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Psicologia: Ciência e Profissão 2017 v. 37 (núm. esp.), 57-70.

https://doi.org/10.1590/1982-3703040002017

A Psicologia Brasileira nos Ciclos Democrático-Nacional e Democrático-Popular

Filipe Milagres Boechat


Universidade Federal de Goiás, GO, Brasil.

Resumo: Partindo do pressuposto da vinculação da Psicologia a determinados compromissos


de classe, buscaremos evidenciar como sua história articula-se à história da formação social
brasileira e às principais ideologias de dois de seus ciclos históricos: o ciclo democrático-
nacional e o ciclo democrático-popular. Como método, lançaremos mão dos pressupostos, da
lógica e dos conceitos provenientes da tradição marxista, especialmente aqueles oriundos das
reflexões do marxista sardo Antonio Gramsci. Procuraremos, ainda, apontar de que maneira
a Psicologia nascida durante o ciclo democrático-popular, em que pese a contribuição dada
à reflexão sobre o caráter ideológico e elitista da Psicologia brasileira, não necessariamente
deixou de cumprir, ela também, determinado papel ideológico, seja ao retirar do horizonte de
suas análises o núcleo central da teoria social marxista, seja ao promover algumas práticas que
pouco contribuem para fornecer às classes subalternas os elementos de que necessitam para
potencializar suas lutas radicalmente emancipatórias. Com esse objetivo, esperamos contribuir
com alguns apontamentos para a crítica da ideologia do compromisso social da qual esta
Psicologia é intimamente solidária, da mesma forma como a Psicologia do ciclo democrático-
nacional foi intimamente solidária à ideologia nacional-desenvolvimentista.
Palavras-chave: Psicologia crítica, História da Psicologia, Ciclo Democrático-Nacional, Ciclo
Democrático-Popular, Marxismo.

Brazilian Psychology during the Democratic and National


Cycle and the Democratic and Popular Cycle

Abstract: Based on the assumption of the relation between Psychology and certain class
commitments, we will seek to demonstrate how its history is connected with the history of
Brazilian society and with the main ideologies of two of its historical cycles: the Democratic and
National cycle and the Democratic and Popular cycle. As a method, we will adopt the premises,
logic and concepts deriving from Marxist tradition, especially those emanating from the works
of the Sardinian Marxist Antonio Gramsci. At the same time, we will seek to point out how the
Psychology born during the Democratic and Popular cycle, notwithstanding its contribution
to the reflection on the ideological and elitist character of Brazilian Psychology, not necessarily
stopped playing a certain ideological role too, either by wiping the core of the Marxist social
theory out of its analysis, or by promoting practices that contribute little to enhance the
struggles of the subordinated classes for its radical emancipation. With this purpose, we expect
to contribute with some observations to the critique of the ideology of the social compromise, to
which this Psychology is closely related, in the same way that Psychology was closely related to
the national-developmentalist ideology during the Democratic and National cycle.
Keywords: Critical Psychology, History of Psychology, National and Democratic Cycle, Demo-
cratic and Popular Cycle, Marxism.

Disponível em www.scielo.br/pcp
Psicologia: Ciência e Profissão 2017 v. 37 (núm. esp.), 57-70.

La Psicología Brasileña en el Ciclo Democrático-


Nacional y en el Ciclo Democrático-Popular

Resumen: Partiendo del presupuesto de la vinculación de la psicología a determinados


compromisos de clase, buscaremos evidenciar cómo su historia se articula a la historia de
la formación social brasileña y a las principales ideologías de sus ciclos históricos: el ciclo
democrático-nacional y el ciclo democrático-popular. Como método, recorreremos a los
presupuestos, la lógica y los conceptos provenientes de la tradición marxista, especialmente
aquellos provenientes de las reflexiones del marxista sardo Antonio Gramsci. Buscaremos,
además, señalar cómo la psicología nacida durante el ciclo democrático-popular, no obstante
la contribución que dio a la reflexión sobre el carácter ideológico y elitista de la psicología
brasileña, no necesariamente dejó de cumplir, también, determinado papel ideológico, al retirar
del horizonte de sus análisis el núcleo central de la teoría social marxista, o al promover algunas
prácticas que poco contribuyen a proporcionar a las clases subalternas los elementos que
necesitan para potenciar sus luchas radicalmente emancipatorias. Con ese objetivo, esperamos
contribuir con algunas observaciones a la crítica de la ideología del compromiso social de la
cual esta psicología es íntimamente solidaria, de la misma forma que la psicología del ciclo
democrático-nacional fue íntimamente solidaria a la ideología nacional-desarrollista.
Palabras claves: Psicología Crítica, Historia de la Psicología, Ciclo Democrático-Nacional, Ciclo
Democrático-Popular, Marxismo.

Introdução projetos político-ideológicos e seus respectivos com-


Neste mesmo periódico, há exatos cinco anos, promissos de classe, partiam da convicção de que: 
por ocasião da comemoração dos 50 anos da regula-
mentação da profissão de psicólogo no Brasil, Antu- No caso da Psicologia brasileira, faz-se necessário
nes (2012) mostrou-nos algumas das contradições compreendê-la como construção histórica e social,
presentes no processo de desenvolvimento da Psi- síntese de múltiplas determinações, orientada por
cologia brasileira. Remetendo-nos às suas condições determinadas concepções de homem e de socie-
de produção e apontando suas principais afiliações dade e comprometida com posições de classe e,
ideológicas, a autora evidenciou a presença de ideias portanto, contraditória, sendo que o embate entre
e práticas psicológicas divergentes em relação às esses elementos que se opõem produz movimento
ideias e práticas dominantes em cada um dos perí- e possibilita superação (Antunes, 2012, p. 46).
odos considerados (dentre as quais se destacavam
aquelas de Manoel Bomfim, Ulysses Pernambucano Mais recentemente, realizando apontamentos
e Helena Antipoff ). Partindo da produção dos sabe- sobre a história e o desenvolvimento da Psicologia crí-
res psicológicos, no período colonial, e chegando ao tica no Brasil, Lacerda Junior (2013) fez, por sua vez, a
processo de regulamentação da profissão, na década seguinte observação:
de 1960, passando pelo processo de autonomização
da Psicologia, entre os séculos XIX e XX, e de sua con- Não é exagero dizer que a Psicologia emergiu asso-
solidação institucional, a partir da década de 1930, ciada às classes dominantes da formação social
Antunes também desvelou alguns dos vínculos mais brasileira. Da mesma forma como a Psicologia nos
ou menos imediatos que unem a história da Psico- EUA no início do século XX, na busca por legitimi-
logia brasileira ao quadro mais geral da história de dade social, se associou aos setores dominantes da
nossa formação social. sociedade norte-americana, a Psicologia brasileira
O recurso de Antunes às condições histórico-so- soube rapidamente se posicionar diante das lutas
ciais de produção das ideias e práticas psicológicas, aos de classes (Lacerda Junior, 2013, p. 219).

