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Pesquisa sugere nova versão para evolução social dos primatas, segundo a qual nossos
ancestrais teriam deixado a vida solitária para viver em grupos como forma de
adaptação à mudança de seus hábitos noturnos para diurnos.
A transição da vida solitária para a vida em sociedade entre os grandes primatas teria
sido causada pela mudança de hábitos noturnos para diurnos. (foto: E.K./ CC BY- SA
3.0)
O homem é um animal social, mas não foi sempre assim com seus ancestrais. Muitas
teorias tentam explicar o motivo pelo qual os primatas deixaram a vida solitária para
formarem grupos. Agora, uma pesquisa das universidades de Oxford, na Inglaterra, e
Auckland, na Nova Zelândia, usa métodos estatísticos para sugerir que o primeiro passo
na direção das sociedades se deu quando os grandes primatas (Hominidae) mudaram
seus hábitos noturnos para diurnos, há 52 milhões de anos.
As lacunas deixadas pelas espécies cujo modo de vida é ainda desconhecido foram
preenchidas com diferentes possibilidades – como vida solitária, em grupo de machos e
fêmeas, em casal e em harém.
O modelo de evolução social que se mostrou mais plausível indicou que os primatas
fizeram a transição da vida solitária diretamente para os grandes grupos e, depois, há
cerca de 16 milhões de anos, para modelos mais complexos como a vida em casal ou em
harém.
Shultz: “Os primatas passaram a viver em grupos para própria proteção, pois um
indivíduo sozinho à luz do dia seria alvo fácil para predadores”
“Esses primatas passaram a viver em grupos para própria proteção, pois um indivíduo
sozinho à luz do dia seria alvo fácil para os predadores”, explica a líder do estudo
Susanne Shultz, antropóloga da Universidade de Oxford.
Os resultados do estudo vão contra as teorias mais aceitas para explicar a evolução
social dos primatas. A maioria delas afirma que os grupos sociais complexos se
formaram a partir da reunião de grupos menores, com o passar do tempo. Outra teoria
bastante aceita, que também é contrariada pela nova pesquisa, é a de que o laço materno
entre mães e filhas teria sido o elemento responsável pela formação desses grupos
sociais.
De acordo com o biólogo Felipe A. P. L. Costa, a pesquisa pode gerar polêmica entre os
estudiosos da área por não levar muito em conta as circunstâncias ambientais que
poderiam estar envolvidas na mudança de estrutura social na árvore genealógica dos
primatas.
“Esse estudo se detém pouco nas circunstâncias ecológicas que poderiam levar às
mudanças na estrutura social dos primatas e foca mais em uma análise histórica dos
padrões sociais”, explica. “O fato de uma espécie exibir um determinado
comportamento social também pode ser entendido a partir das circunstâncias em que ela
vive e não só da sua ancestralidade.”
Flexibilidade social
Shultz ressalta que a pesquisa não pode ser encarada como prova de nada, mas
apresenta um novo cenário mais embasado para a história da evolução da vida social
dos primatas.
“Um dos grandes desafios de se tentar entender como os nossos ancestrais viviam é que
o comportamento não é fossilizado”, pontua Shultz. “Nós tentamos construir histórias
plausíveis de como esses indivíduos se comportavam, socializavam e viviam. Embora a
nossa abordagem não possa conclusivamente reconstruir o comportamento das espécies
fossilizadas, ela oferece outra ferramenta para trazê-lo à vida.”
Shultz: “Um dos grandes desafios de se tentar entender como os nossos ancestrais
viviam é que o comportamento não é fossilizado”
“É incrível como o homem é flexível em sua maneira de se socializar e viver junto nas
mais diferentes sociedades”, diz Shultz. “Nenhum outro primata tem essa flexibilidade,
que nos permite lidar com e responder a uma grande variedade de condições
ambientais.”
Sofia Moutinho
Ciência Hoje On-line