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FACULDADE DA ALDEIA DE CARAPICUÍBA

PÓS GRADUAÇÃO EM LIBRAS

O SURDO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

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Josiane Lino da Silva

Faculdade da Aldeia de Carapicuíba

RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de mostrar a inclusão do surdo na educação


brasileira e se essa educação encontra-se preparada para recebê-lo de forma
inclusiva os surdos de acordo com a Constituição Federal de 1988. Utilizando uma
pesquisa bibliográfica, onde serão abordadas as seguintes questões: surdos e
ouvintes, incluídos e excluídos, direitos e legislação, resgate da história ao qual o
surdo está inserido. Resultando com a realidade ao qual esses sujeitos estão
inseridos, com falta de condições de serem incluídos nas escolas, assim como na
sociedade; pois a mesma não possui meios de garantir que seus direitos sejam
efetivados.

Palavras-chave: Educação, surdos, legislação.

ABSTRAT: This work aims to show the inclusion of the deaf in Brazilian education
and if this education is prepared to receive the deaf in an inclusive way according to
the Federal Constitution of 1988. Using a bibliographical research, where the
following will be addressed questions: deaf and listened, included and excluded,
rights and legislation, rescue of the history to which the deaf is inserted. Resulting
from the reality to which these subjects are inserted, lacking conditions to be included
in schools, as well as in society; because it does not have the means to guarantee
that its rights are fulfilled.

Key words: Education, deaf, legislation.

INTRODUÇÃO

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Graduanda no curso de Pós Graduação em Libras (josi_dessa@hotmail.com)
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O SURDO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

No que se diz respeito à educação de pessoas surdas o tema é bastante


preocupante. Em todo o mundo difundiu-se uma política educacional de inclusão dos
sujeitos com necessidades especiais por volta dos anos 1990, a partir da Declaração
Mundial de educação para todos – documento de referência mundial e orientador do
processo de inclusão- firmado em Jomtien (Tailândia, 1990) juntamente com os seus
apontamentos produzidos em Salamanca (Espanha, 1994) destacando a “[...]
importância de uma educação pautada no direito e reconhecimento da língua natural
do indivíduo”, que o Brasil optou pela política inclusiva. Diversos países assumiram a
inclusão como tarefa excepcional da educação pública, várias tentativas de coloca-
las em prática foram feitas. Buch (1994), Cohen (1994) e Kirchner(1994), no exterior,
e Silveira Bueno (1994), Massota (1996) e Sassaki (1997), no Brasil, entre outros.
Houve então a reestruturação da legislação brasileira, implantando-se a inclusão
educacional e social. As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na
Educação Básica (resolução nº02/2002 do CNE) e a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (2004), que garante a integração de todos no ensino, trazendo
as mesmas oportunidades, compartilhando a cultura e experiências moldando assim
as relações sociais.

Eles colocam que todos os educandos devem ter a mesma oportunidade de


frequentar as escolas regulares próximas de onde moram, e que essas escolas
disponham de um programa educacional adequado às necessidades diferenciadas
de cada um, provocando desafios a todos que sejam atendidos. Destacando ainda o
quanto é importante o suporte e a assistência com as crianças de necessidades
especiais e aos professores, para que esse atendimento seja o mais agradável e
proveitoso.

Nesse sentido, a preocupação e a inquietação com o comportamento e o


baixo desempenho de crianças com necessidades especiais (em especial os surdos)
e a atuação de seus educadores no dia a dia da sala de aula incentivaram a
realização do presente trabalho.

Os PCN’S – Parâmetros Curriculares Nacionais destaca em um dos seus


volumes a temática da Pluralidade Cultural (1997), destacando-se as características

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étnicas e culturais dos diversos grupos, tentando de todas as formas a superação


das discriminações e excludências, passando a imagem de um Brasil complexo e
multifacetado. Respeitar e valorizar as diferenças étnicas e sociais não significa
tomar posse dos valores mas respeitá-los como uma expressão da diversidade.

O 1º artigo da Constituição Federal (1988) estabelece-se bases sobre a


igualdade de oportunidades e um modo de sociabilidade que permite expressar as
diferenças e conflitos. Chamamos isso de pluralidade viver com o diferente, em
relação aos costumes, crenças religiosas, expressões artísticas, capacidade e
limitações.

