Você está na página 1de 100

CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

Versão para registro histórico

Não passível de alteração

COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS


EVENTO: Audiência Pública REUNIÃO Nº: 0448/18 DATA: 05/06/2018
LOCAL: Plenário 9 INÍCIO: 10h11min TÉRMINO: 14h36min PÁGINAS: 99
das Comissões

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
RODRIGO TACLA DURAN - Advogado e ex-consultor.
SUMÁRIO
Debate sobre as violações de direitos humanos que vem sofrendo o Sr. Rodrigo Tacla Duran.
OBSERVAÇÕES
Houve participação por videoconferência.
Há palavras ou expressões ininteligíveis.
Grafias não confirmadas: Salvitti, Robecil, Erisvaldo.
Há orador não identificado em breve intervenção.
Houve falha na gravação.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Declaro aberta esta audiência


pública da Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que tem a finalidade de
debater as violações de direitos humanos que vem sofrendo o Sr. Rodrigo Tacla
Duran.
Saúdo todos e todas aqui presentes. Saúdo também o Sr. Duran, que já está
conectado conosco por videoconferência.
A realização deste evento atende ao Requerimento nº 71, de 2018, de autoria
do Deputado Wadih Damous, aprovado por unanimidade neste colegiado.
De acordo com o requerente, Rodrigo Tacla Duran possui diversas
informações relevantes sobre a Operação Lava-Jato e por isso deve ser ouvido nas
instâncias adequadas e responsáveis pelo processo. Porém, por causa de diversas
negativas injustificadas, teve violado o direito ao devido processo legal, além da
garantia do contraditório e da ampla defesa.
Passarei a palavra ao nosso convidado, que fará uma exposição inicial. Em
seguida, a palavra será concedida aos Deputados presentes, respeitada a ordem de
inscrição.
As imagens e os sons desta reunião estão sendo captados para transmissão
ao vivo pela Internet e também para posterior registro de áudio e transcrição.
Vamos, então, à exposição do nosso convidado.
(Segue-se participação por videoconferência.)
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Obrigado, Presidente.
Sras. e Srs. Deputados, bom dia a todos.
Gostaria de agradecer a oportunidade de estar aqui. Esta é a segunda vez
que eu sou chamado a falar no Congresso Nacional. Nunca tive a oportunidade de
fazer isso perante a força-tarefa da Lava-Jato, de Curitiba, e o Juiz Sergio Moro, da
13ª Vara Federal do Paraná. Eles nunca quiseram me ouvir sobre acusações que
fazem contra mim. Acusam-me de crimes que não cometi. Ofendem-me
publicamente e tentam me desqualificar o tempo todo.
O Dr. Moro tem ignorado solenemente a Constituição, a Lei Orgânica da
Magistratura, o Código Penal, o Código de Processo Penal e o Estatuto dos Direitos
do Homem das Nações Unidas.

1
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Devo avisar aos senhores que, eventualmente alguns fatos e informações


cobertos pelo sigilo profissional que venham a ser revelados será em conformidade
com o art. 25 do Código de Ética da Advocacia.
Existem fatos graves que cerceiam o meu direito de defesa e que gostaria de
relatar aqui hoje. O primeiro deles é o desaparecimento do Inquérito nº 186, de
2016, da Polícia Federal de São Paulo. Esse inquérito simplesmente sumiu. Parte
desse inquérito foi encaminhada à CPMI da JBS no dia 30 de novembro do ano
passado, na ocasião do meu depoimento.
Em razão de este inquérito conter todos os esclarecimentos sobre as
acusações que me foram feitas, ele é muito importante para o exercício da minha
ampla defesa. Estou em busca desse inquérito há cerca de 2 meses.
A Polícia Federal em São Paulo informou que o inquérito foi encaminhado a
Curitiba. Porém, em Curitiba este inquérito não existe, porque ninguém sabe dizer
onde ele está.
Gostaria de lembrar que o sumiço de inquérito é algo gravíssimo. Os
Deputados advogados aqui presentes devem se lembrar de que esta já foi uma
prática comum no passado e que todos nós operadores do Direito esperávamos que
isso tivesse acabado depois da informatização.
Por isso, peço a esta Comissão que oficie à Sra. Procuradora-Geral da
República, Dra. Raquel Dodge, para que localize esse inquérito e permita que eu
obtenha as cópias oficiais das partes que não estejam sob sigilo neste procedimento
administrativo.
No meu caso, não é a primeira vez que isso acontece. No ano passado, ainda
quando eu avaliava a minha estratégia de defesa quanto ao impedimento ou
suspeição do Juiz Sérgio Moro, pedi ao Cartório da 1ª Vara de Execuções Fiscais
Municipais de Curitiba uma certidão comprovando que o advogado Carlos Zucolotto
tinha atuado como advogado em processo da minha família.
Na ocasião, o cartório levou cerca de 6 meses para emitir a certidão. E
quando emitiu, emitiu sem o nome dele. Depois de toda essa demora, o cartório
informou que o substabelecimento outorgado ao escritório do Dr. Zucolotto havia
sido retirado dos autos sem qualquer autorização por escrito do juiz e sem
comunicação às partes.

2
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Uma advogada do meu escritório recebeu a informação de balcão, ou seja,


extraoficial, de que o substabelecimento foi retirado a mando do próprio Dr.
Zucolotto. Ele alegou, segundo as informações, não ter autorizado a juntada desse
documento nos autos.
Entretanto, Srs. Deputados, eu tenho em meu poder uma autorização do Dr.
Zucolotto, enviada por e-mail, indicando os nomes dos advogados e autorizando o
procedimento. Esse documento simplesmente sumiu, desapareceu, ninguém sabe
onde está. Isso tudo foi omitido do Juiz Corregedor competente.
Eu peço a esta Comissão que oficie a esse Juiz Corregedor para que ele
investigue esse fato, que cerceia o meu direito de defesa, e tome as medidas
cabíveis, porque essa é a prova documental necessária para o eventual pedido de
impedimento ou suspeição do Juiz Sérgio Moro no caso da minha defesa.
Outro grave cerceamento de defesa que venho sofrendo é a procrastinação
injustificada pela PGR na emissão do parecer numa ação de homologação de
decisão estrangeira que eu ajuizei no Superior Tribunal de Justiça reconhecendo as
decisões que a Justiça espanhola tomou em relação ao meu caso. Já são 7 meses
aguardando uma manifestação da PGR. O sistema indica um determinado
Procurador como responsável pela emissão do parecer. Entretanto, o gabinete dele
informa que o caso não está com ele e também não sabe informar com quem está.
Também sumiu.
Eu peço a esta Comissão que também oficie à Procuradora-Geral da
República, Dra. Raquel Dodge, para que seja despachado o parecer. A
Procuradoria, que tanto zela pela celeridade da justiça, não pode demorar 7 meses
para despachar um parecer num procedimento de cunho administrativo.
Há 4 anos, Srs. Deputados, convivemos com dois juízes, dois Moros. O
primeiro se tornou herói dentro e fora do Brasil por sua atuação na Operação Lava-
Jato e sua postura intransigente em relação à corrupção. O outro é criticado
duramente por magistrados, inclusive de Tribunais Superiores, e advogados
inconformados com a violação de prerrogativas, como o caso do grampo de um
escritório do advogado do ex-Presidente Lula, além de diversas buscas e
apreensões em escritórios de advocacia, inclusive no meu próprio. E também é
criticado por defensores dos direitos humanos dentro e fora do Brasil inconformados

3
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

com o cerceamento ao direito de defesa de alguns réus e a politização do processo


penal no Brasil. Esse é o lado obscuro do Dr. Moro.
Digo isso porque entendo que a justiça deve ser exercida com autoridade,
jamais com autoritarismo. Quando um juiz emite opinião contra alguém que é réu na
sua Vara, isso é prejulgamento. Essa atitude viola um dos mais elementares
princípios dos direitos humanos, que é o direito a um julgamento imparcial, isento,
técnico, sem vínculos emocionais de qualquer natureza.
O Juiz Sérgio Mouro ficou irritado comigo porque eu fui obrigado a informar à
Receita Federal quais eram os colaboradores do meu escritório. Entre os
profissionais que haviam prestado serviços, estava o nome do advogado Carlos
Zucolotto, que era correspondente do meu escritório de advocacia em Curitiba. Esta
relação profissional com o Dr. Zucolotto vem muito antes de qualquer investigação
contra mim. Eu não tinha a menor ideia de que ele era amigo e padrinho de
casamento Dr. Sérgio Moro.
Fui obrigado a dar essa informação à Receita Federal no curso de uma
fiscalização no meu escritório. Essa fiscalização durou 2 anos. Foi prorrogada 10
vezes. No final, o relatório da Receita concluiu que eu não cometi irregularidades
fiscais ou contábeis, muito menos crime. A prova disso é que não lavraram qualquer
auto de infração, multa ou sanção.
Mais tarde, o Dr. Zucolotto me propôs que lhe desse 5 milhões de dólares em
troca de sua proteção durante a negociação de um acordo com a força-tarefa da
Lava-Jato em Curitiba. Estranhamente, até hoje o Dr. Zucolotto nunca foi
investigado. Entretanto, agora surgem novas denúncias de que outros advogados
também venderam proteção a outros investigados. É preciso investigar isso para
que o Brasil saiba se houve tráfico de influência, advocacia administrativa ou
extorsão. O arbítrio, a justiça a qualquer preço que passa por cima das leis e dos
Estado de Direito é algo que inicialmente conta com o apoio popular, porque passa a
falsa sensação de eficiência e celeridade, de punição rápida e exemplar.
A minha família já viveu isso com meu avô, que teve que fugir aqui da
Espanha para não ser morto na ditadura do General Franco.
A Alemanha nazista definia crime como sendo tudo aquilo que há contra o
Estado alemão, ou seja, que o crime e o criminoso eram definidos conforme a

4
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

conveniência. Hoje quem questiona o modus operandi da força-tarefa de Curitiba na


produção de delações premiadas em série é considerado inimigo da Lava-Jato.
Eu pergunto: será que os advogados que defendem as nossas prerrogativas,
os ritos do Direito e as garantias legais são inimigos da Lava-Jato e cúmplices da
corrupção? Será que teremos que ser coniventes com a brutalidade, o atropelo das
leis e a subtração de direitos praticados por funcionários públicos? Tudo isso é muito
parecido com aquilo que a escritora Hannah Arendt definiu como banalidade do mal.
A Operação Lava-Jato se tornou um polo de poder político, capaz de moer
reputações, destruir empresas e instituições.
Eu digo isso com a maior tranquilidade porque, como os senhores sabem
muito bem, eu jamais fui filiado a qualquer partido político e nunca tive militância
política. Eu sempre fui focado na questão profissional, que me levou a advogar para
as mais diferentes empresas, desde as de telecomunicações até as de construção
civil.
Desde 2016, quando eu decidi espontaneamente procurar a força-tarefa da
Lava-Jato em Curitiba para dizer que eu era advogado da Odebrecht e explicar a
minha atuação profissional, eu sou tratado como criminoso e alvo de inúmeras
acusações e ofensas. Mas em momento algum apresentaram quaisquer provas
contra mim, e as investigações, inclusive aqui na Espanha, já chegaram a ser
arquivadas uma vez, por falta de provas.
Quando eu soube, pela imprensa, que fui chamado para ser testemunha do
ex-Presidente Lula, eu virei alvo de ataques de alguns Procuradores da força-tarefa
de Curitiba e fui condenado publicamente.
Ocorre, Deputados, que eu nunca serei aceito como testemunha. Eu não fui
aceito como testemunha do ex-Presidente Lula, mas também fui arrolado como
testemunha na denúncia da PGR contra o Presidente Michel Temer, na qual eu fui
citado nominalmente, como eu não serei testemunha de ninguém, porque esse não
é o desejo do Juiz Sérgio Moro nem dos Procuradores da força-tarefa.
O que temos hoje no Brasil é a mordaça das testemunhas consideradas
inconvenientes aos olhos do Juiz Sérgio Moro e Procuradores. Eles, que chamaram
a lei de abuso de autoridade de lei da mordaça, não têm o menor constrangimento

5
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

em amordaçar testemunhas capazes de ameaçar suas teses e estratégias de


acusação.
Por isso, creio que esta é uma questão política, não é uma questão
processual, porque cerceia o direito de defesa de diversos acusados, os quais
poderiam utilizar esses depoimentos e perícias que solicitei como provas
emprestadas em suas defesas. Todos eles estão tendo seus direitos de defesa
cerceados.
Ontem tive conhecimento, pela imprensa, do teor do parecer emitido pelo Sr.
Subprocurador Nicolao Dino, com os argumentos pelos quais o STJ deve indeferir a
minha oitiva como testemunha do ex-Presidente Lula.
Com todo o respeito ao Subprocurador, os argumentos são infantis, porque
afirmam que, ainda que os documentos sejam falsos, não há razão para que a
testemunha seja ouvida. É, de fato, a mordaça em ação.
O Dr. Moro me ofendeu em rede nacional ao vivo, no programa Roda Viva,
sem a menor cerimônia; quebrou o decoro exigido no art. 36, III, da LOMAN — Lei
Orgânica da Magistratura Nacional, prejulgou-me e me condenou.
Eu vou ler aqui, Srs. Deputados, o que diz a Lei Orgânica da Magistratura
Nacional, para que não pairem dúvidas sobre o que eu estou dizendo.
Art. 36 - É vedado ao magistrado:
..................................................................................
III - manifestar, por qualquer meio de comunicação,
opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou
de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos
ou sentenças, de órgãos judiciais...
Ele também infringiu a lei depois de se recusar, por cinco vezes, a me ouvir
como testemunha do ex-Presidente Lula, sem que eu tenha sido julgado e
condenado com a garantia do amplo direito de defesa, como prevê a Constituição, a
Lei Orgânica da Magistratura, o Código Penal e o estatuto da ONU sobre os direitos
do homem.
Se ele não me ouviu, nunca me deu a oportunidade de defesa, nem me
julgou, até porque não tem jurisdição nem isenção para isso, então ele não deve, em

6
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

respeito à lei, emitir juízo de valor, prejulgar-me, difamar-me e me caluniar em


qualquer programa de televisão.
O Juiz Sérgio Moro é um julgador, ele não é acusador. Eu nunca fui
condenado. Tive a minha extradição negada pela Justiça espanhola. Uma
investigação aberta contra mim aqui já foi arquivada por falta de provas. Eu tenho
colaborado com autoridades judiciais de diversos países sempre como testemunha,
nunca como delator. O único país onde estou proibido de ser testemunha e de
colaborar com a Justiça é o Brasil. Amordaçar testemunhas é um sinal claro de que
não se está fazendo justiça.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Dr. Rodrigo.
Todas as solicitações feitas por V.Sa. a esta Comissão serão encaminhadas às
autoridades.
Concedo a palavra ao Deputado Wadih Damous para fazer suas questões
acerca do que considera importante neste momento.
Agradeço, desde já, a sua colaboração e a sua contribuição com as
informações que são importantes não apenas para que nós possamos elucidar
situações que possam estar nas trevas, mas para que elas possam chegar à luz.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Dr. Rodrigo Tacla Duran, bom dia!
Obrigado por, mais uma vez, colocar-se à disposição dos órgãos que querem ouvi-
lo, ao contrário de outros do nosso sistema de Justiça.
Eu lhe perguntaria de imediato em que países V.Sa. já foi ouvido como
testemunha nos episódios relativos à empresa Odebrecht.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu vou olhar aqui, porque a lista não é
pequena.
Deputado, eu atendi a três rogatórias do Equador, uma de Andorra, uma da
Suíça, uma de Antigua e Barbuda, uma do México, uma do Peru, uma da Argentina
e uma das autoridades brasileiras, a que eu compareci e as autoridades da força-
tarefa da Lava-Jato em Curitiba não compareceram, no dia 4 de dezembro do ano
passado.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Além do Brasil, alguma autoridade
judiciária de algum outro País negou-se a ouvi-lo?

7
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Nenhum.


O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Dr. Rodrigo, há alguns dias, nós
tivemos acesso ao despacho da Procuradora-Geral da República aqui do Brasil, Dra.
Raquel Dodge. Nesse despacho, ela arquiva uma representação que foi assinada
por mim e pelos Deputados Paulo Pimenta, Carlos Zarattini e Paulo Teixeira. Nessa
representação, com base em relatos seus, nós, dentre outros questionamentos,
questionamos a veracidade dos extratos utilizados em denúncia contra o ex-
Presidente Lula.
A Sra. Procuradora diz que os documentos apontados pelo senhor como
falsos são planilhas, segundo ela, verídicas. Ela diz que as datas da emissão, que o
senhor questiona, posteriores ao bloqueio do sistema, são devidas a uma fórmula do
Excel, que gera a data do dia.
O que o senhor tem a dizer sobre isso? Qual é o seu comentário sobre essa
parte do despacho da Sra. Procuradora-Geral da República?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, que eu me recorde, esse caso
é também na denúncia do Presidente Michel Temer. Na denúncia assinada pelo ex-
Procurador Rodrigo Janot, o que consta como provas, e ele me cita nominalmente, e
o que consta como provas contra o Presidente da República, Michel Temer, são
extratos bancários, e não planilhas. O valor probatório de um extrato bancário é
muito diferente do de uma planilha, porque extrato é comprovante de pagamento, e
planilha, não.
Se agora a Procuradora-Geral muda e diz que as provas — o Procurador-
Geral anterior assinou, rubricou as folhas, ele as chama de extrato, e ele as chama
de extrato não é uma vez, inúmeras vezes ele apresenta como extrato essas provas
—, agora a Procuradora-Geral muda e diz que essas provas não são extratos, são
planilhas, é muito grave, e passa a impressão que o Dr. Janot mentiu ao denunciar o
Presidente da República, porque, para ele, era extrato; para ela, é planilha. O
próximo Procurador-Geral vai dizer o quê? Que é papelucho? Nós temos que ver
isso com muita sobriedade, porque se trata de uma acusação, uma denúncia contra
o Presidente.
Além disso, a questão da data na planilha, fórmula Excel, etc., Deputado, o
Ministério Público tem cópia do sistema, não se sabe exatamente, são cópias.

8
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Então, o arquivo, que deve estar guardado, tem que ter a data anterior ao bloqueio.
Se se gerou um documento posterior ao bloqueio, esse documento é novo. Houve
adulteração, houve manipulação dos arquivos.
Independente disso, na reportagem da Folha de S.Paulo, do jornalista Wálter
Nunes, na edição de 5 de outubro do ano passado, a reportagem já informava que a
conta dessa denúncia já havia sido encerrada em período anterior aos extratos do
Procurador Janot e, agora, à planilha da Dra. Raquel, ou seja, esses documentos,
independentemente de estarem no sistema ou não, eu os tenho notarizados nos
Estados Unidos, muito antes de o Presidente Michel Temer ser denunciado.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - O senhor, é claro que isso é um juízo
de acordo com o seu grau de conhecimento acerca das práticas da empresa
Odebrecht nesse contexto, mas o senhor acha que esse tipo de manipulação, além
dessa que o senhor aponta em relação ao atual Presidente da República, esses
procedimentos espúrios podem ter sido adotados em outras investigações, em
outros inquéritos, em outros processos?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sem dúvida, nas próprias perícias que eu
encaminhei à CPI da JBS, há casos de extratos adulterados em outros inquéritos,
extratos que, num determinado inquérito, têm um movimento em tal data, e um
extrato do mesmo período, da mesma empresa, da mesma conta, em outro
inquérito, há um movimento naquela data diferente, apagado, enfim, diversas
alterações. Esse mesmo, do caso do arquivamento que o senhor mencionou, que eu
não sabia, no mesmo documento... Esses mesmos documentos, que agora chamam
de planilha, evidentemente não saíram de um sistema bancário, porque um sistema
bancário não vai mesclar idiomas, ele vai seguir um padrão. Ele não vai mesclar
tipos de caracteres. Numa célula do Excel há um tipo de caractere e, em outra, outro
tipo — maiúsculo, minúsculo —, evidentemente isso foi inserido à mão, e não por
sistema. Eu tenho a perícia, não sou eu que estou dizendo. Eu sei que foi, mas não
se trata disso. Tecnicamente, já foi aqui comprovado, como, por exemplo, a própria
data a que ela se refere, que está em negrito, num tom totalmente diferente de cor, é
visto a olho nu, do tom do logo do banco, que foi colado.
No caso que o senhor me perguntou sobre outras questões, é o que eu falei.
Há outros processos, outros inquéritos, que eu já citei, e isso foi, como eu já havia

9
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

comentado, o sistema foi apagado diversas vezes antes de ser bloqueado. Há e-


mails guardados, eu também tenho, mandando que fizéssemos backup, caso fosse
necessário, porque iria vir a ser deletado, então, o sistema foi manipulado diversas
vezes — uma das razões porque mudou o servidor da Suíça para a Suécia foi essa
—, diversas vezes foi adulterado, montado, preparado para caso viesse a ser
apreendido. A minha surpresa foram as adulterações posteriores ao bloqueio.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Essas manipulações, a seu ver,
podem servir para condenações indevidas ou absolvições indevidas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, o senhor é advogado, e eu
acho que o senhor não deve pensar diferente, porque, antes, já houve pessoas
condenadas sem que a perícia fosse feita.
A perícia da Polícia Federal aponta que houve adulterações, indicando o IP,
posteriores à apreensão. As anteriores à apreensão das cópias, etc., evidentemente
é difícil para eles terem, vamos dizer assim, o teor completo do que foi adulterado.
Agora, já foi comprovado que posteriormente também foi adulterado. Então, isso
teria que ter sido periciado antes de condenar qualquer pessoa.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - O Juiz Sergio Moro alega que não
ouve o senhor, porque não consegue localizá-lo na Espanha. Como é que se explica
isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Bom, eles me localizaram. No dia 4 de
dezembro eu compareci. Se eles tivessem vindo, eles teriam me ouvido.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - A que o senhor atribui o fato de o Juiz
Sergio Moro dizer que não o ouve como testemunha porque não sabe o seu
endereço na Espanha.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu acho que é uma decisão com fins
políticos, de dar respaldo à decisão dele em indeferir, pelo menos as primeiras, a
minha oitiva como testemunha do ex-Presidente Lula.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Hoje o site do jornal O Estado de São
Paulo, numa entrevista quase que de página inteira, aponta que o senhor afirma que
a Odebrecht usava garotas de programa e contratava espiões para chantagear
políticos e autoridades. O senhor tem como informar quem contratava essas moças,
como elas eram pagas, como eram feitas as chantagens, no que consistem essas

10
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

chantagens? O senhor poderia mencionar um caso? O que é o efeito Bisol, que


estava escrito no celular de Marcelo Odebrecht?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Isso é o que chamo de chantagem.
Existe um boato, que é conhecido no meio que é até político, jurídico, que é a CPI
das empreiteiras, anos atrás, da qual o Senador Bisol era Parlamentar, ele foi
chantageado pela empresa. Então, efeito Bisol era um tipo de uma gíria ou uma
coisa assim para entender que era para as questões de chantagem.
Na verdade, ali, eu entendo que eles tinham como alvo os próprios
procuradores, o Juiz Sergio Moro.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Eu não entendo.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Com relação às garotas de programa e
essas coisas houve, sim, no exterior. Eles mandavam as mulheres ao exterior para
depois fotografar e filmar com autoridades e usavam isso e talvez usem até hoje.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Mas havia, dentro da empresa
Odebrecht, pessoas destacadas para esse tipo de procedimento? O senhor sabe
quem eram, quem são?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Destacadas, não. Acumulavam função.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Não entendi.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu conheço, o Fernando Migliaccio
contratava as pessoas.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Fernando Migliaccio?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não sei se só ele, mas ele também.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Qual era o objetivo das supostas
chantagens em relação a políticos?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Obter vantagens e benefícios, não é?
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Com contratos, com negócios?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Com tudo, parar investigações também,
dirigir...
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Também já para influenciar
investigações?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. O próprio caso do efeito Bisol. É
antigo, não é? É uma prática antiga.

