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GESTÃO DA ÁGUA 5

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Guia Prático do Referencial da Qualidade Ambiental do Edifício –
«Edifícios Não Residenciais»

Introdução
Verdadeiro desafio ambiental da sociedade, a gestão da água visa a adiar o esgotamento deste
recurso natural e a evitar as poluições potenciais e os riscos de inundação.

Gerenciar a água de uma forma ambientalmente correta em um edifício significa estar atento a 3
aspectos:
 adotar uma estratégia para diminuir o consumo de água potável,
 gerenciar as águas pluviais no terreno de maneira sustentável,
 escoar as águas servidas minimizando seu impacto no meio ambiente.

Para alcançar estes objetivos, o empreendedor tem diferentes campos de atuação:


 limitar a impermeabilização do terreno criando superfícies permeáveis, a fim de facilitar a
infiltração da água no solo e limitar o volume de água pluvial escoada,
 gerenciar as águas pluviais de maneira alternativa favorecendo tanto quanto possível soluções
técnicas de infiltração/retenção (valas, bacias de retenção ornamentais, etc.),
 limitar o uso da água potável para certas necessidades que não precisam de água deste tipo,
 recorrer à reciclagem da água pluvial recuperada para cobrir certos usos que não precisam de
água potável e limitar, assim, os rejeitos de água pluvial,
 reciclar as águas servidas ou uma parte delas se o contexto permitir.

Para uma visão de conjunto da categoria, pode-se utilizar as planilhas sugeridas nesta categoria 5,
cuja “Síntese dos resultados” retoma o conjunto dos critérios quantitativos desta categoria.

Elementos valorizáveis

As seguintes exigências seguintes são avaliadas e valorizáveis:

 instalação de equipamentos de alto desempenho nos sanitários (vasos sanitários,


chuveiros, torneiras, etc.) tendo em vista limitar as necessidades de água (preocupação
5.1.2 e 5.1.3),
 recuperação da água pluvial e sua utilização nos sanitários para cobrir as necessidades
de água: preocupação 5.1.2 e 5.1.3 (através de planilha de cálculo),
 recuperação de água pluvial e sua utilização na irrigação e/ou na limpeza para cobrir as
necessidades de água: preocupação 5.1.3 (através de planilha de cálculo),
 instalação de superfícies permeáveis que permitam a infiltração de uma parte das
águas pluviais (preocupação 5.2.1),
 instalação de sistemas alternativos de retenção e/ou infiltração das águas pluviais
(valas, bacias de retenção ornamentais, poços de infiltração, etc.): preocupação 5.2.2,
 instalação de sistemas de tratamento da poluição crônica (separadores de
hidrocarbonetos, sistemas paisagísticos alternativos, etc.): preocupação 5.2.3,
 instalação de sistemas de tratamento da poluição acidental (separadores de
hidrocarbonetos) com procedimentos de limpeza: preocupação 5.2.4,
 instalação de um sistema inovador de tratamento das águas servidas: preocupação
5.3.1,
 instalação de um sistema de tratamento e reciclagem das águas cinza: preocupação
5.3.2.

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Estrutura da categoria 5

5.1 Redução do consumo de água potável

Desafios ambientais

A água potável pode ser economizada, principalmente:

 limitando-se as necessidades de água nos diversos pontos de consumo: isto passa pela
instalação de dispositivos hidroeconômicos, isto é, de dispositivos visando a diminuir os
volumes de água utilizados nos equipamentos sanitários da construção (toaletes,
mictórios, torneiras, chuveiros),
 limitando-se o recurso à água potável para usos outros que não “alimentação” e
“higiene corporal”.

Para certos usos que não necessitam de água potável, é desejável, então, recorrer a águas que não
provenham da rede pública de distribuição, sobretudo para os toaletes (descargas, mictórios), a
irrigação eventual ou a limpeza do edifício. Várias soluções podem ser praticadas, conforme o
contexto regulamentar local: recuperação das águas pluviais, recuperação e reciclagem das águas
cinzas após tratamento, reciclagem das águas de processo industrial [A].

NOTAS:
(1) A vigilância quanto ao risco sanitário ligado à presença de uma rede dupla é abordada na
categoria 14 “Qualidade sanitária da água”.
Outras ações também são possíveis, mas dizem respeito sobretudo à fase de uso e
operação da construção, tais como, sensibilizar os usuários para as práticas de
economia de água referindo-se à frequência dos usos e garantir orientação para a
operação adequada dos dispositivos economizadores e sistemas instalados (na fase de
PROJETO, no entanto, o empreendedor não dispõe de uma grande margem de
manobra, e as ações de sensibilização decorrem mais especificamente do
gerenciamento do empreendimento, dependendo, sobretudo, da transmissão das
recomendações para o responsável pelo gerenciamento do uso e operação do edifício
- este ponto é abordado no referencial do SGE, anexo A.7, e também será tratado
mais detalhadamente no referencial de certificação do uso e operação) e, também,
monitorar os consumos de água a fim de limitar desperdícios e vazamentos (o
empreendedor pode influir neste desafio implementando meios e equipamentos que
garantam este monitoramento na fase de uso e operação - este ponto é abordado na
categoria 7 "Manutenção - Permanência do desempenho ambiental").

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Preocupações

5.1.1 Limitar as vazões de utilização

O princípio desta preocupação é a instalação de redutores de pressão (sempre que a pressão for
superior a 300 kPa para que sejam limitadas as vazões nos pontos de uso).

Considerando-se que a recomendação da NBR 5626 (ABNT, 1998) é de pressão estática máxima de
400 kPa, os projetos deverão ser mais criteriosos quanto ao item pressão hidráulica para atingirem o
nível B, correspondente ao desempenho mínimo.

Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

Nível BASE
Auditoria do PRÉ-PROJETO: objetivo indicado no programa; diretriz projeto instalações
hidráulicas.
Auditoria do PROJETO: projeto executivo instalações hidráulicas com notas referenciando as
pressões dinâmicas previstas.
Auditoria da EXECUÇÃO: documentos de vistoria de entrega da obra ; manual destinado aos
usuários/gestores.

5.1.2 Limitar a demanda de água para uso sanitário

O objetivo desta preocupação é garantir que tenham sido adotadas medidas para economizar o uso
de água nos sanitários das edificações.

O princípio desta preocupação é identificar as necessidades de água dos sanitários (válvulas de


descarga, mictórios, chuveiros, banheiras e lavatórios) em função dos diferentes equipamentos
previstos:
 para o empreendimento (Esanitários),
 para um empreendimento “de referência” (Eref, sanitários), ou seja, as necessidades de água
considerando a presença de equipamentos de referência.

As necessidades de água para os sanitários do empreendimento Esanitários são as necessidades de


água dos sanitários do empreendimento, considerando a instalação de dispositivos que permitam uma
economia de água (descargas de duplo-fluxo, dispositivos reguladores de vazão, restritores de vazão,
com sensores de operação, etc.).

EQUIPAMENTO EXEMPLOS DE DISPOSITIVOS HIDROECONÔMICOS


Descargas automáticas de 6,8L
Descargas Descargas de duplo fluxo 3L/6,8L
Descargas de duplo fluxo 2L/4L
Mictórios 2L
Mictórios de enxágue automático 1L a 3L
Mictórios
Mictórios de enxágue econômico (1L)
Mictórios sem água
Pias Torneira de vazão limitada entre 5 L/min e 12 L/min*
Chuveiros Chuveiros de vazão limitada entre 5 L/min e 10 L/min*

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As necessidades de água dos sanitários Eref,sanitários são as necessidades de água que o mesmo projeto
teria com equipamentos usuais, ditos “de referência”. Os valores de referência são os seguintes:
Descarga: 6,8 litros/descarga
Mictório: 3 litros/descarga
Torneira de pia: 10 litros/minuto
Chuveiro: 12 litros/minuto

Trata-se, aqui, de desenvolver uma reflexão sobre o consumo de água potável, partindo de um projeto
usual, tal como o empreendedor o executaria se não dedicasse atenção particular à economia de
água:

 Identificar os equipamentos consumidores de água potável nos sanitários (válvulas de


descarga, mictórios, chuveiros, banheiras e lavatórios).
 Avaliar as necessidades anuais de referência de cada equipamento dos sanitários.
 Avaliar as necessidades anuais de referência para os sanitários.
 Para os diferentes equipamentos, escolher soluções hidroeconômicas para diminuir as
necessidades anuais de água dos sanitários.
 Avaliar as necessidades anuais do empreendimento após essa reflexão.