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Partindo do pressuposto dessa vinculação da Psi- de Psicologia de São Paulo (CRP-SP), o Programa de
cologia a determinadas posições de classe, indicada Estudos Pós-graduados em Psicologia Social da Ponti-
tanto por Antunes (2012) como por Lacerda Junior fícia Universidade Católica de São Paulo (PEPG-PSO/
(2013), buscamos evidenciar, dentro dos limites deste PUC-SP), a Associação Brasileira de Psicologia Social
ensaio, de que maneira a história da Psicologia brasi- (Abrapso); entrevistas com personagens que partici-
leira articula-se à história da formação social brasileira. param da criação desses espaços, entre outros.
Particularmente, tentamos mostrar de que maneira a O método que empregamos para a análise, inter-
história da Psicologia brasileira articula-se à história pretação e explicação das relações entre a história da
política brasileira e, consequentemente, às ideologias Psicologia brasileira e os referidos ciclos históricos fun-
hegemônicas de dois de seus últimos ciclos históricos: damentou-se nos pressupostos, na lógica e nos con-
o ciclo democrático-nacional e o ciclo democrático- ceitos provenientes da tradição marxista (Netto, 2006,
-popular. Procuramos, ainda, apontar de que maneira 2011). Como nos interessa deslindar os nexos entre
uma das variantes de Psicologia crítica nascida no ciclo estratégias de dominação de classe e seus correspon-
democrático-popular, em que pese a contribuição dentes agentes sociais em determinados ciclos históri-
dada à reflexão sobre o caráter ideológico e elitista da cos, recorremos a alguns dos conceitos desenvolvidos
Psicologia brasileira, não deixou de cumprir determi- por Gramsci (1891–1937). Isso porque a participação
nado papel ideológico ao retirar do horizonte de suas orgânica de intelectuais na conformação dos blocos
análises o núcleo central da teoria social marxista históricos, analisada por Gramsci (2000), parece-nos
(Carvalho, 2014) e ao promover algumas práticas que peça-chave para compreendermos como a Psicologia
pouco contribuem para fornecer às classes subalter- tem participado das estratégias de dominação postas
nas os elementos de que necessitam para potencializar em marcha na história da formação social brasileira,
suas lutas radicalmente emancipatórias. Esperamos, independentemente da consciência e das eventuais
assim, contribuir com alguns apontamentos para a boas intenções de seus principais agentes1.
crítica da ideologia do compromisso social (Silva, 2015, Dito isso, resta-nos dizer, nesta breve introdução,
2017), da qual esta forma particular de Psicologia crí-
que as análises, interpretações e explicações a que
tica é intimamente solidária, da mesma maneira como
chegamos não pretendem ser exaustivas ou definiti-
a Psicologia nascida no ciclo democrático-nacional foi
vas, mas apenas servir à tarefa de desvelamento das
intimamente solidária à ideologia nacional-desenvolvi-
contradições imanentes à história da Psicologia bra-
mentista (Paiva, 1980; Toledo, 1978).
sileira, para que possamos contribuir com a tarefa,
No que concerne, particularmente, às rela-
necessariamente coletiva, de compreensão da histó-
ções entre a história da Psicologia e o ciclo
ria social e política “como processos constitutivos de
democrático-popular, cumpre assinalar que os apon-
nosso objeto de estudo, a Psicologia no Brasil, com a
tamentos e as indicações a que chegamos resultam de
certeza de que muitos estudos e pesquisas são neces-
pesquisa ainda em curso que lança mão, de maneira
sários para que essa compreensão se aprofunde e se
exploratória, de materiais heterogêneos, como a pro-
amplie” (Antunes, 2012, p. 63).
dução bibliográfica (livros, teses, dissertações, artigos,
comunicações etc.) diretamente vinculada aos auto-
res dessa nova forma de Psicologia crítica; materiais Desenvolvimento
textuais e audiovisuais produzidos por associações Uma vez que o objetivo geral deste artigo consiste
e instituições do campo psicológico, como o Conse- em apreender algumas das relações entre a história da
lho Federal de Psicologia (CFP), o Conselho Regional Psicologia brasileira e os ciclos democrático-nacio-

1
Gramsci oferece uma compreensão mais nuançada das articulações entre as superestruturas e a estrutura social, dos nexos entre ide-
ologias e a conformação de “blocos históricos”. Não ignoramos, como salientou Portelli, que “Esse súbito interesse pelo autor dos Qua-
derni del Carcere e redator de Ordine Nuovo não está [...] isento de segundas intenções e frequentemente se presta a justificar tal ou qual
corrente marxista, ou mesmo a seguir um ‘novo’ teórico que bruscamente vira ‘moda’, depois de trinta anos de esquecimento” (1977,
p. 13). Também não desconhecemos, conforme observou Florestan Fernandes, que “O que se está fazendo com as ideias de Gramsci
exige de nós todos um repúdio frontal: as universidades norte-americanas e europeias tentam convertê-lo em um representante amorfo
do ‘socialismo democrático’” (in Ammann, 1980, p. 12-13). Mas achamos que seria grave erro descartarmos suas contribuições ao estu-
do das formas contemporâneas de dominação burguesa, sobretudo quando consideramos sua capacidade de articulá-las a uma opção
política radical pela emancipação humana das classes subalternas.

