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TCC Ramon Bouzo
TCC Ramon Bouzo
Rio de Janeiro
2017
RAMON MATHEUS DE MOURA BOUZO
Rio de Janeiro
2017
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer aos mais pais, Maricélia de Moura e Mario Bouzo, pelo apoio e
suporte que me foi dado durante toda a vida. Sem vocês eu já mais teria entrado e cursado
uma universidade da importância da UFRJ.
Agradeço a minha namorada Maria Bianca Irace, por todo apoio emocional, por
sempre acreditar em mim e por sempre estar ao meu lado nos momentos em que eu mais
precisei.
Agradeço a todos os meus amigos da classe de 2013.1 em especial à Amanda Zuniga,
Barbara Machado, Gabriela Rodrigues, Lucas Rodrigues, Paola Moura, Marcus Vinícius
Amaral e Vivian Mattos. Vocês tornaram minha graduação uma experiência fantástica. Não
consigo imaginar minha trajetória na universidade sem vocês.
Agradeço aos entrevistados, nesse trabalho, que foram extremamente solícitos e
ajudaram essa monografia a ganhar relevância.
Agradeço a minha orientadora, Adriana Marques, pelo suporte e pela paciência ao me
orientar durante a esse trabalho. Sem sua ajuda eu jamais teria saído dos primeiros parágrafos.
Por fim agradeço a todo corpo docente e técnico do curso de graduação em Defesa e
Gestão Estratégica Internacional, vocês me ensinaram lições que levarei durante toda a minha
vida e me proporcionaram fazer nesse trabalho uma análise com um olhar crítico e profundo.
Em especial ao professores Henrique Paiva e Flavia Seidel que acompanharam durante minha
trajetória como monitor.
ABSTRACT
This course conclusion work, presents a study of the Integrated Border Monitoring
System (SISFRON), within the logic of the Interorganizational Cooperation and the Civil-
military relations area. This work analyzes the challenges of SISFRON in a future application
in the Amazon region. Understanding the Brazilian Amazon as a region of urban
characteristics and not an immense uninhabited forest, this work presents the problematics of
the region, especially the action of the transnational illicit networks and, seeks to understand,
how the military perishes and responds these threats. Lastly, analyzes the SISFRON
functioning, organization, how it is presented on the brazilian defense documents and their
current situation.
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................7
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................61
REFERÊNCIAS........................................................................................................................63
7
INTRODUÇÃO
1 CAPÍTULO I
Rebecca Schiff faz uma releitura do pensamento teórico de Janowitz e apresenta uma
discussão das relações civis-militares na conjuntura dos Estados Unidos. Ela afirma que as
Forças armadas podem contribuir com outras agência governamentais em temas domésticos
além de assessorar o poder político e defender a nação de invasões estrangeiras, entretanto as
Forças armadas, nos Estados Unidos não estão envolvidas na formulação de decisões
políticas, havendo uma separação entre as instituições militares e civis nessa esfera sob o
argumento de que a presença militar poderia ser uma ameaça à democracia. Ou seja, há uma
acentuada fronteira entre o papel das instituições militares e civis (Schiff, 1995).
10
Para Rebecca Schiff, essa fronteira entre as instituições civis e militares seria
decorrente do modelo de relações civis-militares de Samuel Huntington, ainda muito influente
nos Estados Unidos. Huntington, em seu livro The Soldier and the State de 1957, cria um
modelo normativo de controle civil sobre as Forças armadas. Segundo o autor, o controle civil
sobre os militares poderia ser subjetivo ou objetivo. O controle civil subjetivo seria exercido
por algum grupo, setor, instituição ou interesse político particular o que levaria a uma
instrumentalização do poder militar. Huntington mostrou receio com esse tipo de controle
temendo uma maior influência das Forças armadas nas decisões políticas (Huntington, 1957).
Para o autor, o tipo de controle civil mais efetivo seria o controle civil objetivo sobre
as instituições militares. Neste modelo haveria uma maximização do profissionalismo militar
e as Forças armadas seriam um instrumento do Estado, politicamente neutras e obedientes ao
grupo que detivesse a autoridade política. De acordo com Huntington, esse modelo seria o
mais adequado para um equilíbrio entre as Forças armadas e o poder civil, diminuindo a
influência dos militares nos assuntos políticos (Huntington, 1957).
pelas ligações críticas entre os cidadãos e os militares, mas também pelo contato entre os
militares e o governo.
O processo de tomada de decisão política envolve o processo institucional das
organizações da sociedade que afetam o funcionamento das Forças armadas e sua satisfação
em geral. Esse processo inclui o orçamento, tamanho, materiais, equipamentos e estrutura das
Forças armadas. As decisões são tomadas pelas elites políticas podendo envolver a
participação de oficiais militares.
O método de recrutamento refere-se ao modo como o alistamento de cidadãos para
as Forças armadas é feito. O recrutamento pode ser coercivo, onde os recursos são obtidos de
forma forçada e os cidadãos são obrigados a servir o que pode afetar a concordância entre os
militares e a cidadania, ou persuasivo, onde o alistamento nas Forças armadas pode ser
voluntário ou não. Para o recrutamento são expostos aos cidadãos motivos segurança,
patriotismo ou qualquer outra causa nacional. O recrutamento persuasivo ocorre quando os
três parceiros alcançam acordo ou concordância sobre os requisitos e composição das Forças
armadas.
