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BRINQUEDOS DE MIRITI: Educação, Identidade e Saberes Cotidianos Belém - Pará 2012
BRINQUEDOS DE MIRITI: Educação, Identidade e Saberes Cotidianos Belém - Pará 2012
Belém – Pará
2012
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......
Belém – Pará
2012
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________________________________
Profª. Drª. Nazaré Cristina Carvalho – Orientadora – UEPA
Doutora em Educação Física e Cultura
___________________________________________________________________
Prof. Dr. Paulo Jorge Martins Nunes – (Examinador externo) – UNAMA
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa
___________________________________________________________________
Profª. Drª. Denise de Souza Simões Rodrigues – (Examinadora interna) – UEPA
Doutora em Sociologia
___________________________________________________________________
Profª. Drª. Josebel Akel Fares – (Examinadora interna) – UEPA
Doutora em Comunicação e Semiótica
Belém – Pará
2012
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......
AGRADECIMENTOS
RESUMO
ABSTRACT
The miriti toy is a secular craft, typically Amazonian as it contains within its forms
elements representing the everyday life of the riverine people, such as: canoes,
boats, houses, botos, snakes, macaws, and other elements which constitute the
Amazonian fauna and flora. The main locus of production is the city of Abaetetuba, in
the State of Pará. It has had a strong presence ever since the beginnings of the
largest religious festivity of Brazil, the Procession of Our Lady of Nazareth, in Belém,
capital of Pará. For its beauty, enchantment and cultural significance, it is recognized
as an immaterial and cultural patrimony of the State of Pará. The notoriety of the
handling and use of miriti in the everyday life of Abaetetuba as an artistic expression,
a food source and a source of income, and the cultural expressivity of this palm-tree
and its fruit, leaves and trunk as a part of this people‟s identity, lead us to investigate
the knowledge and educational processes that permeate the making of the miriti toy.
The issues raised were guided by four questions: Which knowledge permeates the
making of the miriti toy? Which educational processes are present in the socialization
of this knowledge? Which aspects of everyday life are represented in miriti toys? Do
the representations incorporated into the miriti toys contribute to the strengthening of
a territorial cultural identity? This study had as interpreters a craftswoman and three
craftsmen who make miriti toys. The methodological trajectory was characterized by
the qualitative approach with ethnographical elements. The research techniques
used were: bounding by non-probability sampling; data collection by means of semi-
structured interview and non-participant observation; discourse and iconographical
analysis. Finally, this research proposed to analyze the miriti toy from a cultural
perspective that contemplates as a whole its several dimensions, emphasizing the
educational aspect. From the perspective of the diversity of knowledge constructed
every day by men and women in their social relations, we identified in the production
process of the miriti toy the education of life, the education of craft production, the
education through cooperation, the education of joy, and the education of exchange.
And we elucidate the knowledge: of the environment, of caring, sculpting or cutting,
sanding, calculating and painting, of union and sharing, of mathematics,
management and organization, of playfulness, aesthetics and dialogue, of respect for
each other, of permutation and commercialization, which are shared between
generations through orality and observation, and which are perpetuated in the
municipality of Abaetetuba as a way of living, educating and expressing through art
the view of the world in which they live. This research was conducted within the Post-
Graduation Program in Education at the State University of Pará, under research line
Cultural Knowledge and Education in Amazonia.
KEYWORDS: Miriti toy. Popular knowledge. Amazonian culture and identity. Non
academic education.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
SUMÁRIO
REFERÊNCIAS .......................................................................................................143
APÊNDICES ...........................................................................................................148
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1 PALAVRAS INICIAIS
1
Igarapés e furos são denominações utilizadas na Amazônia para designar cursos de água
caracterizados por pouca profundidade e por correrem quase no interior da mata. Braços estreitos
de rios ou canais.
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Foto 02: Vista parcial de árvores de miriti as margens do rio Maratauíra – Abaetetuba.
Fonte: Arquivo pessoal. Pesquisa de campo. Dezembro/ 2011.
2
A festividade religiosa de Nossa Senhora de Nazaré ocorre desde 1793, na cidade de Belém, capital
do Estado do Pará. É organizada pela Igreja Católica e acontece anualmente durante 15 dias do
mês de outubro, iniciando no segundo domingo com a procissão do Círio. É considerada a maior
manifestação de fé do povo paraense.
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3
Espécie de rede tecida com a fibra do miriti.
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4
Ponto de Cultura é um projeto desenvolvido pelo Governo Federal através do Ministério da Cultura
(MINC), programa Cultura Viva que visa fortalecer iniciativas culturais através de convênios com
entidades sem fins lucrativos.
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eles, os de artesanato confeccionados com o miriti, tais como: bijuterias, cestarias, adornos,
brinquedos e outros.
As experiências acima relatadas me possibilitaram um olhar acadêmico para o
brinquedo de miriti, especificamente para o processo de feitura desse objeto. A participação
em eventos (encontros, seminários e fóruns) educacionais e culturais a nível municipal,
regional, nacional e internacional nos quais as temáticas centrais diziam respeito à
diversidade, ao fortalecimento e ao reconhecimento da cultura local permitiram lapidar a
minha visão epistemológica sobre o brinquedo de miriti e me impulsionaram, ainda mais, a
buscar na academia espaços de discussão e pesquisas acerca dos saberes educativos da
gente comum.
Na condição de educadora, historiadora e pesquisadora, assumo o desafio de
desvelar, fortalecer e valorizar nossa identidade cultural, bem como, pesquisar e registrar as
experiências e saberes cotidianos de homens e mulheres, que ao ensinar, aprendem e se
tornam sujeitos construtores da história da educação da região amazônica, particularmente,
do município de Abaetetuba.
A proposta do Programa de Mestrado em Educação da Universidade do Estado
do Pará, linha de pesquisa Saberes Culturais e Educação na Amazônia, contemplou meu
intento e sedimentou teoricamente o objeto a ser pesquisado. Na medida em que ia me
apropriando da bibliografia recomendada para o processo seletivo, visualizei a possibilidade
de desenvolver e aprofundar as discussões acerca da temática a que tenho me debruçado
durante toda a minha trajetória acadêmica. Ao longo do curso, cada disciplina estudada
adquiriu importância decisiva para solidificar e reafirmar meu interesse pelo tema em
questão.
5
Esta primeira edição foi realizada pela "Associação Comercial de Abaetetuba" (A. C. A.) e ASAMAB
em parceria com a Câmara de Dirigentes Lojistas de Abaetetuba (C. D. L.), o Conselho da Mulher
Empresária (C. M. E.), a Prefeitura Municipal de Abaetetuba (P. M. A.) e o SEBRAE/PA.
