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Guia de Tributação de

Novos Serviços Digitais


SUMÁRIO

Introdução Ambiente Fiscal Tributação de Organização e Conclusão


Brasileiro serviços digitais planejamento
fiscal das
empresas de TI
Introdução
As inovações promovidas por startups e empresas de tec-
nologia que têm lançado tendências no mercado, estão
transformando todos os setores da sociedade. Negócios
que até então dominavam o cenário mundial, têm perdido
espaço para o uso de softwares e dados que apresentam
soluções disruptivas para novos e antigos clientes.

Se antes, para falar com alguém que morasse em outro


país, era necessário pagar taxas elevadas de ligações tele-
fônicas internacionais, hoje é possível realizar chamadas
em vídeo gratuitamente pela internet - tanto por redes so-
ciais, quanto por aplicativos de conversação. Outras mu-
danças, como no próprio sistema monetário global, com a
criação de moedas e instituições financeiras digitais, têm
transformado hábitos e a própria definição de serviços e
produtos pela legislação.

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Preparamos esse eBook com o propósito de apresentar as
definições vigentes para as principais ferramentas tecno-
lógicas que estão se expandido no mercado. Sabemos que
muitas novidades ainda virão e, por isso, estamos sempre
nos atualizando sobre a tecnologia no Brasil e no mundo.
Queremos compartilhar com você nosso conhecimento.

Uma ótima leitura!

Aloísio dos Santos


MK Soluções Empresariais

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Ambiente Fiscal
Brasileiro
Startups, pequenas e médias empresas enfrentam várias dificuldades
para expandir os negócios, gerenciar demandas e sobreviver no mer-
cado. O estudo Causa Mortis do Sebrae indica que 6% das empresas
que fecham em até cinco anos têm dificuldades com burocracia e
impostos; outros 6% dos empreendimentos que fecham em curto pe-
ríodo têm problemas com administração e planejamento. De acordo
com a pesquisa, a segunda causa da mortalidade dos negócios é a
falta de capital e lucros.

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Todos esses dados demonstram que não basta apenas
a empresa ter um produto inovador ou serviço diferencia-
do: os gestores de um empreendimento precisam obter
conhecimentos sobre legislação, finanças, contabilidade,
recursos humanos, marketing, vendas, etc. Além de pla-
nejamento e organização, para um pequeno negócio ob-
ter sucesso é essencial que os profissionais conheçam o
ambiente fiscal em que estão inseridos.

No segmento de tecnologia, os empreendimentos se


desenvolvem em um contexto de insegurança jurídica
e tributária diferente de outro setores.

Com constantes mudanças promovidas por novos serviços


e produtos, as empresas têm dificuldade para se adequar
à legislação que, muitas vezes, não compreende todas as
mercadorias e atividades realizadas pelo setor. A verdade
é que as inovações tecnológicas correm mais rápido do
que os processos de regulamentação promovidas pelos
poderes tributantes brasileiros.

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Um exemplo é a Reforma Trabalhista, sancionada em 2017,
que atualizou a Consolidação das Leis do Trabalho criada
na década de 50. Dentre os pontos alterados, várias ativi-
dades e modalidades de trabalho que já eram praticadas
em empresas de tecnologia há anos, como o home offi-
ce, foram regulamentadas. Até então, profissionais como
desenvolvedores ou funcionários de empresas que traba-
lham à distância com o apoio de ferramentas tecnológicas
não contavam com nenhum tipo de segurança legal.

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Municípios, Só pelo Simples Nacional - prin-
cipal regime tributário adotado
pelas startups, microempresas e
Estados e União empresas de pequeno porte - são
cobrados oito impostos diferen-
tes. Só a nível federal, temos qua-
Outro fator que torna o ambiente fiscal brasileiro ainda mais se cem tributos diferentes.
complexo é a arrecadação separada dos tributos entre os
poderes municipais, estaduais e o federal. Enquanto al-
guns países adotam um imposto único, para a produção,
distribuição e a prestação de serviços, como o Imposto so-
bre o Valor Agregado (IVA) aplicado em Portugal, as em-
presas no Brasil devem arrecadar diferentes tributos para
cada instância, com alíquotas que variam de acordo com
o faturamento e atividade desempenhada.

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Para as empresas do setor de tecnologia, a definição do
objeto social deve ser analisada com cuidado dobrado,
pois é a partir dele que será adotado o regime tributário do
negócio. O problema é que as atividades desempenhadas
pelo setor, muitas vezes ainda não são classificadas pelo
CONCLA (Comissão Nacional de Classificação).

Com a dificuldade da definição da atividade principal, o em-


preendimento pode perder dinheiro e ainda sofrer multas.
Uma situação comum é o profissional declarar no contrato
social uma atividade e acabar desempenhando outra. Nes-
se caso, a tributação ocorre de forma errada e os próprios
clientes podem solicitar a adequação da empresa.

