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Luis Antonio Aparício Callaú (presidente), J oel Lemes da Silveira (vice-
presidente), Rosilene Gomes da Silva Rodrigues (secretária), Graciela
Duarte Rito Rodrigues Aço, André Fernandes Ribeiro Maia, Nelson
Custódio Fer
Comissão de Livros
João Evangelista Teixeira, Luiz Antonio Bove, Marcilei Aparecida Guazzelli
da Silveira (presidente), Marta Cristina Souza, Zeila de Brito Fabri Demartini
Editora executiva
Léia Alves de Souza
Itinerário
para uma Pastoral Urbana
CO-EDIÇÃO: EDITEO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Biblioteca Central da Universidade Metodista de São Paulo)
Bibliografia
EDITORA METODISTA
Capa: Cristiano Freitas
Editoração eletrônica: Maria Zélia Firmino de Sá
Permutas e atendimento a bibliotecas: Noeme Viana Timbó
Preparação de originais e revisão: Waldemar Luiz Kunsch
Telefone: (11) 4366-5537 - Fax: (11) 4366-5946 - e-mai!: editora@metodista.br
Impressão e acabamento: Assahi Gráfica e Editora
Apresentação 7
Geoval Jacinto da Silva
Prefácio 11
Clóvis Pinto de Castro
Não creio que ninguém, com um mínimo de sensibilidade, neste país, não impor-
ta qual seja a sua posição política, possaconviver em paz com uma realidade tão
cruenta e injusta quanto esta. Uma coisa, porém, é sentir-se mal, mas em seguida
encontrar argumentos manhosos - 'a preguiça do povo', 'a incultura do povo'.
'Roma não se fez num dia' - para explicar a tragicidade da situação e defender
hipóteses puramente assistencialistas de ação; a outra é tomar-se de uma 'justa
ira' e engajar-se em projetos políticos de transformação substantiva da realidade.'
Que, no contexto das cidades, sejamos tomados dessa 'justa ira' e tam-
bém da graça dAquele que renova todas as coisas!
A
tradição cristã protestante, em vez do termo "pastoral", dá prefe-
rência ao termo "ministério". Já a tradição católica, especialmente
depois da 11 Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano
- Celam (Medellín, 1968), passou a usar o temo "pastoral". É o termo que
também utilizamos aqui, entendendo-o, como o reformista Martin Lutero,
em ligação com o "sacerdócio universal", pelo qual todos os crentes são cha-
mados ao testemunho através de ações concretas. Concebemos, assim, a
pastoral como ação e testemunho de todos os participantes da comunidade
de fé. Para Castro (2000, p. 105),
Pastoral é a ação do povo de Deus na realidade cotidiana, onde, na
relação tempo/espaço, o ser humano se encontra. A preocupação básica da
pastoral é a eficácia e a relevância da fé cristã. Pastoral é também ação
intencional, sistemática organizada e coletivamente.
Dentro dessa conceituação, como escrevemos em outro trabalho, a
pastoral urbana, como ação do povo de Deus na cidade, tem como objetivo
bíblico, teológico e pastoral a criação de sinais de esperança em situações
de desesperança. A pastoral urbana não pode separar-se do símbolo de
esperança. Não é algo estático. Por isso é marcada pela dinâmica que se
desprende da prática da Igreja, que é motivada pelo Espírito de Deus a criar
sinais do Reino de Deus e a mostrar e viver a justiça divina através de
palavras e atos, tais como: curar os enfermos, expulsar os demônios, limpar
os leprosos, restaurar vidas e promover o ser humano. Na pastoral urbana
se estabelece o contraste e o conflito entre a construção da Babilônia, que
representa o esforço do ser humano, e a edificação da nova Jerusalém, onde
Deus mesmo habitará com os seres humanos.
IpIRANGA
Os campos de Piratininga, onde em 1554 se implantou a cidade de São
Paulo, de início, foram povoados lentamente. Por volta de 1850, a comu-
nidade local ainda era de apenas 1.500 habitantes, distribuídos em cerca de
cem residências, espalhadas pela colina ribeirinha do rio Tamanduateí. A
localização privilegiada desse núcleo urbano no caminho que levava ao mar
favorecia a concentração dos habitantes e, concomitantemente, a expansão
dos sítios e das fazendas nos arredores.
Um pouco fora do centro histórico da cidade, surgiria o Ipiranga, que
se tornaria notório quando, em 7 de setembro de 1822, às margens do
riacho que deu nome ao bairro, D. Pedro I proclamaria a Independên-
cia do Brasil. Nos anos subseqüentes começariam a ser construídos ali
o Monumento do Ipiranga e o atual Museu Paulista, mais conhecido
como Museu do Ipiranga. Integrando o Parque da Independência, esses
dois memoriais, inaugurados, respectivamente, em 1895 e 1922, represen-
18 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
PINHEIROS
Logo depois da fundação de São Paulo, criou-se, mais afastada do
núcleo histórico pioneiro, a Vila dos Farrapos, habitada por indígenas que
se deslocaram das áreas mais próximas do centro após a instalação, ali, dos
jesuítas. A área começou a ser ocupada a partir de 1562, quando recebeu
o nome de Nossa Senhora dos Pinheiros. Apesar de muitos duvidarem de
que tenha havido pinheiros no local, em 1584 foi baixado um decreto pela
Câmara Municipal que previa multa de 500 réis para quem cortasse qual-
quer árvore desse tipo no bosque da rua São José, atual rua Paes Leme. A
região passou a ser colonizada efetivamente no início do século XX, com
o nome de Sítio do Rio Verde. Note-se que o bairro também já foi conhe-
cido por Risca-Faca, por causa de alguns pontos ocupados por botecos e
indivíduos mal-encarados em determinada época de sua história.
Em 1924, ainda só se chegava ao local a cavalo ou a pé. No centro do
bairro havia um local que, transformado em importante ponto de trocas
comerciais, é conhecido até hoje como Largo da Batata. Naquela época, a
atual Vila Madalena, no limite norte do bairro, contava com cerca de dez
casas de alvenaria e o restante eram barracos. A eletricidade apareceu por
lá apenas em 1928. Somente na década de 1950, as ruas de terra passariam
a ceder lugar ao asfalto. A vila foi ganhando, em seu arruamento, os con-
tornos de um bairro planejado. Antes disso, a existência do Cemitério de
São Paulo movimentou a região, integrando-a à rotina da cidade.