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[...] a educação lida com a experiência cotidiana mais regular, mais estável
e mais eficaz de criação e circulação de visões de mundo, de busca de
filosofias do destino e de sentidos para a vida humana, de lógicas do puro
saber, de éticas e de gramáticas dos intercâmbios humanos, dos tantos
feixes de ciências, das artes (cujo lugar na escola deveria voltar a ser tão
mais desmesurado!) e também, por que não? dos mistérios e das crenças
das religiões e suas espiritualidades.
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Cabe aqui mencionar as análises tecidas por Minayo (2004, p. 53) quanto
ao trabalho de campo como descoberta e criação, explicitando sua concepção de
“campo de pesquisa como o recorte que o pesquisador faz em termos de espaço,
representando uma realidade empírica a ser estudada a partir das concepções
teóricas que fundamentam o objeto de investigação”. É com esta compreensão de
trabalho de campo que desenvolvemos a coleta de dados nas oficinas de artesanato
de miriti, através das técnicas de observação direta e entrevistas semiestruturadas.
Optamos pela observação direta por considerar que esta é uma técnica
adequada ao interesse deste estudo, na medida em que possibilita o contato
pessoal e direto do pesquisador com o fenômeno estudado, fator elementar nas
pesquisas qualitativas. Segundo Lüdke e André (1986, p. 26, grifos dos autores),
[...] para se fazer boas entrevistas é preciso amar conversar com o outro e,
mais uma vez, ouvir o outro. É preciso amar a pesquisa, amar conhecer
gente nova, amar um bom papo. A boa entrevista acontece a três. Ela
acontece quando entrevistador e entrevistado sentam-se frente a frente, se
olham nos olhos e abrem juntos um espaço de confiança num mundo de
tantas desconfianças. Abrem juntos um espaço de diálogo num mundo em
que ouvir de verdade virou raridade. Só quando esse espaço é aberto, a
experiência da entrevista acontece. [...] (CAPUTO, 2006, p. 65).
Foto 04: Imagem da frente da cidade Abaetetuba as margens do rio Maratauíra. Final de tarde.
Fonte: Angelo Paganelli. Arquivo pessoal.
“[...]
Esse rio é minha rua,
minha e tua mururé,
piso no peito da lua,
deito no chão da maré.
Pois é, pois é,
eu não sou de igarapé,
quem montou na cobra grande,
não se escancha em puraquê.
Rio abaixo, rio acima,
minha sina cana é,
só em falá da mardita
me alembrei de Abaeté.”
(Disponível em:<http://www.culturapara.com.br>. Acesso em: 15 ago. 2011).
6
Ruy Guilherme Paranatinga Barata. Paraense. Foi poeta, político, advogado, professor e compositor
brasileiro. Entre inúmeras composições está “Esse rio é minha rua”, na qual menciona Abaetetuba.
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7
O “Centro de Artesanato e Cultura do Miriti” fica localizado na Rua Getúlio Vargas, n° 1067, bairro
Algodoal, Abaetetuba, Pará. CEP: 68.440-000.
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Desse modo, esta é uma técnica apropriada ao tipo de pesquisa que nos
propomos desenvolver, a qual tem sua ênfase nos posicionamentos das pessoas
pesquisadas e não na sua expressão numérica8. Os dados revelaram uma
proximidade entre os nomes propostos, algo que se percebia na conversa com os
entrevistados, pois, comumente eles iniciavam a resposta dizendo “depende do tipo
de brinquedo, porque cada um tem sua especialidade, ou seja, A é o melhor para
fazer barcos; já B se destaca pelos animais que confecciona, tais como: araras,
onças, jacarés; C é muito bom, porque sempre materializa a palma do miriti em um
objeto novo”.
Diante dos resultados da amostra, resolvemos acrescentar o tempo que o
artesão tem trabalhando com o miriti como mais um critério para a escolha,
priorizando três períodos, ou seja, um entre 25 e 30 anos na atividade, outro na
média de 15 a 20 anos e o terceiro na faixa de 5 a 10 anos de trabalho com o miriti.
Assim, os três sujeitos desta pesquisa são o Sr. Célio Vilhena Ferreira
que há 25 anos sustenta sua família trabalhando na confecção de brinquedos de
miriti; o Sr. Ivan Teixeira Leal, que há 15 anos tem a atividade artesanal como
complemento da renda familiar e há 8 anos trabalha exclusivamente com artesanato
de miriti para manter sua família; e o Sr. Adonias Oliveira Vilhena, que há 10 anos
complementa a sua renda confeccionando brinquedos de miriti. Somados a
intérprete-guia, a Srª. Nina Mary Abreu da Silva.
Vale ressaltar que esse momento foi muito significativo, na medida em
que possibilitou a escolha dos intérpretes a partir do próprio grupo, somado ao
fortalecimento dos laços entre os artesãos e eu. Para o tipo de abordagem que
priorizamos desenvolver neste estudo, essa familiaridade entre os pares envolvidos
no processo a ser investigado é muito relevante para a realização dos objetivos
propostos.
André (2004), ao discorrer acerca da pesquisa qualitativa do tipo
etnográfica, ressalta a importância do pesquisador como agente principal de coleta e
análise de dados, ele precisa estar próximo das pessoas, locais, eventos, para
8
Segue anexo o quadro demonstrativo da amostragem.
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9
Eu quando tinha uns 10 anos a gente morava tudo no sítio . Aí dava essa
água grande, a gente fazia uns barquinhos de miriti, mas não era com tolda,
era só o casco, a gente amarrava na canoa e remava, o barquinho vinha lá
(refere-se à distância), amarrado no fio. (Célio V. Ferreira, artesão, 53
anos).
9
Sítio é uma denominação utilizada no município de Abaetetuba para designar a região das ilhas,
zona rural do município.
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Jogar com o brinquedo de miriti não é brincar com o controle remoto. Não
há botões intermediários. Não são sistemas competentes autônomos.
Depende de manipulação direta. Torna-se extensão da mão e da
imaginação, não torna a criança espectadora, mas um ator no processo. O
brinquedo de miriti não manipula a criança! É a criança que o manipula.
Paradoxalmente, a criança tem o devir duplicador dela mesma; e o adulto,
paradoxalmente, experimenta o seu devir criança.
12
Esta pesquisa, na qual me integro como acadêmica, está sendo desenvolvida pelo Programa de
Pós-Graduação em Educação – Mestrado, da UEPA, em cooperação com o Programa de Pós-
Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC/RS).
