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Desenvolvimento
humano e social
Sumário
CAPÍTULO 3 – Sustentabilidade........................................................................................05
Introdução.....................................................................................................................05
Síntese...........................................................................................................................21
Referências Bibliográficas.................................................................................................22
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Capítulo 3 Sustentabilidade
Introdução
Em 2014, o Estado de São Paulo, e mais especificamente a capital, foram surpreendidos por uma
acentuada redução dos níveis de precipitação das águas das chuvas, e por suas consequências
devastadoras para os níveis dos reservatórios de água que abastecem a vida cotidiana dos mora-
dores e das empresas. Os governantes e os responsáveis pelas companhias de abastecimento de
água tentavam, a todo custo, minimizar a abrangência dos problemas e dos erros cometidos na
administração dos recursos. Enquanto encobria-se a problemática, a vida da população, sobre-
tudo das pessoas abastecidas pelos reservatórios mais atingidos, mudava significativamente. No
começo, ocorreram pequenas reduções na pressão da água e, posteriormente, períodos inteiros
de sistemático racionamento, alterando substancialmente o cotidiano dos cidadãos.
Talvez nunca tenhamos nos perguntado, mas quais são os limites da exploração dos recursos
naturais pelo ser humano? Quais são as fronteiras entre a existência do humano e a sobrevivên-
cia da natureza? Estamos produzindo um futuro para as próximas gerações humanas? Ou, ao
contrário, o legado que deixaremos é o da escassez da biodiversidade e dos recursos do meio
ambiente? Talvez a questão fundamental seja: como produzir modos de vida sustentáveis e que
garantam, às gerações futuras, a continuidade da existência?
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suas implicações para a vida cotidiana a partir do ponto de vista ambiental, social, político e
econômico.
No final da segunda metade do século XX, entretanto, começa a ser produzida e refinada em
todo o mundo uma aguda consciência com relação às questões ambientais e socioeconômicas
que perpassam o cotidiano das sociedades. Os efeitos colaterais dos processos de globalização
e integração socioeconômica das nações parecem devastadores. A reprodutibilidade de modos
de existência com exigências cada vez mais alinhadas à ferocidade dos modos de produção
capitalista provoca, em toda parte, acaloradas discussões a respeito das possibilidades de vida
das gerações futuras. Fenzl (2009, p. 13) elenca alguns dos efeitos mais críticos desse processo:
Figura 1 – A discussão sobre sustentabilidade nos faz refletir sobre qual será o nosso legado para as próximas
gerações.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Para que você compreenda o conceito de sustentabilidade, retomaremos uma definição que se
tornou clássica, presente no livro Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial sobre Meio Am-
biente e Desenvolvimento, das Nações Unidas:
A partir da definição clássica, podemos constatar duas implicações imediatas para o conceito de
sustentabilidade, como o próprio texto adianta: primeiro, a noção de “necessidade” e de satis-
fação desta e, em segundo, a consciência do que a satisfação das necessidades presentes pode
acarretar para as gerações futuras.
Do ponto de vista das necessidades, a história da humanidade, desde seus primórdios, tem nos
mostrado que a produção das condições materiais de existência do ser humano é a única razão
de sua sobrevivência na Terra. Há milênios, o humano tem garantido sua existência por meio de
artefatos e instrumentos que, com o decorrer dos anos, compuseram uma espécie de essência
prática da vida cotidiana.
A partir da compreensão desses pressupostos básicos, vemos a possibilidade de uma dupla abor-
dagem do conceito de sustentabilidade: de um lado, a ambiental, que trata substancialmente
dos problemas ambientais concernentes à exploração desequilibrada dos recursos naturais. De
outro, a abordagem com enfoque ético e social, que consiste fundamentalmente na percepção
das diferenças de distribuição, no campo social e humano, das riquezas como produtos diretos
do desenvolvimento insustentável dos modelos econômicos e sociais atuais.
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Contudo, a análise dos problemas ambientais e sociais, no sentido estrito apresentado acima,
não representam o todo da pesquisa em torno do tema da sustentabilidade. Acselrad (2009, p.
43) nos apresenta outras cinco matrizes que, segundo ele, compõem o conjunto da discussão a
respeito do tema.