Método de cáculo
Dados a informar :
 número de ocupantes permanentes do edifício;
 porcentagem de homens e mulheres;
 número diário de visitantes (em média);
 duração média da presença dos visitantes no edifício;
 para certos equipamentos, a frequência de utilização.

Cálculo :
1. Determinação das necessidades de referência de água nos sanitários

Parte genérica (exceto hotelaria) -necessidades de referência

Consumo
do
Duração Frequência da utilização por Necessidades
aparelho
Tipo de aparelho (min) ou ocupante permanente (em diárias de
de
de referência nº de função das atividades do referência
referência
descargas edifício) (L/dia)
(L ou
L/min)
Descarga 6,8 1 3360
Torneira de pia de
10 0,25 1400
banheiro
Pia (cozinha,
12 0,25 0,1 60
cafeteria)
Chuveiro 12 7 0 0
Mictório 3 1 1020
Necessidades de referência
5840
Eref, sanitários (L/dia)

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Os dados em amarelo claro são os dados próprios ao empreendimento; eles devem ser preenchidos
pelo empreendedor.

Quando houver chuveiros no empreendimento, preencher a frequência por ocupante permanente (em
função do contexto). Na ausência de chuveiros no empreendimento, colocar 0 na coluna “frequência”.
Idem para as pias de cozinha e cafeteria.

2. Determinação das necessidades de água nos sanitários do projeto

Os dados em amarelo claro (desempenho dos aparelhos instalados) são os dados próprios ao
empreendimento; devem ser preenchidos pelo empreendedor.

Nota: Para as descargas,


o valor de 5,625 corresponde a uma descarga 9L/4,5L ;
o valor de 3,75 corresponde a uma descarga 6L/3L ;
o valor de 2,5 corresponde a uma descarga 4L/2L.

Parte genérica (exceto hotelaria) - necessidades do projeto


Consumo
Duração Frequência da utilização por
do Necessidades
(min) ou ocupante permanente (em
Tipo de aparelho aparelho diárias do
nº de função das atividades do
(L ou projeto (L/dia)
descargas edifício)
L/min)
Descarga 3,75 1 2100
Torneira de pia 10 0,25 1400
Pia (cozinha,
12 0,25 60
cafeteria)
Chuveiro 8 7 0
Mictório 2 1 680
Necessidades do projeto E
4240
sanitários (L/dia)

3. determinação da economia de água potável realizada


Esanitários / Eref sanitários 0,7260274

Em seguida a esses dois cálculos, o nível atingido é dado pela %: E sanitários / E ref. sanitários, do
seguinte modo:

Hotelaria
BASE: E banheiros ≤ E ref, sanitários
2 PONTOS: E sanitários ≤ 0,90 E ref, sanitários
4 PONTOS: E sanitários ≤ 0,80 E ref, sanitários
6 PONTOS: E sanitários ≤ 0,70 E ref, sanitários

Outros atividades
BASE: E sanitários ≤ E ref, sanitários
2 PONTOS: E sanitários ≤ 0,70 E ref, sanitários
4 PONTOS: E sanitários ≤ 0,60 E ref, sanitários
6 PONTOS: E sanitários ≤ 0,50 E ref, banheiros

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Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

Nível BASE e diversos PONTOS


Auditoria do PRÉ-PROJETO: objetivo indicado no programa ; diretriz projeto instalações
hidrossanitárias.
Auditoria do PROJETO: memória de cálculo da demanda prevista e o percentual de redução
previsto comparado a um consumo « convencional », fichas técnicas dos dispositivos
economizadores e sistemas projetados.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documentos de vistoria de entrega da obra ; manual
de conservação e manutenção ; manual destinado aos usuários/gestores.

5.1.3 Limitar o consumo de água potável distribuída

O objetivo desta preocupação é garantir que medidas sejam tomadas para limitar o consumo de água
potável para as diferentes necessidades que podem ser cobertas por água proveniente de outras
fontes (irrigação dos espaços verdes, limpeza de determinadas áreas, bacias sanitárias e mictórios).

Para o nível BASE, no uso de água não potável, é exigência respeitar a regulamentação aplicável.
Pode-se consultar, a este respeito, as recomendações técnicas de normas internacionais tais como as
normas DIN-1989 [B], BS 8515 [C] ou NF P16-005 [D].

Para a pontuação desta exigência, em relação aos pontos passíveis de consumo de água não potável
(válvulas de descarga, mictórios, limpeza de pisos, irrigação, alguns trechos de sistemas de
resfriamento, eventualmente de incêndio e outras), é requerida a determinação da porcentagem de
cobertura do conjunto dessas necessidades por água proveniente de uma outra origem.

Os pontos atribuídos variam conforme o porcentual mínimo coberto :

10%: mais 2 PONTOS


25%: mais 4 PONTOS
50%: mais 6 PONTOS

IMPORTANTE: Este desempenho deverá ser justificado com a ajuda de um balanço das ofertas e
demandas diárias de água não potável, levando em conta reciclagens(s) enventual(is), modelando o
comportamento diário do sistema de armazenamento de água não potável e a cobertura das
necessidades.

Na maior parte dos casos, o aproveitamento da água pluvial constitui a alternativa à água potável para
a cobertura das necessidades. No entanto, outras fontes de água podem ser utilizadas, como o reuso
de águas cinzas, o aproveitamento de águas drenadas do subsolo e outras.

IMPORTANTE : No uso de sistemas com águas não potáveis é preciso garantir que os seguintes
pontos serão bem resolvidos:
 relação custo/benefício,
 magnitude do risco sanitário em relação à competência do serviço técnico que intervirá na rede
de água na fase de uso e operação,
 limite técnico (por exemplo, uma baixa pluviometria, ou uma repartição pluviométrica pouco
favorável para os usos cobertos pela água pluvial),

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 limite do projeto (por exemplo, superfícies de coleta das águas pluviais insuficientes para
assegurar a cobertura desejada).

Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

Nível BASE e diversos PONTOS


Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local (sondagem, pluviometria,
bacias); objetivo indicado no programa ; diretriz projeto instalações hidrossanitárias.
Auditoria do PROJETO: projeto de instalações hidrossanitárias e dos sistemas de água não
potável, memória de cálculo da demanda prevista nos pontos de consumo de água não potável
e o percentual de redução previsto a partir do uso da água não potável ; balanço da oferta e
demanda diárias.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documentos de vistoria de entrega da obra ; manual de
conservação e manutenção ; manual destinado aos usuários/gestores contendo os valores
limite resultantes do tratamento da água e medidas de segurança requeridas evitar a
contaminação e/ou o uso impróprio da água.
.

5.1.4 Conhecer o consumo global de água total e de água potável

O objetivo desta preocupação é conhecer o consumo global (teórico) de água e de água potável.

O nível BASE único requer determinar (ou estimar) a previsão:


 do consumo total de água pelo edifício em m3/ano e m3/UF/ano *
 do consumo total de água potável pelo edifício en m3/ano e m3/UF/ano *

* A unidade funcional (UF) padrão é a área útil (m²). Mas ela também pode ser o número de
empregados do edifício, o número de alunos (para escolas), o número de pernoites (para hotelaria), o
número de refeições servidas (para restaurantes), e assim por diante.