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pelo prazer e pela liberdade de espírito. Nesse sentido, o brinquedo de miriti por
proporcionar e despertar esses sentimentos em quem o faz e o recebe,
independente da idade, encanta e segue seu curso na história, independente de
modismos momentâneos, firmando-se por sua singularidade, regionalidade e
universalidade de brinquedo.
Assim, as recordações das experiências vividas pelos quatro intérpretes
desta pesquisa, analisadas nesta subseção, expressam uma parte da história do
caboclo paraense e dos brinquedos de miriti que não está registrada nos
documentos escritos. Contudo, é possível conhecê-la ouvindo aqueles que já
viveram mais do que nós, os quais, possivelmente, escutaram de seus
predecessores e assim sucessivamente. Dessa maneira, concluímos que, pela
oralidade, podemos construir e reconstruir a história de um povo, como bem
menciona Ecléa Bosi (1994).
Portanto, notamos que os brinquedos de miriti inicialmente eram feitos
pelas crianças ribeirinhas para suas brincadeiras, tornaram-se um bem cultural e
uma fonte de renda. Atualmente, no aspecto econômico, o brinquedo de miriti é a
base de sustentação de muitas famílias abaetetubenses, seja como complemento da
renda familiar ou como única fonte financeira. Na próxima seção, continuaremos a
história deste objeto como produto cultural e comercial.
Então desde daí a gente veio fazendo pra brincar, cresceu houve a
oportunidade de ganhar dinheiro e aos poucos a gente vinha fazendo e
ganhando dinheiro, intercalando (Ivan T. Leal, artesão, 43 anos).
A primeira feira que vendi foi em Belém, na Praça do Carmo que ainda não
tinha nenhuma estrutura como tem hoje, não é como é hoje que tem toda
uma estrutura, uma coberta, todo um conforto para os artesãos. Antes
quando eu participei, não lembro exatamente o ano, mas foi ainda coberto
com lona a gente levava a lona e o papelão e quando chovia a gente cobria
o brinquedo e ficava debaixo da lona até passar a chuva (Adonias O.
Vilhena, artesão, 32 anos).
Era muito importante pelo menos para esses que não tem estudo, eles
ficavam, explicavam. Veio aquele curso pra pessoa fazer orçamento, o que
gasta, o que deixa de gastar, para pessoa saber dá o preço dos brinquedos
para não ter prejuízo (Nina Mary Abreu da Silva, artesã, 76 anos).
Olha a gente tem muito curso do Sebrae, curso que a gente faz de
embalagem, de venda. Eu tenho aí cinco diplomas. Tem gente que quer,
por exemplo, um móbile desses na embalagem de miriti. Aí a gente faz a
embalagem. Foi muito bom o curso pra gente (Célio V. Ferreira, artesão, 53
anos).
É assim que a Mauritia flexuosa deixa de ser uma espécie a mais, com
suas funções naturais em meio às milhares que compõe a fauna amazônica
paraense, e passa a ser e ter uma história vinculada à história de vida dos
abaetetubenses. Da infância à fase adulta, o convívio com a palmeira e seus
derivados extrapola a satisfação de necessidades restritas a uma etapa da vida
humana. É o que acontece com os brinquedos feitos da bucha do miriti, os quais,
para além de um instrumento das brincadeiras de infância, revelam no adulto a
criança, ou melhor, o caráter lúdico que permanece nele, mas que, pelas
circunstâncias vividas, talvez estivesse adormecido.
Enfim, existem coisas que não conseguimos expressar somente com
palavras, precisamos de gestos, imagens ou outras formas de comunicação para
enriquecer o diálogo. Na próxima subseção apresentamos, por meio de imagens, a
palmeira do miriti e suas possibilidades de utilização no cotidiano ribeirinho
abaetetubense.
Foto 23: Vendedor de brinquedo de miriti no Círio de Nossa Senhora da Conceição, em Abaetetuba.
Fonte: Arquivo pessoal. Pesquisa de Campo. Dezembro/2011.
13
Vinho é a expressão utilizada em Abaetetuba para designar o suco de miriti, o qual é consumido
com farinha de mandioca junto com as refeições ou em mingaus.
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Dona Nina estudou até a 5ª série ginasial e nos contou que não
prosseguiu seus estudos por não ter em Abaetetuba as series seguintes e, quando
teve a oportunidade de continuar, optou pelo trabalho para auxiliar na renda familiar.
Esse período de vivência escolar é rememorado por Dona Nina com grande
entusiasmo ao contar as suas aventuras com os colegas na sala de aula, nos dias
de provas, apresentações e entrega de trabalhos, no caminho de ida e volta de casa
para a escola e em tantos outros momentos.
Ainda dessa fase, recorda da contradição entre a visão de seu pai acerca
das filhas aprenderem a ler e escrever e o esforço de sua mãe para matriculá-las em
uma escola. Nos fala, em meio a muitos risos:
O papai tinha aquela coisa de não mandar a gente estudar pra não escrever
para namorado (risos). Mamãe que se interessava, botava a gente na
escola nesse tempo (Nina Mary Abreu da Silva, artesã, 76 anos).
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Festa eu dançava muito, uma vez eu fiz uma fantasia escondida da mamãe,
eu não podia ir, porque eu estava doente da garganta, eu trabalhava por
minha conta, comprei o pano e fiz a fantasia. Mamãe saiu e eu vesti a
fantasia de máscara, eu era a lua e meu irmão o sol. A máscara cobria todo
o meu rosto, só tinha o buraco do olho, toda mão de luva, de meia, de tudo.
Quando a gente entra na Sede do Abaeté, surpresa! A mamãe bem na
frente assim (Nina Mary Abreu da Silva, artesã, 76 anos).
Saudade dos tempos de juventude que não voltam mais, todavia, são
revividos nas lembranças. As últimas narrativas reproduzidas nos mostram, ainda, a
habilidade artística criadora de Dona Nina, e ela reforça isso ao dizer: “de cada coisa
eu sei um pouco”. Entre essas “coisas” está a sua grande habilidade em manusear e
transformar a palma do miriti em inúmeros formatos de brinquedos e outros objetos
artesanais. Aos 12 anos de idade, esta intérprete já fazia artesanato de miriti. Nestes
64 anos de atividade, Dona Nina destacou-se por sua singular e admirável
capacidade inventiva e artística, sendo hoje referência no município como artesã de
brinquedos de miriti.
Observamos nas conversas que tivemos com Dona Nina que o ato de
fazer produtos artesanais, especialmente brinquedos, é muito mais do que uma
tarefa a ser realizada para complementar sua renda familiar; tanto que no período
desta pesquisa, por problemas de saúde ela não estava trabalhando em sua oficina,
mas fazia os brinquedos no próprio quarto, como o passatempo predileto.