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Bitributação
de impostos
Mesmo com a definição correta do objeto social e do regi-
me tributário, mais uma situação fiscal que pode prejudicar
as empresas de tecnologia: a bitributação de impostos.
Isso acontece quando, por exemplo, mais de um município
disputa a competência do Imposto Sobre Serviços (ISS) de
empresas de prestação de serviços

A Lei Complementar 116 define que a competência para


arrecadação do ISS é do município onde o serviço foi pres-
tado, no local do estabelecimento do profissional ou ainda
no domicílio do prestador - ou seja, a legislação não deixa
claro qual é a obrigação da empresa que presta serviço
em outra cidade, se no município sede ou onde foi de-
senvolvido o trabalho.

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Essa indefinição deixa as empresas de tecnologia e inova-
ção suscetíveis à dupla cobrança do ISS, uma vez que, os
serviços desempenhados pelos profissionais do setor po-
dem ser desenvolvidos na sede da empresa, e finalizados
no município do cliente.

Por exemplo:
Suponha que uma empresa de ônibus privados de Itajaí
contrate uma empresa de softwares de Florianópolis para
criar um aplicativo do negócio. O desenvolvedor irá criar
o projeto em seu município sede, mas precisará deslocar
alguns desenvolvedores para o município de Itajaí para re-
alizar a coleta de dados. Nesse caso hipotético, os fiscais
tributários de ambas as cidades podem disputar a compe-
tência do ISS, resultando nas chamadas guerras fiscais.

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No Brasil há mais de

tributos diferentes.
Todos esses fatores, aliados a problemas de interpreta-
ção da legislação e a falta de especificação de algumas
normas, contribuem para que os serviços de tecnologia e
inovação se desenvolvam em um contexto complexo de
insegurança fiscal e jurídica.

Em startups, pequenas e médias empresas, a falta de re-


cursos para contratação formal de profissionais faz com
que demandas contábeis sejam realizadas pelos funda-
dores do negócio. Sem o conhecimento específico sobre
as legislações e peculiaridades tributárias do setor, muitos
erros podem ser cometidos, assim como a negligência de
pontos importantes que devem ser considerados por em-
preendimentos que anseiam crescer com segurança no
mercado.

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Tributação de novos
serviços digitais
As inovações ocorrem mais rápido do que o processo de
regulamentação e tributação por parte dos municípios, es-
tados e união. Por esse motivo, novos serviços
desenvolvidos por empresas nacionais e internacionais,
que tem faturado muito no mercado, são alvos de
dúvidas, críticas e alguns processos que buscam acelerar
a regulamentação e tributação das atividades.

Nas páginas a seguir, você saberá mais sobre a regula-


mentação e tributação de novos serviços digitais que têm
crescido e se destacado no mercado.

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SaaS - Software as a Service
Os programas de computador chamados SaaS (Software
as a Service) ou software como serviço, também conheci-
dos por software em nuvem, são aqueles que podem ser
utilizados de forma remota em qualquer dispositivo com
acesso à internet, não ficando instalados em um servidor.

A Lei do Software (Lei 9.609 de 1998), define que o uso


de programas de computador sempre será realizado via
contratos de licença de uso, sendo que para os programas
SaaS, existem três tipos diferentes de serviços:

licença de uso; instalação, processamento de


configuração e dados (que acabam
suporte técnico; trazendo algumas
preocupações
tributárias).

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Os cuidados que as empresas de TI devem ter com a fisca-
lização, neste caso, são:

1 2As Secretarias Municipais da


Fazenda podem fragmentar o valor
de contrato dos programas SaaS
em até três partes, pois os serviços
executados (conforme, citado
acima) têm alíquotas diferentes de
ISS em algumas cidades;
A Secretaria de Estado da Fazenda
pode considerar a licença de uso
como base de cálculo do ICMS e
não do ISS.

A dúvida existente sobre a incidência de ISS ou ICMS so-


bre os contratos de licença de uso é antiga e foi ameniza-
da em 2003 com a Lei Complementar 116. Mas devido a
várias legislações estaduais redefinirem as características
de um software de prateleira e submeterem este à incidên-
cia do ICMS, alguns tribunais começaram a concordar com
estes Estados.

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A recente Solução de Consulta 191/2017 - COSIT, em resu-
mo, apresentou os seguintes entendimentos:

software de prateleira é software sob encomenda


mercadoria; ou personalizado é serviço;

software customizado pode


ser mercadoria ou serviço SaaS é serviço.
(depende de análise);
*Cabe destacar que este entendimento
é de uma solução de consulta, que não
Outro cuidado é com os softwares contratados no exterior: pode criar ou alterar leis, mas pode con-
as remessas internacionais de dinheiro para o pagamento tribuir para novas interpretações sobre
dos programas em nuvem classificados como serviço, so- as legislações existentes.
frem até 50% de tributação.