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nal e democrático-popular, convém definirmos o que O conjunto das transformações desse período
entendemos por cada um desses ciclos históricos. refletiu-se no pensamento social brasileiro sob a forma
Primeiramente, apresentaremos aquilo que enten- de uma ideologia particular: a ideologia do desenvolvi-
demos por ciclo democrático-nacional, indicando mento nacional, também conhecida como nacional-
alguns aparelhos privados de hegemonia nascidos -desenvolvimentismo ou, muito simplesmente, desen-
durante este ciclo que influíram decisivamente sobre a volvimentismo (Iasi, 2012a; Paiva, 1980; Toledo, 1978).
história da Psicologia brasileira. Futuramente, o exame De acordo a ideologia do desenvolvimento nacio-
desses aparelhos poderá contribuir para uma compre- nal, a chave para a superação do atraso econômico, polí-
ensão histórico-concreta da forma como se materiali- tico, social e cultural brasileiros encontrar-se-ia no pleno
zou a chamada ideologia do desenvolvimento nacional. desenvolvimento de relações capitalistas, desenvolvi-
Em seguida, passaremos à apresentação do que mento este que se encontraria entravado pelo latifúndio
entendemos ser o ciclo democrático-popular, seus e as oligarquias agrárias, de um lado, e pelos interesses
principais aparelhos privados de hegemonia e o movi- e pela atuação das potências imperialistas, por outro
mento de inflexão conservadora que descreveram, (Iasi, 2012a). A ideologia do desenvolvimento nacional,
acompanhando o recuo da consciência da classe tra- que orientou a atuação política de organizações à direita
balhadora no descenso do movimento operário, sin- e à esquerda, foi determinante, como veremos, para a
dical e popular. Criados pela classe trabalhadora ou forma assumida pela Psicologia brasileira no período.
por iniciativa de intelectuais ligados aos anseios e às
lutas das classes subalternas, alguns desses aparelhos
sofreram claro processo de transformismo (Gramsci, O ciclo democrático-nacional
2011), contribuindo para o apassivamento das clas- e seus aparelhos
ses subalternas e a consolidação do ciclo democráti- Como dissemos, o ciclo democrático-nacional
co-popular a partir do desenvolvimento e difusão da demandou, por parte das classes dominantes, reor-
ideologia do compromisso social. denamentos institucionais e produções ideológicas –
Como procuramos indicar, a história da forma- sobretudo a partir de 1950, como resultado do aprofun-
ção desses aparelhos cruza-se com a história da Psi- damento das contradições imanentes ao processo de
cologia brasileira, o que nos sugere a necessidade de industrialização capitalista, das quais o surgimento das
uma história social da Psicologia que considere a tota- Ligas Camponesas dava testemunho (Ammann, 1980).
lidade da vida social e as idiossincrasias da formação
social brasileira na riqueza de suas mediações, como A história do Brasil desenvolvimentista foi, nesse
forma de superar tanto o idealismo, que caracteriza sentido, a história da indução, por parte do Estado,
boa parte de sua historiografia, quanto o materia- do processo de modernização capitalista e do desen-
lismo mecânico e abstrato. volvimento de estratégias visando sua legitimação
social, ampliando de forma segmentada os direitos
O ciclo democrático-nacional de cidadania e impedindo a organização da classe
Por ciclo democrático-nacional, compreende- trabalhadora (Neves, s.d., p. 54, tradução livre).
mos o período da história brasileira situado entre
dois golpes de Estado: o golpe de 1930, que conduziu A implementação dessas estratégias de legitimação
Getúlio Vargas ao poder, e o golpe empresarial-militar social deu-se, em parte, através da criação de algumas ins-
de 1964, que pôs termo às mobilizações populares em tituições de âmbito nacional, algumas das quais por inicia-
torno das Reformas de Base. tiva do próprio Estado brasileiro. A dominação burguesa
Em que pese a natureza política desses dois mar- exigia a produção de aparelhos privados de hegemonia
cos, o que caracteriza fundamentalmente este ciclo é o com o papel de consolidação do bloco histórico nacio-
intenso e acelerado processo econômico de industriali- nal-desenvolvimentista. Tratava-se, portanto, daquele
zação e urbanização da sociedade brasileira (consequ- movimento em que a sociedade política se encarrega da
ência, em grande medida, dos impactos em nossa eco- formação de seus “funcionários” (Gramsci, 2011, p. 207).
nomia da crise mundial de 1929) e sua contrapartida O Estado brasileiro buscava legitimar-se for-
no plano da luta de classes: o ascenso e a organização mando não apenas seus próprios quadros, mas
político-revolucionária da classe trabalhadora. avançando ideologicamente sobre o conjunto da

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sociedade civil2. Historicamente autocrático e par- nização, moralização e disciplinarização sociais, forma-
ticularista, apresentava-se sob novas formas, como ção esta operada por profissionais liberais, membros da
garante da soberania popular e representante legí- pequena-burguesia sob direção das classes dominantes.
timo da vontade geral. Em termos gramscianos, a O ISOP, por sua vez, criado em 1947 pela Funda-
coerção buscava revestir-se de consenso. ção Getulio Vargas (FGV, criada em 1944), teve papel
Entre as instituições criadas no curso do ciclo demo- decisivo no desenvolvimento da Psicologia brasileira
crático-nacional, algumas determinaram sobremaneira o do período. Segundo Antunes (2012, p. 58), o ISOP
curso da história da Psicologia brasileira. Dentre essas ins- “foi base para o desenvolvimento de pesquisas, de
tituições, destacamos o Instituto Nacional de Pedagogia, diversas modalidades de intervenção psicológica e de
o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP) e o formação de profissionais especialistas nas questões
Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). psicológicas relacionadas à organização do trabalho”.
Criado em 1937, o Instituto Nacional de Pedagogia Na primeira edição do periódico Arquivos Brasi-
transformou-se em Instituto Nacional de Estudos Peda- leiros de Psicotécnica, órgão de divulgação do instituto,
gógicos (INEP) pelo Decreto-Lei n° 580, de 30 de julho de lia-se que sua criação objetivava “contribuir para o ajus-
(Brasil, 1938), tendo Lourenço Filho como seu primeiro tamento entre o trabalhador e o trabalho, mediante o
diretor-geral. Durante o ciclo democrático-nacional, ao estudo científico das aptidões e vocações do primeiro e
Instituto competia, entre outras funções, o desenvolvi- dos requisitos psicofisiológicos do segundo” (Fundação
mento da Psicologia aplicada à educação e à orientação Getúlio Vargas, 1949, p. 7). Assentava-se sobre a convic-
e seleção profissionais, tendo papel destacado na difu- ção de que “a preponderância do fator humano entre as
são dos princípios da pedagogia escolanovista. questões ligadas à racionalização do trabalho constitui,
O Dicionário Histórico de Instituições de Psicolo- hoje em dia, ponto de aceitação pacífica” (FGV, 1949, p.
gia no Brasil (Jacó-Vilela, 2011) menciona o Instituto 7-16). Na apresentação do periódico, assim se expres-
como continuação do Pedagogium, instituição que sara o então presidente da FGV, Luiz Simões Lopes:
abrigou o primeiro laboratório de Psicologia experi-
mental do país (Antunes, 2017, p. 68 e ss.). A publicação destes Arquivos visa conclamar os
A importância do INEP para o desenvolvimento da que estudam o assunto do ponto de vista científico,
Psicologia brasileira não deve ser desprezada, sobretudo os profissionais da psicotécnica, os nossos admi-
se consideramos o peso conferido à ciência psicológica nistradores, empregadores, nas atividades públicas
na definição das diretrizes pedagógicas deste período ou privadas, “consumidores” do fator humano, que
da história da educação brasileira (Antunes, 2017). Sua tanto necessitam de mão de obra adequada, ence-
importância para a Psicologia não se limitou ao campo da tarmos, juntos, uma forte campanha de aumento
educação. Segundo nos mostrou Antunes, “a Psicologia da produção nacional, de maior rendimento, de
aplicada à educação e a psicologia aplicada às relações maior felicidade no trabalho, através da Seleção e
de trabalho constituem-se ambas em campos diversos, da Orientação Profissional (FGV, 1949, p. 2).
porém voltados, pelo menos, em última instância, para
objetivos comuns, num mesmo contexto histórico” (2017, O ISEB foi criado em 1955. Ao Instituto coube a
p. 110). Esses “objetivos comuns” consistiam na formação formulação da ideologia do desenvolvimento nacional
da força de trabalho adequada às novas condições de (Toledo, 1978). Segundo a ideologia nacional-desen-
produção da vida social, além da normalização, da higie- volvimentista isebiana3, as formações sociais perifé-