11
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - E por que essas denúncias de


chantagem e extorsão até hoje não são apuradas pelo Ministério Público em relação
à Odebrecht, na sua opinião?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não sei, Deputado. Eu não... Deveria
ser, porque é tão grave quanto à de corrupção e propina.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - O senhor tem conhecimento sobre a
denúncia que envolve o Advogado Figueiredo Basto, que é acusado de vender
proteção a doleiros? E aí eu quero aproveitar, estendendo a pergunta, para pedir ao
senhor que detalhasse o seu contato com o Sr. Carlos Zucolotto, que teria tentado
fazer a mesma coisa com o senhor. O senhor acha que esse procedimento, tanto de
Figueiredo Basto quanto de Carlos Zucolotto é um procedimento padrão?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - No meu caso com o Dr. Zucolotto é um
pouco diferente, porque eu passei a ter o problema, não é bem uma proteção, eu
passei a ter o problema, a partir do momento em que eu não aceitei.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - O senhor pode descrever o que foi o
seu envolvimento com o Advogado Carlos Zucolotto, deixar isso bem claro aqui para
todo mundo?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Ele era, como eu já disse, o meu
correspondente, correspondente do meu escritório em Curitiba, e eu havia procurado
a força tarefa, tinha tido algumas dificuldades e o procurei...
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Por que o senhor procurou a força-
tarefa?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Procurei-o como correspondente local
porque ele teria melhor acesso às autoridades de Curitiba, e ele de fato o tinha. E
ele me fez aquela proposta, a partir da qual encaminhei as mensagens que foram
periciadas na CPMI anterior, a da JBS.
No caso do Dr. Figueiredo Basto, eu soube pela imprensa da nova denúncia
relacionada ao caso do Vinicius Claret, o Juca.
Deputado, quero dizer que eu estive com o Juca na empresa duas vezes.
Uma delas foi quando eu o conheci, numa festa de final de ano. Não o vi mais, até
que, então, o Luiz Eduardo da Rocha Soares pediu que eu viajasse com ele ao
Panamá — essa foi a minha penúltima ou última viagem ao Panamá — porque

12
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

queria que eu explicasse alguns riscos jurídicos que havia para o Juca em
decorrência da investigação que a empresa vinha sofrendo na Lava-Jato. E ele
marcou com o Juca encontrá-lo no Panamá.
Juca viajou de Montevidéu para o Panamá. Quando chegou, lembro, ele até
reclamou, porque o encontro foi combinado de última hora, e ele só conseguiu viajar
na classe econômica. Nós tivemos um jantar, e eu expliquei para ele detalhes
relativos à questão jurídica.
Havia mais uma pessoa que testemunhou o assunto. Eu gostaria de não falar
o nome, porque não sei qual é a situação jurídica dele.
Depois de alguns vinhos — o jantar foi no Trump Tower, no cassino —, o Sr.
Luiz Eduardo quis comprar informações do Juca ou pediu a ele que desse
informações desde a época do BANESTADO, uma vez que o Sr. Dario Messer tinha
conhecimento de eventuais deslizes, problemas, ilegalidades praticadas já naquela
época por procuradores. Ele perguntava até pelo Juiz Sérgio Moro, no caso, desde o
BANESTADO. O Vinicius, o Juca, falou que ele não podia responder, que ele tinha
que conversar com o Dario, mas que dificilmente iria ceder essas informações,
porque elas poderiam ser úteis para eles no futuro.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Por último, o senhor tem
conhecimento de que o ex-Procurador Marcello Miller tenha trabalhado para a
Odebrecht e de quem o teria contratado?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Adriano Maia.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Não ouvi, desculpe.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O mais provável é que ele tenha sido
contratado pelo Adriano Maia, que tinha essa função de contratar advogados.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Mas ele colaborava com a Odebrecht
ainda como procurador ou passou a fazê-lo depois que deixou a Procuradoria?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não sei precisar isso. Mas que ele
colaborou, ele colaborou. Eu só lembro que, na penúltima vez que eu encontrei o
Maurício Ferro, no Aeroporto de Congonhas, ele pediu para eu não voltar a Curitiba,
porque eles iriam tratar de tudo em Brasília, onde tinham um contato.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Sr. Presidente, sem prejuízo de
outras perguntas que eu venha a fazer posteriormente, por hora eu encerro.

13
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Deputado


Wadih Damous.
Com a palavra o Deputado Paulo Pimenta.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Muito obrigado, Presidente.
Srs. Deputados, Sras. Deputadas, Dr. Rodrigo Tacla Duran.
Sr. Presidente, peço para fazer um breve registro aqui antes das minhas
perguntas. Na última quinta-feira, já tinha me chamado a atenção uma nota que saiu
no jornal Folha de S.Paulo, na coluna da jornalista Mônica Bergamo, mas custou-
me, Sr. Presidente, acreditar que aquela nota pudesse ser verdadeira. E a nota dizia
o seguinte: “Sergio Moro e sua esposa Rosângela embarcam hoje para passar o
feriado no principado de Mônaco”.
Entra programação prevista para o feriado do casal, além de visita a museus
com peças antigas do Egito, está o jantar com o Príncipe Albert.
Em outro lugar, eu vi uma nota, Deputado Wadih Damous, que dizia o
seguinte: “Preocupados com as questões da etiqueta, sobre como devem se portar
diante do Príncipe Albert, Sergio Moro e esposa farão escala para pegar dicas com a
família Doria”.
Custou-me acreditar que esse episódio pudesse ser verdadeiro, porque ele dá
dimensão de onde nós estamos neste momento no Brasil: um Juiz de primeira
instância que vai passar o feriado no principado de Mônaco, lugar onde reúnem
milionários, com dinheiro mal havido, das mais diferentes regiões do mundo.
Mas aí a Folha de S. Paulo hoje traz detalhes: “A Excelência que virou alteza.
Homenageado na 4ª Edição do Brasil-Mônaco no último fim de semana, Sergio Moro
foi recebido com honrarias. Assistiu a um concerto no camarote real da ópera
Garnier, no Cassino Monte Carlo, ao lado do Príncipe Albert II. Depois, participou de
leilões beneficentes. Os convites para participar do evento foram vendidos a mil
euros. A organizadora divulgou o vídeo que mostra Sergio Moro acomodado na
mesa principal, em frente ao Príncipe. E o juiz agradeceu às autoridades do
principado a colaboração com a Lava-Jato”.
Enquanto a maior liderança política deste País se encontra trancafiada numa
solitária em Curitiba, condenado sem provas, preso sem crime, o seu verdugo
desfila pelo mundo recebendo sabe-se lá quanto. Havia aquele negócio que

14
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

contratavam um ator da Globo para ir em festa de 15 anos. Não sei se ainda hoje
fazem isso aí. Agora, contratam juízes e procuradores da Lava-Jato para
funcionarem como espécie de garoto propaganda de eventos, agora até em leilões
beneficentes, até em Nova Iorque.
Dallagnol, Carlos Fernando, Sergio Moro, Diogo Castor, tornaram-se uma
espécie de personagens. O Dallagnol chegava a ter uma página que oferecia a sua
presença a 30, 40 mil reais, e descrevia: “jovem procurador, de bochechas rosadas”,
dizia isso na página, “óculos de aros finos com olhar longilíneo, que mescla humor
com sabedoria, pode estar presente no seu evento por 30 ou 40 mil reais”. Esse era
um site que oferecia inclusive a presença dele em eventos.
Então, realmente, nós estamos vivendo uma situação que é absolutamente
esdrúxula, onde, infelizmente, uma parcela do mundo do direito no Brasil perdeu
completamente qualquer limite de compostura, de escrúpulo, e assim por diante.
O Dr. Rodrigo Tacla Duran, em cinco oportunidades, teve negada sua
solicitação para que pudesse depor como testemunha de defesa nos inquéritos da
Lava-Jato. A última delas foi ontem, num despacho do Dr. Nicolao Dino, no STJ, no
qual ele diz que mesmo que as provas sejam falsas Tacla Duran não deve ser
ouvido. E cita o despacho do Moro dizendo o seguinte: “é muito oneroso ouvir uma
testemunha no exterior, é muito difícil”. E, engraçado, nós estamos ouvindo o Dr.
Tacla Duran pela segunda vez aqui na Câmara dos Deputados, em Comissões, sem
que isso tenha qualquer despesa para a Casa.
E falar em despesa onerosa, em viagem para o exterior, penso que Sergio
Moro e a Lava-Jato chegam a ser algo até ofensivo à inteligência das pessoas.
Eu não entendi, Dr. Tacla Duran, em primeiro lugar, essa questão do Inquérito
186, ao qual o senhor fez referência, que sumiu. Que inquérito é esse e como é que
o inquérito sumiu? V.Sa. poderia explicar um pouquinho melhor, porque eu não
compreendi exatamente essa informação que V.Sa. nos trouxe aqui e que até agora
não era do nosso conhecimento.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, parte desse inquérito eu
inclusive juntei na CPI da JBS. Ele trata basicamente de esclarecimento sobre as
acusações que me foram feitas. Juntam as perícias, das quais V.Exas. também
receberam cópias na época da CPI da JBS. Ele estava tramitando em São Paulo, na

15
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

DELECOR, na 6ª Vara Federal. Num determinado momento, informaram que já não


estava mais lá e que havia sido enviado a Curitiba.
Como eu tenho advogados que cuidam de procedimentos administrativos...
Em procedimento judicial, eu não tenho advogado, porque eu não reconheço a
jurisdição brasileira; eu aceitei a jurisdição espanhola ao ter a extradição negada, e,
por isso, eu não constituo advogados nos autos dos processos judiciais. No entanto,
nos procedimentos administrativos eu tenho.
E sobre esse inquérito que estava em São Paulo, a informação foi a de que
ele foi enviado a Curitiba, e em Curitiba não se tem o paradeiro dele. Os Deputados
até receberam parte de cópia deste inquérito na CPI da Lava-Jato.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - V.Sa. está falando que o inquérito
das denúncias que fez, que investiga irregularidades da Lava-Jato, foi enviado para
Curitiba, para a própria Lava-Jato, mas mesmo assim também não se sabe ao certo
onde se encontra, é isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não sei do paradeiro. Depois que saiu de
São Paulo, não o localizei. A última informação é que foi enviado a Curitiba.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor sabe que nós, eu,
Deputado Wadih Damous, Deputado Carlos Zarattini, Deputado Paulo Teixeira, em
início de dezembro do ano passado, protocolamos na PGR todos os documentos
que o senhor nos encaminhou da CPMI da JBS.
Depois, em fevereiro, retornamos à PGR e colocamos, na denúncia, vários
outros documentos. Durante meses tentamos uma audiência com a Dra. Raquel
Dodge. Agora, há cerca de 30 dias, depois que a imprensa veiculou que estávamos
estudando a possibilidade de uma representação de prevaricação contra ela, nós
fomos recebidos numa audiência. E ela nos pediu um prazo de 7 dias para nos
receber novamente e para nos dar detalhes das investigações.
Passados 7 dias, ela não nos recebeu. Quinze dias, não nos recebeu. Nunca
mais nos recebeu. Passou a alegar uma série de agendas e simplesmente nos
enviou um despacho dizendo que as denúncias não seriam investigadas, no que diz
respeito aos procedimentos que envolvem o ex-Procurador Rodrigo Janot, que eram
ineptas e que não haveria, portanto, consequência. Sobre alguma coisa que diria
respeito ao Carlos Fernando, ela disse que seria remetido para Curitiba.

16
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O Ministério Público é tão cioso que, embora costume abrir investigações até
com notas de jornal, entendeu que todas as perícias dos documentos, inclusive as
que o senhor trouxe da Espanha com fé pública não deveriam sequer ser
investigados. Quer dizer, a PGR não vai investigá-los.
Nós estamos inclusive buscando um entendimento de que providências
podemos adotar diante da negativa da Procuradora em investigar as denúncias.
Vamos ver, no Supremo Tribunal Federal, o que é possível fazer.
Mas o senhor credita a que essa negativa da PGR em investigar as denúncias
que o senhor faz, inclusive sobre manipulação e adulteração de provas utilizadas
nas denúncias que foram feitas pela PGR?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - A mordaça, Deputado. Eu não vou ser
ouvido em nenhum processo como testemunha, Deputado.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Mas o senhor foi ouvido em diversos
países. O senhor já prestou depoimento em vários países.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor chegou a ter uma audiência
marcada pela PGR para ser ouvido na Espanha, correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Em 04 de dezembro, às 10 horas da
manhã, do ano passado.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Quatro de dezembro. Eu não lembro
qual foi o dia da CPMI da JBS.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Trinta de novembro.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Trinta de novembro. Já estava
marcado antes aquele depoimento, portanto, desta audiência do dia 04, acredito.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Já.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - No dia 04 de dezembro o senhor
estava com uma audiência com a PGR, com autoridades brasileiras, que deveriam
estar presentes para o depoimento em Madri, é isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, com o Dr. Orlando Martello, o Dr.
Roberson Pozzobon e alguém mais de que não me lembro o nome. Eram três ou
quatro procuradores.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Três ou quatro procuradores.

17
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O senhor compareceu a esta audiência?


O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Do dia 04 de dezembro em Madrid?
E a audiência ocorreu?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Às 10 horas.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - A audiência aconteceu?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Havia um juiz espanhol acompanhando,
porque tem que seguir a lei da Espanha. Havia um procurador espanhol.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - E aconteceu a audiência?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Aconteceu e restou infrutífera pelo
não comparecimento das autoridades brasileiras.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Os procuradores brasileiros não
compareceram à audiência?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Não compareceram. E como o
senhor foi notificado para esta audiência se ninguém sabia o seu endereço?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - As autoridades espanholas têm o meu
endereço. Dez países me localizaram para atendimento de comissão rogatória
internacional.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sim. O senhor foi notificado pelas
autoridades espanholas a pedido do Sérgio Moro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, sim. Essa a que eu compareci, no
dia 04 de dezembro, era um pedido de cooperação técnica do Brasil, expedido pela
13ª Vara de Curitiba.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - E o senhor trocou de endereço
depois disso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Então, como o Juiz Sérgio Moro e o
Ministério Público alegam, na negativa dos cinco pedidos para que o senhor seja
testemunha do Presidente Lula, que não sabem onde lhe localizar se eles
conseguiram notificá-lo para a audiência do dia 4 de dezembro?

18
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, eu fui notificado e compareci


regularmente no horário. Isso está consignado na audiência.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Então, a Justiça brasileira tem o seu
endereço?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Como?
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Isso mostra que há, na realidade,
uma informação inverídica na justificativa de o senhor não poder ser testemunha. As
duas justificativas são: primeira, não tem como encontrar o senhor; segunda, seria
muito oneroso, o que é uma bobagem, porque o senhor pode prestar depoimento
por teleconferência e já respondeu a cartas rogatórias dos mais diferentes países.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Eu quero aproveitar aqui a sua
presença, porque eu acho que ela é muito importante para que a gente possa
compreender um pouco mais sobre o que são os sistemas MyWebDay e Drousys
utilizados pela Odebrecht, a partir dos quais foram extraídas as planilhas que o
Ministério Público Federal utiliza nas denúncias que têm sido feitas pela Lava-Jato
em Curitiba.
O senhor tem conhecimento em que consistem os sistemas MyWebDay e
Drousys, Dr. Rodrigo?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - MyWebDay é um sistema de
controladoria contábil no qual são lançados os pedidos de pagamento e dadas as
autorizações. Funcionava independente do Drousys, no mesmo datacenter, mas em
servidores diferentes.
O Drousys era um sistema mais de comunicação. Tinha e-mail, chat e voz,
VoIP. Eventualmente havia arquivos guardados do MyWebDay e de outros arquivos,
em geral, nesse sistema Drousys. Mas eles não eram conectados, e são
independentes.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Esses sistemas ficavam
armazenados onde?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Primeiro, na Suíça. Depois, na Suécia.
O MyWebDay nem foi transferido para a Suécia, sempre foi na Suíça. Nesta
ocasião em que houve a migração do sistema, porque eles estavam fazendo o

19
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

desmonte do departamento, coordenado pelo Dr. Maurício Ferro, o MyWebDay já


estava desativado.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O sistema MyWebDay e o sistema
Drousys são dois sistemas utilizados pela Odebrecht a partir dos quais são extraídas
as planilhas de um conjunto de denúncias. O senhor sabe quem alimentava esses
sistemas? Quem eram as pessoas responsáveis? Como se dava este comando de
informações que eram lançados nesses sistemas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - No MyWebDay?
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sim.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - No caso do MyWebDay, eram os DAS,
como eles chamavam. Os diretores é que tinham autonomia.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O MyWebDay tem informações sobre
a Odebrecht no mundo inteiro ou só no Brasil?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, no caso, sobre todas as operações
que envolviam o departamento.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sim, mas não só do Brasil?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, não só do Brasil.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Certo.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Todos. Esse sistema era acessado por
pessoas que tinham autonomia para poder pedir autorização de pagamento, outras
para autorizar e outras para executar.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu, por exemplo, não tinha acesso ao
MyWebDay. Nunca tive.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor nunca teve acesso ao
MyWebDay?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Mas o senhor tinha acesso ao
Drousys?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não tinha função de fazer pagamento.
Nada disso.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor tinha acesso ao Drousys?

20
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Ao Drousys, eu tinha acesso e o meu


acesso era restrito para falar com algumas pessoas especificamente.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O Drousys era uma espécie de
sistema de comunicação interna da Odebrecht?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, sim. E eu tinha acesso... Esses
acessos eram administrados pelo administrador do sistema. Eu, por exemplo, não
tinha acesso a todas as pessoas do sistema.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Nestas planilhas, que foram
informadas pela Odebrecht ao Juiz Sérgio Moro e aos Procuradores da Lava-Jato, o
senhor que conhece de maneira detalhada esses sistemas, o senhor acha que
essas planilhas contêm todas as informações, todas as senhas, todos os codinomes
de pessoas que tinham acesso ao Drousys ou às informações que constavam no
MyWebDay?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, não. Como eu disse, esses
sistemas não se comunicam.
Outra coisa, Deputado, durante as notícias — e eu tive acesso a alguns
depoimentos, a algumas declarações, como a do próprio Paulo Sérgio, que era o
técnico responsável e dono da empresa Drousys —, ele informa uma lista de
pessoas que tinham acesso ao sistema, mas, entretanto, algumas pessoas que
tinham acesso foram omitidas. Há também outros casos que ele diz que o usuário
não estava em uso, mas existem e-mails e arquivos desse usuário.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Por exemplo, eu vi uma notícia de
que o doleiro Dario Messer, este que é chamado o doleiro dos doleiros e que até
agora se encontra em lugar incerto e não sabido, tinha senha, tinha codinome e
estava no sistema.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Só lhe interrompendo, como o senhor
disse que ele está em local incerto e não sabido, acho que aí fica clara a diferença
entre um foragido e um foragido da Justiça. Se fosse assim, eu não estaria aqui
falando com os senhores.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sobre o Dario Messer, eu examinei,
de maneira detalhada, todas as planilhas entregues pela Odebrecht e utilizadas pelo

21
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Ministério Público Federal. Em nenhuma planilha utilizada pelas delações aparece o


nome do Dario Messer.
Agora, numa outra operação, chega-me a informação de que o Dario Messer
tinha senha do Drousys, tinha codinome e operava o sistema da Odebrecht. O
senhor tem informações a respeito disso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, tanto ele como os dois funcionários
dele, o Juca e o sócio do Juca, que eu não conheço. Acho que é Cláudio o nome
dele. Todos eles tinham acesso, sim.
Eu não falava com eles diretamente no sistema. Nós não tínhamos
comunicação do sistema porque era liberado só pelo administrador, que dizia quem
deveria falar com quem. No caso, eu não tinha acesso direto a eles, mas eu sei que
eles tinham acesso ao sistema.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O doleiro Dario Messer tinha acesso
ao sistema?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Também.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor sabe qual era o codinome
que ele utilizava?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Flexão.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Flexão.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Esse era o nome do Dario Messer
dentro do sistema da Odebrecht?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - No entanto, em nenhuma planilha
entregue pelos delatores aparece o nome do Dario Messer, nem é feita menção ao
codinome Flexão.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, em relação ao codinome Flexão, em
planilhas, eu não sei. Mas eu tive acesso pela Internet, na mídia, à delação do Olívio
Rodrigues e do próprio Vinícius Borin, que eram testas de ferro da Odebrecht no
Meinl Bank, na qual eles delataram o Dario Messer. No acordo deles pela Odebrecht
em Curitiba, eles delataram o Dario Messer.

22
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O estranho, Deputado — e eu tive o cuidado de ver a denúncia, no Estado de


S.Paulo, de fazer uma busca no site do TRF4, na Seção Paraná —, é que nem o
Vinícius Claret nem o sócio dele, que são delatores no Rio de Janeiro, nem o Sr.
Dario Messer, nem o Sr. Matalon, nem o Trend Bank, apesar de terem sido
delatados pelo Olívio Rodrigues e por outros delatores da Odebrecht e do Meinl
Bank, são alvo de denúncia. Eu não os localizei. Só se estiverem em sigilo. Não são
alvo de denúncia em Curitiba.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Eu pergunto isso, Dr. Rodrigo,
porque há uma suspeita de que a chamada “panela de Curitiba”, esse esquema
criminoso que envolve a indústria das delações, a máfia das delações, na realidade,
descobriu um novo nicho de mercado: além de negociar termos de delações, o
grande negócio é negociar não delações; delatores que contratam um escritório de
advocacia, que negociam com o Ministério Público e também com o Poder
Judiciário, que delatam uma pessoa, mas oferecem a possibilidade de não delatar
outras pessoas. Por conta disso, passam a cobrar uma espécie de taxa de proteção,
uma propina de proteção. Dessa maneira, os nomes das pessoas não aparecem nas
planilhas, não aparecem nas delações.
Segundo consta — e isso é público —, a Odebrecht alugou um hotel, em
Brasília, e lá instalou algumas dezenas de executivos, onde foi montada uma
delação. Setenta e sete executivos aderiram a essa delação. Aqueles que aderiram
a essa delação receberão 15 anos de salário. São delatores remunerados. Setenta e
sete executivos vão receber valores, durante 15 anos, por terem aceitado fazer as
delações. Nessa delação, evidentemente, foram feitas escolhas de quem deveria ser
delatado e de quem deveria ser protegido. O senhor acredita que é possível que
tenha ocorrido uma manipulação no Drousys, inclusive nos extratos do Meinl Bank
Antigua, para dar sustentação a essa delação dos 77 executivos?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu acredito não, eu afirmo. E tem uma
perícia comprovando que o sistema do banco foi fraudado, as transferências
internas foram adulteradas com o próprio padrão do sistema.
No caso do Drousys, como eu já disse, houve manipulação anterior por conta
do risco de o sistema ser apreendido. Então, o sistema foi deletado e alterado
diversas vezes. Há e-mails que comprovam isso, segundo cópias do Ministério

23
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Público. O administrador do sistema, Sr. Paulo Sérgio, enviou e-mail perguntando o


seguinte: “Você já salvou o que você precisa?” Eles queriam apagar os arquivos.
No caso do acordo firmado no hotel, veja bem, Deputado, são 77 delatores
que, na sua maioria, são acionistas da empresa. Eles têm interesse na valorização
das ações da empresa e não na sua quebra, e assim por diante. Alguns são
acionistas da empresa desde a contratação, e outros por conta desse acordo da
demissão voluntária. Na verdade, trata-se de um grande acordo de acionistas. E, em
função da cláusula de leniência prevista no contrato — e os senhores sabem disso
—, o Ministério Público tem obrigação de defender o acordo deles perante qualquer
órgão que o questione.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O acordo de leniência firmado entre a
Odebrecht e o Ministério Público Federal tem uma cláusula específica em que o
Ministério Público Federal assume compromisso com os delatores. Chama-me
atenção o fato de que esse acordo de leniência foi assinado por procuradores em
Curitiba e por procuradores em Brasília, dentre eles o Marcelo Miller, que participou
inclusive desse processo. Eles firmaram um acordo de leniência com o CNPJ da
Odebrecht, mas ofereceram imunidade processual contra os que eles chamam de
aderentes ao acordo de leniência. O Ministério Público Federal, totalmente à revelia
da lei, dá uma espécie de indulto, ou seja, todos aqueles que são aderentes ao
acordo de leniência não responderão por mais nenhum crime. E o Ministério Público
inclusive se compromete a não passar essas informações para outros processos ou
mesmo para investigações fora do Brasil.
Vou fazer uma pergunta para o senhor antes de seguir o meu raciocínio. O
senhor acha que é possível que os executivos da Odebrecht tenham manipulado
informações dos sistemas MyWebDay e Drousys para omitir informações a respeito
do dinheiro que ficava com eles? Eles citavam lá que foi paga determinada quantia
de propina para tal obra e em tal lugar, mas, na realidade, os próprios executivos
ficaram com esse dinheiro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sem dúvida. Por isso, estou sendo
acusado por eles no lugar deles.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Eu não me recordo exatamente dos
detalhes sobre aquele colaborador que está colaborando agora com a Polícia

24
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Federal e com o Moro, que foi preso na divisão da Suíça com a Itália, com uma
grande quantidade de ouro. Quem é ele?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Fernando Migliaccio.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Fernando Migliaccio?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Esse é um colaborar sênior, uma
pessoa das relações mais próximas do Juiz Sergio Moro e do Ministério Público
Federal, um colaborador que tem ajudado a compreender os sistemas Drousys e
MyWebDay, que foi preso na divisa da Suíça com a Itália, com grande quantidade
de ouro. É isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Se não me engano, foram 8 quilos de
ouro em barra.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Quanto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Oito quilos. Se não me engano, foram 8
quilos de ouro em barra.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Oito quilos de ouro em barra.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - E esse dinheiro que, na realidade, foi
transformado em ouro, constava nas planilhas da Odebrecht como se fosse dinheiro
que tivesse sido utilizado para operações. Mas, na realidade, era dinheiro que o
próprio executivo roubava da Odebrecht.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, foi desviado da empresa. Havia
diversos tipos de desvios que foram praticados e que eu identifiquei.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor conseguiu identificar...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - E, quando eu comuniquei ao Maurício
Ferro a existência da carta assinada pelo Hilberto Silva, no banco PKB, assumindo a
titularidade da conta da Smith & Nash que havia pagado ao Sr. Paulo Roberto
Costa, eu fiz isso contra os interesses dessas pessoas que estavam no
departamento. Eles não queriam. Entretanto, isso estava afetando diretamente a
estratégia de defesa da empresa.
Mesmo eles sendo contrários, eu esperei, até dei tempo para que eles
falassem. Eles não comunicaram. Eu fui e comuniquei. E isso causou o rompimento

25
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

que gerou essa série de acusações deles contra mim, porque, na verdade, expôs o
conflito — e ali todos eles desviavam dinheiro da empresa, inclusive o Hilberto.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Dr. Rodrigo, nesses acordos que
preservaram esse dinheiro ilícito que os executivos têm no exterior, há, portanto,
uma troca clara de interesses por parte da Lava-Jato, alvos específicos que lhes
interessam, proteção a pessoas que a Lava-Jato não quer que apareçam.
Sobre aqueles executivos que montaram um banco em Antígua, para operar o
dinheiro da Odebrecht, que roubaram milhões de reais, o senhor sabe os termos do
acordo de delação que foi oferecido a eles?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor conhece?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Conheço.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor poderia nos relatar?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eles ficaram 1 ano em regime
diferenciado, uma denominação (ininteligível). Mas, em resumo, eles ficaram, por 1
ano, restritos a não poder sair de casa à noite. Não havia nenhum controle eletrônico
por tornozeleira. Cada um deles pagou 1 milhão de reais de multa, e depois de
haverem admitido ter lavado 2 bilhões e 600 milhões de dólares entre o banco
Mynon e o antigo banco deles — porque eles trabalhavam no Antigua Overseas
Bank.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Cada um deles tinha lavado... O total
que eles lavaram foi...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Os três juntos, nos dois bancos, lavaram
2 bilhões e 600 milhões de dólares.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Dois bilhões e 600 milhões de
dólares. Ficaram em regime diferenciado. Um milhão de reais cada um teve que
pagar.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Um milhão de reais de multa.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - E procede a informação que, nessa
duríssima pena que eles receberam, constava a possibilidade de seis viagens ao
exterior por ano?

