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DIREITOS DIFUSOS

E COLETIVOS

INTRODUÇÃO
AO PROCESSO
COLETIVO
MATERIAL RETIRADO DO CURSO DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

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Direitos Difusos e Coletivos
AULA 1 - INTRODUÇÃO AO PROCESSO COLETIVO CEI
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Júlio Camargo de Azevedo. Mestre em Direito Processual Civil pela Universidade de


São Paulo (USP). Especialista em Direito Processual Civil e Bacharel pela Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP). Defensor Público no Estado de
São Paulo. Coordenador do Grupo de Estudos de Direito Processual Civil da Defensoria
Pública de São Paulo (GEDPC-DPSP). Membro do Centro de Estudos Avançados de
Processo (CEAPRO). Mediador formado pelo Instituto de Mediação Transformativa.
Professor convidado de Cursos Preparatórios para Concurso Público e de Cursos de Pós-
graduação. Vencedor do VII Prêmio “Justiça para Todas e Todos – Josephina Bacariça”
na categoria Defensor Público.

Tiago Fensterseifer. Doutor e Mestre em Direito Público pela PUC/RS (Ex-Bolsista do


CNPq), com pesquisa de doutorado-sanduíche junto ao Instituto Max-Planck de Direito
Social e Política Social de Munique, na Alemanha (Bolsista da CAPES). Atualmente,
realiza pesquisa em nível de pós-doutorado junto ao Instituto Max-Planck de Direito
Social e Politica Social de Munique (2018-2019). Conselheiro eleito do Conselho Superior
da Defensoria Publica do Estado de São Paulo (2008-2009). Membro-colaborador do
Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Publica do Estado de São Paulo (2007-2012).
Examinador das disciplinas de Direito Constitucional, Direitos Humanos, Direitos Difusos
e Coletivos e Princípios Institucionais da Defensoria Pública de diversos concursos para
o cargo de Defensor Publico Estadual (DP/SP, DP/SC, DP/BA, DP/ES, DP/AM, DP/AP). Autor,
entre outras, das obras Defensoria Pública, Direitos Fundamentais e Ação Civil Pública
(São Paulo: Saraiva, 2015) e Defensoria Pública na Constituição Federal (Rio de Janeiro:
GEN/Forense, 2017); coautor, juntamente com Ingo Wolfgang Sarlet, das obras Direito
Constitucional Ambiental (6.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2019, no prelo), Direito
Ambiental: Introdução, Fundamentos e Teoria Geral (São Paulo: Saraiva, 2014), obra
finalista do Premio Jabuti 2015, na Categoria Direito, e Princípios do Direito Ambiental
(2.ed. São Paulo: Saraiva, 2017); coautor, juntamente com Ingo W. Sarlet e Paulo Affonso
Leme Machado da obra Constituição e Legislação Ambiental Comentadas (São Paulo:
Saraiva, 2015). Defensor Público do Estado de São Paulo (desde 2007).

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PROFESSOR JÚLIO CAMARGO DE AZEVEDO


E-mail: profcei.juliocamargo@gmail.com

🏳🏳 DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS

1. INTRODUÇÃO AO PROCESSO COLETIVO.


“A quem pertence o ar que eu respiro” - célebre frase dita por Mauro Cappelletti em conferência na década
de 70 para caracterizar os chamados direitos difusos.

A inteligência da frase reside na constatação de que o “ar que eu respiro” pertence a todos e ao mesmo
tempo a ninguém. Ou seja, embora todos tenhamos direito a um ar sadio, condição de possibilidade para
a vida humana, não podemos definir quem seria o titular deste direito, tampouco atribuir qual seria a
quota-parte de ar cabível a cada um.

• Desafio: pensar formas processuais capazes de proteger os direitos transindividuais. Razões:

- processo civil de base individualista (Caio e Tício), preocupado em declarar direitos


subjetivos individuais.

- ausência de preocupação com a dimensão executiva do direito de ação, que permitisse


uma tutela jurisdicional verdadeiramente efetiva.

• foi necessário pensar um modelo de processo que franqueasse uma tutela adequada aos direitos
de grupos. Nascia o Direito Processual Coletivo.

