Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
família e infância
no mundo contemporâneo
Apoio:
Organizadoras
Claudia Fonseca
Chantal Medaets
Fernanda Bittencourt Ribeiro
Capa: Cléo Magueta, sobre arte de Lucas Richter; desenhos de Vinícius Fragoso
Projeto gráfico e editoração: Vânia Möller
Revisão: Vânia Möller
Revisão gráfica: Rafael Heidt Martins Trombetta
P474
Pesquisas sobre família e infância no mundo contemporâneo /
organizado por Claudia Fonseca, Chantal Medaets e
Fernanda Bittencourt Ribeiro. -- Porto Alegre: Sulina, 2018.
246 p.; 23 cm.
ISBN: 978-85-205-0827-5
CDU: 316
572.3
CDD: 306.85
570
1
Desde 2009, o Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul (UFRGS) e o Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Pon-
tifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), numa parceria entre o Núcleo
de Antropologia e Cidadania (Naci/UFRGS) e o Idades – Grupo de Estudos e Pesquisas em
Antropologia (PUCRS), têm realizado as Jornadas de Pesquisa sobre Infância e Família. Em
sua quarta edição, o evento contou com o apoio da CAPES e do CNPq (por meio dos seus res-
pectivos editais de auxílio à promoção de eventos científicos) e trouxe a Porto Alegre pesquisa-
dores da Argentina, dos Estados Unidos, da Itália, da França e de diferentes estados brasileiros.
2
Desde os trabalhos clássicos de Ariès (1973) e James e Prout (1990) considerar a infância
como uma construção histórica tem sido moeda corrente. Para uma discussão a respeito da
emergência dessa concepção, ver, por exemplo, Fonseca (1989) ou Sirota (2006).
3
Uma discussão a respeito dos limites e avanços permitidos pelo conceito de agência utilizado
nos estudos sobre infâncias, pode ser lida em Lancy (2012), Delalande (2014) e Szulc et al. (2012)
(Artigos reunidos na sessão Debates e Controvérsias da revista eletrônica AnthropoChildren.
Disponível em: <https://popups.uliege.be/2034-8517/>. Acesso em: 18 maio 2018.)
4
Optamos por grafar "estado" com minúscula para denotar a natureza não transcendente
desse conglomerado de pessoas e espaços. Seguimos assim a proposição de antropólogos como
Sharma e Gupta (2006), que concebem o estado não como uma entidade abstrata, mas como
um arquipélago de estruturas e instituições articuladas em nome do governo das populações.
10
11
12
13
14
15
16
17
18
Referências
ARIÈS, P. L’enfant et la vie famíliale sour l’Ancien Régime. Paris, France: Editions du
Seuil, 1973.
COHN, C. Antropologia da criança. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 2005.
DELANDE, J. Le concept d’enfant acteur est-il déjà périmé? Réflexions sur des
ouvertures possibles pour un concept toujours à questioner, AnthropoChildren
[on-line], v. 4, 2014. Disponível em: <https://popups.uliege.be/2034-8517/
index.php?id=1927>. Acesso em: 29 maio 2018.
19
20
Imagens de crianças,
infâncias e famílias
Introdução1
Na Itália, os novos processos de reprodução e de práticas de pa-
rentesco desenvolvidos graças às Tecnologias de Reprodução Assistida,
assim como as mudanças sociais nas estruturas familiares receberam
muito pouco reconhecimento do ponto de vista legal. Em alguns casos,
os “pais de intenção2” e as suas linhas genealógicas não são reconhe-
cidos pelo estado italiano, e os laços de parentesco aceitos no exterior
não o são na Itália. Esses laços podem ser considerados como ambíguos
por causa da lacuna entre a forma que o parentesco é concebido para os
membros dessas configurações familiares3 e o reconhecimento jurídico
desses laços. Se fôssemos desenhar um diagrama ilustrando os laços de
1
Versões mais recentes deste capítulo foram apresentadas nas conferências “Transnational
politics: State practices and everyday life experiences”, Institut für Europäische Ethnologie de
Berlim, 8-9 set. 2016; no seminário com Florence Weber (Université Libre de Bruxelles, 7 ago.
2016); e na IV Jornada de Pesquisa sobre Infância e Família (Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul – PUCRS, Porto Alegre, 21-23 ago. 2017). Agradeço a Beatriz San Román,
Florence Weber e às coordenadoras deste livro pelos comentários. A pesquisa foi financiada
pelo Fond National de la Recherche Scientifique, Belgique.
2
Este conceito indica a intenção de tornar-se pai.
3
Utilizo aqui o termo ético “configurações familiares”, pois o termo família se refere a uma
norma familiar, ou seja, aquela da família nuclear hétero. Mesmo assim, o termo família é um
termo êmico utilizado pelos casais do mesmo sexo para reinvindicar um reconhecimento juríd-
ico e social da própria configuração familiar.
23
4
O conceito de “parentesco cotidiano” de Florence Weber (2005) indica os laços criados me-
diante o compartilhar da vida cotidiana e da economia doméstica como dimensões materiais e
afetivas, pois (segundo Weber) são condições necessárias (embora não suficientes) ao exercício
do parentesco. A dimensão do parentesco pela via do cotidiano geralmente é negligenciada no
estudo de laços de filiação, pois o foco se restringe ao biológico (sangue) e ao jurídico (tran-
smissão do nome e dos bens). A dimensão do cotidiano é útil para ir além das incoerências
mencionadas e para detectar o que é parentesco.
24
O projeto de pesquisa
Aqui serão apresentados os primeiros resultados e as análises da
pesquisa pós-doutoral intitulada “Os limites sociais, morais e políti-
cos do parentesco. Uma antropologia de filhos de casais gays e lésbi-
cos na Itália e na Bélgica”, a qual estou realizando como pesquisadora
do Fonds de la recherche scientifique e do Fonds national de la
recherche scientifique (FRS-FNRS) no laboratório de Antropologia
Cultural e Social da Universidade de Liege (Bélgica). Este projeto se
debruça em questões políticas e morais de filhos de casais gays e lés-
bicos e revisita os campos da antropologia do parentesco e dos novos
estudos sobre parentesco (new kinship studies – Carsten, 2004; Collard,
Zonabend, 2013; Franklin, 2013; Porqueres; Gené, 2009; Schneider,
5
Por exemplo, quando os pais voltam para Itália após a sub-rogação, eles encontram problemas
em ter a certidão de nascimento reconhecida. Os pais de intenção não são legalmente reconhe-
cidos, e isso inclui também os homoafetivos que adotaram filhos em seus países de origem,
antes de chegarem na Itália. Muitos outros laços de parentesco não têm reconhecimento legal.
É o caso da relação entre irmãos que têm o mesmo doador, ou o caso da criança do/a parceiro/a
que foi adotada na base de “adoção em casos especiais” e a linha genealógica do pai adotivo.
6
Claudia Fonseca (2011) utiliza esse termo para falar do “esforço institucional investido em
desfazer uma categoria naturalizada”, no caso dela, o da maternidade biológica.
25
O contexto Italiano
A Itália está entre os países europeus em que a diversificação das
formas familiares aconteceu tarde (Saraceno, 2012), sendo que uma das
principais causas decorre da sua legislação em relação à família e aos
direitos reprodutivos, que é uma das mais restritivas da Europa. Es-
sas restrições continuam, apesar das mudanças sociais importantes nas
estruturas familiares que a Itália vivencia desde as últimas décadas, até
mesmo com inúmeras famílias criadas por casais que optaram por não
se casar, conhecidas como famiglie di fatto (famílias de fato), e com
famílias reconstituídas e homoparentais. O número de casais gays e
lésbicos que tiveram ou estão tentando ter filhos aumentou bastante
nos últimos anos.7 Todavia, a legislação italiana não se adaptou a essas
7
Nao existem estatísticas confiáveis sobre famílias homoparentais. Entretanto, segundo a pes-
quisa “Modo di” realizada em 2005 por Arcigay (a principal organização sem lucro, fundada
em 1985, para promover igualdade entre indivíduos independente da orientação sexual ou
identidade de gênero) em cooperação com o Instituto Superior de Saúde num conjuto de
dados sobre 10.000 pessoas com menos de 40 anos, 17,7 % de gays e 20,5 % de lésbicas têm
26
pelo menos um filho e, cerca de 100. 000 crianças têm pelo menos um pai/mãe homosexual
(Arcigay et al., 2006).
8
Um momento de politização extraordinário da questão do reconhecimento de famílias do
mesmo sexo e dos seus laços de parentesco emergiu em 2016, no contexto do debate sobre
uniões civis, o qual teve diálogos bem ásperos. De fato, o projeto de lei supria o acesso à adoção
para os pais não biológicos. Todavia, essa parte da lei foi removida na versão final da lei, como
compromisso político. As primeiras uniões civis foram celebradas em agosto de 2016 em al-
gumas cidades da Itália, enquanto prefeitos de outras cidades protestavam contra a lei, agindo
como objetores de consciência.
27
9
No seu estudo sobre “políticas arco-íris”, o sociólogo Fabio Corbisiero (2015) classificou
as cidades de rainbowfriendly (onde todas as políticas e os serviços são considerados), rainbow-
to be (as que começaram a trabalhar nessa direção sem ter ainda nenhuma política concreta) e
rainbow oriented (as que possuem somente umas dessas caraterísticas).
10
Por exemplo, a região da Toscana adotou uma definição mais abrangente de família e
substituiu esse termo pelo neologismo “famílias e uniões civis” (Ruspini; Luciani, p. 66), bem
antes da lei nacional, enquanto em 2001 a região Lazio adotou uma definição de família bem
restritiva, e acabou com os auxílios a casais não casados. Enfim, algumas cidades abriram o
registro dos pactos de coabitação e de uniões civis antes da lei nacional.
28
11
Os nomes reais foram alterados, assim como certas carateristicas pessoais das pessoas dos
exemplos, para tornarem-se anônimos.
29
30
12
Na Itália os filhos têm somente o sobrenome do pai, e na identidade Itáliana não consta toda
a filiação.
