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Adriano Beiras
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis - SC/Brasil
ORCID: 0000-0002-1388-9326
E-mail: adrianobe@gmail.com
Resumo
O trabalho é central na organização da vida em sociedade, mas o acesso ao mercado e a permanência no emprego possuem
atravessamentos que vão além de questões econômicas. Nesse sentido, o objetivo deste foi analisar a literatura sobre a
discriminação vivenciada por homossexuais no mercado de trabalho. Metodologicamente, foram analisados 12 artigos
colhidos do Portal Periódicos CAPES, publicados entre 2014 e 2019, que foram analisados em dois momentos:
primeiramente de forma descritiva através da elaboração de um instrumento de pesquisa e após, a partir da Análise de
Conteúdo. Os resultados foram compilados em 6 categorias, sendo: 1) Formas de Discriminação; 2) Discriminações
interseccionadas; 3) A identidade homossexual; 4) Remuneração; 5) Profissões específicas para gays e lésbicas; 6) Inclusão
e políticas de gestão da diversidade, que discutiram que homossexuais são expostos a diversas formas de discriminação no
mercado de trabalho, o que piora quando o homossexual não performatiza o gênero tido como natural para o seu sexo. As
políticas de gestão da diversidade funcionam muito mais como uma forma de melhorar a imagem da empresa na sociedade
do que uma forma de criar um ambiente de igualdade de oportunidades.
PSI UNISC, 5(1), 127-143. Santa Cruz do Sul, RS, jan./jun. 2021.
Discriminação contra homossexuais no mercado de trabalho: revisão da literatura
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Neste estudo, tratamos especificamente do trabalho
remunerado, caracterizado pela venda da mão de obra
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Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais,
sigla padronizada na 1º Conferência Nacional LGBT no
ano de 2008 em Brasília. O símbolo “*” tem por objetivo
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Disponível em: < https://www.conjur.com.br/2019-jun-
13/stf-reconhece-criminalizacao-homofobia-lei-racismo
. Acesso em 02 de jan. de 2020 >
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Discriminação contra homossexuais no mercado de trabalho: revisão da literatura
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Discriminação contra homossexuais no mercado de trabalho: revisão da literatura
completa. Para apoio na leitura, foi elaborado artigos, por não contemplarem o tema deste
um instrumento, chamado “protocolo de RI”, estudo.
que nos auxiliou na análise descritiva inicial
dos artigos. Este protocolo baseia-se no estudo A amostra final desta revisão foi
de Evans e Pearson (2001) e conteve: a composta então, por 12 artigos e para analisar
pergunta da revisão, os critérios de inclusão e os dados extraídos destes, foi utilizada a técnica
as estratégias de busca, assim descritos: i) a de Análise de Conteúdo. Esse procedimento
identificação (título do artigo, título da revista organiza-se em três fases, segundo Bardin
em que foi publicado o artigo, área do (2011): I) Pré-Análise: É a organização de
periódico, base de dados, ano e autores e país todos os materiais utilizados na coleta dos
da publicação); ii) metodologia do estudo; iii) dados (correspondente a organização e leitura
as principais considerações/resultados e dos artigos no protocolo). II) Exploração do
pergunta da pesquisa e iv) um campo para que Material: que consiste nas operações de
se justifique caso o estudo seja excluído da codificação em função das regras que já foram
amostra final. Após a análise, o revisor deu seu previamente formuladas (após a leitura no
parecer de “selecionado” ou “não selecionado” protocolo, criou-se as categorias). III)
para cada artigo, seguindo o critério de Tratamento dos resultados: É a fase de análise
relevância do estudo para a amostra e se o propriamente dita, onde os resultados brutos
mesmo contemplava a temática proposta de serão tratados de maneira a serem significativos
forma integral. Nessa etapa foram excluídos 5 (discussão dos dados). A representação da
coleta pode ser vista no fluxograma 1, a seguir:
Fluxograma 1
Coleta de artigos da revisão.
