torno da agricultura, onde a plantação de milho possuía
expressivo destaque. Além disso, realizavam caça a animais de
grande porte como os bisões. A carne obtida desse tipo de caça
era dividida entre as famílias que participavam da caça, o couro
era utilizado para a confecção de roupas e tendas, os ossos
utilizados para o artesanato e a fabricação de armas. Os seus
principais inimigos eram os crows e seus aliados eram os
cheyennes.
Com o contato com os colonizadores espanhóis, os Sioux
passaram a utilizar cavalos nas atividades de guerra, caça e
transporte. Eram os mais agressivos na sua resistência contra
os intentos de extermínio perpetrados pelos povos brancos e
tinham cerimônias que incluíam rituais de tortura como prova
de bravura. Num desses rituais, mostrado no filme Um Homem
Chamado Cavalo (1970), o índio tinha a pele atravessada por
pinos de madeira presos a cordas, que eram estendidas para
erguer o corpo até gerar dilacerações. Depois do processo de
independência, os conflitos com os colonizadores aumentaram
significativamente. Os sioux resistiram aos brancos até 1890,
quando foram derrotados.
Atualmente, os remanescentes, os poucos indivíduos que
puderam sobreviver ao extermínio étnico levado a cabo pelo
povo invasor e ocupante, vivem em reservas nos estados de
Dakota do Norte e Dakota do Sul, nos Estados Unidos.
Crows, também conhecidos como Absaroka ou Apsáalooke,
são uma tribo nativa americana. Historicamente viviam no
vale do rio Yellowstone.
Os cheyennes eram caçadores de búfalos. Com a
introdução do cavalo, eles prosperaram nas planícies e
 também por ter um governo altamente organizado. Com
renomados guerreiros, grande espiritualidade e valores
éticos, os cheyennes se tornaram famosos na América
Nativa.
Shoshonis
Os Shoshonis são um povo da América do Norte, cujo
território ancestral se estendia pelos estados de Nevada, Utah,
Idaho, Wyoming, Colorado, Montana e Califórnia.
Os Shoshonis eram nômades e viviam da caça, pesca e
coleta de frutas e raízes selvagens. Eles também eram
conhecidos por seus cavalos, que adquiriram dos espanhóis no
século XVIII e que lhes permitiam se moverem mais
rapidamente em suas viagens.
Historicamente, os Shoshonis eram divididos em várias
bandas independentes, cada uma com seu próprio território e
liderança. A língua shoshoni é falada por várias dessas bandas,
embora haja variações regionais.
Os Shoshonis foram significativamente afetados pela
colonização europeia, incluindo a perda de suas terras e a
introdução de doenças anteriormente desconhecidas. Muitos
foram forçados a se realocar em reservas, incluindo a Reserva
Indígena Shoshone-Bannock em Idaho e a Reserva Indígena
Wind River em Wyoming. Hoje, os Shoshonis continuam a lutar
para manter sua cultura e tradições vivas e preservar suas
línguas indígenas.
Iroqueses
O povo Iroquês, também conhecido como
Haudenosaunee, são nativos americanos que originalmente
habitavam a região do nordeste dos Estados Unidos e do
sudeste do Canadá. Os Iroqueses eram compostos por seis
nações: Mohawk, Oneida, Onondaga, Cayuga, Seneca e
Tuscarora.
Os Iroqueses foram conhecidos por sua organização social
e política avançada. Eles criaram uma confederação conhecida
como Liga Iroquesa, que permitia que as seis nações
trabalhassem juntas em questões políticas, econômicas e
militares. A Liga Iroquesa foi uma das primeiras formas de
governo democrático na América do Norte e influenciou a
criação dos Estados Unidos da América.
Os Iroqueses viviam em aldeias e subsistiam
principalmente da agricultura, caça e pesca. Eles construíram
casas de longas, feitas de madeira e palha, que abrigavam
várias famílias. Os Iroqueses também eram conhecidos por
suas habilidades artesanais, incluindo cestaria, tecelagem e
cerâmica.