De acordo com a Constituição Federal de 1998 (Art.13, p.15) ”[...] a língua


portuguesa é o idioma oficial da república Federativa do Brasil”. Contudo no Brasil
conforme Mello (1999) existem em torno de 170 línguas indígenas de troncos e
famílias diferentes, isso sem falar as línguas faladassem comunidades de
descendências italiana, japonesa, coreana, germânica, entre outras, e sem contar
com a língua de sinais da comunidade surda.

Assim sendo nosso país é de um pluralismo significativo. Mesmo assim a


língua de status oficial é a língua portuguesa, inviabilizando as demais.

De acordo com Mello (1999), ressaltamos que uma sociedade bilíngue não se
forma somente a partir do contato entre línguas e culturas, “[...] igualmente
importante são as atitudes que as pessoas tem em relação ás línguas e aos
membros das comunidades minoritárias, bem como as políticas linguísticas a serem
adotadas pela comunidade num todo”.

A Lei Federal nº 10.436, de 24 de abril de 2002, que reconhece a Língua


Brasileira de Sinais – Libras, como língua oficial da comunidade surda, com
implicações para o acesso a informação em ambientes institucionais.

Hoje os surdos são reconhecidos como comunidades com língua e cultura


própria, tendo assim direito a instrução em sua própria língua – língua de sinais, com
uma educação bilíngue e com a presença de um mediador ou interpréte de língua de
sinais.

Na elaboração da pesquisa, utilizou-se como metodologia a revisão


bibliográfica, procurando levantar o máximo de informações a respeito do tema e um
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panorama sobre os trabalhos já realizados na área. Dessa forma, pesquisaram-se


em livros, revistas, jornais, artigos, sites, monografias e teses que tratam sobre o
assunto.

O BILINGUISMO PARA A PESSOA SURDA

Para o censo demográfico de 2000 totaliza cerca de 5.750.805 pessoas


surdas, lutando por seus direitos e reconhecimento social. A cultura surda e a cultura
ouvinte hoje são encontradas em mesmo espaço físico e são compartilhadas.

Neste sentido:

[...] é possível aceitar o conceito de Cultura Surda por meio de uma leitura
multicultural, em sua própria historicidade, em seus próprios processos e
produções, pois a cultura Surda não é uma imagem velada de uma
hipotética Cultura Ouvinte, não é seu revés, nem uma cultura patológica.
(SKLIAR, 1998, p.28).

O surdo tem “um jeito surdo de ser”, ele se utiliza da visão, pois a língua de
sinais é gestual e visual e suas experiências são através da visão.

Essa língua surge da necessidade da comunicação e das relações sociais,


sendo compatível a qualquer outra língua.

Conforme Brito (1995, p.11),

[...] a LIBRAS é uma língua natural com toda a complexidade que os


sistemas linguísticos que servem à comunidade e de suporte de
pensamento ás pessoas dotadas da faculdade de linguagem possuem. É
uma língua natural surgida entre os surdos brasileiros da mesma forma que
o Português, Inglês, o Francês, etc, surgiram ou se derivaram de outras
línguas para servir aos propósitos linguísticos daqueles que as usam.

Quadros (2004, p.30) afirma que “[...] as línguas de sinais são consideradas
línguas naturais e, conseqüentemente compartilham uma série de características
que lhes atribui caráter específico e as distingue dos demais sistemas de
comunicação”.

Para Kyle (1999) a língua de sinais é considerada a língua natural do sujeito


surdo, pois se desenvolve em meio à comunidade surda de forma espontânea.

A criança deve ter o contato desde cedo com a comunidade surda, nos mais
variados ambientes como escolas, associações de surdos, para que lhe sejam

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oferecidos o direito de aprendizagem da sua língua natural, pois é fundamental para


o seu desenvolvimento.

[...] é adquirida de forma espontânea pela pessoa surda em contato com as


pessoas que usam essa lingua e se a lingua oral é adquirida de forma
sistematizada, então as pessoas surdas têm o direito de ser ensinadas na
lingua de sinais. A proposta bilingue busca captar esse direito. BRITO
(1995, p.11)

Fernandes (2004, p.9) pontua para os surdos que, “[...] o português será uma
segunda língua, sem referências lingüisticas auditivas ou “naturais”.

