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COMPETÊNCIAS PRODUTIVAS QUE EVIDENCIAM O MERCADO

DE PAÍSES EMERGENTES COMO EXPORTADORES MUNDIAIS


PRODUCTIVE SKILLS THAT HIGHLIGHTS THE EMERGENT MARKETS AS WORLD
EXPORTERS

Paola Benedetto¹
a
Prof . Me. Vera Denise Muller²

RESUMO
Este artigo versa sobre as competências produtivas que evidenciam os países emergentes como exportadores
mundiais, com a intenção de dar, principalmente, aos estudantes e profissionais da área a possibilidade de
entender a atratividade produtiva dos mercados emergentes, bem como a capacidade de identificar novos
mercados e antever a migração de competências produtivas. Para isso, o tema é dividido em quatro partes. Na
primeira, apresenta-se um histórico dos países emergentes, explicando a sua formação histórica e os motivos
para suas diferenciações em relação a países desenvolvidos. A segunda parte trata das principais competências
produtivas que geram vantagens competitivas citadas por autores da administração, da economia e do marketing.
Já na terceira parte, são abordados os fatores que evidenciam produtivamente os países emergentes como
exportadores mundiais, com base na sua formação e na presença das vantagens competitivas apresentadas pelos
autores. Na quarta parte, são analisados os fatores que podem levar esses países a perderem suas vantagens
competitivas, com base nas evoluções e mudanças sociais, políticas e econômicas sofridas por eles.
Palavras-Chave: Países emergentes. Competências Produtivas. Mercado Exportador. Vantagens Competitivas.

ABSTRACT
This article verses about the productive skills that highlights the emergent markets as world exporters, in
intention to give, specially to the students and professionals from this area, the possibility to understand the
productive attractive of the emergent markets, as well the capacity to recognize new markets and preview
migration of the productive skills. For this reason, the theme is divided in four parts. The first part is the history
of the emergent countries, explaining its history and their differences for the develop countries. In the second
part, it talks about the principal productive skills that create competitive advantages cited by authors in
management, economics and marketing. While in the third part, it examines the factors that highlight
productively the emergent countries as world exporters, based on their formation and presence of productive
advantages cited by the authors. The fourth part attempt to factors that can lead this country to lose its
competitive advantages, with base on the politics, economics and socials evolutions and changes suffered in it.
Key Words: Emergent Countries. Productive Skills. Export Market. Competitive Advantages.

INTRODUÇÃO
Nos últimos anos, o mundo tem passado por inúmeras tendências e mudanças, que
têm resultado no aumento da importância das nações emergentes em termos de produtividade
mundial.
Assim, o tema deste artigo são as competências produtivas que colocam o mercado
dos países emergentes em evidência mundial como exportador e busca identificar essas
_________________________
¹ Acadêmica do curso superior de Tecnologia em Comércio Exterior na Universidade Feevale. E-mail:
pah_benedetto@hotmail.com
² Mestre em Gestão Empresarial pela UFRGS; MBA Comunicação com formação em Marketing, ESPM/RS;
Formação superior em Administração de Empresas, FACCAT/RS; Formação superior em Ciências
Contábeis,FACCAT/RS. E-mail: vm@veramuller.com.br
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competências através do seguinte problema: quais são as competências produtivas que fazem
de um país emergente um mercado exportador em evidência mundial?
O seu objetivo geral é identificar as competências produtivas que fazem de um país
emergente um mercado exportador mundial. E os objetivos específicos são: a) pesquisar as
características dos mercados emergentes que os levaram a desenvolver competências
produtivas as quais os colocaram em evidência mundial como exportadores; b) explicar os
motivos que levam um mercado emergente a perder as vantagens competitivas; c) identificar
maneiras de antever a migração das capacidades produtivas como competência país.
A justificativa para o desenvolvimento deste estudo e a sua importância para o
comércio exterior brasileiro está no fato de se viver em um mundo globalizado que muda
rapidamente. Assim, é importante entender e identificar quais as características que tornam
um país produtivamente interessante para receber investimentos e, assim, vislumbrar
oportunidades profissionais e pessoais no local e no tempo correto.
Dessa forma, é possível construir duas hipóteses: a primeira é que países emergentes
têm mais potencial para desenvolver competências produtivas que atraiam o mercado global,
pois a população é muito carente de capital e recursos, assim, acaba se sujeitando a salários
baixos e carga horária de trabalho elevada, com praticamente nenhuma garantia ou apoio
social. A segunda hipótese é a de que à medida que o país emergente, com competências
produtivas, recebe investimentos externos e consegue se estabilizar financeiramente, a
população consegue melhorar a sua renda, passando a exigir mais direitos sociais e a não se
sujeitar às condições antigas de trabalho, o que faz com esse país não tenha mais atratividade
produtiva, levando esse processo a migrar para um novo território.
O método de pesquisa utilizado para este artigo é pesquisa exploratória bibliográfica
e pesquisa exploratória qualitativa, aplicada com profissionais atuantes na área de comércio
exterior, de custos, bem como professores das áreas de história, português e literatura.

1 COMPETÊNCIAS PRODUTIVAS QUE GERAM VANTAGENS COMPETITIVAS


Para alcançar vantagens competitivas, o país precisa ter competências produtivas na
forma de menores custos ou produtos diferenciados, os quais obtêm preços elevados. Para
manter a vantagem, as empresas precisam conseguir uma vantagem competitiva mais
sofisticada, oferecendo produtos e serviços de melhor qualidade ou produzindo com mais
eficiência. Desse modo, pode-se dizer que existem dois tipos básicos de vantagem
competitiva: menor custo e diferenciação. O menor custo é a capacidade do país de projetar,
produzir e comercializar um produto com mais eficiência, custos próximos ou mais baixos do
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que seus competidores. A diferenciação é a capacidade de proporcionar ao comprador um


valor excepcional e superior, em termos de qualidade, características especiais ou serviços de
assistência. A vantagem competitiva de qualquer dos dois tipos se traduz em produtividade e
lucratividade superior à dos concorrentes (PORTER, 1989).
Para Pettigrew e Whipp (1993), o desempenho competitivo não depende apenas de
características da nação ou da tecnologia isoladamente, mas de uma coleção de habilidades e
modelos de ação combinados. Assim, para se analisar a competitividade, é preciso ter em
mente a influência dos padrões setoriais e das características socioculturais presentes nos
países e em suas organizações e no ambiente em que atuam. Portanto, a competição não se dá
apenas por meio de fatores econômicos. Os recursos pelos quais se compete são, além de
técnicos, de ordem institucional. Os países e suas organizações são tomadas por exigências de
conformidade a padrões técnicos, proteção ao meio ambiente e à mão de obra, pressões de
outras organizações e países, da sociedade etc.