31
32
Ela fala que é uma mãe solteira, que o pai mora em Milão e trabalha
num banco (o que é o único elemento verdadeiro, pois Giacomo
trabalha num banco), e nunca dá dinheiro; então ela tem que fazer
tudo sozinha.
13
Sobre o uso dos apelativos nas configurações familiares homoparentais ver Gross (2008).
33
34
[...] no final do ano tem uma prova de judô, Valentina fica com
o livrinho de judô da filha, mas Chiara pede que Valentina o de-
volva para dizendo: “assim eu vou ficar com os dois livrinhos, é
mais fácil”. Depois Chiara insiste para pagar a corrêia de Lucia
(utilizando a desculpa que ela está cheia de trocado), mas Valentina
também queria pagar, mas não consegue. Valentina procura fisi-
camente afirmar a “maternidade principal”, tentando um contato
físico e verbal com Lucia e excluindo Chiara. Enquanto as crian-
ças vão trocar de roupa, os pais batem papo entre eles. Em certo
momento Valentina conta de uma vez que Lucia teve um acidente
na escola: no relato, ela fala de Lucia como se só ela fosse a mãe e
Chiara não existesse.
35
[...] é assim: têm duas crianças, quer dizer eu e Irene, que têm duas
mães: a mãe Valentina e a mãe Chiara. Não sei como te explicar
por que uma é mais mãe do que a outra… o termo correto é mãe
biológica: Valentina é mãe biológica de Lucia, e Chiara de Irene, ou
seja, a mãe que criou aquela criança.
36
Conclusões
Embora os laços de parentesco nunca sejam naturais, mas sempre
frutos de um processo de kinning, o processo que pais não estatutários
37
38
Referências
ARCYGAY, M. Survey nazionale su stato di salute, comportamenti protettivi e percezione
del rischio HIV nella popolazione omo-bisessuale. Instituto superiore della sanità.
Roma: Rapporto di ricerca, 2006.
CARSTEN, J. After kinship. Cambridge: Cambridge University Press, 2004.
Collard, C.; Zonabend, F. Parenté sans sexualité. Le paradigme occidental
en question, L’homme, 206, p. 29-58, 2013.
Corbisiero, F. (Coord.). Over the rainbow city: LGBT inclusiveness in the
contemporary Europe and Italy. Itália: McGraw Hill, 2015.
Coutant, I. Statu quo autour d’un squat. Actes de la recherche en sciences sociales. v.
136-137, n. 1-2, p. 27-37, 2001.
De Certeau, M. L’invention du quotidien: 1. Art de faire. Paris: Gallimard, 1990.
Descoustures, V. Les mères lesbiennes. Paris: Puf, 2010.
Dodier, N.; Baszanger, I. Totalisation et altérité dans l’enquête ethnogra-
phique. Revue française de sociologie, n. 38, p. 37-77, 1997.
Fine, A.; Courduriès, J. (Eds.). Homosexualité et parenté. Paris: Armand
Colin, 2014.
Fonseca, C. The De-Kinning of Birthmothers. Reflections on Maternity and
14
Virgine Descoustures (2010) usa esse termo para mostrar o dobro handicap de não ser nem
o pai biogenetico nem legal, embora sendo pae de intenção.
15
Conceber, sustentar, transmitir um estatuto jurídico de filiação, alimentar, educar, casar e
possibilitar profissão e dar herança.
39
40
Introdução
Lei menino Bernardo. Com este nome, após quatro anos de tra-
mitação (2010-2014) foi aprovado pelo Senado federal brasileiro um
projeto de lei que ao longo deste período popularizou-se como “lei da
palmada”. Apresentado pelo Executivo brasileiro em julho de 2010, sua
elaboração faz parte de uma ação transnacional promovida pela ONU
e por ONGs internacionais que desde o início dos anos 2000 militam
pela erradicação de castigos físicos e tratamento cruel e degradante nas
relações entre adultos e crianças ou adolescentes. Até o presente, 53
países, sete dos quais localizados na América Latina, aprovaram legis-
lações deste teor.2 Antecedido pelo Uruguai e pela Venezuela, o Brasil
foi o terceiro país da região a legislar sobre o tema. Entre 2010 e 2014,
no âmbito de uma pesquisa interessada nos desdobramentos desta ini-
ciativa no Brasil, acompanhei a tramitação deste projeto de lei (PL
7672/10) nas instâncias legislativas federais.
Em 2011, na Câmara dos deputados, uma comissão especial foi
constituída para a apreciação do projeto de lei, e a mesma realizou au-
1
Este texto foi originalmente publicado na revista Problèmes d'Amérique Latine, n. 108, v. 1,
2018.
2
Ver: <https://www.endcorporalpunishment.org>. Países latino-americanos que proibiram
castigos físicos: Uruguai, 2007; Venezuela, 2007; Brasil, 2014; Argentina, 2014; Bolívia, 2014;
Peru, 2015; Paraguai, 2016.
41
3
Este processo legislativo será detalhado mais adiante.
42
4
Los niños de las Américas é o título de uma publicação da Unicef.
5
Segundo os autores, outros dois registros de diferenciação seriam a diferenciação concreta, que
diz respeito a divergências quanto aos modos de tratamento das crianças e quanto aos seus
próprios comportamentos. A diferenciação percebida corresponde ao modo como as crianças
percebem suas diferenças e as de outras crianças.
43
44
45
6
Foi realizada a transcrição de aproximadamente vinte e duas horas de gravações referentes
a todas as audiências públicas realizadas por esta Comissão. Os arquivos de áudio e todos os
documentos relativos à tramitação deste projeto de lei estão disponíveis no site da Câmara dos
deputados: camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=483933.
46
47
48
7
Disponível em: <https://www.observatorionacional.net.br/dadosExistentes.aspx>.
49
8
Disponível em: <http://www.sdh.gov.br/disque100/balancos-e-denuncias/balanco-disque-
100-2016-apresentacao-completa/>.
9
Por exemplo: Karina Lira e Natalie Hanna em O que dizem as crianças?: uma consulta sobre
violência a partir da percepção de crianças e adolescentes [on line], Rio de Janeiro, Instituto
Igarapé, 2016. Nesta pesquisa de caráter consultivo sobre percepções de violência por crianças e
adolescentes residentes em regiões de baixa renda de 12 cidades brasileiras apresenta-se o dado
de que 89% das crianças e dos adolescentes entrevistados afirmaram sentirem-se seguros em
casa, e apenas 40% se sentem protegidos pela polícia.
50
51
10
Frente parlamentar é uma associação civil, de caráter não governamental, com personalidade
jurídica, estatuto próprio e regimento interno que agrega indivíduos em defesa de projetos
específicos, de uma determinada área. O número de parlamentares que integram esta frente
vem aumentando, sendo que a última legislatura iniciou com 198 dos 513 deputados federais
e 4 dos 81 senadores. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/internet/deputado/frente-
Detalhe.asp?id=53658>.
52
11
Redação final sancionada pela Presidência da República em 24 jun. 2014. Disponível em:
<https://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13010.htm>.
53
12
Desde a morte de sua mãe, em 2010, o menino vivia com o pai e a madrasta. Sua mãe teria
se suicidado e foi encontrada morta na clínica do marido e pai de Bernardo, um conhecido
médico da região. A partir do assassinato do menino, a família materna contestou a hipótese
do suicídio da mãe e foi reaberta a investigação sobre a causa de sua morte.
13
Os quatro acusados permanecem presos aguardando julgamento. Disponível em: <https://
www. g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/caso-bernardo-boldrini/>.
14
O Conselho Tutelar é a instituição encarregada de zelar pela garantia dos direitos de crianças
e adolescentes definidos no Estatuto da Criança e do Adolescente (lei 8.069/90). Existente
em todos os municípios brasileiros, os conselhos tutelares recebem denúncias e encaminham e
aplicam medidas relativas a violações de direitos.
54
15
Disponível em: <https://www. zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/04/especialistas-
apontam-falhas-no-sistema-de-protecao-a-infancia-no-caso-bernardo-4477179.html>;
<https://www.zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/noticia/2014/09/as-falhas-na-rede-de-protecao-
que-nao-salvou-bernardo-boldrini-4608042.html>.
55
56
57
16
Estes quadros retratam crianças de El Salvador, Panamá, Chile, Equador, Nicarágua, Peru e
Guatemala. Em relação à entrega do quadro do menino do Peru lê-se no boletim do INN que ela
ocorreu numa “cerimônia solene e emotiva” em comemoração aos 50 anos do Instituto.
58
17
Disponível em: </blogs.iadb.org/desarrollo-infantil/2013/01/30/llos-ninos-de-las-americas/>;
<vimeo.com/25769041>; <unicef.org/brazil/pt/overview_9536.html>.
59
Considerações finais
Neste artigo abordei diversas representações da infância no âmbi-
to de uma produção legislativa que visa à estrita interdição da violência
18
Disponível em: <http://xxicongresopanamericano.org>.
60
61
19
Disponível em: <unicef.org/brazil/pt/activities.html>; <unicef.org/brazil/pt/activities_
31705.htm>; <nacoesunidas.org/brasil-perde-um-adolescente-por-hora-24-por-dia-alerta- chefe-
do-unicef-no-pais/>.
62
Referências
ALMEIDA, R. Le pentecôtisme brésilien: expansion, variation, invention. Brésil(s),
n. 9, 2016.
ALVARADO, S. V.; LLOBET, V. Introducción. In: Llobet, V. (Comp.). Pensar la
infancia desde América Latina. Buenos Aires: Clacso, 2013. p. 27-32.
BELLOF, M. Los derechos del niño en el sistema interamericano. Buenos Aires : Editores
del Puerto, 2004.
COSSE, I. et al. (orgs.). Infancias: políticas y saberes en Argentina y Brasil, siglos
XIX y XX. Buenos Aires: Teseo, 2011.
DAMON, J. Vers la fin des fessées? Futuribles, n. 305, p. 28-46, 2005.
DELANOË, D. Les châtiments corporels de l’enfant, une forme élémentaire de la
domination. L’Autre, v. 16, n 1, p. 48-58, 2015.
DE SUREMAIN, C.-É.; BONNET, D. (Orgs.). L’enfant du développement.