A partir da década de 1960, se instalaria na região de Pinheiros, na
margem esquerda do rio do mesmo nome, a Cidade Universitária, ocupada
pela Universidade de São Paulo, que passou a abrigar uma população sig-
nificativa de estudantes, funcionários e professores. De se destacar também
que o bairro contém em sua parte mais alta, o Hospital das Clínicas, hoje
integrado à Universidade de São Paulo. A propósito, data de 1915 a assi-
natura de um acordo entre o governo do Estado de São Paulo e a Fundação
Rockfeller para a construção da Faculdade de Medicina e Cirurgia de São
Paulo. Esse instrumento também previa a criação de um hospital a ser uti-
PASTORAL URBANA 19
A PASTORAL URBANA
Abordamos aqui, de início, os fundamentos bíblico-teológicos da
temática, fazendo um pequeno estudo de caso de Barnabé, segundo os re-
20 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
FUNDAMENTOS BÍBLICO-TEOLÓGICOS
No livro dos Atos dos Apóstolos, Lucas registra o ingresso, na comu-
nidade apostólica, de "José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de
Barnabé, que quer dizer filho de exortação". E continua: "Levita, natural de
Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou
aos pés dos apóstolos (At 4,36 e 37).
No presente estudo, o que nos interessa é entender o ingresso de
Barnabé na comunidade dos discípulos na cidade de Jerusalém e como ele
desenvolve uma prática pastoral urbana tão significativa que foi o respon-
sável por introduzir Paulo de Tarso na comunidade dos discípulos.
O ingresso de Barnabé na comunidade inicia-se com uma entrega
incondicional dos recursos obtidos pela venda de uma propriedade. Paulo
Richard (2001, p. 63~64, apud Gianastacio, 2002) afirma que devemos in-
terpretar a venda do campo por Barnabé não somente como um ato de
desprendimento, mas como uma ruptura com o passado. Lembramos a ação
contraria de Judas, que com o preço de sua iniqüidade comprou um campo
(Lc 1,18). O campo, nos casos de Judas e de Barnabé, simbolizavam a
integração à institucionalidade judaica. Judas trai Jesus, rompe com o grupo
dos doze e volta atrás. Barnabé rompe com o passado e integra-se à comu-
nidade apostólica.
A atitude de Barnabé, de vender sua propriedade, traduz uma decisão
clara por viver na cidade. "Na cidade estão sempre em conflitos as ambições
pessoais e a solidariedade social. Alguns escolhem a solidariedade, outros
escolhem a ambição pessoal" (Comblin, 1996, p. 12). Segundo o testemu-
nho do texto bíblico, Barnabé fez uma escolha pela solidariedade e assumiu
os riscos desta opção.
Barnabé percebe a grandeza e as possibilidades desta nova comunidade
que está surgindo e coloca toda a sua confiança na nova instituição. Em
contrapartida, também recebe dos apóstolos toda a confiança para fazer a
transição do judaísmo para o helenismo. Barnabé, sabendo da desconfiança
dos apóstolos com relação a Paulo, é sensível aos problemas da cidade que
"matava os profetas", chamando a si a responsabilidade de introduzir Paulo
na comunidade dos apóstolos.
Diante da situação de desconfiança dos discípulos, até compreensível
em razão dos antecedentes de Paulo, Barnabé assume a responsabilidade de
abrir os novos caminhos. Lucas afirma que, depois da chegada de Paulo a
Jerusalém e diante da rejeição velada dos apóstolos, Barnabé, com seu
conhecimento da cidade, torna-se o guia para Paulo. "Mas Barnabé, toman-
PASTORAL URBANA 21
do-o consigo, levou-o aos apóstolos; e contou-lhe como ele vira o Senhor
no caminho, e que este lhe falara, e como em Damasco pregara em nome
de Jesus. Estava com eles em Jerusalém, entrando e saindo, pregando
ousadamente em nome do Senhor (At 9,27-28).
Barnabé é a pessoa-chave para acompanhar Paulo, no contexto urba-
no, que tem seus códigos próprios de comunicação e, por sua natureza, pode
contribuir para desmotivar qualquer pessoa que esteja em processo de for-
mação. E, no caso da cidade de Jerusalém, já desde os tempos do Antigo
Testamento, os profetas reclamavam que os seus moradores tinham posto
sua confiança na cidade em vez de colocá-la em Deus.
No caso de Barnabé, Lucas afirma que Barnabé caminha com Paulo,
acreditando no seu testemunho. O caminhar com ele é um movimento cons-
tante que exige tempo e energia. Possivelmente Paulo conhecia muito bem
a vida urbana da cidade de Jerusalém. Ele cresceu e viveu o tempo todo
naquela região. Entretanto, Barnabé, no contexto da cidade, possibilitou a
Paulo experimentar o sentido da "renovação através da renovação da mente".
Schneider (1995, p. 16-20) afirma que o "evangelho leva a uma renovação do
modo de pensar, a partir do discernimento daquilo que Deus quer".
A pastoral da cidade requer disposição e tempo para o exercício do
acompanhamento. Ela tem uma dimensão individual, mas é também comu-
nitária. Barnabé tira Paulo do anonimato, abre portas e pede que a comu-
nidade dos discípulos possa recebê-lo como um novo convertido que, erran-
te, depois de sua experiência do caminho de Damasco, precisa ser acolhido
na comunidade. Pois é nos grandes centros urbanos que as pessoas se tor-
nam desconhecidas e precisam da pastoral de acolhimento. Tanto Paulo
como Barnabé são frutos de quem rompe com o passado e busca acolhimen-
to na nova comunidade de fé e nela deseja plenamente participar a partir
da experiência com o Senhor ressuscitado.
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ENTRE A CIDADE E AS COMUNIDADES:
UMA LEITURA SÓCIO-PASTORAL
o DESAFIO DA IDENTIDADE
Nos tempos atuais existe uma forte tendência à privatização da esfera
pública, o que torna o pertencimento e a identidade negociáveis e revo-
gáveis. Devido aos deslocamentos freqüentes dos indivíduos, as identidades
tornaram-se flutuantes.
"A imagem da 'fraternidade' é o símbolo de se tentar alcançar o impos-
sível" (Bauman, 2005, p. 16). Transgredir fronteiras pode permitir apreender
a inventividade e a engenhosidade humanas ocultas. Identidade é algo a ser
inventado, portanto, alvo de esforço. O pertencimento em crise demanda
esforço para forjar a identidade. Segundo Bauman (2005, p. 30),
o DESAFIO DA COMUNIDADE
É muito importante ter em vista que as palavras carregam consigo sig-
nificados e sensações (Bauman, 2003, p. 7). Por isso, o que se sente frente
ao termo comunidade é a evocação de um reduto cálido, cômodo e acon-
chegante. Ele traz à mente um emaranhado de significados e sensações dos
quais se sente falta e dos quais se depende para uma vida segura e confian-
te. A liberdade e a segurança são necessárias para que se viva, mas não
podemos vivê-las de modo concomitante na mesma medida de nossa von-
tade. Apesar disso, "sendo humanos, não podemos realizar a esperança, nem
deixar de tê-la" (Bauman, 2003, p. 11). E isto não invalida a necessidade
de se ter em mente que não vale a pena crer que existem soluções que
dispensem ponderações e correções.