2
Como observou Gramsci, “As classes dominantes precedentes eram essencialmente conservadoras, no sentido de que não tendiam a assimilar
organicamente as outras classes, ou seja, a ampliar ‘técnica’ e ideologicamente sua esfera de classe: a concepção de casta fechada” (Gramsci, 2011,
p. 279). Com o desenvolvimento do capitalismo, no entanto, “A classe burguesa põe-se a si mesma como um organismo em contínuo movimento,
capaz de absorver toda a sociedade, assimilando-a assim a seu nível cultural e econômico; toda a função do Estado é transformada: o Estado
torna-se ‘educador” (Gramsci, 2011, p. 279).
3
Se é verdade que o nacional-desenvolvimentismo é gestado ao longo de toda a Era Vargas, seu nascimento data da década de 1950, impulsiona-
do, no plano internacional, pelas vicissitudes do pós-guerra e, no plano nacional, pelo processo acelerado de industrialização. Esse processo de
desenvolvimento das relações capitalistas nos países da periferia do sistema mundial visava não apenas frear o avanço mundial do socialismo,
como baratear o valor da força de trabalho no centro do sistema e a ampliar suas reservas de “acumulação primitiva” (Oliveira, 2013, p. 109). Cabe-
ria lembrar que datam desse período a Conferência de Bretton Woods, em 1944, que resultou na criação do Fundo Monetário Internacional (FMI),
do Banco Mundial (BM), da Organização das Nações Unidas (ONU), bem como sua Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Ce-
pal), instituições que desempenharam papel crucial durante a “guerra fria”, sobretudo no que se refere à política dos EUA para a América Latina.

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ricas estariam marcadas por conflitos entre setores Entretanto, a partir do final da década de 1960,
“tradicionais”, “atrasados”, comprometidos com as como parte das agitações que sacudiram o mundo e
estruturas de dominação “coloniais ou semicoloniais”, como resposta à ofensiva do Estado ditatorial sobre
e setores “progressistas” ou “modernos”, empenhados as instituições universitárias, mas sobretudo em
na modernização, industrialização e emancipação consequência de mudanças do mercado de trabalho
nacionais (Toledo, 1978). brasileiro, da abertura de novos campos de atuação,
Vejamos, na seção seguinte, de que maneira a e da afluência de novos referenciais teórico-metodo-
ideologia do desenvolvimento nacional foi determi- lógicos, a Psicologia brasileira viu nascer uma forma
nante para a Psicologia brasileira deste período, deli- alternativa (Yamamoto, 1987, 2003, 2007).
mitando seus objetos, definindo suas prioridades e Como veremos adiante, essa Psicologia corres-
orientando suas ações. pondia a um movimento mais geral no seio da socie-
dade brasileira. Expressão de um ciclo histórico que
estava por nascer, ela assumiu a feição das demais
A Psicologia brasileira no ciclo
expressões do ciclo, compartilhando das linhas mais
democrático-nacional
gerais de seu desenvolvimento.
Como nos mostrou Antunes, a Psicologia bra-
sileira esteve empenhada, desde a chegada da corte
portuguesa, na higienização, moralização e normali- O ciclo democrático-popular
zação da sociedade brasileira. A partir de 1930, a Psi- Consideramos o ciclo democrático-popular,
cologia inicia seu processo de institucionalização. Daí grosso modo, como o período da história da brasileira
em diante, ela estará engajada na produção de “um aberto no final da década de 1970 com o ascenso das
novo homem, adequado aos novos tempos” (Antunes, lutas operárias, sindicais e populares contra as polí-
2012, p. 53), auxiliando as classes dominantes em seus ticas de arrocho salarial, o aumento do custo de vida
esforços de diferenciação e disciplinarização da força e o rebaixamento real dos salários reais pela inflação,
de trabalho, segundo uma “concepção política de lutas que ganharam destaque com as greves do ABC
‘colaboração de classe’, eliminando as contradições e paulista. Data do início deste ciclo o surgimento do
conflitos presentes na relação entre capital e trabalho” assim chamado novo sindicalismo, com seu “novo
(Antunes, 2017, p. 85). modo de condução das lutas”; das oposições sindi-
O psicólogo formado nos quadros deste ciclo cais, “organizações sindicais extraoficiais, fundadas
histórico era considerado como agente de moder- nas comissões de fábricas”; dos movimentos sociais
nização e desenvolvimento nacional. “Racionali- contra as restrições impostas pela forma autocrática
zando” as relações de trabalho, educação e assis- assumida pelo Estado burguês desde o golpe de 1964,
tência; empregando técnicas e procedimentos movimentos esses apoiados, em larga medida, por
cientificamente qualificados, o psicólogo contri- setores progressistas da Igreja Católica (Meneguello,
buiria não apenas para o progresso da Nação, como 1989; Rainho, & Bargas, 1983; Tumolo, 2002).
para a desalienação do povo brasileiro (Toledo, No plano internacional, vale lembrar que a
1978). A Psicologia brasileira, portanto, subordi- década de 1970 assistiu ao golpe no Chile, início do
nava-se à ideologia do desenvolvimento nacional, primeiro experimento neoliberal. A crise de acumu-
que influenciava setores tanto à esquerda quanto à lação impôs um conjunto de medidas que redunda-
direita do espectro político. ram na reestruturação dos processos produtivos e das
Essa subordinação não se limitou aos quadros relações de trabalho em escala planetária (Tumolo,
do ciclo democrático-nacional. Referindo-se ao 2002). No Brasil, a ofensiva do Capital sobre o Trabalho
momento da regulamentação da profissão, em 1962, não tardou em encontrar novas formas de expressão.
e às décadas que se seguiram ao golpe de 1964, Scar- Como resposta a essa ofensiva, na década de 1980,
paro e Guareschi (2007, p. 100) observaram que “as temos a fundação do Partido dos Trabalhadores (PT),
práticas psicológicas se consolidaram sobre a influên- da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movi-
cia das ideologias desenvolvimentistas, pautadas pela mento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A
repressão política e pelo patrulhamento ideológico campanha pelas eleições diretas, que se encerra com a
que caracterizaram o Brasil ao longo de quase três promulgação da Constituição Cidadã, em 1988, marca
décadas de ditadura explícita”. o desfecho do grande ascenso de massas do período.

