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NOTA: 

            ESCOLA SESI BARRETOS 


 
NOME: Mateus Penaquioni dos Santos Silva Nº 23

COMPONENTE CURRICULAR: EIXO INTERÁREAS                                     PROF. Ricardo Moura 

Formatar o texto abaixo, de acordo com a ABNT


 Fonte (tipo e tamanho)
 Parágrafo
 Imagens e legendas
 Títulos e subtítulos
 Referências

TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE: “A FÁBULA DO REI E SEUS SERVOS”

Um dos grandes avanços que revolucionou a Biotecnologia e deu origem ao campo da engenharia
genética foi o desenvolvimento da Tecnologia do DNA recombinante. Essa técnica permite manipular e
combinar moléculas de DNA de organismos diferentes, que podem ser multiplicadas e propagadas em
células. Mas como será que essa técnica surgiu? 

A história começa com a observação de uma “batalha” que ocorre entre bactérias e um tipo de
vírus, na qual as armas utilizadas são análogas às tesouras. Ao longo deste texto vamos dar um passeio
histórico para saber como as enzimas de restrição foram descobertas e sua importância para o
desenvolvimento da Tecnologia do DNA recombinante.

AS ARMAS QUE AS BACTÉRIAS SE DEFENDEM

A história começa na década de 50 quando dois cientistas, Salvador Luria e Mary


Human, estudavam bactérias infectadas por bacteriófagos. Os bacteriófagos são vírus que conseguem
injetar seu material genético dentro da célula bacteriana de forma que este seja multiplicado e utilizado
para produzir novos vírus. Esses cientistas observaram que diversos bacteriófagos conseguiam se
multiplicar em determinadas cepas de bactérias (variações de uma mesma espécie) hospedeiras, enquanto
em outras o sucesso era baixo.

   Uma década depois, o suíço Werner Arber, ficou intrigado em saber o porquê desses vírus serem
restringidos de se multiplicarem nessas cepas. Primeiro, ele propôs a existência de um mecanismo de
defesa realizado por uma enzima produzida pela bactéria. Essa enzima consegue se ligar a sequências de
nucleotídeos específicas do DNA do bacteriófago e realizar “cortes” nesta região, como uma tesoura.
Com o seu DNA fragmentado, o bacteriófago não consegue ser replicado impedindo que novos vírus
sejam produzidos.
Em seguida, Arber concluiu que esse mecanismo de defesa só era eficiente em cepas de bactérias
que nunca tinham entrado em contato com o DNA do bacteriófago. As cepas que já tinham tido contato
prévio não conseguiam se defender, pois o DNA do bacteriófago acabava sofrendo mutações na região de
reconhecimento da enzima e impedia que ela atuasse ali. Junto com outro pesquisador, Stuart Linn, Arber
conseguiu identificar a enzima EcoB em Escherichia coli, que foi considerada uma endonuclease R,
conhecida hoje como enzima de restrição ou endonuclease de restrição.

Outro fato interessante é que as bactérias conseguem proteger o próprio material genético da ação
de suas enzimas de restrição adicionando grupos metil (CH3) nos locais de reconhecimento destas,
através do mecanismo de metilação do DNA.

Figura ilustrando o mecanismo de defesa realizado pelas bactérias infectadas por bacteriófagos. a)
À esquerda, um bacteriófago acoplado à superfície da bactéria injetando seu DNA (vermelho) no interior
da célula (amarela). À direita, enzimas de restrição (bolas rosas) se ligando em regiões específicas do
DNA viral cortando-o em fragmentos menores. b) o DNA bacteriano (vermelho) com grupos metil (Me)
adicionados nas regiões de reconhecimento das enzimas de restrição, impedindo a ação destas
últimas. Fonte: Adaptado de Brown, T. A. 2020.