CONCEITOS-CHAVE
a) Direito Processual Coletivo: ramo autônomo do Direito Processual, que reúne um conjunto de regras
e princípios próprios, predispondo-se a tutelar direitos transindividuais, pertencentes a um grupo de
pessoas.

b) Ação coletiva: demanda pela qual se afirma a existência de uma situação jurídica coletiva ativa ou
passiva, iniciando, a partir daí, um processo coletivo.

ATENÇÃO: Ação coletiva é gênero, do qual é espécie os demais instrumentos processuais coletivos (ação
civil pública, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção coletivo)

c) Tutela Jurisdicional Coletiva: proteção judiciária conferida aos direitos transindividuais, a qual pode
envolver tanto a dimensão dos resultados da atividade jurisdicional, quanto a dimensão dos meios

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procedimentais preordenados à consecução das finalidades do processo coletivo.

d) Tutela de Direitos Coletivos vs. Tutela Coletiva de Direitos: distinção baseada no pensamento de Teori
Zavaski. Segundo o Prof. Gaúcho:

i) tutela de direitos coletivos: remete a um tratamento judiciário destinado aos direitos


transindividuais, isto é, a análise de direitos essencialmente coletivos, que ultrapassam
a órbita individual, seja em função da indeterminação de sujeitos, seja em função da
indivisibilidade do objeto. É o caso dos direitos difusos e coletivos strictu sensu.
ii) tutela coletiva de direitos: remete a um tratamento judiciário destinado a direitos
individuais, que, em razão da homogeneidade de questões jurídicas, são melhor tuteladas
coletivamente em termos de economia processual e segurança jurídica. Não há, entretanto,
um direito de grupo envolvido. O seu objeto é divisível e os titulares determinados. É o caso
dos direitos individuais homogêneos.
Ainda, em relação ao seu objeto, há autores que dividem o processo coletivo em (Gregório Assagra de
Almeida):

a) Processo coletivo comum: voltado à tutela de situações coletivas subjetivas; proteção no plano
concreto. É o caso das ações que compõem o microssistema processual coletivo brasileiro. Ex: Ação
Civil Pública, Ação popular, Mandado de Injunção Coletivo, Mandado de Segurança Coletivo, Ação de
Improbidade Administrativa etc.

b) Processo coletivo especial: voltado à tutela do direito objetivo; proteção no plano abstrato. É o caso de
todas as ações que compõem o controle concentrado de constitucionalidade. EX: ADI, ADC, ADPF, ADO
etc.

- como os efeitos destas ações constitucionais são erga omnes, não deixam de veicular uma pretensão em
favor de toda a coletividade, ainda que de forma abstrata.

2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Podemos separar a evolução histórica do processo coletivo em 3 fases:

a) antiga:

i) ação popular no Direito Romano - permitia a defesa pelo cidadão de coisas públicas, de
uso comum do povo (ex: praças e espaços de convivência);
ii) bill os peace inglês - autorização concedida pelos Tribunais de Equidade para a
coletivização de causas.
b) moderna (fim do séc. XIX e primeira metade do séc XX):

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i) Revoluções industriais: formação da sociedade de massas, marcada pela produção,


consumo e por relações cada vez mais impessoais e coletivizadas.
ii) início dos movimentos sindicais Surgem as reivindicações de classes e categorias
(integrantes da força-trabalho vs. integrantes da força-capital).
c) pós-moderna (pós década de 70): cujas marcas são a globalização, a vulnerabilidade do consumidor, a
tomada de consciência ecológica e o multiculturalismo.

3. FUNDAMENTOS DO PROCESSO COLETIVO.


a) “molecularização” dos conflitos: em uma sociedade de massas, os conflitos deixam de ser atomizados,
de modo que um mesmo evento pode dar origem a uma série de litígios repetidos. Foi preciso pensar
uma forma de otimizar o julgamento destas demandas, evitando a insegurança jurídica de decisões
conflitantes (Watanabe). Migra-se, portanto, da ideia de demandas-átomo para demandas-moléculas.

b) solução da “litigiosidade contida”: em uma sociedade de massas, a relação custo-benefício do


processo judicial, isto é, a complexidade, o custo e a lentidão do processo tendem a afastar o cidadão
da busca por seus direitos. Essa litigiosidade, contida socialmente, gera instabilidade e contribui para
aumentar a desigualdade social. O processo coletivo se propõe a trabalhar essa litigiosidade contida,
retirando do cidadão o ônus de ingressar no Poder Judiciário com causas de reduzidos valores, mas que
no plano coletivo ostentam interesse social.

