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Acta Scientiarum

http://periodicos.uem.br/ojs/acta
ISSN on-line: 1983-4683
Doi: 10.4025/actascilangcult.v40i2.37413 LITERATURA / LITERATURE

Literatura e suicídio: alguns operadores de leitura


Willian André

Universidade Estadual do Paraná, Av. Comendador Norberto Marcondes, 733, 87303-100, Campo Mourão, Paraná, Brasil. E-mail:
willianandreh@hotmail.com

RESUMO. O objetivo deste artigo é oferecer alguns possíveis operadores de leitura para o
desenvolvimento de análises sobre a questão do suicídio na literatura. A proposta parte da constatação de
que, apesar de o autoaniquilamento ser um tema recorrente em manifestações literárias das mais diversas
épocas, parecemos não possuir uma tradição de estudos que o contemple com maior atenção. Diante desse
problema, e tentando não incorrer em uma sistematização estanque, desenvolvemos aqui algumas reflexões
sobre possibilidades de abordagem e direcionamentos teórico-críticos, com o intuito de contribuir para a
elaboração de um campo consistente de análise do suicídio em estudos sobre literatura e outras
manifestações artísticas.
Palavras-chave: suicídio; literatura; operadores de leitura.

Literature and suicide: reading operators


ABSTRACT. This article aims at offering some possible reading operators for the development of
analyzes on the issue of suicide in literature. The proposal rises from the verification that, despite self-
destruction being a constant subject in literary manifestations from the most diverse times, we seem not to
have a tradition of studies looking at it with greater attention. In face of such problem, and trying not to
build a rigid systematization, we develop here some reflections on possibilities of approach and theoretical
and critical directions, hoping to contribute for the elaboration of a consistent field of analysis of suicide in
studies on literature and other artistic manifestations.
Keywords: suicide, literature, reading operators.

Introdução sobrepostas ao material estudado, quase sempre o


distorcendo ou amputando-o para que se adeque às
Com a mesma constância que, em textos
arestas pouco flexíveis do esquema; iii) que, não
literários de autores e épocas diversas, aparece a
questão do suicídio, também a atividade crítica se observando essas duas considerações, corremos o
debruça sobre o assunto à medida que o objeto risco de cair na armadilha das camisas-de-força
contemplado o pede. Afinal, sendo o tema de grande teórico-críticas, contradizendo a maleabilidade que
expressão – por exemplo, em muitos poemas de deve ser predominante em nossa área de estudo;
Sylvia Plath, ou em um romance como A redoma de pode parecer desnecessária, quando não equivocada,
vidro (2014), um olhar sobre a questão da morte a proposta deste trabalho: oferecer uma
voluntária será inevitavelmente requisitado, a sistematização sobre alguns possíveis operadores de
depender da proposta analítica que se empreenda. O leitura que se nos apresentam quando abordamos a
mesmo pode ser dito sobre os romances O náufrago questão do suicídio na literatura.
(1996), de Thomas Bernhard, e As virgens suicidas A tarefa em pauta consiste em desdobramento de
(2013), de Jeffrey Eugenides, para nos atermos a um estudos que temos realizado sobre o assunto. A
mínimo de exemplos bastante óbvios. justificativa para o recorte temático, aqui apenas a
Em face dessa constatação e considerando: i) que sumarizamos, porquanto já a apresentamos em outro
a crítica deve sempre se mover conforme as lugar1: seguindo na esteira da proposta de A. Alvarez
necessidades que o texto literário lhe impõe – pois é em O deus selvagem: um estudo do suicídio (1999),
o objeto tratado que determina qual o melhor aporte consideramos ser a área dos estudos literários,
quando emparelhada com outros campos do
teórico-crítico para se contemplá-lo, quais as
conhecimento, que trazem à pauta a questão do
melhores abordagens, as possibilidades de leitura,
autoaniquilamento, uma das que melhores
etc.; ii) que devemos, sempre que possível, evitar a
rigidez de esquematizações analíticas, quando estas 1
André & Souza (2017). Outras questões já esboçadas nesse estudo serão
se transformam em macroestruturas a serem eventualmente retomadas aqui.

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condições apresentam para a compreensão e estudo trocas produtivas com outros temas e outras áreas do
do tema, haja vista a sensibilidade com que o trato conhecimento, mas sem perder de vista que a
literário o carrega, e a diversidade de situações e questão da morte voluntária protagoniza a proposta
configurações que ele assume no bojo ficcional, como um todo.
poético e dramático – possibilitando, em última
instância, a composição daquilo que temos chamado Uma nota sobre o método
de ‘mosaico suicidológico’.
Ainda que o argumento possa ter força, parece Já observamos que a presença do
não haver uma tradição de pesquisa em literatura autoaniquilamento em obras literárias é uma
sobre o tema do suicídio. Apenas a título de constante: ele aparece desde as manifestações da
exemplo: Fernando Rey Puente, organizador do Grécia Antiga até as produções mais recentes do
livro Os filósofos e o suicídio (2008)2, faz, no ensaio de século 21. Visto nesse conjunto, o tema se nos
sua autoria que introduz o volume, a seguinte mostra em caráter de mosaico: seja tratado em
observação: primeiro plano, seja em tímidas aparições, o
encontramos, do contexto estrangeiro ao nacional, a
[...] nosso objetivo aqui é abordar apenas e tão- exemplo de outros temas que similarmente
somente o problema ‘filosófico’ do suicídio e não carregam certa ‘universalidade’ e ‘atemporalidade’,
seu desdobramento em outros planos, tais como o
sociológico, o médico, o jurídico, o psicanalítico, o
em autores tão diversos quanto Sófocles, Dante,
antropológico, o histórico ou o religioso (Puente, Shakespeare, Donne, Rousseau, Goethe, Radcliffe,
2008, p. 12, grifo do autor). Flaubert, Balzac, Mary Shelley, Byron, Dostoiévski,
Tolstói, Stevenson, Wilde, Márai, Sá-Carneiro,
O autor enumera áreas do conhecimento que se Faulkner, Hemingway, Woolf, Beckett, Pavese,
dedicam ao estudo do suicídio: filosofia, sociologia, Plath, Sexton, Arthur Miller, Di Benedetto, Achebe,
medicina, direito, psicologia, antropologia, história, Perec, Bernhard, Carrère, Eugenides, Bukowski, D.
teologia, mas fica ausente, nesse grupo, a literatura. F. Wallace, Kane, Asher, Munro, McCarthy, Álvares
O possível contra-argumento de que o tema da de Azevedo, Guimaraens, Drummond, Lispector,
morte voluntária, apesar disso, é de interesse
Rubem Fonseca, Evandro Affonso Ferreira, Mário
crescente no campo dos estudos literários é fraco, e o
Bortolotto, Daniel Galera, Ricardo Lísias, André de
mesmo vale para a interpretação que aponta a
presença constante do suicídio como desdobramento Leones...