A competitividade não deve ser vista apenas do ponto de vista técnico;


devem-se conciliar padrões concorrenciais e padrões institucionais, já que o
ambiente exerce pressão para que as organizações sejam eficientes e eficazes,
mas também para que se conformem aos padrões de atuação considerados
legítimos pela sociedade (FERRAZ, KUPFER E HAGUENAUER, 1997 p.
164).

Existem diversos fatores que podem ser citados como vantagens competitivas de um
país. Maia (2001) diz que alguns dos principais são:
Produtividade: é o grau em que os produtos de um país podem competir no mercado.
A competitividade depende dos preços e da qualidade relativa do produto e é afetada por
fatores econômicos, de infraestrutura e nível educacional da população, sendo assim o melhor
indicador quando se trata de nações para definir o nível de competitividade.
Eficiência: é a vantagem competitiva que fundamenta as estratégias organizacionais
que visam a reduzir custos, agilizar processos e elevar a produtividade. Está ligada aos meios
pelos quais os países procuram atingir os seus objetivos, com melhor aproveitamento dos
recursos, no sentido de maximizar os resultados.
Modernidade: procura manter o país em conformidade com os níveis tecnológicos
mais modernos, as expectativas dos clientes e as técnicas mais avançadas de gestão e de
produção.
Inovação: visa a desenvolver novos caminhos para agir e solucionar problemas, além
de elevar o nível dos resultados.
Os países buscam inovações por estarem sujeitos a uma concorrência global intensa,
na qual, o aumento da produtividade de mão-de-obra é fundamental para o sucesso.
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Inversamente, as restrições governamentais ao comércio têm protegido a maioria


dos retardatários em termos de produtividade, dos rigores penosos da concorrência
global (CARBAUGH, 2004, p.19).

Porter (1989) diz que os países criam vantagens competitivas percebendo ou


descobrindo maneiras novas e melhores de competir, o que constitui o ato de inovação, que
pode ser tanto em melhorias na tecnologia como melhores métodos ou maneiras de fazer as
coisas. Na maior parte das vezes, as inovações são mudanças superficiais, e não radicais,
sendo que influem na vantagem competitiva quando os rivais não percebem a nova maneira
de competir, não querem ou não são capazes de reagir.
Hitt, Ireland e Hoskisson (2003) compartilham da mesma opinião de Porter, dizendo
que a inovação é o processo de criar um produto comercial a partir de uma invenção. A
inovação pode ser necessária para se manter ou obter paridade competitiva. Além disso, o seu
sucesso é determinado pela capacidade do país em absorver e avaliar informações externas.
Qualidade: está relacionada com as estratégias que procuram atender às expectativas
dos clientes com relação a produtos, serviços e necessidades técnicas da organização: redução
de erros e custos.
Flexibilidade: busca desenvolver a adaptabilidade e a capacidade rápida de resposta
às mudanças ambientais.
Recursos Naturais: cada vez mais estão se tornando um diferencial competitivo,
assim, busca-se desenvolver alternativas produtivas que preservem o meio ambiente e
reduzam o impacto ecológico.

Os recursos naturais são outra vantagem competitiva para um país, pois esses
recursos geralmente são escassos em países desenvolvidos, o que gera uma
necessidade de importação de matéria prima, além disso, a disponibilidade de
matérias primas e recursos naturais no país em que o produto será feito elimina
vários custos, como o de transporte por exemplo, o que acaba refletindo no preço
final do produto (JEFREY SACHS, 1998, p. 98).

Influências do Governo: gerenciam a imagem institucional do país de maneira a


angariar legitimidade ao ambiente, bem como obter outros benefícios e vantagens.
Além disso, segundo Porter (1989), o governo pode influenciar as demais
competências produtivas, através de subsídios, políticas no mercado de capital, políticas de
educação etc., tendo, assim, importate influência na competitividade nacional, embora seu
papel seja parcial, pois pode influenciar nas vantagens, mas não criá-las.
Preço Final Baixo: é utilizado como vantagem competitiva e tem dois grandes
responsáveis, que são a mão de obra e a educação, pois países com mão de obra abundante e
desqualificada pagam menos por ela, o que reflete no preço final do produto.
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Mas, para Bhagwati (1975), à medida que o país se desenvolve, a escassez de mão de
obra qualificada atrasa a promoção do controle populacional, o desenvolvimento da
agricultura e a industrialização, o que afeta a produtividade e, por isso, merece investimentos.

Grande parte do desenvolvimento de uma nação pode ser atribuída à eficiência de


seu capital humano. Em apoio a essa conclusão, observa-se que à medida que a
dinâmica da competição se acelera as pessoas talvez sejam a única fonte
verdadeiramente sustentável de vantagem competitiva (HITT, IRELAND,
HOSKISSON, 2003, p 501).

Insumos: possuir os insumos necessários para a produção (matérias-primas/terras


cultiváveis) torna o processo produtivo mais fácil e barato.
Tecnologia: a mudança tecnológica é generalizada e constante, sendo que o nível de
tecnologia empregado acaba por diferenciar acentuadamente a produção dos países.

A tecnologia deu às empresas a capacidade de compensar os fatores escassos, por


meio de novos produtos e processos. Neutralizou ou reduziu a importância de certos
fatores de produção que outrora eram preponderantes. Inclusive o acesso a
tecnologia atualizada pode se tornar mais importante do que os baixos salários locais
e insumos abundantes (PORTER, 1989, p.14).

Cateora e Graham (2009) dizem que a infraestrutura é uma importante vantagem


competitiva, além disso, pode ser usada como um indicador de desenvolvimento econômico
do capital social do país. A infraestrutura representa os bens de capital que atendem as
necessidades básicas de muitos segmentos. Incluídos na infraestrutura de um país estão
rodovias, ferrovias, portos, redes de comunicação, redes financeiras, suprimentos de energia
etc. A qualidade da infraestrutura afeta diretamente o potencial de crescimento econômico e a
capacidade de um empreendimento operar efetivamente como um negócio em um país.
Segundo Porter (1989), é importante lembrar que esse conjunto de vantagens
produtivas se reforça mutuamente e se prolifera com o tempo, ao estimular a vantagem
competitiva. À medida que esse reforço mútuo acontece, causa e efeito dos determinantes
individuais tornam-se imprecisos. Na realidade, cada determinante pode afetar todos os outros
determinantes, embora alguma interações sejam mais fortes e mais importantes do que outras.
Isso torna a competição dinâmica, sendo que pode evoluir. Grande parte do pensamento
tradicional encerra a visão essencialmente estática, focalizando a eficiência de custos
provocados pelas vantagens de fatores ou escala. A competição é uma paisagem que varia
constantemente e onde surgem novos produtos, maneiras de comercializar, novos processos
de produção e novos segmentos de mercado.
Das vantagens competitivas citadas acima, diversas são encontradas em países
emergentes de forma mais abundante do que nos países desenvolvidos, além disso, pode-se
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identificar muitos investimentos sendo feitos nessas variáveis, buscando modernização para se
equiparar aos países desenvolvidos. Porém, segundo Bhagwatti (1975), os países emergentes
precisam desenvolver técnicas de uso intensivo de mão de obra e que também sejam
eficientes em termos de produtividade. Cabe aos países emergentes, de mão de obra
abundante, dirigir suas pesquisas científicas para a produção de técnicas superiores, de uso
intensivo de mão de obra. Porém, muitas das inovações científicas têm sido utilizadoras de
capital e voltadas para a redução das necessidades de mão de obra. Muitos aspectos desse
cenário têm origens históricas na formação dos países emergentes.