Autrepart, n. 72, 2014.
DUARTE, L. F. D. et al., Valores religiosos e legislação no Brasil: a tramitação de
projetos de lei sobre temas morais controversos. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
FALK-MOORE, S. Law of process: an anthropológical approach. London: Routledge,
1978.
FASSIN, D.; BOURDELAIS, P. (orgs.). Les constructions de l’intolérable. Paris: La
découverte, 2005.
FASSIN, D. Children as victims: the moral economy of childhood in the times of
AIDS. In: Biehl, J.; Petryna, A. (Dir.). When people come first: critical
studies in global health. Princeton: Princeton University Press, 2013. p. 109-129.
FONSECA, C.; CARDARELLO, A. Direitos dos mais e menos humanos.
Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 5, n. 10, p. 83-121, 1999.
FONSECA, C.; SCHUCH, P. (orgs.). Políticas de proteção à infância: um olhar
antropológico. Porto Alegre: Editora da Ufrgs, 2009.
FUNDAÇÃO Abrinq. Cenário da infância e adolescência no Brasil. São Paulo:
Fundação Abrinq, 2017.
GARCÍA MÉNDEZ, E.; BELLOF, M.; Los derechos del niño en el sistema
interamericano. Buenos Aires: Editores del Puerto, 2004.
GUY, D. The Pan American Child Congresses, 1916 to 1942: Pan Americanism,
child reform, and the welfare state in Latin America. Journal of Family History, v.
23, n. 3, p. 272-291, 1998a.
GUY, D. The politics of Pan-American cooperation: maternalist feminism and de
child rights movement, 1913-1960. Gender & History, v. 10, n. 3, p. 449-469,
1998b.
63
64
65
66
67
68
Ética e pesquisa
Ética é uma palavra intensamente utilizada, mas não é simples
defini-la. Tomamos aqui a definição proposta por Paul Ricoeur (1990,
p. 4), para quem a ética pode ser concebida como busca “de uma vida
consumada sob o signo das ações estimadas como boas”.
O autor entende ética a partir de três termos igualmente importan-
tes: “o desígnio de uma vida boa, com e para os outros, em instituições
justas” (1990, p. 5). Para tal desígnio, não há fundamento, não há causa
e nem razão que possa ser demonstrada ou logicamente deduzida: o
solo em que o self moral se enraíza é a incerteza (Bauman, 2011; 2006).
Concordamos com Bauman (2011) quando ele afirma que a socie-
dade sempre existiu por meio da autoconstituição, ainda que em outros
momentos isso não tenha nos parecido evidente:
69
70
71
72
73
74
75
76
77
78
79
80
Considerações finais
As discussões sobre ética na pesquisa com crianças são subsídios
importantes para a reflexão sobre “normas éticas” em pesquisas com
seres humanos em geral, visto que as pesquisas com esse grupo popu-
lacional levantam as mesmas questões éticas com as quais pesquisa-
dores se deparam ao pesquisar com adultos, mas trazem, além disso,
preocupações específicas relacionadas ao encontro com o outro, com
o diferente, com aquele que se situa em posição mais vulnerável na
estrutura social, que não costuma ver seu saber fazer reconhecido e que
não ocupa, ele mesmo, nem o lugar de quem escreve e assina o texto da
pesquisa e nem o lugar daquele que a lê.
Em nome da ciência fala-se sobre as crianças, e esse discurso
participa da própria construção de suas infâncias, no sentido de que
ele pode contribuir para a compreensão e consideração de suas vi-
vências, de suas perspectivas e de seus pontos de vista ou pode, por
81
82
83
84
______________________________________________________________________________________________________
Claudia Fonseca
1
Esse trabalho foi originalmente publicado em Política e Trabalho, n. 43: p. 19-35, 2016.
85
86
87
2
Como frequentemente ocorre em casos de longa institucionalização, muitas pessoas ligadas
às ex-Colônias – tanto os pacientes quanto seus filhos – nunca conseguiram se afastar do local,
mesmo décadas depois do fechamento das instituições.
3
Morhan ‒ Movimento pela Reintegração de Pessoas Atingidas de Hanseníase. Disponível
em: <https://www.morhan.org.br>.
88
89
4
Algumas das falas citadas aqui já circularam na mídia, com identificação do enunciante.
Outras falas foram registradas por mim em situações mais informais. Embora ninguém tivesse
dúvida quanto a meus interesses de pesquisa, por causa da natureza mais “espontânea” das
conversas durante a observação participante, resolvi neste artigo resguardar a identidade das
pessoas por meio do uso de pseudônimos.
90
91
5
Vide o depoimentos de Sandra Gonsalves, reproduzido no Relatório Preliminar 2012.
92
A “rejeição familiar”
É uma clássica recomendação em determinados exercícios
etnográficos justapor as falas de pessoas diferentes discorrendo sobre
um mesmo tema – para dar relevo ao objeto em discussão. As más
experiências de reintegração familiar que vimos acima apareceram nas
acusações de filhos contra a rudez ou indiferença dos pais. Vemos ago-
ra o depoimento de uma mãe, moradora da antiga Colônia de Itapuã
(no Rio Grande do Sul), falando do mesmo assunto: a reticência dos
pais em receber seus filhos de volta do educandário. Começa dizendo o
quanto fica revoltada quando lembra como se dava um nascimento na
93
Então esses tempos, já faz muito tempo, a diretora lá do... ela veio
aí e fez uma reunião lá na enfermaria, chamou todos os pais pra
ir lá, daí eu fui, não sabia o que era. Daí ela disse que agora quem
quiser trazer os filhos pra cá morar com os pai pode trazer... Todo
mundo ali ficou quieto. Eu levantei em pé e disse assim: Não, a
senhora vai me desculpar, os meus não vêm pra cá morar aqui, por-
que quando eles nasceram não deixaram ficar com nós, mandaram
pra lá e agora que estão grandes, que podem trabalhar6... (Barcelos;
Borges 2000, p. 146).
Essa mulher não nega a dificuldade dos pais em acolher seus fi-
lhos, mas, ao narrar detalhes do processo, ela efetiva uma sutil redistri-
buição da responsabilidade moral por essa situação. Nas suas palavras
hesitantes, começamos a ver como, no caso das colônias, houve uma
intervenção estatal com efeito pedagógico praticamente inverso ao que
foi promovido por agentes do estado nas famílias “normais” (não in-
ternadas). Aparecem os contornos de uma política arbitrária que ora
desencoraja qualquer relação afetiva entre pais e filhos ora dita uma
reaproximação instantânea.
Olhemos mais de perto esse primeiro momento, de afastamen-
to. Sem dúvida, os relatos mais dramáticos dizem respeito à retirada
dos recém-nascidos de suas mães parturientes. Quevedo, ao entrevistar
uma ex-interna da Colônia de Itapuã, Dona Rute (com filhos nasci-
dos entre 1948 e 1951), traz uma narrativa que ouvi repetidamente em
todos os lugares que visitava: [...] logo que eles nasciam, a gente não
tinha muito contato. Eles arrancavam da gente. Nascia, a gente olhava...
eles lavavam, vestiam e já enrolavam e levavam pra [o educandário]
(Quevedo, 2005, p. 155).
6
Para manter coerência com o estilo deste artigo, modifiquei a transcrição fonética desta fala
para o português convencional.
94
95
Quem lhe dirige esta é uma enferma asylada que por intermédio
destas humildes linhas vem pedir-lhe encarecidamente um grande
favor e ao mesmo tempo [Caridade] de enviar-me notícias de três
filhas minhas que residem ahi e estão sob sua proteção.
Já tenho lhe escripto diversas cartas e ainda não consegui resposta,
mais espero em Deus que esta lhe chegue logo as mãos e eu tenha
a felicidade de receber logo a resposta que desejo.
Desejo imensamente receber as fotografias delas.
7
Monteiro (1998) conta como, ainda na década de 1950, em certos educandários a saída da
criança era condicionada a um resultado médico que comprovasse a imunidade natural à lepra.
96
97
Elas ficaram revoltadas! Elas são umas gurias sem amor, elas não
têm amor por mim... [...] Assim, aquilo frio, que nem uma pessoa
estranha não faz isso... a pessoa estranha quando vê a outra já se
abraça se beija e ela é uma coisa fria. Elas acham assim que... que eu
não as quis, que elas foram pra lá porque a gente não quis... elas não
aceitam, aquilo não entra na cabeça (silêncio). Então a gente sofreu
muito nessa parte... (Quevedo, 2005, p. 157-158).
8
Há constantes rumores – alguns mais, outros menos fundamentados – sobre a “venda” de
crianças nos orfanatos públicos e filantrópicos durante os anos 1970 e 1980 (Abreu, 2002).
98
Políticas arbitrárias de família e suas justificativas morais
O que aconteceu com os filhos é, ironicamente, resultado das in-
tenções “sanitárias” progressistas do estado moderno. Havia, já no início
do século XX, controvérsias sobre a eficácia epidemiológica da segre-
gação dos doentes, mas prevaleceu uma política autoritária que acabou
por provocar atos de extrema violência dignas de situações de ditadura
e guerra. Basta comparar o que descrevo neste artigo com as narrativas
99
9
Dantas (2011) e Rifiotis (2017) têm pesquisado egressos que saem do sistema institucional
quando chegam à maioridade legal. A Associação Brasileira Terra dos Homens (2002ª, 2002b,
100
2016) é uma das únicas fundações brasileiras a ter se dedicado sistematicamente a programas e
estudos sobre reintegração familiar. No exterior, encontramos também literatura sobre a reuni-
ficação familiar de crianças que passaram por “foster care” (ver, por exemplo, Marcenko et al.,
2011 e Child Welfare Gateway, 2012).
10
A base de seu estudo sobre a primeira instituição de acolhimento para meninos na Argentina
(uma colônia agrícola concebida conforme as ideias mais progressistas do início do século XX),
esta autora demonstra como se trata de uma filosofia institucional que atravessa o século vinte
e que só recentemente está sofrendo inflexões “embora não sem dificuldades” (2014, p. 196).
11
Ver Fávero et al. (2008) para uma rara olhada sobre as famílias de crianças e adolescentes
abrigados.