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A queda do muro de Berlim, em 1989, a dissolução da assumiram a forma de aparelhos privados de hege-
URSS e o desmonte do bloco socialista, na década de monia da classe trabalhadora, responsáveis, como
1990, sugeriram o triunfo definitivo do capitalismo, tais, por contribuir para a formação e atuação de seus
dando lugar às ideologias sobre o fim da história, da intelectuais orgânicos na luta pela conquista da hege-
centralidade do trabalho, da luta de classes e, por fim, monia, isto é, pela direção intelectual e moral de seus
da própria ideologia. aliados no seio das demais classes subalternas.
Este ciclo histórico, que tem mostrado haver
alcançado seu limite (Demier, 2016; Iasi, 2017), carac-
O ciclo democrático-popular
terizou-se por haver desenvolvido, ele também, uma
e seus aparelhos
ideologia, assim como aparelhos voltados à sua ela-
Um dos aparelhos privados de hegemonia mais
boração e difusão. A essa ideologia, que apresenta
significativos desse novo ciclo é o PT. Nascido das
traços de ruptura e de continuidade com a ideologia
lutas do assim chamado “novo sindicalismo”, o par-
nacional-desenvolvimentista (Iasi, 2012b; Martins,
tido soube aglutinar em torno de si todo um conjunto
Prado, Figueiredo, Motta, & Souza, 2014), tem-se dado
de forças sociais. Enquanto polo aglutinador, as ban-
o nome de ideologia do compromisso social (Silva,
deiras empunhadas pelo “novo sindicalismo” foram
2015, 2017). Em torno da ideologia do compromisso
decisivas para a conformação do grande bloco de
social, cuja marca principal consiste em condicionar a
forças que pôs em xeque o regime ditatorial, inaugu-
emancipação humana à radicalização da democracia
rando o ciclo democrático-popular.
participativa e, progressivamente, em limitar a ideia
Analisando os principais documentos oficiais do
de emancipação aos quadros da emancipação política
partido, Iasi (2012b) mostrou o movimento que redun-
(Lacerda Junior, 2015; Marx, 2010), orbitam os concei-
dou na acomodação do PT aos limites da ordem bur-
tos de cidadania, democracia, inclusão social, justiça
social, participação social, bem como o clamor pela guesa e, segundo Figueiredo  (2014, p. 64), à retomada
defesa e ampliação de direitos através da organização de velhos “fetiches desenvolvimentistas e nacionais”.
e fortalecimento da sociedade civil e da conquista de Como sintetizou Musse,
políticas públicas e sociais.
Conforme Martins et al. (2014, p. 360), esse ciclo, Organizado a partir das lutas concretas, sindi-
a princípio, cais, como um movimento político de afirma-
ção da independência e autonomia da classe
pauta-se no processo de alargamento da demo- operária, o PT apresenta-se, inicialmente, como
cracia, compreendido como a ampliação progres- representante da “classe trabalhadora”; depois,
siva de um conjunto de direitos e de participação do conjunto dos “trabalhadores”; em seguida do
política, através da pressão dos movimentos “povo”; e, por fim, dos “cidadãos”. A passagem da
sociais e da ocupação dos espaços no Estado, “classe” à “nação” atesta a prevalência da estra-
que se chocariam contra os interesses de nossa tégia do “gradualismo reformista” e a subordina-
classe dominante. É desse choque que emergiria ção à tática eleitoral, que redefiniram o horizonte
a necessidade do socialismo. social, político e econômico do projeto partidário
(apud Iasi, 2012b, p. 10).
Ao longo do desenvolvimento deste ciclo, em
parte devido às derrotas do movimento operário e sin- A CUT é outra das expressões significativas do
dical brasileiro, em parte pela derrota do movimento ciclo democrático-popular. Criada em 1983, ela deu
comunista internacional, o horizonte socialista limi- forma institucional ao “novo sindicalismo”, servindo
tou-se cada vez mais à natureza de simples ideal. Não de braço sindical do PT desde então. Tumolo (2002)
nos ocuparemos aqui desse movimento de rebaixa- desvelou os momentos do movimento que levou a
mento da perspectiva revolucionária que esteve em formação sindical da maior central sindical do país a
sua origem, já examinado por Iasi (2012b), Martins transformar-se numa mescla de formação instrumen-
et al. (2014), entre outros (Demier, 2016; Figueiredo, tal e qualificação profissional. Esse movimento cor-
2014). Limitamo-nos à breve apresentação de algu- respondia à reorientação estratégica da Central, como
mas das objetivações deste ciclo, algumas das quais resposta política às transformações do mundo do tra-

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balho e das derrotas do movimento sindical. A CUT e Compromisso Social, essa nova forma de Psicologia
acabaria por sucumbir às exigências imediatas postas estaria marcada pelo rechaço à Psicologia “tradicio-
pela sociabilidade do capital, abandonando paulati- nal”, considerada elitista, individualista e positivista
namente uma perspectiva classista e anticapitalista, (Bock, 1999).
substituindo-a pela ideia do “sindicato cidadão”. Essa nova forma de Psicologia veio a ser siste-
O importante agora é destacar que uma das matizada com a criação do PEPG-PSO e, posterior-
variantes de Psicologia crítica nascida no ciclo demo- mente, da Abrapso. A criação desses dois espaços
crático-popular desempenhou papel de peso na ins- deu-se em contexto de franco acirramento da luta
trumentalização ideológica e na consolidação deste de classes, em que “a luta pelo acesso aos ganhos da
ciclo, acompanhando mais ou menos sincronica- produtividade por parte das classes menos privilegia-
mente o movimento de inflexão conservadora reali- das transforma-se necessariamente em contestação
zado pelas demais objetivações a que fizemos refe- ao regime, e a luta pela manutenção da perspectiva
rência. Referimo-nos à Psicologia crítica nascida nas da acumulação transforma-se necessariamente em
dependências da Pontifícia Universidade Católica de repressão” (Oliveira, 2013).
São Paulo (PUC-SP), aquela que veio a se desenvolver, O PEPG-PSO iniciou suas atividades num clima de
fundamentalmente, em torno dos trabalhos e da ati- intensa fermentação social, às vésperas da crise eco-
vidade político-pedagógica de Silvia Lane (1933–2006) nômica que acabaria por repercutir sobre os rumos
e que Carvalho (2014) analisou, recentemente, sob a do regime militar. O programa dava prosseguimento à
rubrica da “Escola de São Paulo de Psicologia Social”. experiência inovadora realizada, anos antes, no curso
de Psicologia, sob forte influência de Silvia Lane, com
a criação de núcleos que procuravam romper com a
A Psicologia no ciclo
rígida separação entre as disciplinas e propunham a
democrático popular
articulação entre teoria e prática. (Carvalho, 2014) Pro-
Do ciclo democrático-popular à “Psicologia curava-se enfrentar a contrarreforma universitária de
democrática e popular” 1968, resultado do acordo MEC-USAID, que buscava,
A participação ativa da PUC-SP no processo de entre outros objetivos, despolitizar o ensino brasileiro e
formação do PT e, consequentemente, na consoli- desarmar a resistência estudantil (Antunes, 2012; Bock,
dação do ciclo democrático-popular, é fato notório. 1999; Carvalho, 2014; Lacerda Junior, 2013).
Conforme observou Meneguello, A Abrapso, por sua vez, foi criada em 1980, como
parte dos esforços de ampliação dessa perspectiva
Fundamentalmente em São Paulo, a maioria “progressista” em Psicologia. De acordo com os apon-
dos intelectuais envolvidos nas discussões par- tamentos de Molón sobre o que veio a chamar de
tidárias eram elementos ligados ao CEBRAP “Psicologia abrapsiana”, “A criação da Abrapso é um
(Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), marco decisivo na orientação da Psicologia Social bra-
CEDEC, (Centro de Estudos de Cultura Contem- sileira em direção à problemática da nossa realidade
porânea), UNICAMP (Universidade Estadual de sócio-econômico-político-cultural (sic)” (2001, p. 53).
Campinas - SP), USP (Universidade de São Paulo) Mas essa nova forma de Psicologia brasileira,
e PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de desenvolvida nas dependências do PEPG-PSO e, pos-
São Paulo) (Meneguello, 1989, p. 61). teriormente, também nos encontros regionais e nacio-
nais da Abrapso, sofreu profunda inflexão, de forma
No que diz respeito à participação da Psicologia análoga ao que se passou com o PT e a CUT. Um dos
da PUC-SP, esta foi mediada, em grande parte, pelo traços mais marcantes dessa inflexão foi, sem dúvida,
PEPG-PSO. Criado no início da década de 1970, o a ampliação de seu referencial teórico-metodológico.
PEPG-PSO aglutinou professores de Psicologia e psi- Assim descreveu Carvalho (2014) essa inflexão:
cólogos avessos à Psicologia “tradicional”. Segundo
Bock, que fora orientanda de Lane, ex-diretora da Tendo substituído o paradigma do trabalho pelo
Faculdade de Psicologia da PUC-SP, ex-presidente mundo da vida, acatado a autonomização da
do Conselho Federal de Psicologia por três gestões e esfera das objetivações sociais, aberto mão da
atual presidente do Instituto Silvia Lane – Psicologia teoria do valor-trabalho para compreender a

