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SCRUM EM OBRAS RESIDENCIAIS: UMA APLICAÇÃO DA GESTÃO ÁGIL EM

PALMAS-TO
SOUSA, J. D.1; SAKAMOTO, A. R.2

¹Acadêmico do curso de Engenharia Civil no Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA. Voluntário no PROICT do
CEULP/ULBRA. E-mail: jonathas.d1@gmail.com.
2
Professora Dra. dos cursos de Administração, Engenharia Civil e Engenharia de Minas, Coordenadora do Núcleo de Empreendedorismo e
Inovação (NEI) do CEULP/ULBRA.

RESUMO: Um bom gerenciamento evita desperdícios e garante a entrega de uma edificação de


qualidade dentro das diretrizes básicas de normas de segurança, desempenho e conforto. A partir desta
premissa buscou-se um modelo para gerir uma obra residencial, a adoção do PMBOK completo foi
descartada pelo seu nível de detalhamento para um projeto de pequeno porte. Assim, utilizou-se o
framework SCRUM como base para propor um processo para gerenciamento ágil de uma obra
residencial. A estratégia adotada em campo foi à pesquisa-ação, após o levantamento bibliográfico,
houve a interação do pesquisador com o cotidiano da obra e a medida do progresso da construção,
templates e procedimentos foram propostos, implementados e melhorados de acordo com a
necessidade. Este projeto faz parte das ações do Núcleo de Empreendedorismo e Inovação (NEI) da
instituição, da qual o acadêmico é integrante, que tem como propósito colaborar com procedimentos e
práticas para apoiar Pequenas e Médias Empresas da região (PME).
PALAVRAS CHAVE: gerenciamento de projetos; SCRUM; construção civil.
INTRODUÇÃO: A sexta e mais recente edição do Guia do Conhecimento em Gerenciamento de
Projetos (Guia PMBOK® - Project Management Book of Knowledge) de outubro de 2017 do Project
Management Institute (PMI) apresenta projeto como um esforço temporário com a finalidade de criar
um produto, serviço ou resultado. Sendo seu gerenciamento com emprego de técnicas, habilidades e
conhecimentos adquiridos empiricamente ou bibliograficamente, com processos que executem o
projeto de forma eficaz e eficiente. Obras possuem custo elevado, com alto risco de gastos excessivos,
perda de tempo e retrabalho, que oneram ainda mais o custo final. Esses fatores podem ser
minimizados com um bom gerenciamento. Ainda no Guia PMBOK (2017), metodologia é definida
como “um sistema de práticas, técnicas, procedimentos e regras usadas por aqueles que trabalham
numa disciplina”. Este também descreve projetos ágeis como adaptativo e gerenciado com iterações,
ou seja, com período curto e fixo, onde a equipe realiza revisão retrospectiva ajudando na verificação
dos planos e mudanças necessárias para atingir a finalidade exigida. Um Guia para o Conhecimento
em Scrum (Guia SBOK™ - Scrum Body Of Knowledge) do SCRUMstudy™ define o SCRUM como
uma metodologia de gerenciamento de projetos ágeis, adaptável, iterativa, rápida, flexível e eficiente.
Esta abordagem tem como proposta agregar valor ao projeto, pelo foco na: transparência,
comunicação e criação de um ambiente de responsabilidade coletiva e contínua. Na indústria da
construção civil, as obras residenciais são por vezes executadas sem planejamento ou
acompanhamento constante, o problema dessa prática é o não cumprimento de normas técnicas que
garantem as especificações mínimas para bom desempenho de uma edificação, algo que acomete
desde aspectos arquitetônicos à própria segurança dos usuários com estruturas mal executadas. Obras
residenciais possuem uma finalidade definida e sendo o SCRUM ágil, de rodadas com tempo
determinado, este proporciona melhor detalhamento das etapas. Este estudo adotou o SCRUM ágil
como técnica, explorou seus métodos e sua aplicação ao longo da execução de uma obra residencial,
obtendo resultados que ratificam a facilidade e ganhos do uso desta abordagem para obras de pequeno
porte.
MATERIAL E MÉTODOS: este estudo é uma pesquisa participante, que conforme descreve
Severino (1999), consiste de uma pesquisa onde o investigador vivencia com os pesquisados, durante
toda a pesquisa, suas atividades, interagindo, acompanhando e participando das ações e situações do
cotidiano. Utilizando-se das considerações de Bertucci (2011) e (1999) a pesquisa aplicada foi a
finalidade metodológica utilizada na investigação, sendo sua abordagem qualitativa com objetivo
metodológico exploratório e procedimento de pesquisa-ação, no qual, conforme Severino (2007), faz-
se a aplicação dos conceitos e métodos estudados propondo mudanças que aprimorem as práticas
analisadas. A pesquisa foi realizada em interação com o campo e aconteceu no município de Palmas,
Tocantins. O objeto de estudo foi uma obra residencial unifamiliar, constituída de pavimento térreo e
um pavimento superior, construída em estrutura de concreto armado e alvenaria de vedação em tijolo
cerâmico, financiada com recursos do proprietário e da Caixa Econômica Federal (CEF). Neste
empreendimento foi aplicado o framework de gestão de projetos ágeis, SCRUM. A obra contou com
um engenheiro civil e quatro estagiários em seu gerenciamento, sendo o pesquisador um dos
estagiários. O acompanhamento da obra fez parte das ações do Núcleo de Empreendedorismo e
Inovação (NEI) do CEULP/ULBRA.
RESULTADOS E DISCUSSÃO: o estudo teve início em fevereiro de 2018, a princípio, ocorreu a
observação das rotinas e comportamentos dos integrantes da equipe. Durante esse período iniciou-se a
pesquisa bibliográfica buscando sua aplicabilidade em obra. Esta observação foi muito importante na
definição dos Papéis Centrais do SCRUM que, segundo o Guia SBOK (2016) são aqueles que devem
estar presente para que ocorra a execução do serviço ou produto do projeto, vide quadro 1.
Quadro 1 – Processos adotados
Processo no Guia Processo a adotado
Criar Visão do Projeto Identificar Dono do Produto
Identificar o Scrum Master Identificar o Scrum Master
Formar o Time Scrum Identificar o Time Scrum
Conduzir o Planejamento da Release Conduzir o Planejamento da Release
Criar as Estórias de Usuário Criar e Estimar Tempo das Estórias de
Aprovar, Estimar e Comprometer as Estórias de Usuário Usuários