de temas afins, tais como melancolia, luto e absurdo. A crítica literária sobre o suicídio, por
Primeiro, porque aqueles sempre possíveis casos de conseguinte, deve refletir essa mesma estrutura de
estudos sugeridos em nosso primeiro parágrafo mosaico, a começar pela observação de que não há
acabam quedando ‘isolados’. Segundo, porque não imperativos determinando que se deva priorizar
se trata, aqui, de pensar o autoaniquilamento como aqueles textos que trazem a morte voluntária como
tema ‘coadjuvante’. É certo que outros temas podem tema principal, e menos ainda as produções de
e devem ser convidados ao diálogo, mas uma breve autores que optaram por tirar suas vidas: o
pesquisa em bancos de dados acadêmicos, utilizando estabelecimento do corpus cabe às preferências e
a palavra ‘suicídio’ ou outras expressões que motivações do pesquisador. Essa observação
carregam o mesmo direcionamento semântico, e estabelece, de certa forma, o método adotado para o
filtrando apenas estudos de literatura, é suficiente desenvolvimento deste estudo. Nas próximas
para mostrar que não possuímos algo como uma páginas, o leitor encontrará uma visada bastante
‘cultura’ ou uma ‘sistematização’ do estudo do abrangente sobre a presença do autoaniquilamento
suicídio na área. em diversas obras literárias, e mesmo em outras
É justamente esse o problema que tentamos, provenientes de manifestações artísticas diversas.
aqui, de alguma forma, diminuir: nosso intuito é Dada a abrangência, por vezes cometeremos o
menos o de propor uma sistematização rígida a ser ‘pecado’ de permanecer na superfície, mas há de se
aplicada sem os devidos processos reflexivos do que observar que o objetivo, aqui, não é oferecer
o de oferecer alguns possíveis direcionamentos para
aprofundamento, e sim alguns encaminhamentos
análises, sempre considerando a possibilidade de
analíticos.
Quanto ao critério de seleção das obras e aportes
teórico-críticos que figuram em tais indicações, o
2
De grande pertinência, o volume em questão, consequência de uma disciplina
sobre o problema filosófico do suicídio ministrada em 2006 pelo autor na
Graduação do curso de Filosofia da UFMG, reúne um conjunto de dez textos de mesmo preceito é obedecido: como a proposta
épocas e filósofos diversos (alguns deles, inclusive, possuidores de grande
afinidade com a literatura): Platão, Plotino, Sêneca, Tomás de Aquino, pretende estabelecer uma visão geral, a escolha dos
Montaigne, Hume, Rousseau, Schopenhauer, Mainländer e Raimundo de Farias
Brito, todos tratando do tema em questão. Além disso, o ensaio introdutório de autores e textos foi arbitrária, tomando por base
Puente, ‘O suicídio e a filosofia’, oferece um panorama geral sobre a história do
suicídio no âmbito da filosofia.
nosso arcabouço de leituras e a extensão limitada do
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suporte (artigo) para a composição do estudo. Uma fossem perfeitos, cerrando os dentes para não gritar,
vez determinados os nove possíveis caminhos que sobretudo quando a navalha atingiu a gengiva”
são explorados a seguir, procuramos encontrar (Carrère, 2002, p. 139). As linhas finais da narrativa
exemplos diversos para ilustrá-los, tentando apresentam a seguinte descrição:
contemplar produções de períodos variados, e
Quando compreendeu que iria, forçosamente, se
transitando entre casos que são notadamente asfixiar e que não poderia jamais terminar dessa
(re)conhecidos e outros que possuem pouca maneira, arrancou a navalha encravada no osso,
expressão na esfera acadêmica. Queremos dizer, com temendo não ter mais forças para levá-la até o seu
isso, que, para cada um dos nove operadores de pescoço. Mas ele conseguiu chegar lá, ainda estava
leitura aventados, outros autores e obras poderiam consciente. Apesar dos movimentos fracos, da
ter sido selecionados, a título de exemplificação, sem contração violenta e espasmódica de todo o seu
prejuízos para a proposta. Não há, nesse sentido, corpo, que deixava seu braço mole, ainda assim, e
sem ver nada, ele cortou debaixo de seu queixo, de
qualquer determinante histórico ou de outra ordem
uma orelha à outra, o espírito determinado até o
por trás de nosso critério de seleção.
último segundo, atento ao gorgolejar do sangue que
Por fim, devemos retomar a ressalva inscrita no jorrava, atento aos espasmos das pernas e do ventre,
segundo parágrafo de nossa introdução. Ao mesmo sobre o qual o espelho tombou, atento e, finalmente,
tempo em que ressaltamos os aspectos negativos apaziguado pela certeza de que agora tudo estava
constantes na elaboração de um sistema analítico acabado, de volta à ordem (Carrère, 2002, p. 140).
estanque, não deixamos de realizar, aqui, empresa A atitude do personagem consiste no último
semelhante. Se insistimos na proposta, é porque, passo de sua fuga do absurdo que se instalara ao seu
conforme argumentos já apresentados, entendemos redor. As incisões iniciais sobre o rosto
que a pesquisa sobre o autoaniquilamento em transformam-se num prolongamento do ato de
estudos literários carece de direcionamentos mais barbear-se. Como fora o bigode o elemento
sistematizados, contexto em que a organização de instaurador de sua condição absurda, ele tenta
alguns encaminhamentos analíticos pode vir a expurgá-lo até o mais fundo de sua carne. O único
contribuir mais do que prejudicar, desde que apaziguamento possível, todavia, só é conseguido
mantida alguma flexibilidade no esquema. Quanto a levando o ato ao extremo do suicídio. Apesar de o
esta, procuramos preservá-la por meio dos princípios romance ser narrado em terceira pessoa, o foco
de abrangência, maleabilidade e liberdade de escolha narrativo se coloca claramente sobre o protagonista,
assinalados logo acima. e a cena derradeira, a exemplo de todo o texto, é
construída com um teor naturalista: o suicídio é
Possibilidades de análise
descrito explicitamente, com detalhes. O
a) Iniciemos pela representação do suicídio em naturalismo no andamento da narrativa, aqui,
obras literárias. O romance O bigode (2003), de cumpre o papel de exasperar ainda mais o contraste
Emmanuel Carrère, conta a história de um de toda a situação implantada de partida: o cuidado
personagem que, tendo decidido raspar o bigode que no detalhamento das cenas – como se para imprimir
lhe era adereço costumeiro, se espanta com o fato de alguma lógica ao fato narrado – esbarra na total falta
ninguém notar a diferença – incluindo Agnes, sua de lógica que envolve a atmosfera do romance. Na
esposa. Quando decide questionar abertamente a adaptação cinematográfica do livro, dirigida pelo
respeito, fica estupefato com a resposta de todos que próprio Carrère, o desfecho é diferente (mas tão
o conhecem: ‘bigode? Mas você nunca usou bigode’. inusitado quanto o original): o personagem não
A partir daí, o protagonista inicia uma jornada que comete suicídio. Após se barbear, ele volta para a
vai da insanidade à teoria da conspiração, cama e deita ao lado de sua esposa – que se tornara,
embrenhando-se em uma tentativa de fuga de um gradativamente, uma estranha para ele.
mundo que, antes conhecido, parece-lhe agora Já em um poema como ‘Ismália’ (originalmente
completamente estranho. Na última cena do publicado em 1923, no livro Pastoral aos Crentes do
romance, de barba crescida e hospedado em um Amor e da Morte), de Alphonsus de Guimaraens, um
hotel em Hong Kong, inexplicavelmente possível efeito naturalista é suplantado pelo trato
acompanhado pela esposa que abandonara há dias – poético que conduz a apresentação da morte da
e que desconhecia seu paradeiro –, o personagem se personagem, que se joga ao mar:
coloca diante do espelho do banheiro e começa a se
barbear. De rosto limpo, investe a navalha contra a Ismália
própria pele, e passa a abrir retalhos no rosto: “[...] Quando Ismália enlouqueceu,
passou a fazer os cortes sem a preocupação de que Pôs-se na torre a sonhar...

