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SPGD2020

6º SIMPÓSIO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESIGN DA ESDI


Rio de Janeiro, 4 a 7 de novembro de 2020

Características do trabalho e perfil


socioeconômico do designer: uma análise
do campo profissional
O objetivo desta pesquisa é analisar as características do trabalho e perfil socioeconômico
do designer a fim de compreender esse campo e suas transformações, sobretudo nesse
cenário de pandemia da Covid-19. Para isso foi elaborado um formulário online tendo
como referência dois instrumentos: o censo nacional realizado pela Associação dos
Designers Gráficos no Brasil (ADG Brasil) em 2013 que reuniu informações sobre o
mercado de Design e o questionário de Marx elaborado em 1880 dirigido aos operários na
França a fim de identificar as características da classe trabalhadora. O objetivo do atual
formulário é reunir dados quantitativos acerca do trabalho e do perfil socioeconômico do
designer residente em território nacional e verificar as possíveis transformações no
campo do trabalho diante da pandemia do novo coronavírus. Esse instrumento foi
encaminhado para as associações de design, entre elas ADG Brasil, Centro Brasil Design,
ProDesign, Associação Brasileira de Empresas de Design (ABEDesign), para ser
compartilhado entre seus associados e também para algumas instituições de ensino, entre
universidades públicas e privadas, para ser divulgado entre seu corpo discente e egressos
dos cursos da área do Design a fim de reunir o maior número de participantes possível.
Disponibilizado a partir do dia 20 de julho o formulário permanece em aberto durante
dois meses para receber respostas. Elaborado pelo aplicativo de gerenciamento
GoogleForms, com 45 perguntas divididas em 4 seções – 1. dados pessoais, 2. formação
profissional, 3. características do trabalho e 4. dados sobre a renda – com o intuito de
atingir um panorama geral do campo refletindo as mais diferentes realidades brasileiras.
Essa pesquisa se justifica na medida em que o último censo que coletou informações da
área e do mercado foi realizado há sete anos e desde então o campo do design já expandiu
e o mundo do trabalho já passou por reestruturações no modo de produção. Além disso,
buscamos investigar as possíveis interferências ocorridas no campo de trabalho no atual
cenário de pandemia do novo coronavírus como alterações na renda, na carga horária, no
modelo de contrato de trabalho, entre outras. Através dos dados coletados nesta primeira
etapa da pesquisa espera-se mapear o campo do trabalho do designer no Brasil, identificar
suas características e avaliar o impacto da pandemia neste campo profissional. A partir
dessa análise quantitativa, seguiremos para uma segunda etapa da pesquisa que visa,
através de entrevistas, reunir informações mais qualitativas sobre o trabalho e a
organização da classe profissional do designer. No atual modo de produção capitalista –
capitalismo cognitivo –, o conhecimento e o saber se tornam a principal força produtiva e
o trabalho imaterial assume um papel central na produção da riqueza que rompe com os
limites da fábrica e passa a ser gerada, sobretudo, no tempo de não trabalho. De acordo
com Gorz (2005) o conhecimento está relacionado àquilo que é formalizado, como o
conhecimento técnico-científico, por exemplo, enquanto que o saber se refere aos
aprendizados cotidianos e experiências vivenciadas. Desta forma, Camargo (2011)
observa que "o tempo livre [...] não é tão livre, pois passa a ser um tempo de formação do

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capital humano, utilizando-se da mesma racionalidade econômica do tempo de trabalho


