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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

RELAÇÕES PÚBLICAS

ALESSANDRA FESTA
BEATRIZ SCHEFER
LAURA MELLO

CULTURA DO CANCELAMENTO NO AMBIENTE DIGITAL


COMO A TECNOLOGIA INFLUENCIA?

CURITIBA
PARANÁ
Resumo
Este trabalho busca apresentar o tema “cultura do cancelamento no ambiente digital: como a
tecnologia influencia?”, escolhido para ser a base de um produto que reflite o conteúdo
trabalhado na disciplina “Comunicação e Tecnologia”. Ministrada pela professora Myrian
Del Vecchio de Lima para os cursos de Comunicação Social, Jornalismo, Relações Públicas e
Publicidade e Propaganda da Universidade Federal do Paraná durante o período especial de
atividades remotas, a disciplina abordou temas como tecnologia, sociedade, comunicação,
linguagem, entre outros. Assim, nosso produto é um episódio de podcast que objetiva
apresentar e debater sobre o tema escolhido junto a esses, utilizando como base alguns dos
argumentos teóricos apresentados durante a disciplina e o material que foi obtido através de
uma pesquisa acerca do tema.

Palavras-chaves: Comunicação; Tecnologia; Cultura do Cancelamento; Podcast.

Introdução
Quando a tecnologia e as telas trazem uma sensação de poder e autonomia que
muitas vezes não existe no mundo real, parece ser mais fácil julgar, opinar sobre e limitar as
ações do outro. Essa é a “cultura do cancelamento”, que representa o hábito do internauta de
“cancelar” aqueles que agem de uma forma contrária ao esperado - ou, então, ao
politicamente correto - através de boicotes e mensagens ofensivas. A atitude, muito popular e
comentada internet adentro, gera inúmeras discussões e debates que questionam até que
ponto é correto, necessário e até mesmo ético exercer o “cancelamento” para com alguém no
mundo virtual.
Acerca dessa cultura e da influência que têm sob ela a tecnologia, as mídias sociais e
o ambiente virtual, desenvolvemos um episódio de podcast que visa informar, contextualizar
e conscientizar o ouvinte de maneira leve e descontraída.

Cultura do Cancelamento

A leitura de alguns romances históricos ambientados em reinados nos dão uma breve
noção do que seja o cancelamento. Afinal, ser “cancelado” significava que as pessoas
passariam direto por você sem reconhecer sua existência. Ou seja, alguém era “cancelado”
por ter feito algo inaceitável durante o período. Seja uma vida bastarda, a vadiagem ou a
prostituição, o período regencial, um dos mais longos da história dos reinados formais,
tinham suas figuras mais icônicas canceladas em suas participações (ou ausência) na área da
arquitetura, literatura, moda, política e cultura. E engana-se quem acredita que a exclusão
social morreu no fim do reinado. Ela permanece conosco até hoje.
Nos últimos anos, a ideia de que uma pessoa pode ser “cancelada’’ - em outras
palavras, ser culturalmente assediada em sua carreira e reputação, além de tornar-se um
tópico polarizador para debate, é cada vez mais evidente. O surgimento da “cultura de
cancelamento’’ e a ideia de cancelar alguém coincidem com um padrão familiar: uma
celebridade ou outra figura pública faz ou diz algo ofensivo. Segue-se uma reação pública,
alimentada pelas redes sociais e comunidades online. Em seguida, vêm os apelos para
“cancelar” a pessoa - ou seja, para efetivamente encerrar sua carreira ou revogar de seu status
de fama, seja por meio de boicotes ao trabalho ou ação disciplinar de um empregador. E o
que há de comum em todos os “cancelamentos”? Todo esse círculo de ações tem início no
ambiente digital. Há, vez ou outra, sequelas, “respingos” que ultrapassam a barreira e chegam
até a vida real, atrapalhando a vida cotidiana da pessoa “cancelada”. Mas por que o ambiente
digital e as mídias sociais são o habitat natural dessa cultura? Pierre Lévy, em entrevista para
a Folha de S. Paulo, explica que cada vez que passamos por grandes transformações no
sistema de comunicação, temos uma transformação também na cultura e na civilização.
Segundo Lévy (2019) “estamos atualmente nesse estágio porque em nosso novo sistema de
comunicação toda informação é acessível. É onipresente. Todas as pessoas estão
interconectadas, o que é ainda mais importante”.
Por isso, a “cultura do cancelamento”, cada vez mais difundida e popular no mundo
virtual e fora dele, acumula polêmicas e opiniões em seu entorno. O hábito de “cancelar”
pessoas, em grande parte celebridades e subcelebridades, é tomar um julgamento direto sobre
suas condutas tomadas em diferentes aspectos, hoje, mal vistos pela sociedade. Há algum
tempo atrás, os casos de assédio sexual, racismo e homofobia, por exemplo, cometidos nos
“bastidores’’ não eram tão comentados ou mesmo sentenciados pela mídia e pelo público.
Com o advento da globalização, da popularidade da internet e da conscientização acerca dos
problemas sociais acima citados, contudo, usuários anônimos passam a ter mais liberdade e
começam a se sentir no direito de envergonhar celebridades pelos seus atos, inspirando ações
em outros lugares da internet (e até fora dela), de modo a gerar o fenômeno que hoje
conhecemos como “cancelamento” - uma forma de envergonhar sua reputação devido às suas
atitudes. Como mencionado por MANCIO, LEITE e VECCHIO (2020, p. 10)
Se por um lado o ciberespaço amplia as possibilidades da democratização da
informação e da arte, por outro, com o anonimato, qualquer pessoa pode ser
quem quiser, divulgar as informações que desejar e, inclusive, criar
narrativas falsas para convencer pessoas a aderirem seus posicionamentos .