Comunidade é um espaço de entendimento, que se sustenta em um
sentimento recíproco que cria vínculos. No interior da roda do aconchego
que é a comunidade, as pessoas não são obrigadas a provar nada e, por isso,
não obstante o que façam ou não façam, podem esperar simpatia e ajuda.
Para Bauman, há um quê de mesmidade nisso. Ele aduz que, frente aos
demais agrupamentos humanos, a comunidade é "distinta" (tem visibilidade
o seu começo eo seu fim), "pequena" (quem a integra pode vê-la) e "auto-
suficiente" (é um arranjo integral).
A sina de indivíduos que lutam em solidão pode ser dolorosa e pouco atra-
ente, mas firmes compromissos a atuar em conjunto parecem prometer mais
perdas do que ganhos. Pode-se descobrir que as jangadas são feitas de mata-
borrão só depois que a chance de salvação já tiver sido perdida (Bauman,
2003, p. 59).
Cada ordem tem suas próprias desordens; cada modelo de pureza tem sua
própria sujeira que precisa ser varrida. Mas, numa ordem durável e resistente,
que se reserve o futuro e envolva ainda, entre outros pré-requisitos, a proi-
bição da mudança, até a ocupação de limpeza e varredura são partes da or-
dem (Bauman, 1998, p. 20).
INDIVÍDUO E COMUNIDADE
Percebe-se, finalmente, que Bauman navega bem nas questões humanas,
sociais e políticas. E, como a ação pastoral se encontra bem situada dentro do
eixo igreja-mundo, é imprescindível destacar que os temas que ele traz para o
campo de discussão teórica são substanciais no que conceme à práxis religiosa.
Ele manifesta uma grande sensibilidade para com temas relativos ao processo
de humanização, focalizando a questão da globalização e problematizando a
mesma quando esta se constitui num progresso que não inclui o ser humano.
Hodiernamente se vivem processos permanentes de descobertas, o que
implica criação e recepção. Experimentar implica a admissão de riscos.
Retomando Foucault, Bauman afirma que a crítica é um risco e tem como
tarefa mediatizar a facilitação da dificuldade. Segundo ele, "a noção de
verdade pertence à retórica do poder" Bauman, 1998, p. 143). Daí o fato
de os seres humanos emergirem como modalidades de simulacros. "O mun-
do dá a impressão de uma contínua interação entre os artistas do jogo da
vida, diversamente habilidosos e diversamente inteligentes".
Segundo nosso autor, para estudar a realidade da liberdade humana,
é importante considerar que se está caminhando em terrenos onde circulam
culturas, o que demanda questões concernentes a: "pluralidade de culturas"
e "fidelidades culturais", que implicam "liberdade de escolhas", "estru-
turas culturais", que implicam disponibilidade de opções.
34 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
REFERÊNCIAS
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zes, Z002.
A TEOLOGIA PRÁTICA:
MODERNIDADE E URBANIDADE
Ed Renê Kivitz*
E
ste ensaio tem como objetivo mostrar a relevância da teologia prá-
tica como uma das disciplinas teológicas da modernidade, ao lado
das teologias bíblica, sistemática e histórica. Além de estabelecer a
distinção entre a Teologia Prática e a Teologia Pastoral, desejo esclarecer
as competências de cada uma das disciplinas teológicas da modernidade,
seus objetos de estudo específicos e sua relevância no contexto eclesial da
América latina, notadamente no Brasil.
Filoramo (1999, p. 5) afirma que
* Pastor da Igreja Batista de Água Branca, em São Paulo (SP), mestre pelo Programa de
Pós-Graduação em Ciências da Religião, da Universidade Metodista de São Paulo.
E-mail: edrenekivitz@uol.com.br.
36 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
teologia como "narrativas míticas sobre os deuses contadas pelos poetas, es-
pecialmente Homero e Hesíodo". Para Platão, a teologia era "um discurso
poético, uma ordenação de mitos, uma narrativa simbólica entre divinda-
des". Já Aristóteles identificava teologia com metafísica, o que fazia da
teologia não apenas uma ciência, mas a ciência primeira e verdadeira, pois
tratava "não de símbolos, mitos e narrativas, mas da realidade do divino
como ele realmente é". Em sua Metafísica, Aristóteles disse que "a ciência
mais divina é a ciência das coisas divinas".
A teologia entrou no cenário do cristianismo através dos apologetas ou
pais da Igreja, pois, conforme Floristán (2002, p. 123), "a teologia [cristã,
acrescentaria eu] nasce quando a fé cristã se confronta com a cultura grega
e a política romana". Gross (2001, p. 327) comenta que
Silva (2003, p. 203, 20S) diz que a teologia pastoral está mais
relacionada com a vida eclesial, que sua ênfase está no ensino do "santo
ofício" e que, portanto,
sua atenção voltada para atender, num primeiro momento, aos interesses da hie-
rarquia eclesial. [...] A teologia pastoral está vinculada aos centros de formação e
visa à construção crítica no interior da vida da Igreja enfrentando sua autentici-
dade de fazer teologia, a partir das ações das comunidades.
a Igreja não pode ser entendida nela e por ela mesma, pois está a serviço de
realidades que a transcendem, o reino e o mundo. Mundo e reino são as
pilastras que sustentam todo o edifício da Igreja. Primeiro apresenta-se a
realidade do reino, que engloba mundo e Igreja. Reino - categoria utilizada
por Jesus para expressar sua ipsissima imentio - constitui a utopia realizada no
mundo (escatologia); é o fim bom da totalidade da criação em Deus finalmen-
te liberta e totalmente de toda imperfeição e penetrada pelo divino que a
realiza absolutamente. Reino perfaz a salvação em seu estado terminal. O
mundo é o lugar da realização histórica do reino. Na presente situação ele se
encontra decadente e marcado pelo pecado; por isso o reino de Deus se cons-
trói contra as forças do anti-reino; impõe-se sempre um oneroso processo de
libertação para que o mundo possa acolher em si o reino e desembocar no
termo feliz. A Igreja é aquela parte do mundo que, na força do Espírito, aco-
lheu o reino de forma explícita na pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus
encarnado em nossa opressão, guarda permanente memória e a consciência
do reino, celebra sua presença no mundo e em si mesma e detém a gramática
de seu anúncio, a serviço do mundo. A Igreja não é o reino mas seu sinal
(concreção explícita) e instrumento (mediação) de implementação no mundo.
a teologia prática adquire seu perfil próprio como disciplina teológica a me-
dida que se entende como intercessão entre a teologia e as ciências empíricas
que lhe são afins [sociais e humanas]. A sua tarefa consiste em refletir, em
parceria com essas ciências, sobre a forma mais eficaz de viabilizar a utopia
do reino de Deus neste mundo (Hoch, 1998, p. 65).