Quadros (1997, p.111) enfatiza que

A Língua Portuguesa é a L1 de crianças ouvintes brasileiras e,


necessariamente, deverá ser ensinada de forma diferente para crianças
surdas que a adquirirão como L2. Além do fato de a língua portuguesa não
ser a L1 do surdo, há a questão da diferença na modalidade das línguas. A
criança surda deverá adquirir uma L2 que se apresenta numa modalidade
lingüisticamente diferente da sua L1, isto é, ela deverá aprender uma língua
‘gráfi co-visual’ enquanto a sua L1 é ‘visual-espacial’. Os estudos sobre o
ensino de L2 partem do pressuposto de que a criança estará adquirindo
uma L2 na mesma modalidade lingüística de sua L1. Dessa forma, o ensino
da L2 – Língua Portuguesa – para surdos apresenta questões mais
complexas que exigem mais investigação. O processo de aquisição de uma
L2 em crianças dependem de, no mínimo dois, pré-requisitos: (a) garantia
de um processo natural de aquisição de uma L1 e (b) a aquisição da língua
escrita, isto é, da alfabetização.

O objetivo é propiciar a criança surda o mesmo desenvolvimento cognitivo e


lingüístico da criança ouvinte, devendo ser vista como um aprendizado coletivo e
não como obstáculo. Strobel (2008, p.46) afirma que: “A língua de sinais não pode
ser estudada tendo como base a língua portuguesa porque ela tem gramática
diferenciada, independente da língua oral.

[...] A língua portuguesa não será a língua que acionará naturalmente


o dispositivo devido à falta de audição da criança. Essa criança até poderá
vir a adquirir essa língua, mas nunca de forma natural e espontânea como
ocorre com a língua de sinais”. (QUADROS, 1997, p.27).

Os surdos só começam se comunicar com outros surdos pela interação,


aprendendo assim naturalmente da mesma forma como os ouvintes aprendem a
língua portuguesa. Dessa forma os surdos desenvolverá o conhecimento linguístico,
social e cultural em meio à comunidade surda. Mas infelizmente a surdez algumas
vezes é percebida tardiamente, e normalmente o local onde é feita essa descoberta
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é a escola, pelos professores e profissionais que os encaminham ao tratamento e


aconselhamento para a família. Muitas famílias por sua vez veem a perda da
audição como se filho fosse uma criança anormal.

“Para aquele que ouve, a surdez representa uma perda de comunicação, a


exclusão a partir do seu mundo”. Wrigley (1996, p.16)

Os institutos educacionais para os surdos oferecem a formação com uma

proposta bilíngue, onde a língua de sinais e a portuguesa sejam trabalhadas juntas.

O presente trabalho pretende colaborar para a discussão, apresentando


informações que possam habilitar a equipe escolar e particularmente os educadores
com o objetivo de analisar como ocorre o processo de aprendizagem e identificar as
principais dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos nesse período
de aprendizagem.
Pretende-se abordar essa temática, percebendo a aprendizagem enquanto
processo e produto inacabado e distintamente desenvolvido. Devido a diversos
fatores causadores dos problemas de aprendizagem, é indispensável um
diagnóstico apropriado para que sejam concebidas as estratégias e medidas
adequadas, uma vez que aprender ou assimilar conteúdos é algo muito complexo e
podem causar bloqueios, inibições que é comum a todos os seres humanos.

No processo de alfabetização é relevante que teoria e prática caminhem


sempre de mãos dadas.