26
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eles poderiam, durante esse 1 ano,


durante esse período, viajar ao exterior.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Seis vezes cada um deles, não é?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não lembro quantas vezes. Mas
poderiam viajar.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Já encaminhando mais para...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, só aproveitando...
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sim.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Um deles aí, o Vinicius Borin,
recentemente, há coisa de 2 meses, tem procurado contato comigo. Eu não vou
atendê-lo — vou deixar, aqui de público, avisado. E eu creio que a Procuradoria,
porque ele tem um acordo, deveria providenciar que ele parasse de me procurar. Ele
não pode me procurar tendo acordo.
É por WhatsApp. Depois eu passo o telefone à Comissão.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Dr. Rodrigo, na última sexta-feira
agora, a Justiça de Andorra liberou para regresso ao Uruguai o Andrés “Betingo”
Sanguinetti, que foi acusado pelo senhor de ter participado dos ilícitos da Odebrecht
naquele país.
O senhor foi chamado a prestar depoimento em Andorra sobre ilícitos da
Odebrecht. Pode indicar quais as contas movimentadas naquele país que tiveram
envolvimento com a Odebrecht e ainda não apareceram nas investigações no
Brasil?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não sei se não apareceram nas
investigações no Brasil.
No caso de Andorra, as autoridades que foram pagas são todas do exterior,
não existe político brasileiro ali, pelo menos que eu tenha conhecimento, que tenha
sido pago através do BPA — Banca Privada d’Andorra.
No caso do Sr. Andrés Sanguinetti, não fui eu que o acusei, foi a própria
Justiça de Andorra, à qual eu prestei depoimento em colaboração com a Justiça
aqui. E, em consequência do meu depoimento, ele acabou sendo preso e teve a
extradição pedida do Uruguai para Andorra. Ele é irmão do ex-Presidente da
República Julio Maria Sanguinetti.

27
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Ele é irmão do Sanguinetti?


O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Doutor, o senhor mantém algum tipo
de colaboração com autoridades norte-americanas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Nenhuma.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Nenhuma. O senhor, portanto, não
tem informações a respeito de eventuais possibilidades entre procuradores
americanos e procuradores brasileiros?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, eu sei o que tem pela imprensa, que
eles têm uma cooperação ampla.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - A imprensa tem noticiado que o Sr.
Antonio Palocci estaria negociando um acordo de delação com a PF. Ainda segundo
a imprensa, o acordo permitirá, além da redução da pena, que o Sr. Palocci receba
30 milhões de reais. Do dinheiro que foi apreendido, seriam devolvidos a ele 30
milhões de reais.
O senhor vê nessa situação uma forma, um modus operandi? Quer dizer, a
Lava-Jato oferece valores financeiros, liberação de recursos para delatores? O
senhor tem conhecimento de alguma coisa nesse sentido?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu tenho conhecimento de que diversos
delatores da Odebrecht agora estão buscando desbloquear valores na Suíça,
dizendo que são valores extras que foram bloqueados.
No caso do ex-Ministro Palocci, não posso dizer, mas, no caso dos delatores
da Odebrecht, eu sei que eles estão pleiteando o desbloqueio dizendo que são
valores em excesso e que são provenientes de salário.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor sabe que o irmão do
Procurador Rodrigo Castor de Mattos, da Lava-Jato de Curitiba, tem um escritório de
advocacia que atende pessoas denunciadas pelo Dr. Castor, como é o caso do João
Santana? O senhor, como advogado, identifica conflitos da atuação do Procurador,
sendo que o irmão dele participa diretamente do processo?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Trata-se impedimento. Eu não tenho
conhecimento do caso em concreto. Mas, se for dessa maneira...

28
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor tem informação de que o


Dr. Castor teria inclusive solicitado a liberação de recurso para pagar o advogado,
que o Dr. Sergio Moro teria autorizado e que o advogado que recebeu o dinheiro
seria o próprio irmão?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu ouvi pela imprensa. Inclusive eu li o
despacho no jornal O Estado de S.Paulo, em que foram liberados 10 milhões de
reais para fins de pagamento de honorários e de despesas de subsistência.
Eu também li pela imprensa que esse advogado era o advogado do João
Santana.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Mas seria um modus operandi
semelhante ao que o Dr. Zucolotto ofereceu ao senhor?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não tenho elementos para comparar.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O Ministério Público Federal se
manifestou de maneira veemente, dizendo que jamais teve interesse em qualquer
delação do senhor.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Como?
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O Ministério Público Federal se
manifestou de maneira veemente, dizendo que jamais teve interesse em qualquer
delação do senhor. Essa informação do Ministério Público Federal procede?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não. Se fosse isso verdade, não
deveriam ter enviado, por e-mail, a minuta que me enviaram. Isso está na rede do
Ministério Público.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor tem e-mails...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Outra coisa, Deputado: eu estive diversas
vezes na Procuradoria. Se fosse desinteressante, não precisaria voltar tantas vezes.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Deixe-me fazer uma última pergunta
antes de passar para os colegas, sem prejuízo de poder voltar depois.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Só completando, o fato é que, depois que
eu não aceitei pagar o valor de 5 milhões de reais, realmente o interesse
desapareceu.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sim. Mas, Dr. Rodrigo, a legislação
brasileira fala que a delação é um ato voluntário, é um ato espontâneo de alguém

29
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

que quer colaborar. Não parece algo meio esquisito, para não usar outro adjetivo, o
senhor receber um e-mail do Ministério Público Federal — entre outros nomes,
consta ali Carlos Fernando, consta ali Roberson Pozzobon — oferecendo-lhe os
termos de uma delação, um documento feito pelo Ministério Público Federal que
incluía aquilo que eles queriam que constasse da delação?
O senhor tem um documento que o Ministério Público Federal lhe enviou
propondo os termos de uma delação?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, recebi um anexo desse e-mail, que
eu encaminhei à CPMI da JBS.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O que foi encaminhado à Dra.
Raquel Dodge e que ela acha que não é motivo suficiente para uma investigação.
Eu quero concluir dizendo o seguinte...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado...
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sim.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sobre a questão de ser voluntário, a
delação, o acordo, etc., eu queria chamar a atenção — até mesmo por ser a
Comissão de Direitos Humanos — para os familiares que são envolvidos nesses
acordos.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - É isso que eu quero perguntar. Eu
quero falar uma coisa com o senhor sobre isso.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Há poucos dias, eu participei de um
ato em que pessoas que foram perseguidas, que foram presas, que foram torturadas
no período da ditadura militar relataram que não há nada pior, não há nada que
possa ser mais violento numa sessão de tortura do que a utilização dos familiares
como forma de pressão. Mesmo para as pessoas que foram barbaramente
torturadas e aguentaram, na hora em que lhes era tirado o capuz e que eles
enxergavam uma filha, um filho, uma mãe na sala de tortura — aconteceu muito na
Argentina, muito no Chile, mas também no Brasil —, isso é algo que acaba com
qualquer pessoa.

30
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Esses torturadores entram para a história como aquilo que de mais perverso a
humanidade produziu: a escória da história, o lixo da história, a porta dos fundos da
história.
A Lava-Jato reeditou, de maneira perversa, a tortura como método de
investigação. Ela reeditou a utilização dos familiares como forma de chantagem e de
extorsão para que as pessoas digam qualquer coisa. Os exemplos são muitos.
Paulo Roberto Costa só delatou depois que a esposa, as filhas e os genros
foram ameaçados de serem levados para cadeia, trancafiados — e permaneceriam
durante anos na cadeia, sem julgamento, como muitas pessoas estão até hoje.
Lúcio Funaro, a irmã; o senhor, foram atrás da sua irmã, da sua família; José Carlos
Bumlai, o filho; Raul Schmidt, a filha; Vaccari, a irmã, a esposa e a cunhada foram
perseguidas de maneira criminosa pela Lava-Jato; Milton Schahin, o filho; Paulo
Vieira de Souza, a filha; Eduardo Cunha, a esposa, bem negociada inclusive; Aécio
Neves, a irmã, bem negociada também; o Presidente Lula, que viu a D. Marisa
morrer sendo acusada no Jornal Nacional por ter comprado dois pedalinhos e
colocado o nome dos netos, além de os filhos perseguidos; o Temer, a filha; João
Santana, a esposa, que deu o relato das condições em que permaneceu até se
tornar delatora; Zé Dirceu, prenderam o irmão; Sérgio Machado, os filhos em
Londres. Consta que ele possui 900 milhões de libras em imóveis, e foram
autorizados a pagar 70 milhões de multa, enquanto Sérgio Machado vive numa casa
que parece um palácio sete estrelas, sem que nenhuma das suas questões tenha
sido comprovada. Nelson Meurer, os filhos; Sérgio Cabral, a esposa; Milton
Pascowitch, o irmão; Shinko Nakandakari, os filhos; Ricardo Pernambuco, os filhos;
Coronel João Batista Lima, a esposa; André Vargas, o irmão.
Eu tenho uma lista interminável aqui de nomes que não são públicos, pessoas
que tiveram as suas famílias ameaçadas.
Esse é o modus operandi que vai entrar para a história como uma reedição
daquilo que de pior a humanidade já viu: transformar a figura do delator em algo que
mereça algum tipo de respeito. A Lava-Jato ainda vai pagar muito caro por isso.
O senhor acha que a tortura, a perseguição, a ameaça a familiares se tornou
um método de investigação na Lava-Jato?

31
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sem dúvida! Aconteceu comigo. Eu não


cedi. A lista que o Sr. Deputado narrou — nós normalmente lemos as notícias dos
casos isolados — diz tudo. Eu fui contando aí mais de 20 pessoas. Esses são os
casos que são públicos.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Num determinado momento, o
Procurador da Lava-Jato do TRF4 chegou a dizer que é legítimo manter uma pessoa
presa sem condenação pelo tempo necessário, até que ela aceite ser um delator.
Isso foi defendido publicamente, Deputado Wadih Damous, por um
procurador da Lava-Jato: é legítimo manter uma pessoa presa sem julgamento e
sem condenação, até que ela aceite ser um delator; é legítimo perseguir familiares,
ameaçar familiares em troca das informações que nos interessam.
E hoje não há, por parte de ninguém neste País, do Conselho Nacional do
Ministério Público, do Conselho Nacional de Justiça, uma voz das instituições, com
exceção deste Parlamento, que se disponha a denunciar. E eu espero que a CPI
que será instalada nesta semana, para tratar da máfia das delações, possa ir a
fundo nessa investigação, para que o Brasil conheça a sarjeta, o esgoto da
Lava-Jato, escondido pela Rede Globo e por todos aqueles que se prestam a um
triste papel neste quadro histórico lamentável que o País hoje vive.
Portanto, agradeço as respostas que foram dadas até agora e me reservo o
direito de mais tarde, Sr. Presidente, se for o caso, voltar para fazer alguma
pergunta que possa completar o meu raciocínio.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Deputado
Paulo Pimenta.
Quero também dizer àqueles que estão assistindo a este depoimento que, se
tiverem perguntas, podem encaminhar para o Facebook da Comissão de Direitos
Humanos.
Concedo a palavra ao Deputado João Daniel.
O SR. DEPUTADO JOÃO DANIEL - Presidente Luiz Couto, eu queria
parabenizar toda a Comissão, que faz esta importante audiência. Quero dizer ao Dr.
Rodrigo Tacla Duran que é fundamental e muito importante ao Brasil este
depoimento. Parabenizo o trabalho sério dos grandes Parlamentares desta Casa na

32
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

pessoa dos Deputados Paulo Pimenta e Wadih Damous, que estiveram desde o
início estudando e debatendo este assunto.
O depoimento que V.Sa., Dr. Rodrigo Tacla Duran, dá aqui a esta Comissão
contribui muito com aquilo que todos os que estudam o Brasil estão percebendo que
vem ocorrendo no nosso atual momento brasileiro, em especial o surgimento dessa
história da Lava-Jato: como ela foi preparada, como ela foi trabalhada e quais foram
e são os verdadeiros objetivos do Juiz Sergio Moro e dos procuradores.
Eu queria apenas parabenizar e fazer uma pergunta a V.Sa., uma pessoa que
tem conhecimento. Nós temos uma avaliação — eu em particular — de tudo que nós
estamos debatendo e acompanhando. O Brasil, assim como qualquer país, não teria
grande desenvolvimento se não tivesse grandes empresas. Na sua avaliação e nas
informações que V.Sa. tem, não está claro que toda essa Operação Lava-Jato tem
como grande objetivo entregar as riquezas — em especial o petróleo e da
PETROBRAS — a empresas multinacionais?
Há poucos dias, o Juiz Sergio Moro, mais uma vez, foi homenageado nos
Estados Unidos por empresários, por gente que tem clareza da importância do
petróleo e da PETROBRAS, esta empresa brasileira. Eles têm interesse e
participam, são donos, são acionistas.
V.Sa. não vê em tudo isso a falta de interesse de ouvi-lo? Certamente, como
o senhor, há outros que o Juiz Sergio Moro não teve interesse em ouvir. A cada dia
fica mais claro o grande objetivo disso e de quem deve ser criminalizado, quem deve
ser preso, quem deve ser perseguido.
A pergunta que eu gostaria de fazer a V.Sa. é: não há interesses das grandes
empresas, em especial dos americanos, nessa operação e no Juiz Sergio Moro
sobre a questão da PETROBRAS?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, eu não tenho qualquer
informação a esse respeito nem juízo de valor.
Nos últimos anos, tenho me concentrado estritamente em fazer a minha
defesa e tentar produzir as provas necessárias para isso, porque estou sendo
acusado sem provas e preciso provar a minha defesa. Há uma inversão do ônus da
prova.

33
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Mas sobre sua pergunta, eu não tenho maiores informações nem juízo para
poder lhe responder.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Sr. Deputado
João Daniel.
Tem a palavra agora o Deputado Adelmo Carneiro Leão.
O SR. DEPUTADO ADELMO CARNEIRO LEÃO - Sr. Presidente, quero
cumprimentar os Deputados e as Deputadas aqui presentes. Saúdo, de modo muito
especial, esses dois grandes companheiros, o nosso Líder Paulo Pimenta e o
Deputado Wadih Damous, pelo trabalho dedicado e aprofundado sobre essa
questão. Cumprimento o Sr. Rodrigo Tacla Duran, que, neste momento de imensa
preocupação e de inquietude do Brasil, que está, em função desse processo da
Lava-Jato, está pagando um preço altíssimo.
Quero tratar, de modo muito especial, de uma liderança que mudou a história
do Brasil em pouco tempo e, em 10 anos, fez várias revoluções, se nós tratarmos
das pessoas mais pobres que ascenderam a uma condição de maior dignidade —
são mais de 30 milhões de brasileiros —, se tratarmos do salário mínimo, do Minha
Casa, Minha Vida, da universidade, da educação. E, mais do que todas as
conquistas materiais, o Presidente Lula colocou o Brasil no cenário mundial, dando
ao povo brasileiro mais e maior autoestima e dignidade.
Quero tratar especificamente de V.Sa., Sr. Rodrigo, que teve negado por
cinco vezes o direito de testemunhar sobre o Presidente Lula. Essa é uma situação
que me parece absolutamente fora de todo o Estado Democrático, dos princípios do
Direito. No meu entendimento, quem escolhe a testemunha não é o juiz. Não cabe a
ele, pelas razões já aqui expostas, qualquer medida de veto, considerando o valor
do seu depoimento.
Quero colocar também que, diante de tudo que foi dito aqui hoje, certamente
há algumas questões que são de natureza retórica. Não existe a materialidade da
palavra, mas existem muitos elementos que podem ser traduzidos em materialidade,
podem ser comprovados efetivamente. E um Judiciário que, eventualmente, nega
essa situação passa a ser conivente com o que há de mais grave no nosso mundo.
Eu vi, na sua consideração inicial, que o elemento que mais emocionou foi
quando tratou da sua condição de enfrentamento à ditadura espanhola. Nós também

34
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

vivemos aqui ditaduras. Já disse um grande brasileiro que a pior de todas as


ditaduras é a ditadura do Judiciário, porque nós não temos contra ela elementos
mais fortes para fazer uma luta. E me parece que, se ela não existe no Judiciário
por inteiro, ela está existindo nesse processo, que coloca como elemento de
combate, como referência, o combate à corrupção. E, pelo que foi dito aqui e está
sendo anunciado, a Lava-Jato é um grande cartel de corrupção, é uma grande
estrutura de corrupção.
Também não é aceitável neste País o que está sendo dito e nós vimos até o
presente momento sobre uma pessoa do porte, da dimensão do Presidente Lula —
ou qualquer outra que fosse. Na realidade, se o Presidente Lula hoje está preso
também sem prova, muitos Lulas estão presos no nosso Brasil, por causa de um
sistema judiciário que atua de maneira seletiva e de maneira a acelerar o processo
de proteção de alguns e punição de muitos outros, quando pobres ou negros, ou
quando afrontam os interesses de uma estrutura dominante que está além das
nossas fronteiras.
Então, primeiro, quero pedir a sua consideração como quem fora convocado,
fora convidado e que, por diversas vezes, teve negada a sua condição de
testemunha do processo que se faz contra o Presidente Lula, hoje condenado, preso
por causa de um tríplex, do qual ele não tem escritura, não tem a chave, não tem
carnê de IPTU, de água, de luz, de gás, não tem aluguel, não tem absolutamente
nada! E ele está preso e condenado por mais de 10 anos.
Queria saber se isso é aceitável neste País, se isso é absolutamente
compreendido, e por quê. Tudo isso ocorre no momento em que, sistematicamente,
o País está sendo entregue, está sendo conduzido numa lógica de entrega e de
enfraquecimento de todas as riquezas e de todos os ganhos do povo brasileiro. Isso
é muito sério!
Peço também mais uma vez a sua consideração sobre uma questão que,
embora o Deputado Paulo tenha colocado aqui com muita ênfase, é preciso
reafirmarmos, sobre esse sistema seletivo de delação comprada e negociada na
Lava-Jato. Que sistema é esse? Que atitude é essa? Não é só um juiz de duas
caras, ou dois juízes. Quem condenou o Presidente Lula? Quais foram os Moros que

35
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

condenaram o Presidente Lula? Como pode ser admitida uma questão dessa
natureza?
Onde estará efetivamente a nossa resistência e a nossa luta, para
quebrarmos esse esquema que está entregando o nosso País e está condenado
não só um presidente, não só uma pessoa, está condenando o povo brasileiro a
reduzir seus ganhos conquistados a duríssimas penas, por meio de grandes lutas?
Não há nenhuma conquista do povo brasileiro que tenha sido simples e que tenha
sido gratuita. Toda conquista foi fruto sempre de grandes e importantes lutas e de
muito sofrimento do povo brasileiro — e essas conquistas estão sendo perdidas.
Peço, então, para V.Sa. tratar sobre a condenação do Presidente Lula, se o
julgamento que levou à sua condenação apenas foi uma formalidade ou um teatro,
porque a condenação já tinha ocorrido antes, por diversas vias, sustentada por
omissão e por ação de Ministério Público. Os Moros a que V.Sa. tem se referido aqui
são sustentados por quais interesses, por quais forças que hoje ainda atuam contra
o Brasil e contra o povo brasileiro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, eu não pedi para ser
testemunha do ex-Presidente Lula, eu fui arrolado pela sua defesa. Não conheço o
ex-Presidente Lula, não conheço o advogado do ex-Presidente Lula. Mas, como já
disse, eu estaria à disposição não só dele, como de qualquer outra pessoa que
viesse a me arrolar como testemunha.
No caso do ex-Presidente Lula, o que chama a atenção é que, além de ele ter
o cerceamento de defesa pelo indeferimento da minha oitiva como testemunha,
soma-se a isso que há condenação sem se esgotarem todos os recursos. Isso é um
açodamento.
Mas, em razão da seletividade que o senhor colocou, eu não acredito que vá
ser ouvido em nenhum processo como testemunha. Isso não é uma coisa que vai
acontecer não só no caso do Presidente Lula. Não aconteceu no caso do Presidente
Michel Temer, porque que eu deveria ser arrolado, poderia ter sido citado, e não fui.
Em todos os casos em que eu for chamado, não acredito que eles vão deferir,
simplesmente porque o que tenho a dizer desmonta a tese e a estratégia deles de
acusação.