Dona Nina Abreu é sócia e fundadora da “Associação dos Artesãos de
Brinquedos e Artesanatos de Miriti de Abaetetuba” (ASAMAB), da qual fez parte da
diretoria e continua sendo membro. As marcas do tempo já vivido, esculpidas em
seu corpo, não lhe permitem mais frequentar assiduamente as reuniões nem
participar de todas as ações promovidas pela entidade.
Enfim, estes são alguns fragmentos das experiências que marcaram a
vida de Dona Nina e constituem sua contribuição para a história da cidade de
Abaetetuba e do brinquedo de miriti. Este objeto é um elo entre a história de vida
desta intérprete e a do artesão Sr. Célio, também intérprete desta pesquisa.
O Sr. Célio Vilhena Ferreira nasceu no município de Abaetetuba, na
região das ilhas, rio Belchior, no dia 28 de maio de 1958, está com 53 anos. Aos 12
anos de idade, ficou órfão de mãe junto com mais cinco irmãos, os quais ficaram sob
os cuidados do pai até este casar-se novamente e junto com sua segunda esposa
continuarem a criação desses filhos e dos seis novos que foram gerados.
Ao rememorar esta etapa de sua vida, Seu Célio expressa profunda
tristeza pela perda e ausência da sua mãe, o que lhe gerou uma série de
dificuldades, todavia, agradece muito a Deus pela vida de seu pai e sua madrasta
com a qual sempre teve e tem uma relação de respeito e carinho e a considera sua
nova mãe chamando-a por essa denominação.
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Ao indagarmos sobre a profissão de seus pais, Seu Célio nos conta que
sua mãe era doméstica e seu pai, diz ele:
Eu estudei só até a 5ª série, porque eu ajudava meu pai com a minha mãe,
eu pescava muito, colocava matapi pra acabar de criar os meus irmãos.
Eu morava no sítio. Eu ía e vinha todos os dias. Teve muita dificuldade,
porque naquele tempo não tinha embarcação como tem agora, pega
15 16
embarca na rabeta ou no rabudo e chega rápido aqui em Abaeté. De
primeiro não... era só a remo, eu levava 40 minutos pra chegar e 40 pra
14
Rio Cuitininga e Rio Camarãoquara são afluentes do Rio Tocantins e importantes rios navegáveis
do município de Abaetetuba, às suas margens habitam várias famílias ribeirinhas.
15
Embarcação pequena, sem toldo, com motor fixo.
16
Embarcação menor que a rabeta sem motor fixo.
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17
voltar. Tinha tempo que a gente chegava na beira tinham roubado a
canoa, o remo da gente, aí a gente ficava na mão (Célio V. Ferreira,
artesão, 53 anos).
É muito importante, eu fico olhando pra uma neta minha ela vai completar
sete anos ela pega qualquer livro e lê. Eu não tenho muito estudo, mas eu
viajo muito por aí, eu tenho vergonha do pessoal, eu não leio bacana, sabe?
Eu fico acanhado. Que a gente não teve tempo para estudar (Célio V.
Ferreira, artesão, 53 anos).
Também nos fala a satisfação e orgulho que sente em ver seus seis filhos
todos “formados”, no dizer do intérprete, ou seja, com Ensino Médio completo, haja
vista que aos 23 anos de idade, Seu Célio mudou-se da zona rural para a cidade de
Abaetetuba, visando oportunizar aos seus filhos a educação escolar.
Entretanto, a escola não lhe ensinou a manusear o miriti e esculpir na
palma as inúmeras peças de brinquedos que confecciona, como ele mesmo nos
conta: “Não, nem pensava nisso, só era mesmo tirar do quadro, lê um pouquinho e
copiar” (Célio V. Ferreira, artesão, 53 anos).
Sua relação com os brinquedos de miriti vem desde a sua infância,
quando fazia seus barcos para brincar, conforme apresentamos na narrativa que
descrevemos na terceira seção desta dissertação. Já adulto, seguiu a profissão de
carpinteiro e sonhava em ter seu próprio negócio, como nos narra:
18
Quando eu saía pro meu serviço de madrugada pra ir pro Conde eu pedia
pra Deus me dá um serviço meu mesmo pra eu trabalhar, pra eu não viver
humilhado, porque a gente empregado pro outro a gente só anda humilhado
nas mãos dos outros e graças a Deus apareceu o artesanato de miriti (Célio
V. Ferreira, artesão, 53 anos).
Pra mim o miriti significa muita coisa, nem fale até! Quando eu não tenho
esse material pra trabalhar eu fico até doente, sem jeito, não paro na casa,
porque é de onde eu vivo com minha família, graças a Deus. Tudo o que eu
tenho aqui é tudo do miriti. Esse ano eu vou levantar minha casa de
alvenaria se Deus quiser. Meu sonho é esse (Célio V. Ferreira, artesão, 53
anos).
Seu Ivan nos fala orgulhoso de suas origens, porém, sente-se triste em
não poder responder a respeito de sua etnia, principalmente quando viaja para
participar de feiras em outros Estados. Muitas pessoas o indagam a esse respeito e,
ele reponde:
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Eu sou descendente de índio, mas eu não sei responder minha etnia porque
meus pais perderam. Mas eu acredito que como meu bisavô veio de
Manaus deve ter ainda tribo por lá. Por parte de meu pai, meu bisavô era
índio e minha bisavó era negra e por parte de minha mãe o bisavô era
português e a bisavó índia, uma boa mistura (Ivan T. Leal, artesão, 43
anos).
Por mais que não tenha adquirido nenhuma titulação acadêmica e seu
tempo de permanência na instituição escolar tenha sido relativamente curto, Seu
Ivan reconhece a importância e o significado da escola em sua vida, ao mencionar
que:
Seu Ivan nos relata que, durante o período em que trabalhava como
pintor industrial, complementava sua renda confeccionando em isopor peças para
decoração. A mudança de moradia para a cidade de Abaetetuba somada às
características culturais desta cidade relacionada ao brinquedo de miriti e o gosto
pessoal pelas artes manuais, foram elementos cruciais para sua opção em se
dedicar a essa atividade com exclusividade.
Atualmente, sua renda familiar é proveniente unicamente do trabalho com
o artesanato de miriti. Ele possui sua oficina onde produz suas peças artesanais,
auxiliado por sua esposa, seus filhos e outros familiares. Há quatro anos associou-
se à Asamab e já fez parte da diretoria, como diretor financeiro.
