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Conteudista: Prof.ª Dra. M.ª Ana Alice Reis Pieretti | Prof.ª M.ª Caroline
Battistello Cavalheiro de Souza
Revisor Técnico: Prof. Me. Bruno Pinheiro Ribeiro
Revisão Textual: Esp. Camila Colombo dos Santo
Objetivos da Unidade:
ʪ Contextualização
ʪ Material Teórico
ʪ Material Complementar
ʪ Referências
TEMA 1 de 4
ʪ Contextualização
ʪ Material Teórico
Introdução
Henri Paul Hyacinthe Wallon nasceu em 1879 em Paris, na França. Formou-se em Filosofia,
passou pela faculdade de Medicina e, posteriormente, iniciou os estudos em Psicologia. Entre
1908 e 1914, dedica-se à Psiquiatria Infantil, trabalhando em diferentes serviços hospitalares.
Passa pela experiência intensa e traumática de ser médico no interior da Primeira Guerra
Mundial e, após isso, revê uma série de preceitos e práticas.
Entre 1937 e 1949, leciona no Collége de France propondo uma cadeira que se chamava
“Psicologia e Educação Infantil”. Em 1936, participa junto da Frente Popular de um projeto de
implementação chamado de “as classes novas”, no qual “classes de sexta série onde, pela
primeira vez, se praticavam os métodos ativos e a observação contínua dos estudantes,
largamente inspirados, entre outros, por Decroly” (GRATIOT-ALFANDÉRY, 2010, p. 14). Esse
projeto foi abruptamente interrompido com a erupção da Segunda Guerra Mundial e somente
retomado em meados dos anos 1940, de modo reduzido e limitado.
O Papel do Professor
O professor ocupa uma posição muito importante na educação do sujeito. Ele é parte essencial da
instituição escolar, principalmente para o ensino de conteúdos culturais e para a formação
acadêmica e integral. O papel do professor, na visão de Wallon, é o de manter a Unidade grupal
(manter o grupo de alunos uno), percebendo as questões dos alunos ao mesmo tempo que se
mantém afastado para que não seja influenciado por elas, de maneira que essas questões não
interfiram no processo de ensino e aprendizagem (GALVÃO, 1993).
Wallon também trata de outra questão para a qual o professor deve se atentar: suas próprias
manifestações afetivas. Estas possivelmente surgirão em relação aos seus alunos, por exemplo,
uma manifestação de raiva em relação a um aluno com comportamento inadequado. Na visão de
Wallon, não cabe ao professor controlar as situações de sala de aula a partir do domínio das
manifestações dos estudantes, mas sim entender o seu significado e lidar com essas
manifestações, de forma que possibilitem uma melhor aprendizagem (GRATIOT-ALFANDÉRY,
2010).
Além disso, para Wallon, o professor não é o detentor do saber e o único responsável pela
transmissão do conteúdo, da mesma forma que também não é legado somente à criança decidir
sobre essa questão. Porém, a intervenção do professor ainda é um fator essencial para o
desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos e para a incorporação do conteúdo (GALVÃO,
1993).
O Sujeito Estudante
O estudante é o sujeito que vai aprender os conhecimentos da sua cultura. É importante
considerar que cada estudante apresenta particularidades tanto em seu nível de
desenvolvimento quanto em relação ao contexto no qual está inserido. Dessa forma, ele deve ser
considerado como um todo, respeitando-se os aspectos biológicos, sociais e psicológicos dele.
Na perspectiva de Wallon, o aluno deve ser visto pelo professor como o centro do processo
educativo, ou seja, deve ser considerado desde o planejamento das aulas até o momento da
avaliação. O docente deve levar em conta que os alunos possuem potencialidade cognitiva de
acordo com o seu desenvolvimento mental, a sua idade e a sua história de vida (BESSA, 2008).
Além disso, Wallon considera que o aluno enquanto sujeito atua diretamente sobre o mundo.
Inicialmente essa atuação ocorre com os avanços em sua motricidade, o que fornece alguma
autonomia para ele agir sobre o ambiente. Essa autonomia é aumentada a partir do momento
que o sujeito adquire linguagem e, dessa maneira, desenvolve habilidades mais sofisticadas para
lidar com o ambiente.