1
Essa cooperação entre militares e cientistas sociais materializou-se no projeto Terreno Humano (Human
Terrain Project). O conceito atual do Terreno Humano começou a tomar forma na Guerra do Vietnã, com o
objetivo de apoiar as operações militares dos EUA por meio da coleta dados de inteligência, e ganhar os
“corações e mentes” dos sul-vietnamitas. Entretanto o atual conceito do Terreno Humano só foi
institucionalizado em fins de 2010, na conjuntura das guerras do Iraque e Afeganistão. A ideia inicial do Terreno
12
Ainda no artigo de 2012, Rebecca Schiff apresenta a teoria das parceiras focalizadas
(Target partnership) que pode ser entendida como um desdobramento da teoria da
concordância ou como um acordo em relação a uma aliança específica entre os militares e os
condutores da política:
Em suma a teoria das parceiras focalizadas, apresentada em 2012 por Rebecca Shiff,
acredita que a cooperação entre civis e militares se realizada com o intuito de resolver algo
específico pode ter um potencial de ação muito maior e eficiente do que a ação
Humano, era de um sistema integrado, com o emprego de militares e cientistas sociais, para fornecer aos
comandantes militares uma melhor compreensão da população local do ambiente operacional no qual estavam
inseridos.
O Terreno Humano sofreu críticas dentro das Forças armadas americanas de militares que não veem com “bons
olhos” a realização de um trabalho eminentemente militar por acadêmicos civis, e de estudiosos e acadêmicos de
outros países, que o veem como um conceito pensado por acadêmicos norte-americanos, para ser aplicado por
suas tropas (e de seus aliados) em outros países, contra um inimigo dos Estados Unidos (Ruiz, 2014).
2
“This concordance is usually for a limited period of time to provide a short-term yet pivotal strategic
framework for civil–military collaboration. It is also intended to accomplish a very specific objective relevant to
foreign policy and military strategy at the political decision-making level
13
O SISFRON pode ser analisado dentro da lógica da teoria das parcerias focalizadas,
uma vez que as burocracias estatais envolvidas no projeto, baseado no modelo de cooperação
interagências, tendem a se especializar em questões estratégicas específicas de suas áreas,
tendo como pano de fundo um objetivo estratégico comum: o monitoramento das fronteiras
brasileiras. Na literatura brasileira que trata das relações civis-militares, Eliezer Rizzo de
Oliveira em sua análise sobre os documentos de defesa brasileiros chama a atenção para a
prioridade atribuída à região amazônica nestes documentos e os possíveis desdobramentos
desta decisão para o preparo e emprego das Forças armadas brasileiras (Oliveira, 2009).
No que diz respeito ao cumprimento de missões militares, David Pion Berlin enfatiza
o alto poder de barganha que as Forças armadas dos países latino-americanos podem ter com
os governos civis, antes e durante a execução das missões. Os militares vão desde a recusa a
sua obrigação, à definição das condições para seu cumprimento e à negociação com o
governo, para, finalmente, cumprirem as ordens. Quanto mais profissionalmente indesejáveis
a missão for para as Forças armadas, mais é provável que os militares não respondam
favoravelmente. Entretanto, quando as condições são favoráveis e profissionalmente
gratificante, as Forças armadas irão realizar as missões sem relutância. (Berlin, 2012).
cooperação interagências seria essencialmente diferente dos métodos rotineiros. Este método
visaria a solução de crises e seria utilizado dentro dos ministérios ou agências de governo,
onde se buscaria compor planos detalhados para alcançar objetivos declarados, dificultando
uma ação mais rápida e eficiente:
“As decisões públicas se tornaram mais complicadas com as fronteiras entre estruturas
nacionais e internacionais de decisões cada vez mais porosas. O aumento exponencial
das partes inter-relacionadas na estrutura de causalidade dos problemas, o aumento da
densidade, qualidade e disponibilidade de informações com a aceleração dos ciclos de
decisões, e o aumento do número de atores simultaneamente envolvidos nos processos
de decisão e ação, com escopos de competências complementares, redundantes e
competitivos, tem levado a gastos públicos desnecessário ou excessivos, sem
resultados adequados. Também tem levado à lacunas de decisão e desorientação,
concorrendo para aumentar a vulnerabilidade nacional em temas críticos e, em última
instância, concorrendo para que vulnerabilidades e ameaças se materializem em
catástrofes” (RAZA, 2012, p.12).
Uma das formas de corrigir os problemas e construir alternativas para as crises dos
processos de tomada de decisão da gestão pública, tanto nacional quanto internacional, é a
construção e implementação colaborativa e cooperativa de políticas e estratégias estabelecidas
dentro da dinâmica das relações institucionais interagências.
Segundo Marcelo Paiva, o conceito de interagências surgiu, por meio de estudos sobre
a aplicação desse sistema de trabalho em organizações públicas ligadas às áreas política,
social, ambiental e de segurança e defesa dos Estados Unidos da América (EUA) e do Reino
Unido. O valor público que as agências criam no ambiente de interagência, baseia-se no
incremento dos resultados que serão obtidos por meio da cooperação, uma vez que as Forças
armadas não são instituições com finalidades lucrativas.