Finalmente, para concluirmos essa breve descrição da história de vida de
Seu Ivan, escolhemos uma história, entre tantas contadas por ele, para descrever
aqui e através dela mostrar uma das admiráveis características que observamos
nele. Seu Ivan, além de ser um artesão com uma capacidade criativa admirável, é
um nobre contador de estórias. Por meio delas, transmite sua conformação ou
indignação diante do contexto em que vive e das injustiças que o cercam, daí, por
exemplo, não acreditar em Papai Noel, como ele mesmo diz:
19
Refere-se ao período que trabalhou como empregado, exercendo a função de pintor industrial, em
diversas empresas no polo industrial localizado no município de Barcarena – PA.
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Possui dois irmãos com os quais foi criado pelos pais. Conta-nos que seu
pai exerce a profissão de vigilante e sua mãe sempre trabalhou em casa
desenvolvendo as atividades domésticas. Seu Adonias é casado e pai de dois filhos.
Ao indagarmos a respeito de sua formação acadêmica e se ainda frequentava a
escola, ele diz:
Ontem ouvi na Voz do Brasil, ouço a Voz do Brasil que prefiro ouvir porque
não é apelativo em vez do televisivo, que se torna profissão agora o
artesanato. Fiquei feliz, porque você pode agora chegar ao processo de
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aposentadoria fazendo artesanato e isso foi uma vitória muito grande pra
gente (Ivan T. Leal, artesão, 43 anos).
verbal com a terminação “–ura” que designa o tempo futuro, cultura era o campo que
ia ser arado, na perspectiva de quem vai trabalhar a terra. Os romanos traduziram a
palavra cultura como conjunto de conhecimentos que deveriam ser transmitidos à
criança. Desse modo, a palavra cultura passou do significado puramente material
que tinha em relação à vida agrária para um significado intelectual, moral, que
significa conjunto de ideias e valores.
Como reflexo do movimento iluminista nos séculos XVIII e XIX, na
Inglaterra, França e Alemanha, o vocábulo cultura esteve associado à ideia de
progresso, desenvolvimento humano, sendo confundida com educação, bons
costumes, etiqueta e comportamentos de elite. Na Inglaterra e na França, era
utilizada como correspondente sinonímico de civilização, contudo no idioma alemão
“kultur” tinha uma conotação positiva referindo-se aos produtos intelectuais,
artísticos e espirituais, enquanto que “zivilisation” ecoava negativamente por referir-
se às maneiras requintadas da nobreza.
Desse contexto, emergiu a definição clássica de cultura como “o processo
de desenvolvimento e enobrecimento das faculdades humanas, um processo
facilitado pela assimilação de trabalhos acadêmicos e artísticos e ligado ao caráter
progressista da era moderna” (THOMPSON, 1995, p. 170). Esta concepção
fundamenta a dominação cultural de um povo sobre outros povos sobressaltando
determinados modos de viver e marginalizando outros. Tal acepção tem justificado,
por exemplo, o domínio da cultura burguesa capitalista sobre outras culturas e
modos de viver.
No século XX, o conceito de cultura foi incorporado aos estudos
antropológicos e sociais passando a ser concebido como um conjunto de
conhecimentos, crenças, artes, objetos, símbolos e significações construídos por
seres humanos em suas interações sociais.
Sob a ótica antropológica, Geertz (1989, p. 15) considera a cultura uma
teia de significados que é tecida pelas pessoas, incluindo aqui objetos, ações e
manifestações verbais com as quais estabelecem comunicação entre si e dividem
suas experiências, concepções e crenças.
Sendo assim, o depoimento de Seu Adonias e a imagem de pássaros
reproduzidos abaixo, nos permite dialogar com o pensamento de Geertz, haja vista
que expressam o sentido que este intérprete atribui a suas peças (re)criadas em
miriti. Nas palavras de Seu Adonias:
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......91
Em seu relato, Seu Adonias revela que nos pássaros que ele faz em
miriti, está inscrita sua concepção de vida. Uma vida compartilhada com outros seres
vivos, uma vida que requer cuidados de uns com os outros para uma boa vivência
de todos. Uma vida em que há o respeito à liberdade e à forma de existência do
outro.
Esta visão simbólica de cultura nos possibilita compreender o brinquedo
de miriti envolto em uma simbologia peculiar do cotidiano amazônico. Seu Célio e
Seu Ivan expressam isso ao dizer:
Esses pássaros que eu faço são daqui da Amazônia, vai uma etiqueta
explicando tudinho o significado de cada pássaro (Célio V. Ferreira, artesão,
53 anos).
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......92
Tem aquelas outras ali na parede que são protótipos de peças grandes que
já foram vendidas e que contam a cultura do nosso lugar (Ivan T. Leal,
artesão, 43 anos).
Nota-se nestas palavras dos intérpretes Seu Ivan e Seu Célio que os
brinquedos produzidos por eles, representam as experiências vividas diariamente,
um olhar sobre suas relações, seu espaço de vivência e sua cultura.
As cinco imagens reproduzidas abaixo também são propícias nesta
análise, por apresentarem objetos, presentes no dia a dia do caboclo
abaetetubense, como aves, cobras, casas e barcos produzidos com a matéria-prima
do miriti, os quais têm, portanto, em sua essência, uma significabilidade peculiar da
comunidade abaetetubense.
tinha um lastex assim que prendia na minha mão. E desce mais, desce mais
um pouquinho (canta o refrão da música) o boneco ia até na garrafa (risos).
Foi só eu chegar, eu fiz um pouco, porque era trabalhosa (Nina Mary Abreu
da Silva, artesã, 76 anos).
A cada ano eu sempre levo uma novidade. Comecei nos pássaros, depois
eu fui confeccionando umas motinhas de miriti também, até então pequenas
cerca de 30 cm, eu fui me aperfeiçoando e fui fazendo as grandes, quase
no tamanho de uma normal aí já fiquei conhecido como o rapaz das motos
também, novidade né? Mas sempre levando os pássaros. Depois por ser
uma peça grande e demorar praticamente um mês para terminar uma,
sendo que peças pequenas eu fazia mais do que uma só, aí eu também
parei um pouco com as peças grandes como a moto e fiquei só nas aves.
Eu faço um gavião que eu levei um ano, uma coruja, uma arara com penas,
um personagem da tv de desenho, eu vou inventando e é bem aceito no
mercado (Adonias O. Vilhena, artesão, 32 anos).
miriti como uma propriedade realmente daqui de Abaetetuba. Então ele tem
dado assim um reconhecimento muito grande para Abaetetuba e para as
pessoas que trabalham com ele (Adonias O. Vilhena, artesão, 32 anos).
