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Difusos Telegram 2019
Difusos Telegram 2019
E COLETIVOS
INTRODUÇÃO
AO PROCESSO
COLETIVO
MATERIAL RETIRADO DO CURSO DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS
www.cursocei.com www.editoracei.com
Direitos Difusos e Coletivos
AULA 1 - INTRODUÇÃO AO PROCESSO COLETIVO CEI
CÍRCULO DE ESTUDOS PELA INTERNET
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A inteligência da frase reside na constatação de que o “ar que eu respiro” pertence a todos e ao mesmo
tempo a ninguém. Ou seja, embora todos tenhamos direito a um ar sadio, condição de possibilidade para
a vida humana, não podemos definir quem seria o titular deste direito, tampouco atribuir qual seria a
quota-parte de ar cabível a cada um.
• foi necessário pensar um modelo de processo que franqueasse uma tutela adequada aos direitos
de grupos. Nascia o Direito Processual Coletivo.
CONCEITOS-CHAVE
a) Direito Processual Coletivo: ramo autônomo do Direito Processual, que reúne um conjunto de regras
e princípios próprios, predispondo-se a tutelar direitos transindividuais, pertencentes a um grupo de
pessoas.
b) Ação coletiva: demanda pela qual se afirma a existência de uma situação jurídica coletiva ativa ou
passiva, iniciando, a partir daí, um processo coletivo.
ATENÇÃO: Ação coletiva é gênero, do qual é espécie os demais instrumentos processuais coletivos (ação
civil pública, mandado de segurança coletivo, mandado de injunção coletivo)
c) Tutela Jurisdicional Coletiva: proteção judiciária conferida aos direitos transindividuais, a qual pode
envolver tanto a dimensão dos resultados da atividade jurisdicional, quanto a dimensão dos meios
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d) Tutela de Direitos Coletivos vs. Tutela Coletiva de Direitos: distinção baseada no pensamento de Teori
Zavaski. Segundo o Prof. Gaúcho:
a) Processo coletivo comum: voltado à tutela de situações coletivas subjetivas; proteção no plano
concreto. É o caso das ações que compõem o microssistema processual coletivo brasileiro. Ex: Ação
Civil Pública, Ação popular, Mandado de Injunção Coletivo, Mandado de Segurança Coletivo, Ação de
Improbidade Administrativa etc.
b) Processo coletivo especial: voltado à tutela do direito objetivo; proteção no plano abstrato. É o caso de
todas as ações que compõem o controle concentrado de constitucionalidade. EX: ADI, ADC, ADPF, ADO
etc.
- como os efeitos destas ações constitucionais são erga omnes, não deixam de veicular uma pretensão em
favor de toda a coletividade, ainda que de forma abstrata.
2. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
Podemos separar a evolução histórica do processo coletivo em 3 fases:
a) antiga:
i) ação popular no Direito Romano - permitia a defesa pelo cidadão de coisas públicas, de
uso comum do povo (ex: praças e espaços de convivência);
ii) bill os peace inglês - autorização concedida pelos Tribunais de Equidade para a
coletivização de causas.
b) moderna (fim do séc. XIX e primeira metade do séc XX):
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c) instrumentalidade do processo: abriga a ideia de que o processo não é um fim em si mesmo, mas
instrumento voltado à tutela do direito substancial. A técnica do processo, portanto, deve ser vista
também a partir de sua utilidade/finalidade, que é prestar adequada tutela aos direitos. Disso deriva um
repensar da técnica processual, que deve ser adaptada à prestação de uma tutela jurisdicional justa e
efetiva aos direitos transindividuais.
O chamado “Projeto Florença” identificou quais eram as barreiras enfrentadas pelos cidadãos na
tentativa de acessar a justiça, propondo a partir daí formas de superá-las. Os professores batizaram esse
movimento de ondas renovatórias.
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3ª onda: propiciar acesso efetivo à justiça (adequação procedimental + vias “alternativas” de solução de
conflitos)
- pela teoria do custo dos direitos (Holmes e Sustein), já se comprovou que todo direito tem um custo,
independente de sua geração/dimensão. Logo, seria impróprio dizer que os direitos de primeira dimensão
exigiriam apenas um não fazer do Estado. Maior exemplo é a segurança pública, corriqueiramente
apontada como um direito de primeira dimensão, mas que demanda investimentos vultuosos do Estado.
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7. MOVIMENTOS DE CODIFICAÇÃO
Esse microssistema possui duas legislações centrais: a LACP e o CDC. Essas leis formam o núcleo, o centro
valorativo do microssistema.
De um lado, asseguram por meio dos artigos 90 do CDC e 21 da LACP a aplicabilidade mútua das legislações
aos conflitos coletivos. A doutrina chama estes dispositivos de normas de reenvio.
De outro, estas legislações irradiam aplicabilidade a todos os demais diplomas legislativos componentes,
garantindo uma integração dinâmica e flexível.
Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no
que for cabível, os dispositivos do Título III da lei que instituiu o Código de Defesa do
Consumidor. (Incluído Lei nº 8.078, de 1990)
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste título as normas do Código de Processo Civil e
da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo
que não contrariar suas disposições.
JURISPRUDÊNCIA - Superior Tribunal de Justiça:
“A lei de improbidade administrativa, juntamente com a lei de ação civil pública, da ação
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Art. 212, ECA. Para defesa dos direitos e interesses protegidos por esta Lei, são admissíveis
todas as espécies de ações pertinentes.
Art. 82, EI. Para defesa dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, são admissíveis
todas as espécies de ação pertinentes.
ATENÇÃO 2: qualquer modalidade de ação ou tutela podem ser coletivizadas (ex: reclamação coletiva;
ação rescisória coletiva; tutela provisória cautelar requerida em caráter antecedente; ação probatória
autônoma. Quanto ao tema:
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Essa indisponibilidade do interesse não autoriza que os representantes, os entes legitimados por lei,
livremente disponham da ação ou da execução coletiva, ou seja, como objeto que pertence a toda
coletividade. Em tese, o legitimado não pode deixar de ajuizar a ação quando esta for necessária e não
pode desistir dela após interposta.
Caso ocorra desistência infundada, haverá sucessão processual, em que o MP ou outro legitimado
assumirá a ação. ATENÇÃO: embora outro legitimado possa fazê-lo, o MP está obrigado, conforme a
legislação:
Logo, será possível a desistência da ação coletiva, desde que de forma fundamentada.
ATENÇÃO 2: a indisponibilidade mitigada não se aplica a execução coletiva. Aqui não há exceção. O ente
legitimado não pode desistir da execução coletiva, ainda que fundamentadamente. Se desistir, MP está
obrigado a promover. Neste sentido:
Art. 15, LACP. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória,
sem que a associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados.
Art. 100, CDC. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número
compatível com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a
liquidação e execução da indenização devida.
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Parágrafo único. O produto da indenização devida reverterá para o fundo criado pela Lei n.°
7.347, de 24 de julho de 1985.
ATENÇÃO 3: o que ocorre se o MP desistir infundadamente? A doutrina entende que cabe controle por
órgão superior do MP.
a) Mazzilli – entende que a supervisão deve ser feita pelo Conselho Superior (analogia ao art. 9º da LACP)
b) Nelson Nery Jr. – entende a supervisão deve ser feita pela chefia da instituição (PGJ ou PGR).
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O mesmo raciocínio existe hoje no CPC/2015: deve-se priorizar a análise do mérito em relação à extinção
do processo por vício processual formal. Atrai ainda como princípios correlatos a instrumentalidade das
formas e o melhor aproveitamento dos atos processuais.
Dialoga, ainda, com o combate à jurisprudência defensiva (art. 938, §1º). Como já tivemos a oportunidade
de sustentar, no âmbito do CPC/2015:
d) Máxima efetividade no processo coletivo: implica o dever de buscar os fins da tutela coletiva com o
menor dispêndio de recursos possível e o maior grau de satisfação dos resultados
Atrai ainda poderes instrutórios ampliados do juiz (ex: determinar a produção de provas, adaptar
procedimentos etc.), bem como o direito à executividade dos provimentos.
e) Ampla divulgação das ações coletivas: impõe a adequada notificação dos membros do grupo
substituído acerca da ação coletiva. A ideia é permitir que o grupo substituído tenha conhecimento da
ação coletiva, até como forma de eventualmente permitir a habilitação na execução como litisconsorte
ou como possível beneficiário do transporte in utilibus da coisa julgada coletiva.
Neste sentido, o juiz pode potencializar a veiculação de informações envolvendo ações coletivas, valendo-
se do jornal, TV, etc.
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Conforme o CDC:
Art. 94. Proposta a ação, será publicado edital no órgão oficial, a fim de que os interessados
possam intervir no processo como litisconsortes, sem prejuízo de ampla divulgação pelos
meios de comunicação social por parte dos órgãos de defesa do consumidor.
Art. 104. As ações coletivas, previstas nos incisos I e II e do parágrafo único do art. 81, não
induzem litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada erga
omnes ou ultra partes a que aludem os incisos II e III do artigo anterior não beneficiarão os
autores das ações individuais, se não for requerida sua suspensão no prazo de trinta dias,
a contar da ciência nos autos do ajuizamento da ação coletiva.
ATENÇÃO 1: Nas class actions do direito norteamericano, esse princípio é conhecido como fair notice,
essencial para o exercício do direito de ingresso ou exclusão da ação coletiva.
ATENÇÃO 2: alguns autores incluem a regra da informação aos órgãos legitimados para a propositura de
ações coletivas prevista nos artigos 6 e 7 da LACP como uma decorrência desse princípio.