A partir da consideração do aluno como um todo, levando em conta as suas ques tões biológicas,
psicológicas e sociais, é necessário entender como Wallon descreve qual é a função social da
escola para possibilitar o desenvolvimento desse aluno. Esse é o tema do próximo tópico.
O Projeto Langevin-Wallon
O projeto Langevin-Wallon surgiu em 1944 quando Wallon foi convidado pelo Ministério de
Educação Nacional para fazer uma reforma no ensino francês. Wallon substituiu Langevin, que
era presidente da comissão para a reforma do ensino, em 1946. O projeto, que nunca chegou a
ser implantado, foi iniciado por Langevin e teve sua versão final redigida por Wallon. É
considerado a expressão mais clara de seu modelo pedagógico (GALVÃO, 1995).
O projeto deveria garantir o acesso à cultura e permitir que o sistema educacional se adequasse
às necessidades tanto da sociedade democrática quanto às questões individuais, tendo como
principal objetivo favorecer o desenvolvimento do sujeito (GALVÃO, 1993).
O projeto Langevin-Wallon foi pensado como uma resposta ao contexto social da época e
demonstra o respeito dos autores pela instituição escolar e pelo professor. Além das diretrizes
norteadoras, a serem apresentadas no próximo tópico, o projeto apresenta uma visão de que a
metodologia do ensino deve ser adequada segundo as capacidades dos alunos e deve alternar
entre várias atividades para o desenvolvimento de capacidades intelectuais e sociais (MAHONEY;
ALMEIDA, 2009).
Justiça
Toda criança, independentemente de seu contexto social, deve ter direito a seu desenvolvimento
completo, em todos os aspectos do sujeito.
Orientação
Necessidade das orientações escolar e profissional para o desenvolvimento do sujeito, de forma
que ocorre primeiro a orientação escolar para depois haver a profissional.
Cultura Geral
Não há especialização sem cultura geral, de maneira que a especialização afasta os homens e a
cultura geral permite que eles não fiquem limitados pelo tecnicismo.
No primeiro grau, essa mudança estava dividida em três ciclos, de acordo com a idade das
crianças.
Os participantes do ambiente escolar estabelecem uma relação temporal, que consiste em aliar o
passado, representado pelo professor, e o presente, representado pelo aluno. A escola tem como
objetivos principais a apropriação da cultura e o desenvolvimento completo do aluno.
Para que o professor consiga cumprir bem sua função social, faz-se necessário pensar em sua
formação acadêmica e psicológica, de forma que ele é um dos principais responsáveis pela
formação do aluno, não apenas ao ensinar os conteúdos escolares, mas também no
desenvolvimento do estudante como um ser humano.
Figura 2 – Horizonte – John Miller
Fonte: Wikimedia Commons
Os Grupos e o Meio Educacional
A vivência em grupo é importante para a formação e o desenvolvimento dos seres humanos e se
inicia no momento em que a criança nasce. Para Wallon, o meio no qual a criança se desenvolve
é fundamental para o seu estudo. O meio consiste no conjunto de circunstâncias nas quais as
pessoas se desenvolvem, sendo a escola um ambiente funcional e de muita importância para o
desenvolvimento infantil (MAHONEY; ALMEIDA, 2009).
O grupo começa a surgir na vida do sujeito a partir da diferenciação desse sujeito com o outro,
iniciando aos 3 anos de idade, no contexto familiar. Na idade dos 3 aos 5 anos, o professor pode
facilitar o processo de diferenciação entre a criança e o outro, com as tarefas em grupo, por
exemplo. Entre os 6 e 7 anos, ocorre a tentativa da criança de ingressar em grupos voltados para
brincadeiras e jogos. Na fase da adoles cência, podem aparecer grupos para fazer oposição aos
adultos e como forma de fuga da realidade (MAHONEY; ALMEIDA, 2009).