Diego Aponte e Juan Franco também escrevem sobre o caso colombiano. Eles
definem a cooperação interinstitucional e interagências como um processo em que se
concentram e se sincronizam meios e esforços de várias instituições e agências que buscam
gerar valor na gestão pública para alcanças objetivos definidos. A cooperação interagência é,
além de um processo técnico, um processo político com dois níveis, um relacionado com a
definição diretrizes que guiam ação interagências e outro relacionado com a implementação
das políticas (Aponte; Franco, 2006).
processo que envolve seres humanos e organizações complexas com diferentes culturas e
perspectivas sobre o que é melhor para o desenvolvimento nacional e qual é o melhor modo
para realização de políticas públicas.
Já Roger Mayers e James Davis (1995) definem a confiança dentro das organizações
como a aceitação de um determinado nível de vulnerável em relação a um outro membro da
organização na expectativa de que esse membro irá realizar ações importantes,
independentemente de estar sendo monitorado ou controlado.
Estabelecer a cooperação entre as agências pode ser uma tarefa difícil. Olson e
Gregorian (2007) apontam uma série de fatores que tornam a integração e a colaboração
problemática entre as agências:
(1) fatores políticos, os interesses nacionais e elementos políticos podem impor novas
demandas ou comportamento às agências envolvidas;
(2) objetivos incompatíveis, dado que algumas agências mantêm interesses políticos
diferentes ou até mesmo contraditórios, essas divergências podem ocorrer até mesmo dentro
das próprias agências;
(3) diferentes visões de paz, agências que partem de princípios de paz diferentes
acabam divergindo na construção de um objetivo final comum.
Para Olson e Gregorian (2007) muitas vezes, a coordenação é vista como uma questão
puramente técnica, como alcançar a melhor estrutura de compartilhamento de informações ou
como um problema político, como a necessidade de obter o consentimento de alguns grupos
para concordar em ser coordenados por outros. Além disso, as pessoas operam com diferentes
mapas mentais, causando conflitos nas operação conjunta e, portanto, lidar com isso passando
por um processo de coordenação, é muitas vezes um problema sem solução.
Peter Kim, Donald Ferrin, Cecily Cooper e Kurt Dirks (2004) realizaram um estudo
sobre os efeitos do pedido de desculpas na reparação das relações de confiança. Segundo os
autores, o processo de reparação de confiança pode ser mais difícil do que construir a
confiança, demandando diferentes estratégias. Um dos desafios de reparação de confiança é
que a magnitude do esforço necessário para a recuperação da confiança é bem maior do que o
esforço dispendido no desenvolvimento inicial do processo de construção da confiança. Uma
vez que a confiança é uma construção complexa e multifacetada, os esforços de reparação de
22
confiança são atividades direcionadas a fazer com que a parte desconfiada volte a confiar e
tenha uma atitude mais positiva após um processo de quebra de confiança.
Estabelecer uma estratégia para a reparação da confiança entre as agências não é uma
tarefa simples. Os esforços de reparação de confiança geralmente precisam se concentrar na
convicção da confiança, bem como nas intenções. Além disso, a dificuldade em escolher a
resposta apropriada para o reparo da confiança é grande pois partes da equipe podem ter que
lidar com as consequências de ações das quais elas não executaram e, até mesmo, ter de
reconstruir a confiança com pessoas que não foram diretamente prejudicadas por estas ações
(Kim et al., 2004).
Os autores também colocam que a pessoa que violou a confiança deve seguir quatro
passos para tentar restabelecer a confiança. Primeiro o infrator deve reconhecer e admitir que
uma violação ocorreu, segundo, ele deve determinar a causa da violação, terceiro, ele deve
admitir que o ato era destrutivo, quarto, ele deve aceitar a responsabilidade por sua parte na
violação e oferecer uma reparação para compensar o ocorrido.
danos causados à vítima ou, não demonstrar interesse em assumir a responsabilidade por seus
atos, é improvável que a vítima queira restaurar o nível anterior de confiança (Lewicki e
Bunker, 1996).
É importante que haja um processo de reparação mesmo que a vítima não solicite. Pois
se não houver algum tipo de reparação o relacionamento entre as partes vai experimentar
momentos de tensão, de modo que o violador vai continuar se sentindo envergonhado e
esperando uma ação de vingança ou retaliação e a vítima pode entrar em um estado de
hipervigilância para com todas as ações futuras do violador podendo abalar a confiança entre
as partes.
Para Marcelo Paiva a cultura de trabalho conjunto ainda não está consolidada mesmo
com as similaridades do processos cultural e histórico das Forças Armada brasileiras. Será
necessário conviver com desacordos e rupturas, reavaliando a metodologia tradicional de
trabalho. A liderança possui papel fundamental em todos os níveis, visto que cabe a ela
desenvolver competências necessárias ao trabalho interagências (Paiva, 2013).
agência e cada agente designado para a integração sinta que o sistema é confiável e que seus
dados são importantes para o cumprimento da missão. O trabalho depende da união de
interesses de todos os participantes. De modo que não há nenhum tipo de subordinação
funcional entre as agências, gerando a necessidade de se entender e respeitar a cultura, a
filosofia, os objetivos, as práticas e as habilidades de cada agência. O Ministério da Defesa
deve atuar no nível estratégico buscando uma aproximação com os órgãos civis que integrarão
a operação. Os comandos subordinados devem atuar no nível tático, buscando um
estreitamento de laços principalmente no que tange à inteligência (Cerávolo, 2014).