Este cálculo pode ser realizado com a ajuda de um software específico, como o ELODIE
(desenvolvido pelo CSTB), ou então pela planilha de cálculo Excel da categoria 5, planilha 05 –
Recapitulação dos des consumos.

Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

Nível BASE
Auditoria do PRÉ-PROJETO: não há evidência a ser apresentada.
Auditoria do PROJETO: projeto de instalações hidrossanitárias e dos sistemas de água não
potável, memória de cálculo do consumo previsto de água total e de água potável, fichas
técnicas dos dispositivos economizadores e detalhamento dos elementos dos sistemas
projetados.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documentos de vistoria de entrega da obra ; manual
de conservação e manutenção ; manual destinado aos usuários/gestores.

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5.2 Gestão das águas pluviais no terreno

Desafios ambientais

O objetivo desta subcategoria é avaliar mais detalhadamente o desempenho das disposições


consideradas para gerir as as águas pluviais de maneira sustentável no projeto.

Esta gestão sustentável das águas pluviais permite, assim:


 favorecer a infiltração da água pluvial no terreno, por meio da instalação de superfícies
permeáveis,
 prevenir o risco de transbordamento da rede de saneamento a jusante, e mesmo de inundação
pelos cursos de água,
 limitar a poluição difusa e o risco de poluição acidental do meio natural.

IMPORTANTE: quando o empreendimento contém vários edifícios e apenas uma parte deles está
incluída no perímetro da certificação, esta subcategoria pode ser aplicada à totalidade da área de
implantação do empreendimento.

A gestão sustentável das águas pluviais na escala de um projeto é, antes de tudo, condicionada pelo
conhecimento do contexto do empreendimento, em particular pela identificação das restrições em
relação ao solo e do subsolo (natureza, possibilidade de infiltração, etc.), pelas exigências da
regulamentação local e pelo contexto do projeto (exutores presentes, rede unitária ou separada, zonas
de poluição por escoamento, etc.).

A maior parte destas informações é coletada durante da análise do local do empreendimento e


detalhada no SGE (cf. Anexo A.1 do SGE).

Para otimizar as opções de implantação, o empreendedor pode ou deve intervir em quatro aspectos,
os quais relacionam-se entres si:

 limitar a impermeabilização do terreno - favorecer a percolação das águas pluviais nos solos a
fim de manter, o mais possível o ciclo da água e limitar a quantidade de água escoada;
 adotar técnicas alternativas de gestão das águas pluviais - favorecer, tanto quanto possível, a
infiltração no terreno, quando ela for autorizada e pertinente, e realizar a retenção temporária
após as chuvas, assegurando um escoamento controlado, quer no meio natural quer no
sistema de drenagem;
 assegurar uma diminuição da poluição crônica - recuperar a água de escoamento e tratá-la em
função de sua natureza antes do descarte;
 considerar o risco de poluição acidental - antecipar o risco de escoamento das águas pluviais
em superfícies como estacionamentos, zonas de circulação, etc. após a ocorrência de um
acidente, por exemplo o derramamento de hidrocarbonetos, etc.

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Preocupações

5.2.1 Limitar a impermeabilização do terreno

A impermeabilização do terreno depende do tipo de superfície. A figura 1 abaixo apresenta diferentes


configurações de superfície para uma implantação típica:

 


 
   

1. Toiture en pente ou en terrasse. 6. Cheminement en revêtement poreux.


2. Toiture végétalisée. 7. Espace vert sur dalle.
3. Voirie, parking en enrobé. 8. Espace vert engazonné.
4. Parking végétalisé. 9. Espace vert boisé.
5. Cheminement ou place en revêtement imperméable

Figura 1: Configuração das superfícies para uma implantação em termos de impermeabilização


(fonte: SEPIA Conselhos)

Tradução da caixa de textos:


1. Cobertura inclinada ou em terraço
2. Cobertura vegetal
3. Ruas, estacionamento asfaltado
4. Estacionamento vegetalizado
5. Via para pedestres ou áreas com pavimentação impermeável
6. Via para pedestres com revestimento poroso
7. Espaço verde sobre laje
8. Espaço verde sobre solo gramado
9. Espaço verde sobre solo e arborizado

O objetivo visado é limitar a impermeabilização do terreno do projeto por meio superfícies permeáveis,
favorecendo ao máximo a percolação das águas pluviais nos solos e mantendo o ciclo natural da água
tanto quanto possível.

A permeabilidade do terreno pode ser alcançada das seguintes maneiras :


 Áreas gramadas e/ou vegetalizadas sobre o solo;
 Cobertura vegetalizada;
 Pavimentos permeáveis;
 Reservatórios drenantes sob vias de pedestres e estacionamentos (Figura 2);
 Outros sistemas de captação e infiltração de água no solo.

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enrobé grave
drainant
descente de

bitume
gouttière
Regard de de
décantation

béton
sable
concassé 10/80 drain
Concassé
géotextile
drain géotextile 10/80
Figura 2: Exemplos de reservatórios permeáveis sob vias para pedestres e estacionamentos
Tradução das caixas de texto
1ª ilustração : calha, tanque de decantação, dreno, geotêxtil, concreto, areia, armadura 10/80.
2ª ilustração : asfalto drenante, camada de betume, geotêxtil, armadura 10/80, dreno.

Notas: (1) As soluções técnicas e/ou arquitetônicas que podem ser adotadas dependem do contexto
do local do empreendimento considerando a natureza do solo, seu grau de permeabilidade, as
exigências regulamentares locais e eventuais prioridades locais. (2) Para a aplicação de técnicas
“alternativas” de saneamento pluvial, é preciso concepção e execução cuidadosos, para que seu
funcionamento seja eficaz e perene.

CONSIDERAÇÕES :
 Caso a impermeabilização seja tratada e considerada para uma escala que ultrapasse a
escala do local do empreendimento, as medidas tomadas nesta área também permitem
justificar o atendimento do nível de desempenho visado.
 Nos casos em que a infiltração não é autorizada para o terreno em questão, ou se ela
se revelar impossível ou não pertinente em função do estudo de solo realizado, esta
preocupação é considerada não aplicável.
 O coeficiente utilizado para as superfícies impermeáveis (telhados, ruas, etc.), mesmo
que utilizadas para o armazenamento de água destinado ao aproveitamento de águas
de chuva para usos na irrigação, nos sanitários ou como águas de processos
industriais, é o mesmo detalhado no Quadro 1 a seguir. Assim, o aproveitamento de
águas pluviais captadas das superfícies impermeáveis não deve ser considerado de
maneira simples no cálculo do coeficiente global de impermeabilização no terreno.
 O descarte das águas pluviais em um rio ou curso d’água próximos após tratamento
eventual não permite afirmar que o terreno é permeável; sendo assim, encaminhar
100% das águas pluviais a um rio próximo não permite dizer que o terreno é 100%
permeável.

A impermeabilização na escala do terreno é avaliada pelo cálculo do coeficiente de impermeabilização


global. O coeficiente de impermeabilização global do terreno Cimp é definido como a relação entre a
superfície impermeabilizada Simp de um terreno e sua superfície total St:
S imp
Cimp 
St

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O coeficiente de impermeabilização na escala do terreno é calculado através de uma média


ponderada, isto é, somando-se o conjunto das superfícies “unitárias” e seus coeficientes de
impermeabilização unitários :
C1  S1  C2  S 2    Cn  S n
Cimp 
St
O Quadro 1, a seguir, apresenta a lista dos coeficientes de impermeabilização unitários por tipo de
superfície a serem utilizados no cálculo do coeficiente de impermeabilização global.

