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Conteúdo Programático:
- A história política: do perfume Lainglois-Seignobos ao “Por uma história política”;
- As temporalidades e as mentalidades na história política: a influência dos estudos culturais;
- Possibilidades de investigação: a condição do campo político;
- Conceito e abordagens: a cultura política;
- A cultura política no Brasil: especificidades do conceito.
Introdução:
Olá a todas e a todos. Sejam bem-vindas e bem-vindos ao minicurso “uma discussão sobre
história política e seus métodos”. Espero que tenhamos uma boa produtividade e discussão sobre a
história política, a chamada renovação dessa área e alguns dos conceitos que podem ser úteis às
pesquisas que vocês estejam desenvolvendo. Na verdade, talvez acabemos com mais perguntas que
respostas – e esse é um caminho que penso ser interessante. Este minicurso é resultado de uma parte
importante da minha pesquisa sobre um movimento social e indígena mexicano, o zapatismo,
centrado na figura do Exército Zapatista de Libertação Nacional, no qual as perspectivas memoriais,
as representações e a luta do movimento pela significação da democracia, da liberdade e da justiça
em formas autônomas instituía, nas fontes do arquivo histórico do mesmo, uma constituição política
– que se formava sobre a arena do México de 1994 – e também cultural, abordando a compreensão
do que são esses conceitos e práticas em um Estado moderno e latino-americano. Sendo mais claro,
o movimento zapatista escrevia e tornava público uma vontade de alterar a compreensão/o
significado da política no México, buscando inspirações na memória nacional e indígena, e também
na perspectiva de expandir uma prática milenar das comunidades da Selva ao âmbito nacional do
país, isto é, a coletividade pautada na vontade popular e a autonomia como autossuficiência política
eram fundamentais e parte da essência do movimento.
Comecemos por abordar a perspectiva histórica da área política. Não seria conveniente
tentar abarcar um longo traço da historiografia ocidental sobre os sentidos políticos, nem mesmo
caberia neste espaço. O que nos vale ressaltar é que durante os séculos XIX e XX, a história
enquanto disciplina teve um conjunto de configurações e métodos que se envolviam em sua própria
prática: o romantismo, por essência, trazia ao mundo da história – a serviço de uma compreensão do
poder como político e do Estado – os sentidos do que seria a história por si, numa ideia de
consubstanciação, de junção entre o que seria povo e nação manifestando, para a modernidade, a
centralidade da língua, da história e da cultura comum para o significado de Estado-nação. É dessa
forma, portanto, que as histórias dos Estados modernos, da política e poder desse Estado tomam
conta do cenário da historiografia. Os grandes acontecimentos e homens (em um recorte de gênero,
cor e classe) ligados de alguma forma ao Estado e ao poder político, constituíam a narrativa
essencial da história ocidental e, mais ainda, seu objeto por excelência.
Um exemplo pode ser útil para essa compreensão. No Brasil da passagem do império à
República, foi necessário aos republicanos reescrever o sentido da política e da história do país para
formar uma condição de sentimento nacional no entorno do que seria essa nova instituição política.
Deixaremos de lado, por este momento, de que história ou recorte econômico, de gênero, cor ou
classe social estamos falando. Lembremos apenas que trata-se de um Brasil que há pouco mais de
um ano havia libertado seus escravos como ação do Estado. Dessa forma, os republicanos buscaram
criar sentidos ao que estruturavam politicamente. Foi assim que, por exemplo, a figura de
Tiradentes foi resgatada da inconfidência mineira para se tornar um mártir republicano, mesmo que
suas ações jamais tivessem qualquer ligação com a república. O mito de origem da república
tentava ganhar força, instaurando significados e uma história nacional de resistência ao império que
anteriormente não era parte da história, isto é, representava uma disputa política e de poder que se
instaurava no sentido dado à nacionalidade. Deixarei aqui a referência ao livro do historiador José
Murilo de Carvalho, “A formação das almas: o imaginário da República no Brasil” para aqueles que
tiverem interesse.