Criar Backlog Priorizado Criar Backlog Priorizado


Criar as Tarefas
Criar e Estimar Tarefas
Estimar as Tarefas
Criar Backlog do Sprint Criar Backlog do Sprint
Criar os Entregáveis Criar os Entregáveis
Conduzir a Reunião Diária Reunião Semanal – Gestão do Sprint
Retrospectiva do Sprint Retrospectiva do Sprint
Envio dos Entregáveis Entrega da Obra
Retrospectiva do Projeto Retrospectiva do Projeto
Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Foi definido como Dono do Produto – papel responsável por sistematizar as vontades do cliente,
atingir a máxima importância possível do negócio no projeto e manter a razão para o qual o projeto foi
elaborado, ou seja, preservar a entrega do produto ou serviço (GUIA SBOK, 2016) – o engenheiro
civil, responsável técnico pela obra. O papel de Scrum Master – responsável por garantir ao Time
Scrum um ambiente conveniente para a conclusão do projeto e facilitar, guiar, simplificar e instruir
sobre os padrões do SCRUM aos envolvidos, retirando os impedimentos descobertos pelo grupo,
assegurando que sejam seguidos os processos do SCRUM (GUIA SBOK, 2016) – foi dividido entre os
quatro estagiários, onde, cada um ficou com uma prioridade de gestão, sendo estas: custos, riscos,
cronograma-físico e gestão do SCRUM, de responsabilidade deste pesquisador. O papel de Time
Scrum – que é o grupo, ou time, de indivíduos que são os responsáveis pela realização dos trabalhos
necessários para que sejam feitas as entregas do projeto (GUIA SBOK, 2016) – foi delegado aos
pedreiros e ajudantes da obra. A figura 1 apresenta a organização e relação dentro do SCRUM e os
seus Papéis Centrais. A obra também foi gerenciada levando em consideração processos do método
tradicional de gerenciamento apresentado pelo Guia PMBOK. Isso se deu basicamente pela criação da
Estrutura Analítica do Projeto (EAP), que compreende a decomposição de entregas e trabalho do
projeto em elementos menores e com maior facilidade de gerenciamento, por meio da estruturação da
visão do que deve ser entregue (Guia PMBOK, 2017).