189 5 exclusões:
Fase 3: Avaliação inicial 52 exclusões:
27 exclusões: exclusões: leitura
dos dados repetidos na
fora do formato leitura dos completa dos
base
resumos artigos
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Visão crítica da história da loucura na formação em Psicologia
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Visão crítica da história da loucura na formação em Psicologia
Quanto ao método dos estudos, 6 artigos mais presente de acordo com Bastos, Pinheiro
usaram o método qualitativo, 3 utilizaram o & Lima (2016). Dessa forma, o próprio
método quantitativo e 3 estudos consistiam em processo de seleção de mão de obra passa pelo
estudos teóricos. Os estudos de cunho crivo da sexualidade, e quando pessoas são
quantitativo referiam-se a artigos publicados no percebidas como homossexuais, já nessa etapa
Canadá e EUA, onde estudos com esses elas podem ser segregadas e invisibilizadas
métodos são muito comuns. No Brasil, os (Ferreira, Souza & Moreira, 2015), visto que
estudos utilizavam predominantemente o muitos gestores não admitem a possibilidade de
método qualitativo, visto a aproximação desse certos cargos serem preenchidos por
método com as áreas das ciências sociais. homossexuais, ao considerarem que estes
Atenção especial a técnica de amostra poderiam causar “certas influências” nas
conhecida como “bola de neve”, que esteve pessoas, principalmente em crianças (Costa &
presente nos estudos qualitativos como forma Pires, 2015). A isso, alia-se a ideia de que os
de recrutar participantes nas pesquisas. Essa é homossexuais sejam promíscuos e portadores
uma técnica de amostragem não probabilística do vírus HIV (Rohm & Pompeu, 2015).
onde os indivíduos selecionados para a
pesquisa convidam novos participantes da sua Esses mesmos sujeitos, quando
rede social e a quantidade de participantes vai contratados, geralmente se encontram em
crescendo na medida em que os indivíduos posições fragilizadas nas organizações, sendo
selecionados convidam novos sujeitos, sendo alvo de várias formas de violências e
que o processo pode ser finalizado a partir do discriminações no contexto trabalhista como
atingimento dos objetivos da pesquisa agressões, perseguições, punições por chefes,
(saturação dos dados). Esta técnica é um sabotagem, assédio moral, piadas homofóbicas,
método útil para se estudar populações difíceis bem como pela dificuldade na ascensão
de serem acessadas ou que não há precisão profissional, culminando em perdas de
sobre sua quantidade (Vinuto, 2014). Dessa promoções, por exemplo, impactando seu
maneira, ela se mostra assertiva para alcançar a trabalho, sua vida pessoal e suas relações, com
população de homossexuais. destaque para as implicações a saúde (Bainha
& Silva, 2016).
A partir do exposto, nesse momento
apresentamos as categorias dos resultados da A homofobia encontra o meio de
revisão, a partir da técnica de Análise de expressão o humor (Rohm & Pompeu, 2015).
conteúdo (Bardin, 2011), devidamente Por meio de ironia, piadas e anedotas, a
problematizadas com literatura pertinente. discriminação é naturalizada e este instrumento
é usado como um sutil instrumento de controle
Formas de Discriminação da sexualidade (Pereira et al, 2017). A
homossexualidade é tema constante de piadas e
Em síntese, os resultados apresentados pelo uso de palavras que tenham conotação
sugerem que os estereótipos da desqualificadora no contexto organizacional
homossexualidade estão na base do preconceito onde, consequentemente, o homossexual
contra os homossexuais, sendo fatores assumido ou percebido como, é discriminado,
motivadores de processos discriminatórios no principalmente para ocupação hierárquica de
contexto laboral, assim, é sugerido que o cargos mais elevados (Bainha & Silva, 2016;
mercado de trabalho quase sempre é um lugar Carrieri, Souza, & Aguiar, 2014). Dessa forma,
hostil aos homossexuais (Pereira, Dia, Lima & ser identificado como homossexual no
Souza, 2017). ambiente de trabalho pode comprometer a
ascensão profissional de um indivíduo (Bastos,
Dos três espaços sociais onde as pessoas Pinheiro & Lima, 2016), principalmente no
desenvolvem sua vida: familiar, social e setor privado (Dilmaghani, 2018).
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Discriminação contra homossexuais no mercado de trabalho: revisão da literatura
aquelas que possuem menor poder aquisitivo, A literatura também sugeriu que
não possuem a pele de cor branca ou se homossexuais que performatizam os signos
distanciam de um ideal de estética socialmente dados como naturais ao seu gênero podem agir
valorizado (Neto & Fonseca, 2014). com discriminação contra homossexuais que
rompem os estereótipos de gênero (Bastos et
Nesse sentido, a vivência de mulheres al., 2016; Ferreira et al., 2015; Carrieri et al.,
lésbicas no contexto laboral pode ser 2014).
compreendida através da interseccionalidade.