Coeficiente de
Tipo de
Detalhes impermeabilização
superfície
unitário
Coberturas inclinadas ou em terraço
(com ou sem estrutura granular)
1
Coberturas vegetalizadas extensivas
(espessura do substrato inferior a 15 cm)
0,7
Coberturas
Coberturas vegetalizadas semi-intensivas
(espessura do substrato entre 15 e 30 cm)
0,6
Coberturas vegetalizadas intensivas
(espessura do substrato além de 30 cm)
0,4
Ruas ou estacionamentos com asfalto usual impermeável 1
Ruas, Estacionamento vegetalizado 0,7
estacionamen Calçada com reservatório permeável em solo com
dominância limosa ou argilosa
0,7
tos
Calçada com reservatório permeável em solo com
dominância arenosa
0,4
Via para pedestres ou praça com revestimento
impermeável
1
Via para pedestres ou praça em concreto poroso,
estabilizado ou pavimentadas com componentes com 0,6
juntas largas (exceto se situadas em lajes)
Vias e praças
Espaços verdes em lajes (ou vegetalização intensiva)
para com espessura do substrato superior a 30 cm
0,4
pedestres Superfícies gramadas
(exceto vias para pedestres e ruas internas)
0,2
Superfícies arborizadas (cobertura por árvores de mais de
70% do solo, com exceção das vias para pedestres e 0,1
ruas internas)

Quadro 1: Coeficientes de impermeabilização de referência5

5 Valores obtidos em parte da “Enciclopédia da hidrologia urbana e do saneamento”. B. Chocat, Lavoisier, Tec & Doc.

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Para efetuar o cálculo do coeficiente de impermeabilização, pode-se utilizar a ferramenta específica da


categoria 5, planilha 02 – Balanço das superfícies.

Abaixo há um exemplo de cálculo do coeficiente de impermeabilização para um projeto típíco:

Balanço das superfícies do projeto

Superfície Coef. de impermeabilização


Tipo de superfície
(m²) elementar
Superfícies arborizadas 0 0,1
Áreas Superfícies gramadas 1179 0,2
verdes Áreas verdes no
0,4
calçamento 0
Superfície em concreto
poroso, estabilizado ou
pavimentado com 0,6
componentes com
juntas largas 457
Calçadas com
reservatório permeável 0,4
em solo arenoso 121
Vias Calçadas com
reservatório permeável 0,7
em solo limoso 0
Estacionamento
0,7
vegetalizado 0
Superfícies
impermeabilizadas (vias
1
para pedestres, ruas,
estacionamentos) 1833
Cobertura vegetalizada
0,6
semi-intensiva 0
Coberturas Cobertura vegetalizada
0,7
extensiva 0
Cobertura impermeável 1110 1
TOTAL 4700

Coeficiente de
impermeabilização
global 0,74

O nível BASE requer o atendimento à regulamentação local.

Para a obter 2 PONTOS é preciso atingir um coeficiente de impermeabilização global inferior a 80% e
para obter 4 PONTOS inferior a 65%.

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Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

TODOS OS NÍVEIS
Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local ; exigências regulamentares
locais em matéria de impermeabilização ; análise da natureza do subsolo e do potencial de
inflitração ; objetivo indicado no programa ; diretriz projeto arquitetura.
Auditoria do PROJETO: cálculo do coeficiente de impermeabilização global ; projeto
arquitetura e implantação.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; relatório fotográfico ; manual destinado aos gestores
descrevendo a estratégia de infiltração (ou não) adotadas em projeto.

5.2.2 Gerenciar as águas pluviais de maneira alternativa

O objetivo desta preocupação é gerenciar o escoamento superficial de águas de chuva, garantindo o


armazenamento de volume satisfatório durante episódios chuvosos e a bons resultados da resultante
da vazão de escoamento final no terreno.

Diversas experiências relacionadas à gestão usual das águas pluviais mostram que os sistemas
adotados tem sido, na maioria das vezes, ineficazes em função da baixa frequencia de conservação
ou má qualidade de concepção e execução.

A gestão sustentável global das águas pluviais pode ser obtida das seguintes maneiras :
 armazenamento das águas pluviais antes do descarte,
 recurso à infiltração, caso pertinente ao contexto do projeto,
 utilização de técnicas alternativas.

As áreas verdes também favorecem a permeabilidade do terreno. Além disso, as folhas das árvores
contribuem para limitar o escoamento, retendo uma parte das precipitações. Igualmente, a instalação
de sistemas vegetalizados no telhado favorece a limitação dos volumes descartados a jusante.

Técnicas alternativas combinadas a outros espaços, tais como coberturas, áreas verdes, zonas de
circulação ou de estacionamento também favorecem:
 a melhor integração das construções nos loteamentos urbanos,
 economias financeiras e territoriais,
 a conservação e a perenidade das construções,
 a sensibilização dos vizinhos em relação à importância da preservação do ciclo da água na
cidade.

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Bassin paysager d’infiltration à dominante Bassins paysager à proximité de la gare de


minéral en Savoie (73) Saint-Valéry en Caux (76)

Tradução da caixa de textos:


1ª ilustração: vala de retenção e infiltração com agregados minerais em Savoie
2ª ilustração: bacias de retenção ornamental nas proximidades da estação de Saint Valéry em
Caux

A gestão das águas pluviais por meio de técnicas alternativas permite responder favoravelmente ao
combate das enchentes e à poluição dos meios receptores aquáticos.

IMPORTANTE: Se a vazão de escoamento for tratada e considerada para uma escala que ultrapasse
a escala do local do empreendimento, as medidas tomadas nesta área também permitem justificar o
atendimento do nível de desempenho visado.

O nível BASE requer uma reflexão sobre o armazenamento temporário das águas pluviais e o cálculo
da vazão de escoamento sobre o terreno. E, para atender esta preocupação, devem ser realizados:
 levantamento e a análise prévios das recomendações regulamentares e técnicas
relacionadas à gestão das águas pluviais,
 cálculo dos volumes de armazenamento de cada sistema destinado a este fim,
determinando previamente cada sub-bacia de coleta.

Para obter 2 PONTOS deve ser apresentado um estudo de viabilidade da infiltração no terreno e, se o
estudo concluir pela pertinência da infiltração, deve-se adotar sistemas de inflitração que permitam a
infiltração de parte das águas pluviais armazenadas. Neste caso, a infiltração das águas pluviais
deverá ser avaliada por meio de parâmetros relacionados tanto à capacidade de percolação ou de
encharcamento da água nos solos e subsolos,quanto aos riscos que tal infiltração possa acarretar às
estruturas vizinhas (ruas, imóveis) ou ao meio natural.

O estudo de viabilidade deve considerar os resultados dos ensaios geotécnicos de permeabilidade


realizados no local do empreendimento e avaliar a viabilidade técnica, econômica e regulamentar da
adoção de sistemas de infiltração no local do empreendimento.

Assim, a infiltração total das águas pluviais não representa em todos os casos uma forma de otimizar a
gestão das águas pluviais, especialmente em áreas de risco. A análise do contexto local é, portanto,
essencial, na medida que reconhece tanto a regulamentação local quanto as restrições do local do
empreendimento.

Para a obtenção de mais 2 PONTOS ou de mais 5 PONTOS, é preciso garantir um volume de


armazenamento temporário das águas pluviais entre 40% e 60% ou mais de 60%, respectivamente.

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O Quadro 2, a seguir, apresenta exemplos de técnicas alternativas e usuais para a gestão das águas
pluviais :
Exemplos de técnicas alternativas: Exemplos de técnicas usuais:
Valas e bacias de retenção Bacias de retenção enterradas em
ornamentais concreto ou metal
Fossos e colchões drenantes Armazenamento por canalização
Calçadas com reservatórios superdimensionada
Regulação por meio de coberturas Bacias de retenção a céu aberto
com ou sem vegetalização profundas e vedadas

Quadro 2: Exemplos de técnicas alternativas e usuais de saneamento pluvial

A título de exemplo, a bacia de retenção ornamental é um espaço vegetalizado pouco profundo,


permeável, que permite armazenar e infiltrar as águas da chuva.