25
2 CAPÍTULO II
CARACTERÍSTICAS E VULNERABILIDADES
DA AMAZONIA BRASILEIRA.
3
SECRETO, Maria Verônica. A Ocupação dos “Espaços Vazios” no Governo Vargas: do “Discurso do
Rio Amazonas” à saga dos soldados da borracha. Estudos históricos, nº 40, julho-dezembro de 2007.
26
“Assim, a colonização amazônica a diferencia das demais regiões do país, não apenas
pelo isolamento geográfico de algumas cidades, ou pelo pequeno porte da maioria
dessas, mas que reflete grande importância local. As escalas de aglomeração seguem
padrões definidos pela acessibilidade, pela cultura, pela relação com o meio ambiente
e com a terra, e dependem fortemente dos processos em curso no espaço rural”.
(Costa, 2013. p.2).
Para Bertha Becker (2005), houve uma mudança na organização das cidades
amazônicas, Segundo a autora, a Amazônia é uma “floresta urbanizada”. O povoamento
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regional passou a se localizar ao longo das rodovias e não mais, necessariamente, na margem
dos rios. Além disso, dentro do processo de urbanização amazônico, observou-se na região
uma intensa mobilidade espacial com forte migração e contínua expropriação de terra.
Becker (2005) alerta que muitos podem não considerar esses nucleamentos como
urbanos, entretanto ela ressalta que esse é o modelo de urbanização no Brasil e que a
urbanização não pode ser medida só pelo crescimento e surgimento de novas cidades, mas
pela veiculação dos valores da urbanização da sociedade.
Em suma, é importante pensar a região amazônica, não apenas como uma região
dominada pela floresta ou associada ao caos e a ilegalidade. A região possui, sim uma série de
questões que torna as suas cidades e as populações locais vulneráveis. Entretanto, isso não
29
exclui o fato de ela ser uma região urbana de características únicas e com um importante
papel dentro da dinâmica nacional.
Antes de seguir com a questão dos ilícitos na região da fronteira amazônica, é preciso
definir brevemente os conceitos de: território, soberania, limite político territorial, fronteira e
faixa de fronteira.
Mas a fronteira nem sempre precisa ser pensada como um elemento de divisão. A
fronteira é objeto permanente da preocupação dos estados, no sentido de controle e
vinculação, mas poderia ser um fator de integração, uma vez que é uma zona de
interpenetração mútua, com constante manipulação das estruturas sociais, políticas e culturais
distintas (Machado, 1998).
Uma das maiores problemáticas relacionadas a ilícitos que afligem a região amazônica
é a questão dos crimes transnacionais. O caráter transacional do crime organizado ainda está
por ser conceituado, entretanto, o delito transnacional e o delito transfronteiriço, podem ser
entendidos como uma metáfora jurídica utilizada para conceituar uma ação ilícita cujos
resultados extrapolam os limites territoriais de uma nação (Sposito, 2007). Albanese (2009)
define o crime transacional como sendo violações da lei que envolvem mais de um Estado no
planejamento, execução ou impacto, podendo ser divido em 3 grupos, os que se relacionam
bens ilícitos, serviços ilícios e operações ilegais em empresas e governos.
De acordo com a legislação brasileira, uma atividade ilícita dos grupo criminosos
organizados, passa a ter um caráter transnacional quando:
“A) For cometida em mais de um Estado; B) For cometida num Estado, mas uma
parte substancial da sua preparação, planeamento, direção e controle tenha lugar em
outro Estado; C) For cometida num só Estado, mas envolva a participação de um
grupo criminoso organizado que pratique atividades criminosas em mais de um
Estado; ou D) For cometida num só Estado, mas produza efeitos substanciais noutro
Estado.” (Brasil, 2004).
As redes ilícitas transnacionais são uma ameaça constante na região amazônica. Para
Robin (2004) “o crime transnacional seguiu o mesmo processo do desenvolvimento
econômico: precisou aumentar a sua interdependência e se estabeleceu com a globalização, e
sempre se fez presente onde estava o lucro”. Esses crimes impõem uma revisão das doutrinas
de segurança internacional do Brasil, bem como a de todas as nações, e se não disciplinados a
tempo podem afetar diretamente a soberania estatal. Sposito destaca a importância da
cooperação internacional como mais um modo de combater os ilícitos trasnacionais:
Essa vulnerabilidade incentiva a atuação de atores ilícitos motivados por uma sensação
de impunidade dado a baixa presença do Estado comparada a grande extensão territorial da
região. A área das fronteiras brasileiras é vulnerável devido a fraca presença do Estado
brasileiro, baixa densidade populacional e municípios com dificuldades socioeconômicas.
Além disso, a extensa dimensão territorial das fronteiras amazônicas também funciona como
vetor de incentivo para a atuação de atores ilícitos como observado por Lessa e Silva:
A fronteira norte é uma porta aberta para as atividades ilícitas transacionais, com
destaque para tráfico de armas e munições, entorpecentes, madeiras e minerais e lavagem de
dinheiro (Ishida, 2007). O contrabando de ouro e de diamante, a biopirataria, a grilagem de
terras e o desmatamento ilegal, somando-se com o narcotráfico e a lavagem de dinheiro, são
as atividades na Amazônia que colocam em risco a soberania do Estado brasileiro, uma vez
que as políticas de defesa nacional ainda encontram dificuldades para definir respostas mais
efetivas para essas questões (Couto, 2011).
