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I - Introdução
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Conjunto de sonetos sobre cidades goianas publicadas em a “Romagem Sentimental”, obra póstuma,
organizada por seu filho José Cruciano de Araújo.
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O significado da palavra fanal remete à luz emitida por lanterna, costumou-se
costumou se chamar assim as lanternas
utilizadas como guia, a exemplo das instaladas no alto das torres de faróis. É possível que o uso do termo tenha
alguma relação com o fato de ser um jornal criado no seio do Grêmio
rêmio Instrutivo, do qual o poeta era líder, e ter o
objetivo de representar a difusão do conhecimento.
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A chamada revolução de 1909 em Goiás colocou em disputa o poder político local, enfrentando-se
enfrentando as antigas
oligarquias lideradas pelos Bulhões,, Caiados e Jayme e a força política liderada por Xavier de Almeida, líder do
grupo ao qual Leo Lynce encontrava-se
encontrava filiado. O primeiro grupo saiu vencedor, levando ao isolamento do
grupo derrotado.
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Acerca deste livro e da relação com o modernismo em Goiás é importante registrar essa passagem, extraída do
discurso de posse de Gilberto Mendonça Teles na Academia Goiana de Letras: “Segundo José Cruciano de
Araújo (...) O advento do modernismo no Brasil Central teve berço e data. Foi Pires do Rio esse berço, e data: 5-
5-1992. Ramos Jubé comenta: Nestas condições, o modernismo teria chegado a Goiás dois meses e dias depois
da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo de 13 a 17 de fevereiro de 1922. É certo que, atento às
inovações da poesia nacional, Leo Lynce procurasse também experimentá-las, dando-nos o famoso poema
Goyaz, dentro das técnicas pregadas pelos inovadores paulistas.
(...)
Apesar disso, entretanto, existe um certo exagero em datar de 1922 os princípios da poesia moderna em Goiás.
Tratava-se de um caso à parte, de escritor sintonizado com a sua época, não havendo porém, por parte dos
outros escritores e do público, nenhuma aceitação dos princípios modernistas, o que só vai ocorrer, na verdade,
vinte anos depois, em torno da Revista Oeste.
(...) Deste modo, o fundador da cadeira que ora ocupamos na Academia Goiana de Letras foi um poeta
autêntico, dos maiores de Goiás. Buscou a poesia na sua própria terra, consoante se pregava na época. A sua
linha moral, mesmo como inovador, foi imutável.
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A memória toca também aquilo que lhe ainda é peculiar em sua intensidade, de
quem ainda não experimentara experiências audaciosas. Bela Vista, cidade de sua passagem
da adolescência à vida adulta, traz-lhe os sons, as sensações de uma natureza ainda crua, o
murmurar dos “leques virentes dos buritizais”, a visão que se expande em noites onde a “lua
vagueia, no alto, brincando, qual bela sereia nas águas boiando”; noites que “possuem mais
estrelas” do que qualquer outro lugar. O cheiro de rosa, o qual “ninho perfumoso” lhe faz
lembrar-se de seus ilustres conterrâneos.
A Pires do Rio, cidade que o poeta viu nascer, é a transição para o novo tempo
transportado pelo vagão do trem de ferro, lugar que “píncaros e as várzeas ilumina”, “com o
fulgor do seu beijo mais ardente”. Tanto faz para o poeta, se dos altos das montanhas ou da
pouca altitude das várzeas, a cidade brilha, é a “tetéia gentil do Corumbá”, é menina, porém
“proclama-se capaz, independente” e “entre as irmãs domina”.
O tradicional ainda vive, sob a guarda da paisagem e dos hábitos em Goiás, a
antiga capital. A arquitetura é familiar, e faz o poeta sorrir, “a cidade se estende irregular”.
São “velhas torres, a ponte, o cais, o rio...”. A intimidade ainda está por lá, pois o poeta vê
“mãos amigas” que o “acenam das janelas”, assim também “moças que passam – bandos
tagarelas – aceso o olhar num riso encantador”.
Mas a terra arraigada pela tradição foi despojada pela metrópole. O moderno
transcende ao ato imaginativo do poeta na descrição da cidade nova, de uma capital sendo
erguida em meio ao nada. A cidade matéria é, também, imagem, “Cidade-poema”, sua
arquitetura é de “ruas de desenhos imprevistos”, “complicações de praças e parques e
palácios”, “uma avenida que sobe para o céu”, “outra avenida que vai morrer no mato” “e
mais outras em princípio nem fim”. A intimidade das “casas alpendradas” é exposta aos
“Arranha-céus de olhos quadrados”. A topografia é a das “rodas de velozes automóveis”, “de
bicicletas e motocicletas”. “Povaréu de estudante de operários”, “de garotas
cinematográficas” “e apressados homens de negócios”, “Mulheres olhando vitrinas”, “poetas
olhando as árvores”, “mendigos olhando a vida”. Em uma cidade que a noite é breve, “tudo é
madrugada”. No devaneio do poeta é a Capital-menina, é o “Sonho atrevido, audácia de
gigante!”
Neste momento, o som que desperta o ato imaginativo do poeta não é mais o
estalar das folhas em forma de leques dos buritizais, mas o som do trabalho acelerado do
“cantar da bigorna”, agora “a música mais grata de se ouvir”. As cores e cheiros que outrora
eram alimento para os devaneios, dão lugar à “pedra e cimento e ferro e tessitura”.
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No vai e vem das alvoradas o trabalho para erguer a nova capital se renova a cada
dia relembrando aos sentidos a presença do progresso. Encerra-se em um eterno estado do
“por vir” o vagar de Leo Lynce pelo território goiano.
IV – Conclusão
V – Bibliografia:
ARAUJO, Cyllenêo de (Leo Lynce). Poesias quase completas. Goiânia: Ed. UFG, p. 348, 1997.
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço.1ªed. São Paulo: Martins Fontes,1993.
BACHELARD, Gaston. A água e os sonhos: ensaios sobre a imaginação da matéria. São Paulo:
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Um decreto publicado em 1909 obrigava a Companhia responsável pela estrada de ferro fundar núcleos
coloniais a cada 100 km do trecho. Essa relação entre a estrada de ferro e os processos de urbanização e
modernização de Goiás foi muito bem levantada por BORGES (1990). O Autor cita como as cidades que
estavam naquela região experimentaram o impactante processo de modernização, se diferenciando
significativamente das demais cidades do Estado. A cidade de Ipameri, por exemplo, foi a primeira do Estado,
em 1920, a receber um sistema de energia elétrica e iluminação pública, além de telefone e telégrafo. Foi nesta
cidade que se instalou o primeiro cinema de Goiás, no ano de 1915 e a primeira agência do Banco do Brasil, em
1921, além de inúmeras indústrias, para beneficiamento de arroz e carne.
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