• Matriz da equidade: com base na afirmação de que “os pobres são as principais vitimas
da degradação ambiental”, procura articular analiticamente os princípios de justiça e
ecologia.
• Matriz ética: inscreve o uso social do mundo material e a atitude humana correspondente
no debate ético sobre os valores de bem e mal, alinhando o uso desequilibrado da base
material do desenvolvimento com as condições de continuidade da vida das gerações
futuras.
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VOCÊ O CONHECE?
Nicholas Georgescu-Roegen nasceu em 4 de Fevereiro de 1906. Matemático e estatís-
tico formado pela Universidade de Paris, iniciou seus estudos em Economia, em 1934,
com Joseph Schumpeter, em Harvard. Em 1946, mudou-se para os Estados Unidos. Foi
professor de Economia na Universidade Vanderbilt, em Nashville. Em 1971, publicou
The Entropy Law and the Economic Process, dando origem ao debate sobre sustentabi-
lidade.
Os estoques terrestres de minerais e energia concentrada são limitados e finitos. Nesse sentido,
a proporção de sua utilização implicaria, para o futuro, na sua indisponibilidade. O fluxo solar,
por sua vez, embora nos pareça praticamente ilimitado, é altamente limitado, sobretudo se con-
siderado em relação à taxa com que chega à Terra (CECHIN, 2010).
• evitar o uso desiquilibrado e desnecessário dos recursos, a fim de prolongar sua vida útil.
No ano de 1972, Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, Jørgen Randers e William W. Behrens
III publicam Os limites para o crescimento: um relatório do Clube de Roma sobre o dilema da
humanidade, outro importante marco histórico no debate a respeito da temática do desenvolvi-
mento sustentável.
Como resultado de uma pesquisa realizada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos
Estados Unidos, o trabalho ficou também conhecido como Relatório do Clube de Roma, uma
associação informal e internacional que havia sido criada, em abril de 1968, por um grupo de
30 pessoas advindas de dez nacionalidades distintas, em reunião na Accademia dei Lincei, em
Roma, na Itália.
Em um dos pontos fundamentais do relatório, os autores ressaltam que a “[...] compreensão das
restrições quantitativas do meio ambiente mundial e das consequências trágicas de uma ultra-
passagem dos limites é essencial para a iniciação de novas maneiras de pensar.” (MEADOWS,
1972, p. 186). Essa “nova consciência” conduziria a humanidade, inexoravelmente, a uma revi-
são fundamental de seu próprio comportamento e, por consequência, da estrutura da sociedade
contemporânea.
Figura 3 – A humanidade precisa garantir uma estratégia para repensar sua relação com o meio ambiente.
Fonte: Shutterstock, 2015.
Em outro ponto distinto abordado pelo relatório, os autores afirmam que “[...] o problema global
do desenvolvimento está intimamente ligado a outros problemas globais.” (MEADOWS, 1972,
p. 187), admitindo o caráter multidisciplinar do tema da sustentabilidade. Além disso, expressam
que “[...] uma estratégia geral deve ser desenvolvida para atacar todos os grandes problemas,
incluindo especialmente aqueles que dizem respeito à relação do homem com seu meio ambien-
te.” (MEADOWS, 1972, p. 187).
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Outro marco relevante para a história do conceito de sustentabilidade foi o ano de 1987, pois
representou profundos avanços no campo da economia, da ecologia e do debate ético em torno
da questão do desenvolvimento sustentável. Segundo alguns pesquisadores, nessa época ocor-
reu um amplo movimento de internacionalização das discussões a respeito da sustentabilidade.
Dois eventos iniciais determinaram os rumos da discussão do tema naquele ano: o economista
Robert M. Solow recebeu o Prêmio Nobel em reconhecimento inédito à importância de sua teoria
do crescimento econômico que aborda, entre outros, o tema da sustentabilidade. Além disso, a
Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), ligada à Organização das Nações
Unidas, publicou o livro Nosso Futuro Comum, conhecido como Relatório Brundtland, em um dos
mais importantes momentos do debate a respeito da sustentabilidade.