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Viu uma lua no céu, Garoto coloca a mochila nas costas e vai saindo. Para
Viu outra lua no mar. na porta. Se volta para Homem. Homem senta em
uma cadeira. Garoto repentinamente decidido sai
No sonho em que se perdeu,
bruscamente. Homem coloca uma música muito
Banhou-se toda em luar...
alta. Luz vai caindo. Ouve-se o estampido de um tiro
Queria subir ao céu,
abafado pela música excessivamente alta (Bortolotto,
Queria descer ao mar...
2003, p. 80).
E, no desvario seu,
Na torre pôs-se a cantar...
Nesse caso, não temos uma apresentação
Estava perto do céu, naturalista ou um tratamento poético do ato, como
Estava longe do mar... nos anteriores. O suicídio do Homem, com um tiro,
não é representado no palco, devendo então, de certa
E como um anjo pendeu
As asas para voar... forma, ser entendido como um elemento
Queria a lua do céu, extracênico. Mas, ainda que apresente proximidade,
Queria a lua do mar... não se trata também daquele recurso
As asas que Deus lhe deu
frequentemente utilizado, como no caso de uma
Ruflaram de par em par... Jocasta (Sófocles, 2005) ou de uma Lady Macbeth
Sua alma subiu ao céu, (Shakespeare, 2008a), cujos suicídios não ocorrem
Seu corpo desceu ao mar... em cena: tomamos ciência deles posteriormente,
(Guimaraens, 2001, p. 45). pelas palavras de personagens que apenas anunciam
Em vez de uma simples descrição feita por a catastrófica notícia de suas mortes. Tragédias como
alguém que assiste ao suicídio ‘de fora’, a repetição Édipo Rei e Macbeth se furtam intencionalmente à
que rege o andamento do poema e a constante representação do suicídio3. Já no caso da peça de
associação entre o céu e o mar permitem-nos um Bortolotto, parece o contrário. A supressão da
mergulho na interioridade de Ismália, construindo interpretação explícita da morte voluntária do
um retrato de sua ‘loucura’. Em primeiro nível, o Homem e sua substituição pelo som abafado do
resultado se traduz em uma composição subjetiva estampido do tiro atuam, contraditoriamente, como
que suplanta a objetividade da cena, sem deixar de intensificadores do efeito que se pretende explorar –
conferir uma representação do suicídio da porquanto a sugestão de uma ação, em alguns casos,
personagem, construída em termos mais líricos. se investe de força ainda maior do que a ação em si.
Mais profundamente, se inscreve nos versos do Dessa forma, podemos entender que, de modo
poema certo contraste (paradoxalmente pouco usual, a última cena de Homens, santos e
complementar) entre a ânsia de Ismália pelo desertores carrega uma representação do suicídio
absoluto e seu movimento de autodestruição, construída sobre a supressão da encenação do ato em
metaforizados, por exemplo, pelas constantes si, e com o auxílio de elementos (até certo ponto)
indicações espaciais ‘lua’ x ‘torre’ e ‘céu’ x ‘mar’. A extracênicos.
fusão entre essas duas instâncias se realiza conforme Colocamos lado a lado essas possibilidades de
avançamos para as últimas duas estrofes do poema, representação da morte voluntária em manifestações
que envolvem o voo de sua alma (rumo ao absoluto)
literárias visivelmente distintas para indicar a
e a precipitação de seu corpo (rumo à morte
variedade de direcionamentos que se apresenta a
autoinfligida).
uma abordagem analítico-interpretativa da
Ainda um terceiro exemplo: a peça Homens, santos
representação do ato. Um estudo desse tipo pode,
e desertores (2003), de Mário Bortolotto, apresenta
ainda, ir mais adiante, promovendo uma
uma série de cenas envolvendo um Garoto e um
investigação sobre como as escolhas estéticas
Homem, sempre na casa deste. A situação retrata o
empregadas na representação ajudam a compreender
encontro conflituoso de dois personagens
as motivações e circunstâncias que levam uma
pertencentes a gerações diferentes, que sempre se
pessoa ao autoaniquilamento.
sentiram outsiders, e a ânsia do mais novo, que
b) Quanto à questão da influência do ato
procura por alguma espécie de ensinamento ou
derradeiro sobre a imaginação criativa, podemos
‘caminho a seguir’, contrastando com a relutância e
pensar no caso de Sylvia Plath, que é um dos mais
inaptidão do mais velho em assumir esse papel de
‘professor’. Ao final da peça, o Homem dirige 3
O que não deve ser compreendido como uma regra. Otelo (Shakespeare,
palavras amargas ao Garoto, que vai embora 2008b), por exemplo, apunhala-se mortalmente, jogando-se sobre o corpo de
Desdêmona, morta por ele instantes antes, e ambas as cenas se dão sobre o
desiludido. O texto é encerrado com a seguinte palco. O mesmo vale para o sempre lembrado exemplo de Romeu e Julieta
indicação de palco: (Shakespeare, 2008c), que também se suicidam em cena – esta com o punhal,
aquele com veneno.

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emblemáticos a esse respeito. A escritora cometeu era objeto de reflexão constante também em suas
suicídio em fevereiro de 1963, por asfixia, ao deitar- experiências cotidianas.
se com a cabeça dentro do forno da própria cozinha. d) Uma quarta possibilidade de análise diz
Tentativas anteriores haviam precedido a derradeira. respeito a interpretações do suicídio na matéria
Conforme costuma apontar a fortuna crítica sobre a literária enquanto fuga, performance, espetáculo,
autora, a morte – alcançada voluntariamente – viria a afirmação da liberdade individual ou de outros
interromper sua fase mais criativa e mais produtiva, princípios. No romance Graça infinita (1996), do
num período em que ela escrevia diariamente, e que suicida D. F. Wallace, por exemplo, encontramos
legou à posteridade alguns de seus melhores poemas. um personagem como James O. Incandenza.