c) instrumentalidade do processo: abriga a ideia de que o processo não é um fim em si mesmo, mas
instrumento voltado à tutela do direito substancial. A técnica do processo, portanto, deve ser vista
também a partir de sua utilidade/finalidade, que é prestar adequada tutela aos direitos. Disso deriva um
repensar da técnica processual, que deve ser adaptada à prestação de uma tutela jurisdicional justa e
efetiva aos direitos transindividuais.

d) acesso à justiça: a partir da cláusula constitucional de inafastabilidade de jurisdição, sustenta-se o


conhecimento judiciário a lesão ou ameaça de lesão a qualquer espécie de direito (individual ou coletivo).

4. ACESSO À JUSTIÇA E A TUTELA COLETIVA.


Em meados da década de 70, Cappelletti e Garth promoveram um estudo comparado e mutidisciplinar,
procurando responder como as pessoas acessavam à justiça nos sistemas jurídicos de common e civil law.

O chamado “Projeto Florença” identificou quais eram as barreiras enfrentadas pelos cidadãos na
tentativa de acessar a justiça, propondo a partir daí formas de superá-las. Os professores batizaram esse
movimento de ondas renovatórias.

1ª onda: propiciar acesso dos pobres ao Judiciário

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2ª onda: propiciar tutela aos direitos coletivos

3ª onda: propiciar acesso efetivo à justiça (adequação procedimental + vias “alternativas” de solução de
conflitos)

Indicação de leitura: https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/pensando-direito/descortinando-


o-global-access-to-justice-project-02052019

5. AS DIMENSÕES DE DIREITOS HUMANOS E A TUTELA COLETIVA.


a) DH de 1ª dimensão: são direitos de inspiração liberal, que versam essencialmente sobre a autonomia e
a defesa da liberdade individual, preocupados em limitar a interferência do Estado. São espécies:

- Direitos civis: liberdades-autonomia


- Direitos políticos: liberdades-participação
Em teoria, portanto, essa primeira dimensão dos DH seria responsável por realizar o valor liberdade.

b) DH de 2ª dimensão: seriam os direitos sociais, econômicos e culturais, os quais desafiam um


intervencionismo estatal, tendo como meta a igualdade material. São espécies:

- Direitos Econômicos: ligam-se à produção, distribuição e consumo de riquezas


- Direitos sociais e culturais: referem-se a um padrão de vida adequado (alimentação,
moradia, educação, cultura etc.).
c) DH 3ª dimensão: enquadram direitos pertencentes a toda a Humanidade. Refletem a solidariedade ou
fraternidade.

- aqui estariam situados os direitos transindividuais.


Crítica: o enquadramento dos direitos transindividuais na terceira dimensão de direitos humanos:

- é perfeitamente possível (e recomendável) que a tutela de direitos sociais, econômicos e culturais se


desenvolva pela via do processo coletivo (ex: políticas públicas envolvendo saúde, educação, moradia
etc.), o qual deve permitir uma discussão que envolva planejamento, orçamento e políticas públicas.

- pela teoria do custo dos direitos (Holmes e Sustein), já se comprovou que todo direito tem um custo,
independente de sua geração/dimensão. Logo, seria impróprio dizer que os direitos de primeira dimensão
exigiriam apenas um não fazer do Estado. Maior exemplo é a segurança pública, corriqueiramente
apontada como um direito de primeira dimensão, mas que demanda investimentos vultuosos do Estado.

- os direitos humanos são multifuncionais, indivisíveis e interdependentes. Eu só consigo falar em


liberdade a partir do momento que eu forneço condições básicas de cidadania, o mínimo existencial.

6. HISTÓRICO DO PROCESSO COLETIVO BRASILEIRO

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7. MOVIMENTOS DE CODIFICAÇÃO

8. MICROSSISTEMA DO PROCESSO COLETIVO BRASILEIRO.


A lógica normativa que atualmente vige no processo coletivo brasileiro é a de um microssistema processual.

Esse microssistema possui duas legislações centrais: a LACP e o CDC. Essas leis formam o núcleo, o centro
valorativo do microssistema.

De um lado, asseguram por meio dos artigos 90 do CDC e 21 da LACP a aplicabilidade mútua das legislações
aos conflitos coletivos. A doutrina chama estes dispositivos de normas de reenvio.