No início da colonização europeia na América do Norte, os
Iroqueses tiveram contatos com os franceses e britânicos. Eles
formaram alianças com os britânicos durante a Guerra dos Sete
Anos e a Guerra Revolucionária Americana. No entanto, as
políticas de colonização europeia e a expansão territorial dos
Estados Unidos levaram à perda de terras dos Iroqueses e à
assimilação forçada de sua cultura.
Hoje, muitos Iroqueses vivem em reservas nos Estados
Unidos e no Canadá, e trabalham para preservar sua cultura e
tradições. A Liga Iroquesa ainda existe e continua sendo uma
força política e cultural importante na região nordeste da
América do Norte.
Apaches
O povo Apache é um grupo étnico nativo americano que
habitou as áreas do sudoeste dos Estados Unidos, incluindo
partes do Arizona, Novo México, Texas, Oklahoma e outras
áreas adjacentes. Os apaches são divididos em várias tribos
distintas, incluindo os Chiricahua, Jicarilla, Lipan, Mescalero e
Western Apache.
Os apaches têm uma rica cultura e história. Eles são
conhecidos por suas habilidades em guerra e por suas táticas
de guerrilha. No entanto, também têm uma cultura rica em
arte, música, dança e cerimônias religiosas.
Os apaches têm uma tradição oral rica, passando histórias,
lendas e tradições de geração em geração. Eles têm uma forte
conexão com a natureza e acreditam que todos os seres vivos
são sagrados.
Caraíbas
"Os Caraíbas" é um termo que se refere aos povos que
habitavam as ilhas do Caribe antes da chegada dos europeus.
Esses povos são também conhecidos como "índios caribenhos"
e são considerados um subgrupo dos povos ameríndios.
Os Caraíbas eram conhecidos por sua habilidade em
navegação e frequentemente envolviam em conflitos com
outros povos na região. Eles também eram conhecidos por sua
prática de canibalismo, embora seja importante notar que isso
era uma prática ritualística e não era uma parte regular de sua
dieta.
Com a chegada dos europeus no final do século XV,
muitos dos povos indígenas do Caribe foram subjugados ou
exterminados. Hoje em dia, muitas ilhas do Caribe têm
populações descendentes dos povos indígenas originais, mas a
cultura e tradições dos Caraíbas são amplamente
desconhecidas ou esquecidas.
Aruaques
O povo Aruaque, também conhecido como Arawak, é um
grupo étnico que habita principalmente a região amazônica da
América do Sul, embora também tenha populações em outras
partes do continente, como na América Central e nas Antilhas.
Os Aruaques têm uma rica tradição cultural, incluindo
uma língua comum, embora com algumas variações regionais,
bem como tradições orais, danças, música e artesanato. Eles
são conhecidos por suas habilidades na agricultura, pesca e
caça, bem como por sua relação estreita com a natureza.
Ao longo da história, os Aruaques tiveram contato com
outros povos indígenas e com colonizadores europeus.
Infelizmente, muitas das comunidades Aruaque foram vítimas
de violência e exploração, resultando em perda de território,
cultura e identidade.
Mapuche
O povo Mapuche é um grupo que habita a região dos
Andes do sul da América do Sul, abrangendo áreas do Chile e
da Argentina. O termo Mapuche significa "povo da terra" em
sua língua nativa, o mapudungun.
Os Mapuches têm uma longa história e cultura ricas, que
inclui a tradição oral, a música, a dança, a arte e a religião. Eles
também têm uma forte tradição de resistência contra a
colonização espanhola e chilena, que resultou em conflitos
violentos ao longo dos séculos.
Atualmente, os Mapuches lutam pela autonomia e pelo
reconhecimento de seus direitos como povo indígena,
incluindo o direito à terra, à cultura e à língua. A questão
Mapuche tem sido uma questão controversa na política chilena
e argentina, com movimentos sociais e organizações indígenas
pressionando por uma maior representação e inclusão dos
Mapuches na sociedade.
Povos antigos do Brasil
Os grupos que habitaram a região que atualmente
configura o território brasileiro também passaram por um
processo de ocupação que transitou do nomadismo ao
sedentarismo, como em outras regiões do planeta.