Foto 53: Plantador de cana, máquina de açaí, girandeiros e músicos confeccionados em miriti.
Fonte: Arquivo pessoal. Pesquisa de Campo. Fevereiro/2011.
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......108
O pato do círio é a tradição do Círio. Quando a gente vai para o Círio não
tem uma casa que não tenha pato no tucupi, foi baseado nisso que eu fiz. A
berlinda, também, eu fazia e vendia. Coisa que tivesse a ver com o Círio
meus brinquedos saia logo (Nina Mary Abreu da Silva, artesã, 76 anos).
O artesanato por ser um produto supérfluo nem todo mundo compra. Não é
um produto de primeira necessidade, então são aqueles períodos, por
exemplo, Círio todo mundo compra porque ele precisa enfeitar a mesa dele
na época do Círio. Eu vejo assim que ele toma como se fosse assim parte
realmente do Círio, do religioso, eu vejo isso, muitos parecem que é
obrigado a comprar e acaba comprando e levando, então é a época que
você mais vende realmente o brinquedo de miriti, diferente de outros
períodos.
Cada região do Brasil ou cada estado tem uma preferência de artesanato
estamos nos preparando pra uma feira que vai acontecer em abril em
Brasília, aí eu já sei mais ou menos o que eles compram, então eu trabalho
em cima disso, entendeu? . Eu te falei a gente sabe o que mais sai em cada
lugar, por exemplo, aqui em Abaetetuba eu não trabalho com peças
tradicionais porque não vende, porque tem muito.
O próprio cliente está te dando a ideia, entendeu? E tudo isso a gente copia
e vai criar em cima daquela que ele necessite (Ivan T. Leal, artesão, 43
anos).
Penso que essas falas, de Dona Nina e de Seu Ivan, têm uma ligação
com a proposta de Canclini (2008), ao expressarem que o consumidor tem um papel
fundamental no processo de (re)criação dos brinquedos de miriti, ao assumir e
desenvolver como cidadão o papel regulador do consumo, como forma de
pertencimento à comunidade. É a compreensão do consumo e da cidadania de
forma conjunta e inseparável, tomados como processos culturais, encarados como
práticas sociais que dão sentido de pertencimento. Desse modo, o consumo não é
mera possessão individual de objetos isolados, mas forma de pertencimento e
apropriação coletiva de bens, através de relações de solidariedade, distinção e
hostilidade com os outros que proporcionam satisfação biológica e simbólica e que
servem para receber e enviar mensagens.
Dentro desse contexto, consideramos que os artesãos dos brinquedos de
miriti acompanham o processo de hibridização cultural e, por conseguinte,
identitário. Valendo-se dos conhecimentos herdados de seus antepassados e
agregando novas práticas, técnicas e novas formas, recriam e renovam sua obra de
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......111
Então, navegar por este viés epistemológico é conceber que não há uma
única forma de conhecimento válida e sim muitas formas de saberes construídos
cotidianamente por homens e mulheres em suas práticas sociais. É compreender
que todo “conhecimento é autoconhecimento” (SANTOS, 1997, p. 50), portanto, é
criação e está intimamente ligado à nossa trajetória de vida, nossos valores, nossas
crenças, nossa cultura, enfim, nosso modo de ser e viver em relação com o outro.
Na interação com o outro, os variados conhecimentos avançam
interrelacionando-se e dialogando horizontalmente uns com os outros, se
construindo mutuamente e alastrando suas raízes em busca de novas e variadas
interfaces. É, em suma, reconhecer que as experiências culturais e identitárias dos
artesãos de brinquedos de miriti fazem parte dessa ecologia de saberes.
Nesse sentido, retomamos Brandão (2002, p. 141) quando, ao falar da
educação como cultura, estabelece uma íntima relação entre as mesmas,
assinalando que a primeira acontece no interior da segunda, sendo, então, a cultura
a própria morada do saber. No desenvolvimento de seus argumentos, este autor
pontua que, como seres da vida, homens e mulheres são seres ensinantes e
aprendentes, pois, na medida em que nascem inacabados, eles estão destinados a
buscar a completude.
Nas interações sociais constroem-se e são construídos, isto é, no
relacionamento com os outros, trocam saberes, criam e recriam objetos, símbolos e
significados para a vida. É nessa tessitura constante e fantástica da experiência da
vida humana no planeta Terra, que se encontra a educação que ocorre em todos os
tempos da vida, do nascer ao morrer, e em todo e qualquer lugar.
A concepção de cultura como lugar de conhecimento e de saberes
criados e recriados por um determinado agrupamento humano, presente no
pensamento de Brandão, também é referendada por Loureiro (1989, p. 178-179),
pois, ao falar da cultura amazônica, este autor considera que:
O miriti enquanto pequeno a gente não sabe qual é macho qual é femea,
mas a gente sabe que quando ele tá na sombra como todo ser vivo em
busca de alimento ele se esquiva mais pra buscar a luz do sol e é esse miriti
da mata mais fechada, mesmo sendo da várzea é mata mais fechada, é o
melhor miriti que a gente tem porque ele está mais comprido. A tala fica
melhor pra quem trabalha com a cestaria e o parênquima dele fica muito
melhor pra gente, dá menos braços, mas de qualidade superior aquele miriti
que dá ao sol aberto, que ele não cresce porque ele tem o alimento à
vontade que é o sol dá mais braços, mas é curto e mais estorricado.
O miritizeiro você aproveita ele todo sem matar a palmeira, ele dá de quatro
a doze cachos e cada cacho no mínimo produz 500 frutos, ele é bianual,
tem ano que dá mais, tem ano que dá menos porque aquela safra foi que se
estendeu.
É o miritizeiro ele pode dá pra gente no máximo sete braços por ano. A
gente corta e ele vai ficar com três pra sobreviver, isso não vai abalar em
nada a estrutura dele, cresce até o ponto de que ele vai dá os frutos e o
braço se torna curto então você não tem como cortar aquele braço até
porque não serve mais para o artesanato.
A palmeira ela te dá todo o alimento, artesanato, tudo o que você precisar,
até casa se você quiser fazer, e você não precisa derrubar ela (Ivan T. Leal,
artesão, 43 anos).
Eu fui cortei 300 braços de miriti, eu e meu primo, fomos um dia cortamos
tudo. No outro destalamos. Agora é não deixar pegar água, tira a casca e
pendura ele para secar. Nada de água por perto. Aí quando tiver uns cinco
dias corta um palmo, é o trato do miriti (Célio V. Ferreira, artesão, 53 anos).