De outro, estas legislações irradiam aplicabilidade a todos os demais diplomas legislativos componentes,
garantindo uma integração dinâmica e flexível.

Conforme art. 21 da LACP e art. 90 CDC:

Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no
que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do
Consumidor. (Incluído Lei nº 8.078, de 1990)
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e
da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo
que não contrariar suas disposições.
JURISPRUDÊNCIA - Superior Tribunal de Justiça:

“A lei de improbidade administrativa, juntamente com a lei de ação civil pública, da ação

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popular, do mandado de segurança coletivo, do Código de Defesa do Consumidor e do


Estatuto da Criança e do Adolescente e do Idoso, compõem um microssistema de tutela
dos interesses transindividuais e sob esse enfoque interdisciplinar interpenetram-se e
subsidiam-se [...]”. STJ – REsp 510.150/MA, 1ª Turma, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17-2-2004.
Indicação de leitura: http://www.esmp.sp.gov.br/revista_esmp/index.php/RJESMPSP/article/
viewFile/43/26

9. PRINCÍPIOS DA TUTELA COLETIVA.


a) atipicidade ou não-taxatividade – possui 2 dimensões:

i) Dimensão material: Os direitos materiais transindividuais que pdoem ser protegidos


pelos instrumentos processuais coletivos não são taxativos. Neste sentido, o artigo 1º, inc.
IV, LACP:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações
de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados: (Redação dada pela
Lei nº 12.529, de 2011).
(...)
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo. (Incluído pela Lei nº 8.078 de 1990)
ii) Dimensão processual: são admissíveis todas as espécies de ações capazes de
proporcionar a adequada tutela de direitos coletivos. Neste sentido, o artigo 83 do CDC:
Art. 83. Para a defesa dos direitos e interesses protegidos por este código são
admissíveis todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva
tutela.
Parágrafo único. (Vetado).
ATENÇÃO 1: a dimensão processual está reproduzida em outros dois diplomas componentes do
microssistema: art. 212 do ECA e art. 82 do Estatuto do idoso.

Art. 212, ECA. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, são admissíveis
todas as espécies de ações pertinentes.
Art. 82, EI. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são admissíveis
todas as espécies de ação pertinentes.
ATENÇÃO 2: qualquer modalidade de ação ou tutela podem ser coletivizadas (ex: reclamação coletiva;
ação rescisória coletiva; tutela provisória cautelar requerida em caráter antecedente; ação probatória
autônoma. Quanto ao tema:

Enunciado 503, FPPC: “O procedimento da tutela cautelar, requerida em caráter antecedente

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ou incidente, previsto no Código de Processo Civil é compatível com o microssistema do


processo coletivo”.
Enunciado 633, FPPC: “Admite-se a produção antecipada de prova proposta pelos
legitimados ao ajuizamento das ações coletivas, inclusive para facilitar a autocomposição
ou permitir a decisão sobre o ajuizamento ou não da demanda”.
b) indisponibilidade da ação e da execução coletiva: O objeto da ação coletiva pertence à coletividade e
não ao legitimado. Está ligado a ideia de interesse público primário.

Essa indisponibilidade do interesse não autoriza que os representantes, os entes legitimados por lei,
livremente disponham da ação ou da execução coletiva, ou seja, como objeto que pertence a toda
coletividade. Em tese, o legitimado não pode deixar de ajuizar a ação quando esta for necessária e não
pode desistir dela após interposta.

Caso ocorra desistência infundada, haverá sucessão processual, em que o MP ou outro legitimado
assumirá a ação. ATENÇÃO: embora outro legitimado possa fazê-lo, o MP está obrigado, conforme a
legislação:

Art. 5º Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:


(...)
§ 3º Em caso de desistência infundada ou abandono da ação por associação legitimada, o
Ministério Público ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa. (Redação dada pela
Lei nº 8.078, de 1990)
ATENÇÃO 1: em relação à ação coletiva, fala-se hoje na indisponibilidade mitigada (denominado por
alguns de disponibilidade motivada). Assim, muito embora sejam indisponíveis os interesses veiculados,
haverá situações em que a ação se torna absolutamente inconveniente, tornando inadequada a tutela de
direitos materiais coletivos.

Logo, será possível a desistência da ação coletiva, desde que de forma fundamentada.