A criança surda necessita de professores surdos usuários de língua de


sinais e cultura própria em seu processo de construção de identidade e
educacional. O imaginado é que surdos tenham contato com outros surdos
que constituem o povo surdo1, onde acontece o seu desenvolvimento como
sujeito diferente, sendo um centro de encontro com o semelhante para que
desenvolva sua identidade cultural, por isso estes defendem a importância
de termos escola de surdos. Strobel (2008, p.104)

A participação da família também será objetivo de pesquisa, por entender à


importância dessa participação na aprendizagem da criança que funciona como
apoio e pode diminuir a possibilidade de problemas emocionais, um dos fatores
causadores das dificuldades de aprendizagem. Os pais devem saber conhecer e
acreditar nas dificuldades de aprendizagem porem devem também tentar superá-las
dando apoio constante e ajudando a criança a manejar e superar suas crises para
de alguma forma compensar suas dificuldades.
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A criança precisa ter contato com surdos adultos. A presença de surdos


adultos apresenta grandes vantagens dentro da proposta bilíngüe. Primeiro,
a criança, tão logo tenha entrado na escola, é recebida por um membro que
pertence à sua comunidade cultural, social e lingüística; assim, ela começa
a ter oportunidade de criar a sua identidade. Segundo, essa criança começa
a adquirir a sua língua natural. Tais vantagens são imprescindíveis para o
sucesso da proposta bilíngüe. Deve haver um ambiente próprio dentro da
escola (ou em outro lugar) para desenvolver a linguagem e o pensamento
da criança surda; assim, tornar-se-á possível o ensino de uma segunda
língua, caso contrário, a criança surda não terá chances de apresentar um
domínio razoável da língua portuguesa. (Ibidem, p.30).

AS DIFICULDADES NA APRENDIZAGEM

Quando os pais são ouvintes é importante que mantenham o contato com a


comunidade surda um quanto antes, pois tem a responsabilidade de desenvolverem
em seus filhos o mais precocemente a oportunidade de interagir para desenvolver o
conhecimento linguístico.
Necessidades especiais é um termo geral que se refere a um grupo
heterogêneo de transtornos que se manifestam por dificuldades
significativas na aquisição e uso da escuta, fala, leitura, raciocínio ou
habilidades matemáticas. Esses transtornos são intrínsecos ao indivíduo,
supondo-se devido à disfunção do sistema nervoso central, e podem ocorrer
ao longo do ciclo vital. Podem existir, junto com as dificuldades de
aprendizagem, problemas nas condutas de auto-regulação, percepção
social e interação social. Mas não constituem, por si próprias uma
necessidades especiais. Ainda que as dificuldades de aprendizagem
possam ocorrer concomitantemente com outras condições incapacitantes,
com influências extrínsecas, não são o resultado dessas condições ou
influências (NJCLD apud GARCIA, 2002, p. 13).

Quadros (2008, p.31) esclarece que o “[...] contexto bilíngüe é completamente


atípico de outros contextos bilíngües estudados, uma vez que envolve modalidades
de línguas diferentes”; a língua portuguesa na modalidade oral-auditiva e, a língua
de sinais que se apresenta na modalidade visual-espacial. Como normalmente os
pais de surdos são ouvintes, acabam por não conhecerem a língua de sinais,
tornando assim sua aquisição na vida dos filhos tardiamente. E sendo essa sua
primeira língua, a considerada segunda língua a portuguesa deveria ser ensinada na
sua própria língua ou seja a de sinais.
Inúmeros autores relatam centenas de agentes que desencadeiam
necessidades especiais. Mas resumidamente é possível citar como principais fatores
desencadeantes de dificuldades de aprendizagem os seguintes:

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a) Orgânicos – incluem questões genéticas, fatores pré, peri ou pós-natais


que, por sua vez, seriam responsáveis por distúrbios no sistema nervoso
central, saúde física deficiente ou alimentação inadequada; b) Psicológicos
– inibição, fantasia, ansiedade, angústia, inadequação à realidade,
sentimento generalizado de rejeição; c) Ambientais – a dinâmica familiar, o
grau de estimulação que a criança recebe desde os primeiros dias de vida
na família e depois na escola, a influência dos meios de comunicação
(NACK & FISCHER, 2015, p. 16).