2 HISTÓRICO DOS PAÍSES EMERGENTES


Para entender as questões produtivas dos países emergentes, é necessário voltar ao
final do século XV, pois, de acordo com Santos (2008), foi nesse período que o mundo “não
civilizado” conheceu as influências do mundo “moderno” através da revolução comercial
comandada pela Espanha e por Portugal. Antes, nenhum polo de civilização relativamente
mais avançada tinha sido capaz de se impor à totalidade do planeta.
Com essas mudanças, a Enciclopédia Larousse (1999) diz que ocorreu uma
dominação das grandes potências ocidentais sobre as nações da periferia do sistema
econômico, havendo troca desigual de riquezas e recursos, situação que traduz a realidade dos
preços muito baixos pagos pelos países desenvolvidos pelas matérias-primas importadas dos
países emergentes.

Podemos individualizar três grandes períodos de modernização: o primeiro começa


no fim do século XV e início do século XVI e que vai até a revolução industrial; o
segundo, que se situa entre meados do século XVI e meados do século XX (mas
cujos efeitos se fazem sentir principalmente depois de 1870); e o período atual, que
se inicia depois da Segunda Guerra Mundial. Esses períodos são marcados por três
grandes revoluções: a grande revolução dos transportes marítimos; a Revolução
Industrial; e a Revolução Tecnológica (SANTOS, 2008, p.33).

Desse modo, de acordo com a enciclopédia Larousse (1999), tem-se uma


modernização comercial, industrial e tecnológica, e todos os países que hoje são classificados
como emergentes, em algum momento, não foram atingidos pelos efeitos de todas essas
modernizações. Como não se pode voltar aos mesmos fatores que se manifestaram no
passado, os países emergentes não podem se desenvolver nos mesmos padrões e processos.
Além disso, muitos dos países que se encontram na classificação de emergentes foram
colônias que só comercializavam com as suas metrópoles, provendo o que essas não podiam
produzir, contribuindo para as situações econômicas e sociais atuais desses países.
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Como países emergentes entendem-se aqueles em fase de rápida expansão


econômica. Segundo Cateora e Graham (2009), o modelo mais conhecido de classificação de
países por grau de desenvolvimento econômico é o modelo de cinco estágios apresentado por
Wal Wal Rostow3. São eles:
Estágio 1 – Sociedade tradicional: os países não têm capacidade de aumentar, de
maneira significativa, o nível de produtividade. Existe ausência notória da aplicação de
tecnologias e ciências modernas. O grau de instrução e investimentos sociais é baixo.
Estágio 2 – Condições prévias para decolar: inclui as sociedades em processo de
transição para o estágio de decolagem. Nesse período, os avanços da ciência começam a ser
aplicados na agricultura e na produção. Também se iniciam os investimentos e o
desenvolvimento dos transportes, das comunicações, do setor energético, da educação, da
saúde e de outras iniciativas públicas.
Estágio 3 – A decolagem: os países atingem um padrão de crescimento que se torna
uma condição normal. Os recursos humanos e os investimentos sociais progrediram até serem
capazes de sustentar um desenvolvimento constante; a modernização agrícola e industrial
conduz a uma rápida expansão.
Estágio 4 – A senda da maturidade: após a decolagem, o processo sustentável é
mantido e a economia procura estender o avanço tecnológico a todas as áreas da economia,
que passa a se envolver internacionalmente. Nesse estágio, a economia possui capacidade
empresarial e tecnológica, não para produzir de tudo, mas para o que decidir produzir.
Estágio 5 – A era do consumo de massa elevado: traz mudanças nos principais
setores econômicos na direção de serviços e bens de consumo duráveis. A renda per capita
aumenta até que grande parte da população obtenha uma renda que possibilite gastar
livremente.
Cada estágio acima é uma função do custo de mão de obra, capacidade técnica dos
compradores, escala das operações, taxas de juros e nível de sofisticação do produto. O
crescimento é visto como a passagem de um estágio para outro, e os países que se encontram
nos três primeiros estágios são considerados subdesenvolvidos economicamente.
Pettigrew e Whipp dizem que o termo mercado emergente foi introduzido por
executivos da Corporação Financeira Internacional do Banco Mundial, quando começaram a
se preocupar com o conceito dos fundos de países e com o desenvolvimento do mercado de
_________________________________
3
Walt W. Rostow, The Stages of Economic Growth, 2 nd ed. (London Cambrigde University Press, 1971), p.10
ver também W. W. Rostow, The Stages of Economic Growth: A Non-Communist Manifesto (London
Cambrigde University Press, 1991).
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capitais nas regiões menos desenvolvidas do mundo. A classificação dos países pelo Banco
Mundial é feita em função de a renda ser elevada, média ou baixa, calculada com base na
renda per capita. A lista de mercados emergentes pode ser alterada à medida que a situação
política e econômica ao redor do mundo muda.
Destaca-se que cada país emergente tem, no inicio do seu desenvolvimento, seis
características básicas: predomina a produção primária; enfrenta pressão populacional; possui
recursos naturais subdesenvolvidos; possui população economicamente atrasada; apresenta
deficiência de capitais e é orientado para o comércio exterior (SINGER, 1968).
Inicialmente, segundo Santos (2008), os países emergentes tinham renda per capita
baixa ou média, mercado de capitais não desenvolvido, de forma que a capitalização do
mercado de ações representava uma pequena parte do PIB; não são industrializados, são
fornecedores de produtos agrícolas e matérias-primas para os países industrializados. Com a
melhora no nível de vida na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, outros produtos
alimentares foram adicionados à lista dos que já vinham dos países emergentes. Depois, o
progresso tecnológico e o uso dos metais aumentaram a demanda de minérios, mas os países
emergentes tiveram de esperar para começar a desenvolver sua indústria.
Basicamente, todos os países emergentes começaram sua ascensão de maneira
comum: privilegiaram setores que, com um reduzido investimento público, conseguem um
rápido crescimento; incentivaram os agricultores a trabalhar a terra, gerando um aumento de
produtividade, rendimento e produto interno, com investimento público mínimo; criaram uma
política para favorecer o investimento estrangeiro; priorizaram a indústria média e ligeira;
deram facilidades para o aparecimento de uma classe de pequenos empresários, incentivando
as indústrias (OVERHOLT, 1993).
Essas políticas foram responsáveis pelo aumento do crescimento econômico,
produtivo, de bens de consumo, do rendimento das famílias, exportações e dos ganhos em
divisas estrangeiras. Como atualmente os países não podem se manter fora da vida
internacional, mesmo os países mais pobres estão se adaptando ao cenário econômico e
produtivo mundial. Por isso, segundo Vogl e Sinclair (1996), muitos governos de países
emergentes passaram a implantar políticas econômicas orientadas para reformas e liberação
das economias, a fim de estimular entrada de investimentos estrangeiros e o fortalecimento de
suas finanças.
Nesse processo de modernização, existem três modelos no papel do Estado frente à
industrialização, conforme Santos (2008): dependência desejada e aceita pelo exterior, por
falta de vontade ou meios de defesa, caso dos países emergentes em estágio inicial de
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industrialização; dependência pelo exterior desejada e planejada, países que oferecem