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EXCLUSÃO SOCIAL E MISSÃO
NO CONTEXTO URBANO
Douglas Nassij Cardoso *
Josué Barbosa Cordeiro**
DEFININDO CONCEITOS
EXCLUSÃO SOCIAL
A exclusão social designa a ruptura da pertença de determinado grupo
de pessoas da sociedade, motivada pela incapacidade em acessar os recursos
básicos para suprir suas necessidades vivenciais ou então por outras formas
de discriminação. Situações de desigualdade social e de preconceitos, onde
ocorrem injustiça e marginalização, são formas de exclusão social. Trata-se
do resultado de um processo sócio-histórico que lança determinado grupo
para as margens da vida social.
Muitos são os tipos de exclusão social, produzindo como conseqüência
em quem a sofre marcas que passam da violência psicológica até a física,
além da incapacidade de desenvolver sua personalidade. Cristóvão Buarque
(1993) assim define a exclusão social:
FAVELA
O desenvolvimento das cidades, a partir do surgimento da revolução
industrial, foi intenso, levando ao aumento da segregação social em razão
não só do tipo, mas também do local da moradia. O mapa desta segregação
espacial pode ser traçado pela distinção do zoneamento urbano - bairros
ricos, bairros pobres e favelas: "A sociedade é formada por relações de pro-
ximidade e separação que são, antes de mais nada, relações hierárquicas"
(Bourdieu, 1999, p. 160).
O tipo e o local em que é edificada uma moradia expressa a posição de
uma pessoa ou de um determinado grupo dentro de seu contexto social.
Pode-se determinar a classe social, o estilo de vida, o nível de exclusão ou
inclusão de uma pessoa através da análise do tipo e dos conteúdos de sua
casa. Algumas pesquisas sociais atribuem valoração às dependências da casa
(número de quartos, número de banheiros) e ao acesso a bens de consumo
EXCLUSÃO SOCIAL E MISSÃO NO CONTEXTO URBANO 51
MISSÃO URBANA
A importância do conceito de missão no cristianismo está intimamente
ligada aos conceitos de encarnação e serviço de Jesus. O desafio da Igreja
é proclamar e viver o evangelho a partir do estilo de missão de seu mestre:
o Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos
pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da
vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos e apregoar o ano aceitável
do Senhor. Lc 4, 18-19).
plo de seu mestre. Não importa o tipo de sistema opressor, seja ele político,
econômico ou social, ser Igreja exige o esforço na transformação da sacie,
dade, na implantação do reino de Deus.
As ações afirmativas da Igreja em sociedade são mais que projetos
assistencialistas visando captar novos adeptos. Trata-se de sua razão de ser
("boas obras" - Ef 2, 10), da obediência à comissão recebida de seu Senhor
("ide" - Mt 28, 18,20) e caracteriza-se por uma atividade pastoral realizada
por todos os seus membros ("sacerdócio universal dos crentes em Cristo" -
I Pe 2, 9 / Ap 1, 6) nos diversos espaços do cotidiano e não apenas por
"especialistas da fé":
HISTÓRICO
O Centro Social Evangélico do Sacomã, segundo os arquivos da enti-
dade, foi fundado em 14 de junho de 1964, por iniciativa de membros da
Igreja Presbiteriana Independente (IPI) do Sacomã. Um de seus fundadores,
presbítero Hilder Stutz, informou que o Ceses foi criado visando atuar de
forma efetiva junto às áreas de exclusão social do bairro, buscando traba-
lhar, a partir de sua origem, em parceria e cooperação com segmentos tanto
da iniciativa privada como de órgãos públicos.
O artigo 1Q dos estatutos sociais originais do Ceses assim o definia:
"Entidade filantrópica, que objetiva, sem fins lucrativos, assistir, no espírito
do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, necessitados de qualquer credo,
raça, cor ou condição social". Desde então, a entidade, em parceria com a
IPI, tem se posicionado ao lado das pessoas que correm risco ou estão em
situação de exclusão social, seu público,alvo preferencial, desenvolvendo
projetos para melhorar suas condições de vida e valorizar sua cidadania.
54 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
pela Dra. RacheI César de Almeida, membro da IPI, que atuava como
voluntária. Os pacientes eram submetidos à triagem realizada por assistente
social. O projeto possuía uma clínica odontológica e atuava em quatro áreas
de especialização: dentística (restauração), endodontia (tratamento de
canal), periodontia (tratamento de gengiva) e cirurgia (extrações).
A última extensão do Ceses foi estabelecida há sete anos no bairro da
Vila Carioca, na Rua Alda, n. 309. Esta unidade situa-se entre as favelas de
Heliópolis e a denominada "Paraguai".
Seguindo logística estabelecida pela IPI, suas congregações são pró-
ximas da sede, localizando-se em raio de aproximadamente três quilôme-
tros, o que facilita a interação entre seus diversos projetos e o desloca-
mento de seu pessoal. Em cada unidade da IPI é desenvolvida uma exten-
são do Ceses, ocupando desta forma as instalações e os equipamentos da
igreja durante toda a semana.
Durante as quatro décadas de funcionamento sem solução de continui-
dade, o serviço prestado por esta entidade foi diversificado, atendendo as
necessidades exigidas em cada momento histórico, ajustando e coordenando
a cada projeto seu quadro de pessoal contratado, o voluntariado, os
mantenedores e as parcerias com órgãos públicos e instituições privadas.