Tais como guerras virtuais, travadas entre os mais diferentes lados opinativos, as
comunidades online têm se polarizado cada vez mais e concentrando destaques em assuntos
que, como dito anteriormente, foram apagados e negados como problemáticas reais.
Mentalidade de multidão. Uma prática moderna de justiça social. Um impedimento à
liberdade de expressão. Uma plataforma para vozes marginalizadas. É possível entender a
cultura do cancelamento de diversas formas. Mas é fundamental debater o motivo dela existir
e persistir, com tanta força, mesmo que alguns “cancelados’’ ainda tenham certa imposição
sobre a opinião pública.
No início do século 21, muitos pesquisadores nutriam perspectivas muito positivas
sobre o potencial da internet. Para eles, a ferramenta seria a responsável pelo crescimento de
muitas empresas e até fomentar movimentos sociais, como o ativismo ambiental e a
igualdade de gênero. Um bom exemplo dessa visão pode ser encontrado em Redes de
Indignação e Esperança: Movimentos Sociais na Era da Internet de Manuel Castells (2013).
O autor destaca as possibilidades que a internet oferece para o ativismo popular, citando
casos promissores como a Primavera Árabe. Claro, isso não quer dizer que a percepção das
comunidades da internet seja puramente negativa atualmente. No entanto, algumas das
críticas sobre o ativismo de redes sociais são inevitáveis devido a natureza e fontes desses
sites. Afinal, eles oferecem mensagens curtas e diretas que muitas vezes não fornecem
contexto. E tais limitações são intrínsecas a qualquer discurso online e, portanto, são
essenciais em qualquer conversa sobre a cultura do cancelamento.

Produto

Com a intenção de abordar e refletir sobre o tema escolhido de forma leve e


descontraída, faremos um podcast - formato de mídia que, segundo Primo (2005), “é um
processo midiático que emerge a partir da publicação de arquivos de áudio na internet”. O
produto terá duração de aproximadamente 10 minutos e contará com a participação das três
alunas integrantes do grupo de trabalho, que atuarão através de uma conversa livre,
compartilhando opiniões e experiências pessoais sobre o assunto.
Uma vez que a cultura do cancelamento é um tema tão atual, polêmico e presente em
diversas partes do ambiente virtual, o formato de podcast foi escolhido pelo caráter de fácil
acesso, compartilhamento e grande circulação entre os jovens - esses que também são os que
mais discutem o tema e, portanto, nosso público principal. A disponibilidade, como cita
Vanassi (2007), é uma das principais características de um podcast. Os arquivos são
disponibilizados publicamente na internet e facilmente encontrados, oferecendo ao ouvinte a
liberdade de poder acessar e baixar os programas quando quiser.
Além disso, já se foi a época em que para ter um podcast de qualidade era necessário
se ter vários equipamentos de última geração, caros e super tecnológicos, o conteúdo que o
programa carrega é mais relevante que esses detalhes de setup dentro do meio. Por esse
motivo, acreditamos que é o formato que melhor se encaixa com o debate que propomos.
Ainda sobre os fatores que nos fizeram optar por esse formato de produto, podemos
mencionar a liberdade do público de ouvir o podcast enquanto faz as suas coisas do dia a dia
e de se sentir a par da atualidade conforme o assunto é discutido no episódio, principalmente
por apresentar um embasamento teórico junto das experiências e opiniões das alunas. Como
mencionado, o nosso principal público são os jovens: homens de mulheres, de 16 a 27 anos,
de classes A, B, C e D e que hoje fazem parte da geração que mais alimenta essa cultura nas
redes sociais - no Twitter, principalmente.
O objetivo final do podcast é, portanto, propor uma reflexão acerca da “cultura do
cancelamento”, da instantaneidade com que as coisas tomam forma nas redes sociais, do
comportamento do jovem no ambiente digital e da influência (positiva ou negativa) da
tecnologia nesse comportamento. MARTINO (2014) destaca que as interferências do mundo
desconectado ao mundo conectado até certo ponto são inevitáveis. Ou seja, muito do que se
discute online é tirado desse ambiente e se torna uma discussão offline e assim por diante,
como acontece com as narrativas transmidiáticas descritas por SCOLARI (2015)

NTs é uma estrutura particular de narrativa que se expande através de


diferentes linguagens (verbal, icônica etc.) e mídias (cinema, quadrinhos,
televisão, videogames etc.). NTs não são apenas adaptações de um meio
para o outro. A história que os quadrinhos contam não é a mesma contada
na televisão ou no cinema; as diferentes mídias e linguagens participam e
contribuem para a construção do mundo da narração transmídia. Esta
dispersão textual é uma das fontes mais importantes da complexidade na
cultura popular contemporânea.