101
12
Encontramos esses elementos na descrição de programas de acolhimento familiar (foster
families) (Moraes, 2012; Fonseca; Schuch, 2009; Valente, 2013) – ironicamente, uma
modalidade de “convivência familiar” muito negligenciada no Brasil.
102
13
Em outro lugar, descrevemos o discurso de certo juiz explicando para uma mãe prestes a dar
seu filho em adoção as consequências dessa “entrega”: “Você não saberá nunca mais nada dessa
criança. Será como se ela tivesse morrido” (Fonseca, 2011ª).
14
Conforme o artigo 48 da lei 8.069 de 2009, “O adotado tem direito de conhecer sua origem
biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no qual a medida foi aplicada e seus
eventuais incidentes, após completar 18 (dezoito) anos”.
103
Referências
Associação Brasileira Terra dos Homens. Cuidar de quem cuida:
reintegração familiar de crianças e adolescentes em situação de rua. Rio de
Janeiro: Terra dos Homens; Booklink, 2002a.
Associação Brasileira Terra dos Homens. Do abrigo à família.
Rio de Janeiro: Terra dos Homens; Booklink, 2002b.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA TERRA DOS HOMENS. Reintegração familiar de
crianças e adolescentes. Rio de Janeiro: ABTH, 2016.
ABREU, D. No bico da cegonha: histórias de adoção e da adoção internacional no
Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.
ALLEBRANDT, D. Parenté fluide: la quête des origines au Brésil et au Québec.
Dialogue entre parenté, droit et science. Département d’anthropologie, Faculté
des Arts et Sciences, U. de Montréal, 2013.
BARCELOS, A. H. F.; BORGES, V. T. Segregar para curar? A experiência do
Hospital Colônia Itapuã. Bol. da Saúde, v. 14, n. 1, p. 143-158, 2000.
CARSTEN, J. Cultures of relatedness: new approaches to the study of kinship.
Cambridge: Cambridge University Press, 2000.
CHILD WELFARE INFORMATION GATEWAY. Supporting reunification and
preventing reentry into out-of-home care. Washington, D.C.: U.S. Department of
Health and Human Services, Children’s Bureau, 2012.
COSSE, I. Pareja, sexualidad y família en los años sesenta: una revolución discreta en
Buenos Aires. Buenos Aires: Siglo XXI Editores, 2010.
CRUZ, L. R. da C. (Dês)articulando as políticas públicas no campo da infância:
implicações da abrigagem. Santa Cruz do Sul: Edunisc, 2006.
CURI, L. M. Excluir, isolar e conviver: um estudo sobre a lepra e a hanseníase no
Brasil. Tese de Doutorado. PPG em História, Universidade Federal de Minas
Gerais, 2010.
DANTAS, L. Criando Parentesco? Um estudo sobre o “Apadrinhamento Afetivo”.
Dissertação de Mestrado em Antropologia Social, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, 2011.
104
105
106
Participação política
de crianças e jovens
Introducción
Las situaciones de exclusión que viven las poblaciones indígenas
en las diversas regiones de Argentina, en el caso de la provincia del
Neuquén ‒que investigo desde el año 2000‒ ha dado lugar a numerosas
movilizaciones y acciones de las organizaciones y comunidades ma-
puche, en las que suelen participar tanto adultos como niños.
Analizamos aquí entonces el caso de los niños mapuche de la
patagónica provincia del Neuquén involucrados en diversas acciones de
reclamo por la contaminación ambiental generada por los incontables
emprendimientos hidrocarburíferos en la región. Examinamos los
desencuentros y conflictos suscitados, considerando en particular el
rol asignado a los niños desde los discursos del estado y desde otras
perspectivas.
Así, en este texto analizaré por un lado cómo y porqué los niños
participan de tales actividades políticas, qué nociones mapuche sobre
la infancia y sobre la identidad indígena intervienen. Por otro lado,
procuraré explicar cómo responde generalmente el gobierno provincial
(estadual), y también qué nociones sobre la infancia y sobre la identi-
dad mapuche operan en tales respuestas ‒como represión policial y/o
intentos de revocar la patria potestad de los padres‒ que reactualizan
109
110
1
La Encuesta de pueblos indígenas, el instrumento construido por el estado para ampliar la
información que se desprendiera del Censo Nacional 2001, se desarrolló entre 2004 y 2005 y
sostiene que 600.329 personas se reconocían entonces como indígenas o descendientes de in-
dígenas en Argentina. Disponible en: <http://www.indec.gov.ar/webcenso/ECPI/index_ecpi.
asp>. Acceso en: 28 oct. 2013). Como en 2011 destacaron Gordillo y Hirsch, esto supone que
se referencia con lo indígena el 1,5% del total de población, para pensar en contraste, esta cifra
triplica los datos de Brasil (dónde el 0,4 % de la población se encuentra en iguales condiciones)
Disponible en: <http://pib.socioambiental.org/es/c/no-brasil-atual/quem-sao/povos-indige-
nas>. Acceso en: 28 oct. 2013). Los datos argentinos más recientes estiman una población
indígena aún más significativa, con un total de 955.032 personas, esto es el 2,38% del total de
población (Censo 2010).
111
2
Disponible en: <https://www.pagina12.com.ar/54307-represion-tiros-y-un-desaparecido>.
Acceso en: 30 nov. 2017; Disponible en: <https://www.pagina12.com.ar/78518-represion-
y-muerte-en-la-patagonia>. Acceso en: 30 nov. 2017; Disponible en: <http://www.
eldestapeweb.com/preparados-una-guerra-asi-fue-el-belico-operativo-prefectura-que-mato-
un-mapuche-n36363>. Acceso en: 30 nov. 2017.
112
113
114
El caso
Aunque el análisis se basa en numerosas situaciones registradas a
lo largo de los años en que investigo en este contexto, en el presente
apartado describiré brevemente una serie de hechos en particular, que
si bien ha ocurrido hace ya bastante tiempo, condensa prácticas y ma-
trices de sentido aún vigentes, y resulta por tanto un buen modo de
ejemplificar esta problemática.
El día viernes 12 de octubre de 2001 en la ciudad de Neuquén
–capital de la provincia homónima–, un grupo de niños, niñas y ado-
lescentes mapuche se encontraba pintando murales sobre los derechos
del niño en la sede de una empresa petrolera acusada de contaminación
ambiental3, a modo de contra festejo por el feriado nacional del “Día
de la Raza”.4
El gobierno provincial de Neuquén desplegó ante este hecho dos
tipos de respuesta. En primer lugar, envió a la policía provincial, que
disolvió por la fuerza la manifestación y detuvo en dependencia policial
a uno de los adolescentes de mayor estatura por unas horas, probable-
mente suponiendo que sería mayor de edad. En segundo lugar, poste-
riormente y ante el debate suscitado por tal accionar, el gobernador de
la provincia que ordenó el operativo policial se desligó de toda respon-
3
Disponible en: <http://www1.rionegro.com.ar/arch200110/s13j10.html>. Acceso en: 10 ene.
2018.
4
En el año 2010 pasó a denominarse “Día del Respeto a la Diversidad Cultural”.
115
Reflexiones antropológicas6
Ante las problemáticas descritas, desde una perspectiva antropo-
lógica, se tornó imprescindible atender a las tensiones entre discursos
y prácticas. Fonseca y Schuch (2009) ofrecen elementos para pensar la
distancia entre los discursos generales sobre los derechos de los niños
y las situaciones sociales concretas de vulneración de derechos, al plan-
tear que los discursos suelen universalizar la condición hegemónica de
la infancia, la idea de una “infancia universal” (vinculada a la inocencia,
la protección y la preparación para la vida adulta), pero esto no equivale
a universalizar las condiciones de acceso a derechos que habiliten expe-
riencias infantiles menos desiguales.
5
Disponible en: <http://rionegro.com.ar/arch200401/24/r24j05a.php>. Acceso en: 10 ene.
2018.
6
Algunas reflexiones fueron inicialmente trabajadas comparativamente con Noelia Enriz, con-
siderando también el caso de niños mbya guaraní que mendigan en las calles de la ciudad de
Posadas (Szulc; Enriz, 2016).
116
7
Incluso existiendo desde 2006 la Ley Nacional 26160 de emergencia territorial indígena, que
suspende los desalojos y ordena la realización de un relevamiento tendiente a la regularización
de sus territorios, el avance en su implementación ha sido inusitadamente lento (Gorosito,
2013).
117
118
119
8
En Argentina la CIDN fue ratificada e incorporada a la Constitución Nacional en 1994, a
partir de lo cual algunas provincias han ido sancionando leyes que adecúan su normativa a los
postulados de la Convención, entre ellas, la provincia del Neuquén y la ciudad de Buenos Aires
en 1999, y la provincia de Buenos Aires en 2004. En el año 2005 se sancionó en Argentina la
Ley Nacional 26.061 de la Protección Integral de los Derechos de Niños, niñas y adolescentes,
derogando los artículos aún entonces vigentes de la Ley 10.903 del Patronato de Menores.
120
121
9
El diputado de la ciudad de Buenos Aires Julián Obligio, ha promovido esa iniciativa, que
alienta la prohibición de que niños y adolescentes formen parte de colectivos públicos de
demanda, a través de la aplicación de multas; presumiblemente a partir de la transcendencia
que en su momento adquirió una serie de reclamos de estudiantes secundarios por problemas
122
Comentarios finales
El artículo aquí presentado permite abrir una serie de reflexiones
en torno a diversos ejes vinculados con la tensión general que repre-
senta para los estados ciertas prácticas de las poblaciones indígenas,
especialmente respecto de los niños. En primer lugar, queda claro que
las respuestas del estado provincial de Neuquén frente a las actividades
políticas de niños y niñas indígenas, reeditan el modelo de la minori-
dad, a pesar de que el mismo haya sido derogado en la legislación, y a
pesar de que los funcionarios públicos en su discurso apelen a la retóri-
ca de la protección integral y a los derechos del niño.
123
124
125
126
127
128
129
1
O número de escolas varia segundo as fontes. Enquanto a Secretaria Estadual de Educação
fala de 120, o movimento Ocupa Tudo RS estimou em 180 as escolas ocupadas.
