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Rubens Pileggi Sá
O escritor argentino Jorge Luís Borges dizia que um autor escreve sempre o mesmo
livro. E isso passou pela minha cabeça ao ver o vídeo É a Questão, de 1987, de Ricardo
Basbaum. Nele, o artista repete ad infinitum a imagem de um olho desenhado, colocando-o
em múltiplas situações: em filipetas que são entregues nas ruas e nos ônibus, em cartazes
espalhados pelo campus da Universidade de Campinas, no meio de cálculos matemáticos, em
uma armadilha para formigas, etc. como se naquela imagem/olho que é vista, tivesse uma
câmera/olho “vendo” dentro de um sistema de vigilância constante.
O vídeo mostra um Basbaum jovem que, em tudo, lembra o Basbaum de agora: o
mesmo sorriso tímido e maroto e as mãos sempre a gesticular, uma em volta da outra,
explicando algo de seu trabalho.
Quando me deparei pela primeira vez como o que ele fazia, fiquei extremamente
intrigado com sua produção: já havia o NBP, os diagramas “explicativos” nas paredes, o EU-
VOCÊ coletivo, os ambientes que são, ao mesmo tempo, espaço de conforto e prisão, onde a
relação dentro/fora é sempre levada em consideração. E, também, já tinha aquela marquinha
octogonal do NBP – “uma unidade virótica” – que ele espalhava por várias situações, como
na banheirona revestida de ágata para as pessoas ficarem por algum tempo com ela.
E mais, quando, em suas palestras, usava a voz como recurso de um pensamento que
busca ocupar lugar o tempo todo. O som entrando como mais uma dimensão da criação. A
palestra como motivo para um exercício de arte. Uma composição sonora considerada a partir
de um sistema de “transatravessamentos”: as ondas de rádio, telefone, as partículas atômicas,
a quantidade de luz do ambiente, etc. colocadas em atuação por um pensamento presente, que
dá consciência ao que já existe como potencialidade.
Venho tentando acompanhar Basbaum desde 2001. Procurando textos dele e sobre ele,
conversando, perguntando, tentando compreender a gênese de seu pensamento, a raiz de sua
criação. Fui em 4 ou mais exposição de arte de seus trabalhos, pelo menos, e em todas se
repete a mesma estratégia: um sistema de vigilância montado, com câmeras de tv gravando o
público, diagramas na parede, explicando (?) a situação dada e a criação de um espaço de
convivência.
Foi assim na galeria Artur Fidalgo (RJ), em 2002, como foi assim também que se deu
na 25ª Bienal de São Paulo (2002) e na galeria da UERJ, em outubro de 2003: uma exposição
feita de imagens que ele grava das outras mostras que fez, com imagens captadas durante a
visita das pessoas que vão para a exposição, os diagramas, um lugar para ficar e a marquinha
hexagonal, a tal.