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UNIVERSIDADE CATÓLICA DO SALVADOR - UCSAL

FACULDADE DE DIREITO

TEORIA GERAL DO PROCESSO

Tema 18 Modificação de Competência. Prorrogação. Prevenção.


Conexão e Continência. (noções gerais)

MODIFICAÇÃO DA COMPETÊNCIA

Preliminarmente, vale buscar-se o sentido da expressão “modificar a competência”.


Conforme já foi examinada, a competência é a medida da jurisdição. Isto é, a medida de
atuação do juiz ou tribunal no exercício de sua função judicante. Como preleciona Batista
Martine, ao comentar a matéria em exame, “a jurisdição do Juiz não abrange nem todas as
relações jurídicas, nem todo território nacional, nem todas as pessoas domiciliadas neste território”. É
a competência que delimita o campo de atuação do órgão judicante, dando a medida
abrangente do seu poder de julgar.

Além da limitação do poder judicante, pode o juiz ter jurisdição para determinadas causas e
não ser competente.

Daí resulta ser a competência do juiz absoluta ou relativa. Quando carece do poder
jurisdicional para conhecer e julgar a lide, em razão da matéria, (competência material), ou da
graduação hierárquica (competência funcional), a incompetência do juiz diz-se absoluta. Todos
os atos decisórios que praticar no processo são nulos, sem qualquer possibilidade da
restauração ou saneamento.

A incompetência relativa não resulta da falta de jurisdição do juiz. Tem este o poder de
julgar a lide, em razão da matéria ou da função jurisdicional, por exemplo, mas não tem
competência por não comportar-se a causa nos limites do valor ou da sua circunscrição
territorial. Em regra, a incompetência relativa decorre em face do domicílio do réu, ratione
domicili e, ocasionalmente, em razão do valor e da situação da coisa (competência territorial).
Trata-se de incompetência relativa porque visa resguardar o interesse do acionado, réu, para
que este não seja demandado fora da jurisdição de seu domicílio, ou bem seja do lugar em
que exerce em caráter permanente as suas atividades. O mesmo acontece quando a
competência se firma em razão da situação da coisa (rés), isto é, do bem litigioso. Em todos
esses casos não avulta um interesse de ordem pública, que pode ser da própria justiça
para, por isso mesmo, determinar-se a competência única de um juizo com a exclusão de
todos os outros.

Ora, nos casos de competência relativa, esta pode vir a ser modificada, seja pela aceitação
tácita de outro juízo com idêntica jurisdição ratione materiae e também da hierarquia, seja
em face da expressa disposição da lei, como por aceitação das partes.

A esse fenômeno processual dá-se o nome de modificação da competência. De modo que


a modificação é assim um meio pelo qual um juízo relativamente incompetente torna-se

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competente para a ação excluindo os demais, e por isso a competência de um juiz se torna
exclusiva, com o afastamento de outros juizes com iguais poderes jurisdicionais.

É também relativa a competência feita por distribuição, nas comarcas onde há vários juizes
de igual jurisdição e hierarquia e na mesma circunscrição territorial.

PRORROGAÇÃO: CONEXÃO E CONTINÊNCIA


PREVENÇÃO

Consoante preleciona Frederico Marques, “prorroga-se a competência quando, sob certas condições,
um órgão judiciário se torna competente para determinado processo que, segundo as regras comuns, refoge de
sua jurisdição (entenda-se por área de atuação). Amplia-se e estende-se, portanto, a competência do juízo ou tribunal,
pelo que dizia Teixeira de Freitas, que a jurisdição prorrogada é a de um juízo incompetente dilatando-se na
jurisdição do outro”.

Segundo Theodoro Júnior, “Dá-se a prorrogação de competência quando se amplia a esfera de


competência de um órgão judiciário para conhecer de certas causas que não estariam, ordinariamente,
compreendidas em suas atribuições jurisdicionais ” (pag. 164)

No Código de Processo Civil, a modificação ou prorrogação da competência está regulada


nos arts. 102/114 (de consulta obrigatória do aluno), havendo a possibilidade de conflito de
competência, examinado à partir do art. 115.