O desenvolvimento do Ceses também pode ser notado pelo aumento da
abrangência de suas propostas. Em assembléia geral de membros, no dia 17 de
outubro de outubro de 2004, se alterou seu estatuto social, dando-se nova
redação aos artigos 2°e 3°. Suas finalidades ficaram assim definidas:
OBJETIVO
Entre os objetivos específicos do Ceses, segundo relatório de atividades
produzido por Loide Muniz Barreros, podemos citar: oferecer programação
que contemple os interesses e as necessidades das diferentes faixas etárias;
promover um ambiente facilitador do processo de socialização das crianças
e dos adolescentes; estimular e fortalecer o acesso ao ensino regular; favo-
recer o desenvolvimento físico e intelectual; assegurar um espaço de trocas
culturais e de lazer; garantir as necessidades nutricionais das crianças e dos
adolescentes de acordo com a faixa etária atendida, proporcional ao período
de permanência no equipamento; implementar um trabalho integrado entre
escola, família e comunidade; propiciar meios para o desenvolvimento de
hábitos saudáveis; promover reflexões críticas sobre valores éticos, morais,
sociais, a fim de que todos se percebam como cidadãos com direitos e
deveres, capazes de serem co-autores de suas próprias histórias.
O Ceses exerce também ação efetiva de prevenção contra a violência,
ao acolher crianças e adolescentes, retirando-as da exposição de situações
de risco encontradas nas ruas.
USUÁRIOS E FUNCIONAMENTO
Quanto aos usuários, as unidades do Sacomã (Projeto Brincar de Vi-
ver) e do Jardim Botucatu (Projeto Segunda Milha) atendem, cada uma,
sessenta crianças e adolescentes na faixa etária compreendida entre seis e
catorze anos, de ambos os sexos, sendo, portanto, centros de juventude. A
EXCLUSÃO SOCIAL E MISSÃO NO CONTEXTO URBANO 57
INVESTIMENTO
Visando conhecer os investimentos necessários para a manutenção dos
projetos mantidos pelo Ceses, apresentamos a seguir a relação da média mensal
das despesas do último ano, 2004, reunidas em cinco contas principais:
Despesas mensais médias Valor o'
Fonte: Relatório Financeiro do Ceses, fornecido pela tesoureira Marlene Malta Correia.
58 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
OUTROS PROJETOS
Não foram consideradas neste tópico as oficinas ocasionais realizadas
durante as atividades regulares. Da mesma forma não incluímos as palestras
educativas e os encontros de orientação com os pais.
• Projeto Dorcas: Distribuição, em convênio com a Secretaria Esta-
dual de Agricultura e Abastecimento, de cestas básicas a 150 famílias, uma
vez por mês. Distribuição de cestas básicas emergenciais, roupas, calçados,
remédios e óculos em conjunto com a Mesa Diaconal da IPI. Além disto,
é realizado o acompanhamento das famílias em suas dificuldades de saúde,
educação e trabalho, providenciando os devidos encaminhamentos.
• Projeto Vida: Encaminhamento de jovens e adultos a casas de re-
cuperação. Atendimento ocasional.
• Projeto Viva Leite: Em convênio com a Secretaria Estadual de
Agricultura e Abastecimento, entrega-se duas vezes por semana leite tipo
C. São atendidas cem famílias, devidamente cadastradas, recebendo dois
litros cada uma delas.
• Projeto Musical: Formação de um coral infantil, dotado de instru-
mentos musicais, voltado para músicas folclóricas e sacras. São atendidas
cem crianças por semana, distribuídas em grupos menores nas três unida-
des do Ceses. Ocasionalmente o coral é reunido para apresentações espe~
ciais. No ano passado foi gravado um cd deste conjunto. Este projeto visa
desenvolver a sensibilidade musical das crianças e o desenvolvimento de
talentos musicais.
EXCLUSÃO SOCIAL E MISSÃO NO CONTEXTO URBANO 59
REFERÊNCIAS
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BOURDIEU, Pierre. La distinction: critique sociale du jugement. In: RIBEIRO, Luiz C. de Queiroz;
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pole/Grupo de Pesquisa Pronex. São Paulo: Educ, 1999. Disponível em: <http://salu.cesar.org.br>.
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1993. Disponível em: <http://www.conteudoescola.com.br>.
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Integral y Pobreza". Quito, Clade IV, ser. de 2000. [Mimeo).
FLORISTÁN, Casiano. Teología práctica: teoría y práxis de la acción pastoral. Salamanca: Ediciones
Sígueme, 1993.
RIBEIRO, Luiz C. de Queiroz; LAGO, Luciana Corrêa do. A divisão favela-bairro no espaço social do
Rio de Janeiro. Disponível em: <http://salu.cesar.org.br>. Acesso em: maio 2007.
o FENÔMENO DO TRÂNSITO RELIGIOSO:
DESAFIOS E PERSPECTIVAS
PARA A IGREJA URBANA
* Bacharel em Teologia pelo Instituto Concórdia de São Paulo (SP), pastor da Igreja
Luterana, especialista em Teologia pela Escola Superior de Teologia (RS) e mestre em
Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo.
E-mai!: jonasrodrigobecker@yahoo.com.br.
1 Para uma breve discussão acerca de modernidade e pós-modernidade, pode-se ver Becker
(2002). E para aprofundar o assunto: Giddens (1991); García Canclini (1998); Castiüera
(1997); Connor (2000); Harvey (s.d.), jameson (1996); Rivera (2001).
62 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
Cidade Trânsito(%)
Rio de Janeiro 30
São Paulo 15
Belo Horizonte 25
Porto Alegre 18
Salvador 13
Recife 18
Média 19,83
66 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
"Hem? Hem? O que mais penso, testo e explico: todo-a-mundo é louco. O se-
nhor, eu, as pessoas todas. Por isso é que se carece principalmente de religião:
para se desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da loucura. No geral. Isso é
o FENÔMENO DO TRÂNSITO RELIGIOSO 67
que é a salvação-da-alma... Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco ocasião
de religião. Aproveito de todas. Bebo água de todo rio... Uma só, para mim é pouca,
talvez não me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo; e aceito as preces de
compadre meu Quelemém, doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso, vou no
Mindubim, onde um Matias é crente, metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto
a Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me quieta, me suspende. Qualquer
sombrinha me refresca. Mas é só muito provisório. Eu queria rezar - o tempo todo.
Muita gente não me aprova, acham que lei de Deus é privilégios, invariável. E
eu! Bofe! Detesto! O que sou? - o que faço, que quero, muito curial. E em
cara de todos faço, executado. Eu? - não tresmalho! [...] Olhe: tem uma preta,
Maria Leôncia, longe daqui não mora, as rezas dela afamam muita virtude de
poder. Pois a ela pago, todo mês - encomenda de rezar por mim um terço, todo
santo dia, e, nos domingos, um rosário. Vale, se vale. Minha mulher não vê mal
nisso. E estou, já mandei recado para uma outra, do Vau-Vau, uma Izina
Calanga, para vir aqui, ouvi de que reza também com grandes meremerências,
vou efetuar com ela trato igual. Quero punhado dessas, me defendo em Deus, reu-
nidas de mim em volta... Chagas de Cristo!"