36
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Se eu fosse delator, bastaria só falar. O problema todo é que, se eu fosse


falar como testemunha contrária, eles iriam dizer que eram só palavras e até querer
menosprezar as provas. Então, se eu falar e apresentar provas, eles acabam
indeferindo.
É uma situação que vai se repetir, razão pela qual eles também não enviam
os meus processos para a Espanha. Se enviarem para cá, vou exercer o meu direito
de defesa, vou comprovar. E acho que eles têm medo de mais uma derrota
internacional. Na verdade, eu atribuo a isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Sr. Rodrigo, as pessoas estão
encaminhando perguntas. A Sra. Elaine Maria Santos questiona quais outros nomes
de seu conhecimento o Juiz Moro não quer ouvir.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não tenho conhecimento de nomes
que eles não queiram ouvir. Mas, por exemplo, uma coisa que chama a atenção é
no caso do doleiro Dario Messer, no caso do Trend Bank e no próprio caso do
Vinícius Claret e do seu sócio, nenhuma dessas pessoas, apesar de delatados pelos
colaboradores da Odebrecht, foi denunciada em Curitiba ou investigada. Creio que
eles faziam uso do Dr. Figueiredo Bastos, se não me engano, o Dario Messer.
Isso chama atenção porque eles não foram denunciados. É seletividade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Seletividade.
O Ruben Dario Aguirre questiona se a Câmara não deveria convocar a PGR
para explicar a razão de não investigar as denúncias. A resposta é que não
podemos convocar a PGR, mas iremos oficiá-la, solicitando que localize o Inquérito
nº 186, que está perdido. Questionaremos também a explicação a respeito das
outras violações ao devido processo legal do Sr. Rodrigo, particularmente sobre a
procrastinação da emissão do parecer de homologação de decisão estrangeira.
Então, em relação à pergunta dele, digo que nós não podemos fazer a
convocação, mas iremos fazer um encaminhamento solicitando essas informações.
O senhor teria alguma coisa a acrescentar sobre essa indagação do Sr.
Rubem?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sobre a convocação da Procuradora-
Geral, não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Mas os dados que o senhor...

37
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, eu vou inclusive facilitar as


informações detalhadas à Comissão, para poder encaminhar os ofícios, os números
dos processos e todos os detalhes.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado.
Depois de ouvirmos as vozes masculinas, iremos ouvir agora três Deputadas
que irão falar.
A próxima inscrita, a Deputada Erika Kokay, não está presente.
Concedo a palavra à Deputada Maria do Rosário.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Muito obrigada, Sr. Presidente.
Cumprimento o Deputado Luiz Couto, Presidente desta Comissão de Direitos
Humanos e Minorias; o Deputado Wadih Damous, autor do requerimento; o
Deputado Paulo Pimenta, nosso Líder; os Parlamentares que acompanham os
trabalhos desta Comissão; o Dr. Rodrigo, que faz esse depoimento à Comissão de
Direitos Humanos; e todos os que nos acompanham.
Esta Comissão aprovou o requerimento do Deputado Wadih Damous com
base em princípios de que nós somos guardiões neste Parlamento e na sociedade
brasileira. De modo específico e direto nesta Comissão, nós nos constituímos como
guardiões da defesa de direitos humanos e dos princípios constitucionais.
Ora, o Brasil, de acordo com a Constituição de 1988, tem, como princípio da
República, a democracia e o Estado Democrático de Direito. Portanto, todo abuso de
autoridade constitui uma violação ao art. 5º, que trata dos direitos e garantias
fundamentais e estabelece a igualdade com a qual todos os cidadãos e cidadãs
brasileiras devem ser tratados.
A minha primeira pergunta ao senhor diz respeito a isto. Pergunto se o
senhor, como cidadão brasileiro, acredita que o sistema de Justiça de seu País o
trata neste momento com desigualdade, sem considerar suas prerrogativas como as
de alguém que tem a contribuir com o sistema de Justiça e que busca fazê-lo na
condição de testemunha.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sem dúvida, Deputada. As prerrogativas
de advogado já foram desrespeitadas lá atrás. O devido processo legal a que eu
deveria ser submetido eu não fui. É algo tão seletivo!

38
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Eu vou citar um caso análogo e concreto. Há o caso do Bernardo


Freiburghaus, que foi denunciado, se não me engano, na primeira ou na segunda
denúncia da Lava-Jato. Ele é suíço, mora na Suíça, e o Juiz Sergio Moro levou, se
não me engano, 3 anos para transferir o processo dele e 4 anos para baixar o alerta
vermelho, que aconteceu na semana passada, segundo a notícia que eu li no jornal
O Estado de S.Paulo.
Na verdade, ele não tinha a jurisdição do caso desde o primeiro minuto em
que o Bernardo chegou à Suíça. Então, o que ele fez, mantendo o processo
arrastado, inclusive contrariando os preceitos que eles tanto prezam de celeridade e
de justiça, manteve, por 4 anos, o cerceamento de ir e vir do Bernardo. Ele só deu
baixa no processo na semana passada. Ele está tentando fazer provavelmente o
mesmo comigo.
A briga que houve no caso do Raul Schmidt, na questão da sua extradição de
Portugal, também deixou muito claro que ele acaba perseguindo as pessoas que
conseguem se defender em outra jurisdição, por qualquer que seja a razão.
No meu caso, eu optei pela extradição como estratégia de defesa. Não nego
isso. E avisei aos procuradores. Meu advogado estava comigo. Eu nunca fiz nada
escondido. Eu morava no exterior. As 80 viagens que eu fiz não era do Brasil para o
exterior, era para o Brasil. Eu já morava no exterior. Eu avisei a minha estratégia de
defesa. Eu não me escondi, não fugi, não houve nada. Eu simplesmente não aceitei
a proposta que fizeram e foi desencadeada toda essa perseguição.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Ao responder afirmativamente
que o senhor considera estar sendo cerceado no seu direito de defesa e que
procurou outras alternativas que lhe viabilizam defender seu direito de defesa, que é
um valor constitucional fundamental, V.Sa. apresenta aqui uma atitude discricionária
praticada pelo Juiz Sergio Moro no seu julgamento, no seu juízo.
Quando o Juiz Sergio Moro se refere ao senhor como foragido e desqualifica,
em várias entrevistas, as contribuições que o senhor possa dar em juízo como
testemunha arrolada, não apenas do Presidente Lula, mas de Temer e de outras
pessoas, o senhor aceita essa condição de foragido?

39
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Eu lhe pergunto porque foragido é aquele que vive escondido ou clandestino


em outro país ou cidade, por ser procurado pela Justiça no seu local de origem. O
senhor é um foragido da Justiça brasileira?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Minha extradição foi negada pelo pleno
da audiência nacional aqui na Espanha, e as autoridades espanholas que têm
jurisdição sobre o meu assunto a partir de então têm o meu endereço, a minha
localização. E existe um decreto de cooperação técnica internacional entre o Brasil e
a Espanha, o Decreto nº 6.681, de 2008. Se o Brasil não me localiza, pode ativar o
decreto de cooperação técnica para me localizar. E eu vou ser localizado, como fui
localizado no caso de outras comissões rogatórias.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Então, V.Sa...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Da mesma forma, eu compareci à
rogatória brasileira, que eles solicitaram. Eles não compareceram, mas eu
compareci. Eu não deixei de ir.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - O senhor, então, afirma que não
está na condição de foragido, porque a Justiça brasileira tem o seu endereço, que é
sabido, e que a sua condição de permanência na Espanha é reconhecida pelo
Governo espanhol, pelas autoridades espanholas, e foi comunicada ao Brasil, tanto
que compareceu a uma audiência solicitada pela Justiça brasileira por carta
rogatória.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sem dúvida (ininteligível).
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - O senhor poderia avaliar o não
comparecimento de procuradores brasileiros a essa audiência? O senhor, que
compareceu à audiência, avalia de que forma as autoridades brasileiras terem
solicitado o seu comparecimento, mas não terem comparecido?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eles nunca me explicaram por que não
vieram, o que acho também não ser o caso, mas também nunca vi nem uma notícia
ou nota explicando. Tomaram a decisão de não vir. É um direito deles. Não vejo
nenhum problema. Eles só não podem dizer que não me localizam.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Na sua condição de advogado,
se fosse refletir sobre isso, em que interessaria a tese que o senhor sustenta de
estar em situação de exceção, de ser alvo de uma Justiça seletiva? O não

40
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

comparecimento das autoridades brasileiras a essa audiência nesse procedimento


seletivo e persecutório com o senhor interessaria em quê?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputada, não é tese, é fato.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - O fato então.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu colaborei com diversos países. Com o
Brasil, eles simplesmente... Não é o caso de ser testemunha do ex-Presidente Lula;
não é nem no meu caso, de investigar o meu caso, de transferir o meu processo.
Essa rogatória que eles pediram e não vieram era no meu caso.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - No seu caso. Então, o senhor
não foi ouvido.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - A partir do momento em que eles me
ouvirem, vão produzir provas no Brasil.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Então, o senhor nunca foi
ouvido pelo Ministério Público em relação às denúncias que o senhor faz?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, as provas...
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - A minha pergunta é a seguinte.
O Ministério Público, de acordo com o art. 129 da Constituição Federal, tem a
competência de requisitar diligências, instaurar inquérito policial, solicitar diligências
investigatórias, solicitar instauração de inquérito policial, de acordo com
fundamentos jurídicos, e se manifestar nas peças processuais. O senhor tem notícia
se foram solicitados inquéritos investigatórios ou alguma diligência? O que o
Ministério Público Federal fez com as denúncias que o senhor reiteradas vezes
apresentou no sentido de que houve tentativa de extorsão de 5 milhões de dólares
por parte do Zucolotto, que é o padrinho de casamento do Sergio Moro? O senhor
levantou isto como denúncia grave: a existência de uma indústria de delações
premiadas com tráfico de influência, em que parentesco e convivência se misturam a
interesses. Isso está sendo investigado? O senhor tem informação de que é um
procedimento formal de investigação da sua denúncia?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Que eu saiba não está sendo feito nada,
Deputada, a esse respeito, nada. Nunca foi feito.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Nunca foi feito.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não tenho conhecimento.

41
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Quando o senhor levantou isso?


Foi exatamente em que mês e em que ano?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Na verdade, esse assunto...
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Do Zucolotto.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - ...do Zucolotto... Eu ainda estou
escrevendo um livro, comecei a escrevê-lo antes; eu estava compilando essas
coisas; eu havia contratado uma pessoa aqui na Espanha, e ela cometeu o equívoco
de subir num site e ficou no cache do Google; aí acabou vazando para a jornalista
Mônica Bergamo, se não me engano; em agosto do ano passado, ela publicou.
Como é verdade, eu não ia negar.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Então, desde agosto de 2017,
tornou-se público que a sua denúncia de que esse advogado com quem o senhor
mantinha uma relação profissional anteriormente, porque era seu ponto focal em
Curitiba, pelo que ouvi do seu depoimento hoje, e que o senhor procurou para
apresentar-se à força tarefa da Lava-Jato colocou o senhor a necessidade de...
Como ele conhecia... Eu estou lendo aqui uma afirmação feita na CPMI, se não me
engano, em que o senhor depôs anteriormente, no Senado. Ele conhecia as
autoridades de Curitiba. Duran respondeu como pagaria os honorários, diretamente
ao advogado. E ele lhe teria dito: “Sim, mas por fora, porque eu tenho que resolver o
pessoal que vai ajudar nisso. Fazemos como sempre, a maior parte você me paga
por fora”. Isso era usual? Ele já havia lhe cobrado outras formas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Nesse assunto, eu entendi que ele
estava cobrando por fora porque não podia ser de uma forma oficial.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Ele pedia esses 5 milhões de
dólares para quê?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Para auxiliar no êxito dessa negociação.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - E o que seria auxiliar a
negociação?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Melhorar as condições do acordo.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - De que acordo?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O que estava sendo discutido na PGR
em Curitiba naquela ocasião.

42
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Então, 5 milhões de dólares


serviriam para melhorar as suas condições dentro do acordo, as condições do
acordo entre o senhor, que participaria no caso nessa hipótese, e que acabou não
participando, mas, nessa hipótese, seria o delator, e, do outro lado, os procuradores
da Lava-Jato? Esses 5 milhões seriam para isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Ele tinha acesso às pessoas. Foi por isso
que eu o procurei.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Ele tinha acesso a isso. E o
senhor intuiu, avaliou ou, pelo debate com ele, pôde compreender que esse dinheiro
seria para pagar melhores condições no seu acordo?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim! Isso, claro, era para melhorar o
acordo. Agora, se ele ia pagar terceiros ou não, eu não entrei no mérito, porque não
gostei da conversa, Deputada. Na verdade, eu achei que, somados todos os fatos
que estavam acontecendo, estava indo para um caminho de extorsão, para mim,
naquele momento, e eu não quis seguir.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Os 5 milhões de dólares não
eram honorários dele. O que ele disse “por fora” era para resolver. Esse é o seu
depoimento. O senhor disse da outra vez: “Para resolver o pessoal que vai ajudar
nisso”. Essa foi a afirmação de Zucolotto para o senhor?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Está na mensagem que foi
(ininteligível)
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Além disso, o senhor recebeu
um e-mail depois de conversar com Zucolotto em que ele lhe coloca essa
necessidade de 5 milhões de dólares para melhorar, para ajudar nisso. O que seria
melhorar os termos do acordo? Estou imaginando uma linha de tempo. Quanto
tempo depois que teve essa conversa com Zucolotto o senhor recebeu o e-mail? De
quem era esse e-mail? Essas pessoas integravam a força-tarefa da Operação Lava-
Jato e tratavam de delações?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Os Procuradores Carlos Fernando dos
Santos Lima, Roberson Pozzobon e Julio Noronha, da força-tarefa da Operação
Lava-Jato, encaminharam a minuta do acordo, com uma alteração de 6 meses de
domiciliar, alguma coisa assim, e com as alternativas de multa. Havia a multa mais

43
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

alta, caso o dinheiro pudesse ser repatriado de uma conta de Andorra, em que não
havia dinheiro, e uma multa menor, de um terço do valor aproximadamente, caso
não fosse localizado dinheiro em Andorra. Ou seja, iria prevalecer a multa menor,
porque em Andorra não havia dinheiro.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Então, havia uma multa maior
se localizassem o dinheiro, e uma multa menor se não localizassem o dinheiro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Exato.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Eu abro um parêntese neste
raciocínio que estou tentando desenvolver não apenas para que eu possa
compreender, prezado advogado, mas para que também as pessoas que nos
acompanham possam entender a gravidade dessa denúncia, a gravidade dos fatos.
O senhor é cidadão brasileiro, com cidadania espanhola, encontra-se na Espanha e
está se propondo a prestar um depoimento à Justiça brasileira para demonstrar
graves denúncias sobre procuradores da Lava-Jato — Juiz Sergio Moro e toda a
estrutura dessa operação. O senhor não foi ouvido até este momento. Há quase 1
ano essas questões são públicas, o Brasil conhece. Então, há uma série de fatos
extremamente graves que demonstram a construção de uma linha de raciocínio
encadeada no Poder Judiciário brasileiro que visa exclusivamente a um aspecto, e
não à verdade. É isso que busco ressaltar quando lhe pergunto.
Segundo o depoimento que o senhor já havia dado no Senado, a que eu tive
acesso 10 dias depois, o senhor recebeu esse e-mail. Agora o senhor afirma que
nele existiam dois valores, um mais alto, da negociação, se o dinheiro fosse
encontrado, e um mais baixo se o dinheiro não fosse encontrado. Eu lhe pergunto:
quem busca o dinheiro? Quem pesquisa onde está o dinheiro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputada, eu não estou afirmando isso
agora, eu afirmei na ocasião. E a minuta que estava como anexo do e-mail foi
encaminhada à CPMI também.
No caso, a multa maior, de aproximadamente 15 milhões de dólares, deveria
ser paga se fossem localizados fundos numa conta em Andorra. Eu tenho uma conta
em Singapura, e os procuradores sabiam disso, primeiro porque é declarada no
Banco Central e no meu Imposto de Renda, segundo porque, quando estive com
eles, eu comuniquei. Eles colocaram na minuta que o dinheiro estava em Andorra e

44
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

que teria que ser repatriado para então ser paga a multa de 15 milhões de dólares.
Se não fosse possível, por qualquer razão, o repatriamento da conta de Andorra, a
opção passaria a ser um item b da minuta, o valor de um terço da multa, que
corresponde a 5 milhões. O valor que eu tenho em Singapura...
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Cinco milhões de dólares. Um
valor inclusive idêntico ao pedido por Zucolotto. É estranho, o pessoal tem fixação
por esse valor. Zucolotto pediu 5 milhões de dólares, e a multa, Deputado Wadih
Damous, seria reduzida para 5 milhões. É interessante.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - A questão é que eu havia declarado, em
Singapura, 15 milhões de dólares. Se pago um terço da multa, que seriam os 5
milhões, no acordo, sobrariam 5 milhões para pagar honorários, no êxito, e 5
milhões para mim. Essa foi a proposta.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - O senhor daria 5 milhões de
dólares nesse por fora, do Zucolotto, e 5 milhões na conta, na negociação oficial.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Exato.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Cinco milhões de dólares na
negociação oficial, e o senhor ainda ficaria com 5 milhões. Seria um terço, um terço
e um terço.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Se colocassem na minuta e no acordo a
conta de Singapura, não haveria fundos para poder pagar.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Sim, não haveria
Note que eu não sou dessa área, eu não conheço. Eu trabalho na Comissão
de Direitos Humanos e Minorias e na Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania. Por isso lhe faço perguntas a que talvez o senhor já tenha respondido
muitas vezes — e até peço que compreenda.
Quando o senhor aponta que o e-mail já dizia Andorra ou Singapura, eu
gostaria de entender se, quando existem os dois valores, os próprios procuradores
seriam os responsáveis por verificar se encontrariam o valor a maior ou não.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Correto.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Aqui há também, Deputado
Wadih Damous, uma linha de raciocínio. Se eu digo que é tal valor maior e tal valor
menor, mas o fulano mesmo que diz se o valor é maior ou menor é o que vai

45
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

procurar, pode haver realmente uma negociação diferenciada lhe sendo indicada
pelo e-mail. Este também é um problema da delação premiada que nós temos que
analisar: quem faz a proposta é o mesmo que pesquisa.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputada...
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Pois não. Depois eu sigo com
as minhas questões.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Só para auxiliar no seu raciocínio, a
minha conta em Singapura só foi bloqueada por meio de cooperação técnica e
internacional depois de ocorridos todos esses fatos que V.Exa. narrou
cronologicamente.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Ao observar esses fatos, o
senhor repetiu várias vezes que não será ouvido em nenhum processo, não só no
do Presidente Lula — em nenhum processo. O senhor está convencido de que o seu
depoimento modifica a tese que tem sido sustentada por Sérgio Moro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sem dúvida. Se não fosse assim, não
iriam atrás para fazer perícia e tentar sustentar o que deveria ter sido feito antes de
acusarem as pessoas.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - O senhor pode afirmar então...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputada, eles não vão me ouvir nem no
meu processo. Se quisessem, eles teriam vindo aqui no dia 4.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - O senhor afirma que, além
dessa questão da propina, da extorsão que sofreu por parte do Zucolotto — que tem
relações pessoais ou políticas, apesar de não sabermos quando o Judiciário já tem
relações também políticas, além de judiciárias —, comprovada por mensagens do
WhatsApp como comprovação...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Do Wickr.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Como?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Do Wickr, outro aplicativo.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Outro aplicativo. Nesse outro
aplicativo, o senhor afirma que houve adulteração nos sistemas todos que lhe foram
perguntados aqui pelo Deputado Paulo Pimenta. No seu depoimento, o senhor
avalia que nós estamos lidando com uma ação articulada dentro da Lava-Jato? Aqui

46
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

o senhor trouxe vários elementos. Por exemplo, disse que há um processo seu que
tem informações necessárias — o Deputado Luiz Couto, inclusive, se comprometeu
a solicitá-lo. É o processo, é o inquérito...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É o Inquérito Policial nº 186, de 2016.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - É da Polícia Federal.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É de São Paulo.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - O senhor se referiu a isso. O
senhor afirmou também aqui, no mesmo início, quando disse que existem dois
Moros, um que é homenageado pelo mundo e outro que atua de forma planejada,
persecutória e violadora dos direitos humanos, que há uma procrastinação na PGR,
porque um documento de um processo administrativo, que o senhor acompanha há
7 meses, não foi despachado. Aqui já vemos diferentes focos: um na Polícia
Federal, outro na PGR e outro no Poder Judiciário.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Correto.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - O senhor acredita que há uma
ação articulada para impedir que o senhor faça o seu depoimento?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não sei se impedir ou postergar, mas
alguma coisa do gênero.
A SRA. DEPUTADA MARIA DO ROSÁRIO - Senhores e senhoras, eu acho
que nós estamos diante, não ao acaso, de um depoimento que é extremamente
importante para o País, primeiro, porque temos que recuperar alguns princípios
constitucionais. De um lado, precisamos recuperar que toda pessoa deve ser
considerada inocente até que, por meios legais e adequados, dentro da lei, sua
culpa, ou sua inocência, venha a ser comprovada. E me incomoda inclusive o fato
de o senhor não se encontrar no Brasil, que é o seu País. Está em outro país como
uma busca de manter a liberdade, enfim, de manter prerrogativas que lhe devem ser
asseguradas pelo Estado brasileiro.
O senhor sabe que o Presidente Lula teve muitas oportunidades de sair do
Brasil. Eu lembro sobretudo um momento em que esteve no Uruguai. Os colegas
gaúchos e de outros Estados que acompanharam a caravana e estiveram conosco
naquela praça que divide Rivera e Sant’ana do Livramento viram que ali mesmo
bastava um passo para que estivesse em outro país.

47
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Eu não julgo, obviamente. Quero tratar aqui de forma diversa, porque todo ser
humano tem o direito de defender-se. Então, o senhor está fazendo aquilo que
acredita adequado para o seu direito de defesa. No caso do Presidente Lula, ele
optou por ficar no Brasil. Pelas responsabilidades diferenciadas que tem, ele optou
por estar dentro do País. O Presidente Lula continua acreditando, continua com a fé
inabalável na democracia. O Presidente Lula não quer ser indicado para nada; ele
quer concorrer à Presidência da República, e já venceu duas vezes; ele quer o
direito de defender-se; ele quer que o senhor faça o seu depoimento — a defesa do
Presidente Lula exige, e Sérgio Moro se negou cinco vezes a ouvir o seu
depoimento, porque é um contraponto importante ao abuso de autoridade praticado
contra várias pessoas, inclusive contra o Presidente Lula.
O Brasil não vive um Estado pleno de Direito, vive um momento de exceção.
Há uma intervenção militar no Rio de Janeiro. Há poucos dias, o País foi paralisado,
em uma ação orquestrada: se, de um lado, existiam trabalhadores participando dela,
como caminhoneiros; de outro, existia ação empresarial e aqueles que são viúvos da
ditadura e defendem que o País seja paralisado por uma nova ditadura.
As nossas empresas estão sendo dilapidadas. Por trás do seu depoimento —
que nós não enxergamos aqui, não enxergamos em tudo isso e nas ações de Sergio
Moro —, existem o pré-sal roubado, as privatizações, o interesse sobre as
petrolíferas, empresas nacionais fortes que estão sendo destruídas pela gestão da
Lava-Jato, com milhões de pessoas desempregadas.
Os resultados dessa atuação de Sergio Moro vinculada aos interesses norte-
americanos cada vez mais claros pela sua presença, pelas homenagens, mas pelas
diretrizes que estão estruturadas em torno do impedimento ao seu depoimento, das
questões que ele tem apresentado e da falta de provas com que mantém preso o
Presidente Lula, toda essa orquestração tem servido a quê, senão a fragilizar a
democracia brasileira? E o mais grave diante de tudo isso é enganar, enganar um
povo que quer o fim da corrupção, mas que agora vê também, mais uma vez, que os
que discursam pelo fim da corrupção se envolvem em negociatas deploráveis para
cumprirem a sua tese, o que é uma forma de corrupção.
Portanto, em nome da Constituição Federal, eu acho que nós temos vários
encaminhamentos para fazer aqui. O primeiro é que o senhor seja ouvido pelo

48
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Ministério Público. Eu fico indignada com a não presença de procuradores na oitiva,


na audiência, que foi, por carta rogatória, solicitada. Isso precisa de uma explicação.
Além disso, todos os elementos que o senhor trouxe corroboram aquilo que temos
afirmado também no caso do Presidente Lula: estão sendo violadas a Constituição
Federal, a Carta Internacional dos Direitos Humanos, a Declaração Universal e o
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, que afirmam que os Tribunais
devem agir com independência, que não pode haver prejulgamento.
O fato de o Juiz Moro, todas as vezes, em relação ao senhor, ter atitudes e
depoimentos desabonadores da sua pessoa demonstra, mais uma vez, a
inadequação dos seus procedimentos judiciais. Ele prejulga. E nós aqui queremos
que ele, também diante de nós e do Conselho Nacional de Justiça, que deve tomar
providências, atue, para que não permaneça existindo essa violação a direitos
inerentes à dignidade humana, à vida privada, à honra e sobretudo para que não
aconteçam prejulgamentos.
Nós precisamos, a partir das denúncias de violações aos direitos humanos
que estão integradas ao seu depoimento, solicitar ao CNJ, ao CNMP que retomem e
respondam às questões que a Câmara dos Deputados tem levantado sobre as
atitudes de Sergio Moro e dos procuradores da Lava-Jato. Precisamos também que
sejam responsabilizados naquilo que diz respeito ao cerceamento das atividades
advocatícias, dos advogados, como aconteceu com nosso colega Deputado Wadih
Damous, de direito de defesa, e de abuso de autoridade, de modo geral.
Eu quero dizer ao senhor que estamos aqui, na Comissão de Direitos
Humanos, não no âmbito de uma CPI, mas atuaremos também para garantir que
esse abuso de autoridade não permaneça acontecendo no Brasil, esclarecendo ao
povo brasileiro que aqueles que se vestem de uma forma diante das câmeras, na
verdade, escondem depoimentos tão importantes no âmbito da Justiça e não
permitem depoimentos tão importantes diante da Justiça, como o do senhor,
independentemente daquilo a que o senhor tenha que responder.
Em relação àquilo de que o senhor é acusado, eles têm que fazer prova, a
Justiça tem quer fazer prova. Mas, em relação àquilo que o senhor está depondo e
os denunciando, o senhor indica ter comprovações importantes que precisam ser
consideradas no sistema de Justiça.

