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Não tem muita experiência?

Saiba como fazer um bom currículo

Pense no currículo daquele seu conhecido que já passou por três empresas em quatro anos, ou
daquele seu amigo que estagiou em várias áreas e companhias enquanto estudava. É fácil se
desanimar quando você se compara aos outros. "É mais comum as pessoas subestimarem suas
experiências e projetos do que inflarem suas habilidades", diz Adriana Gattermayr, master
coach. Mas é possível conseguir se destacar aos olhos de recrutadores mesmo sem uma
experiência tão ampla. E não se trata de exagerar, muito menos de inflar o currículo. Mas de
olhar para o que você fez em várias esferas da vida ou em momentos diversos de sua carreira
em uma empresa.
É ver valor em um trabalho voluntário, como vendedor em uma loja de shopping, na liderança
da empresa júnior da faculdade ou até na correlação que seu trabalho de conclusão de curso
pode ter para uma determinada vaga. Suas chances de conseguir se destacar em meio a uma
pilha de currículos, segundo os especialistas, aumentam se você conseguir mostrar que tem
habilidades comportamentais – e não somente técnicas – específicas para aquela vaga.
"Qualquer curriculo, mesmo o maravilhoso, recheado de informações, precisa ser adaptado
para falar a ´língua` da empresa", diz Adriana. Como fazer isso então? Conversamos com três
especialistas em carreira e recrutamento para entender como profissionais que não entraram no
mercado de trabalho formalmente (recém-formados) ou aqueles que trabalharam em uma ou
duas companhias por muitos anos podem conseguir que seus currículos ganhem destaque.
Recém-formado
Não ter experiência no começo da carreira é normal e há outras formas de se destacar quando
se busca uma colocação profissional. Projetos acadêmicos e pessoais, grupos da igreja, trabalho
em empresas júnior, voluntariado, intercâmbio, trabalho de conclusão de cursos, cursos
extracurriculares, guia de turismo, vendedor, aprendiz, monitor de acampamento até animador
de buffet infantil. Tudo isso é válido para construir um currículo que chame atenção dos
recrutadores e aumente suas chances de ser convocado para uma entrevista, segundo
especialistas em carreira e RH. "Esses projetos e atuações paralelas podem apontar para uma
habilidade comportamental que seja importante na área que está buscando e as empresas estão
valorizando essas habilidades tanto quanto as técnicas", diz Adriana.

A dica dos especialistas é saber selecionar aquilo que, de fato, é importante e faz sentido para
a vaga de interesse do candidato. "Vejo muitos currículos destacando o TCC defendido na
faculdade. Um exemplo: me formei em administração, quero atuar na área financeira e fiz um
TCC sobre derivativos. Faz sentido citar se o tema corresponder à área que a pessoa busca, pois
trará indicativos de que ela tem conhecimento, mesmo sem experiência técnica", diz Leonardo
Berto, gerente de negócios da Robert Half. Ou seja: montar um currículo padronizado que será
enviado para qualquer e toda vaga diminui as chances de ter sucesso na convocação. "Qualquer
currículo, mesmo o maravilhoso cheio de experiências, precisa ser adaptado dependendo da
vaga. Adaptá-lo é um trabalho para toda a vida profissional", diz Adriana. É preciso pesquisar
também a empresa além do descritivo da vaga, daquilo que o cargo exigirá especificamente.
"Procure saber de que forma a empresa atua, qual é a sua missão e seus valores, e agregue ao
currículo experiências que estejam correlacionadas", aconselha Adriana Gattermayr.
Dominar um segundo idioma, principalmente o inglês, é uma habilidade fundamental mas que
ainda continua garantindo destaque entre os candidatos. "Coloque [que fala inglês] em uma
posição boa e não lá embaixo. Vai chamar a atenção", diz Leonardo Berto. A recomendação
dele é não mentir: colocar o nível de fluência coerente com o que possui. Questione-se: "O
inglês avançado é mesmo avançado? Ou intermediário?".