Essences d’arbres locales en bord


de bassin et dans le bassin (espèce
Noue imperméabilisée tolérant des immersions
temporaires d’eau)

Terre végétale adaptée


Dispositif de cloison siphoïde
(épaisseur de 20 à 30 cm) pour
permettant une rétention de la
permettre une végétalisation
pollution accidentelle
rustique en fond de bassin
(surverse à prévoir)
Infiltration dans le sol

P = 1,5 m
V = Volume de stockage du bassin

S = Surface d’infiltration
(surface de fond du bassin située à plus de 1,50 m sous le
terrain naturel pour garantir une infiltration satisfaisante)

Figura 3: Corte típico de uma bacia de retenção ornamental (fonte: SEPIA Conselhos)

Tradução das caixas de texto:


Vala impermeabilizada.
Dispositivo de fechamento tipo sifão, permitindo a retenção da poluição acidental (prever
cheias).
Espécies de árvores locais ao redor da bacia e na bacia (tolerantes à imersões temporárias).
Solo vegetal adaptado (espessura de 20 a 30 cm) para permitir uma vegetalização rústica no
fundo da bacia.
V=volume do armazenamento da bacia.
Infiltração no solo.
S=superfície de infiltração (superfície do fundo da bacia situada a mais de 1,50 m sob o terreno
natural para garantir uma infiltração satisfatória).

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A alimentação se faz por escoamento direto por meio de valas ou canalizações enterradas. A
drenagem da bacia é efetuada por meio de infiltração ou por descarte de vazão limitada na rede. As
vantagens identificadas de uma bacia de retenção ornamental são, assim, as seguintes:
 integração das áreas verdes,
 possibilidade de superposição da função hidráulica com um espaço paisagístico ou
ecológico (zona úmida) e de lazer (bacia seca),
 pouca técnica, baixo custo de execução e operação para a bacia seca.

Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

Nível BASE
Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local ; exigências regulamentares
locais em matéria de impermeabilização e gestão das águas pluviais ; objetivo indicado no
programa ; diretriz projeto arquitetura e drenagem.
Auditoria do PROJETO: projeto arquitetura, implantação e drenagem ; cálculo da vazão de
escoamento final no terreno.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documento de vistoria de entrega da obra ; relatório
fotográfico ; manual de conservação e manutenção ; manual destinado aos gestores.

2 PONTOS
Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local ; exigências regulamentares
locais em matéria de impermeabilização e gestão das águas pluviais ; análise da natureza do
subsolo e do potencial de inflitração ; objetivo indicado no programa.
Auditoria do PROJETO: projeto arquitetura, implantação e drenagem ; cálculo da vazão de
escoamento final no terreno.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; relatório fotográfico ; manual de conservação e
manutenção ; manual destinado aos gestores.

2 a 5 PONTOS
Auditoria do PRÉ-PROJETO: objetivo indicado no programa.
Auditoria do PROJETO: projeto arquitetura, implantação e drenagem ; cálculo do volume
percentual de armazenamento temporário das águas pluviais.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; relatório fotográfico ; manual de conservação e
manutenção ; manual destinado aos gestores.

5.2.3 Combater a poluição crônica das águas superficiais escoadas

O objetivo é otimizar a redução da poluição crônica causada pelo escoamento de águas sobre o
terreno, garantidno que as águas potencialmente poluídas sejam pré-tratadas.

A poluição crônica das águas pluviais está essencialmente ligada à circulação e ao estacionamento
dos veículos, pelo uso de detergentes na limpeza das vias internas de circulação e dos espaços de
estacionamento.

Os sistemas de pré-tratamento posicionam-se diretamente no ponto de coleta do escoamento das


vias. São exemplos :
 bocas de lobos com câmaras de decantação,
 filtros (sobre seixos, areia) adaptados à natureza da água presente,
 bueiros equipados com filtros de pré-tratamento.

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A despoluição é, portanto, essencialmente mecânica.

Figura 4 apresenta um exemplo de dispositivo de pré-tratamento, no qual a retenção dos macro-


resíduos e impurezas se faz por decantação, a retenção dos flutuantes e hidrocarbonetos por um
sistema de sifão. Também é possível dispor de bueiros equipados com filtro de pré-tratamento, como
mostra a Figura 5. Estes dispositivos necessitam de limpeza frequente e devem ser previstos
diretamente em cada boca de lobo, o que pode representar um número grande de dispositivos a
controlar.

Grille avaloir

Cloches siphoïdes

Décantation

Départ des drains diffuseurs

Figura 4 (à esquerda): Exemplo dispositivo pré-tratamento (fonte: SEPIA Conselhos)


Figura 5 (à direita): Exemplo esquema de filtro após caixa de drenagem (fonte: Adopta)

Tradução das caixas de texto:


Figura 4: Boca de lobo. Sifões sino. Decantação. Saída dos drenos difusores.
Figura 5: Tampa de drenagem. Filtro removível. Canal de drenagem.

IMPORTANTE: Como alternativa ao tratamento das águas de escoamento, a infiltração das águas
pluviais diretamente no solo fica autorizada com as seguintes reservas (1) pouca poluição prevista
(poucos veículos, estacionamentos temporários, etc.), (2) análise do solo indicativa da capacidade
filtrante do próprio solo e (3) não vulnerabilidade (ou inexistência) de lençol subterrâneo.

Para obter 1 PONTO é preciso pré-tratar as águas de escoamento poluídas por decantação ou
filtração, garantindo o pré-tratamento das chuvas de duração inferior ou igual à duração de chuva
típica, utilizando-se a pluviometria local.

Para obter 2 PONTOS, deve-se calcular o sistema para chuvas de duração superior à típica.

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Nota: A decantação do material em suspensão se faz de maneira eficaz desde que a velocidade
horizontal seja inferior a 1 m/h. Obtém-se, então, uma taxa de redução para os principais poluentes
próxima a 80% (MES, DCO, metais pesados, hidrocarbonetos…).

Exemplo de obras de pré-tratamento por decantação:


 Despoluição por coleta e decantação das águas pluviais provenientes de pátios de
serviço e dos estacionamentos por meio de valas impermeabilizadas, as quais poderão
também estar conectadas a montante de uma bacia de retenção ornamental.
 Armazenamento e decantação em uma bacia de retenção tampão.

Exemplo de obras de pré-tratamento por filtração:


 Filtração passiva por meio de filtros de areia ou de barreiras vegetais e culturas de caniços
(faixas vegetalizadas), os quais são capazes de tratar a poluição crônica a partir do
escoamento sobre arruamentos cujas águas pluviais são coletadas a montante por meio de
canalizações enterradas) - diretamente do filtro, as águas percolam pelo substrato constituído
de camadas filtrantes e camadas drenantes (mistura de terra e areia); o fundo do filtro é
impermeabilizado com uma geomembrana limitando a penetração de poluentes no solo; drenos
situados no fundo do filtro coletam a água filtrada e a encaminham para um bueiro que garante
o abastecimento do filtro (mantendo, entre duas chuvas, uma reserva hídrica para os caniços)
e limita as vazões por meio de orifício calibrado (a capacidade de percolação do filtro é superior
à vazão deste orifício, mesmo após vários anos de funcionamento, quando os granulados
tiverem perdido a permeabilidade) (Figura 6)

Canalisation enterrée Bassin paysager d’infiltration


Regard de visite
Dispositif de cloison siphoïde équipé d’un
permettant une rétention de la régulateur de débit
pollution accidentelle Talus de surverse du
(surverse à prévoir) Phragmites, iris… filtre à sable vers le
bassin paysager
Couche de sable Drain agricole ou lit d’infiltration
filtrante de graves

Géomembrane

Figura 6: Corte de um sistema de filtro de areia a montante de uma bacia ornamental de infiltração
(fonte: SEPIA Conselhos)

Tradução das caixas de texto :


Canalização enterrada.
Dispositivo de fechamento por sifão permitindo a retenção de poluentes (cheia a ser prevista).
Geomembrana.
Camada de areia filtrante.
Caniços, vegetação.

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Dreno agrícola ou pedregulhos.