49
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Muito obrigada por seu depoimento a esta Comissão, aos colegas, ao


Deputado Wadih Damous e ao Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Em relação às indagações que
foram feitas pela Deputada Maria do Rosário, há algum comentário?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Vamos passar às perguntas de
outras pessoas.
Do MPA — Movimento dos Pequenos Agricultores: “Houve algum pagamento
de seu escritório, em algum período, à advogada Rosângela Wolff Moro? E, se
houve, para que serviço?”
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não. Diretamente a ela, não houve
nenhum pagamento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Nenhum?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Paguei ao escritório do Dr. Zucolotto, e,
que eu saiba, ela era sócia.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Só? Então, não houve
pagamento para ela.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - E só...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Pois não, diga.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - ...à pessoa física. A ela, não, nenhum.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - De Adriana Salvitti: “O senhor
tem conhecimento de Juízes que receberam dinheiro de propina da Odebrecht?”
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não. Juízes, não.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Não.
De Robecil Parreira: “O senhor pode informar, novamente, quem atende pelo
codinome Flexível nos sistemas da Odebrecht?”
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Acho que é “Flexão”. É Dario Messer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - É o Dario?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Não é “Flexível”?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - “Flexão”.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - “Flexão”.

50
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

“Houve delação desse codinome e de suas atividades no esquema? Se sim,


por que o senhor acha que foi delação? Não aparece nos registros da Lava-Jato. E
por que não foi investigada, tampouco os envolvidos punidos na forma da lei?”
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não tenho conhecimento de nenhuma
informação sobre o codinome dele. Na lista que a empresa que administrava o
sistema encaminhou à Polícia Federal, não há o codinome “Flexão” e o nome do
Dario Messer. Sobre delação, ele foi delatado sim.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Permite-me?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Ele foi delatado pelo Olívio Rodrigues.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Esta pergunta é muito boa.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Hum, hum.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - A pergunta é: na sua opinião, por que
razão Dario Messer e os demais amigos, funcionários e sócios dele, mesmo
denunciados por delatores, não foram investigados pela Lava-Jato e nunca foram
denunciados pelo MPF? E, mais: o senhor sabe quem era o advogado deles?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, eles foram delatados, não
foram denunciados, em Curitiba. No Rio de Janeiro, foram; em Curitiba, não, embora
tenham sido delatados antes em Curitiba. A delação do Olívio Rodrigues, por
exemplo, é mais antiga sobre o Dario Messer, sobre o Matalon do que a delação do
próprio Vinicius, no Rio, que teve um processo de extradição longo, via Uruguai.
Entretanto, essas investigações, pelo que eu entendi, andaram só pelo Rio de
Janeiro. Eu não tenho conhecimento de nenhuma denúncia em Curitiba contra o
Dario Messer, contra o Vinícius Claret, contra o sócio dele, contra o Trendbank e
contra o Matalon, apesar de eles haverem sido delatados por diversas pessoas
(ininteligível).
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor sabe quem é o advogado
deles?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Como?
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor sabe quem é o advogado
deles?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Do Dario Messer, não sei se agora, mas,
em algum momento, eu tenho conhecimento de que foi o Dr. Figueiredo Basto.

51
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O.k.


O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - De Greg Balboa: “Gostaria que
o Sr. Tacla Duran esclarecesse como foi o episódio da atuação do advogado do
escritório da esposa do Sr. Sergio Moro, tentando suborná-lo”.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - A questão não foi de suborno ao Juiz
Sergio Moro. Ali foi discutida uma situação de acordo entre mim e ele, e ele na
condição de advogado que estava me ajudando nessa situação. Agora, dali em
diante, como ele iria fazer isso, os contratos, eu não entrei nesse meio; não quis, e
procurei evitar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Correto.
E qual era a participação e quem eram os membros do Ministério Público
Federal que participaram direta ou indiretamente dessa tentativa de suborno?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, também não... Do Dr. Zucolotto em
diante é o que tem que ser investigado, Deputado. Eu tenho conhecimento do que
aconteceu comigo e o que tratei com ele e o que foi relatado nessas tratativas são
as mensagens que foram periciadas, que eu encaminhei à CPMI. Daí para frente
depende de investigação, de quebra de sigilo, investigações normais, depoimentos
que não foram feitos. Agora, o que eu posso contribuir com isso é até onde eu tenho
conhecimento e com as perícias das mensagens que eu fiz, mostrando que as
mensagens não foram adulteradas, são verídicas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Nós estamos fazendo
perguntas de pessoas que mandaram via Facebook.
De Erisvaldo Souza: “O Sr. Tacla tomou conhecimento se outros casos, com
ofertas de negociação, envolvendo propina, foram feitas, pois a Operação Lava Jato
pode ter transformado esse tipo de ação em tentativas comuns junto a advogados
de investigados?” O senhor tomou conhecimento de outros casos?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - De suborno, essas coisas?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Sim.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não. O que eu soube, inclusive na
ocasião por outros advogados e pessoas da UTC Engenharia, é que eu deveria
procurar o advogado que eles estavam indicando, da “panela” de Curitiba, porque
seria mais fácil para conseguir fazer um acordo, ou o que fosse, para resolver o

52
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

problema, porque eles já haviam sido instados a falar sobre mim 1 ano e meio
depois de que eles haviam feito a delação. Então, antes de eles irem falar, disseram:
“Olha, nós vamos falar. E eu quero que você procure um advogado”. Ele deu uma
lista de advogados que tinham trânsito melhor a tratar do assunto em Curitiba.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Vamos escutar...
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Sr. Presidente, o Depoente pode
informar quem são os advogados ou os escritórios que foram indicados?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, na ocasião, foram o Dr. Figueiredo
Basto, a Dra. Carla Domenico, Tracy Reinaldet, Bretas. Eu não lembro muito bem,
porque alguns deles são sócios. Eu não lembro. Mas esses quatro nomes estavam.
(Não identificado) - Pode repetir os escritórios. Figueiredo Basto...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Figueiredo Basto, Tracy Reinaldet, Carla
Domenico e o Escritório Bretas.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - E quem fez a indicação?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O Sr. Ivan Carratu, a pedido de Walmir
Pinheiro, da UTC.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - As indicações foram feitas por Ivan
Carratu.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Vamos ouvir a Deputada
Luizianne Lins.
A SRA. DEPUTADA LUIZIANNE LINS - Boa tarde a todos, ao Presidente da
Comissão de Direitos Humanos e Minorias, Deputado Luiz Couto, aos demais
membros desta Comissão, ao advogado Tacla Duran, que estamos ouvindo aqui.
Eu gostaria de parabenizar tanto o Presidente quanto o Deputado Wadih
Damous por esta iniciativa. Se não fosse esta Comissão aprovar o requerimento do
Deputado Wadih Damous, nós brasileiros... Eu digo nós porque não sei qual vai ser
a audiência — audiência do ponto de vista dos grandes meios de comunicação de
massa, da grande imprensa brasileira...
Eu sou jornalista. Se os grandes meios de comunicação, os grandes jornais,
rádios, televisões, revistas, portais, redes sociais de todas as emissoras e canais,
também a TV Câmara, que espero esteja aqui... A TV Câmara está aqui? Alguém da

53
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

TV Câmara se coloca aqui no ambiente? Às vezes, eles ficam lá fora. Dá para ver se
a TV Câmara está lá fora? É costume em qualquer audiência ela aguardar os
Deputados para entrevistá-los depois. Alguém poderia ver para mim? Da minha
assessoria, alguém poderia dar uma olhada? (Pausa.) Não está aqui no ambiente
ninguém da TV Câmara. Sei que são profissionais extremamente comprometidos.
Infelizmente, devem ter recebido ordem maior para não estarem aqui. A TV Câmara,
surpreendentemente, não está cobrindo esta audiência, o que, para mim, é
esquisito, no mínimo.
Não há ninguém lá fora. Acabei de ser informada. Eu lamento profundamente
que a TV Câmara, que tem por objetivo trazer para os brasileiros informações do
que está acontecendo nesta Casa, inclusive em uma audiência desta importância,
quando o Dr. Tacla Duran, juntamente com o Dr. Wadih Damous, que é nosso
Deputado Federal... Eles trazem para nós...
Eu quero me apresentar para o senhor, que está longe, na Espanha. Eu sou a
Deputada Luizianne Lins, do PT do Ceará. Eu quero dizer para você, meu amigo,
que até sabia, porque nós do PT conversamos entre nós, e os companheiros
Deputados que estão à frente disso — Wadih Damous, Paulo Pimenta, Paulo
Teixeira — estão denunciando há muito tempo, inclusive com representação na
Procuradoria-Geral da República no dia 5 de dezembro de 2017.
Cobrando o resultado dessa representação, novamente, neste ano, esses
mesmos Deputados — Wadih Damous, Paulo Pimenta e Paulo Teixeira — estiveram
com Subprocurador-Geral da República, porque não conseguiam horário na agenda
com a Procuradora. Somente no dia 2 de maio deste ano, a Procuradora Raquel
Dodge os recebeu, inclusive colocando que, em 7 dias, daria uma resposta a esses
Deputados sobre a representação que fora feita à Procuradoria.
Agora, no dia 15 de maio, nós tivemos a informação de que esses mesmos
Deputados oficiaram à Procuradoria-Geral da República uma resposta, tendo em
vista que todos os prazos foram esgotados, além do que se passaram quase 6
meses — de 5 de dezembro para cá — do protocolo dessa representação.
Então, meus companheiros e todos aqui presentes, eu pergunto agora,
primeiro, ao nosso nobre advogado que nos fala. Eu vi aqui um Instagram atribuído

54
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

a V.Exa. que divulga uma série de notícias sobre toda esta questão que estamos
discutindo aqui. Eu gostaria, primeiro, de saber se é seu o Instagram?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
A SRA. DEPUTADA LUIZIANNE LINS - Sim. No Instagram, que apenas
tem... É porque hoje em dia há tantos fake...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Depende de qual, Deputada...
A SRA. DEPUTADA LUIZIANNE LINS - Eu tenho que lhe dizer, para não
estar cometendo aqui fake news. Eu acho que, como jornalista, tenho que colaborar
para destruir fake news, e não para construir.
Nesse Instagram, algumas das publicações que V.Exa. diz, ou seja, que torna
públicas porque não são nada escondidas ou que são matérias da grande imprensa
brasileira, a própria revista Veja dizia que, na PGR, Miller ofereceu serviços para a
Odebrecht, quer dizer, o ex-Procurador da República. O Estadão diz que Marcelo
Miller recebeu 450 mil do escritório de advocacia no caso JBS. A Folha de S.Paulo
diz que determinado promotor, que, no caso, não é ele, mas como o senhor até
comenta no seu Instagram que “qualquer semelhança não é mera coincidência”... A
matéria da Folha de S.Paulo diz que “Promotor quis me forçar a delatar o Kassab,
diz acusado da máfia do ISS”. Adiante, O Estado de S. Paulo diz que advogado de
delatores é acusado de cobrar propina.
Continuando, nós vemos uma série de matérias, inclusive uma de agora, 12
de maio 2018, em que um jornal diz que o Ministério Público Federal está perto de
finalizar o processo que investiga Marcelo Miller. E por aí vai.
Eu gostaria de dizer a todos que nos ouvem que tudo que está acontecendo
aqui é de uma gravidade impressionante. Nós estamos diante de uma situação
chocante. Estarrecedora! Nós estamos presenciando... Eu quero também fazer este
destaque antes de dizer a gravidade da situação. O senhor, aqui nas informações
que tivemos, tem contribuído com algumas investigações em diversos países. Aqui
fala em sete. V.Exa. confirma?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
A SRA. DEPUTADA LUIZIANNE LINS - Sete países. Aqui fala de Equador,
Estados Unidos. O senhor poderia nos dizer em que países contribui para as
investigações?

55
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Estados Unidos, não; Equador, três


vezes; Andorra, Suíça, Antígua e Barbuda, México, Peru e Argentina.
A SRA. DEPUTADA LUIZIANNE LINS - É muito esquisito saber que o senhor
está contribuindo com as investigações em todos esses países. Até confirma o fato
de não estar ajudando os Estados Unidos. Para nós, isso conta ponto, no sentido de
que, de fato, os Estados Unidos não estão preocupados com o que o senhor tem a
dizer, talvez como o seu próprio país, que não o está chamando para contribuir com
essas investigações. Isso, para mim, é outro indício.
Eu quero dizer com muita clareza aqui que, se todas essas informações que o
senhor coloca aqui forem investigadas... E parece que tudo está sendo feito em nível
dos operadores do Direito envolvidos com a Operação Lava-Jato. E o Ministério
Público Federal — isso é prevaricação! — não está nem ouvindo nem investigando.
Se assim não estiverem, nós podemos dizer de forma muito clara, assim como têm
mania de apontar para o Legislativo: nós estamos presenciando uma quadrilha
criminosa que troca melhorias nas delações premiadas por propina e que está
incrustada no meio do sistema judiciário brasileiro, porque são membros do
Ministério Público Federal no âmbito da Lava-Jato e talvez em outros locais. Por
isso, eu penso que é urgente e fundamental a instalação da CPI das delações aqui.
Por fim, eu gostaria de deixar claro, e ouvir o que o nosso depoente teria a
dizer, que a própria PGR, que, desde dezembro está sendo questionada, provocada
através de representação dos Deputados Wadih Damous, Paulo Pimenta e Paulo
Teixeira, do Líder Carlos Zarattini, à época, ao invés de dar satisfação, porque a
própria Procuradora — pelo que ouvi nos jornais e pela sua própria fala — disse que
em 7 dias daria uma resposta, até agora nada.
Mas o grave é que aqui a revista Fórum de hoje diz que a Procuradoria-Geral
da República quer impedir o depoimento do Sr. Tacla Duran, pedido pela defesa do
ex-Presidente Lula, e que o Subprocurador-Geral da República, Nicolao Dino,
protocolou parecer no Superior Tribunal de Justiça pedindo que o ex-advogado da
Odebrecht, Sr. Rodrigo Tacla Duran, seja impedido de prestar depoimento em um
recurso do ex-Presidente Lula que tramita na instância do Juiz Sergio Moro.
Isso é grave, porque, a cada dia que o Presidente Lula permanece
injustamente como preso político encarcerado na sede da Polícia Federal, nós

56
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

vemos um esquema criminoso se incrustando no Judiciário. E o que é mais grave: a


Justiça faz de conta que não é com ela e o Ministério Público faz de conta que não é
com ele. O único Poder que não é fiscalizado no Brasil, porque não permite aos
brasileiros, é o Judiciário. Portanto, estamos diante de algo grave, porque leva o
povo a não acreditar na Justiça.
Acho, inclusive, que a máscara de muita gente está caindo nesse processo da
Lava-Jato. A Operação para mim está des-Moro-nando. Não digo “desmoronando”,
mas des-Moro-nando, porque as máscaras começam a cair, as pessoas começam a
se apresentar do jeito que são, e a farsa começa a ter fim.
Eu parabenizo o senhor pela sua coragem de dar esse depoimento perante a
Comissão. E acredito sinceramente, com toda a responsabilidade que o senhor
possa ter ou venha a ter nesse processo de investigação, que o senhor só mentiria
nesse depoimento que está sendo dado para sete países, sabendo as
consequências de fazer isso, se não amasse muito a sua vida. Então, eu quero
parabenizá-lo pela coragem de repetir aqui o seu depoimento, porque o senhor não
teria sete conversas diferentes — e pelo menos juízo eu acredito que o senhor tenha
—, sabendo que poderia ser penalizado por autoridades internacionais.
Parabenizo mais uma vez o Deputado Wadih Damous. Quero dizer que nós
não vamos dar trégua enquanto o advogado Rodrigo Tacla Duran não for ouvido. É
importante irmos atrás do documento de convocação que ele recebeu para a oitiva
em Madri, que não aconteceu. Isso parece uma brincadeira, porque é muito malfeito.
Eu vou dizer uma coisa: talvez estejamos numa situação muito pior, porque
os golpistas, além de tudo, são muito trapalhões, são um bando de golpistas
trapalhões, que vêm da Câmara dos Deputados, do Senado. E há gente envolvida
do Judiciário, mas quero fazer ressalvas no sentido de que boa parte do Judiciário
acredita no que faz, que faz sem fazer negócio. Mas quero dizer que esses que
estão fazendo negócio, que estão se associando para o crime dentro do Judiciário e
do Ministério Público Federal têm que ser punidos como qualquer brasileiro. Afinal
de contas, a Justiça não serve só para colocar preso político na cadeia, como no
caso do Presidente Lula, que é inocente.

57
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O Presidente Lula está pagando um preço alto por ter mudado o Brasil para
melhor. É por isso que eles têm medo dele. Mas nós vamos fazer o Presidente Lula
Presidente do Brasil em 2018, querendo eles ou não, gostando eles ou não.
Sr. Presidente, eu queria terminar colocando que nós deveríamos também
convocar — e não sei mais quem está preso, porque, em geral, esse povo aqui não
está — esse Sr. Marcelo Miller, que integrava a Operação Lava-Jato e saiu. Vamos
ver o que ele tem a dizer sobre isso e sobre as acusações que foram feitas contra
ele. Vamos chamá-lo aqui para ouvir o que ele vai dizer. E nós Deputados podemos
chamar, sim, outras pessoas, inclusive um ex-Procurador do Ministério Público
Federal. Eu acho que deveríamos ouvi-lo e questioná-lo a respeito das contradições
que estão postas hoje no processo chamado Lava-Jato.
Muito obrigada.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Dr. Rodrigo teria alguma coisa
a dizer sobre a fala da Deputada Luizianne?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Quero agradecer as palavras dela em
relação à minha pessoa. Eu não menti mesmo. Sete países, diversos depoimentos.
É complicado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - O Sr. Marinilton Gottschall
pergunta: “O senhor teme pela sua vida diante de tão graves denúncias que podem
desmontar a Lava-Jato, soltar Lula e deixá-lo concorrer e vencer as eleições
novamente?”
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sr. Presidente, no início desse problema
todo, a Odebrecht falava a políticos no exterior que quem estava os delatando era
eu, porque eu vivia nos Estados Unidos. E ali foi o problema mais complicado que
eu sofri, porque as pessoas imaginavam isso, porque eu não estava no Brasil, e eles
tinham medo de uma eventual delação nos Estados Unidos. Ali, de fato, foi um
período complicado em que eu sofri diversas ameaças. Por último, isso depois ficou
claro — e não vem ao caso —, e a coisa melhorou. Desse lado, eu não tive mais
nenhum sinal de ameaça, essas coisas, a não ser esses últimos contatos do Sr.
Vinicius Veiga Borin, que eu procurei não saber o que eram.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Em permuta com o Deputado
Leo de Brito, o Deputado Paulo Teixeira falará neste momento.

58
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Eu quero, inicialmente, parabenizar o


Presidente, Deputado Luiz Couto, pela condução deste depoimento aqui na
Comissão de Direitos Humanos e Minorias, que abre para um fundamental
depoimento. Parabenizo também os Deputados Wadih Damous e Paulo Pimenta
pela iniciativa e cumprimento o Sr. Rodrigo Tacla Duran.
Sr. Rodrigo Tacla Duran, o Brasil tem um sistema de Poderes que prevê o
equilíbrio entre eles. Hoje nós estamos vendo denúncias de exacerbação na
condução de segmentos do Poder Judiciário. É por isso que o seu depoimento nos
ajuda, e esta CPI nos ajudará.
Uma segunda questão, Dr. Rodrigo Tacla Duran, é que todo mundo se
pergunta por que o sistema de Justiça não quer ouvir o Sr. Rodrigo Tacla Duran. O
que amedronta o sistema de Justiça na oitiva oficial do seu depoimento? Todos nós
nos perguntamos por que o senhor não é ouvido, o que faz com que o sistema de
Justiça recuse a oitiva de V.Sa.
Eu gostaria de fazer algumas perguntas, ainda que algumas delas sejam
repetidas. Primeiro: como é que foi o primeiro contato com o Dr. Zucolotto no
Paraná? Como é que o senhor contratou esse escritório de advocacia do Dr.
Zucolotto no Paraná?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O meu escritório tinha diversos
correspondentes em diversas cidades. No caso de Curitiba, eu havia o contratado,
porque ele já trabalhava há algum tempo para o meu escritório, fazendo a parte de
correspondente, tinha substabelecimento em alguns casos, como eu comentei, e
esse contato foi bem antes de eu ser investigado ou de ter qualquer investigação em
andamento, em Curitiba ou em qualquer lugar.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - No momento em que o senhor
começou a ser investigado, que proposta o escritório do Dr. Zucolotto fez ao senhor
de benefício em relação a eventuais punições judiciais, por exemplo, em relação à
pena e em relação a valores?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu fui a Curitiba com outro advogado,
que participou das reuniões, ele era de São Paulo, e eu tinha tido aquele contato
prévio em relação ao pessoal da UTC, que havia comentado a questão da panela de
Curitiba.

59
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Eu percebi a dificuldade do advogado, que não era de Curitiba, em lidar com


a negociação. Foi quando eu decidi procurar o Dr. Zucolotto para que me auxiliasse.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O Dr. Zucolotto estava relacionado
entre aqueles advogados da panela de Curitiba?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Pelo que o pessoal da UTC me passou,
não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - E o senhor o considera da panela de
Curitiba ou não?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Hoje? Na época, não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - E hoje?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Pode ser, é grande, né?
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Uma pergunta que eu faço ao senhor
é: depois que o senhor fez as tratativas com o Dr. Zucolotto, o senhor já mencionou,
mas eu queria repassar, o senhor recebeu um e-mail de três procuradores fazendo
uma proposta de benefício, a partir de uma delação premiada, correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Correto.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Quem são os três procuradores?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Roberson Pozzobon, Carlos Fernando
dos Santos Lima e Júlio Noronha.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor não os contatou, o senhor
estava em contato só com o escritório de advocacia do Zucolotto, correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - E eles te contataram
espontaneamente ou não?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, eu já havia tido contato com eles, já
vinha numa série de contatos, e, por fim, saiu a minuta.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - E eles mandaram a minuta para o
senhor?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Esse e-mail foi encaminhado por eles ao
meu advogado, no caso, o outro advogado, não o Zucolotto, e ele me encaminhou.
E o Zucolotto me ajudava em paralelo, não diretamente lá nas reuniões em Curitiba.
Mas outro advogado.

60
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor sabe dizer se algum


desses procuradores tem algum irmão advogado que atua na Comarca de Curitiba?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Desses três?
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor saberia dizer ou não?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Desses três do e-mail?
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - É.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O Roberson Pozzobon, eu acho que tem
uma irmã que é advogada em Curitiba.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor sabe o nome do advogado
que é irmão do Roberson Pozzobon?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É irmã, é mulher.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - É irmã? Como ela se chama?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Se não me engano, Thayse.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Thayse.
O senhor sabe dizer se a esposa do Dr. Sergio Moro seria sócia do escritório
de advocacia do Dr. Zucolotto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, soube que é.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Como ela se chama, a esposa do Sr.
Sérgio Moro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Dra. Rosângela.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Rosângela Moro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, ela é sócia do Zucolotto, que
estava transacionando a delação premiada, correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não sei se ela ainda é ou se era. Eu sei
que...
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Ao tempo, ela era?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Creio que sim.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Era sócia.
O senhor fez algum pagamento para a pessoa jurídica do escritório do Dr.
Zucolotto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim.