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Intermediação
de pagamentos
De acordo com o Relatório Webshoppers, no primeiro se-
mestre de 2017, foram realizados mais de 50 milhões de
pedidos em lojas virtuais no Brasil, que utilizam serviços
de Intermediários e Gateways de Pagamentos. Devido ao
grande mercado de eCommerce, tem surgido várias star-
tups para atuar com estes serviços, como a PagSeguro e
o Paypal.

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Diferente dos Gateways de Pagamentos, os Intermediá-
rios de Pagamentos não possuem contratos com bancos
e nem mesmo com as operadoras de cartão. Normalmen-
te aceitam como meio de pagamento apenas cartões de
créditos, contratados a partir de intermediários das opera-
doras.

A tributação dos Intermediários de Pagamentos é exclu-


sivamente sobre a comissão recebida nas operações de
intermediação do pagamento, devendo o empreendedor
sempre identificar o CNAE correto para evitar a tributação
sobre o total da operação e não apenas sobre a comissão.

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Lojas virtuais
(e-commerce)
O comércio de produtos e serviços em sites na internet é
tributado de acordo com a modalidade exercida pela em-
presa, que pode ser do tipo:

compra e venda venda de intermediação na


de mercadorias; prestação de venda de produtos
serviços; e serviços.

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As que fazem compra e venda de mercadorias são trata-
das perante a legislação tributária, exatamente da mesma
forma que uma loja física, ou seja, devem recolher o ICMS,
o Pis, a Cofins, o IRPJ e a CSLL. Quando os produtos des-
sas lojas forem de produção própria, também devem reco-
lher o IPI sobre a venda destes produtos. Vale destacar que
todo e-commerce que vende produtos sujeitos à substi-
tuição tributária, deve se preocupar com o MVA (Margem
de Valor Agregado) de cada Estado para o qual é realizada
uma operação, sendo obrigado a fazer os devidos recolhi-
mentos.

As empresas que vendem prestação de serviços online


também são tratadas como um prestador de serviços físi-
co, recolhendo além do Pis, Cofins, IRPJ e CSLL, o Imposto
sobre Serviços - ISS. As Lojas Virtuais que atuam exclusi-
vamente como intermediárias na venda de produto e ser-
viços - atuando como um canal de vendas do fabricante,
distribuidor ou varejista - tributam os mesmo impostos; a
base de cálculo, porém, é o valor da comissão e não o total
da venda realizada.

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Criptomoedas
As moedas virtuais são criadas por softwares e emitidas
por plataformas digitais que não são controladas ou taxa-
das por instituições financeiras. A primeira moeda a ser
lançada foi a Bitcoin em 2009 e hoje há mais de 800 mo-
edas digitais alternativas em todo o mundo. No Brasil, as
criptomoedas não são consideradas moedas eletrônicas,
mas desde 2015 tramita na Câmara de Deputados o Pro-
jeto de Lei 2303, para regulamentação da tecnologia pelo
Banco Central.

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Apesar deste processo para controlar as criptomoedas, os
empreendimentos que têm investido em máquinas e pro-
gramas para o desenvolvimento das moedas digitais não

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tem obrigação de tributar o Imposto Sobre Produtos In-
dustrializados, por dois motivos:

as criptomoedas são criadas a partir de operações


complexas realizadas por softwares, sem a ocor-
rência de um processo industrial direto, tal como
caracteriza a incidência do Imposto Sobre Produ-

2
tos Industrializados;

os produtos que sofrem incidência do IPI devem


constar na Tabela de Incidência do Imposto Sobre
Produtos Industrializados (TIPI), o que não pode
ocorrer com as criptomoedas pelo motivo citado
acima.

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As empresas que investem no segmento de criptomoe-
das serão tributadas por outros serviços como consulto-
rias e treinamentos, devendo formalizar o negócio e aderir
a um regime tributário como qualquer negócio, arrecadan-
do impostos como o PIS e Cofins. Também é importante
destacar que os empreendimentos que atuam na inter-
mediação de pagamentos devem tributar por comissão
de venda das moedas digitais.

No aspecto tributário, a principal preocupação com as crip-


tomoedas se dá por parte dos usuários (pessoas físicas ou
jurídicas). As moedas virtuais se caracterizam como bens
e devem constar como posse na Declaração de Imposto
de Renda, assim como um automóvel, casa ou conta pou-
pança. A tributação se dá exclusivamente sobre a renda
obtida com a moeda, o famoso ganho de capital, sendo
que a apuração deve ser feita mensalmente, com uma alí-
quota de 15% de IRRF sobre o ganho.