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Boechat, F.. M. (2017). Psicologia Brasileira nos Ciclos Históricos.

sociedade a partir das esferas da comunicação individualista e positivista, a Psicologia “progres-


(inversão idealista), das relações intersubjeti- sista” desenvolvida nas dependências do PEPG-PSO
vas e dos valores, anunciado o fim das lutas de e na Abrapso assumiu progressivamente um “histori-
classe ou o seu marasmo e abandonado qualquer cismo desenfreado” (Toledo, 1978, p. 56-57), deixando
referência à transformação revolucionária da ao segundo plano de suas preocupações a análise
sociedade por um socialismo ético (ou revolução concreta da formação social brasileira. Produzir um
ética), a Escola de São Paulo4 não figura como conhecimento que servisse “para o Brasil, ou seja,
uma alternativa marxista de psicologia social para todos os brasileiros” (Bock, 2010, p. 253), prescin-
(Carvalho, 2014, p. 260). dindo da referência à luta entre as classes sociais fun-
damentais e de uma clara posição de classe; desenvol-
Movimento semelhante de inflexão ocorreu no ver a democracia participativa e a consciência cidadã,
conjunto dos trabalhos apresentados nos encontros opondo os interesses das “elites” aos interesses da
nacionais e regionais da Abrapso, sobretudo a partir “maioria da população”, passaria a constituir seu hori-
da década de 1990. Segundo Molón, zonte político-estratégico.

A década de 1990 se caracteriza fundamental- Da Psicologia democrática e popular ao apassivamento


mente pela diversidade de temas e pela plurali- Mas, sendo expressão do ciclo democrático-popu-
dade e diferenciação de enfoques teórico-me- lar, seria natural que essa Psicologia expressasse suas
todológicos. Dentro disso, ocorre a proliferação determinações mais gerais. Acontece que essa relação
dos encontros nacionais e regionais, a intensifi- não foi uma relação unilateral. Conforme procurare-
cação das publicações, as quais oportunizam o mos indicar, a Psicologia formulada no seio do PEP-
surgimento de novas veredas e novos horizontes, G-PSO, desenvolvida e difundida a partir da Abrapso,
e, simultaneamente, constituem novos modos contribuiu ativamente para o desenvolvimento do ciclo
e espaços de atuação e pesquisa em Psicologia histórico do qual ela é uma das expressões. Sem des-
Social, norteados por pressupostos epistemoló- considerarmos divergências e dissidências no interior
gicos, ontológicos e metodológicos semelhantes, deste processo, nossa pesquisa tem indicado que a Psi-
orientados pela preocupação ética, ou seja, com- cologia nascida e desenvolvida no interior desses novos
prometidos social e politicamente com as trans- aparelhos, forjados por aliados da classe trabalhadora,
formações da sociedade e com uma vida mais cumpriu papel ativo no movimento de inflexão e capi-
digna para a maioria da população brasileira tulação tanto do PT quanto da CUT, contribuindo para
(Molón, 2001, p. 61). a consolidação do ciclo democrático-popular e, con-
sequentemente, para o fortalecimento de uma forma
Essa inflexão acompanhava o processo de rede- sutil de dominação burguesa no Brasil.
mocratização da sociedade brasileira. Como outras Tomemos, por exemplo, a entrevista com Pedro
objetivações do ciclo, a Psicologia desenvolvida no Pontual para o jornal do Conselho Regional de Psico-
interior do PEPG-PSO e da Abrapso sofreu um pro- logia de SP (Pontual, 2001). Nela, Pontual, que viria
cesso de transformação que se caracterizou por a se tornar diretor do Departamento de Participação
aquilo Lacerda Junior (2015) diagnosticou como uma Social da Secretaria-Geral da Presidência da Repú-
hegemonia da emancipação política em detrimento blica do governo Dilma Rousseff, e que, àquela altura,
da perspectiva marxista da emancipação humana. era apresentado como “Psicólogo e educador, discí-
Partindo de uma perspectiva classista e anticapita- pulo de Paulo Freire e atual secretário de Participação
lista, essa forma nova de Psicologia abandonou pro- e Cidadania da Prefeitura de Santo André, SP”, com
gressivamente o núcleo da teoria social marxiana. “uma trajetória extensa e marcada pelo compromisso
Contrapondo-se à Psicologia “tradicional”, elitista, social”, depois de confessar sua dívida intelectual para

4
Não ignoramos a diferença que separa a Psicologia desenvolvida originalmente por Lane, a “Psicologia sócio-histórica”, de proveniência
soviética, os trabalhos da “Escola de São Paulo de Psicologia Social” e os trabalhos de autores que, futuramente, nelas buscarão uma
referência e legitimidade. Suas continuidades e descontinuidades e a diferença entre suas intencionalidades políticas, algumas das quais
foram objeto de análise de Carvalho (2014), serão analisadas noutra ocasião.