moderno, tornando imensamente difícil a distinção entre as duas esferas" (p. 12). No
capitalismo cognitivo "é no 'tempo de não trabalho' que se constituem os conhecimentos
que geram a nova forma de riqueza capitalista" (IDEM, p. 49). Desta forma, as qualificações
do trabalhador do imaterial são adquiridas não só nos ambientes de trabalho e nos
ambientes formais de educação, mas também nos espaços e convívios sociais de lazer,
turismo, esporte etc. Assim, passam a ser exigidas a este trabalhador uma maior
versatilidade e uma maior capacidade de atuação em diferentes funções em que a
criatividade, o conhecimento diferenciado, a comunicação e a cooperação são
considerados como qualificações essenciais. Sendo o designer um trabalhador do
imaterial, podemos perceber através dos depoimentos extraídos do segundo episódio do
programa Design Gráfico Brasileiro, cujo tema foi o design editorial, exibido no canal Arte
1 em fevereiro de 2016, a importância do conhecimento e saber para o desenvolvimento e
execução da atividade profissional. Para Elaine Ramos, “as ideias que inovam elas se
apoiam em coisas que estão fora da própria área. [...] O desejo ele tem a ver com o desejo
de se informar, de conviver, de ter referências, de ver as coisas, de frequentar o mundo
cultural, de viajar. Eu acho que o desejo, em qualquer profissão criativa, é absolutamente
fundamental”. Chico Homem de Melo afirma que “para mim é muito importante o designer
estar antenado com outras coisas que não o Design. [...] E é isso que eu considero
importante, esse múltiplo interesse porque ele ajuda a perceber a temperatura da cultura
na qual você está imerso. Eu mergulho nisso para tentar me apropriar desse tipo de
sensibilidade ao projeto que eu estou desenvolvendo”. Victor Burton destaca que “se você
ficar muito dentro do Design, você vai repetir coisas que você já viu, você vai usar formas
que você já viu, você vai usar tipografias que você já viu, tudo que é importante está fora
porque é disso que você vai falar. Você não vai falar de você, você vai falar do que está fora,
você vai falar do mundo. Então você tem que conhecer o mundo. [...] Olhar, curiosidade,
saber, e hoje é tão fácil saber. Aparentemente fácil, pelo menos está tudo disponível,
depende de você. [...] Conhecer é absolutamente a coisa mais importante”. Ou seja,
percebemos como a prática do design está completamente aliada ao atual modo de
produção capitalista em que o tempo de trabalho não se dá apenas nas horas formais, mas,
sobretudo, no tempo de vida em que o designer tem a possibilidade de adquirir esse
conhecimento não específico da área. O questionário elaborado por Marx aos operários da
França em 1880 foi um instrumento norteador desta pesquisa, principalmente, para a
segunda etapa em que iremos abordar e discutir as questões de classe. O extenso
questionário de cem perguntas distribuído por toda a França teve como objetivo levantar
de maneira mais fidedigna possível as características da classe trabalhadora (FREITAS,
2019). Dividido em quatro partes – 1. emprego e às condições do trabalho; 2. horários de
trabalho e de tempo livre; 3. condições do contrato de trabalho, salários e custo de vida; 4.
luta da classe operária pela melhoria de suas condições – o questionário buscou identificar
o perfil do trabalhador, sobretudo a fim de identificar o trabalho infantil e o feminino, além
do trabalho rural e industrial. Outro item importante abordado pelo questionário foi sobre
as jornadas de trabalho, os contratos e modelos de pagamento e, por fim, buscou
evidenciar a organização da classe trabalhadora e de movimentos que buscavam defender
seus direitos. Devido a pouca participação dos trabalhadores nesta pesquisa, Marx não

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conseguiu reunir dados suficientes para serem analisados, mas, ainda assim, evidenciou
que a única transformação capaz de alterar os males sociais deve emanar dos próprios
trabalhadores, e não de “um salvador providencial” (FREITAS, 2019). “O inquérito
marxista diz essencialmente respeito à luta de classes. O seu objeto por excelência é a luta
de classes, as suas manifestações concretas, o grau de combatividade, de consciência e de
preparação que as classes atingiram através do devir histórico e no decurso da luta”. No
campo do design Cardoso (1998) observa que a perda sobre o significado histórico acerca
da profissão e da atividade de design resulta em uma consequente perda do sentimento de
coletividade da profissão. Desta forma, adaptando o instrumento elaborado por Marx em
1880 para as características e especificidades atuais do campo do design, buscaremos
compreender como essa classe profissional se constitui e se organiza na luta por direitos.

Palavras-chave: Design e Antropologia. Cultura e Sociedade. Capitalismo Cognitivo.


Trabalho Imaterial. Classe Profissional.

Referências

CAMARGO, Silvio. Considerações sobre o conceito de trabalho imaterial. Pensamento


Plural, Pelotas [09], p. 37-56, julho-dezembro 2011.
CARDOSO, Rafael. Design, cultura material e o fetichismo dos objetos. Arcos, vol. 1,
número único, 1998.
FREITAS, Jonas. (Resenha Crítica) MARX, Karl. O Inquérito Operário, 1880. Disponível
em: https://medium.com/@jonasfreitax/resenha-cr%C3%ADtica-marx-karl-o-
inqu%C3%A9rito-oper%C3%A1rio-1880-7c11909973fc. Acesso em 10 de agosto de
2020.
GORZ, André. O imaterial: conhecimento, valor e capital. São Paulo: Annablume, 2005.
MARX, Karl; TSÉ-TUNG, Mao. Inquérito operário e luta política. Disponível em:
https://www.marxists.org/portugues/marx/1880/04/20.htm. Acesso em 21 de julho de
2020.

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