Da mesma forma, a morte (o suicídio, em especial) Espécie de guru da indústria do entretenimento,
era abordada em sua produção cada vez mais dono de uma filmografia longa e excêntrica, e de um
intensamente. A situação parece conter um histórico de abuso de álcool, o personagem,
chamado por seus filhos de ‘Sipróprio’, prepara
movimento paradoxal, tendo o autoaniquilamento
cuidadosamente o cenário em que perpetrará seu
por epicentro: ao mesmo tempo em que atuava
autoaniquilamento: abre, com uma broca larga e
como força motriz para os processos composicionais
uma serra, um buraco em um forno de micro-ondas,
de Plath, influenciando diretamente sua imaginação
atravessa sua cabeça pelo orifício, lacra os vãos
criativa, a ação contida no tema se lhe afigurava cada
restantes com papel alumínio, e liga o aparelho.
vez mais real e inescapável, inclinando-a ao suicídio. Resultado: a pressão das ondas sobre o crânio no
A necessidade de repetir constantemente uma espaço fechado provoca uma explosão, e pedaços de
espécie de ‘ritual de morte’, tanto em sua vida – cabeça e forno são espalhados por todo o cenário. A
conforme atestam suas tentativas de encerrá-la – engenhosidade na preparação e execução do ato
quanto em sua obra – como mostram, por exemplo, parece consistir num tributo à sua fama de cineasta
os seguintes versos do poema ‘Lady Lazarus’: que sempre lançou mão de recursos inusitados para
“Tentei outra vez./ Um ano em cada dez/ (...)/ Esta é realizar suas obras. E há, ainda, um segundo tributo:
a Número Três./ Que besteira/ Aniquilar-se a cada caída próxima à cena do suicídio, uma garrafa de
década.” (Plath, 2010, p. 45), talvez numa tentativa Wild Turkey, deixada pela metade, atesta sua
de expurgá-la em definitivo, acabou por fazer do ‘homenagem’ final à relação abusiva com a bebida
autoaniquilamento sua matéria literária mais cara, e alcoólica. O romance não apresenta uma
também a única conclusão possível para sua vida. representação direta do episódio. Tomamos
Escritores como Anne Sexton, David Foster Wallace conhecimento dos detalhes a partir de um relato
e Sarah Kane parecem ter se enredado nos mesmos feito por seu filho, Hal, que foi quem encontrou os
processos. restos do pai (Wallace, 2014). No conjunto, o
c) Plath, por consequência, também é um bom suicídio de James Incandenza assume ares de
exemplo para pensarmos os possíveis espetacularização: uma obra de arte final a coroar sua
entrelaçamentos entre o tratamento literário do trajetória.
assunto e o dado biográfico em obras de autores que Outro exemplo é Kiríllov, o mais célebre suicida
cometeram suicídio – questão que se configura de Dostoiévski (no romance Os demônios, de 1872).
como outra possibilidade de abordagem, na medida O personagem se mata com um tiro na têmpora
em que permite investigar até que ponto se (Dostoiévski, 2004), realizando com o ato o último
confundem os limites entre experiência biográfica e passo de sua argumentação sobre a inexistência de
produção literária naqueles escritores que abordaram Deus. Ainda, em O mundo se despedaça (1958), de
o tema e acabaram por tirar suas próprias vidas. No Chinua Achebe (1994), o protagonista Okonkwo
caso de Sylvia Plath, além de seus poemas, há acaba por se enforcar ao perceber que sua tribo não
também o romance A redoma de vidro, baseado em tentará resistir às investidas do colonizador europeu.
experiências vividas por ela aos dezenove anos de Em ambos os casos, o suicídio acaba transparecendo
idade. Por meio de seu alter ego, Esther Greenwood, como afirmação de um argumento ou ideologia.
que é narradora-protagonista do romance, a autora e) Também podemos abordar as reações e
relata uma crise de depressão, e vários ‘ensaios’ de perspectivas de terceiros que precisam lidar com o
tentativas de suicídio, que culminam naquela que foi atentado contra a própria vida por parte daqueles que
a mais séria antes da derradeira: sua tentativa de lhes são próximos. Em prefácio ao livro Os suicidas
autoaniquilamento por meio da ingestão de (2005), de Antonio Di Benedetto, Luis Gusmán
aproximadamente cinquenta pílulas (Plath, 2014). observa: “O sobrevivente ao suicídio do outro
Para além da proximidade com o fato vivido, esse carrega em si a ameaça de repeti-lo em algum
romance, somado aos poemas, ressalta que o tema momento. Mede sua vida em relação à idade do
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morto” (Gusmán, 2005, p. 13). A alusão mais direta que o objeto perdido, seja por motivo de morte,
se estabelece com o próprio romance de Di separação ou rejeição, tivesse sido de alguma forma
Benedetto, cujo narrador-protagonista, prestes a assassinado por ele. O objeto, então, volta como um
perseguidor interno em busca de punição, vingança e
completar 33 anos, vive à sombra do suicídio do pai,
expiação. Sylvia Plath diz isso claramente e sem
cometido quando ele tinha a mesma idade – além do
evasivas no poema que escreveu sobre o seu pai
histórico de outros doze suicidas na família. Vários morto, ‘Daddy’:
outros romances, nesse sentido, podem ser
lembrados: o narrador de O náufrago, de Bernhard Se matei um homem, matei dois –
O vampiro que disse que era você
(1996), desenvolve boa parte das reflexões que dão
E bebeu meu sangue um ano inteiro,
corpo a seu monólogo interior, apresentado em um
Sete anos, se você quer saber.
único parágrafo, com base no suicídio – por Papai, você pode se deitar agora.
enforcamento – de Wertheimer, seu amigo próximo Tem uma estaca no seu coração gordo e preto [...]
(trata-se do personagem ‘náufrago’ que dá nome ao (Alvarez, 1999, p. 113).
romance). Os três filhos de James O. Incandenza –
em especial, Hal –, no há pouco mencionado Graça Nesse comentário, Alvarez procura explicitar,
infinita, apresentam severas sequelas psicológicas conforme a exposição freudiana sobre a melancolia,
causadas pelo trauma em face da morte voluntária do de que forma “[...] uma pessoa pode pôr fim à
pai. Todas as experiências vividas pelo protagonista própria vida em parte para expiar a culpa que ela
de Barba ensopada de sangue (2012), de Daniel Galera, fantasia ter pela morte de alguém que amava, e em
tomam como ponto de partida o suicídio de seu pai parte porque imagina que esse alguém que morreu
– com um tiro de pistola. O mesmo vale para Minha continua vivendo dentro dela” (Alvarez, 1999, p.
mãe se matou sem dizer adeus (2010), de Evandro 113).
Affonso Ferreira, cujo narrador – um velho Outro exemplo pode ser construído a partir da
aguardando pelo momento iminente de sua morte, novela Mathilda (1820), de Mary Shelley. A
“Alimentado com leite de mãe niilista [...]” narradora, que dá nome ao texto, é uma jovem que
(Ferreira, 2010, p. 16) – escreve, com amargura, sofre com o impulso incestuoso de seu pai – a quem
tendo sempre em mente o autoaniquilamento de sua ela dedicava toda a sua devoção. Após revelar seus
progenitora: “Ficaria menos triste se ela minha mãe desejos à filha, mas sem levá-los à consumação
tivesse deixado pelo menos um bilhete elíptico com carnal, ele comete suicídio, e a própria Mathilda,
apenas três vocábulos: PERDÃO PRECISO desorientada tanto pela revelação quanto pela atitude
PARTIR. Mas partiu sem dizer adeus” (Ferreira, extrema do pai, considera a possibilidade de tirar a
2010, p. 37). própria vida. Mas há um impedimento:
Em todos esses casos, faz-se possível vislumbrar a
Eu acreditava que, pelo suicídio, eu violaria uma
amargura daqueles que precisam lidar com a morte
divina lei da natureza, e pensava que tinha feito a
voluntária de pessoas que lhes eram próximas, e minha parte suficientemente, submetendo-me à
análises profícuas podem ser desenvolvidas nesse dura tarefa de resistir à rastejante passagem das horas
sentido. e dos minutos, suportando a carga do tempo que
f) Quando tratamos das aproximações e pesava sobre mim de uma forma terrível e abstendo-
distanciamentos entre a abordagem do tema a partir me do que, em meus momentos mais calmos, eu
dos estudos literários e de outras áreas que também considerava um crime [...]. Havia períodos,
horríveis, durante os quais eu me desesperava e,
se debruçam sobre ele, como a filosofia, a sociologia,
então, duvidava da existência de todo dever e da
a psicanálise e a teologia, deve interessar-nos, realidade do crime, mas estremecia e afastava-me
principalmente, a observação de como as reflexões depressa das lembranças (Shelley, 2016, p. 88).