A região de fronteira na região amazônica é uma das principais áreas de atuação das
redes criminosas transnacionais, dada as porosidade das fronteiras brasileiras e pela
proximidade com os outros Estados, o que dá uma maior margem da manobra para esses
atores ilícitos. O território não é um sistema fechado e estático, mas sim aberto e com
relações, uma vez que trocam bens, trabalho e informação com ambiente, incluindo aí as redes
legais e ilegais (Machado, 2003).
Por ser palco de atuação das redes transacionais de ilícito, a região das fronteiras
amazônica acaba sendo afetada por uma série de impactos de acordo com Araújo:
Uma das principais atividades ilícitas transnacionais que atuam e geram mais impactos
na região amazônica é o narcotráfico. A Amazônia brasileira é “bombardeada” pelas redes do
narcotráfico, ligadas às organizações criminosas situadas nos países andinos (maiores
produtores de cocaína do mundo), essa “invasão” traz um impacto negativo no território, uma
vez que exerce influência na política, na economia e na cultura. Geopoliticamente, a região
amazônica é de interesse das redes do narcotráfico, devido a sua localização e de suas
particularidades, que auxiliam no funcionamento do comércio ilícito, geração de lucro, e
fazem com que essas redes continuem desafiando o poder do Estado (Couto, 2014).
O narcotráfico é uma ameaça não tradicional, uma vez que não depende
necessariamente do poder estatal para o seu desenvolvimento. A maior ameaça de caráter não
tradicional, presente na América do Sul, seria o tráfico de drogas, uma vez que o narcotráfico
se associaria com a maior parte das outras atividades ilícitas transacionais, e também com as
guerrilhas atuantes nos países andinos. Para os Estados Unidos, o narcotráfico, é tratado como
questão de defesa nacional e objeto de suas ações mais importantes na região.
Mesmo essas redes de crimes ilícitos tendo boa parte de suas operações na região de
fronteira amazônica, é importante não generalizar todos os casos ou definir a região como
conivente com os crimes transnacionais ou como uma zona de guerra. A visão muito
difundida de que a fronteira é um local privilegiado de práticas ilegais, de insegurança
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2.2.6 A Visão das Forças Armadas Sobre as Ameaças Não Tradicionais na Amazônia.
Nas últimas décadas a Amazônia tem se destacado como uma das prioridades da
política de defesa brasileira. De acordo com Piletti (2008), nos últimos 20 anos há um
deslocamento paulatino das preocupações militares brasileiras da região sul-sudeste para a
região amazônica o que implica em uma série de mudanças estruturais que vão desde a
transferência de efetivos para a Amazônia, até a mudança doutrinária, com vista ao
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O fato de não haver um consenso sobre as ameaças não tradicionais gera diversas
visões sobre quais atividades podem ser enquadradas nesta categoria e dúvidas sobre quais
agências deveriam enfrentar essas ameaças. O Exército brasileiro considera os crimes
transnacionais, e as guerrilhas que atuam na Amazônia andina, pela ótica da segurança
tradicional e da defesa da soberania nacional e teme que a intensificação de ameaças
transnacionais na Amazônia possa ser um flanco para que a comunidade internacional acuse o
governo brasileiro de ser incapaz de controlar seu próprio território e proteger a floresta
amazônica, abrindo espaço para intervenção internacional (Marques, 2004).
Outra possibilidade de intervenção militar na Amazônia temida pelo Exército estaria
baseada na ideia de balcanização e mexicanização da região. A balcanização da Amazônia
estaria relacionada à existência de reservas indígenas na região que poderiam servir de
38
Além disso, o Exército brasileiro rejeita a tese de que deva participar diretamente do
combate ao tráfico de drogas por não acreditar que o aparelho militar seja o instrumento mais
eficaz para combater o tráfico e por temer uma influência do poder de corrupção das
organizações criminosas ligadas a estas atividades (Marques, 2007).
De acordo com a Constituição Federal de 1988, Brasil (2017), no § 1ºdo Art. 144,
prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e exercer as funções de
polícia marítima, aérea e de fronteiras, fica a cargo da Polícia Federal. Entretanto de acordo
com a Lei complementar Nº 136, de 25 de Agosto de 2010:
Em suma, ainda que os militares não considerem como sua responsabilidade exclusiva
o combate às ameaças não tradicionais, eles acabam em constante contato com essas ameaças,
uma vez que elas estão presentes em locais considerados estratégicos, como a Amazônia, logo
respostas para essa questão vem sendo pensadas mesmo que de forma indireta.
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3 CAPÍTULO III
O Calha Norte sofreu modificações significativas desde sua implementação, até hoje.
Em seu início, o projeto tinha um caráter militar, com foco na manutenção da soberania
brasileira sobre território amazônico e dissuasão das possíveis ameaças a esse território.