De hábitos nômades, os primeiros grupos que habitaram a
América organizaram-se em comunidades caçadoras e
coletoras, e estabeleceram relações que poderiam variar do
convívio à prática da guerra. Vários desses grupos produziram
arte rupestre, um importante registro de sua trajetória e de
seu cotidiano, no interior de grutas e cavernas em diferentes
regiões do território brasileiro Entre os primeiros grupos
nômades do Brasil, destacam-se as comunidades caçadoras e
coletoras de tradição Umbu e Humaitá. Instalados na região sul
do Brasil, entre São Paulo e as fronteiras dos pampas
argentinos e uruguaios, eles desenvolveram sofisticada
tecnologia lítica e se destacaram na elaboração de
instrumentos de caça, tais como o arco e flecha e a boleadeira.
Alimentavam-se da caça da fauna local, de frutos e de mel,
abrigando-se nos topos de colinas ou em grutas naturais.
Por sua vez, nas regiões litorâneas, destaca-se a
organização dos povos sambaquis (de 8 000 a 6 000 a.C.), cujos
hábitos estavam entre o modo de vida nômade e sedentário.
Nesse período, em algumas regiões do centro e do sul da
América, populações cultivavam alguns gêneros alimentícios, o
que colaborou para a organização das primeiras comunidades
sedentárias.
Maias e astecas, no Vale do México, e incas, nos altiplanos
andinos, foram importantes civilizações agrícolas americanas.
Em comum, as três civilizações tornaram-se responsáveis
por importantes estudos nas áreas de Engenharia Civil,
hidráulica, Arquitetura e Astronomia; além disso, astecas e
maias criaram sistemas de escrita.
Estima-se que, no território brasileiro, o processo de
sedentarização efetiva dos antigos povos iniciou-se por volta
de 3 500 a.C.
Povos agrícolas do Baixo Amazonas
Os Tapajós e a cultura Santarém (2000 a.C. a 1000 d.C.) De
acordo com recentes estudos, a ocupação da bacia Amazônica
iniciou-se por volta de 10 000 a.C., por grupos de caçadores,
coletores e pescadores.
A partir de 3500 a.C., ao longo dos rios Tapajós e Curuá
Una, onde hoje se encontra a cidade de Santarém (PA), iniciou-
se o processo de sedentarização por meio da atividade agrícola.
Entre 2000 a.C. e 1000 d.C., ocorreu o período de apogeu
desses povos, com a organização de aldeias compostas,
segundo os arqueólogos, por comunidades constituídas de até
10 mil habitantes.
Além da atividade agrícola, os povos tapajós chegaram a
praticar um intenso comércio, com mercados locais
movimentados, onde se podia encontrar variadas mercadorias,
produtos artesanais e animais domesticados.
Do ponto de vista militar, os tapajós eram povos bem
organizados, destacando-se na habilidade da produção de
armas. A destreza militar demonstrada pelas mulheres
descendentes dos povos antigos de Santarém chamaria a
atenção dos conquistadores espanhóis no século XVI. Em
associação às guerreiras da mitologia grega, os europeus
nomearam-nas de guerreiras “amazonas”, estendendo o termo
para também nomear o rio que, na margem direita, banha a
cidade de Santarém.
A cultura tapajônica foi caracterizada, em especial, pelo
desenvolvimento de uma arte ceramista original, que atesta a
sofisticada capacidade de seus artesãos. Baseado na qualidade
dessa produção, alguns estudiosos apontam para a
possibilidade de os tapajós serem, provavelmente,
descendentes dos povos maias ou incas, procedentes,
respectivamente, da América Central e do Sul.
A cerâmica de Santarém destaca-se, em especial, pela
produção decorativa de vasos de gargalos e de cariátides,
estatuetas e demais utensílios reproduzidos em formas
antropomórficas ou zoomórficas, estilizados, reproduzindo a
fauna amazônica.
A cultura Marajoara (400 a 1400 d.C.)
Procedentes das fronteiras do território brasileiro com a
Venezuela, povos em estágio agrícola, como os aruaques, a
partir do ano de 1500 a.C., passaram a ocupar a ilha de Marajó,
localizada no atual território do Pará e considerada a maior ilha
fluvial do planeta.