apresentadas em estudos dessas áreas se aplicam em
Mathilda implora pela morte em suas orações,
abordagens poéticas, narrativas e dramáticas do
mas não se sente autorizada a cometer o
suicídio, e em que medida, ou de que forma, o trato
autoaniquilamento por considerá-lo crime contra
literário sobre o tema corrobora, relativiza ou
‘uma divina lei da natureza’. Há, nessa concepção,
contradiz tais reflexões. Como um primeiro
um argumento teológico, de modo que a novela
exemplo, tomemos a análise proposta por Alvarez
pode ser estudada em diálogo com a interdição do
sobre o poema ‘Daddy’, de Sylvia Plath, com base ato conforme muitos autores da teologia. A solução
em uma leitura psicanalítica, a partir do ensaio Luto e encontrada por Shelley diante do impasse segue o
melancolia, de Freud: mesmo caminho: sua protagonista acaba adoecendo,
Na melancolia, [...] a culpa e a hostilidade são e morre por ‘vias naturais’, sem infringir as leis
grandes demais. É como se o melancólico acreditasse divinas.
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g) Há também a possibilidade de se pensar pontiaguda; Bonnie, enforcada, e Lux, asfixiada com


diálogos entre o suicídio na literatura e em outras o gás do carro (Eugenides, 2013). A possibilidade de
manifestações artísticas, tais como pintura, cinema e aproximação com 2:37 se estabelece, por exemplo,
música. O filme australiano 2:37 (2006), dirigido por ao observarmos os motivos que levam adolescentes a
Murali Thalluri, é um bom exemplo. Logo na optar pelo autoaniquilamento. Ainda mais
primeira cena, temos a impressão de que alguém se pertinente, nesse sentido, é o romance Os 13 porquês
suicidou no banheiro de um colégio. Na sequência, (2007), de Jay Asher (2009), cujo suicídio da
vários recortes apresentam o cotidiano de alguns protagonista, Hannah Baker, está diretamente
estudantes nesse mesmo ambiente, todos com vinculado, a exemplo do filme de Thalluri, ao
possíveis motivos para tirar a própria vida: um garoto ambiente educacional, envolvendo questões como
que possui incontinência urinária, e sempre suja as bullying, assédio sexual e sentimento de rejeição. Vale
calças em sala de aula; outro que é representativo da mencionar que os dois romances ganharam
virilidade masculina, líder do time de futebol adaptações, respectivamente para o cinema e a
americano e namorado da garota popular do colégio, televisão.
sentindo-se obrigado a esconder sua Outro exemplo, consideravelmente inusitado, é
homossexualidade; uma garota que é estuprada pelo um disco de heavy metal recentemente lançado pela
banda The Reticent. O disco em questão, On the Eve
próprio irmão e engravida. No total, são seis casos.
of a goodbye (2016), apresenta, faixa a faixa, uma
Os recortes de cenas são compostos ora mostrando
sequência narrativa que mostra as últimas 24 horas
flashes de situações vividas por esses personagens, ora
de Eve, uma garota que se suicida. Desde o título,
colocando-os diante da câmera, em gravações em
percebemos o esmero estético na concepção da obra,
preto e branco, como se eles estivessem dando um
por meio do jogo possível com a palavra Eve, que,
depoimento. Ao final do filme, descobrimos que
além do nome da suicida, é substantivo em língua
nenhum dos seis era o suicida do banheiro: tratava-
inglesa que significa ‘véspera’. O título do disco,
se de uma garota, Kelly, cuja vida sequer havia sido assim, pode ser traduzido como ‘Na véspera de um
contemplada na narrativa. A personagem aparece adeus’, sem que se perca a percepção de que o nome
timidamente em algumas cenas, e o motivo que a da personagem também se inscreve nele. Um jogo
leva ao ato derradeiro é justamente o fato de ela se semelhante aparece no título da última faixa do
sentir invisível, negligenciada. A última cena mostra disco, ‘For Eve’ – literalmente, ‘para Eve’ –, que se
o suicídio em tons bastante naturalistas: Kelly se aproxima da expressão for ever (‘para sempre’), talvez
tranca no banheiro, e, munida de uma tesoura, abre indicando que a personagem sempre será lembrada,
uma ferida em seu pulso. A partir daí, nós a vemos ou que sua ausência sempre será sentida. O eu-lírico
sangrar até a morte, lentamente, acompanhando seus dessa narrativa em versos é um amigo que sofre pela
espasmos finais, enquanto o sangue se projeta pelo perda de Eve, e as músicas acompanham seu trajeto
piso. até o funeral da personagem (Funeral for a firefly),
O filme se abre ao diálogo com a literatura tanto chegando até o dia seguinte (The day after). Nesse
no tocante à sua composição estética quanto à momento de solidão, alternando passagens
temática. No primeiro caso, por conta de sua instrumentais, líricas e vocais de passividade
estrutura narrativa pouco usual, é pertinente abordá- melancólica com outras de uma raiva incontida –
lo a partir das teorias da narrativa, talvez “Por que você teve que morrer? Por que você foi
considerando, principalmente, sua fragmentação embora?” (Reticent, 2016), versos mais berrados do
composicional, que acaba por refletir a subjetividade que cantados –, o eu-lírico escuta, em uma projeção
fragmentada dos personagens. Quanto à temática, o quase enlouquecedora, a voz da suicida provinda de
suicídio entre adolescentes – cada vez mais presente seu túmulo, materializada por um vocal feminino. O
em discussões nas mídias e redes sociais – também é pungente da situação atinge seu ápice no
tratado em obras literárias, sendo possível o reconhecimento contido em versos como: “Não há
desenvolvimento de uma análise comparada. As mais ‘eu e você’. Há apenas ‘eu’, conversando com
virgens suicidas, de Eugenides, conta a história da fantasmas”. (Reticent, 2016, grifos do autor).
família Lisbon: cinco irmãs, adolescentes, sufocadas O mesmo vale para a maneira como a banda
pela concepção arcaica, excessivamente patriarcal, de escolhe representar o suicídio de Eve no disco: este
educação e disciplina a que são submetidas sob o acontece durante a faixa intitulada The decision. Logo
jugo de seus pais (a mãe, principalmente), acabam se após uma súplica do eu-lírico – “O que você está
suicidando: Mary e Therese, com remédios para fazendo? Por favor, não faça isso! Espere, apenas me
dormir; Cecilia, atirando-se do segundo andar do ouça... Você não precisa fazer isso. Por favor, não!