61
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, ela, como sócia, pode ter sido
beneficiada desse pagamento eventualmente?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Se era sócia, na época, sim.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Na distribuição de dividendos do
escritório?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Correto.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Portanto, a esposa do Sr. Sergio
Moro pode ter se beneficiado de um numerário pago como honorário por um
investigado da Operação Lava-Jato?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, nessa ocasião, o serviço que
eles estavam prestando para mim era um serviço regular. Não há nada de errado.
Era um serviço de correspondente.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sim, mas o senhor já era investigado
da Operação Lava-Jato?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor estava relacionado na
Operação?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu o contratei antes de ser investigado,
quando ele prestava esses serviços.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, o senhor pagou num período
anterior ao momento em que o senhor foi investigado?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É. Eu o contratei muito antes de ser
investigado. Não tem qualquer situação processual em Curitiba.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Certo.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não há relação entre as coisas.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Mas depois o senhor foi investigado,
e ele foi seu advogado?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Aí é outra história. Eu o procurei para me
ajudar nos contatos locais em Curitiba, para poder viabilizar um acordo, porque,
afinal, o que estava se tratando ali era um acordo, não era um processo.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Tá.

62
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Então, você chegar a um acordo é uma


coisa natural. Você precisa das pessoas que têm maior afinidade, maior facilidade.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Certo.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - E, no caso, eu entendia, como ele vivia
em Curitiba, que tinha essa proximidade.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Certo.
E a Sra. Rosângela Moro era sócia dele?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Nessa época, eu não sei se era. Eu sei
que foi, mas eu não lembro qual o momento. Eu não tenho conhecimento de qual
data ela foi sócia ou não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Quando o senhor falou da atividade
do Sr. Zucolotto, o senhor tem conhecimento de que em defesa dele quem saiu foi o
Sr. Sergio Moro?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Pela imprensa.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O que ele falou?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Primeiro me ofendeu.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O que ele falou do senhor?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Que eu era um mentiroso, etc. E que era
um amigo e padrinho de casamento, se não me engano, do juiz.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Do Zucolotto? Então, saiu em defesa
do Sr. Zucolotto nada mais, nada menos do que o Sr. Sergio Moro. Correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Correto. E não havia nenhuma menção a
ele de participação ilícita, nada de minha parte, no vídeo que vazou, nada disso. Eu
nunca acusei o Juiz Sergio Moro de nada, nem nesse assunto. Esse assunto quem
tem que responder, do Zucolotto adiante, é o Zucolotto.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Certo. Portanto, o Zucolotto, sócio da
Rosângela Moro, quando foi mencionado por V.Sa., quem saiu em defesa dele foi
exatamente o Juiz Sergio Moro. Correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Correto.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Correto.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Publicamente.

63
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Publicamente, não é isso? E o


acusou? Qual foi a natureza da acusação? O que ele disse para o senhor?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Ele, inclusive, fez uma nota de resposta.
Ele respondeu à reportagem em nome do Dr. Zucolotto.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor tem conhecimento de que
há uma acusação contra o advogado Figueiredo Basto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Tomei conhecimento pelo O Estado de
São Paulo há poucas semanas.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor tem conhecimento de que
um doleiro disse que esse advogado cobrou para não falar de algumas pessoas
dentro do processo de delação?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Pelo que eu li da matéria, eu entendi que
ele cobrou por dar proteção ao doleiro. Não é?
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - É isso. Portanto, não falar do doleiro.
Não é isso? Dar proteção ao doleiro. É isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É. Eu entendo que restou frutífera,
porque Dario Messer não foi processado em Curitiba.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Portanto, nos processos de delação
premiada...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Nenhum deles foi processado em
Curitiba.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - No processo de delação premiada
em Curitiba, o doleiro pagou para ser protegido. Pagou a esse advogado Figueiredo
Basto. Correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É o que foi noticiado pelo O Estado de
São Paulo. Daí eu procurei entender, procurei verificar se havia. Já tinha me
chamado a atenção o fato de alguns delatores os terem delatado, e eles não serem
denunciados em Curitiba.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, o senhor acha que tem gente
que é delatada e não é denunciada, porque, nesse ínterim, essa pessoa é
protegida?

64
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não sei se é protegida, mas não foi
acusada nem investigada.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Não é acusado.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O Sr. Dario Messer, por exemplo, não foi.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Não foi acusado. Portanto há um
sistema ali...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Em Curitiba não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Portanto, ali é um sistema em que
uns pagam e outros não pagam, diante da lei. Correto? Pagam do ponto de vista
que sofrem ação da justiça, porque parecem que pagam em numerário para não
serem processados.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, eu não sei se pagam, mas
vamos fazer uma conta rápida. São 7 anos, se não me engano, 96 meses, 50 mil
dólares, são 4 milhões e 800 mil dólares, vezes cinco que foram delatados, são
praticamente 25 milhões de dólares. Não é um esqueminha pequeno de 50 mil
dólares, Deputado.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Tá. Bom, então, o senhor...
Deputada Luizianne Lins.
A SRA. DEPUTADA LUIZIANNE LINS - Deputado Paulo Pimenta,
rapidamente, só para dizer aqui...
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Paulo Pimenta é o Deputado Líder,
de muito maior expressão.
A SRA. DEPUTADA LUIZIANNE LINS - Desculpe-me, Deputado Paulo
Teixeira, é que V.Exa. também é uma pimenta, do ponto de vista de combatividade.
(Risos.)
Mas, Deputado Paulo Teixeira, eu só queria registrar que fiz a queixa à TV
Câmara, que não estava cobrindo, e nossos colegas aqui chegaram e passam a
colaborar com a nossa audiência.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Muito bem. V.Exa. está atenta.
V.Exa. é jornalista e professora de jornalismo, portanto, observou um fato muito
importante para o transcorrer dessas...
Sr. Tacla Duran, a Odebrecht pediu para o senhor...

65
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, na questão da seletividade,


que o senhor está colocando, e não sei se é o caso de proteção ou não, a exemplo
do que eu comentei, que foi delatado o Dario Messer pelo Olívio Rodrigues e outros,
há também o caso do jornalista Diogo Mainardi, de O Antagonista, que foi delatado,
inclusive, por um funcionário de alto escalão da Odebrecht, que é o Henrique
Valadares. E nós não vimos nenhuma investigação aberta em Curitiba contra o
jornalista, ou contra a Empiricus, ou contra o Paulo, da PVA, empresa de marketing
que recebeu da Odebrecht. E há, em perícias feitas pela Polícia Federal,
pagamentos para essa empresa, que tem ligaçoes com a delação que foi feita por
Henrique Valadares sobre...
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, Sr. Tacla Duran, a lei não é
para todos, parece-me.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É delação à la carte.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - À la carte: esse entra, aquele não
entra; esse entra, aquele não entra. Então, há um mercado de delações que está
sendo praticado em Curitiba.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Nesse caso até tem perícia da Polícia
Federal que mostra os pagamentos da Odebrecht para essa empresa.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Como é que se chama a empresa de
comunicação?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN -E PVA. Eu posso passar para o senhor.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - PVA? IPVA é imposto aqui, não é?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não. PVA, sem o I.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - PVA, tá.
Sr. Rodrigo Tacla Duran...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - (Falha na gravação) dados, eu localizo
aqui.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Dr. Rodrigo Tacla Duran, esses dias
eu estava no Supremo Tribunal Federal, nós estávamos eu, o Deputado Wadih e o
Deputado Paulo Pimenta, e tinha um livro lá no Supremo Tribunal Federal dos
grandes advogados.

66
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, é PVR Marketing e


Propaganda.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - PVR Marketing e Propaganda.
Então, essa empresa foi delatada e não foi investigada?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Foi delatada pelo Sr. Benedito Júnior e
pelo Henrique Valadares. Existem pagamentos mapeados numa perícia da Polícia
Federal, e o próprio vídeo de delação do Henrique Valadares, que envolve o
jornalista Diogo Mainardi. Isso nunca foi investigado.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor conhece os sócios dessa
empresa?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Como Dario Messer, que não foi
investigado.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Não foi. Você conhece quem são os
sócios dessa empresa PVR Comunicação?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Não sabe quem são?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não. Tem a Empiricus também.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Como?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - A Empiricus também tem ligação.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - É outra empresa que foi delatada e
não foi investigada a Empiricus?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É, faz parte desse grupo de mídia.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - De grupo de mídia. PVA e
Empiricus?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - PVA não. PVR Marketing e Propaganda.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - PVR.
Dr. Rodrigo Tacla Duran, outro dia eu vi um livro dos grandes escritórios de
advocacia do Brasil. Acho que, em 2015, ali constava o seu escritório. Deixe-me
fazer uma pergunta para o senhor. Ao senhor foi oferecida pela Odebrecht a delação
entre os seus executivos?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Foi.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Por que o senhor não aceitou?

67
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Os Procuradores não aceitaram.


O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Os Procuradores não aceitaram. Na
delação havia um roteiro prévio?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Só para esclarecer, Deputado, eu não
assinei o termo que a Odebrecht me mandou para participar do acordo. Entretanto,
antes que tivesse a oportunidade de desenvolver esse papel, me foi informado pela
empresa que eu não poderia prosseguir nem como aderente, nem como delator,
nem nada, porque os procuradores não haviam aceitado meu nome.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, foi uma impugnação dos
procuradores. Por que o senhor acha…
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Porque havia prévia tentativa de acordo,
que é essa que nós estamos falando em que participou…
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Eles que vetaram a sua participação.
Por que o senhor acha que os procuradores vetaram a sua participação?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não sei o porquê, mas eu acredito que
foi por conta das negociações prévias, que não deram certo.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Mas por que eles se recusam a ouvi-
lo por carta rogatória? Por que há essa recusa? O que tem Tacla Duran de tão
importante que os procuradores não querem ouvir? Dá arrepio nos procuradores?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - A minha impressão, Deputado, é que os
meus depoimentos e provas que eu posso vir a fazer em um processo brasileiro,
podem ir contra a estratégia de acusação que eles têm sustentado.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor acha que o seu
depoimento pode mudar os fatos no Brasil em relação a essa persecução criminal?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Com certeza atinge a estratégia. O
senhor é advogado e sabe muito bem. A partir do momento em que eles fizeram um
acordo e receberam o sistema, isso tinha de ser periciado antes de dar curso a
qualquer processo.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, não houve perícia?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Prévia não. Agora, fizeram uma que de
fato confirmou que há alterações.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Alterações. Então, houve alterações?

68
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - E depois da entrega.


O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Dr. Rodrigo Tacla Duran, o senhor é
advogado e sabe, evidentemente, que em um processo que deixa vestígio é
fundamental a perícia, senão esse processo é nulo de todo direito. V.Sa., então, está
dizendo que nesse processo não houve perícia nesses arquivos. E, quando houve,
atestou ter havido adulteração. Correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Correto. A perícia foi feita pela Polícia
Federal somente muito tempo depois. E, depois da CPMI da JBS, a imprensa
divulgou. Tem lá o IP que provocou alterações. Ali minimizam, como se fosse só
uma parte pequena. Isso daí é a partir do momento da entrega. A parte maior, que
foi adulterada, é antes da entrega.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, eles estão vendendo gato por
lebre?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Em relação ao sistema, sim.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sim. E às informações, portanto.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O sistema não se presta à prova.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Como?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O sistema não se presta à prova jurídica.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Sei, mas houve adulteração no
sistema?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Interação.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Adulteração.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Apagaram, inseriram dados, apagaram,
mudaram dados.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, eles ali mudaram os fatos,
portanto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não só o sistema da empresa, como o
sistema do banco foi fraudado. O sistema do banco foi fraudado.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O sistema do banco também foi
fraudado?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, no que tange à questão das
transferências internas. Foi apagado. Na ocasião, foram apagados os beneficiários e

69
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

os remetentes das transferências internas, para que não fossem localizados e não
fosse feito tracking do dinheiro. Isso aconteceu antes de ser apreendido o sistema e
durante o desmonte do Departamento de Operações Estruturadas, que era
coordenado pelo Dr. Maurício Ferro, cunhado do Marcelo Odebrecht.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Então, nós estamos diante de um
sistema adulterado que serviu de base para as acusações que o Judiciário Brasileiro
está fazendo. Correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Ele foi adulterado antes de ser
apreendido, e a perícia mostrou que depois também.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Antes e depois. E esse sistema está
servindo de base para as acusações?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - E algumas acusações que só usaram
documento que não foi periciado.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Entendi.
Dr. Rodrigo Tacla Duran, o senhor soube que um procurador, de nome
Marcelo Miller, ainda na condição de procurador, dentro do Ministério Público
conduzia as chamadas ações controladas, de gravações, de conversas etc. Ele
ainda, na condição de procurador, advogava para a JBS, contratado pelo escritório
Trench Rossi Watanabe?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Para a JBS ou para a Odebrecht,
Deputado?
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Para a JBS. Eu mudei.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Eu soube da questão dele com a
JBS pela imprensa.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor sabia que há acusação de
que, ainda na condição de procurador, ele já advogava — portanto, ele estava
jogando dos dois lados — para a JBS?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Soube pela imprensa.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Bom, por último, para concluir, o
senhor sabia que…
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - E agora, por último, eu soube que ele vai
prestar concurso para Juiz Federal.

70
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Para Juiz Federal. Quer dizer, ele vai
querer julgar os demais, talvez com a mesma régua que ele acusava e advogava ao
mesmo tempo.
Eu vou para a conclusão.
O senhor sabia que há uma representação, junto à Procuradoria-Geral da
República, pedindo para ouvi-lo e apresentar as provas, feita pelos Deputados Paulo
Pimenta, Wadih Damous e Paulo Teixeira?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Soube.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - O senhor soube da decisão da
Procuradoria-Geral da República?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Soube agora nesta audiência pelas
perguntas do Deputado Wadih.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Eles acharam que não é interessante
prosseguir.
Ora, Sr. Tacla Duran, nós não entendemos o que está acontecendo no
Judiciário Brasileiro quando se negam a ouvi-lo, quando se negam a entender que
muitas ilegalidades estão sendo praticadas nessa operação “farsa-jato”, que
inclusive tem condenado pessoas sem provas, como foi o caso do ex-Presidente
Lula. Agora, estamos vendo que há um subterrâneo de corrupção, de negociação,
de compra de depoimentos envolvendo o que foi aqui chamado de “panela de
Curitiba”, que é aquela que tem mais acesso aos poderes locais da Justiça.
Por isso, eu quero, em primeiro lugar, parabenizá-lo pela sua coragem;
coragem essa que o senhor tem demonstrado ao longo do tempo, pois se
insubordinou a esse estado de coisas montado e está sendo uma pessoa de enorme
coragem.
Eu queria terminar e fazer a última pergunta. O senhor vai fazer um
depoimento, uma delação para o Departamento de Justiça americano?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Não?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não.
O SR. DEPUTADO PAULO TEIXEIRA - Tá. Muito obrigado.

71
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Então, eu agradeço a V.Exa., Sr. Presidente. Agradeço ao Deputado Leo de


Brito.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Com a palavra o Deputado Leo
de Brito.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
Dr. Rodrigo Tacla Duran, todos os telespectadores e ouvintes de nosso sistema de
comunicação aqui da Casa. Quero primeiro parabenizar o nosso Presidente,
Deputado Luiz Couto, pela realização desta audiência pública, e também o
Deputado Wadih Damous, que tem sido um grande e combativo Deputado na defesa
dos direitos humanos, da Constituição e das leis do nosso País, sobretudo, diante de
tamanhas arbitrariedades.
Quero iniciar com uma pergunta. Na CPMI da JBS, o Deputado José Mentor
se reportou a V.Sa. a respeito da existência de uma busca e apreensão em seu
escritório de advocacia. E V.Sa., naquela ocasião, no dia 4 de junho de 2017, no ano
passado, disse que encaminhou um requerimento à Comissão de Prerrogativas da
Ordem dos Advogados, em São Paulo. Gostaria de saber se foram tomadas
providências a respeito dessa violação e também que V.Sa. comentasse a respeito
da ação da Operação Lava-Jato violando as prerrogativas dos advogados em todos
esses processos.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Em relação à questão que foi
encaminhada à Comissão de Prerrogativas da OAB, ela se encontra sob sigilo, e eu
ainda não tive acesso ao atual estágio em que se encontra.
Em relação às violações das prerrogativas dos advogados, são inúmeras. Eu
acho que a mais notória é a que o próprio Ministro Gilmar Mendes comentou no
plenário a respeito do Dr. Batochio, que é conhecido na advocacia e respeitado por
tudo que ele representa para a classe. Ele sofreu esse tipo de problema quando teve
que se afastar de determinados casos, que eu soube nesta oportunidade. Então,
quando as coisas chegam a esse nível, fica complicado.
Por exemplo, no meu caso, quando foi expedido o mandado de busca e
apreensão, eu procurei a Ordem. É um mandado amplo que o Dr. Sérgio Moro
expediu. Ali foram apreendidos documentos e mídias de clientes que nada têm a ver
com a Lava-Jato, como questões de divórcio, questões particulares que estão sob

72
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

sigilo profissional e foram indevidamente apreendidas. E advogados do meu


escritório também tiveram seus arquivos violados.
São inúmeros os casos de busca e apreensão em escritórios de advocacia na
Operação Lava-Jato. No meu caso, por exemplo, há o assunto do
substabelecimento do Dr. Zucolotto, que sumiu. Por sorte, eu tenho os e-mails em
backup, senão eu não teria como fazer a prova do que estou colocando aqui nesta
Comissão.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - No mesmo depoimento prestado no dia
30 de novembro de 2017, o Deputado José Mentor fez um comentário em que ele
dizia mais ou menos o seguinte: “Uma última questão que eu queria lhe dizer. Com
essas manipulações na Intranet, no outro sistema, com controle através de
pseudônimos, de valores, e com os desvios que os executivos faziam e com a
destinação, ora contribuições legais, ora doações ilegais; ora caixa dois, ora caixa
três, com uma gama de opções, podia se fazer qualquer coisa, pode se fazer tudo
ali”. E V.Sa. respondeu: “Sim. Ali, por exemplo, ocorreu...” E o Deputado José
Mentor disse: “Pode ser reforma em fazenda, em sítio. Pode ser doação para cá,
para acolá, pode fazer o que quiser”. E V.Sa. respondeu: “Sim, até o pagamento dos
bônus dos próprios executivos”.
Eu participei da CPI da PETROBRAS, junto com o Deputado Wadih Damous,
com o Deputado Valmir Prascidelli e com a Deputada Maria do Rosário, que estão
aqui. E uma dúvida sempre nos ocorreu naquela CPI.
Quando vemos esses programas específicos a que V.Sa. se refere no seu
depoimento, nós vemos todo tipo de doação, de transação e de ação que é feita
pela empreiteira, no caso a Odebrecht. E sempre nos ocorreu o seguinte: as
doações legais, por exemplo, foram feitas para inúmeros partidos; para mais de 20
partidos, salvo melhor juízo. E como diferenciar o dinheiro sujo, que vem da
corrupção, do lucro efetivo da empreiteira? Isso nunca ficou claro para nós, porque,
para a Justiça brasileira, sobretudo para criminalizar o Partido dos Trabalhadores...
Inclusive há doações para outros partidos, mas, até agora, nenhum tesoureiro
desses partidos foi ouvido pela Justiça, e são doações que são consideradas crime
eleitoral e não são absolutamente investigadas. Como que V.Sa., que teve acesso
direto a esses programas, a esse sistema de pagamento, de doações, consegue

73
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

diferenciar isso? Como se diferencia isso daquilo que é ilegal? O que é dinheiro sujo
e o que é dinheiro limpo?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, eu não tive acesso ao sistema
de contabilidade. Ao MyWebDay, eu nunca tive acesso nem login. É nele que
constam esses lançamentos, autorizações de pagamentos. Há os pagamentos que
foram feitos, vamos dizer, em caixa dois e os pagamentos oficiais. Mas nunca tive
acesso ao MyWebDay, nem ao oficial nem ao do caixa dois.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - Mas já ouviu falar sobre isso? Já
conversou com alguém da empresa sobre isso, sobre esse sistema de doações?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. A empresa doava para todos os
partidos, indistintamente.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - E isso era vinculado à prática de
corrupção? Isso estava claro para V.Sa., que fazia parte da empresa?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, claro que era corrupção...
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - Porque em uma empresa, como a
Odebrecht, há lucros...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Até porque, Deputado, isso não era
conversado em corredores. Dependia do nível hierárquico também das pessoas que
tratavam desse assunto. Eu não tinha essa alçada.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - Certo.
Em algum momento, V. Sa., conversando com membros da própria empresa,
ou do meio jurídico propriamente, ouviu falar de uma ação clara em relação às
delações para atingir... Há inclusive depoimentos, nos quais os investigadores
diziam: “E o Lula?” Foi difícil em qualquer um dos depoimentos, ou em qualquer uma
das oitivas, ou das investigações, ou do próprio processo, o nome do ex-Presidente
Lula não ter sido citado, dando a entender que o objetivo central — e nós vemos
isso hoje, com o ex-Presidente Lula preso na carceragem de Curitiba — era uma
ação do Judiciário que não ia acontecendo conforme os fatos apareciam, mas, na
verdade, ela tinha um escopo central, que era atingir o ex-Presidente Lula.
E isso ficou muito claro naquele PowerPoint do Deltan Dallagnol, em que,
digamos assim, didaticamente, ele tentou apresentar aquela denúncia que hoje se
transformou em condenação. Mas parecia, ao contrário de como o processo deve

74
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

correr, que ele tinha um fim e se buscava, na verdade, justificar esse fim maior que
era exatamente a prisão do ex-Presidente Lula.
Em algum momento, V.Sa. ouviu algo a respeito de uma ação mesmo muito
clara em relação às delações para atingir o ex-Presidente Lula?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Dentro da Odebrecht não, porque eu me
desliguei da empresa antes de eles iniciarem depoimentos, etc. Enquanto eu estive
lá, não havia nada específico direcionado para esse sentido. Entretanto, quando eu
estive em Curitiba, numa das reuniões, esteve presente o ex-Procurador Marcello
Miller, como já comentei na CPMI da JBS, e ele foi enfático em solicitar que eu
falasse de políticos. Ele queria que fosse falado de políticos, inclusive havia uma
lista, que eu questionei, de delação à la carte, indiscriminadamente, não só do
Partido dos Trabalhadores.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - Nessa lista constava o ex-Presidente
Lula?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Também.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - Vou fazer uma pergunta em tese. V.Sa.
é uma pessoa que tem grande conhecimento jurídico, foi advogado de uma grande
empresa, da maior empresa do setor de construção civil do Brasil, uma player
mundial que, inclusive, conseguiu chegar a outros países.
Se V.Sa. fosse membro do Ministério Público, diante das denúncias e das
provas que V.Sa. mesmo apresenta, na formação da opinio delicti, da opinião
delitiva, V.Sa. entraria com denúncias contra os envolvidos em tais fatos? Quem
seriam os denunciados, se V.Sa. entrasse com as denúncias e tivesse os indícios
mínimos de autoria e materialidade em relação aos fatos por V.Sa. denunciados e
narrados aqui e na CPMI da JBS e por quais crimes?
Então, V.Sa. entraria com a denúncia contra os envolvidos em tais fatos?
Quem seriam os denunciados e por quais crimes?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Com relação às provas que eu relatei na
CPMI da JBS, elas são provas obtidas dentro dos sistemas: Sistemas Drousys e do
Meinl Bank. Esses sistemas foram adulterados, e não há como se saber o que foi
apagado, o que não foi apagado, o que foi adulterado, porque houve diversas
adulterações antes que ele fosse bloqueado.