A prorrogação pressupõe a competência relativa, podendo ser dividida em :

. conexão - arts. 102 e 103


Legal .
(102/106)
. continência – 104

. mesma circunscrição territorial - 106


Prorrogação da Competência . prevenção
(valor ou território) . circunscrições diferentes - 107 e 219

Necessária

. expressa - art. 111 ( foro de eleição )

Voluntária . Convenção das partes


. tácita - art. 114 (ausência de oposição)

Vale registrar que “A prorrogação, no entanto, em quaisquer desses casos, pressupõe competência relativa,
visto que juiz absolutamente incompetente nunca se legitima para a causa, ainda que haja conexão ou
continência, ou mesmo acordo expresso entre os interessados. Em qualquer fase do procedimento, o réu pode
invocar a incompetência absoluta do juiz, e o próprio juiz, ‘ex officio’ , tem poder para reconhecê-la. Até
mesmo depois do trânsito em julgado da sentença, ainda será possível usar a ação rescisória para anular o
processo encerrado com tal vício.” (pag. 164)

Constituição Federal : Deslocamento da competência e da jurisdição.


“Art. 109. Aos juizes federais compete processar e julgar :

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I. as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas
na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de
trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;”

(para comentário em sala de aula).

Também há de se observar que o art. 219 do CPC disciplina igualmente a prevenção (que
modifica a competência) pela citação válida, inclusive entre as comarcas e Estados distintos: “Art.
219 – A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando
ordenada por juiz incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição. “

A prorrogação voluntária decorre do fato do réu aceitar, sem oposição, o juízo


relativamente incompetente, isto é, o juízo que embora tenha jurisdição para conhecer o fato
não era o competente; ou quando as partes elegerem por ato extrajudicial, o foro competente.
Aí encontramos a prorrogação voluntária tácita ou espressa.
Quando o réu não opuser a exceção declinatória do foro, manifestará a aceitação tácita do
juízo onde foi proposta a ação, tornando-o competente por prorrogação, desde que tenha, o
juiz, jurisdição para processar e julgar a relação jurídica deduzida. A prorrogação neste caso
é voluntária, como dito.
Quanto a prorrogação legal, esta resulta da vontade da lei que a permite.

Quando porém a lei expressamente permite a prorrogação, dilatando a competência do juízo,


ter-se-ia a prorrogação legal ou necessária, ou bem seja pela prevenção, conexão ou
continência. Seriam assim, por exemplo, os casos em que a competência se fixa no
litisconsórcio, ativo ou passivo, fundado pela comunhão de interesses, na conexão de causa
(relação jurídica de direito material), ou na afinidade de questões por um ponto comum de
fato ou de direito. Ou ainda nas ações acessórias, ou oriundas de outras, julgadas ou em
curso, cujo juízo competente será o da ação principal, ou ainda quanto aos herdeiros,
cessionários, litisconsortes e terceiros intervenientes e assistentes que responderão no foro
em que a ação correr, e do concurso de credores cuja competência recai no juízo que
primeiro tenha despachado um dos feitos. São apenas alguns exemplos

Reza o art. 106 : “Correndo em separado ações conexas perante juizes que têm a mesma
competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro lugar”.

Todos esses exemplos, além de outros, de ordem legal, configuram modificações da


competência pela prorrogação: prevenção, conexão e continência.

A respeito, assim se expressa Pedro Batista Martine : “a prorrogação da jurisdição pode ser
voluntária ou necessária. É voluntária quando no caso de incompetência ratione personae, o réu não
opõe exceção declinatória fora, no termo legal; necessária quando a lei o determinar, como em
ralação ao herdeiro, sucessor, cessionário, sub-rogado, chamado ao processo, denunciado, assistente e
oponente, que responderão no foro em que a causa correr, assim como em relação à matéria da
reconvenção que, em qualquer hipótese, será pelo mesmo juiz da ação”.

Regulando a modificação da competência, o Código Processual Civil vigente disciplina que


“a competência em razão do valor e do território, poderá modificar-se pela conexão ou continência,
observado o disposto nos artigos seguintes.” art. 102. E, nos artigos 103 e 104, define,
respectivamente : “Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o objeto ou a
causa de pedir”; ... “Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às
partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras”.