Poço de visita com regulador de vazão.
Taludes para controle de cheias do filtro de areia dirigidos à bacia ornamental de infiltração.
Bacia ornamental de infiltração.

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Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

1 e 2 PONTOS
Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local contendo índices
pluviométricos, frequencias e duração das chuvas típicas; programa de necessidades ;
objetivo indicado no programa ; diretriz projeto drenagem.
Auditoria do PROJETO: projeto de drenagem e descritivo dos sistemas de tratamento
indicando para qual duração de chuva o mesmo foi dimensionado.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documento de vistoria de entrega da obra ; relatório
fotográfico ; manual de conservação e manutenção ; manual destinado aos gestores.

5.2.4 Combater a poluição acidental

O objetivo é considerar os riscos de poluição acidental que possa escoar sobre o terreno durante a
incidência de chuvas, especialmente em função da presença de hidrocarbonetos nas vias de serviço e
estacionamentos.

É preciso identificar se há riscos de poluição acidental sobre as superfícies impermeabilizadas do


empreendimento e garantir o seu confinamento (retenção do volume de poluição escoada). Trata-se,
essencialmente, dos riscos de derramamento de poluentes em calçadas ou em pátios de
armazenamento descobertos.

São consideradas áreas de risco :


 os postos de gasolina, as áreas de limpeza de veículos, as atividades petroquímicas,
 as áreas de estocagem suscetíveis de vazamento de substâncias perigosas,
 as áreas de circulação ou de estacionamento de veículos pesados,
 os estacionamentos com mais de 30 vagas para veículos leves,
 as vias de mais de 500 m² de um único dono.

Para obter 3 PONTOS, após identificadas as áreas impermeabilizadas de risco, é necessário adotar
sistemas de tratamento de águas pluviais dotados de bypass, incluindo os dispositivos de alerta para a
saturação do reservatório (permitindo a retirada dos resíduos poluentes), os procedimentos de
operação do sistema e de gestão dos resíduos poluentes (intervenção em conformidade com a
natureza do resíduo gerado) e os procedimentos de conservação semestral. Estas informações devem
ser encaminhadas ao futuro responsável pelo uso e operação do empreendimento, especificando a
qualificação dos operadores (funcionários) e os produtos utilizados.

Figura 7 – Esquema de separador de hidrocarboneto típico.

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Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

3 PONTOS
Auditoria do PRÉ-PROJETO: programa de necessidades referenciando as áreas de risco ;
objetivo indicado no programa ; diretriz projeto drenagem.
Auditoria do PROJETO: projeto de drenagem e descritivo dos sistemas de tratamento
indicando claramente as áreas de risco.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documento de vistoria de entrega da obra ; relatório
fotográfico ; sinalização das áreas de risco (se pertinente) ; manual de conservação e
manutenção ; manual destinado aos gestores detalhando as rotinas de operação, limpeza e
conservação semestral dos sistemas instalados.

5.3 Gestão das águas servidas

Desafios ambientais

Em termos de saneamento das águas servidas provenientes da operação de um empreendimento,


duas situações se apresentam:

 o edifício está ligado à rede pública de esgoto sanitário, caso em que a preocupação relativa ao
saneamento visa exclusivamente garantir eventuais pré-tratamentos necessários antes do
descarte no sistema público,
 o edifício dispõe de um sistema de saneamento individualizado, caso em que o
empreendimento deve submeter-se às exigências de descarte definidas neste requisito.

O presente referencial visa a recompensar o recurso a um sistema de saneamento inovador.

Importante observar que apenas alguns empreendimentos poderão adotar tais sistemas em função da
natureza de suas atividades, da regulamentação local e das áreas disponíveis no terreno.

IMPORTANTE: quando o empreendimento contém vários edifícios e apenas uma parte deles está
incluída no perímetro da certificação, esta subcategoria pode ser aplicada à totalidade da área de
implantação do empreendimento.

Preocupações

5.3.1 Controlar o descarte das águas servidas

O objetivo desta preocupação é identificar as naturezas das águas servidas geradas (ou presentes) no
empreendimento e adotar medidas para controlar o descarte dessas águas.

No caso da opção pela adoção de sistema de saneamento não coletivo, para obter o nível BASE é
preciso observar a regulamentação local relativa ao descarte das águas servidas.

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São consideradas águas servidas as águas tornadas impróprias para consumo humano por uma
utilização anterior, em uma atividade doméstica ou industrial:
 águas cinzas (águas provenientes das pias de cozinha, chuveiros, banheiras e lavatórios),
 águas negras (águas provenientes dos toaletes),
 águas industriais (inclusive a água de piscina),
 águas de eventuais processos presentes,
 etc.

Para o sistema de saneamento não coletivo, é preciso realizar o estudo do solo e efetuar o
dimensionamento das instalações de saneamento, assegurando o tratamento das águas servidas e a
proteção des lençóis subterrâneos.

O estudo do solo deverá ser realizado antes de qualquer ação e incluir os seguintes parâmetros:
 o local de instalação,
 a natureza e a textura das formações do subsolo,
 o coeficiente de permeabilidade do solo,
 a topografia do local,
 a estrutura das camadas géológicas subjacentes (o nível da rocha, das águas
subterrâneas ou de cada camada de solo permeável, pouco permeável ou impermeável,
conforme o caso).

Este estudo de solo tem por objetivo principal estudar a viabilidade da infiltração no local do
empreendimento das águas servidas após tratamento e, mais amplamente, as diferentes
possibilidades de descarte das águas servidas após seu tratamento, em função do contexto local.

A escolha e o dimensionamento da instalação de saneamento não coletivo deverão ser compatíveis


com as características do empreendimento e com as recomendações da norma EN 12566 [A]
intitulada “pequenas instalações das águas servidas até 50 PTE” constituída atualmente por 3 partes:
Parte 1: Fossas sépticas pré-fabricadas
Parte 2: Sistema de infiltração no solo
Parte 3: Estações de depuração das águas servidas domésticas prontas para uso e/ou
reunidas no local do empreendimento

O sistema escolhido deverá ser justificado em função das conclusões destes estudos.

Para obter 4 PONTOS, os emprendimentos que adotarem sistemas de saneamento não coletivo
devem respeitar os valores limites de rejeitos das águas servidas especificados abaixo, na saída do
dispositivo de depuração, em uma amostra representativa de duas horas sem decantação:
Demanda Biológica de Oxigênio DBO5: 35 mg/L
Material em Suspensão MES: 30 mg/L

As medida em DBO5 e em MES deverão ser realizadas conforme o protocolo de medida das normas
ISO 5815 [F] e EN 872:2005 [G]. Sistemas de apoio podem ser adotados para respeitar estas
exigências, tais como ancinhos, desarenadores, coletores de gordura, filtros, etc.

Importante: Na presença de uma regulamentação local mais restritiva que os valores pré-citados, o
critério 4 PONTOS é validado.

No caso da presença local de sistemas de saneamento coletivos, para obter 4 PONTOS é preciso
realizar um estudo de viabilidade da instalação de um sistema não coletivo alternativo inovador que
permita efetuar os tratamentos necessários em função das águas servidas presentes.

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Este estudo deverá levar em conta principalmente a natureza do sistema, seu rendimento, sua
localização, assim como o modo e o local de descarte em coerência com a natureza das águas
coletadas, o meio receptor e os riscos de poluição deste último, bem como os objetivos do
empreendimento. Os incômodos (de natureza olfativa, visual e auditiva) gerados para os usuários e
para a vizinhança deverão igualmente ser levados em conta.

Se após esse estudo, o sistema se mostrar ambientalmente vantajoso em relação à sua integração
com a rede coletiva presente, o mesmo pode ser adotado.

Uma justificativa do modo de concepção do sistema deve conter os seguintes detalhes:


 a natureza do sistema (lagunagem, microestação de depuração, tanque de algas
microscópicas, etc.),
 seu rendimento,
 sua localização,
 o modo e o local do descarte.