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com a Psicologia da PUC-SP, responde o seguinte, ao os trabalhadores, para as classes populares. Tal
ser perguntado sobre o que é fazer política: compromisso representa apenas que precisamos
romper com uma psicologia que tem sido classista
Fazer política hoje é, para mim, colocar o instru- de uma outra forma (Furtado, 2000, p. 226-228).
mental profissional que construí, como psicólogo e
educador, a serviço do “empoderamento” das pes- No caderno de resumos da XXIX Reunião Anual
soas, como indivíduos e como coletividade. Para de Psicologia da Sociedade Brasileira de Psicologia, a
quê? Primeiro para ampliar, aprofundar e alargar os mesa-redonda n° 6, intitulada “Psicologia Social e do
estreitos limites de nossa democracia. Um país não trabalho – a alternativa popular”, é igualmente reve-
pode se contentar com o direito de votar nos seus ladora da hegemonia da emancipação política e o
representantes. Isso é importante, uma conquista compromisso com o desenvolvimento da democracia
fundamental, mas democracia é muito mais: sig- participativa, ao qual fizemos referência. Em “A quali-
nifica cidadãos participando das decisões que afe- ficação profissional e a organização dos trabalhadores
tam seu cotidiano, como atores-protagonistas do – o caso do Programa Integrar da CNM/CUT”, Furtado
espaço público. Há muito que se caminhar nesse diz-nos que
sentido. Construir esse espaço público, essa esfera
pública supõe construir cidadãos ativos, individual O Programa Integrar, da CNM/CUT de qualifica-
e coletivamente. Para mim, fazer política hoje é ção e requalificação de metalúrgicos desempre-
apostar nisso (Pontual, 2001, n. p.). gados, desenvolvido a partir do convênio com a
PUC-SP, foi a experiência piloto de uma política
A apresentação do entrevistado também nos da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da
informa que Pontual “integrou a equipe do Instituto CUT para transformar os sindicatos filiados em
Cajamar, voltado para a formação de lideranças polí- ‘sindicatos cidadãos’” (Sociedade Brasileira de
ticas e populares” e “acompanhou Paulo Freire na Psicologia, 1999).
implantação do Projeto do Mova – Movimento de Alfa-
betização de Jovens e Adultos – durante o governo de Por último, tomemos um trecho do Relatório
Luíza Erundina na Prefeitura de SP” (Pontual, 2001). Final do I Encontro Nacional de Psicologia: Mediação
Tomemos agora o artigo de Odair Furtado, intitu- e Conciliação. No parecer da comissão ad hoc convi-
lado Psicologia e compromisso social – base epistemo- dada pelo Conselho Federal de Psicologia para reco-
lógica de uma psicologia crítica (1999), no qual o autor, mendações de posicionamento do Sistema Conselhos
formado nas dependências do PEPG-PSO, ao descrever acerca da temática, lemos que
sua participação no Programa Integrar, da Confederação
Nacional de Metalúrgicos da CUT, diz-nos o seguinte: A mediação permite acordos vantajosos para
todos, mas muito mais que isso, favorece o pro-
O curso tem como objetivo fornecer uma forma- tagonismo e a geração de mundos possíveis onde
ção de caráter geral, que amplie o horizonte cul- o confronto decorrente das diferenças – origem
tural do aluno e lhe dê condições de ampliar sua dos conflitos – seja conduzido sem gerar desi-
participação social ao mesmo tempo em que dis- gualdade e sustentar privilégios (Conselho Fede-
cute as condições sociais e históricas que geram o ral de Psicologia, 2006).
desemprego do trabalhador no Brasil de hoje. Em
resumo, trata-se de uma opção pedagógica que Na introdução do Relatório, a então presidente
se assenta sobre a noção de cidadania e de inclu- do Conselho, Ana Bock, “acreditando que haja, na Psi-
são social (Furtado, 2000, p. 226-227). cologia, competência acumulada para contribuir com
o desenvolvimento de uma cultura de conciliação”,
Concluindo seu artigo, Furtado ainda afirma o informa-nos de que
seguinte:
A mediação de conflitos – o mais popular dos
Evidentemente, não se trata de construirmos uma meios consensuais de resolução de controvérsias
psicologia classista, voltada exclusivamente para – é uma prática que valoriza e facilita a inovação e

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Boechat, F.. M. (2017). Psicologia Brasileira nos Ciclos Históricos.

provoca mudanças em procedimentos baseados contribuído para o fortalecimento da democracia


