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MÓDULO II

A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

“A Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela


tão pouco a sociedade muda”
Paulo Freire

Capítulo 2 – A História da Educação Infantil

2.1. Entendendo melhor a história

A história mostra que a educação da criança constitui uma preocupação


antiga, encontrando-se registros a esse respeito em escritos deixados desde a
Antiguidade clássica, por Platão (427- 347 a C), referindo-se à educação da primeira
infância por meio de jogos educativos na família, com o objetivo de preparo para o
exercício futuro da cidadania. Aristóteles (384-332 a C) propôs que dos cinco aos
sete anos, as crianças receberiam, em casa, educação para a higiene e o
endurecimento, e dos cinco aos sete, já deveriam assistir algumas lições.
Nos séculos XI e XII, pensadores humanistas como Erasmo (1465-1530) e
Montaigne (1483-1553) propunham uma educação que respeitasse a natureza
infantil e estimulasse a criatividade articulando o jogo à aprendizagem.
Assim, por muitos séculos, a partir de uma visão de criança como ser não
dotado de identidade pessoal, a responsabilidade com o cuidado e com sua
educação foi atribuída à família e, principalmente, às mulheres, através de sua
inserção nas práticas domésticas ou sociais dos adultos, práticas essas
diversificadas em função da classe a qual pertenciam às crianças.
Para Oliveira (2002), a histórica hegemonia da educação das crianças
pequenas na família, modos de atendimento extradoméstico foram se constituindo,
junto às camadas sociais desfavorecidas, desde as sociedades primitivas, através
de relações de parentesco, e se fizeram presentes na Idade Antiga, com as “mães

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mercenárias” e nas Idades Média e Moderna com as “rodas dos expostos” ou os
“lares substitutos”, sob a responsabilidade de entidades religiosas ou filantrópicas.
Neste período, a infância era desconsiderada, pois a criança possuía uma
pequena expectativa de vida e o mais importante era que a mesma tornasse adulta
para executar as atividades que o dia a dia lhe propunha como adulto. O mais
importante era crescer. A criança, independente da classe social, era trocada de
lares para aprender afazeres domésticos em famílias diferentes das suas; com o
objetivo de evitar o sentimento dentro da sua própria raiz. Não havia o menor receio
em diferenciar programações e atividades por fase, interesse ou idade, pois adulto e
crianças recebiam a mesma carga educacional e emocional.
A partir do século XIII, com o surgimento da classe média, e com o
crescimento econômico das cidades a Igreja perde o poder. Com os avanços da
ciência, a criança já começa a ser vista de forma diferenciada, pois a burguesia já
referia a mesma como um ser ingênuo e inocente, isso acarretou em uma
modificação significativa da família burguesa.
Com o tempo e a chegada dos movimentos do Modernismo, da Revolução
Industrial, iluminismo entre tantos outros acontecimentos, as mudanças sociais e
intelectuais, aconteceram alterando a visão que se tinha em relação a criança.
Nestes períodos a criança rica é tratada diferentemente da criança carente. Tinha-se
pela criança nobre amor, piedade entre outros, enquanto a criança pobre não havia
tratamento semelhante.
Surgem as primeiras propostas de educação e moralização infantil. Se na
Sociedade feudal a criança começava a trabalhar como adulto logo que passa a
faixa da mortalidade, na sociedade burguesa, ela passa a ser alguém que precisa
ser cuidada, escolarizada e preparada para uma atuação futura. Esse encargo foi
delegado aos colégios e estes, por sua vez, ainda estavam no processo de
construção e abriram portas para os leigos, nobres, burgueses e classes populares,
porém não acontece aqui a mistura de classes surgindo assim à discriminação ente
ricos e pobres dentro do ambiente escolar.
A educação acadêmica inicial é dada somente aos meninos e a partir do
século XVII contemplam as meninas. A escola é vista de maneira mais pedagógica,