A partir do período entre os anos 400 e 1400 d.C., os
limites da ilha de Marajó testemunharam o florescimento de
uma próspera sociedade de agricultores e habilidosos
ceramistas.
As habitações erigidas por esses povos eram edificadas em
aterros artificiais, definidos como tesos. Os tesos tinham até 10
metros de altura, assegurando a proteção dos povos
marajoaras contra as inundações dos rios da bacia amazônica.
Recentes escavações arqueológicas realizadas nesses
morros revelaram a existência de aldeias habitadas por mais de
5 mil pessoas.
Estima-se, a partir desses estudos, que, em seu período de
apogeu, a civilização marajoara chegou a abrigar
provavelmente uma população de 100 mil habitantes.
Caracterizou a produção ceramista desses povos a
fabricação de peças decorativas e utilitárias com traços gráficos
simétricos e geometrizados, onde predominam as cores
vermelha e preta sob um fundo branco. As peças mais
elaboradas da arte marajoara eram dedicadas para fins
funerários ou religiosos.
A diversidade de sua produção, revelada por potes, vasos,
estatuetas, urnas funerárias estilizadas em diferentes formas e
técnicas – além de animais como lagartos, serpentes,
escorpiões, tartarugas e jacarés ou chocalhos, bonecas, tangas,
apitos –, preenchia o universo da refinada cerâmica
marajoense.
Povos agrícolas do Alto Xingu (1200 a 1600 d.C.)
Ao norte do Mato Grosso, região cortada pelo rio Xingu,
recentes pesquisas revelam novas experiências sedentárias dos
povos antigos no Brasil. Estima-se que, no período definido
entre 1200 e 1600, a região do Alto Xingu foi ocupada por
povos agrícolas que ali se organizaram em dezenove grandes
aldeias, interligadas por meio de estradas de até 5 km de
extensão, que desembocavam nas praças centrais dessas
respectivas aldeias.
Cada uma das 19 aldeias abrigava, em geral, uma
população aproximada de 2 mil habitantes, favorecidos, do
ponto de vista agrícola, pela presença da terra preta, o solo
que fertiliza a região.
Rigorosamente, o conjunto das 19 aldeias possuía a
mesma estrutura urbana, contando, além da praça central,
com pontes e represas, protegidas externamente por fossos e
paliçadas.
Organização geral dos povos antigos do Brasil
Quando Pedro Álvares Cabral aportou nas terras do Brasil
em 22 de abril de 1500, estima-se que o território brasileiro
fosse ocupado por uma população de 3,5 a 5 milhões de
habitantes.
Nas regiões próximas ao litoral, predominava a presença
dos povos “Tupi-Guarani” e “Macro-Jês”. Nas regiões mais
interioranas, os “Aruaques” e os “Caraíbas”.
Eram, em geral, grupos étnicos que transitavam no estágio
seminômade, praticando a caça, a pesca e a coleta e o
desenvolvimento de uma lavoura de subsistência, baseada em
produtos como a mandioca, o milho, a batata-doce e o feijão.
Os povos “Tupi-Guarani” foram aqueles que tiveram maior
contato e envolvimento com os grupos portugueses que aqui
se instalaram.
Estrutura política e social
Entre a maioria dos povos antigos do Brasil, havia pouca
distinção entre os membros da comunidades.
Não havia leis escritas e a autoridade política era exercida
pelo cacique e religiosa pelo pajé.
A autoridade do cacique respaldava-se em atributos
pessoais, como a competência militar, o carisma e o prestígio
junto aos membros de sua comunidade. Entre suas atribuições
destacam-se a decretação de paz e guerra, a fiscalização dos
bons costumes, as medidas punitivas aos transgressores, etc.
No entanto, é possível perceber na organização dos povos
antigos do Brasil o relativo poder e a influência atribuídos aos
homens. Tal constatação pode ser verificada na restrição das
urnas funerárias, símbolo de prestígio social, aos membros
masculinos da comunidade.
A conduta social dos membros da comunidade era
normatizada pelos costumes e pelas tradições orais, que
levavam em consideração o predomínio dos interesses
coletivos e dos benefícios comuns do grupo em detrimento dos
interesses individuais e das vantagens particulares. Os bens
individuais dos membros da comunidade limitavam-se, em
geral, aos seus instrumentos pessoais de caça, pesca e trabalho.