A religião serve para dar sentido à vida das pessoas, curar o corpo e a
alma, purificar ou salvar. Panikar (1993, p. 6) entende salvação "em seu
significado etimológico mais amplo: tudo aquilo que nos faz inteiros, sãos,
livres e completos". Na pesquisa do Ceris (2000, p. 29-30, 85-86, 136, 189-
190,241,292-293), tem-se clara percepção disso.
Busca-se uma religião como apoio, auxílio; para dar sentido à vida.
Como a vida é um mistério e um milagre, a religião deve trazer ao indivíduo
respostas no sentido de perpetuar a vida. Isso acontece nos cultos, rituais,
milagres, poderes sobrenaturais, onde se possa receber e perceber as bênçãos
de Deus (ou de deuses), nesta vida e na futura.
O trânsito religioso, nesta acepção, pode ser compreendido, como um
meio de busca do mistério, do milagre, do sobrenatural. Se, em determinada
religião, o indivíduo não encontra o pretendido, recorre à outra agência de
bens divinos, onde, acredita, ser-lhe-á possível tal encontro.
Aqui entram em cena os elementos do complexo mundo contemporâ-
neo, os quais passamos a considerar. Primeiramente, a questão das respostas
imediatas aos problemas, pois vivemos na era da velocidade! Busca-se deter-
minada religião acreditando obter nela resposta imediata a algum problema.
Se isso não acontecer, procura-se uma nova religião (transita-se), acreditan-
do que esta irá proporcionar o que se espera. Vale o "se não sou atendido
agora, se meu problema não for resolvido agora, procuro outra religião".
Pensemos no mercado religioso: não se encontrando o produto (bem
religioso) desejado, recorre-se ao concorrente que o oferece da forma como
68 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
Além do mais, mesmo para aqueles e aquelas que afirmam uma pertença e
participação em outras expressões religiosas, verificamos que para a maioria
dos entrevistados essa participação é complementar, combinando tranqüila-
mente, sem qualquer sentimento de culpa, elementos de suas tradições reli-
giosas com aqueles evocados pelos grupos que 'visitam' (Souza, 2001, p. 165).
"A prática simultâneade religiões distintas é vista de modo geralcomo algo a ser
evitado pois indica 'uma fraqueza de fé', 'uma dúvida da verdade', uma inse-
gurança". Ainda assim, no entanto, é possível notar "entre os pentecostais a ida
simultânea a denominações distintas". Por isso, "a adoção da identidade evan-
gélica parece ser mais importante para os pentecostais do que sua identidade
denominacional" (Mariz e Machado, 1994, p. 29).
REFERÊNCIAS
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EDUCAÇÃO RELIGIOSA:
UM DESAFIO PARA
A IGREJA URBANA
3) ENSINAR A VIVER
A terceira finalidade educacional exige do educador a consciência de
que faz parte de sua tarefa preparar o educando para "afrontar" os proble-
mas e as incertezas próprias da existência humana. As ciências constituem
excelente ponto de partida para o ensino das incertezas quando percebidas
em sua capacidade de revelar o caráter aleatório, acidental e mesmo
cataclísmico, da história do cosmos, da terra e da vida. Também a literatu-
ra, a poesia e as artes em geral são profícuas na revelação de problemas e
experiências cruciais da existência humana e auxiliam o educando a prepa-
84 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
o QUE É COMPLEXIDADE?
A palavra "complexo" traz consigo conotações não muito positivas ou
até pejorativas, aludindo muito mais ao que é difícil e complicado, em vez de
simples e claro. "Complexo" pode ser um termo compreendido até mesmo
como emaranhado, embrulhado, impuro; algo que está à espera de simplifi-
cação. Apesar de tal interpretação ainda persistir, outras formas de utilização
da palavra se tornaram cada vez mais comuns, por exemplo, nos campos da
matemática, da química, da cibernética, da psicanálise e atualmente constitui
uma das noções cardinais da antropologia (Ardoino, 2002, p. 548).
O substantivo "complexidade" apareceu durante o século XX em cam-
pos como a ecologia, a etologia, a cibernética e as redes de sistema. No
campo filosófico, o conceito representa uma tomada de posição epis-
temológica. Segundo Ardoino (2002, p. 550),
início deste trabalho. Entretanto, muito seria exigido dos líderes para que
estas finalidades fossem atingidas. Muitas das práticas considerada "sa-
crossantas" em virtude da tradição podem constituir-se em grandes
impedimentos para que tais finalidades sejam atingidas.
A primeira das finalidades propostas, ou seja, formar espíritos capazes
de organizar o próprio conhecimento em lugar de acumular informações,
pode implicar estímulo à dúvida e às problematizações, o que pode fomentar
a capacidade para questionar, para reavaliar pressupostos e certezas. Patro-
cinar a incerteza não parece uma atitude adequada ao educador religioso de
quem é esperado que possua todas as respostas. Entretanto, tal atitude é
necessária para que o próprio aprendiz descubra o caminho para o pensa-
mento autônomo e responsável diante de suas descobertas, o que, aliás,
pode também não ser algo tão desejado por muitos líderes inseguros que
consideram mais proveitoso manter a dependência.
Ao considerarmos a prática educativa de Jesus, conforme apresentada
nos evangelhos, é possível perceber que inúmeras vezes sua atitude ocorre
exatamente no sentido de desenvolver nos ouvintes esta organização (ou re-
organização) do conhecimento. Ao afirmar "ouvistes o que foi dito [...] eu,
porém vos digo", Jesus parece propor um confronto de ideais que impõe ao
ouvinte uma avaliação das duas proposições e a tomada de decisão em favor
de uma delas, o que implica organização do pensamento e conseqüente
responsabilidade pessoal em relação ao modo de pensar dali em diante.
Ensinar a condição humana pode também ser algo um tanto complicado
para educadores responsáveis pelo ensino de práticas religiosas excludentes,
que reconhecem apenas a si mesmos como detentores da graça divina en-
quanto todas as demais pessoas estão definitivamente perdidas, a não ser que
se arrependam e se convertam à denominação "certa". Entretanto, pode ser
extremamente estimulante e desafiador para os educadores interessados em
aproveitar os recursos que estão disponíveis nas diversas manifestações do
saber construído pela humanidade ao longo de sua história. Através da poesia,
da literatura e mesmo das descobertas científicas, muito se pode fazer para
que a condição humana seja devidamente reconhecida e valorizada, o que
pode resultar em progressos também na esfera religiosa.
