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Conceito e estrutura da obrigação – generalidades

O direito de crédito é um direito subjectivo que tem como objecto, nos termos do art.º
397.º do Código Civil, uma prestação, ou seja, um comportamento que o devedor está
vinculado a adoptar em benefício do credor.
No entanto, a insusceptibilidade, no Direito actual, de imposição coerciva do
comportamento do devedor através de sanções com expressão física leva a uma
divergência doutrinária sobre se o verdadeiro objecto do direito de crédito é a
prestação do devedor ou o património deste, em virtude do não cumprimento da
obrigação o tornar atingível por execução específica ou por indemnização por
incumprimento.
Portanto, existem enquanto possível objecto do direito de crédito a prestação, i.e., a
conduta do devedor, e o património, i.e., os bens do devedor.
Existem, portanto, diversas teses sobre o objecto do direito de crédito:
i Teorias personalistas – o objecto do direito de crédito é a prestação;
ii Teorias realistas – o objecto do direito de crédito é o património do
devedor;
iii Teorias mistas – o objecto do direito de crédito é uma combinação da
prestação e do património do devedor;
iv Doutrinas da complexidade obrigacional – o objecto do direito de crédito
consiste numa realidade complexa.

As teorias personalistas, segundo as quais o direito de crédito é um vínculo pessoal,


ou seja, é uma conduta do devedor o objecto do direito de crédito, subdividem-se em
duas posições:
i. O crédito como um direito sobre a pessoa do devedor;
ii. O crédito como um direito à prestação do devedor – teoria clássica.
A teoria do crédito como um direito sobre a pessoa do devedor tem a sua origem na
época arcaica do Direito Romano, configurando um direito de crédito como um
direito de domínio sobre uma pessoa. No entanto, para esta teoria o devedor
permanece um sujeito da obrigação, pelo que a execução para satisfação do direito de
crédito apenas é passível de realização sobre os bens e não sobre a pessoa do devedor.
Próxima desta teoria é a posição de SAVIGNY, o qual entendia que o direito de
crédito se caracterizava por representar um domínio sobre uma actuação de prestação
do devedor, o que significaria a inclusão dos direitos de crédito nos direitos de
domínio, juntamente com os direitos reais. Portanto, a concepção savignyana do
crédito consiste num domínio sobre uma actuação do devedor, sendo esta subtraída à
liberdade deste último, ocorrendo assim a sujeição dessa actuação à vontade do
credor, o qual exerce um direito de domínio sobre essa actuação.

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