na autonomia da vontade (Conselho Federal de brasileira e de suas principais instituições. A afluên-
Psicologia, 2006, p. 9-10). cia dos psicólogos para o campo das políticas públicas
tem sido uma das marcas desse novo ciclo histórico,
Que nos sugerem esses dados? Sem ignorar que e não se pode negar que essa proletarização impôs
esses trechos não nos dão senão uma parte da rea- à Psicologia novos e desafiadores problemas. No
lidade, e sem desconsiderar a diversidade que se entanto, resta saber se, ao promover ativa e conscien-
abriga sob o guarda-chuva do “compromisso social”, temente os valores e os ideais democráticos, os psi-
os resultados mostram-nos que psicólogos declara- cólogos do compromisso social não desempenham,
damente comprometidos com “o social” na verdade à maneira dos psicólogos do desenvolvimento nacio-
comprometem-se pura e simplesmente com o desen- nal, o papel de intelectuais orgânicos da burguesia no
volvimento da democracia participativa e da cidada- estágio atual de sua supremacia; se a classe média,
nia. Implicitamente, contribuem para difundir ilusões ao assumir o leme das lutas e impor o lema do com-
sobre a possibilidade de emancipação no interior de promisso social, realmente o faz em nome da maioria
uma ordem social que se funda, precisamente, na da população brasileira: a classe trabalhadora. Pois
manutenção da contradição entre a igualdade formal o papel dos intelectuais em aliança com as classes
e a desigualdade real. subalternas não deve significar a deferência acrítica
Caberia perguntar se a Psicologia surgida no ciclo aos seus interesses, ideias, valores e temores imedia-
democrático-popular, declaradamente “progressista”, tos. Para um intelectual organicamente vinculado
ao buscar superar a Psicologia “tradicional” e “elitista”, com os interesses da classe trabalhadora, não se trata
não permanece refém das oposições e dualismos for- de colocar-se a serviço das classes subalternas, mas de
jados no ciclo histórico democrático-nacional. colocar-se a serviço da emancipação das classes subal-
Ao que nos parece, a ideologia do compromisso ternas, o que implica, mais do que um simples com-
social acaba reencontrando-se com a ideologia do promisso “social” ou “ético-político”, uma estratégia
desenvolvimento nacional, sugerindo a necessidade político-revolucionária que se comprometa declarada
de uma aliança nacional ou de toda a população para e conscientemente com a superação da sociedade de
a conquista progressiva dos direitos que caracterizam classes. Uma estratégia político-revolucionária que
a sociabilidade burguesa. não se comprometa com abstrações como “o social”,
Os aparelhos criados para sua elaboração e difu- “o Brasil” ou “a população brasileira”, mas com o con-
são, o PEPG-PSO e a Abrapso, em que pese haverem se junto daqueles sujeitos sociais concretos que, pelo
constituído, inicialmente, como aliados da classe tra- lugar que ocupam na produção social da vida, pos-
balhadora, comprometidos com a “maioria dos brasi- suem a possibilidade de romper as amarras que os
leiros”, acabam por se sobrepor aos interesses dessa afastam do caminho de sua própria emancipação.
classe. Posteriormente, ao ocuparem os espaços privi-
legiados de formação política da classe trabalhadora, Conclusão
especialmente o Instituto Cajamar e a CUT, esses inte- Procurando dar prosseguimento ao trabalho
lectuais, sempre imbuídos do “compromisso social”, desenvolvido por Antunes (2012), esperamos haver
de aliados da classe trabalhadora passam a dirigentes, mostrado que as contradições presentes na história
impondo os interesses de sua classe particular, que da Psicologia brasileira não se limitam ao campo das
não deixam de ser interesses de classes subalternas. divergências entre diferentes proposições teóricas e
Trata-se, no entanto, de interesses tipicamente peque- práticas, fazendo-se igualmente presentes no interior
no-burgueses, na medida em que buscam conciliar mesmo de cada uma dessas proposições. Ao apontar-
aquilo que é estruturalmente inconciliável: os interes- mos os vínculos orgânicos entre a Psicologia brasileira
ses do Capital aos interesses do Trabalho. Supõem a e os ciclos democrático-nacional e democrático-po-
possibilidade e, mais do que isso, a necessidade de um pular, buscamos mostrar de que maneira a Psicologia
pacto de classes como condição para a emancipação nascida no último ciclo histórico é solidária de uma
da maioria da população. ideologia bem determinada, a ideologia do compro-
Não pretendemos negar que a ideologia do com- misso social, funcional à dominação burguesa na
promisso social e seus aparelhos contribuíram e têm atual etapa do capitalismo no Brasil.

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Gostaríamos de encerrar este artigo, que apenas tín-Baró, 2002, p. 110). Mas não ignoramos a impor-
insinua todo um conjunto de reflexões que estão por tância do trabalho teórico e crítico na superação de
vir, com algumas palavras sobre como entendemos o algumas mistificações que afastam as classes subal-
significado desta nossa pesquisa. ternizadas, oprimidas e exploradas, do caminho de
Em tempos de forte ofensiva do capital sobre o sua emancipação.
trabalho, em que a classe trabalhadora se encontra Por último, gostaríamos de acrescentar que o
fragilizada e fragmentada, não apenas no Brasil, mas esforço teórico-crítico de compreensão das con-
em todo o mundo, convém não alimentarmos ilusões tradições de nossa história pouco tem a contri-
sobre as alternativas a esta ordem social que aliena, buir para a emancipação humana se não se presta
desumaniza, e que nos conduz incessantemente para a armar as classes dominadas e fornecer-lhes os
o precipício da barbárie. Desde nossa perspectiva instrumentos adequados às suas lutas cotidianas.
teórica e de nossa opção política, acreditamos que Uma consciência crítica que desafie as ideologias e
convém superarmos as ideologias que contribuem as instituições que se prestam à nossa dominação
para aumentar o fosso entre a Psicologia da classe tra- e uma teoria social que deslinde os obstáculos his-
balhadora e sua consciência de classe (Martín-Baró, tóricos interpostos à nossa emancipação são, sem
1985), isto é, entre as ideias, valores, atitudes e senti- sombra de dúvidas, elementos fundamentais para
mentos de nossa classe e a consciência de seus reais todos que lutam contra um inimigo de dimensões
interesses no sentido da emancipação humana. como o Capital; mas ainda são pouco se a essa cons-
Evidentemente, não esperamos que tais reflexões ciência crítica e a essa teoria não se vem somar uma
conduzam, por si só, à emancipação de nossa classe. clara opção política pela defesa dos interesses mate-
Mesmo porque, estamos de acordo, “A psicologia não riais das classes subalternizadas. Como sentenciou
desempenhará nenhum papel decisivo na resolução Fernandes, “Ser ‘intelectual orgânico das classes
dos grandes problemas que acometem os povos lati- trabalhadoras’ é uma opção política. Mas, não se
no-americanos”, uma vez que “os dilemas latino-a- pode fazer essa opção e ficar numa ‘prática teórica’
mericanos são fundamentalmente de natureza eco- crítica ou rebelde que se compõe com a reprodu-
nômica e política e dependem de forças objetivas que ção da ordem burguesa e com o Estado capitalista”
estão muito distantes do alcance do psicólogo” (Mar- (Ammann, 1980, p. 13).

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Filipe Milagres Boechat


Doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor do Programa de Pós-graduação em
Psicologia da Universidade Federal de Goiás. Membro da Rede Ibero-americana de Pesquisadores em História
da Psicologia, do GT de História Social da Psicologia da ANPEPP, do Núcleo de Educação Popular 13 de maio, do
Núcleo de Estudos e pesquisas Crítica, Insurgência e Emancipação (CRISE) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas
Avançadas - Ética e Política Emancipatória.
E-mail: filipeboechat@ufg.br

Endereço para envio de correspondência:


Faculdade de Educação. Rua 235, s/n, Setor Leste Universitário, 74605-050

Recebido 30/06/2017
Reformulação 03/10/2017
Aprovado 06/10/2017

Received 06/30/2017
Reformulated 10/03/2017
Approved 10/06/2017

Recebido 30/06/2017
Reformulado 03/10/2017
Aceptado 06/10/2017

Como citar: Boechat, F. M. (2017). A Psicologia brasileira nos ciclos democrático-nacional e democrático-popular.
Psicologia: Ciência e Profissão, 37(n. spe), 57-70. https://doi.org/10.1590/1982-3703040002017

How to cite: Boechat, F. M. (2017). Brazilian Psychology during the democratic and national
cycle and the democratic and popular cycle. Psicologia: Ciência e Profissão, 37(n. spe), 57-70.
https://doi.org/10.1590/1982-3703040002017

Cómo citar: Boechat, F. M. (2017). La Psicología brasileña en el ciclo democrático-


nacional y en el ciclo democrático-popular. Psicologia: Ciência e Profissão, 37(n. spe), 57-70.
https://doi.org/10.1590/1982-3703040002017

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