incentivos para a instalação de empresas estrangeiras em seu território; países que procuram
encontrar um caminho independente, pois, devido ao investimento que receberam do exterior,
absorveram capital externo, tecnologias vitais e know-how produtivo e gerencial, criando uma
base dinâmica para o crescimento e a competitividade internacional.
Assim, segundo Sachs (1998), uma das características mais notáveis da nova
economia do mundo globalizado é o aumento da união entre os países desenvolvidos e os
emergentes, com os mais pobres sendo incorporados aos sistemas comerciais, financeiros e
produtivos, como parceiros participantes em vez de colônias dependentes. E, para Moore
(1965), essa entrada no mundo moderno e globalizado fez com que os países emergentes
passassem a ser de grande importância para a economia global, apresentando diversas
vantagens produtivas a serem exploradas, colocando-os em destaque global como produtores
e exportadores.

2.1 PORQUE OS MERCADOS DE PAÍSES EMERGENTES SE EVIDENCIAM COMO


EXPORTADORES MUNDIAIS.
A vantagem competitiva ocorre quando os custos comparativos de dois produtos
diferem em dois países, assim, haverá a serem obtidos com a especialização e o comércio.
Desse modo, a competitividade refere-se ao grau em que os produtos de um país podem
competir no mercado - essa competitividade depende dos preços e da qualidade relativa ao
produto (CARBAUGH, 2004).
Devido à competitividade atingida pela combinação de políticas de exportação às
nações desenvolvidas, sendo produtores eficientes, competitivos, usarem força de trabalho
numerosa, dinâmica e barata, e políticas voltadas para a livre empresa, as nações emergentes,
Mobius (1996), têm apresentado o melhor desempenho em termos de crescimento no mundo.
Maia (2001) diz que, segundo Gustavo Franco4 as fórmulas para o crescimento
podem ser agrupadas em duas modalidades não excludentes: investimentos, incluindo
poupança enfatiza a formação de capital e a produtividade que tem como eixo a inovação e a
criatividade.
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Graduou-se em economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, em seguida, completou
seu mestrado, também pela PUC-Rio,a tese que defendeu ficou em primeiro lugar no Prêmio BNDES de
Economia para dissertações de mestrado. Depois, doutorou-se na Universidade de Harvard onde estudou
a hiperinflação. Depois de concluir o doutorado, se especializou em inflação, estabilização, história
econômica e economia internacional, áreas em que publicou extensamente.
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Os países emergentes responsáveis por todo esse crescimento possuem características


em comum, como níveis crescentes de escolaridade, alta taxa de poupança, salários baixos,
exportações elevadas, população jovem, infraestrutura e tecnologia relativamente pouco
desenvolvidas. Essa combinação propicia elevadas taxas de crescimento econômico, pois a
busca mundial por baixos custos de produção evidencia esses países como produtores. Os
produtores que possuem menores custos são capazes de conquistar uma maior participação de
mercado, enquanto os produtores com custos mais elevados são eliminados. Mobius (1996).
Carbaugh (2004) também aponta características em comum nas nações emergentes,
altamente dependentes dos países desenvolvidos, que são o principal destinatário das suas
exportações compostas principalmente de produtos primários e dos bens manufaturados, onde
predominam o trabalho intensivo com parcela reduzida de tecnologia em sua produção.

Os países emergentes no início do seu desenvolvimento possuem um padrão de vida


insatisfatório, altas taxas de fecundidade e natalidade, alimentação insuficiente para
parte significativa da população, analfabetismo elevado, populações rurais
miseráveis, quase não possuem classe média e instituições realmente democráticas,
possuem renda per capita anual baixa (ENCICLOPÉDIA LAROUSSE, 1999, p.
5499).

Além disso, estes países tiveram durante seu desenvolvimento econômico e


industrialização, fatores em comum que geraram vantagens produtivas, segundo Cateora e
Graham (2009) são:
Estabilidade política: relacionado às políticas que afetavam o seu desenvolvimento.
Reformas legais e econômicas: direitos de propriedade e contratos pouco definidos
ou frágeis na prática são características que os países mais pobres têm em comum.
Empreendedorismo: em todas as nações emergentes a livre iniciativa está nas mãos
de pessoas donas de seus próprios negócios foi a semente do novo crescimento econômico.
Planejamento: foi feito um plano central com metas de desenvolvimento visíveis e
mensuráveis associadas a políticas específicas.
Orientação para fora: o foco esteve na produção para o mercado doméstico e
mercados de exportação, com aumento na eficiência e uma diferenciação contínua em relação
às exportações praticadas pela concorrência.
Fatores de produção: Quando se encontravam deficientes em fatores de produção
(terra, matérias-primas, mão-de-obra, capital, administração e tecnologia) havia um ambiente
que permitia que esses fatores pudessem ser facilmente trazidos do exterior e direcionados
para objetivos de desenvolvimento.
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Foco em segmentos para expansão: foram criadas políticas comerciais internacionais