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Streaming
Tecnologia que proporciona o uso de conteúdos em nuvem
sem a necessidade de realizar downloads ou instalação
nas máquinas de utilização. No Brasil, a Lei Complementar
157 de 2016, incluiu a “disponibilização, sem cessão defi-
nitiva, de conteúdos de áudio, vídeo, imagem e texto por
meio da internet, respeitada a imunidade de livros, jornais
e periódicos [...]” na lista de atividades para arrecadação do
Imposto Sobre Serviços (ISS).

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O Artigo 3 º da LC 116/2003 indica que o ISS é devido “no
local do estabelecimento prestador ou, na falta do esta-
belecimento, no local do domicílio do prestador [...]”, ou
seja, os empreendimentos são obrigados a arrecadar tal
imposto no município onde as atividades são realizadas.
O grande problema é que esses serviços são utilizados em
rede e sem limites geográficos, o que na prática pode fazer
com que os empreendimentos que têm alcance nacional
tributem em cada um dos municípios onde possuem clientes.

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Como abordado no capítulo 1, esse tipo de situação faz
parte do ambiente fiscal brasileiro, onde dependendo de
interpretações jurídicas, tais serviços podem sofrer a bi-
tributação das atividades. Mais um fato que complica a
tributação dos serviços de streaming é a própria dificulda-
de de definir a natureza de tais tecnologias como serviços
ou produtos, sendo que muitas vezes a empresa acaba
apenas disponibilizando um conteúdo online que não foi
produzido por ela, seria uma cessão de direitos autorais,
cujos direitos não pertencem à estas empresas. É o mes-
mo que uma locação, cuja incidência de ISS já foi afastada
pelo STF.

Nos últimos meses, várias cidades alteraram suas legisla-


ções locais, seguindo a LC 157 para a cobrança do ISS dos
serviços de streaming, porém, empresas de grande porte
como o Netflix e o Spotify devem recorrer a cobrança do
ISS na justiça. Mesmo com a possibilidade de alteração
futura da lei, recomenda-se que as empresas tributem ade-
quadamente seus serviços, uma vez que o não pagamento
pode gerar multas retroativas num período de até cinco
anos.

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Organização e planejamento
fiscal das empresas de TI
A melhor forma de evitar prejuízos, multas e incomodações
com os órgãos de fiscalização tributária é realizando um
planejamento fiscal adequado das empresas de tecnolo-
gia. Esse processo tem início no registro da empresa com
a definição correta da atividade desempenhada (se serviço
ou produto), a criação de um contrato social que considere
benefícios fiscais para os empreendimentos, e ainda a es-
colha do regime tributário. Com a definição correta destas
características do negócio, a empresa evita o pagamento
de tributos acima do necessário, assim como dívidas fis-
cais e problemas fiscais.

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Mais do que buscar um modelo de contrato pronto, os gesto-
res das empresas de tecnologia devem ficar atentos às várias
particularidades do setor. Com as constante mudanças na
legislação e incertezas tributárias referentes aos novos ser-
viços digitais torna-se fundamental buscar auxílio contábil e
jurídico. Profissionais especializados podem avaliar o melhor
regime tributário para o negócio, preparar a empresa para es-
calar com segurança, e organizar o orçamento para reduzir
os gastos com impostos.

Em startups e pequenos empreendimentos que dispõem de


recursos limitados para a contratação interna de contadores,
tais atividades podem ser terceirizadas com escritórios espe-
cializados no setor de tecnologia, como a MK Soluções Em-
presariais.

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Conclusão
Os gestores e empreendedores do setor de tecnologia de-
vem estar atentos à legislação, principalmente os novos
serviços que ainda não foram regulamentados. Com as
incertezas jurídicas provocadas pelo ambiente fiscal bra-
sileiro, torna-se fundamental buscar profissionais especia-
lizados em tecnologia e que possam organizar a empresa,
adotando o melhor regime tributário e definindo a catego-
ria correta das atividades desempenhadas. Também é im-
portante que os profissionais busquem informações sobre
o segmento em revistas, sites e blogs como da MK Solu-
ções Empresariais.

Obrigada pela leitura e até a próxima.

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Sobre a MK Soluções Empresariais
Trabalhamos há mais de 20 anos com soluções contábeis, adminis-
trativas, de recursos humanos, financeiras e tributárias para empre-
sas. Nesse tempo nos tornamos especialistas no setor de tecnologia,
acompanhando as mudanças e inovações do mercado. Mais do que
serviços contábeis ou financeiros, oferecemos um atendimento perso-
nalizado para empreendedores, gestores e profissionais do segmento
com soluções específicas para o seu negócio.

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