Entretanto, na década de 1990, o Calha Norte passou a dar prioridade a vertente civil e
ganhou o status de programa governamental, conseguindo, assim, reverter a falta de
investimentos públicos e a pouca visibilidade que o programa tinha na época. Hoje o Calha
Norte está inserido na dinâmica dos documentos de defesa lançados pelo governo federal:
Política de Defesa Nacional (2012), Estratégia Nacional de Defesa (2012) e Livro Branco de
Defesa Nacional (2012).
41
Mesmo sendo um programa de 1985, o Calha Norte ainda é relevante nos dias atuais.
A área de atuação do Programa Calha Norte, passou de 1.500.000 km² em seu lançamento em
1985 para 2.743.986 km² a partir de 2006. O PCN não se insere apenas na perspectiva clássica
de defesa nacional. Hoje o programa está voltado para o desenvolvimento das cidades, em sua
área de atuação, por meio de obras que abarcam desde o aumento do contingente militar até a
implantação de infraestrutura básica, como construção de hospitais, aeródromos, estradas,
escolas agro-técnicas, tubulação para abastecimento de água potável etc. Com o intuito de
desenvolver a região sob uma perspectiva sustentável e fixar o homem à terra, em uma
tentativa de diminuir o dito “vazio demográfico” da região (Nascimento, 2013).
A conjuntura geopolítica pós Guerra Fria impôs ao Brasil novas demandas para se
pensar a defesa da Amazônia. A criação do SIPAM-SIVAM se dá no cenário de globalização
econômica e construção de uma “nova agenda”, com demandas de defesa supranacionais,
como o narcotráfico, a biopirataria e principalmente a questão ambiental após a Conferência
da ONU sobre Desenvolvimento e Meio Ambiente (RIO 92). Nesta Conferência, o Brasil se
sentiu pressionado pela comunidade internacional com o descaso em relação a Amazônia
(SENA, 2012). Diante dessa nova conjuntura nasce o SIPAM-SIVAM.
O SIPAM-SIVAM surgiu no governo Fernando Collor de Mello (1990) por iniciativa
da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE/PR), Ministério da
Justiça e Ministério da Aeronáutica. A justificativa era baseada na deficiência de informações
necessárias para a formulação de ações governamentais pertinentes à Amazônia (Nascimento,
2013).
O sistema SIPAM-SIVAM (Proteção e Vigilância da Amazônia) é um projeto de
características multiministeriais, que tem como seus objetivos, o combate a entrada irregular
do narcotráfico, a proteção meio ambiente e o estabelecimento de regras fronteiriças de
ocupação ainda pouco consolidadas (SENA, 2012). O SIPAM, assim como o Calha Norte
após sua renovação, apresenta uma tendência de integração das esferas da administração
pública em seus níveis federal, estadual e municipal, além de outros setores da sociedade civil
e centros de produção científica (Nascimento, 2013).
De acordo com Humberto Lourenção: “O SIPAM é a organização governamental
gestora das informações estratégicas provindas do banco de dados do SIVAM, cujos elos são
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As Operações Ágatas são uma das vertentes do Plano Estratégico de Fronteiras. Essas
operações possuem um caráter temporário, em pontos estratégicos na fronteira terrestre
brasileira, de combate ostensivo à criminalidade e é coordenada pelo Ministério da Defesa,
com o apoio dos ministérios da Justiça e da Fazenda. A iniciativa serve para coordenar o
planejamento e execução de operações militares, policiais e sociais em cooperação com países
fronteiriços. As Ágatas intensificam a presença do Estado nas regiões de fronteira e o apoio à
população e promovem ações que visam cumprir as determinações do Plano Estratégico de
Fronteiras, do Governo Federal (Paiva, 2013) e (Santos,2015).
A primeira Operação Ágata foi realizada em 2011, no estado do Amazonas, na
fronteira com Colômbia, Peru e Venezuela (Santos, 2015). Atualmente, vem sendo deflagrada
a operação “Ágata-Curare IX”, no Acre, nas cidades de Plácido de Castro, Santa Rosa do
Purus, Brasileia, Capixaba, Acrelândia, Assis Brasil e Epitaciolândia, e em Rondônia na
cidade de Guajará-Mirim (G1, 2017) e (Nascimento, 2017). Como a operação está em curso,
ainda há poucas informações disponíveis no momento.
conexões locais até redes internacionais. É importante pensar em soluções que estimulem a
cooperação com os Estados fronteiriços amazônicos e que levem em conta as realidades e
dinâmicas locais, sem marginalizar as populações e as cidades, mas sim criando mecanismos
que também envolvam esses atores no processo (Nascimento, 2013).
Nos últimos anos o projeto SISFRON vem se apresentando como uma resposta à
questão dos ilícitos transacionais diferentemente do Projeto Calha Norte, que é muito
vinculado à ideia de ocupação do território, e do SIPAM/SIVAM que representa uma
inovação em relação ao Calha Norte já que aposta no apoio tecnológico para a vigilância da
fronteira, o SISFRON associa o monitoramento com apoio de instrumentos tecnológicos à
atuação de diferentes agências governamentais, brasileiras e de países vizinhos, para combater
as ameaças não tradicionais às fronteiras amazônicas.
Armadas, a partir das Leis Complementares 97/1999, 117/2004 e 136/2010, e, por fim, o
lançamento do Plano Estratégico de Fronteiras (Brasil, 2016).
A END impôs novas diretrizes para os setores responsáveis pela Defesa Nacional.