Em sua teoria, Solow assume uma postura ultraotimista com relação à escassez dos recursos
ambientais, admitindo que, a longo prazo, não haveria qualquer limite oferecido pelos ecos-
sistemas aos processos produtivos. O autor mantém, ao longo de sua análise, uma posição de
extrema confiança no progresso científico e tecnológico que, a despeito da crescente escassez
dos recursos naturais, sempre será capaz de substituir os eventuais recursos ao inovar os outros
dois ingredientes fundamentais do processo produtivo: o trabalho humano e o capital produzido,
conforme demonstra Veiga (2008, p. 122).
O Relatório Brundtland, por sua vez, apresenta outros avanços no debate em torno da temática
da sustentabilidade:
[...] ele estabelece (i) uma relação direta entre o modelo de desenvolvimento econômico vigente
e a pobreza, a ineficiência na satisfação das necessidades básicas de alimentação, saúde,
habitação e (ii) mostra a necessidade de estabelecer uma matriz energética que privilegie as
fontes renováveis e do processo de inovação tecnológica e a degradação ambiental (FENZL,
2009, p. 23).
A despeito dos posicionamentos díspares com relação às heranças da Conferência de 1992, sua
realização lançou definitivamente o debate a respeito da sustentabilidade no campo internacio-
nal, propondo para diversos países ainda afastados das discussões o processo autorreflexivo.
Veja um quadro que sintetiza os principais eventos ocorridos entre as décadas de 1970 e 1990
que, de alguma forma, foram responsáveis pela consolidação do conceito de desenvolvimento
sustentável.
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Quadro 2 – Os principais eventos ocorridos entre as décadas de 1970 e 1990 que contribuíram para a criação e
difusão do conceito de desenvolvimento sustentável.
Fonte: Enríquez, 2008.
Do ponto de vista ambiental, o modo de produção capitalista tem produzido a aceleração do uso
desregulado dos recursos naturais e, do ponto de vista social, tem produzido enormes distancia-
mentos classistas, proliferando o número de desiguais infindavelmente. Por isso, os tempos atuais
urgem um novo modelo econômico mais humanizado.
Nos tópicos a seguir, você conhecerá os princípios fundamentais da economia solidária e suas for-
mas de organização, investigando, primeiramente, o papel central do trabalho. Em seguida, você
verá dois conceitos-base da economia solidária: o de repartição dos ganhos e o de autogestão.
No modo de produção capitalista, todas as relações são pautadas por um único interesse preva-
lecente: a obtenção irrestrita do lucro. Veja um exemplo: para o capitalismo, o trabalho assume,
na perspectiva do lucro, a categoria de “custo de produção”. Para produzir, o capitalista compra
a força de trabalho dos operários, gastando, para tanto, certa quantia de capital. Por essa razão,
segundo uma equação bastante ingênua, a maximização do lucro está ligada, inexoravelmente,
à redução dos custos com a produção e, por consequência, à redução dos gastos com salário,
a uma rigorosa regulação dos benefícios, entre outros mecanismos. Logo, o que se estabelece,
aqui, é uma relação de exploração.
Figura 4 – A economia solidária vai de encontro à lógica clássica do capitalismo, centrado no lucro.
Fonte: Shutterstock, 2015.
O modo de produção capitalista, portanto, produz, desde seus fundamentos, profundas desi-
gualdades, na medida em que aumenta, por meio da relação exploratória, a distância entre os
proprietários dos meios de produção do trabalho e os trabalhadores, em geral, empobrecidos.
Além disso, sob a égide da competitividade, imposta a partir do final da segunda metade do
século XX, os discursos neoliberais:
“[...] vêm pretendendo validar o princípio do mercado total, afirmando que todas as atividades
humanas podem realizar-se de melhor forma se se organizarem como mercados livres, em que
cada indivíduo procure, de forma egoísta, o melhor para si, competindo sem limites com todos
os demais.” (CORAGGIO, 2002, p. 15).
Esse novo paradigma social, se analisarmos de perto, pretende aumentar ainda mais as desigual-
dades humanas, legitimando-as sob a racionalidade da competição, dita “natural” do mercado
de trabalho. Esses modelos de dinâmica social pretendem, a todo custo, naturalizar os ditames
capitalistas, associando-os aos instintos mais ancestrais e naturais do ser humano. Contudo,
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conforme constata Paul Singer, em seu livro Introdução à Economia Solidária, as desigualdades
e a competição jamais poderão tornar-se “naturais”, no sentido de pertencerem intrinsicamente
à natureza humana. Ao contrário, desigualdade e competição, sobretudo no contexto do merca-
do, resultam dos modos de organização das atividades econômicas humanas que, ao longo da
história, foram constituindo diversos modos de produção (SINGER, 2002). As desigualdades e a
competição são, portanto, frutos dos modos de produção.