Você precisa armazenar o miriti se você colocar o miriti em pé, ele tem uma
resina, então toda essa resina ela desce por igual então você vai ter um
miriti com um parênquima perfeito, todo igual, mas existe um miriti que você
seca ele deitado que ele fica com as manchas porque a resina não desceu,
então existe esse processo de secagem que é muito importante, se você
quer um miriti limpo o coloca em pé. Nós aprendemos isso com o Sebrae
(Ivan T. Leal, artesão, 43 anos).
O problema que isso aqui é muita poeira, por isso que eu sofro e estou com
isso aqui (refere-se à tosse que ele tem). Aí eu tenho medo dela ficar aqui,
ainda tem a tinta que não são tão forte, o que é forte é o selador, isso faz
mal, deixa a gente doente (Célio V. Ferreira, artesão, 53 anos).
Eu tenho um cara da Vila Maiauatá que traz pra mim a R$ 40,00 o centro do
miriti. 100 braços desses eles querem R$ 50,00 já, mas o cara faz pra mim
por R$ 40,00. Aí eu só armazeno e depois começo a cortar. Um braço de
miriti o cara faz R$ 50,00 a R$ 70,00 em brinquedos (Célio V. Ferreira,
artesão, 53 anos).
Eu recebo sem tala porque o ribeirinho corta lá, vende pra quem faz o tipiti,
o abano e outros derivados de tecelagem que vende, então ele vende o
centro do miriti por R$ 25,00 para o artesão da tecelagem. E a gente
compra dele, porque existe uma seleção de miriti, mas entre uma e outra
você compra o centro por R$ 70,00, que já é o braço seco, às vezes, eu
compro verde (Ivan T. Leal, artesão, 43 anos).
Olha, o brinquedo para fica no normal que ele é corta-se o brinquedo, lixa,
depois de lixado passa o selador. Só o cheiro que a gente pega daquele
selador... Depois do selador secar lixa de novo, fica lisinho pra pintar. Tem
que primeiro passar tinta branca que é base e depois é que vai pintar da cor
do brinquedo, ainda tem o verniz, se tu não passar o verniz o brinquedo vai
ficar cheio de punilha, estraga o brinquedo. Aí vai fazer as contas por
quanto vai sair esse brinquedo (Nina Mary Abreu da Silva, artesã, 76 anos).
verniz para que não estrague o objeto; proteger-se do cheiro forte que exala do
selador. As imagens abaixo reafirmam esses saberes, ampliando a ideia de calcular
não somente para dar um valor final de venda para o produto, mas, também, medir o
tamanho dos pedaços de miriti para esculpir.
A primeira parte é o molde desse corpo aqui dela de lado (refere-se à feitura
de uma arara), tenho que cortar o miriti em partes quadradas e juntar ele até
ficar um bloco que fique na perfeição, na proporção do corpo dela, joga o
molde em cima dessa peça quadrada e vou recortar, sem o bico ainda,
recorto tudinho aí dá essa forma do pássaro. Depois vem o bico, que é uma
peça separada, também com molde que é para sair tudo no tamanho
normal. Eu faço o bico separado, mas alguns colegas que são feras já
fazem tudo, eu acho melhor assim que fica mais bem destacado. Depois
vêm as asas, e no final o rabo e os pés que ela fica já no puleiro. Depois
para sumir as imperfeições a gente passa uma massa corrida, alguns
passam o selador, eu comecei passando o selador aí depois com a massa
se tornou mais fácil, lixo, dou uns detalhes com a tinta branca e dá o
colorido que é a vida, dá os detalhes nela para vender (Adonias O. Vilhena,
artesão, 32 anos).
As duas imagens a seguir mostram uma arara feita por Seu Adonias:
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......121
Hoje trabalha eu, minha esposa, minha filha, minha nora, meu filho quando
chega da pesca e mais um adolescente que trabalha comigo, são essas
pessoas que trabalham comigo. É só família, é regime familiar.
Nós dividimos tarefas aqui, por exemplo, eu faço cortar depois dele está
cortado isso aqui é um peixe. Depois do peixe está assim eu passo já pra
qualquer um deles que eles vão lixar, selar - que é o processo que ele fique
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......124
com mais durabilidade e melhor para pintar. Porque se você pegar uma tinta
e pintar como ele está aqui chupa tudo a tinta, então se você pegar o
selador aquele de madeira com tiner passar nele, nem só ele te dá uma
consistência melhor pra você pintar como também ele dá uma durabilidade
muito melhor do que se ele ficasse natural, entendeu? Então ele é passado,
embebido nessa solução pra que a gente possa trabalhar e tudo isso eles já
fazem. Um lixa, às vezes o próprio que lixa pinta, mas às vezes ele só lixa
o outro vai e pinta é dessa maneira que a gente divide as tarefas aqui. As
luminárias eu monto e eles só fazem dá o tratamento da selagem e do
envernizamento, o resto é tudo eu que trabalho mesmo (Ivan T. Leal,
artesão, 43 anos).
Para mim, ele significa assim uma terapia, eu gosto de fazer, porque eu
sempre gostei de arte. A arte é tudo pra mim (Nina Mery Abreu da Silva,
artesã, 76 anos).
Significa pra mim hoje uma forma de uma renda extra e pra mim
particularmente é uma terapia, é algo que eu amo, que eu gosto de fazer eu
faço independente de querer obter um lucro, assim é claro que a gente faz
pra obter, mas tem momentos fora de época que o meu tempo está bem de
folga eu vou fazendo, fazendo mesmo, porque eu gosto e vou inventando
outras peças, eu faço, porque eu gosto (Adonias O. Vilhena, artesão, 32
anos).
É uma coisa que a gente faz une o útil ao agradável a gente gosta de fazer,
é um trabalho que se torna assim uma terapia a gente gosta de fazer, é a
vida da gente (Ivan T. Leal, artesão, 43 anos).
Foto 66: Artesão Ivan T. Leal com suas peças em exposição para venda.
Fonte: Arquivo pessoal. Pesquisa de Campo, “8º Miritifest”. Maio/2011.
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......129
A gente já tem a base do que já vendeu no ano passado o que foi mais
vendido, a gente se baseia naquilo e vai criando outros (Nina Mary Abreu da
Silva, artesã, 76 anos).
Tem muita gente que não observa bem e acha que uma galinha é outro
bicho. Tem outro que olha uma peça e diz: poxa, mas eu achei que era isso.
Em cima daquele achar dele a gente já vai trabalhando em outras peças e
criando. É ter a percepção de captar isso do próprio cliente, entendeu? Na
verdade o grande artista é ele e ele não sabe (Ivan T. Leal, artesão, 43
anos).