2
A greve de professores da rede estadual do Rio Grande do Sul ocorreu entre 16/5/2016 e
7/7/2016. Na pauta, um pedido de reajuste salarial e a revisão do calendário de implantação
do piso salarial nacional.
3
Apesar de ter se comprometido, com o fim das ocupações, em adiar a votação deste projeto de
lei para 2017, o governo levou o PL a plenário poucos dias antes do natal de 2016.
130
4
O nome da escola, assim como o de todos os alunos aqui citados, foram alterados para preser-
var suas identidades. Reafirmamos aqui o agradecimento, já feito pessoalmente, aos jovens com
quem trabalhamos, pela confiança e pelos bons momentos passados juntos.
131
Taísa e André
André (16 anos, 1o ano do Ensino Médio) não podia dormir na
ocupação por causa do estado de saúde de sua mãe, “em casa sou só
eu e ela, então se acontece alguma coisa de noite, tenho que estar lá”.
Contudo, antes das oito horas da manhã, nos contaram, ele já estava na
escola acordando “com batuque de chinelo” quem ainda dormia. Como
a maioria dos outros “ocupantes”, ele vinha de ônibus, usando o crédito
do seu Tri5 e, depois do almoço organizado pelos responsáveis do dia
pela cozinha, seguia no início da tarde com Taísa (17 anos, 3o ano do
Ensino Médio) para um curso de programação informática ofereci-
do pela parceria da Rede Brasil Sul de Televisão (RBS TV) ‒ afiliada
gaúcha da Rede Globo ‒ com a Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul (PUCRS). Dos 30 estudantes de Ensino Médio de
Porto Alegre selecionados para frequentar o curso (entre centenas de
candidatos), 16 participavam de ocupações em suas escolas. “Eles esco-
lhem os que têm mais iniciativa, ‘empreendedores’ eles falam, então, cai
bem em que tá nas ocupações”, André nos explicou.
Para melhor aproveitar de suas habilidades em informática, na
divisão de tarefas da ocupação na Toledo, André e Taísa passaram a
integrar a comissão de comunicação. Seguindo o manual que reúne
ensinamentos de secundaristas das ocupações do Chile (2006), da
Argentina (2010-2011) e de São Paulo (2015) e que circula em grupos
de Whatsapp e Facebook, os ocupantes da Toledo, como de outras
5
Passe de ônibus da cidade de Porto Alegre.
132
6
O manual pode ser lido em: <https://issuu.com/omaleducado/docs/como-ocupar-verso-
web_fe32bdfbe0b515>. Acesso em: 10 maio 2018. Voltaremos a falar dele e das conexões entre
os diferentes movimentos de ocupação das escolas abaixo.
7
No Rio Grande do Sul, como já havia sido o caso de outros movimentos de ocupação de
escolas em outras cidades, a maioria dos grupos de ocupantes criou uma página no Facebook,
da sua escola ocupada, com nomes como “OcupaToledo” ou “OcupaTudoJulinho”. Por
meio dessas páginas, os jovens recebiam mensagens de apoio (como também mensagens de
desaprovação e insultos), pessoas se dispunham a fazer oficinas e os alunos faziam também
pedidos de alimentos que precisavam, por exemplo.
133
Olha, é uma faca de dois lados... Porque todo mundo quer ter aula.
Eu também quero ter aula! Bah, eu tô no terceiro ano, tudo que eu
mais quero é terminar e sair da escola! Mas às vezes a gente tem
que sacrificar uma coisa que é do nosso interesse pessoal por uma
134
135
Fotografia das autoras, 30 de junho de 2016. [o nome da escola e dos alunos foram desfocados]
136
8
Deste manual, encontramos apenas menções na internet (ver, por exemplo: <http://www.perfil.
com/noticias/politica/difunden-un-manual-para-tomar-y-ocupar-escuelas-20120921-0010.
phtml>. O manual foi publicado no site da Frente de Estudiantes Libertarios, site que não
existe mais.
9
Sobre o coletivo O Mal-Educado, ver seu site: <https://gremiolivre.wordpress.com/quem-
somos/>. Acesso em: 10 maio 2018. A versão em português do manual pode ser encontrada
no link citado na nota 6.
10
Ver, entre outras, a matéria: <https://g1.globo.com/educacao/noticia/pelo-menos-21-
estados-tem-escolas-e-institutos-ocupados-por-estudantes.ghtml>.
11
Estes dois trabalhos apresentam dados das ocupações em diferentes estados brasileiros,
oferecendo uma visão do conjunto das ocupações no país.
137
12
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LK9Ri2prfNw>. Acesso em: 10 maio
2018.
13
Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3J_5EVhJaJQ>. Acesso em: 10 maio
2018.
14
Sobre a difusão e a circulação dos movimentos sociais, ver Sommier (2010a).
15
Para Laugier e Ogien (2014, p. 29), esses movimentos recentes de protesto via ocupação têm
diversos pontos em comum: buscam por horizontalidade nas relações entre seus membros (fre-
138
139
17
Diversos estudos mostram que uma das funções do graffiti é justamente de marcar o territó-
rio, ver, por exemplo, Ricardo Campos (2013) e Nicolas Mensch (2014).
140
Helena e Amanda
141
Aqui, a gente fala de tanta coisa sabe? Além das coisas de política
mesmo. Então a gente se apoia. E tiveram as oficinas, uma de
gênero, uma de feminismo, com pessoas que... tipo, não se prendem
a padrões, sabe? Tudo isso...
Eu vou me assumir e deu. A mãe fica “não, isso você tá sendo in-
fluenciada, porque não é o que tu quer, porque tu só tem 16 anos e
não sabe o que tu quer, porque tu gosta sim de homem”. Então tipo,
ela quer impor, entendeu? “Não, tu gosta de homem sim.” “Mãe
quem sabe do que eu gosto sou eu! Oi... Meu corpo, minhas regras!”
(Risos)
142
18
Depois de citar a carta em entrevista, Amanda aceitou compartilhar trechos dela conosco,
via Messenger.
19
Há aqui uma correspondência entre a busca pelo reconhecimento do movimento, de sua le-
gitimidade, uma busca por um reconhecimento coletivo dos jovens que querem ser vistos como
143
atores políticos competentes e também legítimos (face aos governantes, aos adultos em geral, a
seus pais...) e ainda uma busca de reconhecimento no âmbito pessoal, por escolhas e caminhos
trilhados individualmente. Todas estão intimamente ligadas. As reflexões de Axel Honneth
(2003) sobre as diferentes formas de “luta por reconhecimento” ou “contra o desprezo” seriam
úteis para aprofundar essas reflexões que evocamos aqui brevemente.
144
145
20
No início do século XX, a “psicologia das massas” e outras teorias do comportamento coletivo
advindas sobretudo da psicologia social americana e francesa, estudaram protestos e mobili-
zações sociais sob o ângulo das emoções. Mas esses estudos insistiam sobre a irracionalidade
dos atores, sobre a violência que decorria dos encontros e sobre o fenômeno de “contágio” em
grandes aglomerações (Sommier, 2010b, p. 187). Em reação a esse quadro interpretativo, a
partir dos anos 1970, pesquisadores trabalhando sobre movimentos sociais adotaram majori-
tariamente a perspectiva do ator racional, considerado como alguém que faz escolhas e age de
maneira lógica. Como sintetizam Jeff Goodwin, James Jasper e Francesca Polletta (2001, p.
71): “Enquanto os teóricos precedentes haviam descrito os participantes de protestos como
emotivos para demonstrar sua irracionalidade, os novos teóricos demonstraram sua raciona-
lidade, negando as emoções”. É a partir dos anos 1990 que as emoções voltam à cena nas
pesquisas sobre política, movimentos sociais e protestos.
146
Às vezes, tu leva anos pra construir uma relação com uma pessoa,
e a gente levou duas semanas pra tá todo mundo já uma família
gigante. [...] A gente ganhou tanto sentimento um pelo outro que
lá no dia da Secretaria da Fazenda22 quem tava aqui na escola...
tava chorando.
21
McAdam, já nos anos 1980, evoca a força de um momento curto, porém de convivência in-
tensa na militância: uma viajem, em 1964, feita por uma centena de jovens brancos ao Missis-
sippi para inscrever negros em listas eleitorais. Ele relata (1988, p. 66-115) o desenvolvimento
de amizades e ligações amorosas durante essa ação que ficou conhecida como Freedom Summer.
22
No dia 15 de junho, aproximadamente 40 integrantes do Comitê de Escolas Independen-
tes – CEI (escolas cujo grêmio não era afiliado a entidades estudantis), dentre os quais vários
alunos da Toledo, ocuparam o prédio da Secretaria da Fazenda. Em consequência, os alunos
maiores de idade, além de dois jornalistas, foram presos. Liberados no dia seguinte, eles con-
tinuaram respondendo por processo por “dano qualificado contra o patrimônio do estado”.
147
Conclusão
23
O estudo já clássico de Charles Tilly (2008) sobre lutas populares em diferentes épocas e
contextos já aborda essa questão da existência de um repertório comum de ações de um movi-
mento de protesto e a estandardização das ações (performances) de seus militantes.
148
24
Uma analogia nos parece possível com o espaço do quarto de adolescentes, um espaço que
querem seu, e sobre o qual, em negociações constantes, tentam assumir o controle: começam
a exigir que seus pais batam na porta antes de entrar, negociam o tempo a ficar sozinhos ali,
escolhem o que por em suas paredes, etc. Sobre a relação de adolescentes ao próprio quarto, ver,
por exemplo, Joel Zaffran (2014) ou Nina Duque (2017).
149
Referências
AGUILERA RUIZ, O. Repertorios y ciclos de movilización juvenil en Chile (2000-
2012). Utopía y Praxis Latinoamericana, v. 17, n. 57, p. 101-108, 2012.
BELLEI, C. et al. Ecos de la Revolución Pingüina: avances, debates y silencios en la
reforma educacional. Santiago de Chile: Universidad de Chile; Fondo para las
naciones unidas para la Infancia Unicef, 2010.