O professor deve se atentar para os papéis vivenciados no grupo e evitar que es ses papéis sejam
fixados. Por exemplo, o aluno deve experimentar o papel de líder, mas também de liderado. Outra
questão que o educador deve observar é sobre elaborar grupos com outras funções além do
brincar, por exemplo, grupos de estudo, e também analisar momentos em que o aluno preferir
permanecer sozinho, pois a singularidade do sujeito deve ser mantida.
Outra questão levantada sobre o grupo é que a interação com o outro e com a cultura vai ampliar
o conceito de socialização, de maneira que possibilita que as crianças socializem nos grupos de
família, escola, amigos etc. (MAHONEY; ALMEIDA, 2009).
Considerando a função que a escola tem em formar os indivíduos como seres humanos, é
necessário que o professor, o qual possui papel fundamental nessa instituição, tenha
conhecimentos sobre Psicologia, conforme será abordado no próximo tópico.
Nesse sentido, sua formação será de extrema importância para uma melhor atuação
profissional. A sala de aula é vista como uma oficina de convivência e, dessa forma, o professor
desempenhará o papel de profissional das relações, pois será um modelo para o aluno
(MAHONEY; ALMEIDA, 2009).
O professor deve ter uma formação psicológica sólida, precisa conhecer as teorias de
desenvolvimento e aprendizagem e ser um investigador do ser humano e de seu próprio fazer.
Além disso, é necessário que esse conhecimento se reflita na prática da mesma forma que o
conhecimento prático sirva para enriquecer seu conhecimento teórico.
Wallon entende que a formação psicológica do professor é importante para a compreensão de
seu aluno em todos os aspectos. Dessa forma, ele poderá exercer seu papel de transmissor da
cultura e de promotor do desenvolvimento do aluno.
Figura 3 – The Great Bird – Nathan Oliveira
Fonte: Wikimedia Commons
Uma Educação Integral
Wallon acredita que afetividade, ação motora e inteligência são indissociáveis; sendo assim, os
processos pedagógicos devem levar em conta essa conexão para elaborar um projeto de
educação integral.
“Para ele (Wallon), o ser humano é organicamente social. Isso porque está nessa
- GRATIOT-ALFANDÉRY, 2010, p. 37
A atividade motora, para Wallon, também é mediada por instâncias sociais e, portanto, sua
produção não é realizada apenas pelas intenções concernidas especificamente aos indivíduos. A
motricidade humana é uma forma de expressão de afetividade que se realiza corporalmente de
diversas maneiras, como gestos, manifestações faciais, expressões corporais etc. Wallon
destaca que essas atividades são expressas em direção ao outro, a partir de intenções,
manifestações e solicitações de afeto, ou mesmo de ações involuntárias, como os automatismos.
Esse processo de comunicação com o outro vai se sofisticando à medida que a criança absorve e
compreende os signos culturais, podendo, então, dominar suas formas motoras de expressão e
contato.
A partir desse olhar atento para a Psicomotricidade, Wallon contribui, de maneira significativa,
para as reflexões educacionais ao passo que chama a atenção para as especificidades do
desenvolvimento infantil, que são diferentes das apresentadas pelos adultos. Desse modo,
compreender essa diferença é fundamental para que o processo educacional se complexifique,
possibilitando o desenvolvimento das potencialidades da criança.
A partir dessa distinção das fases do desenvolvimento, Wallon promove uma importante
reflexão para os processos educacionais, chamando a atenção para a necessidade de que não se
molde o desenvolvimento da criança de modo adultocêntrico. Com isso, Wallon, destaca que
muitas vezes o olhar sobre o desenvolvimento infantil fica preso ao referencial adulto, gerando,
assim, equívocos a respeito do comportamento demonstrado pela criança.
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TEMA 4 de 4
ʪ Referências
GALVÃO, I. Uma reflexão sobre o pensamento pedagógico de Henri Wallon. São Paulo: FDE,
1994. p. 33-39. (série Ideias, 20). Disponível em:
<http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p033-039_c.pdf>. Acesso em: 12/12/2021.
MAHONEY, A. A.; ALMEIDA, L. R. (orgs.). Henri Wallon: psicologia e educação. São Paulo: Edições
Loyola, 2009.