Estes detalhes irão variar conforme a natureza das águas coletadas, do meio receptor e dos riscos de
poluição associados, assim como dos objetivos do empreendimento.

Exemplos de sistemas de saneamento inovadores:


 Tanques com algas microscópicas: modalidade de tratamento composta de diversos tanques
em série, sendo um tanque de depuração biológica aeróbio, cujo dimensionamento depende
da carga recebida.
 Lagunagem: princípio de depuração a partir de vegetação combinada com diversos
ecossistemas aquáticos, que associa uma cascata sucessiva de espaços livres (tanques com
algas microscópicas) e de espaços projetodos (tanques com algas macroscópicas), e utilizando
as capacidades depuratórias de diversos substratos (vegetais e microorganismos).
 Depuração através de caniçais: técnica de depuração biológica por meio de culturas de caniços
fixados em suportes finos.
 Microestação de depuração: análoga a uma estação de depuração padrão, mas em modelo
reduzido. Baseia-se no princípio de depuração biológica por microorganismos, seja em modo
aeróbio, seja em modo anaeróbio, seja em modo misto. Ela pode ser tanto por lama ativada
(cultura livre de microorganismos) quanto por biomassa fixada (cultura de biomassa fixada em
um suporte).
 Depuração heliobiológica em ambiente fechado: procedimento de tratamento das águas
servidas no interior de uma estufa onde diferentes ecossistemas biológicos, adaptados a cada
tipo de tratamento a ser efetuado, são reconstituídos e miniaturizados, em reservatórios com
paredes transparentes.

Nota: a fossa séptica não é considerada um sistema de saneamento inovador.

IMPORTANTE: Se o empreendimento estiver ligado à rede coletiva e o contexto tornar impossível a


instalação de um sistema de saneamento não coletivo inovador (área urbana densa, espaço limitado,
por exemplo), o estudo não será exigido. Será esperada apenas uma nota justificativa. Neste caso, o
critério 4 PONTOS não se aplica.

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Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

Na indisponibilidade de sistema de saneamento coletivo

Nível BASE e 4 PONTOS


Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local (estudo do solo);
regulamentação local ; programa de necessidades com nota indicativa da natureza dos
efluentes gerados; objetivo indicado no programa ; diretriz projeto instalações hidrossanitárias.
Auditoria do PROJETO: estudo de viabilidade para vários cenários de tratamento das águas
servidas (abordagem técnica, econômica, ambiental e sanitária) ; projeto de saneamento e
descritivo dos sistemas de tratamento ; projeto que garanta a satisfação dos valores limite
definidos neste referencial ou os valores regulamentares, no caso de serem mais restritivos.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documento de vistoria de entrega da obra ; relatório
fotográfico ; manual de conservação e manutenção ; manual destinado aos gestores contendo
os valores limite resultantes do tratamento.

Na disponibilidade de sistema de saneamento coletivo, mas optando por sistema inovador

4 PONTOS
Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local (estudo do solo e sistemas de
saneamento disponíveis); regulamentação local ; programa de necessidades com nota
indicativa da natureza dos efluentes gerados; objetivo indicado no programa ; diretriz projeto
instalações hidrossanitárias.
Auditoria do PROJETO: estudo de viabilidade para vários cenários de tratamento das águas
servidas (abordagem técnica, econômica, ambiental e sanitária) ; justificativa para a opção
pelo sistema em detrimento do sistema presente ; projeto de saneamento e descritivo dos
sistemas de tratamento ; projeto que garanta a satisfação dos valores limite regulamentares.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documento de vistoria de entrega da obra ; relatório
fotográfico ; manual de conservação e manutenção ; manual destinado aos gestores contendo
os valores limite resultantes do tratamento e as medidas mitigadoras de incômodos olfativos,
visuais e acústicos.

5.3.2 Reciclar as águas cinzas

O objetivo desta preocupação é estimular a reciclagem das águas cinzas (águas provenientes de pias
de cozinha, chuveiros, banheiras e lavatórios) para outros usos (irrigação, sanitários, etc.).

A obtenção de 4 PONTOS requer a adoção de sistema que assegure o tratamento e a reciclagem das
águas cinzas, ou de uma parte delas, para os usos potenciais permitidos (sanitários, irrigação,
lavagem dos pisos, águas técnicas, etc.).

Esta exigência exige um estudo de viabilidade e o recurso a técnicas específicas de reciclagem das
águas cinzas.

IMPORTANTE: Esse estudo de viabilidade deverá considerar diferentes cenários de reciclagem das
águas cinzas, para os diferentes usos identificados, abordando a viabilidade sob um ângulo técnico,
econômico e ambiental.

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Nota: se o contexto impossibilitar a adoção destes sistemas (área urbana densa, espaço limitado, por
exemplo), esta exigência não é aplicável.

Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

4 PONTOS
Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local ; programa de
necessidades com nota indicativa da natureza dos efluentes gerados; objetivo indicado no
programa ; diretriz projeto instalações hidrossanitárias.
Auditoria do PROJETO: estudo de viabilidade para vários cenários de reciclagem das águas
cinzas ; projeto de saneamento e descritivo dos sistemas de tratamento ; projeto que garanta
a satisfação dos valores regulamentares de qualidade da água.
Auditoria da EXECUÇÃO: visita local ; documento de vistoria de entrega da obra ; relatório
fotográfico ; manual de conservação e manutenção ; manual destinado aos gestores contendo
os valores limite resultantes do tratamento do eflunete e medidas de segurança requeridas
evitar a contaminação e/ou o uso impróprio da água.

5.3.3 Em rede unitária, limitar os descartes de águas pluviais na rede

O objetivo desta preocupação é limitar os descartes de água pluvial na rede.

Para a obtenção dos PONTOS diversos, é preciso, em função da impermeabilização do terreno


(cálculo efetuado em 5.2.1) e da reciclagem eventual da água pluvial, determinar a porcentagem anual
de água pluvial não descartada na rede.

São atribuídos os seguintes pontos conforme desempenho :

20% - 1 PONTO
40% - 2 PONTOS
60% - 4 PONTOS

IMPORTANTE: O desempenho deve ser justificado com o auxílio de um balanço diário dos aportes e
das necessidades de água não potável, levando em conta uma eventual reciclagem e modelando o
comportamento diário dos descartes de água pluvial.

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Para efetuar este cálculo, pode-se utilizar a planilha « Síntese » sugerida abaixo :

Remete à
Síntese dos resultados preocupação
Nome do empreendimento: XXXXXXX

Bsanitários / Bref sanitários (exceto


hotelaria) 0,726239669 5.1.1
5,1
Porcentagem de cobertura das
necessidades de água não potável (%) 64,01007864 5.1.2

Coeficiente de impermeabilização 0,74 5.2.1


5.2
% do volume de água pluvial armazenado
com técnicas alternativas 73,33 5.2.2

Porcentagem de água pluvial não


5.3 descartada na rede (%) 59,48199749 5.3.3

Exemplos de evidências a serem apresentadas nas auditorias:

1, 2 ou 4 PONTOS
Auditoria do PRÉ-PROJETO: documentos de análise do local ; objetivos definidos para as
subcategorias 5.1 e 5.2 ; objetivo indicado no programa ; diretriz projeto instalações
hidrossanitárias.
Auditoria do PROJETO: avaliação das subcategorias 5.1 e 5.2 ; cálculo do percentual anual
de água pluvial não descartada na rede e balanço diário oferta e demanda.
Auditoria da EXECUÇÃO: comprovado nas auditorias anteriores.