e industriais específicas voltadas para identificar os setores em que existem oportunidades.
Ocorreu um incentivo a segmentos-chave para conquistarem melhores posições nos mercados
mundiais através do direcionamento de recursos em setores-alvo promissores.
Incentivos: foram dados incentivos para criar uma poupança interna elevada, e para
direcionar o capital para atualização da infraestrutura, do transporte, da habitação, da
educação e do treinamento de mão de obra.
Privatização de empreendimentos estatais que drenavam os recursos do país:
privatização liberou um capital imediato para ser investido em áreas estratégicas, aliviando o
país da continua drenagem dos recursos nacionais futuros. Quando as indústrias são
privatizadas, é comum que os novos investidores as modernizem, criando, assim, um novo
crescimento econômico.
Para Overholt (1993), outro fator que contribui para que os países emergentes se
evidenciem produtivamente como exportadores mundiais é o fato de possuírem a maior parte
da superfície do globo terrestre e também o maior potencial de recursos naturais aguardando o
desenvolvimento. A disponibilidade desses recursos como resultado de políticas de
investimentos liberalizados tem um forte impacto no crescimento das nações emergentes, pois
essa disponibilidade de recursos dentro do próprio país elimina a necessidade de buscá-los em
outras nações, o que reflete diretamente no preço dos produtos e nos prazos de produção.
Porém, Mobius (1996), diz que o fato mais importante para tornar um mercado
emergente competitivo como exportador mundial seja a situação de pobreza da população
antes de começar a receber os investimentos externos, o que leva os trabalhadores a se
sujeitarem a qualquer situação de trabalho em troca de um emprego.
Devido aos fatores citados acima, os mercados emergentes possuem uma série de
desafios importantes, como o fato de serem fisicamente extensos, possuírem populações
significativas, representarem mercados produtivos consideráveis para uma vasta gama de
produtos, apresentarem fortes taxas de crescimento ou potencial para um crescimento
significativo, virem adotando programas significativos de reforma econômica, ter grande
importância política em suas regiões, serem condutores econômicos regionais, etc.
(CATEORA E GRAHAM, 2009).
Por todos esses fatores que evidenciam os países emergentes como exportadores
mundiais, as nações mais avançadas industrialmente estão investindo neles dezenas de bilhões
de dólares, e esse investimento só tende a crescer Assim, diante desses fatores, Cateora e
Graham (2009) dizem que o Departamento de Comércio dos Estados Unidos calcula que mais
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de 75% do crescimento esperado em comércio mundial para as próximas duas décadas virá de
mais de 130 países emergentes. Uma pequena parte desses países será responsável por mais
da metade desse crescimento. Pesquisadores do comércio também preveem que as
importações provenientes desses países serão responsáveis por mais de 50% do PIB do
mundo industrializado.
Segundo Bhagwatti (1975), com os investimentos externos, as nações emergentes
começam a investir em uma expansão econômica de forma contínua, firme, sustentada e
permanente. Isso gera taxa mais alta de crescimento da renda, com distribuição mais
igualitária, maior número de empregos, desenvolvimento de regiões atrasadas, criação de
mais indústrias, investimentos em educação e mão de obra especializada, investimento em
infraestrutura etc. Porém, todo esse desenvolvimento e mudanças podem gerar a perda das
vantagens competitivas dos países emergentes.

2.2 FATORES QUE PODEM LEVAR O MERCADO DE UM PAÍS EMERGENTE A


PERDER AS VANTAGENS COMPETITIVAS QUE O MANTINHAM EM EVIDÊNCIA
MUNDIAL.
A maioria dos países enxerga no crescimento econômico a realização de suas metas
econômicas e sociais. Melhor educação, governo melhor e mais eficaz, eliminação de muitas
desigualdades sociais e melhorias nas responsabilidades éticas e morais são algumas das
expectativas dos países em desenvolvimento. Desse modo, o crescimento econômico é
medido não apenas em termos de metas econômicas, mas também de conquistas sociais
(CATEORA E GRAHAM, 2009).
O crescimento econômico, segundo Singer (1968), é um processo contínuo de
progresso científico e a sua aplicação às técnicas de produção se dá mediante acumulação de
capital. À medida que os níveis de renda dos países emergentes se elevam e os mercados de
ações desses países se tornam mais desenvolvidos e facilmente acessíveis aos investidores
internacionais, começa o investimento em educação e ciência, melhorando a tecnologia das
indústrias e criando uma mão de obra mais bem preparada para produzir produtos
diferenciados e de melhor qualidade. Isso gera a transformação das economias emergentes em
democracias com classes médias educadas e preocupadas em assegurar sistemas políticos
mais abertos.
Além disso, segundo Sachs (1998), com o crescimento da economia acontecem
mudanças políticas, as quais buscam um maior crescimento e equilíbrio da economia, bem
como melhorar e garantir os direitos sociais dos trabalhadores, mesmo os mais necessitados,
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que, com a criação de novos postos de trabalhos e melhores salários, conseguem adquirir bens
e melhorar as suas condições econômicas.
Para Carbaugh (2004), cumprir essa meta não depende apenas da noção vaga de
manter a competitividade nacional, mas de obter uma produtividade elevada de seus recursos
empregados. A produtividade é, ao longo do tempo, um determinante importante do padrão de
vida de uma nação por ser a base da renda per capita interna, criando a renda nacional que
pode ser tributada para financiar os serviços públicos que aprimoram o padrão de vida. Para
manter a produtividade e o padrão de vida elevados é importante abrir os mercados ao
comércio, investimentos e idéias das nações mais avançadas.
Essas mudanças trazem consigo novas tendências e filosofias econômicas e
demográficas, que impactam na educação, nas taxas de natalidade, de mortalidade, no acesso
a tratamentos médicos, alimentos de melhor qualidade, cultura, riquezas, novas tecnologias
que propiciam uma melhora na comunicação e na produtividade. Essas variáveis refletem no
pensamento econômico, pois a população começa a perceber a complexidade do empenho
econômico ao qual está ligada e passa a buscar meios de elevar seu padrão de vida, sem se
contentar mais com a situação inferior em que se encontrava antes. Mobius (1996).
Os mercados emergentes que começam vivenciar a experiência de surgimento de
grandes indústrias e elevação no nível de vida da população, cria-se um impulso reformista, o
qual não permite que haja nenhum recuo no rumo político, econômico e social. Esse impulso
é incentivado pelos empreendedores, que com suas novas e mais sofisticadas técnicas
produtivas, não se satisfazem mais em apenas produzir para mercados desenvolvidos, por
isso, reforçam seus mercados internos e procuram entrar nas economias do G7. E
principalmente assegurado pela classe média, que surge cheia de desejos e riquezas, tornando-
se uma força crítica na crescente dos países emergentes, sendo uma poderosa fonte de
fortalecimento para a economia do seu país.
Porém, segundo Porter (1989) essa nova classe média e a população em geral dos
países emergentes podem representar um risco à economia, pois seus desejos podem divergir
da demanda dos países avançados, um dos motivos são os estágios que essa população
começa a vivenciar e que já foram ultrapassados pelas nações desenvolvidas. Assim,
compradores locais pressionam as empresas nas direções erradas, ou deixam de pressionar na
direção certa, retardando a reação dos países para as novas tendências globais.
Outro motivo para a perda das vantagens competitivas está na evolução natural do
quadro produtivo dos países emergentes, que buscam, gradualmente, à medida que a
poupança e a educação possibilitam o aumento de capital e de trabalhadores, manter os
14

padrões de vida já alcançados e continuar a crescentes, trocando os setores de trabalho


intensivo com mão de obra abundante, onde eram competitivas, por segmentos de capital ou
conhecimento técnico (CARBAUGHT, 2004).

