Você está na página 1de 4

Francis

Bacon (1561-1626)

1- Biografia
- Político, filho do chanceler da rainha Elizabeth I.
- Concluiu seus estudos jurídicos em Cambridge e trabalhou dois anos na
embaixada britânica em Paris.
- Foi nomeado lord chanceler e barão de Verulam.
- Acusado de corrupção (receber propina), Bacon ficou preso por alguns dias na
London Tower. Foi solto, mas teve que desistir de sua carreira política.
- Pretendia completar uma grande obra, chamada Instauratio Magna, que
deveria abranger seis partes: (1) uma revisão enciclopédica do estado atual da
ciência (Partitiones scientiarum); (2) uma doutrina do método da nova ciência
(Novum organum); (3) uma história natural (Historia naturalis); (4) uma coleção
de exemplos de como passar da experiência à ciência da natureza (Scala
intellectus sive Filum Labyrinthi); (5) as suas próprias conclusões científicas
(Prodromi sive antecipationes philosophiae secundae); e (6) uma obra de ciência
aplicada (Philosophia secunda sive scientia activa). Apenas a primeira parte foi
completada e integra a obra De dignitate et augmentis scientiarum. A segunda
parte, o Novum organum, permaneceu incompleta. Das demais partes, Bacon
deixou apenas alguns fragmentos.


2- A divisão do conhecimento humano
- Bacon tem uma concepção positivista da filosofia: para ele, a filosofia diz
respeito ao material e ao mecânico. Ela pode até provar que existe um Ser
Primeiro, mas não pode determinar nada mais sobre este ser. A metafísica
tradicional e a revelação são, portanto, excluídas da filosofia. Ainda assim, elas
não são negadas, como no positivismo contemporâneo. São apenas restringidas
ao âmbito da teologia, que, embora em tese – segundo a divisão abaixo
formulada – seja para Bacon uma parte da filosofia, no fundo, para ele distingue-
se desta radicalmente.
- O critério de divisão segue a divisão da alma racional, que é constituída de três
faculdades: (1) memória, a que corresponde a história; (2) imaginação, a que
corresponde a poesia; (3) razão, a que corresponde a filosofia.
- (1) a história divide-se em:
(1.1) história civil.
(1.2) história natural.
- (3) a filosofia divide-se em três partes principais, as quais derivam da filosofia
primeira – esta não deve ser aqui compreendida em sentido aristotélico, mas
apenas como o conjunto de axiomas mais gerais de toda a filosofia:
(3.1) teologia natural ou racional, que tem Deus por objeto (De numine),
que é aqui conhecido indiretamente.
(3.2) sobre a natureza, que é conhecida diretamente. É subdividida em:
(3.2.1) filosofia natural especulativa, que é, por sua vez, dividida
em:
(3.2.1.1) física (trata das causas materiais e eficientes da
natureza)
(3.2.1.2) metafísica (trata das causas formais da natureza
– as causas finais nada produzem, segundo Bacon, e,
portanto, não pertencem à filosofia natural). Bacon
entende por “causa formal”, no entanto, algo bem diverso
de Aristóteles. Para ele, a causa formal de algo é sua lei fixa
e geral. Portanto, a metafísica é apenas uma parte mais
geral da filosofia natural especulativa e não se distingue
radicalmente da física.
(3.2.2) filosofia natural operativa, que é a parte aplicada da
filosofia natural especulativa e se divide em:
(3.2.2.1) mecânica, que é a parte aplicada da física.
(3.2.2.2) mágica, que é a parte aplicada da metafísica e,
portanto, a despeito do nome, nada tem a ver com
superstição.
(3.2.3) matemática, que é, na verdade, um apêndice à filosofia
natural e se divide em:
(3.2.3.1) matemática pura, que compreende geometria e
aritmética.
(3.2.3.2) matemática heterogênea, que inclui perspectiva,
música, cosmografia, arquitetura, etc.
(3.3) sobre o homem, que é conhecido por reflexão. Esta parte divide-se
em:
(3.3.1) philosophia humanitatis, que tem duas partes principais:
(3.3.1.1) do corpo humano, que compreende a medicina,
a arte cosmética, a arte atlética e a ars voluptuária.
(3.3.1.2) da alma humana, que compreende:
(3.3.1.2.1) lógica (doctrina circa intellectum), que
abrange, por sua vez, quatro partes:
(3.3.1.2.1.1) ars invenienti, cuja principal
subdivisão é o Novum organum, também
chamado “interpretação da natureza”.
(3.3.1.2.1.2) ars judicandi, que se divide em
indução e teoria do silogismo.
(3.3.1.2.1.3) ars retinendi
(3.3.1.2.1.4) ars tradendi, de que a
pedagogia é um apêndice.
(3.3.1.2.2) ética (doctrina circa voluntatem), que se
divide em:
(3.3.1.2.2.1) doctrina de exemplari, que
trata da natureza do bem humano
(3.3.1.2.2.2) doctrina de georgica animi,
que trata do cultivo da alma com o fim de obter o
bem humano.