Fernández (1994) afirma que o fracasso escolar é diferente de problema de


aprendizagem. Para ela, o problema reativo pode ser chamado de fracasso escolar
e o problema de aprendizagem, aquilo que constitui um sistema ou inibição.
Conforme a autora, o problema de aprendizagem é constituinte de um
sintoma que influência na dinâmica de articulações entre os níveis de inteligência. Já
o problema de aprendizagem reativo não aprisiona a inteligência, visto que não
influência no desejo de aprender, ao contrário, ele aparece do embate entre o
aprendente e a escola.
A partir daqui trataremos a surdez como uma dificuldade de aprendizagem,
pois relataremos as dificuldades do sistema de ensino, as providências tomadas em
relação essas dificuldades diante da família e do educando. E o que os institutos
educacionais fazem para promover a melhor forma de resolver esse problema.
Com relação aos problemas reativos, isto é, aqueles que são produzidos
exclusivamente na escola, são necessários que a intervenção psicopedagógica seja
orientada à escola ou ao professor no ambiente metodológico, ideológico, de
linguagem e de vínculo, como uma forma de prevení-lo (NACK & FISCHER, 2015).
Solé (2001) concorda que o problema de aprendizagem reativa, que o fracasso
escolar advém principalmente de duas causas que estão intrínsecas na história do
indivíduo: da estrutura familiar e individual daquele que fracassa em aprender e do
sistema escolar, sendo este último determinante. No entanto, quanto à estrutura
individual e familiar da criança, solicita-se uma intervenção psicopedagógica
especializada.
Fernández (1994) avalia as DA como sintomas ou “fraturas” no processo de
aprendizagem, onde essencialmente se encontram envolvidos quatro níveis: o
organismo, o corpo, a inteligência e o desejo. Na opinião da autora, a DA é a
consequência da anulação das capacidades e do bloqueio das possibilidades de

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aprendizagem de uma pessoa e com o intuito de ilustrar essa condição, Fernández


faz uso da expressão “inteligência aprisionada”.
De acordo com Fernández, as causas das dificuldades de aprendizagem não
estão relacionadas somente à estrutura pessoal do educando, mas também a sua
estrutura familiar.
Segundo Weiss (2004, p.62), para compreender a significação do problema
de aprendizagem, é preciso descobrir qual a função do sintoma no interior da
estrutura familiar e efetuar uma aproximação da história do indivíduo e da análise
dos níveis que atuam.
Dessa forma, a aprendizagem e seus desvios abrangem não apenas a
elaboração objetivante, como também a elaboração subjetivamente, que estão
vinculadas às experiências individuais, às trocas afetivas e emocionais, às
recordações e fantasias.

Crianças com Dificuldades de Aprendizagem

Segundo Belleboni (2015), os educandos com Das não são deficientes, não
são incapazes, somente manifestam alguma dificuldade para o aprendizado.
Fonseca (2005) afirma que a aprendizagem é responsabilidade do cérebro. A
aprendizagem bem sucedida ocorre quando certas funções do cérebro se encontram
integras, tais como: funções do sistema nervoso periférico, funções do sistema
nervoso central, sendo que os fatores psicológicos também são fundamentais.
Ainda conforme Fonseca (2005), para que uma criança alcance o
aprendizado é preciso que sejam respeitadas diversas individualidades, como o
desenvolvimento perceptivo-motor, perceptivo e cognitivo e a maturação
neurobiológica, além de incontáveis fatores psicossociais, como: poder vivenciar
experiências, explorar objetos e brinquedos, nível cultural, assistência médica, entre
outros.
Na opinião de Souza (2006), os aspectos referentes ao sucesso e ao fracasso
escolar podem ser divididos em três variáveis associadas, chamadas de: ambiental,
psicológica e metodológica. A primeira variável abrange fatores referentes ao nível
socioeconômico e seus vínculos com profissão e escolaridade dos pais, quantidade