No passado dos países emergentes, a competitividade era obtida pela mão de obra
barata e subsídios protecionistas, o que prejudicava os direitos do povo. Depois do
desenvolvimento, a competitividade é obtida com criatividade e com investimentos
em infra-estrutura tecnológica, o que diminui o preço e melhora a qualidade. Isso
beneficia o povo, mas aumenta o preço final dos produtos, diminuindo a
competitividade natural por preços dessas nações (MAIA, 2001, p. 59).

Porter (1989) retifica a capacidade de competir apenas por preço baixo como causa
da perda de vantagens competitivas. Segundo ele, as nações em desenvolvimento ficam
presas a esse fator, pois estão diretamente ligadas a custos de fatores. Assim, as indústrias
desses países enfrentam constantes ameaças de perder a posição competitiva e enfrentar
problemas crônicos na manutenção de salários e lucros atraentes para o capital, que fica à
mercê de flutuações econômicas.
Outra variável - apontada por Cateora e Graham (2009) - como motivo desta perda é
a infra-estrutura, que diante de uma população e economia crescentes, pode se tornar incapaz
de suportar a demanda. Afinal, o país pode possuir bens para exportar, mas pode não ser
capaz de exportá-los em razão de uma infraestrutura (estradas, ferrovias, aeroportos, portos
etc.) inadequada.

3 METODOLOGIA
A natureza desse artigo, segundo Prodanov e Freitas (2009), é aplicada ao gerar um
conhecimento de uso prático para estudantes e profissionais da área do comércio exterior,
bem como população em geral, já que o tema do estudo afeta diretamente a vida e a economia
global. Os métodos cientificam consistem em pesquisa bibliográfica exploratória, com
levantamento preliminar de dados secundários, visando explicar o destaque que países
emergentes possuem em termos produtivos para se evidenciarem como exportadores
mundiais, e pesquisa qualitativa baseada em um roteiro de entrevista padronizado para
levantar dados primários, os métodos utilizados para aplicar as entrevistas foram o e-mail e
face a face.
O roteiro de entrevistas foi validado pela professora Vera Denise Muller, além disso,
foi realizado um pré-teste, através da aplicação face a face do roteiro de entrevistas com
Leandro Benedetto, gerente de custos da Box Print Grupo Graf, empresa do ramo de
embalagens com atuação no mercado doméstico e internacional, com matriz sediada em
15

Campo Bom. O entrevistado não apresentou nenhuma dificuldade em compreender e


responder as questões propostas, não havendo a necessidade de nehuma alteração no roteiro
de entrevistas, o mesmo foi aplicado com mais quatro entrevistados, sendo duas entrevistas
aplicadas face a face e duas via e-mail.
O roteiro de entrevistas foi direcionado a profissionais de diversas áreas, como
financeira, exportadora, importadora, história e literatura, com o intuito para demonstrar como
o assunto influência e está presente na vida da comunidade internacional, independente do seu
ramo de atuação no mercado. e como é de conhecimento ta, escolhida pela pesquisadora, para
empresas que trabalham com redes de franquias como segmento de negócio, com intenção ou
já com atividades no exterior. A realização do roteiro de entrevistas foi de suma importância
para coletar informações da vivência prática e do dia a dia da população, e compará-los com
os tópicos pertinentes ao estudo abordados pelos autores, possibilitando assim um maior
aprofundamento do estudo.

4 RESULTADOS E ANÁLISE

Os países emergentes segundo diversos autores, incluindo Mobius (1996) possuem


diversas características em comum, como os níveis crescentes de escolaridade, alta taxa de
poupança, salários baixos, exportações elevadas, alta dependência dos países desenvolvidos
população jovem, infra-estrutura e tecnologia relativamente pouco desenvolvidas, predomínio
de trabalho com produtos primários e bens manufaturados, com trabalho intensivo e pouca
tecnologia etc.
Assim como os autores, os entrevistados identificaram aspectos em comum entre os
países emergentes, como: mão de obra abundante moeda estável; riquezas naturais;
dependências dos mercados desenvolvidos, pouca mão de obra qualificada, surgimento de
novas classes sociais, exportação de produtos primários e importação de tecnologia,
principalmente as mais avançadas, grupos sociais explorados, políticas corruptas, falta de
investimentos em saúde e educação, produção sem muitos investimentos tecnológicos e com
grande uso de mão de obra, elevada oneração de impostos etc.
Podemos relacionar grande parte das características mencionadas pelos entrevistados
a países emergentes no início da sua industrialização, pois confere com a descrição dada pela
Larousse, que no início do seu desenvolvimento, os trata como países com um padrão de vida
insatisfatório, altas taxas de fecundidade e natalidade, alimentação insuficiente para parte
significativa da população, analfabetismo elevado, populações rurais miseráveis, quase não
16

possuem classe média e instituições realmente democráticas, possuem renda per capita anual
baixa.
Quando questionados sobre a principal vantagem competitiva de um país, os
entrevistados Leandro5, Marlove6 e Maria Virgínia7 responderam a infra-estrutura, o que vai
de encontro com o pensamento de Cateora e Graham, que citam essa variável entre as mais
importantes para gerar vantagens competitivas para um país, já que de nada adianta possuir
um bom produto, com boa qualidade, inovador e com preço competitivo se o país não possui
uma boa infra estrutura de portos, aeroportos, ferrovias, estradas, etc. para escoar a produção
de acordo com as necessidades do seu comprador.
Nesse aspecto, as nações emergentes podem ter vantagem em relação aos países
desenvolvidos, pois são focos produtivos e recebem altos investimentos do exterior, se
souberem investir essa quantia, podem desenvolver e modernizar sua infra-estrutura de acordo
com as necessidades do mundo atual, se tornando mais competitivos e eficazes. Do contrário,
Cateora e Graham garantem que uma infra-estrutura incapaz de suportar uma população e
economia crescentes pode prejudicar o crescimento do país e fazer e causar perda das
vantagens competitivas.
Ainda como vantagens competitivas importantes, Marlove fala sobre a mão de obra
qualificada. E tem sua idéia complementada por Valquíria8, quando essa destaca a
importância do investimento em educação para formar uma mão de obra qualificada
habilitada a realizar diferentes tarefas. Sobre a mão de obra qualificada, Maria Virgínia diz
ainda que ela é importante para que se possa produzir artigos no nível de exigência do
mercado importador, e também entender as necessidades e caracterísiticas desse mercado.
Outro importante ponto levantado por Leandro é a questão da carga tributária que não deve
onerar a produção interna, pois se os impostos forem muito elevados diminuem a
competitividade dos produtos do país. Essa ventagem produtiva têm grande influência do
governo, que deve estar comprometido com o desenvolvimento do país, pois segundo Porter
(1989), ele têm importante influência na competitividade nacional, através de subsídios e
políticas no mercado de capital.
_________________________________
5
Gerente de custos da empresa Box Print Grupo Graf, empresa do ramo de embalagens com atuação no mercado
doméstico e internacional, com matriz sediada em Campo Bom.
6
Professora de história do Centro Sinodal de Ensino Médio de Sapiranga – Duque de Caxias e do Instituto
Estadual Coronel Genuíno Sampaio, ambos sediados em Sapiranga.
7
Profissional atuante no comércio internacional – vice gerente da Gaucho Sheep and Leather Products, Inc. Com
sede administrativa em Huntington Beach, Califórnia – USA e sede produtiva em Estância Velha, Rio Grande do
Sul – Brasil.
8
Professora de português e literatura do Instituto Estadual Coronel Genuíno Sampaio, sediado em Sapiranga.
17