75
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Então, no meu entender, essas provas, a menos que seja feita uma perícia
muito benfeita e detalhada individualmente, por arquivos, elas não vão prestar para
a condenação, claro! E também não é a única prova que pode ser usada em caso de
denúncia. Agora, de fato, as provas estão comprometidas.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - Certo, mas V.Sa., pelo menos, abriria
investigação a respeito dos fatos?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Isso é padrão da Procuradoria. Planilha
apócrifa serve para isso.
O SR. DEPUTADO LEO DE BRITO - Certo.
Bem, farei só um breve comentário, Sr. Presidente, para passarmos ao
próximo Deputado.
Essa situação narrada aqui e também na CPMI da JBS pelo advogado Tacla
Duran, de fato, é uma situação gravíssima essa chamada panelinha de Curitiba.
Nós da bancada do Partido dos Trabalhadores temos denunciado
reiteradamente, nas diversas Comissões, desde que a Operação Lava-Jato... Aliás,
no início, nós acreditávamos na Operação Lava-Jato. Eu acho que não existe
nenhum Deputado aqui desta Casa, muito menos da nossa bancada, que não queira
que investigações sérias, corretas aconteçam no sentido de que as situações, as
denúncias de corrupção sejam, de fato, apuradas, e que aquelas pessoas que
participaram de atos de corrupção sejam, de fato, punidas.
Mas é claro que nós não compactuamos com uma Justiça do espetáculo,
aliás, um espetáculo deprimente. A chamada panelinha de Curitiba hoje é vista,
inclusive por juristas internacionais, como um mau exemplo de como se deve
conduzir a atividade judiciária. Aliás, a atividade judiciária — V.Sa. bem sabe porque
é advogado — deve ser conduzida com o recato necessário, com a discrição
necessária. E o que nós estamos vendo aí é exatamente uma Justiça do espetáculo;
uma Justiça do vale-tudo, em que os fins justificam os meios; uma Justiça do
chamado lawfare, que tem sido denunciado veementemente, sobretudo pelos
advogados do ex-Presidente Lula; e uma indústria de delações à la carte.
Aliás, o instituto da delação foi aprovado aqui neste Congresso Nacional
exatamente como uma forma de desbaratar as organizações criminosas, não para
se transformar numa indústria, inclusive, onde alguns lucram com isso e,

76
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

obviamente, onde alguns têm direito à delação, sobretudo quando há depoimentos


que são de interesse político para atingir determinados fins, que, em absoluto,
justificam os meios.
Por isso, estamos diante de uma nítida seletividade. Quem diz isso não são
os que têm opiniões técnicas abalizadas, mas 90% do próprio povo brasileiro, que,
numa pesquisa recente da CNT/Sensus, dizem que a lei não é para todos, ao
contrário do que diz aquele filme. Então, a situação da panelinha de Curitiba já virou
filme, que, aliás, foi um fracasso; já virou série, Deputada Erika Kokay, que também
foi um fracasso.
Ainda bem que nós temos um conjunto de Deputados aqui e também uma
mídia alternativa que está acompanhando tudo. E temos pessoas como V.Sa. que
têm coragem, de maneira muito tranquila, de dizer a verdade para o Brasil e para o
mundo.
Eu sinto falta aqui da imprensa. Aliás, em um depoimento como este, era para
estar aqui presente a grande imprensa do Brasil e do mundo, porque as revelações
que estão sendo feitas aqui são bombásticas. Mas ainda bem que nós temos a
mídia alternativa. Diga-se de passagem, hoje, nos top trends mundiais do Twitter,
nós estamos em quinto lugar, com o depoimento que está sendo feito pelo advogado
Tacla Duran.
Por isso, vamos continuar denunciando, agora com a CPI das delações.
Obviamente, esse processo todo vai, inclusive, fazer com que pessoas que estão
sendo condenadas injustamente, como é o caso do ex-Presidente Lula, sejam, de
fato, inocentadas, e os processos sejam, de fato, anulados. Não podemos
compactuar com os que rasgam dessa maneira a nossa Constituição.
Obrigado, Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado, Deputado Leo de
Brito.
Passo a palavra agora ao Deputado Valmir Prascidelli.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
Dr. Tacla Duran, eu sou o Deputado Valmir Prascidelli, do PT de São Paulo.
Eu queria iniciar parabenizando V.Sa. e agradecendo-lhe por prestar este
depoimento à Comissão. Ao mesmo tempo, eu parabenizo o Presidente desta

77
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Comissão, Deputado Padre Luiz Couto, e todos os membros desta Comissão que
aprovaram o requerimento pelo qual foi possível V.Sa. fazer este depoimento. O
requerimento do Deputado Wadih Damous possibilita que a população brasileira
possa ouvir algumas questões relacionadas à Operação Lava-Jato.
Eu confesso ao senhor, aos Deputados, e a todos aqueles que nos assistem,
que eu tinha aqui algumas perguntas para fazer a V.Sa., mas, pelo decorrer dos
debates, das perguntas dos demais Deputados, das respostas de V.Sa., das
observações feitas, eu vou mudar algumas.
O senhor sabe, Dr. Tacla Duran, tem conhecimento de que os condutores da
Operação Lava-Jato — o Juiz Moro, os procuradores, os delegados da Polícia
Federal — têm se apresentado ao País, desde o início dessa operação, como os
paladinos da Justiça. Eles posaram inclusive para capa de revista imitando aquele
filme Os Intocáveis, como se fossem figuras acima da lei e do bem e do mal.
Vendo os depoimentos de V.Sa. aqui — e repito algumas das observações
feitas —, em que pese esta oitiva não estar sendo feita pela Operação Lava-Jato,
que deveria ter sido feita já, ela está sendo acompanhada pelo Brasil inteiro, mesmo
que a grande imprensa não a esteja transmitindo.
Nós temos notícia de que muitas pessoas no País têm acompanhado este
depoimento. O Deputado Padre Luiz Couto já fez aqui inclusive algumas perguntas
do público que a acompanha.
Uma das respostas que V.Sa. deu ao Deputado Paulo Teixeira, eu confesso
que não compreendi e queria que V.Sa. pudesse respondê-la novamente. Vou
começar por isso.
V.Sa. era advogado da Odebrecht. V.Sa. disse que não foi aceito pelos
procuradores para conduzir a delação da Odebrecht. É isso? Eu entendi bem o que
V.Sa. disse?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Foi o seguinte, Deputado: primeiro, eu fiz
uma tentativa individual, que é a que eu narrei, com a participação do Dr. Zucolotto.
Posterior a isso, e seguindo instruções da empresa, para ganhar tempo e não
falar mais em Curitiba e sim em Brasília, a empresa, em certo momento, falou:
“Estamos pronto para fazer o acordo. Vamos incluir o seu nome. Pode ser?” Eu falei:
“Na condição de leniente aderente, o.k.”.

78
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Eles me encaminharam por e-mail um termo de adesão para assinar, o qual


eu não assinei. Havia um prazo para devolvê-lo. Eu questionei qual era o conteúdo a
que eu estava aderindo. Essa resposta não veio. Antes de vir a resposta do
conteúdo a que eu estava aderindo, veio a informação de que o meu nome não
podia estar na lista dos delatores da Odebrecht, sob pena de a empresa não
conseguir fazer o acordo.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Mas V.Sa. disse que quem não
aceitou o seu nome foram os procuradores lá. Só para eu entender: procurador é
que nomeia advogado? Não é...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não. No caso, a Odebrecht apresentou a
lista de 77, 78 — não sei quantos — nomes de prováveis participantes aderentes. O
meu nome estava no meio.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - E os procuradores não
aceitaram o nome de V.Sa.?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Voltou-me a informação da empresa de
que os procuradores não haviam aceitado meu nome, em razão de negociações
prévias e individuais que eu tinha, sob pena de nem sequer o acordo da empresa
evoluir, se meu nome estivesse presente.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Então, veja, o que o senhor
está dizendo é que, de fato, a turma de Curitiba age seletivamente. O senhor está
afirmando isso, por exemplo.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sem dúvida.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - E que escolhem de que forma
são conduzidas as delações lá e quem são os advogados que podem acompanhar
os clientes nessas delações.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Também.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Não sei se V.Sa. tem
conhecimento, se algum Deputado já falou, de que tramita nesta Casa a coleta de
assinaturas para ser instalada uma CPI das delações.
Então, essa questão que V.Sa. está dizendo é bastante contundente e
bastante grave, porque significa que há evidências dessa parcialidade que todos nós
temos acusado de estar sendo feita pelo Juiz Moro, pelos procuradores, pelos

79
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

delegados da Polícia Federal, e não há só, como eles costumam dizem, as


convicções. Há coisas objetivas e concretas com relação à atuação deles nesse
sentido?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. No meu caso, eu fiz as perícias,
demonstrei que as mensagens são verdadeiras e, de fato, se passou isso.
Essa tentativa de inclusão na empresa do meu nome foi negada. A empresa
pode não confirmar, mas eu tenho os e-mails que eles me mandaram com o termo
de adesão, etc., e a explicação. Não foi a mim que deram, foi ao advogado na
época.
Depois disso, eu tentei ainda contemporizar e contratei o Dr. Marlus Arns, que
tinha também muito bom trânsito em Curitiba, para insistir e tentar resolver a
situação da melhor maneira possível. Isso também não teve êxito.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - É importante registrar isso
porque alguns cidadãos brasileiros veem na turma de Curitiba — no Juiz Moro, nos
procuradores — heróis da Pátria. O Juiz Moro, vez ou outra, aparece nos noticiários
fazendo palestras. Inclusive, na semana passada, ao que tudo indica, com recursos
de empresas que trabalham para a PETROBRAS, esteve num evento nos Estados
Unidos. Nesta semana, esteve em Mônaco, também com recursos pagos por
empresas. Então, acho que é muito impactante para aqueles cidadãos que o veem
como herói da Pátria começar a ter esse tipo de informação.
O Deputado Leo de Brito fez um comentário durante a fala dele que me
rememorou — o Deputado Wadih Damous e a Deputada Maria do Rosário também
participavam — a CPI da PETROBRAS. Numa das oportunidades, fizemos a oitiva
do Sr. Pedro Barusco, que foi um gerente da PETROBRAS, um dos delatores, que
era acompanhado, como outros, por uma advogada que se chamava Beatriz Catta
Preta.
Na oportunidade, o escritório dela tinha 9 dos 18 delatores, dentre eles o Sr.
Pedro Barusco e o Sr. Paulo Roberto Costa. Nas perguntas que fazíamos naquela
CPI, os depoentes diziam que eram instruídos pelos advogados e pelos
procuradores a falar apenas e tão somente de eventuais desvios ocorridos a partir
de 2003.

80
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Eu estou dizendo isso para lembrar que essa seletividade, essa parcialidade,
esse mercado de delações está ocorrendo, portanto, desde a origem da
PETROBRAS. O senhor concorda com isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - No caso, eu trabalhei na Odebrecht a
partir de 2011. Então, não tenho noção, não era a minha área, do período anterior.
Mas, quanto à seletividade em relação à força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, ela
existe, é clara. Existem pessoas delatadas que não foram denunciadas, nem sequer
investigadas, e existem pessoas que tiveram o seu nome envolvido em razão de
pedido de procurador.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Certo.
Agora uma pergunta a V.Sa.: o senhor acha que há interesses internacionais,
especificamente dos Estados Unidos, na condução, nos procedimentos desta
chamada Operação Lava-Jato?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não acredito, Deputado. Não tenho
conhecimento, na verdade. Eu entendo mais que a questão é de política nacional.
Na verdade, a força política que a força-tarefa exerce hoje sobre o País é muito
grande. Eu acho que há um interesse mais político local em relação a Curitiba.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Então, por que...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Aliás, eu não tenho conhecimento sobre
os Estados Unidos, a não ser de cooperação técnica prevista em lei pelo MLAT —
Tratado de Assistência Legal Mútua.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Cooperação técnica.
O senhor avalia, por exemplo, que o Departamento de Justiça americano, ao
admitir que procuradores americanos trabalharam aqui no Brasil junto com a
Operação Lava-Jato, isso foi feito apenas por colaboração técnica? Não havia
interesse, nesse caso, no nosso petróleo, no nosso pré-sal ou na destruição das
nossas empresas de infraestrutura? A apuração das irregularidades de eventuais
crimes, de eventuais desvios de conduta de administradores de empresas tem
ressoado na nossa economia. Tem-se demitido milhares de trabalhadores por este
País afora. O senhor acha que não há esse interesse ou o senhor não tem
conhecimento disso?

81
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não tenho conhecimento disso. O


resultado que o senhor está falando da questão da Operação Lava-Jato sobre as
empresas, etc., é evidente. Agora, sobre a ingerência de autoridades americanas,
interesses, etc., nesse sentido, eu não tenho conhecimento.
Na questão da cooperação técnica, é normal as autoridades irem de um país
a outro, como os brasileiros poderiam ou deveriam ter vindo aqui.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - O senhor nunca foi procurado
por nenhum integrante do Departamento de Justiça americano?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Procurado, não. Eu os procurei quando
eu morava nos Estados Unidos para prestar esclarecimentos, por conta da situação
no Brasil. E viajei dos Estados Unidos para a Espanha, sem nenhum problema, em
um voo comercial normal.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Eu não entendi. Foi V.Sa. quem
os procurou para prestar depoimento?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Na época, eu os procurei para
esclarecer os fatos porque houve uma série de notícias. Eu vivia nos Estados
Unidos e pedi que um advogado me procurasse, caso necessário fosse, para prestar
esclarecimentos. Prestei todos os esclarecimentos e eu não fui processado nos
Estados Unidos. Viajei para cá sem problema algum. Viajei para cá por uma questão
de investigação, inclusive, sobre as minhas empresas, as quais tinham uma
fiscalização da agência tributária local, que, por sinal, foi encerrada sem me aplicar
nenhuma multa.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Está certo.
Por último, só para que eu encerre também a minha oitiva, houve uma
controvérsia durante as perguntas de outros Deputados — V.Sa. novamente
reforçou isso — com relação às provas do sistema chamado de propina ou de
operações...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Estruturadas.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Qual é o nome mesmo?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Departamento de Operações
Estruturadas.

82
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Departamento de Operações


Estruturadas da Odebrecht. A Polícia Federal realizou alguma auditoria, perícia,
nesse departamento da Odebrecht, enfim, nessas mídias?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - O que eu tive conhecimento pela
imprensa do Brasil é que eles fizeram uma perícia sobre as cópias dos sistemas que
foram entregues pela empresa para as autoridades brasileiras.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - E ela encontrou inconsistências
nesses sistemas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Foram encontradas adulterações
tentando minimizar, o que não muda muito a questão de validade da prova. Como
eu disse, o sistema foi fraudado também antes de as cópias serem disponibilizadas
pelas autoridades. Isso eu consegui provar, através da minha perícia aqui na
Espanha, porque eu tinha arquivos anteriores.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Então, na realidade, o que a
Polícia Federal constatou foi exatamente aquilo que o senhor afirmava. As
inconsistências são as mesmas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Talvez em menor escala.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - O senhor poderia citar algumas
delas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - É justamente o que eu coloquei. Eles
minimizam, dizendo que são menos adulterações, porque foi depois de entregue a
prova. Eu consigo, na minha perícia, montar, apresentar as inconsistências
anteriores também à entrega da prova, porque eu tinha os meus backups pessoais,
nos quais o próprio administrador do sistema pedia: “Olha, você vai copiar — eu vi
que você vai pegar —, porque nós vamos apagar, vamos mexer.” Então, esses e-
mails demonstrando que haveria adulterações no sistema, inclusive, são de
conhecimento. Há cópia desses e-mails na Procuradoria.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - O senhor poderia citar algumas
dessas inconsistências encontradas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Os extratos bancários do Meinl Bank. Em
alguns inquéritos, há extratos com movimentações em determinada data, em
determinada conta. Em outro inquérito, há o mesmo extrato, no mesmo período, só

83
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

que com movimentação diferente, com a mescla de idiomas inglês e português, o


que demonstra que não saiu de um sistema, que aquilo foi manipulado
manualmente. Há a própria questão de datas. Enfim, há uma série de
inconsistências que demonstram que o documento foi adulterado.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Está certo.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - E o sistema do banco também foi
adulterado, como eu disse antes, para inviabilizar o tracking, o seguimento do
dinheiro.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Para inviabilizar o seguimento
do dinheiro. É aquela coisa de seguir ou rastrear o dinheiro. É isso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Exato. De onde veio e para onde foi.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - De onde veio e para onde foi e
de quem era efetivamente esse dinheiro.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - No caso do Meinl Bank, sim, isso foi feito
com essa finalidade.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Está certo.
Sr. Tacla Duran, há uma última pergunta. Como eu disse, nós estamos
coletando assinaturas e devemos instalar uma CPI das delações aqui. V.Sa. — é
claro —, pelo que está dizendo, tem disposição, eventualmente, de prestar novo
depoimento nessa CPI das delações?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Sempre que eu for convocado, tanto
pelo Congresso, como pelas autoridades judiciais, seja nos meus processos, seja
como testemunha, eu estarei à disposição para colaborar. No caso dos meus
processos, desde que respeitada a jurisdição legal, que é a Espanha.
O SR. DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI - Está certo. Muito obrigado, Sr.
Tacla Duran.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado, Deputado Valmir
Prascidelli.
Com a palavra a Deputada Erika Kokay. Depois falará o Deputado Bohn
Gass.

84
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

A SRA. DEPUTADA ERIKA KOKAY - Sr. Presidente, inicialmente, eu


gostaria de parabenizar esta Comissão e o Deputado Wadih Damous, que foi o autor
do requerimento para que nós pudéssemos colher esses depoimentos e fazer esta
oitiva para levar luz — o que muito se quer — às trevas.
Eu diria que nós estamos tendo no dia de hoje um choque de verdades, o
desmembramento, ou seja, o desnudamento de um verdadeiro processo — que nos
lembra inclusive de Kafka —, em que foi efetivada em que se construiu, através do
Poder Judiciário do Brasil, uma verdadeira farsa, que não busca apenas perseguir,
mas que indica também a existência de uma organização criminosa, que busca se
favorecer financeiramente de todo esse procedimento.
Nós estamos vendo aqui, em primeiro lugar, a negativa do Poder Judiciário,
da Operação Lava-Jato, em colher os depoimentos que nós estamos colhendo no
dia de hoje; em segundo lugar, a desconsideração de perícias feitas que mostram
que não havia um verdadeiro interesse, nem isenção técnica, para que se buscasse
rastrear os recursos e o dinheiro, como foi dito.
Parece-me que isso foi entregue à CPI da PETROBRAS. Era importante que
nós desta Comissão pudéssemos ter acesso a essa perícia, se não houver nenhum
tipo de empecilho nesse sentido.
O que nós estamos vivenciando aqui? Aquilo que a população brasileira já
percebe. A população brasileira, através de pesquisas, já percebe que há um
processo de perseguição a um projeto de País e de construção, através da
Operação Lava-Jato, de todo um sistema de delações, que é um sistema
discricionário. Colhem-se as delações de quem se quer colher e, ao mesmo tempo,
ainda possibilita que amigos do Sr. Sergio Moro ou sócios de sua própria esposa
possam se locupletar financeiramente com esses recursos ilícitos, ou seja, cobram
propina para estabelecer essa proteção.
Vejam: nós temos hoje um preso político no Brasil. Nós temos hoje Luiz Inácio
Lula da Silva condenado sem crime e sem provas. Nós temos uma Operação Lava-
Jato que se utilizou das delações premiadas, desde que elas levassem a imputar
responsabilização ou culpabilidade a Luiz Inácio Lula da Silva. Nós estamos vendo
hoje uma farsa ser estabelecida neste País, construída com um apoio midiático.

85
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

Aliás, o apoio midiático sempre foi colocado como uma variável importante
pelo próprio Juiz Sergio Moro. Desde o primeiro momento, utilizando-se inclusive da
experiência da Operação Mãos Limpas, na Itália, Sergio Moro sempre disse que
havia que se utilizar da imprensa e cometeu uma série de crimes: vazou material
que não poderia ter sido vazado; fez escutas que não poderiam ter sido feitas sem
autorização; vazou essas escutas; e se portou como um militante. Hoje ele é um
militante contra Luiz Inácio Lula da Silva e contra o que representava o Governo de
Dilma Rousseff. Isso está muito claro hoje. Por isso, digo que isso é um choque de
verdade.
Ao mesmo tempo, vemos delações premiadas que foram construídas como
parte de uma narrativa para chegar aonde já tinha sido determinado que a Operação
Lava-Jato chegaria, e não apenas como processo de investigação. Houve a
negação de depoimentos, a negação de se considerar perícias e a ausência de
investigação sobre todas essas denúncias, o que é extremamente grave.
Acho que nós temos que encaminhar esses depoimentos para organismos
internacionais, porque a decisão da Procuradoria-Geral da República de não
proceder qualquer tipo de investigação acerca de denúncias tão graves dá um
sentimento de aporia, de ausência de poros. Isso é a dilaceração do Estado
Democrático de Direito e do processo de heróis imaginários que se tentou construir.
A existência de heróis imaginários pressupõe também inimigos imaginários.
Então, encarceram-se os inimigos imaginários, que não podem dialogar com o
conjunto da população, e elegem os heróis imaginários. Nesse duelo entre heróis e
inimigos imaginários, nós vamos construindo uma verdadeira farsa que agride o
Estado Democrático de Direito, que agride este País e o povo brasileiro, porque tudo
isso foi construído com o objetivo de interferir no processo eleitoral.
Aliás, a relação dos atos da Lava-Jato com o processo eleitoral já existe há
muito tempo: nas eleições municipais, nas últimas eleições de 2014 e agora nas
eleições de 2018.
É preciso que o Brasil inteiro saiba dessa farsa que foi construída não apenas
para incriminar, encarcerar e roubar do povo a possibilidade de decidir o destino do
País — possibilidade que foi construída com muita dor e com muitas marcas na pele
e na alma dos brasileiros e das brasileiras —, mas também para montar uma

86
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

organização criminosa para arrancar recursos, propinas, e gerar financiamentos


ilícitos para esse processo. Ou seja, a Operação Lava-Jato, que era para investigar
o processo de financiamento ilícito, ela mesma construiu um financiamento ilícito
para que ela pudesse prosseguir. Eu diria que o que está dentro da Operação Lava-
Jato e o que se representa através dela é uma organização criminosa.
O fato é que essa operação é conduzida por um juiz que não tem nenhuma
imparcialidade, que se posiciona acerca dos processos que estão sobre a sua
responsabilidade, que abre mão da condição de julgador e passa a ser um acusador
direcionado e discricionário, não um acusador de malfeitos, mas o acusador
daqueles que ele busca silenciar e colocar mordaças.
Nós estamos aqui com um depoimento que indica como as mordaças foram
construídas. Então, nesse sentido, Sr. Presidente, eu apenas diria que é preciso ver
se esta Comissão pode ter acesso a essa perícia, que foi entregue inclusive para a
CPI.
Quero dizer da importância de nós termos a CPI das delações. Aqui estamos
vendo como foram direcionadas as delações e como foram beneficiados aqueles
que falaram o que era importante ser falado para a construção de historinhas e de
narrativas para criminalizar Luiz Inácio Lula da Silva e outros membros do PT.
Os mais de 80 anos em sentenças foram reduzidos a quase nada. E as
pessoas que cumpriram a função de ajudar a construir essas narrativas hoje estão
se locupletando com o dinheiro amealhado de forma ilícita e em liberdade. E Luiz
Inácio Lula da Silva, um inocente, sem nenhum tipo de crime, sem nenhum tipo de
prova — obviamente, se não há crime, não há prova —, está aprisionado.
Então, penso que nós deveríamos encaminhar o resultado desta audiência
para a Procuradora-Geral da República, dizendo da gravidade das denúncias e dos
fatos aqui relatados. Ao mesmo tempo, devemos encaminhá-lo para organismos
internacionais, para que possamos preservar o Poder Judiciário e o Estado
Democrático de Direito, para que possamos dizer que fantasmas foram construídos.
Diz Lange que o problema não é construir fantasmas, mas tentar transformar
fantasmas em realidade e a realidade em fantasmas. É isso o que nós estamos
vendo com a Operação Lava-Jato e com a atuação do Sr. Sergio Moro, um inimigo
da Nação — nós estamos vendo isso no dia de hoje — que utiliza a toga para