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de filhos, etc. Essa é a variável mais ampla na qual vive o sujeito. A segunda
variável está relacionada aos fatores que dizem respeito à organização da família,
ordem de nascimento dos filhos, nível de expectativa, entre outros, sendo que as
relações desses fatores são consequências como ansiedade, baixa autoestima,
agressão, desatenção, isolamento. Já a última variável, envolve aquilo que é
ensinado nas escolas e sua ligação com valores como coerência e significado, com
o educador e com o processo de avaliação em seus diversos sentidos e
modalidades.
Souza ainda salienta que em razão da inadaptação para o aprendizado, como
resultado do fracasso escolar, o aluno se cerca de sentimentos de frustração,
inferioridade e perturbação emocional, anulando sua autoimagem, sobretudo se este
sentimento já tiver sido estabelecido no seu local de origem. Quando o clima que
prevalece em casa é de tensões e preocupações frequentes, existe uma
probabilidade muito grande de a criança se tornar tensa, tendendo a elevar o
número de pequenos fracassos e regras próprias das eventualidades da vida.
Quando o clima é autoritário, no qual os pais sempre têm razão e as crianças
nunca, ela pode se tornar uma criança acanhada, temerosa, covarde e submissa
com educadores, e agressiva e dominadora com crianças mais jovens, ou ainda
pode se revoltar contra qualquer tipo de autoridade. Agora, quando o clima da casa
é acolhedor e proporciona a livre manifestação emocional da criança, ela será
propensa a reagir de forma livre com seus sentimentos e emoções, sejam eles
positivos ou negativos.
Neste sentido, Strick e Smith (2007) enfatizam que o ambiente do lar
desempenha um papel relevante para definir se a criança aprende com êxito ou não.
Segundo as autoras, as crianças que tem um estímulo carinhoso no decorrer
da vida são propensas a ter atitudes positivas, tanto no que diz respeito à
aprendizagem quanto com relação a si mesma. Tais crianças procuram e encontram
formas de superar as dificuldades, até mesmo quando elas são muito graves.
Ainda segundo as autoras acima, o estresse emocional prejudica a
capacidade de aprendizado. A ansiedade relativa a mudanças de domicílio, brigas
na família ou doença pode não somente ser nociva, como também pode destruir,
gradualmente a capacidade de uma criança para confiar, assumir riscos e ser capaz
de receber bem novas situações que são relevantes para o êxito escolar.
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Uma criança com DA é aquela que não consegue aprender com os métodos
convencionais, com os quais a maioria dos alunos aprendem. Embora tenham as
bases intelectuais adequadas para a aprendizagem, seu rendimento escolar fica
abaixo de suas capacidades. Os problemas específicos de aprendizagem não são
consequência de ausência de capacidades intelectuais, privação cultural, ausência
ás aulas ou mudanças constantes de escola, problemas emocionais ou instrução
inapropriada. Cada caso particular precisa ser analisado de forma diferente, sendo
que é relevante verificar em cada um deles o significado, a causa e a modalidade da
perturbação. Porém, estas condições podem estar associadas, desencadear ou até
mesmo piorar uma necessidade especial. Em alguns casos é possível encontrar
indicadores neurológicos que podem ser à base de uma DA.
Para Souza (2006), as Das surgem quando a prática pedagógica destoa das
necessidades dos educandos. Dessa forma, quando a aprendizagem tem sentido
para o educando, ele se tornará mais flexível, com menos bloqueios, ou seja,
conhecerá mais seus sentimentos, desejos, pensamentos, interesses, limites e
necessidades.
Na comunidade surda a criança se sentirá assim, acolhida e podendo
desenvolver-se completamente por estar entre iguais, e assim ser incluída com mais
facilidade no ensino regular, em salas de aula normais desde que também
aprendam em sua língua de origem.
Na visão de Fonseca (2005, p. 37), as Das crescem em escolas superlotadas
e mal estruturadas, sem materiais didáticos adequados e motivadores e com
educadores “derrotados” e “desmotivados”. “A escola não pode permanecer como
sendo uma fábrica de fracassos. Na escola, a criança precisa ser amada, visto que
apenas dessa forma se considerará útil”.
É observando a rotina da escola que é possível identificar algumas das
principais queixas na primeira infância relacionadas a comportamento que
geralmente são confundidas por falta de conhecimento, com diagnósticos de
agressividade, hiperatividade e desatenção. Quando estudados de forma adequada
com os pais da criança, tais diagnósticos podem relevar informações de estrema
relevância e que requerem orientações da própria instituição escolar (BELLEBONI,
2015).