Entre as décadas de 60 e 70, vários outros cientistas verificaram a existência de outras enzimas de
restrição tanto em E. coli quanto em outras espécies de bactérias. A enzima HindII, por exemplo, foi a
primeira a ser identificada em outra espécie (Haemophilus influenzae) por Hamilton Smith e Kent
Wilcox. Já em 1971, Daniel Nathans e Kathleen Danna conseguiram isolar essa enzima e misturá-la com
o DNA do vírus SV40, que infecta células eucarióticas, em um tubo de ensaio. Em seguida, eles
conseguiram visualizar 11 fragmentos de DNA que foram gerados com os cortes realizados por HindII
através da técnica de eletroforese.

Todas essas evidências científicas culminaram no Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em


1978 a Werner Arber, Daniel Nathans e Hamilton Smith. Nessa época, a filha de 10 anos de Arber criou
uma história criativa para explicar os achados do pai, que se chamava “A Fábula do Rei e seus servos”:

“Quando eu vou ao laboratório com meu pai, eu costumo ver algumas placas sobre as mesas. Estas
placas contêm colônias de bactérias. Estas colônias me lembram de uma cidade cheia de muitos
habitantes. Em cada bactéria há um rei. Ele é muito longo, mas magro. O rei tem muitos servos. Estes são
grossos e curtos, quase como bolas. Meu pai chama o rei de DNA, e as enzimas de servos… Meu pai
descobriu um servo que serve como um par de tesouras. Se um rei estrangeiro invade uma bactéria, este
servo pode cortá-lo em pequenos fragmentos, mas ele não faz nenhum mal ao seu próprio rei.” (Silvia)

Fotografia dos cientistas que foram laureados com o Prêmio Nobel de Fisiologia e Medicina em 1978 pelas suas
descobertas a respeito das enzimas de restrição. Fonte: Nobel Foundation archive.

Até o começo da década de 70, os cientistas não tinham ideia do impacto que suas descobertas a
respeito das enzimas de restrição teriam para a ciência, e o principal pensamento era que elas poderiam
ter utilidade para fragmentar moléculas de DNA e estudá-las melhor, permitindo identificar genes mais
facilmente. Mas além dessa aplicação, anos depois, a Tecnologia do DNA recombinante foi criada.

CORTAR E COLAR PARA RECOMBINAR: A TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE

Em 1972, os cientistas Janet Mertz e Ronald Davis demonstraram que a enzima de restrição
HindII conseguia clivar a fita dupla de DNA gerando fragmentos com extremidades cegas. Os mesmos
cientistas descobriram que a enzima de restrição EcoR1 cliva o DNA de fita dupla deixando extremidades
coesivas ou aderentes.
Figura ilustrando o mecanismo de ação das enzimas de restrição. a) a enzima de restrição AluI
reconhece uma sequência de quatro nucleotídeos (vermelho) e realiza um corte na fita dupla de DNA
gerando extremidades cegas. b) A enzima EcoRI reconhece uma sequência de seis nucleotídeos e realiza
um corte na fita dupla de DNA que gera extremidades coesivas. Fonte: Adaptado de Brown, T. A. 2020.

Essa última observação trouxe um insight aos cientistas. Como as extremidades coesivas são


complementares entre si, elas poderiam ser re-ligadas com a ajuda da enzima DNA ligase. E por que não
combinar duas moléculas de DNA diferentes que foram tratadas com a mesma enzima e tem
extremidades complementares, para formar um DNA híbrido? E assim surgiu a Tecnologia do DNA
recombinante, que facilitou o estudo e identificação de genes, e permitiu também que genes de um
organismo pudessem ser expressos em outro organismo.

Figura ilustrando a produção de uma molécula de DNA recombinante. À direita, um vetor circular
(vermelho) serve como veículo onde será inserido um fragmento de DNA de interesse (em azul). As
enzimas de restrição geram extremidades coesivas (azul esverdeado) no vetor e no fragmento, permitindo
que eles possam se parear por complementaridade. A enzima DNA ligase efetua a ligação do fragmento
ao vetor dando origem a uma molécula de DNA recombinante, à direita. Fonte: Adaptado de Brown, T.
A. 2020.