O intercâmbio também pode ajudar a destacar o candidato, principalmente por ser uma forma
de aprimorar conhecimentos de idiomas, mas também pela experiência cultural em si – que
pode gerar maior maturidade e autonomia. "É um momento que a pessoa vive por conta própria,
muitas vezes muda sua forma de pensar, tem contato com outras coisas. Algo que todo
recrutador valoriza bastante", diz Berto. Porém, a "regra" do nível de inglês também vale aqui.
Se for para destacar o intercâmbio, é preciso correlacioná-lo a experiências concretas, segundo
Adriana.
Outra experiência considerada pelos recrutadores como positiva para um currículo é o
voluntariado. "O trabalho voluntário mostra um lado mais humano do candidato e muitos
recrutadores consideram a vivência como uma experiência profissional válida", diz Lais
Orrico, gerente de Soluções de Marketing do LinkedIn para a América Latina. A ponderação
que especialistas fazem aqui é que o destaque dado no currículo para o trabalho depende da
empresa que está contratando. "Há empresas que têm uma visão de gestão de pessoas mais
desenvolvida, humana, e que valorizam o conceito de responsabilidade social. Outras vão achar
que o voluntário é menos relevante", afirma Leonardo Berto.
Outra dúvida de recém-formados é com que rapidez uma pós-graduação ou MBA precisa
"constar no currículo". Para os especialistas, não é preciso ter tanta pressa assim. "Não precisa
ter MBA ou mestrado logo para conseguir uma visibilidade bacana", diz Adriana Gattermayr.
Segundo ela, o MBA envolve um aprendizado caro, que exige grande dedicação. "Muitas
vezes, um recém-formado ainda não tem maturidade para entender as questões de mercado
discutidas no curso". Ela aconselha procurar por cursos menores, de atualização e workshops
de instituições conhecidas no Brasil.
Alguns anos de mercado ou uma única empresa
Um pouco mais à frente do recém-formado estão muitos profissionais com alguns anos de
mercado, às vezes todos na mesma empresa, e que aparentemente não têm muito o que mostrar
de diferencial. Os especialistas dizem que é um erro pensar assim. "Geralmente, uma pessoa
que fica muito tempo na mesma empresa, mesmo tendo se movimentado pouco ali, deve ter
sido incluída em diversos projetos. É alguém provavelmente que já tem um conhecimento
amplo da operação como um todo", diz Leonardo Berto. Se esse for o caso, a dica dele é
destacar projetos com resultados específicos, "quebrar as atividades realizadas em várias
menores". Citar números e métricas pode ajudar a mensurar uma atividade desenvolvida.
"Imagine que ele trabalha na área de RH e foi envolvido em um projeto que ajudou a reduzir o
turnover em 2015 através de entrevistas por competência e foco motivacional. É um ótimo
exemplo para citar no currículo e explorar na entrevista", diz Leonardo Berto. O "segredo" aqui
é usar ferramentas para mostrar o porquê se ficou tanto tempo dentro de uma companhia, em
lugar de buscar outras oportunidades no mercado. "Assim, você consegue quebrar a imagem
de que estava na mesma empresa por acomodação".
Além do mais, os especialistas consultados também afirmam que os recrutadores analisam
profissionais mais sêniores sob outras perspectivas. Procuram achar indícios no currículo e nas
entrevistas de pontos como disciplina, comprometimento e capacidade de trabalhar sob
demanda e pressão. "O perfil deve ser construído em cima das experiências da pessoa e não
somente no que ela fez dentro da empresa. Tem outros campos que não dizem respeito à
empresa e sim ao perfil profissional do candidato e que também são extremamente
importantes", diz Lais Orrico.
Outro receio que as pessoas sentem ao dedicar-se exclusivamente a uma mesma empresa por
tantos anos é a falta de cursos ou especializações para "colocar no currículo". Os especialistas
dizem que isso não é necessariamente algo negativo. "Não é errado falar de algo ao qual se
dedicou por todos esses anos, trabalhou por muitas horas seguidas. Mostra, isso sim,
comprometimento. Temos bastante dificuldade hoje em contratar profissionais estáveis, que
pensem em uma carreira como começo, meio e fim", diz Leonardo Berto. Ele vai mais longe.
"Arrisco dizer que se ele está lá há muitos anos, pode ter vivenciado diversos desafios e
momentos críticos. A mesma empresa pode ter mudado várias vezes". Existem certas funções,
contudo, que exigem atualização constante em termos técnicos e operacionais, como técnicos
de TI e profissionais que lidam com redes sociais e marketing digital. Sem atualização, o
trabalho não consegue ser desenvolvido. "Dentro da área de legislação, tributação, marketing
e redes sociais, por exemplo, os profissionais são bombardeados por novidades. É preciso estar
atento a elas", diz Berto.
Um dos erros mais comuns que as pessoas cometem na hora de montar um currículo é
subestimar aquilo que já fizeram, segundo Adriana Gattermayr. Ela cita o caso de um ex-
motorista de caminhão que foi buscar uma nova posição no mercado executivo. Ele achou que
não tinha as competências necessárias para o cargo, então exaltou aquilo que aprendeu nas
estradas: valorizar a "responsabilidade e pontualidade". O recrutador gostou da resposta e o
contratou. "É justamente disso que estamos precisando", disse ele. "Precisamos ter ciência de
que o recrutador está louco para contratar alguém, quer resolver logo aquela vaga. Mas precisa
ser alguém certo, que possa desenvolver a atividade. Então procure ver e ressaltar de que forma
cada experiência que teve pode ser útil para aquela vaga e empresa específica", conclui
Adriana.
Fonte: Revista ÉPOCA.

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