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porém mecanizada e com isso surge os castigos corporais como forma de educar as
crianças. Os castigos corporais eram utilizados nos lares e na escola, contribuindo
assim para convalidar a ideia de soberania do adulto sob a criança e ao
adolescente. Nota-se que também surgem de maneira singela, as primeiras creches
para acolherem filhos das mães que trabalhavam na indústria.
A partir da segunda metade do século XVII, a Política Educacional adiou a
entrada das crianças nas escolas a partir dos dez anos. A justificativa para isso era
que a criança era considerada com pensamentos indefinidos e incapazes de
aprender algo significativo.
No capitalismo, com as mudanças científicas e tecnológicas, a criança
precisava ser cuidada para uma atuação futura. A sociedade capitalista, através da
ideologia burguesa, caracteriza e concebe a criança como um ser com pouca
histórico e crítica, fraco, economicamente não produtivo, que o adulto deve cuidar.
Isso justifica a subordinação da criança perante o adulto. Na educação, cria-se o
primário para as classes populares, de pequena duração, com ensino prático para
formação de mão de obra; e o ensino secundário para a burguesia e para a
aristocracia, de longa duração, com o objetivo de formar eruditos, pensantes e
mandantes. No final do século XIX, difunde o ensino superior na classe burguesa.
Os anseios educativos crescem na medida em que a população acredita que
o desenvolvimento escolar pode acarretar em maiores ganhos para a vida humana
como um todo; e isso instiga a população uma procura ao mercado de trabalho e a
escolarização de crianças deste cedo, Kramer (1992, p.23):
As aspirações educacionais aumentam à proporção em que ele acredita
que a escolaridade poderá representar maiores ganhos, o que provoca
frequentemente a inserção da criança no trabalho simultâneo à vida escolar.
(...) A educação tem um valor de investimento a médio ou longo prazo e o
desenvolvimento da criança contribuíra futuramente para aumentar o capital
familiar.

Com a fragmentação social, a escolarização mais popular acabou tornado-se


medíocre em vários pontos de vista. Como padrão de criança exemplar, a escola
teve como referência, os pequenos, vindos de famílias ricas e inseridos em contexto

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de bagagem familiar favorável, esquecendo por completo que nem todas as crianças
passavam pelo mesmo processo. Na tentativa de solucionar tal fato instala- se, nas
comunidades carentes, programas que proporcione uma compensação no intuito de
preencher as deficiências de saúde, nutrição, educação e as do meio sócio cultural.
A educação compensatória começou no século XIX com Pestalozzi, Froebel,
Montessori e McMillan. A pré-escola era vista por esses pensadores como uma
maneira de superar a miséria, a pobreza, a negligência das famílias; seu
aproveitamento aconteceu com maior ênfase e clareza a partir do século XX, depois
muitos movimentos que indicavam o precário trabalho desenvolvido nesse nível de
ensino, prejudicando a escola elementar conforme mostra Kramer (1992, p.26):

A educação pré-escolar começou a ser reconhecida como necessária tanto


na Europa quanto no Estados Unidos durante a depressão de 30. Seu
principal objetivo era o de garantir emprego a professores, enfermeiros e
outros profissionais e, simultaneamente, fornecer nutrição, proteção e um
ambiente saudável e emocionalmente estável para crianças carentes de
dois a cinco anos de idade.

E somente depois da Segunda Guerra Mundial é que o atendimento pré-


escolar tomou novo impulso, pois a demanda das mães que começaram a trabalhar
nas indústrias bélicas ou naquelas que substituíam o trabalho masculino aumentou.
Houve uma preocupação assistencialista-social, onde se tinha a preocupação com
as necessidades emocionais e sociais da criança. Crescia o interesse de estudiosos
pelo desenvolvimento da criança, a evolução da linguagem e a interferência dos
primeiros anos em atuações futuras. A preocupação com o método de ensino
reaparecia.