(3.3.2) philosophia civilis, que trata da alma humana e
compreende três partes – cada uma das quais diz respeito a um
bem recebido pelo homem da vida em sociedade:
(3.3.2.1) Doctrina de conversatione, que considera o bem
que advem da associação do homem com seus
companheiros.
(3.3.2.2) Doctrina de negotiis, que considera o bem
recebido da sociedade em assuntos práticos
(3.3.2.3) Doctrina de imperio sive republica, que considera
o bem recebido pela proteção do Estado.

Crítica à lógica e à física clássicas (Novuum Organon)

- O objetivo da ciência é estender o domínio do homem sobre a natureza. Isso só
é possível por meio de conhecimento. “Conhecer é poder”.
- A lógica parte de certos axiomas, obtidos por indução, e deles deriva suas
conclusões. Os filósofos, segundo Bacon, ocupam-se exageradamente de discutir
a validade dos argumentos (a teoria silogística) e praticamente não examinam as
premissas de que partem (a teoria da indução). Para salvar a física é preciso
cuidar da teoria da indução.
- Há dois tipos de indução: a que parte do particular e dele deriva leis mais gerais;
e a que parte do particular e dele deriva leis mais específicas. Os principais
filósofos e cientistas ocuparam-se até aqui especialmente com a indução de
primeiro tipo, que é bem menos segura e controlada. Um método científico
rigoroso deve partir do segundo tipo de indução para o primeiro, e não o
contrário.
- Conhecer a natureza não é tão simples como pode parecer à primeira vista,
porque a mente humana é influenciada por certos preconceitos, que a impedem
de avançar, a menos que deles nos livremos. Daí a famosa doutrina baconiana
dos ídolos. Segundo Bacon, “a doutrina dos ídolos está para a interpretação da
natureza da mesma maneira que a doutrina dos argumentos sofísticos está para
a lógica formal”.
- Os ídolos da tribo (idola tribus, 41) – são aqueles preconceitos para os quais há
uma tendência na própria natureza humana e impedem um julgamento objetivo.
Exemplo: a confiança cega nos sentidos ou a tendência a interpretar a natureza
antropomorficamente (por exemplo, ao falar em causas finais).
- Os ídolos da caverna (idola specus, 42) – são os preconceitos peculiares a cada
indivíduo, que podem derivar de seu temperamento, de sua educação, livros, ou
influências peculiares.
- Os ídolos do mercado (idola fori, 43) – são os preconceitos derivados do mal
uso da linguagem (nascem, portanto, do “comércio” entre os homens). Às vezes
os homens empregam palavras que não correspondem a coisa alguma, como
“destino” e “primeiro motor”. Às vezes, os homens empregam palavras que não
se referem a um único e claro conceito, mas a várias coisas e qualidades de
coisas, como o termo “úmido”.
- Os ídolos do teatro (idola theatri, 44) – são os sistemas filosóficos do passado,
que nada mais são que peças teatrais, que representam mundos irreais, criados
pela imaginação humana. Em primeiro lugar, há a filosofia “sofística”, cujo
principal representante foi Aristóteles, que corrompeu a filosofia da natureza
com sua dialética. Em segundo lugar, a filosofia “empírica”, baseada em poucas
e obscuras observações – é a filosofia dos alquimistas do tempo de Bacon. Em
terceiro lugar, há a filosofia “supersticiosa”, caracterizada pela introdução de
considerações teológicas na ciência – os exemplos de Bacon são os pitagóricos,
Platão e os platonistas.

Você também pode gostar