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São Paulo, Segunda-feira, 11 de Outubro de 1999

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A caixa e a caixinha
CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro -Outro dia, fazia a revisão dos originais de um


dos volumes de memórias de JK, intitulado "50 anos em 5".
Resultado de um trabalho conjunto do ex-presidente, de Caio
de Freitas e Josué Montello, com edição final deste que vos
escreve, o livro narra os principais lances do governo hoje
transformado em era.
Impressionante como a prioridade, na época, era fazer,
desenvolver, criar. Nos capítulos em que a questão
econômico-financeira emergia como problema, a causa e o
fim de tal preocupação era obter recursos para que mais uma
estrada fosse aberta ou melhorada, mais uma indústria de
base fosse instalada, sem contar, é evidente, o fluxo
alucinado de capitais para que uma nova capital fosse
construída e entrasse em funcionamento.
Num paralelo com o atual governo, a diferença é
escrachante. Se consultarmos um jornal de ontem, da semana
passada ou de três anos atrás veremos que o atual governo,
afora os escândalos e fuxicos pontuais de cada mês, só se
articula, só existe numa via de mão única: obter mais
recursos, mais impostos, mais cortes no Orçamento, mas
com a finalidade exclusiva de manter caixa suficiente para
fazer aquilo que FHC e Malan chamam de "honrar"
compromissos com os especuladores de dentro e de fora.
Fazer o tal exercício de casa exigido pelo FMI.
O gasto de energia e de discutível imaginação é todo
dedicado a tirar mais dinheiro das empresas e de todos nós
para despejar na caixa que, no fundo, equivale à caixinha dos
bicheiros e dos policiais corruptos. É um dinheiro que deixa
de produzir riqueza nacional e bem-estar social para operar o
cassino em que transformaram o país.
A insistência em taxar os inativos, além de uma crueldade, é
a prova de que o governo está raspando o fundo do tacho e
chegando ao fundo do poço.

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