Você consegue viver fazendo arte sem agredir a natureza. Então a gente
faz tudo isso e quando a gente mostra para o cliente, que não conhece o
que é a palmeira, mostra que tudo isso é feito sem matar a palmeira, ele
compra muitas das vezes, ele não sabe nem onde vai colocar só pra
incentivar a gente que está fazendo esse serviço, então é isso que nos dá o
prazer de trabalhar sem afetar a natureza (Ivan T. Leal, artesão, 43 anos).
Eu tenho uma neta que vive aqui, ela vem senta aqui eu estou trabalhando
e ela está espiando, aí ela fala: vovô como é que a gente lixa? Olha minha
filha é assim. Não minha filha vira o miriti. Aí a gente vai ensinando,
ensinando, ela já é profissional para lixar (Célio V. Ferreira, artesão, 53
anos).
colegas, amigos, vizinhos, consumidores, etc. Nota-se, ainda, que não há uma
técnica padrão homogeneizadora para todos, cada um vê a melhor forma de
socializar seus conhecimentos. É um jeito de educar que não exige do mestre-
educador, títulos acadêmicos, no entanto, requer experiência, habilidade, paciência,
humildade, partilha, atenção e responsabilidade. Neste sentido, as palavras do Seu
Ivan são expressivas:
Olha na verdade existe uma palavra que se chama autodidata então técnica
eu aprendi com outros artesãos, mas aprender a gente aprende com a
gente mesmo, a gente faz o desenho vê o cotidiano, por exemplo, isso aqui
são tudo luminárias fruto de desenho e aí não é nenhum design que criou é
a gente mesmo que cria (Ivan T. Leal, artesão, 43 anos).
destaca Seu Ivan “é o prazer da gente ensinar. Não precisa ele está pagando nada
pra está aprendendo” (Ivan T. Leal, artesão, 43 anos).
Nessa perspectiva, é importante mencionar o trabalho da professora e
pesquisadora Paula Caleffi (2005), que analisa a educação indígena na sociedade
brasileira nos séculos XVI ao XVIII. Partindo da ótica da educação enquanto cultura,
a professora mostra como, através da oralidade e da observação, o ato de aprender
e ensinar acontece, ressaltando que nas sociedades indígenas, não há tempo
destinado para aprender, ao longo da vida todo o tempo é tempo de aprender.
Este olhar nos permite afirmar que as oficinas de confecção de
brinquedos de miriti são espaços de aprendizagem onde circulam saberes e fazeres
que são compartilhados entre todos que participam deste espaço, da criança ao
idoso. E não somente nas oficinas, mas, também, em outros espaços como no
“Centro de Cultura e Artesanato de Miriti” e nas feiras de comercialização onde
circula o brinquedo de miriti e, com ele, as pessoas interagem entre si, trocam
experiências e se educam.
Em termos metodológicos, são as mais variadas técnicas citadas pelos
artesãos e suas formas particulares de ensinar e aprender que o brinquedo de miriti,
como patrimônio cultural e imaterial, historicamente se recria e se perpetua no
município de Abaetetuba.
Em suma, observamos no decorrer deste trabalho que a educação no
município de Abaetetuba acontece no interior das escolas e, inclusive, nos espaços
não escolares que não utilizam a escrita, como as oficinas do brinquedo de miriti, o
“Centro de Cultura e Artesanato de Miriti”, as feiras de comercialização do
artesanato de miriti, enfim, em todos os lugares onde os seres humanos criam
cenários, cenas e situações para educarem-se.
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......138
CONSIDERAÇÕES FINAIS
do brinquedo de miriti tema do “2º Miritifest”, escrita por João de Jesus Paes
Loureiro e interpretada pelo cantor e compositor Cabinho Lacerda, por considerar
que a ação cotidiana movida pelo sonho cria uma marca identitária, inventa, recria e
solidifica sua cultura e educa propagando entre gerações saberes, experiências e
valores de vida.
Quem diria
Que o sonho brotou da mão.
Que é de sonhos
A casa de um artesão.
Quem diria
Que um anjo desceu ao chão.
Quem diria
Que o anjo virou artesão.
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......143
REFERÊNCIAS
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GOMES, Nilma Lino. Sem perder a raiz: corpo e cabelo como símbolo de
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Ivanilde Apoluceno de (Org.). Caderno de Atividades Pedagógicas em Educação
Popular: relatos de pesquisas e experiências dos Grupos de Estudos e Trabalhos.
Belém: EDUEPA, 2009, v.1. (p.17-33)
PARÁ. Lei estadual nº. 7.282, de 03 de julho de 2009. Declara o “Miritifest” como
Patrimônio Histórico do Estado do Pará. In: Diário Oficial do Estado do Pará,
Belém, ano CXIX, n° 31.453 de 3. jul. 2009.
APÊNDICES
SILVA, Claudete do S. Q. da. Brinquedos de Miriti: educação, identidade e saberes cotidianos......149
DIA:
HORA:
LOCAL:
1. IDENTIFICAÇÃO
a) Nome:
b) Idade:
c) Local de nascimento:
d) Endereço residencial:
e) Profissão:
f) Com quem você foi criado (pai, mãe ou outros familiares)?
g) Em que eles trabalhavam?
h) Quantos irmãos você tem?
i) Estado civil:
j) Tem filhos? Quantos?
2. EDUCAÇÃO
a) Você frequentou escola quando era criança?
b) Até que série você estudou?
c) Quando e onde começou a estudar?
d) Quais dificuldades encontradas para estudar?
e) O que significa a escola para você?
f) Alguma vez na escola os diversos aspectos do miriti foram abordados?
g) Quem estuda da sua família? Onde?
3. BRINQUEDO DE MIRITI
3.1 HISTÓRIA E IDENTIDADE
a) Há quanto tempo você faz brinquedo de miriti?
b) Quando criança você brincava com brinquedos de miriti? Quais? Quem os fazia?
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_______________________ _______________________
Pesquisadora Orientadora
Claudete do S. Q. da Silva Nazaré Cristina Carvalho
(91) 91624713 (91) 91884231
Abaetetuba, ______/______/______.
________________________________
Assinatura do sujeito da pesquisa
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DECLARACÃO
___________________________________________
NAZARÉ CRISTINA CARVALHO
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Nº DE VOTANTES: 46
IDENTIFICAÇÃO Nº DE VOTOS
A 01
B 03
C 03
D 03
E 04
F 01
G 04
H 03
I 04
J 01
K 02
L 01
M 02
N 02
O 01
P 01
Q 02
R 01
S 02
T 01
U 01
V 01
X 03
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