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2.2. Miudezas Brasileiras

“Cada criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais com pouca


infraestrutura e condições socioeconômicas desfavoráveis, deve ter acesso
ao conjunto de conhecimentos socialmente elaborados e reconhecidos
como necessários para o exercício da cidadania para deles poder usufruir.”
BRASIL, 1997, p. 35.

A Educação Infantil no Brasil não difere tanto dos demais países do mundo,
aqui, as crianças eram diferenciadas por classes sociais e a partir dos 12 anos de
idade as crianças de classes populares eram vistas como adultas com menor
tamanho e desenvoltura tanto para a vida.
São vários os fatos históricos marcantes ocorridos no Brasil, que vai desde a
escravatura, a abolição, e a proclamação da república, o estado abre novas portas
para uma nova sociedade, porém carregada de opiniões e conceitos capitalistas e
urbano indústrias.
A infância aqui foi vista prioritariamente sobre o ponto de vista da saúde, com
o índice alto de mortalidade infantil, médicos e responsáveis que trabalhavam em
prol de crianças menos favorecidas, davam instruções voltadas à higienização,
tentando evitar o alto índice de mortalidade.
Devido a interesses governamentais,na época, em relação à mulher e a
criança, o estado procura regulamentar serviços de amas de leite e apresenta um
olhar diferenciado a menores trabalhadores e delinquentes; a fim de atender de
modo mais justo à crianças menos favorecidas pelo sistema.
Criam assim maternidades, creches e jardins de infância, com objetivo de
abrigar crianças provindas de mães que trabalhavam como doméstica e nas
indústrias. Nestes locais o principal foco de interesse era a alimentação,
higienização e segurança física.
A partir de 1919 o estado cria o departamento da Criança no Brasil, com a
intenção de resguardar a infância, porém é importante ressaltar e observar que o
programa acaba sendo mantido por doações e possuindo diversas tarefas tais como:
realizar histórico sobre a situação da proteção a infância no Brasil; fomentar
iniciativas de amparo à criança e à mulher grávida pobre; publicar boletins, divulgar

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estes conhecimentos; propagar a aplicação das leis de amparo à criança; entre
outros e isso acarretou em um trabalho árduo, mas sem uma avaliação singular e
uniformizadaurgem mudanças a partir dos anos 30, com a força da industrialização e
da urbanização o estado de bem-estar social passa a observar a criança como a
“matriz” de um adulto em potencial. Nascem várias instituições de amparo
assistencial e jurídico para o período infantil, tais como:

Departamento Nacional da Criança em 1940;


Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição em 1972;
SAM – 1941 e FUNABEM;
Legião Brasileira de Assistência em 1942 e Projeto Casulo;
UNICEF em 1946;
Comitê Brasil da Organização Mundial de Educação Pré-Escolar em
1953;
CNAE em 1955; OMEP em 1969 e COEPRE em 1975.

Os órgãos são criados e fortalecidos por um governo centralizado em política


pública e financeira, porém este modelo, não atinge a todos da população da mesma
maneira e o desenvolvimento qualitativo só aparece para alguns. Apesar do
surgimento destes órgãos a realidade permaneceu a mesma, isto é, pouco
absorvida na prática, reproduzindo assim um sistema de desigualdade já existente
na sociedade.
Entre os anos 60 e 70, tem-se um novo período de transformação política. Na
Educação, o nível básico é obrigatório e gratuito, como previsto na Constituição e no
ano de a lei 5692/71 traz o princípio de municipalização do ensino fundamental.
Porém, na prática, muitos municípios carentes começaram esse processo sem ajuda
do Estado e da União.
Com o passar dos anos, o governo percebe a necessidade de um novo
conceito escolar, pois é notório o grande número de repetência e evasão escolar das
crianças menos favorecidas no primeiro grau. Cria-se então, a educação pré-escolar
chamada educação compensatória, voltada para crianças de quatro a seis anos com