Neste particular, é interessante João Calvino, para quem o princípio da
verdadeira sabedoria consiste em duas vertentes: o conhecimento de Deus
e o conhecimento de si mesmo. Para ele, estes dois lados do conhecimento
estão de tal forma ligados que é impossível começar por um deles sem que
se chegue inevitavelmente ao outro. Assim sendo, o conhecimento da con-
dição humana pode auxiliar na busca pelo conhecimento de Deus.
a aprendizado da cidadania também se revela de suma importân-
cia para que o "cidadão do reino" se reconheça também cidadão do
88 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
seu bairro, da sua cidade, do seu país e, como diz Morin, cidadão pla-
netário. Certamente esta cidadania celestial não pode prescindir de
responsabilidades em relação ao mundo para o qual todo cristão é
enviado para ser sal e luz.
Finalmente, aprender a viver, talvez mais do que em qualquer outro
tipo de escola, deveria ser um alvo perseguido arduamente nas escolas de
ensino religioso. Já não é mais o tempo de se ensinar uma religião que tenha
conseqüências apenas na eternidade. O aprendizado da religião requer
comprometimento com certo estilo de vida. Qualquer que seja o estilo de
vida proposto pelas diferentes religiões, será vivenciado num contexto de
incertezas e de complexidades que caracteriza o mundo atual e em relação
às quais se faz necessário um posicionamento tanto dos educadores quanto
dos educandos, quer sejam religiosos ou não.
Certamente muitas outras considerações podem ser feitas em relação aos
desafios da complexidade e à educação religiosa. Os limites deste trabalho
inviabilizam uma aprofundamento do tema, permitindo, entretanto, que o
mesmo seja um ponto de partida para reflexões posteriores sobre o mesmo.
Necessário se faz, entretanto, que o incômodo inevitavelmente provo-
cado pela proposta de reforma radical no pensamento não impeça o educa-
dor cristão da aventura da tentativa de descobrir em que consiste a com-
plexidade e de que maneira é possível assumir os desafios que ela propõe,
e isto em benefício de uma prática educativa transformadora, que é a vo-
cação inicial da educação cristã conforme proposta por seu fundador.
REFERÊNCIAS
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XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
MORIN, Edgar. A religação dos saberes: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002a.
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WILES, Joseph Pitts. As institutas da religião cristã: um resumo. São Paulo: Publicações Evangélicas
Selecionadas (PES), 1984.
A FILOSOFIA DA PRÁXIS EM
DIÁLOGO COM A PASTORAL URBANA
O
conceito de práxis experimentou transformações, e ganhou con-
tomos ao longo da história. Desde a antiguidade grega, em que a
filosofia ignorou e por vezes reprimiu o mundo prático, sendo a
atividade prática tida como indigna de um ser humano livre, visto que todo
trabalho braçal era destinado aos escravos. O ser humano, na antigüidade,
se faz a si mesmo se isentando de toda atividade prática material, separando
a teoria, a contemplação, da prática (Vázquez, 1968, p. 17).
A partir de Aristóteles práxis pode ser compreendida como atividade
imanente, como trabalho humano distinto da técnica e da arte, que entra-
nha uma opção ética, conforme analisa Casiano Floristán (2002, p. 174).
Entre os autores gregos antigos, Aristóteles, foi quem mais fez uso do termo,
e nem sempre a palavra possuiu em seus textos um sentido claro e unívoco.
De forma ampla, a palavra práxis para ele designava uma atividade ética e
política, diferente da atividade produtiva, entendida como poiésis (Konder,
1992, p. 97).
Platão foi quem separou os termos prática e teoria, equivalendo a
teoria a contemplação, compreendida aí a contemplação das idéias. A
teoria é privilégio de uma minoria de homens livres, enquanto para a
maioria basta a práxis ou a participação na vida como cidadão, esta
destinada aos homens livres. Ao escravo esta reservada a poiésis (poe-
sia), ou seja, a produção (Floristán, 2002, p. 174).
O aprimoramento humano se dá pela negação de qualquer atividade
prática material, separando a teoria, a contemplação e a prática.
Com Platão a vida teórica, como contemplação das essências, isto é, a vida
contemplativa (bios theoretikós) adquire uma primazia e um estatuto metafísico
que até então não tivera. Viver, propriamente é contemplar. [...] Os homens
livres só podem viver - como filósofos ou políticos - no ócio; entregues à
contemplação ou à ação política, isto é, em contato com as idéias ou regu-
lando conscientemente [grifo nosso] os atos dos homens, como cidadãos da
pólis (Vázquez, 1968, p. 17-18).
Por outro lado, o cristão não aceita uma práxis fora da sua fé, assim
como o não cristão não necessita de fé. O autor afirma que em termos
históricos pode haver algumas características próprias na práxis dos cristãos:
a fraternidade; o amor aos inimigos e o perdão. Não há, portanto, uma
práxis cristã distinta de qualquer outra práxis humana.
Para M. Lefevbre existem três níveis da prática: a repetitiva; a mimética,
que cria pela imitação; e a inovadora, sobretudo na ação revolucionária. O
teólogo Clodovis Boff define práxis como "o conjunto de práticas que tendem
a transformação da sociedade ou a produção da história" compreende-se que
a práxis possui, portanto, uma dimensão política. Para Floristán (2002, p. 176-
177), o binômio teoria /práxis se estabelece, mediante a reflexão e a ação.
Entre teoria e prática há uma relação dialética e permanente dinâmica, por
A FILOSOFIA DA PRÁXIS EM DIÁLOGO COM A PASTORAL URBANA 99
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LUTO E EXISTÊNCIA
NA PERSPECTIVA PASTORAL
DA CIDADE
Blanches de Paula*
C
orno a idéia de "luto e existência" se aproxima da discussão sobre
a pastoral urbana? Esta indagação envolve uma série de outras in-
quietações nesse contexto. Nosso olhar, no presente artigo, é uma
tentativa de encontrar caminhos e perspectivas metodológicas que iluminem
a construção de pastorais na cidade. A realidade das perdas no seio das
cidades não é novidade. Mas o desafio é como adentrar o diálogo sobre o
tema na ótica da pastoral. O caminho por nós escolhido é buscar recursos
na filosofia, na psicologia e, evidentemente, na teologia.