Essa regra dialoga com a previsão do artigo 139, inc. X, do CPC/2015, segundo o qual o juiz deve oficiar ao
Ministério Público e à Defensoria Pública quando se deparar com demandas individuais repetitivas.
Neste sentido:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério
Público, a Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem
o art. 5º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985 , e o art. 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro
de 1990 , para, se for o caso, promover a propositura da ação coletiva respectiva.
ATENÇÃO 3: o princípio da ampla publicidade encontra-se devidamente materializado no CPC/2015 em
relação à comunicação processual nos procedimentos possessórios multitudinários.
Neste sentido:
Art. 554. A propositura de uma ação possessória em vez de outra não obstará a que o juiz
conheça do pedido e outorgue a proteção legal correspondente àquela cujos pressupostos
estejam provados.
§ 1º No caso de ação possessória em que figure no polo passivo grande número de pessoas,
serão feitas a citação pessoal dos ocupantes que forem encontrados no local e a citação por
edital dos demais, determinando-se, ainda, a intimação do Ministério Público e, se envolver
pessoas em situação de hipossuficiência econômica, da Defensoria Pública.
§ 2º Para fim da citação pessoal prevista no § 1º, o oficial de justiça procurará os ocupantes
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no local por uma vez, citando-se por edital os que não forem encontrados.
§ 3º O juiz deverá determinar que se dê ampla publicidade da existência da ação prevista
no § 1º e dos respectivos prazos processuais, podendo, para tanto, valer-se de anúncios em
jornal ou rádio locais, da publicação de cartazes na região do conflito e de outros meios.
ATENÇÃO 4: o princípio da ampla publicidade também foi objeto de enunciado específico do FPPC:
EN. 620, FPPC: “O ajuizamento e o julgamento de ações coletivas serão objeto da mais
ampla e específica divulgação e publicidade”.
f) integração normativa (ou do microssistema de processo coletivo): garante a reunião intercomunicante
de diversos diplomas legais, que se subsidiam e interpenetram, compondo um microssistema próprio
para o trato da tutela de direitos coletivos.
Esse microssistema, como visto, em duas legislações centrais: a LACP e o CDC. Estas irradiam aplicação
a todos os demais ramos do Direito e se subsidiam por meio das normas de reenvio previstas nos artigos
90 do CDC e 21 da LACP.
ATENÇÃO 4: uma das maiores sacadas relacionadas ao princípio da integração normativa é que o
CPC/2015, voltado a solucionar conflitos individuais, passa a ser aplicado apenas residualmente e não
subsidiariamente às normas de processo coletivo.
A regra é: o intérprete deve primeiro buscar solucionar o impasse normativo a partir das regras do
microssistema e de seus princípios. Somente diante da inexistência de norma específica é que poderia se
valer das regras do processo civil individual.
Crítica: essa previsão, contudo, vem sendo atenuada pela doutrina mais moderna, principalmente para
aceitar a aplicação supletiva das normas gerais do CPC/2015 (ex: normas fundamentais; precedentes etc.)
Neste sentido, o Enunciado 619 do FPPC garante aplicabilidade às disposições relacionadas ao princípio
do contraditório ao processo coletivo.
O processo coletivo foi pensado para beneficiar a coletividade (indivíduos). A coisa julgada coletiva, em
nossa sistemática, não pode prejudicar o cidadão individualmente considerado.
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Neste sentido:
Art. 103. Nas ações coletivas de que trata este código, a sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por insuficiência de provas,
hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação, com idêntico fundamento
valendo-se de nova prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe, salvo improcedência por
insuficiência de provas, nos termos do inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista
no inciso II do parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para beneficiar todas as vítimas
e seus sucessores, na hipótese do inciso III do parágrafo único do art. 81.
§ 1° Os efeitos da coisa julgada previstos nos incisos I e II não prejudicarão interesses e
direitos individuais dos integrantes da coletividade, do grupo, categoria ou classe.
ATENÇÃO: importante perceber que, embora não possa prejudicar, a coisa julgada coletiva pode beneficiar.
Assim, vítimas e sucessores podem executar individualmente o título coletivo (transporte in utilibus da
coisa julgada).
Neste sentido:
Art. 103, § 3°, CDC: Os efeitos da coisa julgada de que cuida o art. 16, combinado com o
art. 13 da Lei n° 7.347, de 24 de julho de 1985, não prejudicarão as ações de indenização
por danos pessoalmente sofridos, propostas individualmente ou na forma prevista neste
código, mas, se procedente o pedido, beneficiarão as vítimas e seus sucessores, que
poderão proceder à liquidação e à execução, nos termos dos arts. 96 a 99.
Veremos esse tema com maior profundidade na aula sobre coisa julgada coletiva.
Bons estudos!
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Simulado
Julgue os itens a seguir:
b) a instrumentalidade do processo