BELTRÁN, M.; FALCONI, O. La toma de escuelas secundarias en la ciudad de
Córdoba: condiciones de escolarización, participación política estudiantil y
ampliación del diálogo social. Propuesta Educativa, v. 1, n. 35, p. 27-40, 2011.
BRENNER, A. K. Do potencial à ação: o engajamento de jovens em partidos
políticos. Pro-posições, v. 29, n. 1, p. 239-266, 2018.
BUCCI, E. A forma bruta dos protestos: das manifestações de junho de 2013 à queda de
Dilma Rousseff em 2016. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
BYRNE, J. (org.). The Occupy Handbook. Nova Yorque: Back Bay Books, 2012.
CAMPOS, R. A arte urbana enquanto “outro”. V!RUS, n. 9 [on-line], 2013.
Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/virus/carpet_data/44/44br.pdf>. Acesso
em: 14 maio 2018.
CAMPOS, A. et al. Escola de lutas. São Paulo: Veneta, 2016.
CATINI, C. de R.; MELLO, G. M. de C. Escolas de luta, educação política. Educação
& Sociedade, v. 37, n. 137, p. 1.177-1.202, 2016.
DOMEDEL, A.; PEÑA Y LILLO, M. El Mayo de los Pingüinos. Santiago de Chile:
Ediciones Radio Universidad de Chile, 2008.
DEMERTZIS, N. (org.). Emotions in politics: the affect dimension in political
tension. Londres: Palgrave; Macmillan, 2013.
DUQUE, N. La reconsidération de la “culture de chambre”. Une appropriation
intime des espaces socionumériques par les adolescentes. In: Bonenfant,
M. et al. (orgs.), Les pratiques transformatrices des espaces socionumériques. Québec:
Presses de l’Université du Québec, 2017. p. 57-74.
ENRIQUE, I. Movilización estudiantil en la Ciudad de Buenos Aires: aportes para
el análisis. Boletín de Antropología y Educación, n. 1, p. 5-10, 2010.
FERNÁNDEZ ÁLVAREZ, M. I. Além da racionalidade: o estudo das emoções
como práticas políticas. Mana, v. 17, n. 1, p. 41-68, 2011.
FLAM, H.; KING, D. (orgs.). Emotions and Social Movements. Londres: Routledge,
2005.
150
151
Documentários citados
Acabou a paz. Isso aqui vai virar o Chile. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=LK9Ri2prfNw>.
La rebellion pinguina. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=3J_5E-
VhJaJQ>.
152
Introducción
153
154
155
156
157
158
Vivir en un frasco
La posición que madres y padres sostuvieron respecto de la dicta-
dura está mediada por la afectividad entramada en las relaciones pater-
no-filiales, y por la sensibilidad política de las y los sujetos. Pero tam-
bién adquiere matices específicos alrededor de eventos contingentes y
peculiares de la trama familiar (tales como el divorcio de los padres, la
muerte de algún familiar, o el nacimiento de un hermano/a), la edad de
los padres en el presente, y una posición más o menos explícita en re-
lación con la política de derechos humanos, ya sea relativa a los juicios
y condena a los perpetradores de crímenes de lesa humanidad, como a
los tópicos que se asocian a estos temas en el discurso social hoy (pa-
radigmáticamente, el “problema de la inseguridad” y sus reverberacio-
159
1
La Triple A, Alianza Anticomunista Argentina, fue un grupo paramilitar de extrema derecha
creado durante el gobierno de Perón en 1973 por el Ministro de Bienestar Social, José López
Rega y el jefe de la Policía Federal Alberto Villar. De acuerdo con el informe de la Comisión
Nacional sobre la Desaparición de Personas (Conadep), al menos 122 asesinatos de líderes y
activistas de izquierda fueron cometidos por la organización, aunque las estimaciones llegan
a 1200.
160
2
La Circular n. 1050 del Banco Central de la República Argentina, emitida en abril de 1980,
ató el interés mensual de los créditos hipotecarios al valor del dólar estadounidense. En febre-
ro de 1981, cuando la especulación financiera llegaba a sus picos, el entonces Ministro de
Economía, el descendiente de ganaderos Martínez de Hoz, anunció una fuerte devaluación,
que se siguió con la estatización de la deuda externa de numerosos grandes empresarios, la
impagabilidad de los créditos de pequeños y medianos empresarios, y la pérdida de sus hogares
por parte de las familias que los habían comprado con aquellos créditos hipotecarios.
161
162
163
3
Las/os entrevistados provienen de sectores medios (altos y bajos) y obreros. Un tercio de ellos
son hijos o nietos de personal de las fuerzas de seguridad (militares y policías), y un quinto
alcanzó sólo el secundario completo, en tanto el resto tiene terciario o universitario completo,
una parte hasta el nivel de doctorado. Alrededor de la mitad participó en los tempranos años
ochenta de los centros de estudiantes de escuelas secundarias, y en cuatro casos continúan una
participación política partidaria orgánica. En un cuarto de los casos madres y/o padres se man-
ifestaron abiertamente a favor de la dictadura. Sólo cinco de las personas entrevistadas dejaron
entrever que el “cierre” del pasado les resultaba necesario, cuestionando el relato institucional
sobre los crímenes de la dictadura sostenido por los gobiernos kirchneristas y reclamaron una
mayor preocupación por “la inseguridad” antes que por “los derechos humanos”.
164
Discusión
A partir del recorrido del artículo, las preguntas iniciales relativas
a las formas de agencia infantil en contextos dictatoriales rememora-
das por adultos, adquieren renovados matices teóricos y políticos. En
primer lugar, es posible señalar una dimensión dinámica e histórica de
la agencia. Esto es, hay una reinterpretación de la historia de la propia
infancia a lo largo del trabajo biográfico, en los contextos culturales y
políticos cambiantes en los que se inscribe tal trabajo. En particular, en
este trabajo es posible dar cuenta del reordenamiento de las categorías
de autoridad parental e infancia, que articulan nuevos modelos sociales.
En ellos, la crítica al autoritarismo y a la pasividad paterno/materna
durante la dictadura constituye un punto sustantivo en la configuración
de los posicionamientos de los hoy adultos.
En segundo lugar, la comprensión del contexto socio-político
emergía en espacios liminares o intermedios, incluso mediante estra-
tegias de invisibilización y ocultamiento que los niños desplegaron
ante el mundo adulto o a la autoridad de algunos adultos. Niños y
niñas encontraban en las distracciones, en las dudas y silencios “carga-
dos”, en las contradicciones de sus padres, el acceso a un conocimiento
del contexto histórico que era negado o silenciado. En tal sentido,
estas estrategias se vinculan con el planteo de Scott sobre los modos
165
166
4
The Boy in the Sriped Pyjamas (2008) es una película inglesa dirigida por Mark Herman, a
partir de la novela homónima de John Boyne, que muestra el Holocausto desde la perspectiva
de un niño de 8 años, hijo del comandante nazi del campo de exterminio.
167
Referencias
ARFUCH, L. (Auto)biografía, Memoria e Historia. Clepsidra. Revista Interdisci-
plinaria de Estudios Sobre Memoria 1, p. 68-81, 2004.
BJERG, M. El viaje de los niños: inmigración, infancia y memoria en la Argentina de
La Segunda Posguerra. Buenos Aires: Edhasa, 2012.
COSSE, I. La emergencia de un nuevo modelo de paternidad en Argentina (1950-
1975). Estudios Demográficos Y Urbanos 24(2), p. 429-462, 2009.
MAFALDA. Middle class, everyday life, and politics in Argentina, 1964-1973.
Hispanic American Historical Review 94(1), p. 35–77, 2014.
DAS, V Ordinary ethics: the perils and pleasures of everyday life. In: Fassin, D.
(Ed.). A Companion to Moral Anthropology. Oxford: Blackwell, 2012.
DONZELOT, J. La Policía de Las Familias. Barcelona: Pre-Textos, 1998.
DOUGLAS, K. Contesting childhood: autobiography, trauma and memory. New
Brunswick: Rutgers University, 2010.
ELSHTAIN, J. B. Political children: reflections on Hannah Arendt’s distinction
between public and private life. In: Reconstructing political theory: feminist pers-
pectives. University Park: Pennsylvania State University Press, 1997. p. 109-127.
FILC, J. Entre el parentesco y la política: familia y dictadura, 1976-1983. Buenos Aires:
Biblos, 1997.
FRANCO, M.; LEVIN, F. Historia reciente: perspectivas y desafíos para un campo en
construcción. Buenos Aires: Paidos, 2007.
FRIED, G. Collective memory transmissions of forced disappearance: parental
“pedagogies of horror” and familial narratives across generations in the aftermath
of Uruguay’s State Terror (1985-2001). In: The Memory of State Terrorism
in the Southern Cone. Argentina, Chile and Uruguay. New York: Pallgrave
Macmillan, 2011.
LVOVICH, D.; RODRÍGUEZ, L. G. La gendarmería infantil durante la última
dictadura. Quinto Sol 15(1), p. 1-21, 2011.
MANZANO, V. Sexualizing Youth: Morality Campaigns and Representations of
Youth in Early 1960s. Journal of the History of Sexuality 14(4), p. 433-461, Buenos
Aires, 2005.
168
169
Modos de cuidado:
estado, comunidade, família
Flávia Pires
Patrícia Oliveira Santana dos Santos
Introdução e metodologia
173
1
De acordo com as definições atuais do programa, são consideradas famílias em situação de ex-
trema pobreza aquelas cuja renda per capita mensal seja de até R$ 85,00 e famílias em situação
de pobreza aquelas de renda per capita mensal entre R$ 85,01 e R$ 170,00 (valores de 2017).
174
2
Pires (2012) destaca que entre as crianças beneficiadas pelo PBF na cidade de Catin- gue-
ira, PB, as que se encontravam inseridas no PETI eram mais facilmente dispensadas do tra-
balho doméstico e tinham mais tempo livre.
175
176
Contexto de pesquisa
Antes de adentramos na questão central do capítulo é necessário
apresentar o lugar do qual falamos, pois, sem considerar o contexto
aqui retratado corre-se o risco de uma generalização dos resultados, o
que não é nossa intenção.