A representatividade política do cacique não estava
associada à representatividade religiosa do pajé, que é
considerado intermediário entre os membros da comunidade e
a vontade dos deuses.
Do ponto de vista social, os povos antigos do Brasil eram
unidos por laços de parentesco e vivam em aldeias ou tabas
constituídas por casas coletivas, ou ocas, dispostas em círculo
ou em ferradura, onde no centro eram celebradas as festas e
cerimônias religiosas.
Sua disposição poderia variar, como o shabono, ocas
coletivas da tradição Yanomami, na fronteira entre o Brasil e a
Venezuela, que abrigavam até 50 membros de uma mesma
família. Ou como no caso dos Xavantes, localizados no leste de
Mato Grosso, que habitam em aldeias com forma de ferradura,
constituídas de 20 a 30 ocas, que abrigavam grupos de até
cinco familiares.
Entre os costumes sociais adotados pelos povos antigos
do Brasil, destaca-se a prática da pintura corporal e o uso de
adornos, que podem ser produzidos a partir de madeira, como
o botoque introduzido nas orelhas, narinas ou no lábio inferior,
símbolo da masculinidade dos guerreiros, ou da elaboração de
uma sofisticada arte plumária.
Estrutura econômica
Do ponto de vista econômico, a produção obtida na
lavoura, ou por meio da caça, pesca e coleta, era voltada
apenas para a subsistência do grupo, sem a preocupação de
produzir excedentes.
Praticava-se o uso coletivo da terra, sendo os resultados
da produção obtida nas diferentes atividades econômicas
compartilhados entre os membros do grupo.
Entre os povos nativos, praticava-se a divisão por gênero
no trabalho, cabendo ao homem os afazeres relacionados à
guerra, à caça e à pesca; a construção de canoas; e a realização
das coivaras, técnica agrícola de preparação do solo baseada
na destruição da mata por meio do fogo.
Por sua vez, às mulheres, além da criação dos filhos, eram
atribuídas as atividades de plantio; coleta de frutos e raízes;
produção ceramista; fabricação de redes, cestos e tecidos;
além da produção de alimentos e bebidas como a farinha de
mandioca e o cauim.
Valores religiosos e culturais
Os povos antigos que ocupavam o território brasileiro, do
ponto de vista religioso, eram politeístas.
Seus deuses, como Tupã, Jaci e Iara, personificavam as
forças da natureza, como o trovão, a lua e as águas.
Para esses povos, animistas, os elementos da natureza,
como os rios, as montanhas, as plantas ou as árvores, eram
portadores de vida e de espírito.
Era atribuição do líder espiritual, o pajé, deter o
conhecimento medicinal das plantas e o comando dos rituais e
celebrações em homenagem às forças da natureza.
Do ponto de vista militar, a realização de guerras entre os
povos indígenas brasileiros não possuía como motivação a
disputa territorial ou o saque das tribos inimigas. Elas eram
travadas como um ritual para demonstração de qualidades e
valores importantes para os povos indígenas, como a bravura,
a coragem, a valentia e a força.
Podiam ser também definidas como forma de vingar os
parentes mortos em guerra passadas.
Por fim, do ponto de vista cultural, podemos destacar
inúmeras contribuições dos povos indígenas do Brasil,
destacando-se, por exemplo, a sofisticada produção ceramista,
herdada da cultura de Santarém e da cultura Marajoara; a arte
plumária; e a habilidade dos grafismos na pintura corporal e
nos utensílios domésticos. A cultura da mandioca, do milho, da
batata-doce, do feijão, do amendoim e das carnes de caça
também pode ser atribuída aos povos indígenas Destaca-se,
em especial, como importante legado cultural dos primeiros
povos do Brasil a expressiva contribuição no vocabulário falado
em nosso país, com a presença de inúmeros termos indígenas,
e em hábitos presentes no nosso cotidiano.
CRUZ, Marcos Antônio Alves. História da cultura indígena e africana: módulo IV.
1 ed. Guanambi-BA, Colégio Modelo Luis Eduardo Magalhães, 2023.