Assim, o presente trabalho é um ensaio em tomo de uma aproximação
do método fenomenológico e do fazer teológico-pastoral. Portanto, uma
primeira aproximação que objetivou, pedagogicamente, apropriar-se de um
novo saber que coloca como questão a própria formação na produção de
conhecimento. Nesse sentido abordamos esse exercício interdisciplinar em
três momentos. O primeiro momento tratou de conceitos básicos de
fenomenologia e das principais concepções que envolvem o método
fenomenológico. No segundo momento adentramos os pressupostos básicos
da práxis religiosa e o método fenomenológico. No terceiro momento des-
tacamos aspectos relevantes sobre o luto como um fenômeno a ser estudado
pela práxis religiosa através do método fenomenológico.
LUTO E FENOMENOLOGIA:
APROXIMAÇÕES INTRODUTÓRIAS
Para começarmos a tecer alguns fios dos ricos caminhos oferecidos pela
fenomenologia é necessário adentrarmos no universo de conceitos que
perpassam essa forma de olhar o mundo. Falar de fenomenologia está
Mauro Koury (2003, p. 35) nos ajuda a fazer esse exercício metodológico
sobre o contexto do luto em terras brasileiras:
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Metodista de São Paulo: Sobraphe, 2000.
AS FRONTEIRAS DA
MISSÃO URBANA
N
o povoado rural, o homem norteava a sua vida a partir de três
referenciais bem definidos - a igreja, o trabalho e a família -,
tendo seus passos vigiados pelo pároco, pelo patrão, pelo côn-
juge ou pelos pais. Esse modelo tende a implodir quando o homem migra
do pequeno povoado e chega ao grande centro urbano. Sua nova leitura
da vida passa a ser a partir da consciência de que na cidade se é livre.
* Bacharel em Teologia e Pastor da Igreja Batista, mestre e doutorando pelo Programa de Pós-
Graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo.
E-mail: j.schutz@terra.com.br.
114 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
Devemos rever nossas atitudes em relação à acolhida das pessoas na Igreja. [...]
Por que uma parte tão grande da humanidade está longe de Cristo e, ainda
mais, das comunidades cristãs? [...] É muito provável que nem dez por cento dos
católicos estão indo à missa nos finais de semana.
(1) Estabelecer atividades nas igrejas entre os pobres, que sejam verdadeiras
igrejas dos pobres, voltadas para o atendimento de suas necessidades, que
expressam a liderança e a forma de cultuar desse povo.
(2) Estabelecer movimentos de discipulado entre a elite culta e os não pobres,
que possuam uma determinada teologia bíblica de justiça, economia e sociedade.
116 ITINERÁRIO PARA UMA PASTORAL URBANA: AÇÃO DO POVO DE DEUS NA CIDADE
(3) Esforçar-se na mobilização da igrejados ricos para que abram suas portas aos
pobres [...]
(4) Desenvolver uma teologia holística, voltada ao reino, com uma ênfase bas-
tante forte na cristologia [...], na encarnação de Cristo (Grigg, 1994, p. 49).
Um ser que produz faz cultura. Cultura não é só o que se lê, mas tudo que
nasce da criatividade do homem/mulher, numa determinada sociedade em
tempo específico. É necessário distinguir entre natureza e cultura. Um rio é
natureza. Uma ponte é cultura, produto do lazer. A cultura é produto de todo
um grupo. Por isso caracteriza o ser social. O homem é um ser que trabalha:
descobriu o fogo, a fonte de energia; a máquina que mudou a estrutura e a
eficácia da produção e das relações próprias que o trabalho estabelece. [...] O
homem trabalha em três dimensões: cósmica - mundo; antropológica - ho-
mem; e religiosa - Deus (POM, 2002, p. 35).
[...) isto leva ao terceiro nível de justiça nas favelas. Estabelecer movimentos de
crentes que: demonstrem entre si justiça em seus estilos de vida; comecem a fazer
justiça na vida e na liderança da comunidade em sua volta. Novamente, isto
começou com pequenas coisas, tais como aquela noite quando Deus me encheu
de um desejo de orar a respeito do lixo. [...) O lixo é um problema pequeno, mas
é o envolvimento com Deus em pequenos problemas que afeta a comunidade.
REFERÊNCIAS
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PALAVRA DE DEUS OU
PALAVRA DO HOMEM?
O USO DA RETÓRICA NO DISCURSO
RELIGIOSO NO CONTEXTO URBANO
Vanderlei Gianastacio *
Alline Leal Ruas **
M
uitos teóricos escreveram sobre discurso no decorrer da história.
Mas é entre os gregos, com sua visão de democracia, que é
possível perceber o conceito de discurso. Para Platão, há dois
tipos de discurso: o retórico e o analítico. O primeiro tem como objetivo
a argumentação; já o segundo enfatiza a demonstração, entendendo que
ambos devem estar comprometidos com a verdade. Aristóteles, discípulo de
Platão, demonstra o seu conceito de discurso ao abordar discorrer sobre re-
tórica. Ele entende que o discurso "deve ser claro e evidente a seu objeto,
porque, se o discurso não comunicar algo com clareza, não perfará a sua
função própria" (Dayoub, 2004, p 23). Além da compreensão que os gregos
tinham de discurso é importante, para este estudo, a compreensão da estru-
tura do mesmo. Para Aristóteles, o discurso é composto de um preâmbulo,
a exposição do tema (que é a proposição), a demonstração (que é a confir-
mação) e um epílogo.
o QUE É RETÓRICA?
Tereza Lúcia Halliday (1990, p. 71), na obra O que é retórica, des-
perta o leitor para a realidade da sociedade atual. Ela lembra que o "de-
senvolvimento dos meios de comunicação de massa e a complexidade da
vida moderna, as situações, os tipos de discurso requeridos em cada caso
e os públicos passíveis de persuasão se multiplicaram". Com esta mudan-
ça da vida cotidiana das pessoas, a autora entende que o conceito de
discurso deixa de ser apenas um pronunciamento público e, sim, passou
a ser "um conjunto de características lingüísticas, semânticas e retóricas
peculiares a um indivíduo ou grupo, com a função de acusar ou deferi-
der, aconselhar ou desaconselhar, elogiar ou censurar alguma coisa".
o discurso não é uma grande frase nem um aglomerado de frases, mas um todo
de significação. Nesse sentido, a frase deve ser entendida como um segmento
do discurso - o que não exclui, evidentemente, que o discurso possa ter, em
certos casos, a dimensão de uma frase.
também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paci-
ência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança. E a esperança
não traz confusão, porquanto o amor de Deus está derramado em nossos cora-
ções pelo Espírito Santo que nos foi dado.
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