Sendo o SISFRON a resposta do Exército brasileiro a essas novas demandas. Analisando as
diretrizes 12, 13 e 14 da END, Eliezer Rizzo de Oliveira, observa uma adaptação das Forças
armadas para a guerra contra forças não convencionais, especialmente para a guerra na selva e
a guerrilha urbana, sob o argumento da estratégia da resistência diante da ocupação do
território brasileiro por força militar superiormente dimensionada (Oliveira, 2009). A END
busca diminuir as diferenças operacionais entre as forças convencionais e não convencionais
amparando-se no conceito de flexibilidade. Além disso os combatentes deverão adquirir esta
habilidade com militares de outras forças, contarão com um conjunto de tecnologias de
comunicação e terão uma alteração cultural da autoimagem e identidade dos militares
enquanto categoria profissional. A END passa a exigir dos militares um elevado grau de
preparo profissional dos combatentes, por meio de uma especial capacidade de mobilidade,
qualidades de iniciativa, flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de gerar surpresa no
campo de batalha (Oliveira, 2009).
4
O PEF foi Revogado pelo Decreto nº 8.903, de novembro de 2016 e substituído pelo Programa de Proteção
Integrada de Fronteiras (PPIF) (Brasil,2016). O PPIF será integrado por representantes do gabinete se segurança
49
O SISFRON é a nova fronteira do Brasil, uma vez que o principal objetivo do sistema
é fortalecer a defesa territorial e garantir a soberania nacional na faixa de fronteira,
aumentando o poder de dissuasão do Estado brasileiro e contribuindo decisivamente com o
seu esforço de manter efetivo controle das citadas áreas e de desenvolvê-las (Araújo, 2012).
O SISFRON não é um projeto isolado. Ele faz parte de uma rede integrada de sistemas
de monitoramento e controle brasileiros. O desenvolvimento do SISFRON ocorre em paralelo
com os projetos da Marinha e da Aeronáutica; Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul
(SisGAAz), Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro (SISCEAB) e o de Sistema de
Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDABRA) – projetos que no futuro, se forem interligados,
farão a vigilância preventiva de todo o território nacional (Cossul; JAEGER, 2016). O
Sistema Brasileiro de Vigilância (SISBRAV) fará a integração de todos esses sistemas de
monitoramento e controle (Brasil, 2012).
O SISFRON utiliza um ciclo conhecido como OODA (observa, orienta, decide e atua).
Em tempos de guerra, o OODA visa levar o sistema de comando e controle do inimigo rumo
51
dos dados. Quando o SISFRON estiver em sua fase de atuação plena, o sistema integrará o
SIG, Sistema Integrado de Gestão, que utiliza o sistema OLAP (Online AnalyticalProcessing)
para o gerenciamento dos bancos de dados.
as diferentes Forças Armadas e a construir sociedades mais prósperas e mais justas (Alves,
2004). Essa cooperação deve ser aprofundada nos mais diversos campos, como o social e o
econômico, uma vez que o conceito de segurança extrapola o setor militar. Esse iniciativa é
um pilar básico de iniciativas entre o Brasil e seus vizinhos como a UNASUL como
observado por Barbosa:
exercerá, quase sempre, um papel de liderança entre as agências envolvidas, devido a uma
presença histórica na faixa de fronteira, à grande disponibilidade de efetivos, infraestrutura,
logística e a capacidade de monitoramento que será fomentada pelo SISFRON: “para que essa
liderança seja exercida em sua plenitude e possa ampliar ainda mais o êxito das operações,
faz-se necessário o desenvolvimento de capacidades e conhecimento sobre as formas de
atuação das diversas agências envolvidas” (Lins, 2015).
Nem sempre a cooperação interagências ocorre de forma plena, o que, por sua vez,
atrapalha na execução da operação. Em um questionário, aplicado em um universo de 89
(oitenta e nove) militares, que haviam participado de alguma Op IPFF ou Operação
Interagências ou servido em organização militar situadas na faixa de fronteira, apontou, os
principais fatores que dificultam ou impedem a integração interagências em operação
interagências. Os três fatores mais indicados foram as “diferenças na cultura organizacional”
(26%), a “ausência de planejamento conjunto” (19%) e a “susceptibilidade à interferência
política em algumas agências” (17%) (Lins, 2015).
Segundo o General Leite, o SISFRON não será uma tranca nas fronteiras brasileiras,
mas diminuirá a ação de ilícitos transacionais. Como as redes de contrabando e descaminho.
O SISFRON é um sistema que vem sendo montado mas ainda não está tão integrado. Pronto,
o SISFFRON vai aumentar a integração e a vigilância das fronteiras.
De acordo com Leite, o SISFRON será uma operação Ágata de menor intensidade,
mas permanente. Dentro das operações interagências a coordenação é importante. De modo
que sem a coordenação, uma agência pode atrapalhar o serviço da outra.
56
Leite destacou a importância das agências e das Forças armadas. Cada ator
desempenharia um papel complementar dentro do ambiente interagências. Como por exemplo
na Operação Boiadeiro realizada nas fronteiras do Brasil com o Paraguai, para a fiscalização
de gado com febre aftosa. Os órgãos de saúde atuariam na fiscalização dos animais, a polícia
rodoviária na questão da documentação e regulação do veículo e motorista, e o exército como
um ator que impediria a intimidação dos outros agentes por parte de atores ilícitos.