Ernani9 destaca a capacidade de produção instalada como principal vantagem


competitiva, pois ela influência na produtividade, que é apontada por Maia (2001) como o
melhor indicador para definir o nível de competitividade de uma nação.
Todos os pontos levantados pelos entrevistados vão de encontro com Porter (1989),
que diz que o conjunto de vantagens produtivas nacionais reforça-se mutuamente e se
proliferam com o tempo, ou seja, cada determinante pode afetar, e afeta, todos os outros
determinantes.
Porter (1989) diz ainda que existam dois tipos básicos de vantagem competitiva,
menor custo e diferenciação. Quando questionados a esse respeito, todos os entrevistados
responderam que os países emergentes competem por preço. Isso pode ser atribuído as
características, expostas pelos autores, como grande quantidade de mão de obra não
qualificada e pouca tecnologia de ponta, diversidade e abundância de recursos naturais e
condições históricas do seu desenvolvimento apontadas entre outro por Santos (2008) e
Larousse (1999) como seus passados como colônias e não terem sido atingidos pelas
revoluções que moldaram os países que hoje são desenvolvidos, aos quais as nações
emergentes ficaram subordinadas.
E é justamente por competir por preço que todos os entrevistados acham os países
emergentes mais atrativos, em termos produtivos, do que os países desenvolvidos. Segundo
Marlove a mão de obra barata e abundante é de grande importância para os preços baixos.
Além disso, Leandro diz que os mercados emergentes conseguem manipular seus preços
através de moedas desvalorizadas para se tornarem mais atrativos, e os seus governos
oferecem incentivos fiscais para as empresas se instalar no país.
Porém, Maria Virgínia salienta que esses produtos terão uma qualidade inferior
devido à menor qualificação da mão de obra e tecnologias atrasadas, e que muitos setores e
países estão buscando produtos capazes de competir por diferenciação, tirando a vantagem
dos países emergentes que não investirem em sua atualização. Valquíria também acredita que
a falta de qualificação de mão de obra e investimentos em infra-estrutura possam acabar com
as vantagens competitivas do país, mesmo ele possuindo mão de obra barata. Exatamente o
mesmo pensamento de Porter (1989) que fala que para manter a vantagem competitiva, as
empresas precisam buscar uma vantagem mais sofisticada, oferecendo produtos e serviços de
melhor qualidade.
_________________________________
9
Profissional atuante no comércio internacional – gerente da Gaucho Sheep and Leather Products, Inc. Com
sede administrativa em Huntington Beach, Califórnia – USA e sede produtiva em Estância Velha, Rio Grande do
Sul – Brasil.
18

Segundo Marlove, outro fator que pode levar a perda das vantagens competitivas são
os hábitos do consumidor, que apesar de possuir um novo poder de compra estão estágios
atrasados em relação aos países desenvolvidos, podendo apresentar necessidades, desejos e
preocupações diferenciados. Essa questão também foi apontada por Portes (1989), que disse
que os desejos da população dos países emergentes podem divergir da demanda dos países
avançados, e os compradores locais passam a pressionam o país na direção errada.
Para Ernani, a população dos países emergentes podem se tornar altamente
consumistas, queimando boa parte das suas poupanças com importações, substituindo os seus
hábitos culturais e econômicos, como por exemplo, a perda de sua produção agrícola de base
para produzir produtos para exportação, e isso pode afetar a suas competências produtivas de
forma negativa, pois faz aumentar o custo de vida e vai contra o que diz Bhagwatti, sobre os
países emergentes precisarem criar técnicas de uso intensivo de mão de obra, e que, sejam
eficientes em termos de produtividade.
Quando se fala em perda de competitividade, Leandro fala novamente sobre os altos
impostos internos, corrupção a nível governamental e valorização da moeda, todos esses
fatores têm influência governamental, que segundo Porter (1989) não pode criar vantagens
competitivas, mas tem alto poder de influenciá-las. Um caso do receio de valorizar a moeda e
perder as vantagens competitivas vem da China, que mantém sua moeda super desvalorizada
em relação ao dólar para manter a competitividade.
Ainda segundo o entrevistado Leandro, é possível antever a migração do foco
produtivo de um país para o outro. Para isso, é preciso observar as políticas e transformações
dos países que são focos produtivos e procurar essas evidências em outros mercados.
Além disso, é preciso ficar atento para as mudanças que ocorrem dentro do país que
é destaque produtivo, como melhora no nível de vida, na educação, na qualidade e atualização
das tecnologias, melhorias nos salários e novas aspirações desse país, pois como dizem os
autores como Vogl e Sinclair (1996), Mobius (1996), entre outros, a medida que a economia e
o país crescem, ocorrem mudanças na educação, taxas de natalidade e mortalidade, no acesso
a tratamentos médicos, alimentos de melhor qualidade, cultura, riquezas, novas tecnologias,
padrões de vida etc, e os empreendedores não se satisfazem mais em apenas produzir para
mercados desenvolvidos e buscam reforçam seus mercados internos. E essas mudanças
indicam a adoção de novas filosofias econômicas, demográficas e sociais que mostram que o
país e sua população não se sujeitaram mais as condições anteriores.
Marlove diz ainda que, se um país que era foco produtivo está se modernizando,
alterando seu foco de vantagem competitiva e por isso elevando os seus preços, e surge outro
19