Orobó é um município situado na mesorregião região do Agreste
Setentrional pernambucano, na microrregião do Médio Capibaribe e
que faz divisa ao norte com o estado da Paraíba. Distante aproxima-
damente 118 km da capital do estado de Pernambuco, a cidade do
Recife, caracteriza-se como um município predominantemente rural,
uma vez que dos seus 22.878 habitantes, 14.645 vivem na zona rural
(IBGE 2010). O centro do município, área considerada urbana, conta
com uma população aproximada de 8.233 residentes. Nessa área há um
constante fluxo da população rural em busca dos serviços ofertados ‒
177
3
Dados adquiridos através da Agente Comunitária de Saúde da comunidade. Esses dados são
uma aproximação, uma vez que o IBGE apresenta os dados totais do município.
4
No campo religioso, encontra-se em Feira Nova uma igreja católica e uma igreja evangélica
Assembléia de Deus, popularmente conhecida como a igreja dos crentes, cujos membros são
dos sítios vizinhos, segundo as informações dos próprios moradores.
178
5
Feira Nova, assim como outros lugares do município, não possui um sistema de abastecimen-
to de água adequado, de forma que apenas nos últimos anos foi realizado um encanamento na
comunidade que passa pelas ruas e chega até a frente das residências. Cada casa, com exceção
das casas do final da rua, das quais diz-se que a água não chega com força o suficiente para
entrar, recebe um encanamento improvisado que passa pela quina do muro seguindo pelo canto
da parede até o final da casa, ou seja, vai do muro da frente até o quintal da casa, onde em geral
está localizada a caixa d’água ou um grande reservatório. A água chega nas casas apenas uma
vez por semana, no conhecido “o dia da água”, em que ocorre armazenamento semanal, uma
vez que a distribuição da água tem hora para chegar e para terminar. Atualmente a prefeitura
municipal está com um projeto de ampliação de abaste- cimento de água na comunidade que
vai contribuir para que os seus moradores recebam água mais de uma vez por semana.
179
6
Todos os nomes próprios de pessoas são fictícios.
180
181
A negação da infância
Nesse tópico faremos uma discussão sobre o trabalho e a infância.
Nas entrevistas lançamos mão da pergunta: “Como foi sua infância?”.
De imediato ouvíamos uma negação da infância: “Eu não tive infância,
não. A minha infância foi muito sofrida! Eu tive que trabalhar muito
cedo... ”. Rizzini (2010) já afirmou que as crianças pobres sempre tra-
balharam. Cipola (2001) afirma também que as condições de pobreza e
de miséria das classes menos favorecidas economicamente, acopladas à
baixa escolaridade dos pais é o que, em muitos casos,produz e reproduz
o uso da mão de obra infantil entre as gerações. Esses podem ser con-
siderados um dos principais motivos para o a utilização precoce dessa
mão de obra, mas é certo que há outros fatores, como a moralidade e
a educação próprias do mundo rural que incidem sobre essa questão.
O trabalho, em muitos casos, é considerado como a razão para a
ausência total ou parcial de duas gerações de crianças do âmbito esco-
lar, além de restringir o tempo das práticas lúdicas. Nesse contexto, po-
demos perceber que uma infância de trabalho não é considerada uma
infância. O ideal de infância encontra-se relacionado à escolarização,
ao não trabalho e à ludicidade. No entanto, para os adultos e idosos é o
trabalho que marcou essa fase do curso da vida, logo, essa tríade não foi
vivenciada plenamente por essas gerações, o que nos leva a entender o
por quê da negação da infância. As famílias das crianças que encontra-
ram-se inseridas no mundo do trabalho não davam pouco valor à esco-
larização, apesar do alto índice de abandono escolar. Entendemos que
a escolha pelo trabalho em detrimento da escolarização está associada
entre escolher o que é prioridade e o que é importante. Neste caso, a
escolarização acabou sendo tomada como importante, enquanto o tra-
182
183
A minha vida? Oxe, a minha vida é longa! Oxe, a minha vida era
apanhando café, era arrancando mandioca, era fazendo farinha.
Moendo mandioca, cevando mandioca, plantando roça. Tudo isso
era a minha infância. (E a senhora tinha mais ou menos quantos
anos quando fazia tudo isso?) Eu? Oxe, quando eu comecei, quan-
do mãe ensinou a gente a fazer as coisas, eu era deste tamanho oia
(e fez uma expressão com a mão em direção ao chão mostrando
que era bem pequena). [...] E então, pra cevar mandioca era assen-
tada dentro do cevador, porque não alcançava chegar no cocho de
cevar. A minha infância foi trabalho, foi o cabo da enxada. Pode botar
aí, era o cabo da enxada ao invés da roda! (Dona Maria José, 55 anos,
em entrevista para essa pesquisa, grifo nosso).
184
185
186
A invenção da infância
187
188
7
Temos, é claro, uma nítida mudança geracional, sobretudo pela permanente frequência
escolar advinda da obrigatoriedade da condicionalidade educacional do programa. A educação,
no entanto, é uma questão a ser sempre revista e analisada, pois seu acesso é fundamental,
embora não suficiente; é preciso uma maior atenção na educação de forma geral, uma melhoria
educacional e não apenas uma ampliação ao acesso. Contudo, é inegável que o acesso escolar
está garantido por meio da condicionalidade e do apoio pecuniário que faz a criança permanecer
na escola sem danos financeiros para a família.
189
190
191
Considerações finais
[...] Portanto, parece que, a bem dizer, não existem crianças sem in-
fância, mas, sim, crianças cujas infâncias são tão infames e distintas
192
193
Referências
ARIÈS, P. História social da criança e da família. Trad. D. Flakasman. 2. ed. Rio de
Janeiro: LTC Editora, 1981.
CHRISTENSEN, P.; JAMES, A. (orgs.). Investigação com crianças: perspectivas e
práticas. Porto: Edições Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, 2005.
CASTRO, L. R. de. As crianças e a escola: ao encalço da “longa revolução”. In: ___.
O futuro da infância e outros escritos. 1. ed. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.
CIPOLA, A. O trabalho infantil. São Paulo: Publifolha, 2001.
DAMASCENO, M. N.; BEZERRA, B. Estudos sobre educação rural no Brasil:
estado da arte e perspectiva. Educação e Pesquisa, 30 (1), p. 73-89, 2004.
DEBERT, G. G. Pressupostos da reflexão antropológica sobre a velhice. In: ___.
(Org.). Antropologia e velhice. Textos Didáticos, 13. Campinas: IFCH/Unicamp,
1994. p. 7-30.
GARCIA Jr., A. R. O Sul, caminho do roçado: estratégias de reprodução camponesa e
transformação social. São Paulo: Marco Zero, 1989.
GOMES, A. M. R. Outras crianças, outras infâncias? In: SARMENTO, M.;
GOUVEA, M. C. S. de. (orgs.). Estudos da infância: educação e práticas sociais.
Coleção Ciências Sociais da Educação. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.
KRAMER, S. Infância: fios e desafios da pesquisa. Campinas, SP: Papirus, 1996.
JAMES, A. Giving voice to children’s voices: practices and problems, pitfalls and
potentials.American Anthropologist, 109 (2), 2007.
JAMES, A.; PROUT, A. Constructing and reconstructing childhood: contemporary
issues in the sociológical study of childhood. Basingstoke: Falmer Press, 1990.
LIBÓRIO, R. M. C.; UNGAR, M. Children’s perspectives on their economic activity
as a pathway to resilience. Children & Society, 24(4): p. 326-338, 2010.
MAYALL, B. Conversas com Crianças. Trabalhando problemas geracionais. In:
CHRISTENSEN, P.; JAMES, A. (orgs.). Investigação com crianças: perspectivas
e práticas. Porto: Edições Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, 2005.
MAYBLIN, M. Gender, Catholicism and Morality in Brazil: virtuous husbands,
powerful wives. New York: Palgrave; Macmillan, 2010.
PAULO, M. de A. L. de. Juventude rural: suas construções identitárias. Recife: Ed.
Universitária da UFPE, 2011.
PIRES, F. F. Ser adulta e pesquisar crianças: explorando possibilidades metodológicas
na pesquisa antropológica. Revista de Antropologia, 50, p. 225-270, 2007.
PIRES, F. F. Quem tem medo de mal-assombro? Religião e infância no semiárido
Nordestino. Rio de Janeiro; João Pessoa: E-papers; UFPB, 2011.
194
195
196
Introducción
197
1
Si bien el análisis del enfoque maternalista de las políticas públicas de salud no es el foco
de este trabajo, cabe señalar que categorías como las de “binomio madre-hijo” o “salud
materno-infantil”, aún vigentes en las mismas, se construyen de conjunto con el procesos de
medicalización de la crianza infantil, entre fines del siglo XIX y comienzos del XX (Nari,
2004; Colangelo, 2012).
2
La Plata es la capital de la provincia de Buenos Aires. “Partido” es el nombre que reciben en
la provincia de Buenos Aires las divisiones territoriales y administrativas correspondientes a los
municipios. En este caso, abarca el casco urbano de la ciudad de La Plata y varias localidades
periurbanas. Según datos del Instituto Nacional de Estadística y Censos, en 2010 el partido de
La Plata contaba con una población de 654.324 habitantes.
198
3
El Servicio de Pediatría del hospital está integrado por médicos de planta, residentes y
enfermeros; en caso de ser necesario, se realizan derivaciones a otros servicios dentro del mismo
hospital, entre ellos, los de Psicología y Servicio Social. En los CAPS, el equipo de salud está
integrado por médico pediatra y/o generalista, ginecóloga u obstétrica, odontólogo, enfermeros,
promotores de salud, trabajador social, psicólogo (pudiendo algunos de estos profesionales no
estar o ser “compartidos” entre dos Centros).
199
4
De acuerdo con el Ministerio de Salud de la Nación, el control del niño sano, también lla-
mado control de crecimiento y desarrollo, debe realizarse con la siguiente frecuencia: de 1 a 6
meses: cada mes; de 6 a 12 meses: cada 2 meses; de 1 año hasta el año y medio: cada 3 meses;
del año y medio hasta los 3 años: cada 6 meses; de 3 a 6 años: uno por año.