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o intuito de suprir as deficiências culturais existentes na educação familiar da classe
baixa.
É importante ressaltar ainda que este modelo de pré-escola não possuía um
caráter formal; não havia exigência na contratação de profissionais qualificados e
havia ausência de uma remuneração eficaz para a construção de um trabalho
pedagógico significante, diferente do pensamento que existe atualmente em relação
a Educação Infantil.
Com um a educação fragmentada, a maioria das creches/escola foca o
trabalho no assistencialismo, consistindo em ofertar alimentação, higiene e
segurança de baixa qualidade enquanto as creches particulares desenvolviam
atividades educativas, voltadas para aspectos cognitivos, emocionais e sociais.
Consta-se um maior número de creches particulares, devido à privatização e à
transferência de recursos públicos para setores privados.
Nos anos 80, os problemas referentes à educação pré-escolar são: ausência
de uma política global e integrada; a falta de coordenação entre programas
educacionais e de saúde; predominância do enfoque preparatório para o primeiro
grau; insuficiência de docente qualificado, escassez de programas inovadores e falta
da participação familiar e da sociedade.
Por meio do congresso, da ANPED e da Constituição de 1988, a educação
pré-escolar é vista como necessária e de direito de todos, além de ser dever do
Estado e deverá ser integrada ao sistema de ensino.
A partir daí, tanto a creche quanto a pré-escola são incluídas na política
educacional, seguindo uma concepção pedagógica, complementando a ação
familiar, e não mais assistencialista, passando a ser um dever do Estado e direito da
criança. Esta perspectiva pedagógica vê a criança como um ser social, histórico,
pertencente a uma determinada classe social e cultural. Ela tira a ideia que da
educação compensatória, que delega a escola à responsabilidade de resolver os
problemas da miséria.
Com a Constituição de 1988 tem-se confirmação da construção de um regime
de colaboração entre estados e municípios, nos serviços de Saúde e Educação de
primeiro grau. Há também a reafirmação no ensino público gratuito para todos os

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níveis escolares, fortalecendo a ideia do direito escolar a crianças de zero a seis
anos inseridas no sistema do ensino básico.
A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, lei 8069/90, fortalece o
movimento e o estado brasileiro passa a ser responsáveis pela infância e
adolescência, criando as diretrizes de atendimento aos direitos da criança e do
adolescente entre outras medidas, porém o governo vê na privatização das
empresas estatais o caminho para resolver seu problema de déficit público. Com
essa situação, a educação passa a aumentar o número de instituições que oferecem
programas de tipo compensatório, dirigido para as classes carentes.
A partir daí, outros documentos e leis foram elaborados tendo por finalidade
refletir sobre a educação infantil. Em 1990, foi publicado o Estatuto da Criança e do
Adolescente- ECA; em 1994 o MEC elaborou um documento intitulado Política
Nacional de Educação Infantil que relatava a real situação da educação infantil no
país, em 1996 foi promulgada LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
na qual o trabalho pedagógico na educação infantil ganhou nova dimensão no
âmbito educacional e em 1998 foi criado o Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil com o objetivo de discutir sobre a educação infantil e investir em
políticas públicas destinadas à aplicação de recursos financeiros que viabilizassem
uma educação infantil de qualidade. Segundo o Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil (1998. p. 39).
A educação infantil atualmente vem tendo um maior destaque no cenário
nacional, caracterizando um momento bastante diferente do anterior onde as
escolas eram “ditas” como responsáveis pela fase inicial do aprendizado da criança,
adquirindo assim um caráter de assistência social. Hoje, apesar de muitos
problemas e urgências, é consenso que essas instituições são, sim, um assunto do
âmbito da Educação onde especialistas, educadores e pesquisadores reconhecem a
importância do desenvolvimento integral nos primeiros anos de vida e encaram a
vivência escolar como parte essencial do processo acadêmico escolar.

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