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Consoante é do conhecimento geral, as coisas confrontadas, nas suas relações lógicas, podem
ser: idênticas, diferentes, e análogas.

Assim, apresentam-se quando confrontados os seus elementos constitutivos. Aplicando esse


método às ações, essas podem ser idênticas, diferentes ou análogas, ao confrontarmos os seus
elementos constitutivos essenciais, isto é, as pessoas (autor e réu), a coisa (objeto da
pretensão) e a causa de pedir (relação jurídica de direito material).
Quando duas ou mais ações têm iguais todos esses elementos são ações idênticas, resultando
processualmente disso, a litispendência que veda a repetição da ação em outro juízo.

Quando, porém são idênticos um ou dois dos seus elementos, as ações são análogas. Nos
casos de analogia de ações diz-se que são conexas, ou que há conexão de causa. A pura e só
identidade das partes não induz conexão, muito menos litispendência. Na continência,
entretanto, conforme a configura o Código, ocorre a identidade de ações, uma vez que a
ação, cujo objeto (rés) seja mais amplo envolve necessariamente a outra, que tenha objeto
mais restrito, contanto que sejam as mesmas partes.

Por tudo isso, que parece lógico, o Código dispõe: no artigo 105, “Havendo conexão ou
continência, o juiz, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, pode ordenar a reunião de
ações propostas em separado, afim de que sejam decididas simultaneamente”; no artigo 106,
“Correndo em separado ações conexas perante juizes que têm a mesma competência territorial,
considera-se prevento aquela que despachar em primeiro lugar”; no art. 107, “se o imóvel se achar
situado em mais de um Estado ou comarca, determinar-se-á o foro pela prevenção, estendendo-se a
competência sobre a totalidade do imóvel. “; no art. 108, “A ação acessória será proposta perante o
juiz competente para a ação principal.”; e no art. 109, “O juiz da causa principal é também
competente para a reconvenção, a ação declaratória incidente, as ações de garantia e outras que
respeitam ao terceiro interveniente.”

Para concluir o conhecimento da matéria, a título de noções, convém destacar a


manifestação de Theodoro Júnior:
“Outros casos de prorrogação legal
Além dos casos de conexão e continência (art. 102), ocorre, também, prorrogação de
competência, segundo o Código de Processo Civil, nas seguintes hipóteses:

a) ações acessórias : as que resultam da decisão de um outro processo ou que se prestam a


colaborar na eficácia de um outro processo, como as ações cautelares, e que se ligam ao juízo
anterior, por regra de competência funcional. A competência, nesses casos, mesmo após o
encerramento do primeiro feito, continua sendo do juiz da causa principal (art. 109). São
exemplos de causas acessórias : a liquidação da sentença; a restauração de autos; a
habilitação incidente; a ação de depósito, ou de prestação de contas, contra o depositário do
bem penhorado, etc.;

b) ações incidentais: como a reconvenção, a ação declaratória incidente, as ações de


garantia (nos casos de garantia de evicção ou de direito regressivo contra terceiro), e outras que
respeitam ao terceiro interveniente (como a oposição e os embargos de terceiro) (art. 109);.”
(págs. 167/168)
_________________________________________________________
APOSTILA ELABORADA PELOS PROFºS MÁRIO MARQUES DE SOUZA E LUIZ SOUZA CUNHA.
AUTORES CITADOS E CONSULTADOS

José Frederico Marques Manual de Direito Processual Civil


1º Vol. - 13ª Edição
Humberto Theodoro Júnior Curso de Direito Processual Civil
13º Vol. - 18ª Edição
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4
Antonio Carlos Araújo Cintra Teoria Geral do Processo
Ada Pellegrini Grinover Volume Único - 9ª Edição
Cândido R. Dinamarco

Atenção: A apostila é, tão somente, um resumo da matéria que pode ser aprendida pelo aluno. Ela deve servir de guia do
ensino-aprendizado, sob orientação pedagógica.

Esta apostila se destina, pois, exclusivamente ao estudo e discussão do texto em sala de aula, como diretriz do
assunto, podendo substituir os apontamentos de sala de aula, a critério do aluno.

Consulte a bibliografia anteriormente indicada além de outros autores.


Atualizada em maio/2010

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