Dentro das operações as operações Ágata, Leite concorda com os fatores que
dificultam ou impedem a integração interagência em operação interagências, listados por Lins
(2015). Para ele as operações Ágata também apresentam as mesmas questões que dificultam a
cooperação, “diferenças na cultura organizacional”, a “ausência de planejamento conjunto” e
a “susceptibilidade à interferência política em algumas agências”.
Leite diz que a interoperabilidade das Forças armadas ainda precisa melhorar. E nas
operações interagências as diferenças culturais são maiores. Entretanto não há inciativas para
aprimorar e desenvolver a cooperação interagências. Essas ações deveriam partir dos altos
órgãos do poder executivo. A iniciativa poderia se dar, por exemplo, na forma de um curso de
operações conjuntas e interagências. O curso formaria uma massa crítica de pessoas que
57
atuem no ambiente interagências, para que dentro das operações haja cooperação e não
competição, e no fim melhore a coordenação das operações.
Por fim, Leite ressaltou que a integração é a palavra chave para o SISFRON. Ele fez
uma analogia com o futebol dizendo que os atores envolvidos deveriam “tirar as camisas dos
times e vestir a camisa da seleção”.
No dia 28 de Junho de 2017 foi realizado, uma entrevista, estruturada com o Coronel
Marcelo Rocha Lima, Chefe do Estado-Maior da 4ªBrigada de Cavalaria Mecanizada,
localizada em Dourados no Mato Grosso do Sul, Organização Militar do Exército responsável
pela execução do Projeto-Piloto do SISFRON (Lima, 2017).
Sobre a cooperação com os outros órgãos foi perguntado se existe a interação com
todos órgãos públicos no ambiente de operações interagências, como previsto na concepção
do SISFRON, A resposta foi sim, mas de forma parcial e ainda embrionária. Sobretudo em
razão de diferenças de cultura organizacional. Sobre qual a agência que participou do maior
número de operações, a agência identificada foi a Policia Rodoviária Federal (PRF). A
cooperação com os órgãos estaduais e municipais, ocorre por iniciativa do Exército, por meio
de convite para os trabalhos de planejamento e durante a execução propriamente dita. A
cooperação com os órgãos de alcance Federal, também se dá por iniciativa do Exército, por
meio de convite para os trabalhos de planejamento e durante a execução propriamente dita.
Sobre a cooperação com os países vizinhos não há registro. Acerca da a integração com
outros sistemas de defesa e monitoramento das Forças armadas, a resposta foi que essa
integração ainda não existe, já que o projeto está na fase piloto.
Sobre a as redes ilícitas transacionais, a rede ilícita transacional mais encontrada nas
operações do SISFRON foi a do tráfico de drogas. Perguntando sobre como a estrutura do
SISFRON lida com a capacidade de adaptação, a rapidez na tomada de decisões, e o caráter
empreendedor das rede ilícita transacionais, a resposta foi que o SISFRON vem atuando na
59
cadeia de transporte e de armazenamento no interior do país, pois são as duas estruturas mais
vulneráveis e mais expostas.
Analisando a entrevista do General Leite, é possível fazer uma relação das suas
constatações sobre a cooperação interagências, com a declaração do Comandante do Exército,
General Villas Bôas que afirmou que não há nenhuma integração na atuação dos órgãos
governamentais, exceto em questões pontuais. O General Villas Bôas também pontuou que a
cooperação internacional e a integração dos órgãos governamentais é um problema de difícil
resolução porque envolve processo educativo (Brasil, 2017),
Além disso fica claro o caráter político das operações interagências, como constado
por Aponte; Franco (2006) e Marcella (2008).
Na entrevista do Coronel Rocha Lima fica claro que o SISFRON ainda não atingiu
todo o seu potencial e está atuando em questões pontuais.
Mesmo o Coronel Rocha Lima não identificando uma liderança do Exército, no dento
do processo de cooperação entre as agências, o fato de o Exército tomar a iniciativa de
cooperação com os órgãos estaduais e municipais e com os órgãos de alcance federal,
demonstram um papel de protagonismo do mesmo dentro do SISFRON.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobre a não previsibilidade da questão orçamentaria, isso pode ser entendido como
uma falta de confiança entre os decisões políticos e o Exército Brasileiro, se entendermos a
confiança pela ótica de Rousseau, Sitkin, Burt, Camerer (1998).
O SISFRON não pode iniciar suas operações na Amazônia com uma visão
homogeneizada da região. O sistema de interação com outros órgãos públicos deve dar
atenção às dinâmicas das cidades locais, principalmente as cidades-gêmeas e entender as
dinâmicas das redes ilícitas transnacionais na Amazônia.
Quanto maior a interação e a confiança entre as agências mais efetivo projeto será.
Caso o SISFRON, permaneça com essa vulnerabilidade nas suas operações interagências, o
sistema não conseguirá responder aos desafios impostos pelas dinâmicas amazônicas e será
contornado pelas redes ilícitas transnacionais que atuam na região, com destaque para o
narcotráfico. Uma vez que esses atores possuem uma rápida capacidade de adaptação, rapidez
na tomada de decisões e sabem atuar em espaços nos quais o Estado brasileiro ainda possui
dificuldades para controlar.
63
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