Com o desenrolar dos anos, a história passa a ser questionada em seus métodos e em sua
qualificação de ciência. Neste sentido, o advento da escola metódica, chamada Positivista, buscava
distanciar a história da literatura/ficção para se garantir enquanto ciência, um conceito que
delimitava, para o século XIX, a qualidade de comprovação laboratorial e exata dos dados. Neste
sentido, o método histórico foi configurado com a qualificação da comprovação por meio de
documentos oficiais, isto é, que estivessem armazenado e sob a tutela do Estado, órgão de confiança
e valor por essência, e que reproduzissem aquilo que se dava na narrativa de uma parte singular da
história, isto é, apenas dos agentes estatais ou ligados ao poder do Estado. A historiografia
ocidental, dessa maneira, pautava seus escritos e pesquisa em um rigor que apenas o documento, em
sua qualidade oficial, poderia designar e na reprodução dos acontecimentos passados “tal qual eles
realmente passaram”.
Neste sentido, no início do século XX, na França, um movimento de historiadores passa a
questionar essa qualificação histórica. Falamos dos Annales com Marc Bloch e Lucien Febvre. A
estruturação de uma mudança no quadro da historiografia se fazia presente ao buscar uma solução
que não estivesse apenas na configuração de um documento em papel ou somente dado pelo Estado
nacional, mas também suportes da arqueologia e da sociologia, documentos que ultrapassassem a
narrativa estatal e centrado em figuras históricas como responsáveis pelos fatos e acontecimentos. A
história social e econômica, quantitativa e coletiva, passa a ter centralidade na definição do que
seria, em verdade, a qualidade das pesquisas históricas. Neste sentido, utilizo-me da expressão de
Jacques Julliard em “A política” que, escrito em 1976, afirma que a história política francesa ainda
conserva um “perfume Langlois-Seignobos”, isto é, uma marca pautada na “Introdução aos Estudos
Históricos” feito pelos autores no final do século XIX e que realça o método histórico chamado por
Julliard de tradicional e, por fim, de factual – vejamos a citação.
Talvez esteja ignorando alguns antecedentes importantes para todo o processo de alterações
da historiografia, bem como generalizando algumas ações do século XIX, é verdade. Seria um
descuidado não citar algumas interpretações históricas que tiveram como parte outras abordagens
como a social, econômica e cultural para a explicação dos acontecimentos políticos, em especial as
perspectivas de Marx, Engels, Tocqueville, entre outros. Mas é inegável que a escola metódica
tenha se tornado a referências dos estudos históricos do período e, em especial, da história como
política. É na França, como mencionei, que a crítica a essa história começa a ganhar força e cada
vez mais é abordada como tradicional. Todavia, alguns cuidados são necessários para tal afirmação.
A peça acusatória dos Annales para com a historiografia tradicional francesa ganha
proporções importantes, mas somente com os anos a área da política passa a sofrer reveses. É com o
pós-guerra que a crise da história tradicional torna-se latente e, dessa forma, estabelece uma nova
organização do que seria a pesquisa na área política. Sempre com muito cuidado, essa crise é
localizada e em poucas academias nacionais teve repercussão como o fora na França. EUA, Itália,
Alemanha, Grã-Bretanha e Brasil ainda mantiveram boa parte da produção historiográfica na área
da política na primeira metade do século XX. É, ainda, como afirma Julliard, “a base do sistema
mais aceito de estabelecimento de períodos”, de cronologia histórica e de marcação de
acontecimentos. “o reino de Luís XIV’; ‘a República de Weimar’; ‘a URSS depois de Stalin” e
podemos continuar com exemplos como Brasil Colônia, Império ou República, Conquista da
América, Independência (política) da América, etc…
Foi a partir do final da década de 1970 que, principalmente na França, historiadores passam
a buscar uma reinterpretação e reconfiguração do campo de estudos da história política. Diversas
facetas são importantes para essa ação, mas foquemos no encontro entre os historiadores da
Université de Paris X-Nanterre e no Institut d’Études Politiques. Estes historiadores como o citado
Julliard, René Rémond, Antoine Prost, Jean-François Sirinelli, Serge Berstein, entre outros,
buscaram, em um contexto de expansão e configuração da história como disciplina na França,
estabelecer uma retomada das pesquisas históricas na política através de novos métodos,
abordagens e fontes, isto é, influenciados por ações e questionamentos que se estabeleciam na
primazia dos Annales e da historia econômico-social em voga.
Fora da França esse processo é diversificado. Na Inglaterra, por exemplo, a expansão de
uma corrente marxista nas décadas de 1940/50 levou a criação de um importante centro de
pesquisas que estava no entorno da revista New Left Review e, de maneira sublime, ao history from
below, isto é, à história que se importava com as condições materiais, socioeconômicas, culturais e
de classe. Podemos citar a ação de historiadores como Eric Hobsbawm, Pierre Anderson e Edward
Palmer Thompson – ou ainda pesquisadores de outras áreas como Raymmond Williams – que por
meio de uma heterodoxia observavam a história política através de óticas não tradicionais.