ATENÇÃO 2: a indisponibilidade mitigada não se aplica a execução coletiva. Aqui não há exceção. O ente
legitimado não pode desistir da execução coletiva, ainda que fundamentadamente. Se desistir, MP está
obrigado a promover. Neste sentido:

Art. 15, LACP. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória,
sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
Art. 100, CDC. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número
compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a
liquidação e execução da indenização devida.

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Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo criado pela Lei n.°
7.347, de 24 de julho de 1985.
ATENÇÃO 3: o que ocorre se o MP desistir infundadamente? A doutrina entende que cabe controle por
órgão superior do MP.

Há, porém, divergência quanto ao ente responsável:

a) Mazzilli – entende que a supervisão deve ser feita pelo Conselho Superior (analogia ao art. 9º da LACP)

b) Nelson Nery Jr. – entende a supervisão deve ser feita pela chefia da instituição (PGJ ou PGR).

Tem maior aceitação a primeira corrente.

JURISPRUDÊNCIA - Superior Tribunal de Justiça: já reconheceu em duas oportunidades a exigência de


assunção do polo ativo pelo MP ou outro legitimado, evitando a extinção de ACP proposta por associação.

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. INGRESSO DO MP EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA NA HIPÓTESE DE


VÍCIO DE REPRESENTAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO AUTORA.
Na ação civil pública, reconhecido o vício na representação processual da associação autora,
deve-se, antes de proceder à extinção do processo, conferir oportunidade ao Ministério
Público para que assuma a titularidade ativa da demanda. Isso porque as ações coletivas
trazem em seu bojo a ideia de indisponibilidade do interesse público, de modo que o art.
13 do CPC deve ser interpretado em consonância com o art. 5º, § 3º, da Lei 7.347/1985.
Precedente citado: REsp 855.181-SC, Segunda Turma, DJe 18/9/2009. REsp 1.372.593-SP,
Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 7/5/2013.
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PROMOVIDA POR ASSOCIAÇÃO DESTINADA À
PROTEÇÃO DOS CONSUMIDORES. DISSOLUÇÃO DA DEMANDANTE NO CURSO DO PROCESSO,
COM A AÇÃO JÁ ESTABILIZADA. PRETENSÃO DE OUTRA ASSOCIAÇÃO DE ASSUMIR A
TITULARIDADE DO POLO ATIVO DA AÇÃO COLETIVA. IMPOSSIBILIDADE, NO ESPECÍFICO CASO
DAS ASSOCIAÇÕES (INCOMPATIBILIDADE QUE, EM TESE, NÃO SE ESTENDE AOS DEMAIS
LEGITIMADOS). REALINHAMENTO DO ENTENDIMENTO JURISPRUDENCIAL DO STJ, EM
CONSONÂNCIA COM A DELIBERAÇÃO EXARADA PELO STF, SOB O REGIME DE REPERCUSSÃO
GERAL. NECESSIDADE. EXPRESSA AUTORIZAÇÃO DOS ASSOCIADOS PARA A ADEQUADA
LEGITIMAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO QUE OS REPRESENTA. IMPORTANTE INSTRUMENTO DE
CONTROLE JUDICIAL DA ADEQUAÇÃO DA REPRESENTATIVIDADE. RECURSO PROVIDO.
1. Em linha de princípio, afigura-se possível que o Ministério Público ou outro legitimado,
que necessariamente guarde uma representatividade adequada com os interesses
discutidos na ação, assuma, no curso do processo coletivo (inclusive com a demanda já
estabilizada, como no caso dos autos), a titularidade do polo ativo da lide, possibilidade,

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é certo, que não se restringe às hipóteses de desistência infundada ou de abandono da