Faremos, então, uma análise ambiental principalmente do Twitter, que hoje é a rede
social em que mais acontecem debates calorosos e até agressivos em vários aspectos. Com
isso, iremos avaliar se a tecnologia influencia a cultura do cancelamento e se ela atravessa,
como uma narrativa transmidiática, a barreira que diverge as mídias: o “cancelamento” que
acontece nas redes sociais é o mesmo apresentado na televisão, que é o mesmo que as
pessoas sofrem na “vida real”? Pretendemos também levantar a hipótese de que dentro dessa
cultura há, ainda, a diferença entre homens e mulheres: é possível dizer que alguns são “mais
cancelados” que outros? Por que?
Por se tratar de um tema bastante delicado por várias razões, é necessário o uso de
um tom de voz mais afetivo e compreensivo, ao mesmo tempo que é coloquial, jovem e
dinâmico para que o assunto não se torne pesado e polêmico de uma forma negativa.

Metodologia

Para o desenvolvimento deste trabalho, listamos alguns dos casos que foram mais
marcantes, para nós, em que a “cultura do cancelamento” ficou em evidência. Foram eles:
Gabriela Pugliesi, Azealia Banks, Madonna, Juliana Notari, Drako Maver e até Andy Warhol.
Depois, fizemos uma pesquisa e coletamos informações acerca desses acontecimentos, tanto
em noticiários como nas redes sociais, sempre com foco no Twitter e no público jovem, já
que esse é também o público do produto/podcast. Com a pesquisa, nosso foco era buscar
argumentos e materiais que pudessem servir de base para que realizássemos a exposição e a
discussão dos fatos durante o episódio de podcast. Buscamos, ainda, relacionar os casos e os
materiais coletados com os argumentos teóricos a respeito do ativismo em rede, das mídias
sociais, dos ambientes virtuais e da transmídia, apresentados e estudados durante a disciplina
“Comunicação e Tecnologia”.

Considerações finais

Depois da realização deste trabalho, que envolveu uma pesquisa acerca do tema
escolhido, “cultura do cancelamento”, do formato de mídia escolhido para o produto, dos
casos e fatos citados e dos conteúdos abordados durante a disciplina “Comunicação e
Tecnologia”, tornou-se evidente a influência da tecnologia sob essa cultura e o hábito de
julgar, opinar sobre e limitar as ações do outro. Essas atitudes já existiam, é claro, mas o fato
aqui discutido é que o ambiente virtual, os fóruns, as redes sociais e as comunidades, por
exemplo, tornam esse hábito muito mais comum, maior, mais forte e até mais prejudicial aos
envolvidos. Isso acontece porque a velocidade com que as informações chegam de um lado
para o outro e atingem milhares de pessoas é muito maior. Porque estar atrás das telas passa
ao usuário uma maior sensação de segurança, impunidade e superioridade, que contribui para
maior compartilhamento de opiniões e até discursos de ódio. E porque a tecnologia permite
que grupos com interesses comuns se comuniquem e se organizem com tamanha facilidade.
Também foi percebido que sim, algumas pessoas parecem ser “mais canceladas” do
que outras. Para obter um resultado mais preciso, ligando essa relação ao sexo feminino ou
masculino, contudo, seria necessário realizar um segundo estudo mais aprofundado.

Referências

CASTELLS, M. Redes de Indignação e Esperança: Movimentos Sociais na Era da


Internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.

LÉVY, P. Tecnologia pode tirar ciências humanas da Idade Média, diz Pierre Lévy. Folha de
S. Paulo, São Paulo, 9 de set. de 2019. Disponível em
<https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2019/09/tecnologia-pode-tirar-ciencias-humanas-
da-idade-media-diz-pierre-levy.shtml>. Acesso em: 28 de jan. de 2021.

MANCIO, C; LEITE, S; VECCHIO, M. D. O que o caso Darko Maver tem a nos ensinar
sobre ativismo em rede? 2020.

MARTINO, L. M. S. Teoria das Mídias Digitais. Linguagens, Ambientes e Redes.


Petropólis, Vozes: 2014.

PRIMO, A.F.T. Para além da emissão sonora: as interações no podcasting. In: Intexto.
Porto Alegre, n. 13, 2005.
SCOLARI, C. A. Narrativas Transmídia: consumidores implícitos, mundos narrativos e
branding na produção de mídia contemporânea. Parágrafo, [S.l.], v. 3, n. 1, p. 7-20, mar.
2015. ISSN 2317-4919.

VANASSI, G.C. Podcasting como processo midiático interativo. Monografia. Caxias do


Sul: Universidade de Caxias do Sul, 2007.

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