país que oferece mão de obra barata e abundante, benefícios fiscais e infra-estrutura é possível
essa migração.
Sobre o futuro dos países emergentes, Leandro pode identificar ao longo dos anos
diversas mudanças em suas políticas, como melhor distribuição de renda, qualificação da mão
de obra, estabilidade da moeda interna, maior investimento do governo e implementação de
políticas sociais. O que coloca esses países em uma situação na qual podem se igualar aos
países desenvolvidos. Porém, na opinião do entrevistado, o fator que terá o maior peso nesse
processo são as políticas ambientais, pois na Europa, por exemplo, existem diversos países
desenvolvidos que usam essa variável como diferencial competitivo, e estão dispostos a pagar
mais por um produto que venha de um país com políticas ambientais a serem cumpridas.
A questão das políticas ambientais é mencionada por Maia e Sachs, e são aspectos
muito importantes, pois trazem novas alternativas produtivas e podem ser usadas como
vantagens competitivas. E no caso dos países emergentes, as questões naturais são ainda mais
importantes, pois geralmente esses países apresentam um território grande e com climas e
vegetações bastante diferenciados, o que gera uma grande variedade e disponibilidade de
matérias primas e recursos naturais, recursos estes, escassos nos países desenvolvidos.
Ernani também identifica diversas mudanças nos mercado emergentes. Segundo ele,
as mudanças econômicas ocorrrem devido a elevação do padrão de vida, muitas vezes
decorrente da elevação dos salários e distribuição de rendas e em consequência ocorrem
mudanças sociais, as pessoas adquirem hábitos diferentes, e esse povo passa a viver novas
realidades. Esses aspectos citados pelo entrevistado, vão de encontro com a visão dos autores
como Carbaugh (2004), que falam que a medida em que os países vão se industrializando e
melhorando sua econômia, surgem investimentos em diversas áreas que antes não recebiam
atenção, e com isso ocorrem mudanças políticas, culturais, sociais, econômicas que visam
melhorar a vida da população e evoluir o país. O que tende a melhorar a qualidade da mão-de-
obra e técnologias empregas, e por consequência produtos com mais qualidade que podem vir
a competir em novos patamares, como produtos com alto grau de qualidade e inovação.
Maria Virgínia complementa a visão de Ernani dizendo que inclusive é possível que
os países emergentes, com matérias primas abundantes, mão de obra especializada, tecnologia
atualizada e infraestrutura, possam vir a competir no mesmo nicho de mercado dos países
desenvolvidos. Porém vale resalvar algo: é muito comum um país rico em matéria-prima ser
um país pobre em infraestrutura, pois todos os investimentos vão diretamente para a extração
e não para vias de escoamento dessa extração. Ou seja, é muito comum um país ser rico em
20

matérias-primas e pobre em infraestrutura, e outro país ser pobre em matérias-primas, mas


economicamente rico.
Já Marlove diz que, com o passar dos anos, observa muitas das características
descritas pelos autores sobre as melhorias e os desenvolvimentos sofridos pelos países com a
sua industrialização e o aumento dos investimentos, como melhorias estruturais, de educação,
distribuição de renda, mais qualificação profissional, melhoria das instituições educacionais e
de pesquisa, mas diz que essas melhorias não chegam a todas as áreas, nem a toda a
população do país.
Ou seja, alguns países podem até se aproximar ou ocupar um lugar de desenvolvidos,
mas “todos” não, pois não há recursos naturais, energéticos e mercados de consumo para
absorver toda essa produção. E os próprios países desenvolvidos tendem a barrar os novos
emergentes, para não perderem o seu status ou sua área de atuação.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os principais desafios desse estudo foram, a dificuldade de encontrar fontes
bibliográficas atualizadas. Porém, a bibliografia encontrada possui dados relevantes e de
possível relação com a atualidade. Assim, através da análise dos dados teóricos e do material
colhido nas entrevistas, pode-se chegar às seguintes conclusões em relação aos objetivos,
problema e hipóteses levantados no início deste estudo.
Em relação ao objetivo geral, pode-se destacar que a mão de obra barata e abundante,
a riqueza de recursos naturais e de matérias-primas pouco explorados, juntamente com a
situação econômica e social, geram a abertura desses mercados para investimentos
estrangeiros, mesmo que em troca de salários baixos, muitas horas de trabalho e exploração.
Assim, conseguimos responder o problema de pesquisa, identificando que mão de obra barata
e abundante, riquezas naturais e de matérias-primas são as competências produtivas que
fazem de um país emergente um mercado exportador em evidência mundial.
Sobre aos objetivos específicos pode-se apontar a formação histórica dos mercados
emergentes, não terem sido afetados pelas principais mudanças econômicas e políticas que
moldaram os países desenvolvidos, que gerou desenvolvimento tardio e em padrões e
processos diferentes do da Europa e de outras nações ricas, e o fato de terem sido colônias que
só podiam comercializar com as suas metrópoles e somente o que elas não podiam produzir
(basicamente produção primária sem muita tecnologia), como motivos para a situação
produtiva atual. Como razões para a perda de vantagens competitivas, podem-se apontar
evoluções econômicas, políticas e sociais que trazem mais recursos aos países e seus
21

habitantes, mas, em contrapartida, podem gerar perda de foco durante o crescimento


econômico e falta de investimento em infraestrutura, acarretando dificuldade na produção e
no escoamento. E ainda o aumento de renda e poder de consumo da população que pode levar
a um grande foco no mercado interno, que por estar atrasado em relação a outros países,
possui necessidades diferentes, o que faz com que as indústrias do país não acompanhem a
demanda externa.
Sobre as duas hipóteses construídas, ambas se aplicam ao estudo e à realidade
encontrada. Pois os países emergentes têm mais potencial para desenvolver competências
produtivas que atraiam o mercado global devido à carência da sua população. No entanto, à
medida que os investimentos externos e a economia do país vão crescendo e se estabilizando,
a população tem acesso a melhores salários e condições de vida, não se sujeitando mais às
condições antigas de trabalho. Tal situação gera aumento no custo de mão de obra e no
produto final, diminuindo a capacidade do país de competir por preço e, ainda, não o
habilitando a competir por diferenciação com países desenvolvidos devido à sua desvantagem
em termos de tecnologia e mão de obra especializada. Isso culmina com a migração das
vantagens produtivas para um novo território emergente, com mão de obra farta e barata e
recursos naturais pouco explorados, recomeçando o ciclo produtivo dos mercados emergentes.
Desse modo, pode-se concluir que a combinação de financiamento interno e
estrangeiro, bem como a disponibilidade de diferentes tecnologias e matérias-primas em
diferentes partes do mundo, são elos que ligam as economias de todas as nações. Assim, os
países emergentes enfrentam uma tarefa árdua para construir o progresso econômico,
precisando comprender perfeitamente os muitos fatores econômicos, sociais e políticos que
devem condicionar e moldar suas ações, para que tenham sucesso. Além disso, precisam não
só de conhecimento, mas também de perspicácia e imaginação. Assim, um novo estudo a
partir do conhecimento adquirido com o presente artigo poderia constituir na identificação do
próximo país emergente a se tornar uma potencia produtiva mundial.

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