causa, mencionadas a título exemplificativo pelo legislador ( numerus apertus ).
2. Justamente por envolver interesses essencialmente ou acidentalmente coletivos (assim
nominados, na lição de José Carlos Barbosa Moreira, in Tutela Jurisdicional dos Interesses
Coletivos ou Difusos ) – nos quais se constatam a magnitude dos bens jurídicos envolvidos,
com assento constitucional; a peculiar e considerável dimensão das correlatas lesões; e
a inerente repercussão destas na esfera jurídica de um elevado número de pessoas – a
resolução dos conflitos daí advindos, por meio do processo coletivo, consubstancia, a um
só tempo, destacada atuação do poder jurisdicional na distribuição de justiça social e nas
políticas sociais do Estado, bem como verdadeiro anseio da sociedade.
2.1 Ante a natureza e a relevância pública dos interesses tutelados no bojo de uma ação
coletiva, de inequívoca repercussão social, ressai evidenciado que os legitimados para
promover a ação coletiva não podem proceder a atos de disposição material e/ou formal
dos direitos ali discutidos, inclusive porque deles não são titulares.
2.2 No âmbito do processo coletivo, vigora o princípio da indisponibilidade (temperada)
da demanda coletiva, seja no tocante ao ajuizamento ou à continuidade do feito, com
reflexo direto em relação ao Ministério Público que, institucionalmente, tem o dever de agir
sempre que presente o interesse social (naturalmente, sem prejuízo de uma ponderada
avaliação sobre a conveniência e, mesmo, sobre possível temeridade em que posta a
ação), e, indiretamente, aos demais colegitimados. Como especialização do princípio da
instrumentalidade das formas, o processo coletivo é também norteado pelo princípio
da primazia do conhecimento do mérito, em que este (o processo) somente atingirá sua
função instrumental-finalística se houver o efetivo equacionamento de mérito do conflito.
3. Todavia, esta compreensão quanto à possibilidade de assunção do polo ativo por outro
legitimado, não se aplica – ressalta-se – às associações porque de todo incompatível.
3.1 No específico caso das associações, de suma relevância considerar a novel orientação
exarada pelo STF que, por ocasião do julgamento do RE 573.232/SC, sob o regime do art. 543-
B do CPC/1973, reconheceu, para a correta delimitação de sua legitimação para promover
ação coletiva, a necessidade de expressa autorização dos associados para a defesa de seus
direitos em juízo, seja individualmente, seja por deliberação assemblear, não bastando,
para tanto, a previsão genérica no respectivo estatuto.
3.2 Esta exegese permite ao magistrado bem avaliar, no específico caso das associações, se a
demandante efetiva e adequadamente representa os interesses da respectiva coletividade,
de modo a viabilizar a consecução de direitos que alegadamente guardariam relevância
pública e inequívoca repercussão social. Em relação aos demais legitimados, esta análise,

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ainda que pertinente, afigura-se naturalmente atenuada ante a finalidade institucional


decorrente de lei.
3.3 Não se descurando da compreensão de que a lei, ao estabelecer os legitimados
para promover a ação coletiva, presumivelmente reconheceu a correlação destes com
os interesses coletivos a serem tutelados, certo é que o controle judicial da adequada
representatividade, especialmente em relação às associações, consubstancia importante
elemento de convicção do magistrado para mensurar a abrangência e, mesmo, a relevância
dos interesses discutidos na ação, permitindo-lhe, inclusive, na ausência daquela, obstar
o prosseguimento do feito, em observância ao princípio do devido processo legal à tutela
jurisdicional coletiva, a fim de evitar o desvirtuamento do processo coletivo.
4. Reconhece-se, pois, a absoluta impossibilidade, e mesmo incompatibilidade, de outra
associação assumir o polo ativo de ação civil pública promovida por ente associativo que,
no curso da ação, veio a se dissolver (no caso, inclusive, por deliberação de seus próprios
associados). Sob o aspecto da representação, afigura-se, pois, inconciliável a situação
jurídica dos então representados pela associação dissolvida com a dos associados do
“novo ente associativo”, ainda que, em tese, os interesses discutidos na ação coletiva sejam
comuns aos dois grupos de pessoas.
4.1 Na espécie, a partir da dissolução do ente associativo demandante, a subtrair-lhe não
apenas a legitimação, mas a própria capacidade de ser parte em juízo, pode-se concluir
com segurança que os então associados não mais são representados pela associação
autora, notadamente na subjacente ação judicial. Por sua vez, a nova associação, que
pretende assumir a titularidade do polo ativo da subjacente ação civil pública, não detém
qualquer autorização para representar os associados do ente associativo demandante.
Aliás, da petição de ingresso no presente feito, constata-se que o petitório não se fez
acompanhar sequer da autorização de seus próprios associados para, no caso, prosseguir
com a presente ação, o que, por si só, demonstra a inviabilidade da pretensão. E, ainda que
hipoteticamente houvesse autorização nesse sentido (de prosseguimento no feito), esta,
por óbvio, não teria o condão de suprir a ausência de autorização dos então associados da
demandante, o que conduz à inarredável conclusão de que a associação interveniente não
possui legitimidade para prosseguir com a presente ação.
4.2 In casu, o Ministério Público, ciente da dissolução da associação demandante, não
manifestou interesse em prosseguir com a subjacente ação coletiva, o que enseja a extinção
do feito, sem julgamento de mérito.
5. Recurso especial provido
STJ - REsp 1.405.697 /Estado de Minas Gerais - 3.ª Turma - j. 28.04.2015 - v.u. - Rel. Marco