A economia solidária resulta, portanto, de uma plena consciência das relações entre padrões de
consumo e produção, sobretudo se analisados a partir da ótica da sustentabilidade, e preten-
de ainda equacionar, nos moldes associativos, as soluções possíveis para o prolongamento da
existência do homem e do meio ambiente. Nesse sentido, pretende assegurar “[...] a reprodução
ampliada da vida” (CORAGGIO, 2002, p. 17-18). Nos termos do autor, economia solidária é:
[...] uma economia que não represente a autojustificação do enriquecimento à custa dos demais,
mas que represente a moral das classes trabalhadoras num amplo espectro, em que sociedade,
política e cultura se revitalizem, encarnando-se em formas econômicas centradas no trabalho
e na lógica da reprodução em condições de vida sempre melhores de todos os indivíduos,
comunidades e sociedades, cada uma nos seus próprios termos (CORAGGIO, 2002, p. 20).
Conforme sabemos, empregados e empregadores são livres. Por isso, os empregados, a qualquer
instante, podem angariar melhores salários no mercado de trabalho, e os empregadores, por sua
vez, dentro dos limites estabelecidos legalmente, também podem demitir seus empregados, bus-
cando um trabalhador mais barato, mais eficiente etc. Essa dinâmica impõe um escalonamento
salarial pautado na oferta e demanda de determinado trabalho no mercado. A racionalidade do
escalonamento salarial impõe, portanto, a noção de hierarquia dos trabalhos. Por isso, os ope-
rários recebem baixos salários, e os altos executivos, em geral, obtêm os mais altos, compostos,
em alguns casos, por benefícios extraordinários, como bônus por merecimento, seguro-saúde
particularizado, entre outros.
Figura 5 – Em uma empresa que trabalha com economia solidária, todos são sócios.
Fonte: Shutterstock, 2015.
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São basicamente duas as razões para a compreensão e aceitação da desigualdade das retiradas.
Primeiro, porque vigora ainda uma antiga mentalidade, advinda das experiências da economia
capitalista, que, em certa medida, naturaliza a noção de que determinados tipos de trabalho –
como o gerenciamento, por exemplo – possuem mais “valor” do que outros. Em segundo lugar,
em função de uma medida protetiva, a maioria dos sócios admite o escalonamento das retiradas
para que a colaboração de cooperados mais qualificados não seja ameaçada por ofertas mais
vantajosas das empresas capitalistas no mercado de trabalho. Nesse sentido, parece prevalecer
um cálculo bastante razoável: admitir a maior retirada dos cooperados mais qualificados permi-
tirá à cooperativa continuar angariando ganhos maiores, o que acarretaria o benefício de todo
o conjunto de sócios.
Segundo Singer (2002), a distinção que marca a distribuição dos ganhos na empresa solidária,
sobretudo em relação às empresas de economia capitalista, é que “[...] na empresa solidária,
o escalonamento das retiradas é decidido pelos sócios, que têm por objetivo assegurar boas
retiradas para todos e principalmente para a maioria que recebe menores retiradas.” (SINGER,
2002, p. 14).
Outra característica marcante da distinção entre os dois modelos de economia diz respeito à
repartição do excedente anual. Nas empresas capitalistas, tais excedentes são chamados de
lucro, enquanto nas empresas de economia solidária, são denominados sobra. As distinções, no
entanto, não são apenas de nomenclatura.
Nas empresas de economia capitalista, o destino dos excedentes é decidido por uma assembleia
de acionistas. A prática geral é a seguinte: uma parcela do excedente é entregue aos acionistas
em dinheiro, como dividendos, e outra parcela é destinada aos fundos de investimento. Em ciclos
financeiros, a cada período, uma parcela dos fundos de investimento é novamente integrada à
empresa, que a acrescenta ao seu capital, proporcionando, assim, nova emissão de ações que,
por sua vez, são alocadas novamente nas mãos dos acionistas.