87
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

encobrir direcionamentos políticos e opções políticas, para interferir numa discussão


política e na vontade do próprio povo.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sr. Presidente...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Ainda há o Deputado Bohn
Gass.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Eu trago apenas uma questão de
encaminhamento. Nós tínhamos combinado de encerrar até 14 horas. Mas eu queria
pedir só mais um pouquinho de tolerância, porque tenho duas ou três perguntas que
eu preciso fazer ainda e o horário combinado com o depoente já está estourado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Tem a palavra o Deputado
Bohn Gass. Depois, falarão V.Exa. e o Deputado Wadih Damous.
O SR. DEPUTADO BOHN GASS - Sr. Presidente Luiz Couto; Deputado
Wadih Damous; Líder Paulo Pimenta; Deputada Erika Kokay; Dr. Tacla Duran, eu
estou acompanhando, por toda manhã, os dados, as provas e os fatos apresentados
aqui, e quero chamar atenção para um aspecto.
Dr. Tacla Duran, V.Sa. diz que, se fosse ouvido pelo Moro, a Lava-Jato
mudaria o rumo da operação. Esse é o tema central. Eu quero que a sociedade
brasileira — por isso, Deputado Wadih Damous, quero parabenizá-lo — olhe o fato
que está acontecendo no País.
Nós temos um advogado, o Tacla Duran, que trabalhou na Odebrecht —
portanto, conhecia o processo à época —, conhece os delatores, conhece os
procuradores, conhece o Moro, e diz claramente: “Me chamem! Eu quero falar. As
provas que eu apresento dos fatos obscuros, dos erros de procedimento, dos
crimes, dos erros na Operação Lava-Jato, se me ouvirem, Deputado Wadih Damous,
vai mudar a operação”.
O que é mudar a operação? É o Lula não estar preso. É disso que nós
estamos tratando. É por isso que esta audiência aqui é tão importante. O Lula não
precisaria estar preso.
Por que o Moro não quer ouvir o Tacla Duran?
O Moro não conseguiu apresentar uma prova sequer contra o Lula. O Lula foi
condenado sem prova e julgado fora da lei. Agora, há provas. O Dr. Tacla quer
apresentar as provas, e o Moro diz: “Não. Não quero provas”. Mas que diacho é

88
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

isso? O Moro não gosta de prova! É disso que estamos tratando. O Juiz que
condena o melhor Presidente da República não quer ter prova.
Dr. Tacla Duran, além de todos os fatos e elementos apresentados — que
certamente serão usados para enriquecer a denúncia apresentada à Procuradoria-
Geral da República e ao Supremo Tribunal Federal, para enriquecer a CPI que
teremos aqui sobre a delação e a busca em relação aos organismos internacionais
—, V.Sa. tem mais algum elemento a acrescentar que possa, conforme o senhor
falou, mudar os rumos da operação, nesse andar da carruagem?
Era apenas essa a pergunta que eu gostaria de fazer.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, acho que abordamos todos os
temas. Isso aí é ligado ao tema que eu falei, da mordaça que eles estão aplicando
às testemunhas.
O SR. DEPUTADO BOHN GASS - Então, eu quero concluir afirmando
exatamente que esses elementos têm que ser levados adiante, Deputado Wadih,
Deputado Pimenta, Líder da nossa bancada, porque percebemos que não se trata
de uma busca para apurar corrupção. E isso precisa ficar claro para a sociedade
brasileira.
Deputado Wadih Damous, esta audiência hoje de manhã foi extraordinária,
porque nós conseguimos provar, através de todos os documentos...
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, se fosse só para apurar
corrupção, os crimes de chantagem teriam sido delatados e investigados. Todos são
mediante chantagem, não mediante dinheiro.
O SR. DEPUTADO BOHN GASS - Então, o mais grave, além de não
combater a corrupção, são os métodos obscuros utilizados para tentar extrair essas
vantagens. Isso é inaceitável.
Eu quero dizer que a Operação Lava-Jato não foi criada para apurar
corrupção, mas para criar uma pirotecnia, um imaginário político para aplicar
seletividade na condenação política de quem desenvolveu o melhor programa para
este País, que foi Luiz Inácio Lula da Silva.
Parabéns a quem promoveu esta audiência pública. Com certeza, esses
elementos de hoje não ficarão nesta sessão aqui, mas serão levados adiante para

89
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

desmontar de vez essa farsa que foi criada, porque, como foi dito aqui, os rumos da
operação precisam mudar e há elementos suficientes para que isso seja feito.
Obrigado, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Obrigado, Deputado Bohn
Gass.
Tem a palavra o Deputado Paulo Pimenta, para expor suas questões; depois,
Deputado Wadih Damous.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Perfeito, Presidente. Serei bem
objetivo.
Sr. Presidente, para mim, está claro que o que o Sérgio Moro e a Lava-Jato
temem é a delação das delações. Na hora em que os delatores resolverem falar, nós
vamos ver Sérgio Moro, Dallagnol, Carlos Fernando, essa turma toda sentada no
banco dos réus. E não vai demorar muito, porque a CPI das delações vai promover
a delação das delações.
Dr. Tacla Duran, foi encontrado, em 2014, um grampo ilegal na cela de
Alberto Youssef, no início da Operação Lava-Jato. O advogado Figueiredo Bastos
era o advogado de Alberto Youssef, e, na época, mesmo tendo sido encontrado um
grampo ilegal na cela do seu cliente, não houve nenhum interesse em que essa
questão fosse investigada. O senhor tem alguma informação acerca desse grampo
ilegal encontrado lá em Curitiba?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, sobre o grampo ilegal, não.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Mais uma vez aqui, Figueiredo
Bastos era o advogado de Alberto Youssef.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Naquela ocasião, ele era advogado do
Alberto Youssef, mas eu não lembro se ele também coordenou ou participou. O
Adriano Bretas e a Carla Domenico também atuaram na defesa de Ricardo Pessoa,
da UTC; do Senador Delcídio e de Walmir Pinheiro. Foi esse grupo mesmo de
advogados que coordenou todas essas delações.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Todas essas delações.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Evidentemente sem conflito.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor conhece uma pessoa
chamada Meire Poza, que fez diversas colaborações informais? Ela começou a ser

90
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

investigada no IPL 05/16, da Coordenadoria de Assuntos Internos da Corregedoria


Geral do Departamento de Polícia Federal, autos protocolados na 13ª Vara sob o
número 5053382-58.2016.404.7000, em que o Juiz Sérgio Moro, não atendendo ao
pedido do delegado presente no IPL, arquivou essa investigação antes que ela
estivesse concluída.
O senhor tem informações a respeito dessa relação da Sra. Meire Poza com
as investigações da Lava-Jato?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu ouvi falar dela pela imprensa, em
diversas entrevistas e matérias, mas não a conheço e também não tinha
conhecimento desse inquérito.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Muito bom.
Eu quero pedir, Presidente, que V.Exa. faça a solicitação de cópia desse IPL,
para que nós possamos tomar conhecimento aqui das questões que foram
investigadas nesse inquérito, que nunca chegou ao final.
O senhor conhece a Sra. Nelma Kodama e sabe que tipo de colaboração ela
prestou à Lava-Jato e à Polícia Federal nesse processo todo de que nós estamos
aqui tratando?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Pela imprensa, Deputado.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Perfeito.
O senhor tem informações sobre a participação do escritório Trench
Watanabe nas delações, sobretudo aquelas que envolvem o advogado Marcelo
Miller nas delações?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não sabia que ele havia sido
contratado pelo Trench. O que eu sei a respeito desse escritório Trench também foi
divulgado pela imprensa.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor tem conhecimento de uma
representação encaminhada pela J&F — eu não sei como é o nome da holding
deles —, nos Estados Unidos, contra esse escritório e o escritório Baker&McKenzie,
alegando que não foi informado a eles que o advogado que lhes foi oferecido pelo
escritório para tratar dos assuntos da JBS, para participar das reuniões e atuar como
advogado era, ao mesmo tempo, Procurador da República no Brasil? O senhor

91
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

conhece essa peça da denúncia feita contra os escritórios de advocacia nos Estados
Unidos?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, eu soube pela imprensa também. O
caso foi divulgado na imprensa internacional também, não só no Brasil. Os
escritórios são associados e são muito grandes, o Baker&McKenzie e o Trench.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor sabe de uma reunião que
teria ocorrido em Madrid, em 2015, para tratar dos sistemas My Web Day e
Drousys? O senhor tem conhecimento de quem participou dessas reuniões e que
deliberações foram tomadas naquela oportunidade sobre esses sistemas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, essa reunião foi aqui em Madrid, no
hotel Intercontinental. Participaram dessa reunião: Fernando Migliatti, que estava
hospedado no hotel; Luiz Eduardo da Rocha Soares e o irmão dele, Paulo Sérgio da
Rocha Soares — esses não estavam hospedados no hotel —; Marco Pereira de
Souza Bilinski, do Meinl Bank; Vinícius Veiga Borin, do Meinl Bank; e Luiz França,
também do Meinl Bank — esses três também estavam hospedados no hotel. Eu
também participei dessa reunião.
Nessa reunião, entre outros assuntos, foram pedidas algumas cópias de
documentos, etc., para eu poder trabalhar na parte jurídica de questões que eu
tivesse com o Paulo Sérgio, e também foram encaminhadas a ele, pelo irmão dele,
as questões de mudança de sistema, de adulteração. E eles estavam tratando, não
lembro se foi um pouco antes dessa reunião ou em seguida, da questão dos
servidores na Suécia. Inclusive eu havia feito um parecer para a Odebrecht sobre a
questão de sigilo de dados naquele país. Quando eu fiz o parecer, era,
evidentemente, somente sobre a questão de proteção de dados. Depois eu entendi
que eles haviam pedido o parecer porque estavam estudando jurisdições para
colocar os servidores mais protegidos.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Em depoimento na CPMI da JBS, o
senhor afirmou que a Odebrecht tinha como estratégia não liberar o acesso
completo do My Web Day para as autoridades e que também um técnico de
informática da empresa, ou contratado pela empresa, teria adulterado ou apagado o
sistema ou parte dele. O senhor poderia nos dizer o que o senhor sabe a respeito

92
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

disso e quem foram os técnicos encarregados de adulterar e apagar, destruir


arquivos do My Web Day e do Drousys?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - No My Web Day, isso é verdade. Essa
era a estratégia. Eu não iria revelar isso, em respeito ao sigilo profissional, se isso
não estivesse me atingindo diretamente, nas acusações que me imputam.
No caso do My Web Day, ele ficava armazenado no mesmo data center que o
servidor do Drousys. Entretanto, o Paulo Sérgio da Rocha Soares tinha acesso
apenas físico a esse servidor. O acesso remoto e lógico desse servidor era feito por
um empregado da própria Odebrecht de nome Sebastião. No caso do Drousys, o
Paulo Sérgio da Rocha Soares tinha acesso tanto físico como lógico e remoto.
Então, quem adulterou, mexeu ou trabalhou dentro do servidor do Drousys foi o
Paulo Sérgio da Rocha Soares e do My Web Day foi esse Sebastião, cujo
sobrenome eu não sei.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - É possível que essas planilhas que
foram apresentadas nas denúncias do Ministério Público Federal tenham sido
adulteradas, após, inclusive, o bloqueio desses sistemas? Teria como modificar
esses sistemas após, a partir do momento em que eles foram bloqueados? Porque
há planilhas que têm data posterior ao bloqueio.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Eu já havia anotado, na preparação
das minhas defesas, que havia constatado isso. Eu levei à perícia. E depois, na
perícia da Polícia Federal, que acabou sendo feita em razão do meu depoimento na
CPI da JBS, foi constatado que houve alterações posteriores ao bloqueio do
sistema. E também antes, inclusive, com a identificação do IP. Houve outras que
não foram identificadas, que são as que comentei, que inclusive levaram à mudança
do próprio servidor da Suíça à Suécia.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Última pergunta: O senhor sabe dizer
como funcionários e funcionárias da Odebrecht, inclusive alguns que estão entre os
77, que não tinham acesso ao My Web Day ou ao Drousys, anexaram às suas
delações essas supostas planilhas, esses supostos documentos relativos a sistemas
a que eles nunca tiveram acesso? O senhor sabe como eles conseguiram incluir nas
suas delações esses documentos e essas supostas planilhas?

93
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Deputado, isso existe, cito, por exemplo,
o caso da denúncia do Presidente Michel Temer, que vocês comunicaram o
arquivamento da representação pela PGR.
Nesse caso, por exemplo, o Sr. César Rocha, que nunca teve acesso ao
Drousys, apresentou provas. Ele apresentou, por exemplo, extratos bancários, os
quais eu periciei e identifiquei que são falsificados, são adulterados. Ele apresentou
esses extratos bancários como obtidos dentro do sistema Drousys. Ele nunca teve
acesso ao sistema Drousys. Ele nunca teve acesso a esse tipo de informação de
extrato bancário de offshore da Odebrecht.
De repente, depois daquela reunião no hotel em Brasília, foi distribuído um
pouco para cada um entregar, porque senão muitos dos 77 iam ficar sem
documentos. E, como eles são na maioria acionistas, confunde-se a situação entre
interesse e necessidade.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O.k.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Com a palavra o Deputado
Wadih Damous.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Dr. Rodrigo, é fato que havia o que
nós poderemos chamar de alinhamento das delações, ou seja, delações
combinadas, alinhadas no âmbito da Odebrecht por parte de executivos e ex-
executivos? É fato que isso ocorria?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Ocorreu contra mim. Eu estou sendo
acusado dessa forma, porque, dentro do Departamento, havia uma série de pessoas
que fizeram desvio, roubaram a empresa e tinham medo de assumir. A principal
preocupação deles, inicialmente, era que a empresa não descobrisse que eles
haviam desviado recursos, deixando inclusive a estratégia de defesa à deriva.
Causaram uma série de problemas na empresa por causa disso e, quando eu tive
que comunicar à direção, eu virei um inimigo.
Eles plantaram uma série de situações que são deles. Por exemplo, o chinês
Wu-Yu Sheng era colega de faculdade do Marcelo Rodrigues, irmão do Olívio
Rodrigues, que, ao que me consta, sequer acabou fazendo acordo. Ele apresentou
esse chinês para as pessoas do Departamento, porque estudaram juntos, e viajou

94
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

com ele, para fazer o trabalho que eles tinham que fazer. De repente, combinaram a
versão e colocaram que ele era meu.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Nesse alinhamento de delações de
executivos da Odebrecht, havia algum acerto para preservar determinadas pessoas
ou para envolver indevidamente outras pessoas?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Internas ou externas, Deputado?
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Internas e externas.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Quanto às internas, havia a preocupação
que, no final, acabou acontecendo, onde ficaram preservados o Dr. Newton de
Souza, o Dr. Adriano Maia, o Dr. Maurício Ferro, todos eles. O Dr. Luiz Ferro
coordenou o desmonte do Departamento de Operações. E ele sabia tudo o que
aconteceu. E, para nossa surpresa, ele não faz parte do acordo. Até o próprio
Marcelo Odebrecht parece que está estranhando isso.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Dr. Rodrigo, o senhor chegou a
participar de alguma reunião dessas de alinhamento de delações? Quem convidou o
senhor para participar? Quem coordenava essas reuniões de alinhamento de
delações?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Eu não cheguei a participar, Deputado,
dessas reuniões, porque...
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O senhor chegou a ser convidado?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, porque, quando elas passaram a
ocorrer, eu já havia me desligado, e eu não ia fazer parte do acordo. Então, isso
aconteceu no segundo período, em um período seguinte. Anteriormente, quando eu
ainda estava, havia algumas coisas de se falar em delação, etc., em acordo, mas
era uma coisa isolada. Por exemplo, as pessoas que estavam no Departamento,
caso a empresa não viesse a fazer o acordo, elas o fariam.
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Perfeito.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Nesse momento, quando eles pensavam
em fazer o acordo, havia, evidentemente, uma situação de alinhamento. O advogado
que fez o acordo do Meinl Bank foi pago pela Odebrecht, ainda nessa época. Eu não
sei se ele recebeu mais ou não pela empresa, mas, ainda nessa época, sim,
bastante, alguns meses depois, ele acabou fazendo o acordo para os três. Aliás, foi

95
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

o melhor acordo da Lava-Jato. Pagou 2 mil e 600 e pagou 250 mil dólares, e não
tem nenhuma pena.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Eu vou fazer mais uma pergunta e
vou partir para as minhas considerações finais.
Voltando ao Sr. Zucolotto, o senhor tem conhecimento de viagens realizadas
pelo Sr. Zucolotto com o Sr. Juiz Sergio Moro para o exterior, sobretudo para os
Estados Unidos? Eles costumavam viajar juntos. O senhor tem notícia disso?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Não?
Dr. Tacla Duran, tudo o que ficou demonstrado aqui...
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Deputado Wadih, antes de V.Exa.
concluir, deixe-me fazer uma pergunta. Eu abro mão das minhas considerações
finais.
Quando cumpriram o mandato de busca e apreensão no seu escritório, o
senhor disse que recolheram material de outros clientes, temas que não têm nada a
ver com Lava-Jato ou coisas do gênero, mas também foi apreendida documentação
que o senhor tinha, por exemplo, da sua troca de mensagens com o Zucolotto, os e-
mails que o senhor recebeu da Procuradoria-Geral da República. Isso aconteceu em
junho do ano passado. A minha pergunta é a seguinte: caso o senhor não tivesse
tido o cuidado de ter um backup deste material, o mandado de busca e apreensão
autorizado pelo Juiz Sergio Moro tiraria todas as provas para que o senhor pudesse
comprovar a relação que se estabeleceu entre o senhor e o Dr. Zucolotto e também
as tentativas por parte do Ministério Público de chegar a uma delação com o senhor,
correto?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim, correto. Inclusive, foram
apreendidos, por exemplo, trabalhos que eu executei para o Grupo Triunfo, que eles
simplesmente ignoram dentro de uma história que não existe, que eu não trabalhei,
que o trabalho foi mais ou menos, eles querem entrar nesse tipo de discussão que
não vem ao caso. E há outros trabalhos, como o da própria OTC. Com certeza, nós
tínhamos computadores no escritório, e eles dizem simplesmente que eu não
trabalhei e assim por diante. Mas eu tenho todo esse backup que o utilizei e vou
utilizá-lo, sempre que necessário, para fazer a defesa.

96
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - O.k. Muito obrigado.


O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Dr. Tacla Duran, por último, nós
poderíamos resumir todo esse cenário que o senhor escreveu afirmando que há
pessoas condenadas na chamada Operação Lava-Jato, com base em delações
extorquidas e com base em provas documentais fraudadas e falsificadas? É possível
afirmar isso com boa margem de segurança?
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Sim. Houve condenações em que
usaram esses documentos desses sistemas que sofreram adulterações e que
sequer foram periciados. Já transitou em julgado. Algumas pessoas foram forçadas
a fazer delação idem.
O SR. DEPUTADO WADIH DAMOUS - Sr. Presidente, eu acho que nós
estamos aqui diante de revelações que colocam em xeque, em dúvida, a honradez e
a honorabilidade dessa chamada Operação Lava-Jato e de alguns de seus
membros.
Se nós fôssemos comparar isso com a lua, há um lado oculto da lua que os
terráqueos não veem. E há um lado oculto da Operação Lava-Jato que foi
demonstrado aqui. Que lado oculto é esse? Delações extorquidas, falsificações de
provas, prevaricação, tráfico de influência, mazelas que nos fazem lembrar...
O Juiz Sergio Moro já foi comparado ao Frade Savonarola. Como o Sr.
Presidente sabe melhor do que todos nós aqui, trata-se de um padre da
Renascença, em Florença, fanático, louco, que acusava a tudo e a todos, sem
qualquer critério, apenas com base na sua fé e nas suas convicções, mas, ao que se
sabe, Savonarola era honesto, ao que se sabe, Savonarola tinha uma vida modesta.
O que nós estamos vendo aqui nesta Operação Lava-Jato, Sr. Presidente —
o Líder Paulo Pimenta poderia ter desfiado aqui vários exemplos em relação a
Sergio Moro e aos procuradores —, é que, ao contrário de Savonarola, neste
suposto combate à corrupção, estão fazendo um pé-de-meia bastante robusto: vão a
Mônaco, dão palestras, não mostram qualquer modéstia na sua vida privada. Muito
pelo contrário: o combate à corrupção tornou-se uma mercadoria que está
enriquecendo a todos eles, estão fazendo um gordíssimo pé-de-meia.
Então, o depoimento do Dr. Rodrigo Tacla Duran... Lamentavelmente —
lamentavelmente! —, a Sra. Procuradora-Geral da República demonstrou absoluta

97
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

má vontade em abrir as investigações, mas nós vamos insistir, nós vamos retomar o
que foi dito aqui e vamos insistir com a Sra. Procuradora que abra as investigações.
Ela faz afirmações no seu despacho mandando arquivar, Líder Paulo Pimenta, a
nossa representação e diz que nós não demos suporte documental a algumas
afirmações que fizemos. Todas as afirmações que nós fizemos nós documentamos,
que foram os documentos apresentados pelo Dr. Rodrigo Tacla Duran. Por exemplo,
o e-mail dos procuradores com um modelo de delação pré-fabricada para ele assinar
que ele se recusou a assinar.
Então, a CPI das Delações vai aprofundar o que o Dr. Tacla Duran revelou
aqui. E isso mostra que, de fato, a Operação Lava-Jato, em vez de combater a
corrupção, está aperfeiçoando a corrupção no âmbito do nosso sistema de Justiça.
Muito obrigado, Sr. Presidente, parabéns pela condução, e muito obrigado ao
Dr. Tacla Duran, que, mais uma vez, se dispôs a ser ouvido e, mais uma vez, foi
ouvido neste Parlamento. O nosso sistema de Justiça se recusa a ouvi-lo e se
recusa porque teme o que o Dr. Tacla Duran tem a dizer.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Deputado
Wadih Damous, Deputado Paulo Pimenta e todos os Parlamentares que aqui
estiveram e que fizeram vários questionamentos. Agradeço também às pessoas que
contribuíram por meio da Internet e do Facebook da Comissão.
Eu queria agradecer ao Dr. Rodrigo Tacla Duran pelas suas palavras,
testemunhos e depoimentos. Quero dizer que todos os pedidos que V.Sa. solicitou
desta Comissão serão encaminhadas e, é claro, numa audiência de mais de 3 horas
e meia, alguns dados podem aparecer depois, com o tempo, porque a nossa
memória nem sempre traz todas as informações, mas eu quero dizer...
O SR. DEPUTADO PAULO PIMENTA - Sr. Presidente, deixe-me fazer uma
pergunta, um questionamento: muita coisa, muita informação desta documentação
que vai ser gerada a partir deste depoimento, certamente, muitos desses
documentos, inclusive, já foram juntados à CPMI da JBS. Eu acho que eles podem
ser também encostados a este depoimento.
O que eu acho que nós devemos examinar, Presidente, é, diante da negativa
da Procuradora-Geral da República, a possibilidade de se abrir a investigação.
Inclusive, no despacho, ela ignora um dos itens e só trata de um deles. Por exemplo,

98
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL
Comissão de Direitos Humanos e Minorias
Número: 0448/18 05/06/2018

ela faz vistas grossas à questão da troca de mensagem de Zucolotto e a


participação de Sergio Moro, como se isso não existisse.
Eu acho que nós deveríamos examinar a possibilidade de uma representação
por prevaricação contra a Procuradora-Geral da República. Está caracterizada a
disposição dela em não investigar esses fatos. Em algum lugar, nós vamos ter que
encontrar uma porta que nos responda a essas questões.
Então, talvez devamos fazer uma representação por prevaricação contra a
Procuradora-Geral ou também devamos encaminhar cópia deste depoimento aos
Ministros do Supremo Tribunal Federal. Essas seriam algumas medidas que nós
poderíamos examinar a serem adotadas nos próximos dias, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Na realidade, Deputado Paulo
Pimenta, esta Comissão criou a Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça,
que investiga questões da ditadura, mas também qualquer outra coisa. E este
acontecimento pode ser um momento importante para nós reavivarmos esta
memória, buscarmos a verdade e realizarmos a plena justiça.
Dr. Rodrigo, eu pergunto se V.Sa. tem algo a mais para acrescentar a este
depoimento.
O SR. RODRIGO TACLA DURAN - Não, Sr. Presidente, eu quero só
agradecer a oportunidade e colocar que continuo à disposição do Congresso
Nacional, da Câmara e do Senado, e também da Justiça brasileira, como de todas
as outras.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Couto) - Muito obrigado, Dr. Rodrigo.
Antes de encerrar, convoco os Srs. Parlamentares para o 15º Seminário
LGBT, promovido por esta Comissão em conjunto com a Comissão de Legislação
Participativa, Comissão de Cultura, Comissão de Educação e Comissão de
Seguridade Social e Família, a realizar-se amanhã, dia 6 de junho, no Auditório
Nereu Ramos, com a abertura prevista para as 8h30min.
Agradeço a participação de todos e de todas.
Declaro encerrada a presente audiência pública.

99

Você também pode gostar