sobrado dos Lisbon em direção a uma cerca Por favor, não!” (Reticent, 2016), em um
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movimento crescente, o andamento instrumental se finalizar a peça, a autora se mataria enforcada com os
torna cada vez mais pesado e dissonante, e o volume próprios cadarços enquanto estava internada em uma
do som também aumenta gradativamente. Esse clínica de observação para suicidas. Logo no início
ríspido caos sonoro que dá lugar à música, de seu amplo estudo sobre a depressão, Solomon
representando os últimos instantes de vida da pondera: “Na depressão, a falta de significado de
personagem, é, então, cortado bruscamente, como se cada empreendimento e de cada emoção, a falta de
a faixa possuísse um defeito, estivesse incompleta... significado da própria vida se tornam evidentes. O
Nesse momento, sabemos que Eve se matou. único sentimento que resta nesse estado despido de
Considerando que o disco se apresenta em forma de amor é a insignificância” (Solomon, 2014, p. 15).
narrativa, e também o trato poético a ela conferido – Esse sentimento se reflete em várias passagens da
tanto em se tratando das letras quanto da própria peça de Kane, como a seguinte:
construção instrumental –, torna-se convidativo
Eu estou triste
abordá-lo a partir das teorias da narrativa e da poesia. Eu sinto que o futuro é desolado e as coisas não
Além disso, a situação apresentada consiste em podem melhorar
ótimo exemplo para se pensar a reação daqueles que Eu estou entediada e insatisfeita com tudo
foram deixados, conforme comentamos acima. Eu sou um completo fracasso como pessoa
h) A composição de mapeamentos também se faz [...]
pertinente, e as possibilidades que se abrem para essa Eu quero me matar
atividade são inesgotáveis. Por exemplo, compor um Eu costumava conseguir chorar, mas agora estou
além das lágrimas
quadro mapeando a questão do suicídio em
Eu perdi o interesse em outras pessoas
literaturas de autoria feminina (em recortes de
Eu não consigo tomar decisões
tempo diversos), ou em manifestações da literatura Eu não consigo comer
pós-colonial, em gêneros literários específicos, Eu não consigo dormir
autores e obras do Romantismo, obras que tratam de Eu não consigo pensar
guerra, narrativas góticas, narrativas fantásticas, etc. Eu não consigo superar minha solidão, meu medo,
Recuperando o tópico anterior, é igualmente meu nojo
importante observar a ocorrência da morte [...]
voluntária em personagens literários que são Às 4.48
quando o desespero vem
adolescentes, personagens femininas, homossexuais,
eu vou me enforcar (Kane, 2017, p. 7-8).
não brancos, personagens que pertencem a uma elite
intelectualizada, à classe média, que vivem em Além disso, sendo a depressão via de regra
situação de extrema miséria, heróis e vilões (clássicos abordada e ‘tratada’, em termos científicos e
e modernos), protagonistas, coadjuvantes, e muitos médicos, por profissionais da área da saúde, devemos
outros. Ainda que, à primeira vista, de cunho mais observar de que forma o maníaco-depressivo e
quantitativo e ‘generalizante’, estudos desse tipo suicida se comporta com relação a essa possibilidade
ajudariam a trazer visibilidade para a notável de ajuda/tratamento. No caso de Psicose 4:48, temos,
expressividade com que o tema é tratado na por exemplo, a seguinte passagem:
literatura – apontando para a necessidade de se
Médicos inescrutáveis, médicos sensatos, médicos
desenvolver mais pesquisas a respeito. Mais
estranhos, médicos que você pensaria serem as
importante, viabilizariam um entendimento porras dos pacientes se não te provassem o contrário,
sistematizado sobre como orientações estéticas fazem as mesmas perguntas, colocam palavras na
específicas abordam a questão, bem como de que minha boca, oferecem curas químicas para angústia
forma, e com que frequência, estas retratam o congênita e livram os rabos uns dos outros até eu
suicídio em grupos sociais e culturas específicas. querer gritar por você [...], que mentiu e disse que
i) Por fim, consideremos confluências entre o era legal me ver. Que mentiu. E disse que era legal
tema da morte voluntária e outros temas afins na me ver. Eu confiei em você, eu amei você, e não é te
matéria literária, como a depressão, o trauma, o perder que me machuca, mas sim essa sua porra de
falsidade na cara-dura mascarada em notas médicas
vazio, o silêncio, a angústia ou a melancolia. O
(Kane, 2017, p. 10-11).
recorte que aqui apresentamos diz respeito,
especificamente, à questão da depressão. A peça O trecho é emblemático do acento amargo e
Psicose 4:48 (Kane, 2017), da dramaturga Sarah Kane, irônico com que a autoridade da medicina/psicologia
não apresenta uma representação explícita do é tratada por aquele que, recuperando uma expressão
autoaniquilamento, mas é inteira construída ao redor de Alvarez (1999, p. 127), se encontra no “[...]
do tema, mostrando as torturas de uma subjetividade mundo fechado do suicídio [...]”, como se
atormentada pela depressão. Pouco tempo depois de pretendendo expressar que qualquer ajuda ou
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entendimento ofertados por essa suposta autoridade voluntária, a literatura sempre apresenta grande
quedam muito aquém de eventuais possibilidades de abertura para um diálogo profícuo com outras áreas
compreensão e intervenção. Este parece ser um do conhecimento, e é nessa possibilidade de diálogo
padrão recorrente: também em As virgens suicidas, A que encontraremos suporte teórico-crítico para o
redoma de vidro e Graça infinita – os dois últimos estudo do assunto. Alguns exemplos de como o
diretamente vinculados à questão da depressão – suicídio na literatura pode ser analisado em conjunto
encontramos o mesmo tom de deboche quanto à com perspectivas de outras áreas já foram
possibilidade de ajuda ofertada por psiquiatras e demonstrados mais acima. Resta-nos, agora,
psicanalistas. enumerar algumas obras que servem a esse
propósito. Diante do amplo quadro de títulos a
Direcionamentos teórico-críticos seguir, vale mencionar novamente que, a princípio,
Não possuímos uma teoria especificamente não há determinantes históricos ou de outra ordem
literária para servir-nos de suporte nessas análises. O no processo de apropriação desses estudos em
livro de Alvarez, sempre nosso ponto de partida, é suporte a análises literárias. Desde que observadas as
talvez o mais próximo que já chegamos de uma exigências ou necessidades do próprio corpus,
‘teoria do suicídio na literatura’. Ainda assim, o teor direcionamentos teórico-críticos variados podem ser
das reflexões apresentadas pelo autor, a abrangência estabelecidos para a pesquisa sobre uma mesma
de sua abordagem sobre a morte voluntária em obra.
âmbitos diversos, e alguns comentários dedicados a Na filosofia, além dos textos de Camus, Cioran,
casos particulares, talvez devam ser tomados, em Novalis e Donne mencionados acima, todo o
conjunto, mais como um suporte crítico – material compilado no volume organizado por
obviamente, de valia inestimável – do que teórico. Fernando Rey Puente oferece grandes contribuições.