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Aurélio Bellizze Oliveira - DJe 08.10.2015


c) primazia da resolução do mérito: implica a prioridade da análise do mérito, à vista da eliminação de
óbices formais à produção dos resultados desejados.

O mesmo raciocínio existe hoje no CPC/2015: deve-se priorizar a análise do mérito em relação à extinção
do processo por vício processual formal. Atrai ainda como princípios correlatos a instrumentalidade das
formas e o melhor aproveitamento dos atos processuais.

Dialoga, ainda, com o combate à jurisprudência defensiva (art. 938, §1º). Como já tivemos a oportunidade
de sustentar, no âmbito do CPC/2015:

“a primazia da resolução do mérito, princípio umbilicalmente imbricado ao direito


à efetividade dos provimentos jurisdicionais, invoca a necessidade de se priorizar e
viabilizar a análise integral do mérito, à vista da eliminação de óbices formais à produção
dos resultados desejados. Demanda, nesta ótica, uma releitura do formalismo processual,
dialogando, frontalmente, com os princípios da instrumentalidade das formas (art. 277),
da fungibilidade de meios (arts. 1.024, §3º; 1.032; 1.033) e do aproveitamento dos atos
processuais (art. 283, par. un.). Visa, ademais, a um equilíbrio entre forma e finalidade,
seja na dimensão da convalidação de vícios não indispensáveis à análise de mérito (arts.
76; 139, inc. IX; 282, §2º; e 488), seja na dimensão da efetiva oportunidade de correção às
partes (arts. 317; 321 e 352). Projeta, por fim, um claro recado aos Tribunais no sentido de
coibir a famigerada jurisprudência defensiva, estendendo à esfera recursal as regras que
oportunizam o saneamento de vícios” (AZEVEDO, Manual de Prática Cível..., 2019, p. 108).
Todos estes pontos se relacionam à primazia da resolução do mérito, a qual se aplica com maior veemência
ao processo coletivo.

d) Máxima efetividade no processo coletivo: implica o dever de buscar os fins da tutela coletiva com o
menor dispêndio de recursos possível e o maior grau de satisfação dos resultados

Atrai ainda poderes instrutórios ampliados do juiz (ex: determinar a produção de provas, adaptar
procedimentos etc.), bem como o direito à executividade dos provimentos.

e) Ampla divulgação das ações coletivas: impõe a adequada notificação dos membros do grupo
substituído acerca da ação coletiva. A ideia é permitir que o grupo substituído tenha conhecimento da
ação coletiva, até como forma de eventualmente permitir a habilitação na execução como litisconsorte
ou como possível beneficiário do transporte in utilibus da coisa julgada coletiva.

Neste sentido, o juiz pode potencializar a veiculação de informações envolvendo ações coletivas, valendo-
se do jornal, TV, etc.

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Conforme o CDC:

Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os
autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias,
a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
ATENÇÃO 1: Nas class actions do direito norteamericano, esse princípio é conhecido como fair notice,
essencial para o exercício do direito de ingresso ou exclusão da ação coletiva.

ATENÇÃO 2: alguns autores incluem a regra da informação aos órgãos legitimados para a propositura de
ações coletivas prevista nos artigos 6 e 7 da LACP como uma decorrência desse princípio.

Essa regra dialoga com a previsão do artigo 139, inc. X, do CPC/2015, segundo o qual o juiz deve oficiar ao
Ministério Público e à Defensoria Pública quando se deparar com demandas individuais repetitivas.

Neste sentido:

Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério
Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem
o art. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 , e o art. 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro
de 1990 , para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.
ATENÇÃO 3: o princípio da ampla publicidade encontra-se devidamente materializado no CPC/2015 em
relação à comunicação processual nos procedimentos possessórios multitudinários.