200
201
202
5
Serre (1997), en su estudio sobre la atención materno-infantil contemporánea en Francia,
encuentra la construcción de una taxonomía corporal y de comportamientos: gordo/delgado,
203
204
205
206
6
En sus estudios etnográficos con médicos de familia en la ciudad de Río de Janeiro, Bonet y
Fazzioni (2017) también encuentran que, además de la formación específica, variables como las
emociones, los afectos, las trayectorias personales y profesionales y el tiempo de permanencia
en el contexto de trabajo, son fundamentales en las prácticas de los profesionales que trabajan
en la atención básica.
7
También Ortale (2002), en su estudio sobre las prácticas y representaciones acerca de la des-
nutrición infantil, encuentra que en los médicos de los hospitales públicos hacen mayor énfasis
en las características maternas negativas como causa de los problemas que aquejan a los niños,
207
con respecto a los profesionales de los de los establecimientos de atención primaria, donde se
establece un lazo más próximo con las familias.
208
209
210
Consideraciones finales
A partir de una concepción naturalizada de la infancia y del cuerpo
infantil, basada en los procesos de crecimiento y desarrollo, los equipos
de salud inscriben el cuidado infantil en un orden moral, desde el cual
se establecen obligaciones y responsabilidades parentales y familiares.
Sin embargo, el trabajo etnográfico realizado ha permitido percibir que
las intervenciones sobre los niños y sus familias, más allá de sus lógicas
generales, están lejos de ser homogéneas y unívocas. Por el contrario,
ponen en juego múltiples actores y estrategias y están atravesadas por
las diferencias entre instituciones, así como por la heterogeneidad exis-
tente al interior del equipo de salud, por las prácticas de los propios
niños y sus familias y por las diversas relaciones que se establecen, en
211
212
213
214
1
A tese realizada no PPGAS/MN/UFRJ foi intitulada: “Figuras da causação: sexualidade
feminina, reprodução e acusações no discurso popular e nas politicas de estado” e orientada pela
professora Adriana de Resende Barreto Vianna.
215
2
Na tese discuto as representações sobre outras “figuras da causação”, as “novinhas” e as “mães
abandonantes” (2017).
216
217
218
3
No Brasil, ver também os trabalhos de Marta de Luna Freire (2008) e Dagmar Meyer (2005),
que mostram como a maternidade se constituiu como fonte de preocupação política nas últi-
mas décadas.
219
4
Duarte também chama a atenção para a variedade dos fenômenos “negativos”, ja Aurel Kolnai
(2013) enfatiza que o amor e sentimentos positivos são descritos na literatura com maiores
nuances do que o ódio. Segundo este autor, existe uma dificuldade de classificação e de oferecer
descrições com gradações para o ódio: "Esta divergência que acabamos de mencionar se faz
mais visível quando vemos a multiplicidade muito mais ampla das formas de amor. Falam de
amor benevolente, amor concupiscentia e, amor intelectual; mais jamais se tem acometido uma
classificação correspondente para o ódio”.
5
Trakinas é o nome de um biscoito recheado.
220
6
Diaz-Benítez (2015) chama atenção também para “a linguagem do excesso, como uma das
principais chaves na produção da humilhação”, a partir dessa chave podemos entender o uso
de diversos xingamentos e ameaças, “vou te quebrar”, “vou colar sua língua na frigideira”, “vou
torcer seu pescoço”.
221
222
7
A biblioteca foi extinta devido aos confrontos policiais no território. O espaço se situava numa
das ruas principais da comunidade. A empresa avaliou que a “situação de risco” era motivo para
suspender as ações do projeto. Isso mostra como a violência institucional de estado influencia
na mobilidade vivenciada no território. Um lugar fundamental de encontros, empregabilidade,
lazer, estudo e formação foi interditado a partir de uma operação especial do BOPE (Batalhão
de Operações Policiais Especiais).
223
Eu fui falar com uma garota que achava que eu tinha falado mal
dela, fui lá na casa dela, bati no portão, “oh coisinha, você está
achando que eu falei mal de você? Eu não falei não”. Daí essa me-
nina agarrou no meu pescoço e apertou. E ela é adulta tia, quando
eu contei pra minha mãe o que ela tinha feito, minha mãe fez isto.
224
8
Retomo aqui, novamente os achados de Duarte sobre o “afloramento ao nível da pele” (1988,
p. 30), não apenas como algo que aparece nessa superfície, mas como força que tem como alvo
a própria superfície dos outros.
9
O “Reino das Mães” é uma metáfora cunhada por Nise da Silveira a partir das pinturas de
Adelina Gomes, uma das pacientes do Centro Psiquiátrico Nacional do Engenho de Dentro,
no Rio de Janeiro. Segundo as análises da psiquiatra, Adelina, uma moça pobre, viveu uma
relação de intenso apego e repressão com sua mãe, com quem morava no interior do estado e
que censurou a paixão e o envolvimento da filha com um rapaz. Após este episódio, Adelina
se apresentava cada vez mais nervosa, até chegar ao ponto de estrangular sua gata. Este evento
desencadeou sua internação no Centro, onde recebeu o diagnóstico de esquizofrenia e perma-
neceu internada até o fim da sua vida. As pinturas de Adelina são famosas por retratar imagens
225
femininas, tais quais flores, plantas e mulheres. Ao analisar estas pinturas, Nise afirmou que
estas seriam manifestações do inconsciente coletivo a partir de arquétipos. A comunicaçãopor
meio das pinturas e esculturas feitas por Adelina expressa o que é indizível na linguagem fala-
da, remetendo, por sua vez, às informações arquetípicas, relacionadas muitas vezes a situações
de trauma e transformação da subjetividade. Sobre este e outros aspectos da vida de Adelina
Gomes e da trajetória de Nise da Silveira, ver trabalho de Felipe Magaldi (2015). Sobre suas
pinturas, ver o documentário “No reino das mães”, de Leon Hirszman, disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=4ChaFsprUsI>.
226
227
228
229
230
231
Introducción
¿Qué aportes puede hacer el cuidado para comprender mejor el
objeto de estudio “trabajo infantil”? Este interrogante guía las siguientes
páginas y el ejercicio que me propongo aquí es intentar responderlo
considerando un conjunto de literatura sobre cuidado. En primer lugar,
haré una breve caracterización del tema de investigación en el que se
enmarca esta pregunta, luego haré referencia a algunas líneas específicas
de cuidado que permiten complejizar el tema y finalmente colocaré
algunas reflexiones en torno a las ventajas y limitaciones que supone el
uso de esta categoría de análisis.
El objetivo general de la investigación etnográfica a la que hago
alusión, realizada en el marco de un doctorado en antropología social en
curso, es analizar las experiencias de trabajo infantil según generaciones,
géneros y trayectorias familiares en una serie de unidades domésticas del
noroeste de la provincia de Misiones, Argentina. Tomando como punto
de partida una investigación precedente (Mastrángelo, 2006), tenía co-
nocimiento previo acerca de la existencia de algunas familias en las que
había niños/as que trabajaban junto a sus madres y padres en la extrac-
ción y venta de piedras preciosas en Wanda. En esta localidad, situada a
50 kilómetros de Puerto Iguazú (ciudad en la que se encuentran las cata-
ratas de Iguazú y uno de los principales puntos turísticos de Argentina)
se encuentran las llamadas minas de Wanda, un importante atractivo
turístico debido a las piedras preciosas que se extraen de allí.
232
1
Fundamentalmente vinculados a la forestación y cosecha de yerba mate.
233
Figura 3: Niños vendiendo piedras en la avenida que da acceso a las empresas mineras
234
235
2
Una de la razones a las que más se alude para explicar la persistencia de trabajo infantil en
zonas rurales es "la cultura" de las familias. Teniendo en cuenta que generalmente la forma de
pago por cantidad (caso de la cosecha de yerba mate) es frecuente que trabaje toda la unidad
doméstica, incluyendo a niños/as.
236
A modo de cierre
Responder qué significa el cuidado lleva necesariamente a indagar
en distintas perspectivas teóricas que plantean cosas muy diferentes. Sin
237
238
Referencias
DINIZ, D. O que é deficiência? Coleção Primeiros Passos. São Paulo: Brasiliense, 2007.
EPELE, M. Sobre o cuidado de outros em contextos de pobreza, uso de drogas e
marginalização. Mana, v. 18, n. 2, p. 247-268, 2012.
FAUR, E. El cuidado infantil en el siglo XXI: mujeres malabaristas en una sociedad
desigual. Buenos Aires: Siglo XXI, 2014.
LLOBET, V.; MILANICH, N. La maternidad y las mujeres de sectores populares
en las Transferencias Condicionadas de Ingresos. Un aporte al debate sobre el
cuidado y las relaciones de género. Zona Franca, Revista del Centro de Estudios
Interdisciplinario sobre Mujeres. Año XXII, n. 23, p. 58-69, 2014.
MASTRANGELO, A. Miserias preciosas: Trabajo infantil y género en la minería
artesanal. Misiones, Argentina. En: Castilhos, Z. et al. (Eds.). A questão
de gênero e trabalho infantil na pequena mineração sul‒americana Brasil, Perú,
Argentina, Bolívia. Rio de Janeiro: Cetem, CNPQ, 2006. p. 135‒151.
MOL, A. et al. Putting practice into theory. In: ___. Care in practice on tinkering in
clinics, homes and farms. Amsterdam: Transcript, 2010.
MOLINIER, P. Ética e trabalho do care. In: Hirata, H.; Araújo, N. Cuidado e
cuidadoras: as várias faces do trabalho do Care. São Paulo: Atlas, 2012.
PALOMO, M. T.; Muñoz Terrón, J. M. Interdependencias. Una aproximación
al mundo familiar del cuidado. Argumentos: revista de crítica social, 17. Buenos
Aires, p. 212-237, 2015.
ZIRBEL, Ilze. Uma teoria política feminista do cuidado. Tese de doutorado, PPG de
Filosofia, UFSC, 2016. – Capítulo 1, p. 29-64.
239
241
242
243
244
245
246