Para além dele, temos contribuições específicas Destacamos, nesse quadro, o terceiro capítulo do
de alguns autores que se dedicaram à produção Livro II dos Ensaios (1580) de Montaigne (2008), e
literária, mas que se aproximam mais do texto principalmente o ensaio ‘Sobre o suicídio’, capítulo
filosófico, como é o caso de O mito de Sísifo (1942), 13 da obra Parerga e Paralipomena (1851), de
de Albert Camus (2008), e a pequena seção Schopenhauer (2008). Apesar de Puente não trazer,
intitulada ‘Rencontres avec le suicide’, presente no no livro, nenhum texto de Nietzsche sobre o
volume Le mauvais démiurge (1969), de Cioran (1979) assunto, seu ensaio introdutório apresenta um
– este de caráter mais aforístico, aquele de inclinação resumo sobre comentários dispersos na obra do
notadamente ensaística. Ainda, Pólen (1799), de filósofo alemão. Segundo o autor, a aprovação da
Novalis, que não trata especificamente do suicídio, morte livre (Freitod) em Nietzsche
parece apresentar em germe uma possível teorização
[...] aparece em diversas passagens esparsas de suas
sobre o tema, também em tom mais filosófico: “O
obras mais importantes, em alguns conhecidos
ato filosófico genuíno é suicídio; tal é o real começo parágrafos ou aforismos das mesmas, como, por
de toda filosofia, nessa direção vai todo o exemplo, o de número 157 de Além do bem e do mal,
carecimento do novato filosófico, e somente esse ato que diz: “O pesamento do suicídio (Selbstmord) é um
corresponde a todas as condições e características da forte consolo: com ele podem-se atravessar muitas
ação transcendental” (Novalis, 2001, p. 31). noites difíceis.” Mas, talvez o trecho mais conhecido
Quanto à obra A Nova Heloísa (1761), de Jean- de uma obra de Nietzsche que trata do suicídio seja
Jacques Rousseau, ainda que se costume tratar as o discurso de Zaratustra sobre a morte livre. No
início desse discurso Zaratustra afirma: “Muitos
epístolas XXI e XXII (Rousseau, 2008), que
morrem demasiadamente tarde e outros
discutem o autoaniquilamento, como pertencentes demasiadamente cedo. Ainda soa estranha a
ao âmbito da filosofia, o compreendemos aqui muito doutrina: ‘morra no tempo certo!’. Morra no tempo
mais como um trato literário/ficcional do tema, pois, certo: assim ensinava Zaratustra (Puente, 2008,
ainda que o conteúdo seja de inclinação filosófica, p. 41).
trata-se evidentemente de um romance epistolar.
Dos lábios de Zaratustra é proferida, portanto, a
Por fim, o Biathanatos (1608), do poeta John Donne
consonância de seu criador com a reflexão
(1982), é claramente um ensaio de orientação
apresentada, muito antes, por Sêneca (que viria a
filosófica e teológica. cometer suicídio, tendo sido forçado ao ato
Levando em conta essa aparente diluição dos mediante acusação de ter conspirado contra Nero),
limites entre texto literário e filosófico, devemos na epístola 70 das Epístolas a Lucíolo, VIII (escritas
observar que, no que pese não possuirmos uma entre os anos 63 e 65): “[...] não é sempre que a vida
teorização especificamente literária sobre a morte deve ser conservada; na verdade, bom não é viver,
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mas viver bem. Assim, o homem sensato viverá o intitulado ‘Suicide’, e também oferece um panorama
quanto deve e não o quanto pode” (Sêneca, 2008, diversificado que transita pelas três áreas aqui
p. 67-68). enumeradas. O mesmo pode ser dito sobre Suicide
Também ausente na compilação de Os filósofos e o and attempted suicide (1964), de Erwin Stengel, que,
suicídio, mas comentado por seu organizador, temos apesar de se filiar muito mais à psicologia, também
Paul Ludwig Landsberg (1951 apud Puente 2008) , estabelece relações com a antropologia e a sociologia.
autor do ensaio Le problème moral du suicide (1942). O Acrescentamos, ainda, o estudo de Geo Stone (2001)
pouco conhecido Les jours d’exil, de Ernest que carrega o mesmo título de Stengel, Suicide and
Cœurdoroy (1856), apresenta uma seção intitulada attempted suicide (1999), The encyclopedia of suicide
‘Marina: sur le suicide’ (1855). Além disso, não (2003), de Glen Evans e Norman Farberow, e The
discutindo especificamente o tema do suicídio, mas anatomy of suicide (1840), de Forbes Winslow.
refletindo sobre questões análogas, podemos tomar Percorrendo a tangente, mas apresentando possíveis
mão das contribuições de Sören Kierkegaard (2007a; diálogos com o tema, devemos lembrar de A tinta da
2007b) em O conceito de angústia (1844) e O desespero melancolia: uma história cultural da tristeza (2012), de
humano (1849). Por fim, o próprio ‘O suicídio e a Jean Starobinski (2016), e do célebre A anatomia da
filosofia’, de Puente, é um ótimo introito ao assunto melancolia (1631), de Robert Burton (1883).
no âmbito dos estudos filosóficos, oferecendo um Considerando a área da psicologia mais
panorama consistente e uma série de indicações para especificamente, o conhecido ensaio de Sigmund
leituras posteriores. Freud (2013) intitulado ‘Luto e melancolia’ (1915)
Da teologia, tendo em vista que muitos dos continua a ser o grande paradigma. A quantidade de
trabalhos escritos sobre a morte voluntária acabam pesquisas e estudos de caso que seguem a esteira do
sendo lidos também como ensaios filosóficos, pai da psicanálise é imensurável. Pelo volume
limitamo-nos a recuperar alguns autores e obras significativo do trabalho, e pela abrangência da
mencionados nas últimas linhas: Kierkegaard, por abordagem, um título que pode ser mencionado
exemplo, é um nome representativo em ambas as como relevante na psicologia é The international
áreas do conhecimento, e o Biathanatos, de Donne, handbook of suicide and attempted suicide (2000), de
como já observamos, também se presta tanto à Keith Hawton e Kees van Heeringen (2006). Ainda,
apreciação filosófica quanto à teológica. Para além Edwin Shneidman, fundador do Los Angeles Suicide
deles, não podemos deixar de mencionar as duas Prevention Center, é autor de vasta bibliografia sobre o
maiores autoridades da Igreja, donos de um legado assunto na área.
determinante para a condenação do ato derradeiro na Paralelamente a esses materiais que fornecem um
posteridade: Agostinho de Hipona (2007) e Tomás suporte mais teórico, temos também alguns estudos
de Aquino (2008), que abordam o assunto, em crítica e análise literária que abordam o assunto.
respectivamente, em A cidade de Deus (426) e na Nesse sentido, vale menção, principalmente,
Suma Teológica (1485). O quadro de teólogos que se Surviving literary suicide (1999), de Jeffrey Berman,
investiram da herança deixada por esses dois que trata de autores suicidas e do impacto causado
pioneiros é extenso demais para abordarmos aqui. por suas obras; ou, ainda, trabalhos que se debruçam
Da mesma forma, áreas como a antropologia, a sobre autores específicos, como é o caso de Suicide
sociologia e a psicologia (as duas últimas, em century: literature and suicide from James Joyce to David
especial) são, provavelmente, aquelas que têm Foster Wallace (2017), de Andrew Bennett, e A poética
rendido o maior número de estudos sobre a morte do suicídio em Sylvia Plath (2003), de Ana Cecília
voluntária. Via de regra, no entanto, tais estudos Carvalho.