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Interações com as outras categorias


Categoria 1 "Relação do edifício com seu entorno"’
Gestão de águas pluviais no terreno, redução de impermeabilização de superfícies

Categoria 2 "Escolha integrada de produtos, sistemas e processos construtivos”


Escolha de equipamentos economizadores de água cujas características sejam verificadas
(certificação/parecer técnico)

Categoria 7 "Manutenção – Permanência do desempenho ambiental"


Necessidade de equipamentos para monitorar e gerenciar os consumos de água, bem como
para reduzir o desperdício e os vazamentos; manutenção do sistema de saneamento não
coletivo, caso exista; a atividade de limpeza e de conservação é igualmente consumidora de
água

Categoria 14 "Qualidade sanitária da água"


Risco sanitário vinculado à presença de uma rede de recuperação de água pluvial e de um
sistema de saneamento não coletivo

Interações com o SGE


Anexo A.7 – Manual de uso e operação do edifício
Transmissão aos futuros usuários de todas as informações necessárias para a utilização dos
equipamentos economizadores de água e as precauções a serem tomadas no caso de
presença de dupla rede.

Anexo A.8 – Documentos de sensibilização destinados aos ocupantes


Presença de documentação específica (cartazes, folhetos, etc.) informando os ocupantes
(clientes/funcionários) sobre a presença de sistemas hidroeconômicos e do sistema de
saneamento não coletivo (se houver) e sobre o que fazer.

Referências
[A] Norme EN 12566 - Petites installations de traitement des eaux usées jusqu'à 50 PTE. (Norma EN
12566 – Pequenas instalações de tratamento de águas servidas até 50 PTE).

[B] Norme DIN-1989 Regenwassernutzunganlagen (Système d’utilisation des eaux pluviales) en 4


parties (Teil) :
Teil 1 : Planung, Ausfühung, Betrieb und Wartung (études préliminaires, réalisation, fonctionnement et
entretien)
Teil 2 : Filter (filtration) ;
Teil 3 : Regenwasserspeicher (réservoirs d’eau pluviale) ;
Teil 4 : Bauteile zur Steuerung und Nachspeisung (règles de construction de la régulation et de
l’appoint).
(Norma DIN-1989 Regenwassernutzunganlagen (Sistema de utilização das águas pluviais) em 4
partes (Teil) :

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Teil 1 : Planung, Ausfühung, Betrieb und Wartung (estudos preliminares, execução, funcionamento e
limpeza)
Teil 2 : Filter (filtração);
Teil 3 : Regenwasserspeicher (rerervatórios de água pluvial);
Teil 4 : Bauteile zur Steuerung und Nachspeisung (regras de construção da regulação e da
alimentação).

[C] Norme BS 8515 Rainwater harvesting systems. Code of practice, BSI, January 2009. (Norma BS
8515 Sistemas de coleta de água da chuva. Código de prática, BSI, janeiro de 2009).

[D] Norme NF P16-005 Systèmes de récupération de l'eau de pluie pour son utilisation à l'intérieur et à
l'extérieur des bâtiments Nouveau document octobre 2011. (Norma NF P16-005 Sistemas de
recuperação da água da chuva para sua utilização nas áreas internas e externas dos edifícios. Novo
documento. Outubro de 2011).

[E] Claude François, Bruno Hilaire – Guide pour les économies d'eau – Cahier du CSTB n°3361,
livraison 422 – Septembre 2001 – 32 pages. (Claude François, Bruno Hilaire – Guia para economizr
água – Caderno do CSTB n°3361, edição 422 – setembro de 2001 – 32 páginas).

[F] Norme ISO 5815 :2003 - Qualité de l'eau - Détermination de la demande biochimique en oxygène
après n jours (DBOn). Avril 2003. (Norma ISO 5815 :2003 – Qualidade da água – Determinação da
demanda bioquímica de oxigênio depois de n dias (DBOn). Abril de 2003).

[G] Norme EN 872:2005 Water Quality - Determination Of Suspended Solids - Method By Filtration
Through Glass Fibre Filters. (Norma EN 872:2005 Qualidade da água – Determinação dos materiais
em suspensão – Método de filtração por filtros de fibra de vidro)

[H] Encyclopédie de l’hydrologie urbaine et de l’assainissement. B. Chocat, Lavoisier, Tec & Doc.
(Enciclopédia da hidrologia urbana e do saneamento. B. Chocat, Lavoisier, Tec & Doc).

ANEXOS

Anexo 1: exemplo de cálculos do coeficiente de impermeabilização global para uma torre de


escritórios com um coeficiente d’emprise ao solo da ordem de 60% 192

Anexo 2: exemplo de cálculos do coeficiente de impermeabilização global para uma torre de


escritórios com um coeficiente d’emprise ao solo da ordem de 30% 194

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BASE BOAS PRÁTICAS MELHORES PRÁTICAS


Coeficiente de Superfície Superfícies Superfície Superfícies Superfície Superfícies
Ocupação do solo
impermeabilização considerada impermeáveis considerada impermeáveis considerada impermeáveis
Coberturas inclinadas ou em
1 1 500 1 500 1 000 1 000 750 750
terraço
Coberturas em terraço com
1 0 0 0
estrutura granular
Coberturas
Coberturas vegetalizadas
0,7 0 500 350 750 525
extensivas
Coberturas vegetalizadas semi-
0,6 0 0 0
intensivas
Ruas 1 100 100 100 100 0
Estacionamento vegetalizado 0,7 0 0 0
Ruas, Calçada com reservatório
estacionament permeável em solo limoso ou 0,7 0 0 100 70
os argiloso
Calçada com reservatório em solo
0,4 0 0 0
arenoso
Revestimento impermeável e/ou
1 200 200 200 200 0
laje
Vias para
Vias para pedestres em concreto
pedestres
estabilizado ou pavimentadas com 0,6 0 0 200 120
componentes com juntas largas
Superícies arborizadas (cobertura
por árvores de mais de 70%, com
0,1 0 0 200 20
exceção das vias para pedestres
Áreas verdes internas)
Superfícies gramadas (exceto vias
0,2 200 40 200 40 200 40
para pedestres internas)
Espaços verdes em lajes 0,4 600 240 600 240 400 160
TOTAL SUPERFÍCIES 2 600 2 080 2 600 1 930 2 600 1 685
COEF. IMPER. 80% 74% 65%

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Anexo 1: Exemplo de cálculos do coeficiente de impermeabilização global para uma torre de escritórios com uma taxa de ocupação do solo da ordem de 60%

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BASE BOAS PRÁTICAS MELHORES PRÁTICAS


Coeficiente de Superfícies Superfícies Superfícies Superfícies Superfícies Superfícies
Ocupação do solo
impermeabilização consideradas impermeáveis consideradas impermeáveis consideradas impermeáveis
Coberturas inclinadas ou em
1 1 000 1 000 1 000 1 000 700 700
terraço
Coberturas em terraço com
1 0 0 0
estrutura granular
Coberturas
Coberturas vegetalizadas
0,7 0 0 300 210
extensivas
Coberturas vegetalizadas semi-
0,6 0 0 0
intensivas
Ruas (inclusive calçadas com
1 150 150 150 150 150 150
reservatório impermeável)
Estacionamento vegetalizado 0,7 0 0 0
Ruas,
estacionamentos Calçada com reservatório em solo 0,7 0 0 0
limoso ou argiloso
Calçada com reservatório em solo
0,4 0 0 0
arenoso
Revestimento impermeável e/ou
1 1 000 1 000 700 700 400 400
laje
Vias para
Vias para pedestres em concreto
pedestres
estabilizado ou pavimentadas com 0,6 0 0 300 180
componentes com juntas largas
Superfícies arborizadas (cobertura
por árvores de mais de 70%, com
0,1 0 0 0
exceção das vias para pedestres
Áreas verdes internas)
Superfícies gramadas (exceto vias
0,2 500 100 800 160 800 160
para pedestres internas)
Espaços verdes em lajes 0,4 500 200 500 200 500 200
TOTAL SUPERFÍCIES 3 150 2 450 3 150 2 210 3 150 2 000
COEF. IMPER. 78% 70% 63%

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Anexo 2: Exemplo de cálculos do coeficiente de impermeabilização global para uma torre de escritórios com uma taxa de ocupação do solo da ordem de 30%

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