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O SURDO NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

Os autores acima ainda afirmam que os conflitos emocionais influenciam


bastante no desempenho da criança. Portanto, é responsabilidade da escola, no
papel do educador, realizar a “escuta” apropriada destas evidências, levando em
conta a situação geral do aluno em seu cotidiano, seu contexto familiar e os
eventuais problemas familiares que possa estar vivendo, desde a mudança de
residência e a chegada de um irmão, até a morte de um ente da família ou
separação dos pais, entre outros.
Cada criança é única. O modo como às dificuldades de aprendizagem se
apresentam está associado com a individualidade de cada um. Assim sendo, não há
uma causa única e tratamentos iguais. A resposta de cada criança frente aos
diversos fatores que interferem na sua aprendizagem será diferente, de acordo com
sua estrutura biológica, seu meio social, entre outros. Portanto, é relevante conhecer
a criança em sua totalidade, entender sua dificuldade particular, auxiliá-la a
conhecer seus pontos fracos e fortes e procurar estratégias de apoio que lhe
possibilitem ter êxito na aprendizagem. Pois, conforme afirma Carrera (2009, p. 94),
“as dificuldades não desaparecem, entretanto, a criança pode aprender a compensar
suas dificuldades”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Há um número significativo de educandos surdos apresentam baixo


rendimento escolar. Esses alunos apresentam baixa autoestima, indisciplina, falta de
interesse, problemas familiares, entre outros, sendo necessário oportunizar lhes
recursos para superarem tais dificuldades.
A criança com dificuldades de aprendizagem somente adquire o
conhecimento se for capaz de atuar sobre ele, uma vez que, aprender é descobrir,
inventar, modificar. Assim, é papel do educador promover a socialização, integração
e melhora da autoestima de seu educando e é função da escola fornecer meios para
que ele possa se identificar como integrante de um grupo.
Da mesma forma, é necessário que os educadores compreendam as relações
que os educandos estabelecem no meio físico e cultural, além de reconhecerem e
entenderem a diversidade existente numa sala de aula.
O fator família é de suma importância para o bom rendimento escolar, a
família deve ser os primeiros a perceberem a surdez e tentar colocar essa criança
em contato com a comunidade surda para que possa desenvolver seu cognitivo e
emocional, podendo atuar como principal motivador para o sucesso escolar. Do
contrário, a má influência familiar pode ser a grande causadora das reprovações,
desinteresse e das dificuldades na aprendizagem.
No entanto, acreditar que a necessidades especiais é responsabilidade
exclusiva do educando ou da família ou apenas da escola é no mínimo uma atitude
ingênua diante da complexidade do aprender. Buscar e encontrar alguém que
assuma a culpa do fracasso escolar nos dá a sensação de que está tudo resolvido.
A atitude do não aprender traz em si o subtexto da denúncia de que algo deverá ser
feito, e esse feito não poderá jamais ser a duas mãos.
É valido lembrar que equipes multidisciplinares constituídas por educadores,
pedagogos, intérpretes, psicopedagogos, fonoaudiólogos, psicólogos, médicos e
demais profissionais envolvidos para auxiliar nos casos de problemas de
aprendizagem, contribuindo para que as crianças com necessidades especiais
possam desfrutar sua cidadania de forma plena.
Por isso a proposta exposta reforça o pensamento de que precisamos exercer
uma prática docente em parceria, em equipe, onde todos deverão voltar seu “olhar”
e sua “escuta” para o sujeito da aprendizagem. Não adianta refletirmos sobre o
trabalho docente e buscar de modo contínuo agregar valores à formação, resignificar
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os conteúdos e adotar novas posturas avaliativas, se não conhecermos o ser que


estamos educando e a grande responsabilidade que é a de participarmos da sua
formação.
Ao realizar a prática docente elaborando vínculos afetivos com esse ser que
aprende, certamente faz-se prepara-lo para operar de forma autônoma seu futuro
utilizando sua mente para pensar em alternativas viáveis para os problemas da sua
sociedade, seu coração para sentir as exigências e apelos sociais e suas mãos para
agir em prol do bem comum.
Conviver com uma diversidade de educandos e suas dificuldades referentes à
aprendizagem leva os educadores, a serem eternos aprendizes à procura de
soluções e alternativas que favoreçam a aprendizagem dos alunos em favor de uma
educação de qualidade, auxiliando-os em suas atividades, sendo o mediador hoje no
que ele ainda não sabe fazer sozinho, mas que num futuro próximo será capaz.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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