remetem geralmente a algumas obras fundamentais Por fim, retornando à questão da ausência de
provindas de cada um desses campos do teorizações propriamente literárias sobre a morte
conhecimento. O ponto de partida incontestável nos voluntária, gostaríamos de encerrar nossas reflexões
estudos sociológicos sobre o tema, por exemplo, é o indicando, sem oferecer maiores discussões, três
célebre O suicídio: estudo de sociologia (1897), de Émile temas que, parece-nos, merecem um futuro
Durkheim (2000). Transitando entre a sociologia e a desdobramento teórico em nossa área de estudo. O
antropologia, e apresentando ainda discussões primeiro deles é a questão da representação do
políticas em tom anarquista, podemos mencionar suicídio na literatura. Ainda que tenhamos, mais
Suicídio: modo de usar (1983), de Claude Guillon e acima, proposto sugestões de análises direcionadas a
Yves Le Bonniec (1984). O recente volume O esse aspecto (e, de fato, o consideramos uma
demônio do meio-dia: uma anatomia da depressão (2001), possibilidade de abordagem muito pertinente), ele
de Andrew Solomon, trata mais especificamente da possui uma dimensão teórica que precisa ser
depressão, mas apresenta um capítulo específico aprofundada, no sentido de se discutir até que ponto
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– e de que forma, ou por via de quais mecanismos – Alvarez, A. (1999). O deus selvagem: um estudo do suicídio. (S.
a obra literária pode efetivamente representar algo Moreira, Trad.). São Paulo, SP: Companhia das Letras.
tão limítrofe quanto um ato que põe fim a uma André, W., & Souza, G. R. (2017). O suicídio e a literatura. In
existência voluntariamente. Merece igual atenção a Anais do 1º Encontro Nacional de Diálogos Literários: um olhar
questão de se pensar a própria escrita literária como um para as poéticas contemporâneas (p. 459-467). Campo
Mourão, PR.
suicídio – talvez uma espécie de autoaniquilamento
simbólico que, por um lado, pode impedir e/ou Aquino, T. de (2008). Suma de Teologia IIª II, Q. 64, a. 5. In
F. R. Puente (Org.), Os filósofos e o suicídio (p. 77-82, F. R.
substituir o ato em si, ou, em via oposta, acabar
Puente, Trad.). Belo Horizonte, MG: UFMG.
acelerando o processo de autodestruição, como no caso
Asher, J. (2009). Os 13 porquês. (J. A. Lemos, Trad.). São
já mencionado de Sylvia Plath –, também carente de Paulo, SP: Ática.
um aprofundamento em termos mais teóricos. A
Bennett, A. (2017). Suicide century: literature and suicide from
respeito desses dois temas, já propusemos uma breve James Joyce to David Foster Wallace. Cambridge, UK:
reflexão inicial4. Em terceiro lugar, devemos também Cambridge University Press.
considerar uma possível teorização sobre as relações Berman, J. (1999). Surviving literary suicide. Amherst, MA:
entre suicídio e amor no Romantismo como realização University of Massachusetts Press.
da busca transcendental pela verdade5. Considerando a Bernhard, T. (1996) O náufrago. (S. Tellaroli). São Paulo, SP:
condição de ponto de partida em que nos encontramos, Companhia das Letras.
o desenvolvimento de estudos de orientação teórica Bortolotto, M. (2003). Homens, santos e desertores. In M.
sobre essas três questões ajudará a fornecer maior Bortolotto. Doze peças de Mário Bortolotto (Vol. IV, p. 59-
fundamentação para a condução de futuras pesquisas. 80). Londrina, PR: Atrito Editorial.
Burton, R. (1883). The anathomy of melancholy.
Considerações finais Philadelphia: E. Claxton & Company.
O estudo do suicídio na literatura é, em grande Camus, A. (2008). O mito de Sísifo. (6a ed., A. Roitman, &
P. Wacht, Trad.). Rio de Janeiro, RJ: Record.
parte, um trabalho ainda por fazer. O tema é sempre
atual sempre controverso, e a literatura, possuidora de Carrère, E. (2002). O bigode. (V. Mara, Trad.). Rio de
Janeiro, RJ: Rocco.
intimidade notória com questões delicadas e
espinhosas, oferece condições e e subsídios dos mais Carvalho, A. C. (2003). A poética do suicídio em Sylvia Plath.
Belo Horizonte, MG: UFMG.
adequados para a realização da empresa. A título de
encerramento, devemos repetir que não estamos Cioran, E. M. (1979). Rencontres avec le suicide. Dans E.
desconsiderando o fato de sempre ter-se empreendido M. Cioran, Le mauvais demiurge (p. 71-99). Paris, FR:
Gallimard.
estudos literários esparsos sobre o tema, mas sim
propondo que estes sejam consolidados em uma Cœurdoroy, E. (1856). Marina. - Sur le suicide. In E.
Cœurdoroy, Jours d’exil, deuxième partie (p. 291-325).
cultura de abordagem mais consistente sobre o suicídio
London, UK: John Churchill.
em nossa área de atuação. Da mesma forma, tanto os
Donne, J. (1982). Biathanatos: A modern-spelling edition, with
operadores de leitura propostos, quanto o quadro de
introduction and commentary by M. Rudick & M. P. Battin.
referências teórico-críticas, e também a seleção de New York/London: Garland.
possíveis temas para desdobramentos teóricos,
Dostoiévski, F. (2004). Os demônios. (P. Bezerra, Trad.).
limitam-se ao âmbito da sugestão. Obviamente, além
São Paulo, SP: Editora 34.
das direções aqui apontadas, muitas outras podem ser
Durkheim, É. (2000). O suicídio: estudo de sociologia. (M.
acrescentadas no desenvolvimento desse percurso6.
Stahel, Trad.). São Paulo, SP: Martins Fontes.
Eugenides, J. (2013). As virgens suicidas. (D. Pellizzari,
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Rio, & M. F. Lanero, Trad., Obras completas de San Rio de Janeiro, RJ: Record.
Agustín, XVI. Edicion bilingüe). Madrid, ES: Biblioteca Freud, S. (2013). Luto e melancolia. (M. Carone, Trad.). São
de Autores Cristianos. Paulo, SP: Cosac Naify.
Galera, D. (2012). Barba ensopada de sangue. São Paulo, SP:
4
Ver o artigo mencionado em nossa Nota de Rodapé n. 1, principalmente as Companhia das Letras.
páginas 464 e 466.
5
Gabriel Pinezi (2016) apresentou algumas reflexões sobre essa questão em Guillon, C., & Bonniec, Y. L. (1984). Suicídio: modo de usar.
comunicação intitulada ‘O ato filosófico genuíno é o suicídio: poesia, amor e (M. Â. Villas, Trad.). São Paulo, SP: EMW Editores.
transcendência no romantismo’.
6
Agradecemos, por sua inestimável contribuição para a produção deste artigo Guimaraens, A. (2001). Ismália. In I. Moriconi (Org.), Os
em conversas travadas sobre o assunto, a Lara Luiza Oliveira (mestrado, UEM), cem melhores poemas brasileiros do século (p. 45). Rio de
Gabriel Pinezi (pós-doutorado, UNESP) e Gustavo Ramos de Souza (doutorado,
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