A partir da década de 1980, a constituição dessa renovação dos estudos em história política
tornou-se central. Delimitei aqui a publicação do livro “Por uma história política” como marco
desse processo. Livro organizado por René Rémond e publicado em 1988, buscou apresentar um
panorama de opções e abordagens para a história política que, renovada, buscava concepções
diversas da tradicional para se fazer existente. Como afirma o organizador, “Cada vez menos
pesquisadores acham que infra-estruturas governam superestruturas, e a maioria prefere discernir
uma diversidade de setores – o cultural, o econômico, o social, o político – que se influenciam
mútua e desigualmente segundo as conjunturas, guardando ao mesmo tempo cada um sua vida
autônoma e seus dinamismos próprios”. Dessa forma, a história política passa a compreender não
apenas o seu sentido tradicional – pautados no Estado, nos feitos, no factual e na arena política –
mas também as representações sociais, coletivas, os imaginários, os símbolos, a memória a
economia política, os quadros seriais ou os levantamentos estatísticos. Enfim, uma história política
que se envolve com os demais setores e cria, por si só, uma relação de interdependência.
Francisco Falcon faz uma separação, ainda, que nos é importante para pensar esse processo:
o de orientações mais radicais ou moderadas. Nas mais radicais, o autor entende que pesquisadores
passaram a substituir o político pelo poder, em uma esfera estruturalista, na qual a autonomia do
político é perdida (ainda que relativamente) e passa a ser observada por uma “história das formas de
dominação”. As moderadas, por contraste, buscaram retomar, através do envolvimento com outras
áreas da história, o sentido da política. Dessa forma, Falcon as considera uma orientação que tenta
se distanciar da história tradicional, agrega métodos, abordagens e fontes de outras áreas das
ciências humanas e sociais, como a antropologia, na produção de novas hipóteses e também na
configuração de objetos seja por meio da redefinição dos já existentes na história política ou na
constituição de novos. Nosso foco, aqui, será entender a área da história política classificada por
Falcon como “moderada”.
Falar de estudos culturais pode ser algo ou muito complexo ou muito vago. Não tenho o
objetivo de fazer uma genealogia ou explicação histórica do campo como o bem já fizeram outros
autores, entre eles Stuart Hall em “Estudos culturais: dois paradigmas”, mas tentar buscar espaços
de interação entre a história política em seu processo de renovação e tais estudos. O que nos é
importante aqui, para pensar a área, é o estabelecimento de uma linha de compreensão histórica,
metodológica e teórica.
Os Estudos Culturais surgem por volta da década de 1950 na Inglaterra. Estabelecido um
primeiro espaço e tempo, é importante ressaltar que na história nada é original ou único e é preciso
observar muito mais as continuidades e rupturas que as origens. Não se pode ignorar, por exemplo,
que no início do século XX outros autores já estabeleciam um questionamento voltado à cultura e
ao que chamarei aqui de pensamento biologizante, isto é, saídos de um século XIX onde o
darwnismo social se fazia envolto na escravidão e nos preceitos coloniais, o século XX estabelecia
uma quebra de tal concepção, ao menos inicialmente. Este é o caso do nascimento da sociologia e
antropologia e pesquisas com a base de Bronislaw Malinowksi, Franz Boas e até mesmo seu aluno,
Gilberto Freyre.
Voltando à Inglaterra, o que se percebe é a influência de dois estudos que levavam em
consideração a busca por um aspecto cultural de observação: O “The Uses of Litteracy”, traduzido
ao português como Utilizações da Cultura (o que é um questionamento a ser realizado, visto que
Litteracy não tem o sentido de Cultura, mas de conhecimento, de alfabetização, de se saber criar
relações entre objetos e sentimentos de forma a ler o mundo) de Richard Hoggart e “Cultura e
Sociedade” de Raymond Williams. O primeiro, buscava por meio de um trabalho de campo tentar
entender a compreensão popular com referência ao seu envolvimento ou leitura das comunicações
em massa e quais as modificações que a cultura – compreendida enquanto forma de viver – sofria
das tiragens; o segundo, estabelecia principalmente uma conceitualização de cultura e seu
envolvimento com a sociedade.