Uma parte delas é colocada num fundo de educação (dos próprios sócios ou de pessoas
que podem vir a formar cooperativas), outra é posta em fundos de investimento, que podem
ser divisíveis ou indivisíveis, e o que resta é distribuído em dinheiro aos sócios por algum
critério aprovado pela maioria: por igual, pelo tamanho da retirada, pela contribuição dada à
cooperativa etc. (SINGER, 2002, p. 14).
O fundo divisível, conforme descreve Singer (2002), é utilizado para a expansão do patrimônio
da cooperativa, sendo contabilizado individualmente para cada sócio. Ao se retirar da coopera-
tiva, o sócio tem direito à sua cota de fundo divisível e aos juros a ele acrescidos.
O fundo indivisível, por sua vez, é um patrimônio da cooperativa, no sentido mais amplo possí-
vel. Está a serviço da manutenção da cooperativa, impedindo, por exemplo, a sua descapitaliza-
ção caso parte dos sócios se retire (SINGER, 2002). Por essa razão, esse fundo não pertence aos
sócios, que não recebem nenhuma parte quando se retiram. Esse modelo de gestão dos fundos
sinaliza que a empresa de economia solidária não está adstrita aos seus sócios atuais, mas a
toda sociedade.
Em uma empresa de menor porte, as decisões são discutidas e tomadas em assembleia por todos
os sócios. Nas de maior porte, as assembleias-gerais são menos frequentes, na medida em que
inviabilizam a discussão e a participação efetiva de todos os sócios. Por essa razão, em cada
seção ou departamento, são eleitos delegados que representam e deliberam em nome de todos
os sócios. Contudo, as pequenas decisões rotineiras são assumidas por encarregados e gerentes,
escolhidos direta ou indiretamente pelos sócios.
Ao contrário de suas congêneres capitalistas, nas empresas de economia solidária, “[...] as or-
dens e instruções devem fluir de baixo para cima e as demandas e informações de cima para
baixo” (SINGER, 2002, p. 18). Nesse sentido, todos os sócios têm acesso às informações bá-
sicas necessárias à administração da empresa, podendo, nas assembleias, intervir nos rumos e
destinos assumidos. Conforme descreve Singer (2002, p. 18), nesse tipo de organização, “[...] a
autoridade maior é a assembleia de todos os sócios, que deve adotar as diretrizes a serem cum-
pridas pelos níveis intermediários e altos da administração” (2002, p. 18).
Veja um exemplo de como funciona a estrutura administrativa de uma empresa baseada na eco-
nomia solidária.
CASO
O Instituto Banco Palmas é uma experiência pioneira desse tipo no Brasil. Criado em 1998, com
sede no Conjunto Palmeiras, na região periférica de Fortaleza, no Ceará, tem natureza associati-
va e comunitária. Através de diversas linhas de microcrédito, incentiva a produção e o comércio
local, com base nos princípios da economia solidária.
A administração do banco funciona da seguinte forma: ele é dirigido por um conselho gestor,
composto por 25 pessoas que, ao longo de suas trajetórias pessoais, demonstraram sensibilidade
e compromisso com a emancipação humana e com a justiça social. Cada conselheiro possui
mandato de dois anos, prorrogáveis por mais dois, mediante acordo coletivo. Em média, 90%
dos seus membros residem no próprio Conjunto Palmeiras ou nas adjacências.
Em 2013, o Instituto Banco Palmas foi laureado com o Prêmio Aicesis, da International Asso-
ciation of Economic and Social Councils and Similar Institutions, entregue durante o V Fórum de
Inclusão Financeira do Banco Central, em 4 de Novembro de 2013, em Fortaleza.
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Você acabou de conhecer os fundamentos da ideia de economia solidária, que parte da cen-
tralidade do trabalho para a composição dos modos de produção. Você ainda aprendeu quais
são os modos de repartição de ganhos para uma organização desse tipo, observando profundas
diferenças entre o modo de conceber os ganhos na empresa solidária e na de economia capita-
lista. Você ainda viu os princípios fundamentais da autogestão, elemento democrático básico da
administração das empresas solidárias.
• Em 1971, Nicholas Georgescu-Roegen publicou The Entropy Law and the Economic
Process, inaugurando os debates em torno da temática do desenvolvimento sustentável e
da ineficiência dos modelos econômicos vigentes em gerir os recursos naturais.
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Referências Bibliográficas
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