Neste sentido:

Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz
conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos
estejam provados.
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas,
serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por
edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver
pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os ocupantes

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no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista
no § 1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em
jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios.
ATENÇÃO 4: o princípio da ampla publicidade também foi objeto de enunciado específico do FPPC:

EN. 620, FPPC: “O ajuizamento e o julgamento de ações coletivas serão objeto da mais
ampla e específica divulgação e publicidade”.
f) integração normativa (ou do microssistema de processo coletivo): garante a reunião intercomunicante
de diversos diplomas legais, que se subsidiam e interpenetram, compondo um microssistema próprio
para o trato da tutela de direitos coletivos.

Esse microssistema, como visto, em duas legislações centrais: a LACP e o CDC. Estas irradiam aplicação
a todos os demais ramos do Direito e se subsidiam por meio das normas de reenvio previstas nos artigos
90 do CDC e 21 da LACP.

ATENÇÃO 4: uma das maiores sacadas relacionadas ao princípio da integração normativa é que o
CPC/2015, voltado a solucionar conflitos individuais, passa a ser aplicado apenas residualmente e não
subsidiariamente às normas de processo coletivo.

A regra é: o intérprete deve primeiro buscar solucionar o impasse normativo a partir das regras do
microssistema e de seus princípios. Somente diante da inexistência de norma específica é que poderia se
valer das regras do processo civil individual.

Crítica: essa previsão, contudo, vem sendo atenuada pela doutrina mais moderna, principalmente para
aceitar a aplicação supletiva das normas gerais do CPC/2015 (ex: normas fundamentais; precedentes etc.)

Neste sentido, o Enunciado 619 do FPPC garante aplicabilidade às disposições relacionadas ao princípio
do contraditório ao processo coletivo.

En. 619, FPPC: “O processo coletivo deverá respeitar as técnicas de ampliação do


contraditório, como a realização de audiências públicas, a participação de amicus curiae e
outros meios de participação”
Nossa posição: esse diálogo das fontes, porém, não pode contrariar os princípios da tutela coletiva ou
apresentar incompatibilidade com o interesse público expresso pela tutela coletiva!

g) Não-prejudicialidade da Coisa Julgada Coletiva:

O processo coletivo foi pensado para beneficiar a coletividade (indivíduos). A coisa julgada coletiva, em
nossa sistemática, não pode prejudicar o cidadão individualmente considerado.

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Neste sentido:

Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento
valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas
e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e
direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
ATENÇÃO: importante perceber que, embora não possa prejudicar, a coisa julgada coletiva pode beneficiar.
Assim, vítimas e sucessores podem executar individualmente o título coletivo (transporte in utilibus da
coisa julgada).

Neste sentido:

Art. 103, § 3°, CDC: Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o
art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização
por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste
código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que
poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
Veremos esse tema com maior profundidade na aula sobre coisa julgada coletiva.

Bons estudos!

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Simulado
Julgue os itens a seguir:

1. A tutela coletiva de direitos permite um tratamento adequado aos direitos essencialmente


coletivos, como é o caso dos direitos individuais homogêneos.

2. O processo coletivo especial volta-se à tutela de situações coletivas subjetivas, concretamente


deduzidas em sede de ações coletivas, ao passo que o processo coletivo comum encontra-se
voltado à tutela abstrata do direito objetivo.

3. Não constitui fundamento histórico da tutela de direitos coletivos no Brasil:

a) a solução da litigiosidade contida

b) a instrumentalidade do processo

c) a força vinculante dos precedentes judiciais

d) a cláusula-geral de acesso à justiça

e) a molecularização dos conflitos

4. Constituem expressões do princípio da ampla divulgação das ações coletivas, exceto:

a) o fair notice das class actions do direito norte-americano

b) a possibilidade de o cidadão substituído exercer o opt in (ingresso) na qualidade de litisconsorte


e o opt out quanto beneficiário da coisa julgada coletiva (autoexclusão)

c) a possibilidade de manifestação judicial, por qualquer meio de comunicação, a respeito de


processo pendente de julgamento.

d) o dever judicial de comunicar a existência de demandas individuais repetitivas ao Ministério


Público e à Defensoria Pública.
GABARITO
Q1 ERRADA
02 ERRADA
Q3 C
Q4 C

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