Neste sentido, e ligados à formação de um centro de observação de linha marxista, a cultura
enquanto conceito firmado sobre a ótica dos significados, dos valores, dos rituais, da língua, dos
símbolos, teve amplo espaço acadêmico. A antropologia, dessa forma, pautando as importantes
separações entre cultura e raça da qual o culturalismo estadunidense é a principal escola expoente
(já citamos Franz Boas) foi fundamental na formação desse novo campo de uma história que
buscava observar os aspectos culturais. Posteriormente, surgem trabalhos como de Edward Palmer
Thompson e “A formação da classe operária inglesa” e “Costumes em comum” no qual o autor
busca a pensar a ação dos trabalhadores ingleses do século XVIII como parte de um processo de
origem da consciência de classe e, ainda, como resistentes ao processo de capitalização das relações
sociais, em especial através de práticas como as turbas.
Os estudos em cultura tomam corpo e se expandem a outras regiões. Não se pode negar, por
exemplo, o surgimento de indagações como as de Carlo Ginzburg em “mitos, emblemas e sinais”
fora de um processo historiográfico de constituição de campo de pesquisa – mas também não se
pode apenas ligá-lo a algo que acontecia em outro país que não a Itália, mas isso é assunto para
outro curso. O que nos interessa, assim, é pensar que no pós-guerra e em meados do século XX, as
pesquisas históricas passaram a buscar a influência da antropologia para obterem novos métodos,
abordagens e fontes – como a terceira geração dos Annales busca estabelecer: novas abordagens ao
se estabelecer um caráter social da cultura, sempre voltada ao âmbito das relações sociais e dos
rituais dos sujeitos coletivos. Quando individualmente estabelecidos – pensemos no caso de
Mennochio e “O Queijo e os Vermes” - disposto a seguir uma linha de envolvimento com o social,
isto é, com o que Ginzburg chama de “cultura popular”; novos métodos ao pensar a cultura
enquanto parte do processo humano, da leitura de mundo e dos significados, para além de sua
confusão com raça ou como parte de uma erudição, como arte; novas fontes ao se buscar pesquisas
que utilizassem a língua, os rituais cotidianos, a vida privada (de Ariés e Duby), a mentalidade e a
memória – que agora era estabelecida como um objeto da história e não ela mesma.
Deixemos esse caminho tortuoso da narrativa histórica para pensar dois âmbitos de pesquisa
que destaquei no conteúdo programático: as temporalidades e as mentalidades. Apesar de
independentes, os dois termos envolvem-se em uma gama complexa de relações. Em termos de
temporalidades, o avanço dos estudos culturais trouxeram em voga um pensar do tempo que não
apenas delimitava o trabalho do historiador, mas questionava as estruturas de linearidade do relógio
da maneira a como ele é observado ou conduzido pelos seres humanos. Se Fernand Braudel
estabelecia os três sentidos ao tempo historiográfico – curta, média ou longa duração – que tiveram
resultados importantes para a história política como veremos mais adiante, o nascimento de uma
história cultural buscava entender a forma como as pessoas se envolviam e entendiam o tempo. Se
nós utilizamos ferramentas para medir esse tempo, como o é o relógio e o calendário, ou então o
concebemos de maneira física, como a passagem do astro solar de um lado ao outro da posição de
referência do observador para surgir posteriormente no lado inicial, marcando um dia, é inegável
que, inseridos em uma sociedade capitalista, no Brasil, em uma capital estadual, talvez o tempo seja
“curto” para muitas coisas, isto é, a forma com que compreendemos o tempo altera à maneira como
a sociedade e as práticas culturais são estabelecidas.
Neste sentido, indagações como as perspectivas cronológicas em diferentes sociedades e
culturas são produzidas e criam novas leituras históricas. É o caso, por exemplo, das pesquisas
históricas sobre sociedades indígenas e sua organização. Mais que estabelecer uma caracterização
hierárquica e evolutiva da sociedade, a compreensão da forma como os indivíduos marcam o tempo
representa uma própria parte da cultura, assim como a língua. Para citar minha experiência de
pesquisa, é em como um movimento social mexicano formado massivamente por indígenas constrói
duas marcações do tempo: a primeira em sentido regimental, cronológico e histórico que perpassa
as reuniões, assembleias, encontros e programas de luta; e a segunda, mais tradicional e ligada às
comunidades indígenas, que envolve o processo de resistência à colonização e a memória coletiva, a
relação com os mortos e as divindades e a criação do mundo, isto é, em como acontecimentos de
centenas de anos são parte presente e viva da base social como se fossem realizados pelos viventes,
e influem sobre a forma de organizar a representação da rebelião, da resistência, da continuidade
com os antepassados no presente. Deixo a indicação de um capítulo de livro escrito por Carlos
Alberto Ríos Gordillo em livro organizado por Carlos Antonio Aguirre Rojas, “La memoria
rebelde: dimensiones de la contramemoria neozapatista” para aqueles que tiverem interesse no
assunto.