Para utilizar a tecnologia do DNA recombinante e realizar uma clonagem gênica, um fragmento de


DNA do organismo de interesse deve ser combinado com um fragmento de DNA maior que serve como
um veículo, chamado de vetor. Um dos tipos de vetores clássicos são os plasmídeos: moléculas de DNA
circular encontradas naturalmente no interior de bactérias, fáceis de se manipular geneticamente. Muitas
empresas comercializam esses plasmídeos para diversos fins de pesquisa envolvendo a clonagem gênica.

Uma vez que o DNA recombinante está pronto, ele deve ser inserido no interior de uma célula
hospedeira (bactéria, fungo, mamífero ou planta) para que seja multiplicado e passado para as células
filhas. Uma colônia com bactérias que carregam várias cópias do DNA recombinante é chamada de clone.

Figura ilustrando a produção de clones de bactérias contendo o DNA recombinante. 1) Produção


do DNA recombinante pela ligação do fragmento de DNA (vermelho) ao vetor (azul). 2) Transporte da
molécula de DNA recombinante para o interior da célula bacteriana (amarelo). 3) Bactéria multiplicando
o DNA recombinante (círculos) no seu interior. 4) Divisão celular da bactéria passando cópias do DNA
recombinante para as células filhas. 5) Bactérias sofrendo várias divisões celulares crescendo em meio
nutritivo e formando colônias que representam os clones. Fonte: Adaptado de Brown, T. A. 2020.

A CONTRIBUIÇÃO PARA A BIOTECNOLOGIA MODERNA

  A Tecnologia do DNA recombinante é muito valiosa para a Biotecnologia moderna, pois


muitas proteínas de interesse industrial e farmacêutico que não são facilmente isoladas do organismo que
as produzem podem ser produzidas em larga escala em células de outros organismos (bactérias, plantas,
microalgas, leveduras) carregando o DNA recombinante.

O processo de produzir proteínas de um organismo em outro pela Tecnologia do DNA


recombinante é chamado de expressão heteróloga de proteínas. A produção de insulina, por exemplo,
pode ser feita por bactérias que contém o DNA recombinante com o gene para a produção desta proteína.

  A tecnologia do DNA recombinante é muito utilizada para gerar organismos transgênicos, ou seja,
que recebem um gene exógeno (de outras espécies). Nesse sentido, é empregada para criar animais e
plantas contendo genes que produzem características de interesse, como resistência a agentes infecciosos,
tolerância a variações de temperatura ou até produção de substâncias nutritivas ou de interesse
terapêutico. Moléculas de DNA recombinante também são muito utilizadas em metodologias para a
produção de vacinas.

A tecnologia do DNA recombinante também permitiu que os primeiros projetos


de sequenciamento de genomas fossem concretizados. Não era possível, nas décadas passadas, utilizar
toda a molécula de DNA intacta de uma célula para conseguir decifrar todas as sequências de
nucleotídeos que a compõem. Somente com o uso da fragmentação do DNA usando as enzimas de
restrição é que foi possível gerar clones de bactérias que carregavam diversos fragmentos. Isso permitiu o
uso de técnicas para rastrear o conteúdo total de nucleotídeos e organizá-los na ordem correta em que se
encontravam no DNA.

A descoberta das enzimas de restrição trouxe um marco para a Biotecnologia moderna, pois


possibilitou que moléculas de DNA pudessem ser manipuladas em tubos de ensaio para diversos fins.
Hoje a Tecnologia do DNA recombinante apresenta diversas variações metodológicas e possibilita uma
gama de inovações que estão contribuindo cada vez mais para as aplicações biotecnológicas.

ABREU, Fabiano Carlos Pinto de. Tecnologia do DNA recombinante: “A Fábula do Rei e seus
servos”. 2022. Disponível em: https://profissaobiotec.com.br/tecnologia-dna-recombinante-fabula-rei-
servos/. Acesso em: 10 set. 2022.

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