Figura 1. Organização do SCRUM


Fonte: Guia SBOK (2016)

Figura 2. Scrumboard aplicado na obra.


A EAP foi elaborada e apresentada por meio do cronograma físico da obra utilizando-se de um
software livre, o GanttProject. Enquanto ocorria a pesquisa e seleção de uma ferramenta de
comunicação e gestão ágil, a obra seguia o cronograma elaborado no GanttProject de maneira
tradicional. O que se observou foram os atrasos ocasionados principalmente por chuvas intensas,
seguido por mudanças no projeto executivo que causaram falta de projetos na obra, além de falta de
material. Estes dois últimos poderiam ser evitados ou amenizados com um gerenciamento ágil, já que
uma de suas bases é a adaptação. Pensou-se incialmente na utilização de aplicativos de gerenciamento
de projeto ágeis como ferramenta, entretanto, não se tornou viável, pois era preciso que todos os
integrantes da equipe tivessem acesso, e o uso de celular no canteiro de obras não é viável dado os
riscos de acidentes. Pensando em melhorar a comunicação, introduziu-se o Scrumboard, quadro de
tarefas, utilizado no acompanhamento do projeto (GUIA SBOK, 2016), com Kanban, onde
apresentava-se os Sprints – ciclos curtos de tempo, ou iterações, onde ocorrem a realização das tarefas
para criação de entregáveis (GUIA SBOK, 2016) – em flipchart conforme a figura 2, levando em
consideração o que já estava programado no cronograma físico. Notou-se boa receptividade do Time
Scrum, visto que por vezes eles não sabiam qual seria a etapa desenvolvida naquela semana e nem
tinham perspectiva das seguintes. Ocorreu que devido à falta de validação dos Sprints e a concentração
de gestão no Dono do Produto, eles eram alterados. Logo surgiram novos atrasos e para conter isso, o
SCRUM como é adaptável, buscou reformular a reunião e elaboração dos Sprints. Um novo ajuste foi
necessário, passando a ser preparados com antecedência de pelo menos um mês, com pré-validação de
todos os Sprints programados para o mês e validação semanal do que seria executado na semana
seguinte, partindo do cronograma do GanttProject, que se tornou o Backlog, lista organizada por
prioridade de itens diferentes (STREULE et al., 2016), da obra, associado à programação de
desembolso da CEF. Dessa forma, os resultados esperados estavam sendo alcançados, pois as
prioridades de gestão dos Scrum Masters ficaram mais fáceis de serem identificadas e aplicadas.
Entretanto, ocorreu a greve dos caminhoneiros, que desencadeou em liberação do Time Scrum em
algumas ocasiões, desabasteceu a cidade de cimento, inclusive nas usinas de concreto, atrasando e
alterando os Sprints já programados. Novamente o SCRUM mostrou-se adaptável e novos Sprints
foram elaborados.
CONCLUSÃO: Uma das maiores dificuldades encontradas foi a centralização de gestão no Dono do
Produto que por vezes esteve sobrecarregado por fazer algumas funções que poderiam ser delegadas
aos Scrum Masters. O SCRUM mostrou-se possível de ser aplicado no gerenciamento de uma obra
principalmente pela sua característica de adaptação, onde, conforme exposto, foi de grande
importância devido aos imprevistos ocorridos. Sendo assim, com algumas adequações necessárias para
o bom funcionamento e empenho de todos os envolvidos para aplicar, identificar as falhas e fazer as
correções para o aprimoramento da gestão, conclui-se que os processos do framework SCRUM podem
ser utilizados sem grandes dificuldades em obras residenciais. O fator crítico de sucesso da adoção do
SCRUM é a interação entre equipe de projeto, executores e proprietário, pois, evita conflitos e a
medida que as alterações são necessárias as decisões são rapidamente tomadas.

REFERÊNCIAS:

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