Esse processo, como havia comentado antes, possui complexas relações com as
mentalidades, especialmente a memória. A forma como o pensamento é criado e envolvido
socialmente estabelece profundas relações com a língua e a formação cultural do indivíduo, criando
laços sobre a maneira que o mundo é percebido e representado. Há largas pesquisas sobre o sentido
de “progresso” no século XIX, sobre utopias, sentimentos e a forma que as mentalidades constituem
a maneira que os humanos pensam e criam, dessa maneira, um sentido sobre si mesmo e os outros,
numa constante relação entre pensar e agir. Podemos citar aqui o livro de Héctor Perez Brignoli
“Historia Global de América Latina 2010-1810”; a coleção “História da Virilidade” de Mandressi
[et al.] que buscam conceber a formação da virilidade como parte da sociedade ocidental; bem
como Enrique Dussel, que apesar de não ser historiador, em “1492: el encubrimento del otro”
estabelece uma leitura sobre a formação da modernidade a partir da conquista da América e, neste
sentido, na construção da relação entre o nós, conquistadores, e o eles, conquistados.
Essa mentalidade na história busca formular resposta ao questionamento: como as pessoas
pensavam sobre algo no passado? Em mesmo sentido, como a memória se relacionava na criação
desse pensamento, especialmente ao se envolver com a formulação da identidade? É o caso de
indagações como a de Joël Candau e “Memória e Identidade”, no qual a formação ou o pensamento
sobre os acontecimentos passados são fundamentais e coexistem com a forma que os sujeitos se
compreendem no presente, um questionamento que também é realizado, em termos de mentalidade,
no livro de Le Goff “História e Memória”. Cito novamente a minha experiência de pesquisa sobre o
Exército Zapatista de Libertação Nacional no qual o arquivo histórico do movimento, criado como
forma de manter viva a narrativa zapatista sobre a história recente, tem por essência o resgate de
personagens históricos nacionais, em especial Emiliano Zapata e a Revolução de 1910, bem como a
história da colonização e conquista e o sofrimento indígena como parte da sublevação, isto é, na
formação de uma memória coletiva e, dessa forma, de uma mentalidade de resistência que
estabelece uma leitura sobre o passado e a formação de um sentido de identidade no presente:
somos produto de 500 anos de luta (Primeira Declaração da Selva Lacandona, 1994) ou o fato de
que as estratégias militares como a da tomada de San Cristóbal de Las Casas, antiga capital do
Estado de Chiapas, México, se deu como a de Pancho Villa e a tomada de Ciudad Juárez (Entrevista
do Subcomandante Marcos, 04 de fevereiro de 1994).
Neste sentido, a agremiação entre temporalidades e mentalidades surge para a história
política por meio de seu processo de renovação, como já destacado. A abertura para uma história
distante da tradicional factualista, que abarcasse sentidos e processos do social, do econômico e do
cultural formularam uma maneira nova de se escrever essa área da história e, assim, estabelecer
novos métodos, fontes, abordagens e conceitos que veremos a seguir.
- Considerações finais:
Muito obrigado por ter escolhido esse minicurso. Espero que a discussão tenha sido
proveitosa a todos. Deixo na descrição do vídeo uma proposta de atividade que é obrigatória para a
obtenção do certificado e também um link do drive com todos os textos que possuo em pdf e citei
no decorrer do curso. Destaco que apenas aqueles que estão na bibliografia do minicurso serão
necessários para a execução da atividade. No drive também está o roteiro desse minicurso para
aqueles que possuam, assim como eu, uma facilidade maior em compreender o que está escrito que
exatamente o que é dito. Disponibilizo também meu e-mail para que possamos discutir sobre o tema
e aprofundar o debate que com toda certeza não está esgotado e pode ter contribuições importantes
de outras leituras que vocês possuam. Novamente muito obrigado e saudações a todos os
participantes.
- Proposta de atividade:
A partir da leitura dos textos de Serge Berstein e Rodrigo Patto Sa Motta, explique o
conceito de cultura politica e sua aplicabilidade a historia politica.
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