O conceito foi criado por Kimberle Crenshaw Dessa forma, pode-se refletir que a
nos anos 1980 para denunciar que mulheres homofobia parte da sociedade em geral
afro-americanas eram atravessadas de um lado direcionada a homossexuais e também pode se
pela discriminação de gênero e ao mesmo manifestar no próprio indivíduo homossexual
tempo, por outro lado, pela discriminação em direção a si e a outros homossexuais (bem
racista, assim, a mesma propõe que a como a tudo o que fizer alusão à
interseccionalidade busca articular as homossexualidade ou tudo que é percebido
dinâmicas de interação entre dois ou mais eixos como subversivo a norma heterossexual).
de opressão (Crenshaw, 2002). Quando manifestada dessa última forma, ela
recebe o nome de homofobia internalizada, que
Dessa forma, a literatura sugere que a se conceitua como uma atitude negativa por
discriminação no mercado de trabalho parte dos indivíduos homossexuais acerca da
encontra-se interseccionada entre gênero (pela sua orientação sexual (Cerqueira-Santos, de Sá,
não performatividade da masculinidade Nunes & Silveira, 2017). Souza et al. (2018)
tradicional) e orientação sexual para homens discutem que homossexuais internalizam o
gays, mas para mulheres lésbicas, a estigma contra a homossexualidade desde tenra
discriminação nesse contexto se mostra na idade e isso os prejudica na formação de uma
intersecção entre misoginia, discriminação identidade saudável.
racial e a discriminação homofóbica e de
classe. A condição racial associada à A identidade homossexual
homossexualidade torna mais difícil ainda a
promoção no trabalho para mulheres A literatura relata que muitos
homossexuais (Carrieri et al., 2014). homossexuais apresentam a necessidade de
gerenciamento da sua identidade homossexual,
Ademais, perante situações de sendo que a principal tática nesse sentido é a
intolerância nas organizações, muitos ocultação, pois ser “discreto” em relação a essa
homossexuais são forçados a performatizar questão tem fator estratégico (Policarpo, 2019).
estereótipos de gênero o mais condizente o
possível com o esperado socialmente para o seu Os motivos para esconder sua
sexo para não perderem o emprego (Bainha & orientação sexual tem base na tentativa de
Silva, 2016; Carrieri et al., 2014). Dessa forma, evitar repressões e resistência por parte da
o conceito de homonormatividade pode auxiliar organização (Ferreira et al., 2015). A não
na compreensão desse movimento. De acordo revelação da identidade sexual geralmente se
com Oliveira (2013), o conceito diz respeito a dá pela percepção do sujeito de um ambiente
uma vivência de gênero performatizada de hostil a homossexualidade (Rohm & Pompeu,
forma que torne a homossexualidade 2015). Dessa forma, a ocultação da sua
“aceitável” aos olhos da norma, e isso se faz identidade sexual aliada a homonormatividade
através de uma progressiva aproximação com (quando essa identidade já é exposta) são
os valores e moralidades cultivados pela fatores de sobrevivência no mercado de
heteronorma. Assim, é sugerido que o gênero trabalho (Bastos et al., 2016), onde é possível
tem a capacidade de “esconder a orientação identificar homossexuais que evitam colaborar
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vistos como tal e para evitar manifestar-se explicadas a partir das diferenças entre
contra opiniões homofóbicas de colegas homossexuais e heterossexuais nas
(Policarpo, 2019). preferências pelo trabalho doméstico versus
trabalho de mercado e na sua representação em
A literatura sugere que as situações de diferentes tipos de ocupações (Hammarstedt,
sofrimento se mostraram constantes, em uma Ahmed, & Andersson, 2015), ou seja, mulheres
espécie de “teatro do trabalho”. O teatro se lésbicas são sugeridas como mais orientadas e
refere aos personagens (considerando disponíveis ao mercado de trabalho, enquanto
trabalhadores que exerçam ou não cargo de mulheres heterossexuais sofrem exacerbada
chefia, por exemplo), cenário (ambiente interno pressão para cumprir o projeto heterossexual de
e externo do trabalho) e aos espectadores submissão e cuidados domésticos, familiares e
(amigos, concorrentes, família). Para maternos.
homossexuais, esse teatro se transforma em um
verdadeiro “drama”, por conta de uma Uma pesquisa no Canadá, apontou para
sociedade predominantemente heteronormativa uma hierarquia salarial não apenas por gênero,
(Ferreira et al., 2015). mas também por orientação sexual, com
homens heterossexuais ganhando mais que
Os homossexuais acabam levando uma homens gays, que ganham mais que mulheres
espécie de vida dupla, pois para tentar fugir da lésbicas, que são seguidas de mulheres
opressão da sociedade, acabam por se heterossexuais (Denier & Waite, 2017). Essa
homonormatizar principalmente em seu hierarquia é percebida principalmente no setor
ambiente de trabalho, abdicando de certa parte privado do país.
de suas vidas (Costa & Pires, 2015).
Profissões específicas para gays e lésbicas?
Remuneração
A literatura sugere que algumas
O homossexual, quando comparado ao profissões de certo modo, informais e por vezes
heterossexual com a mesma experiência, desvalorizadas socialmente em vários
educação, profissão, estado civil e região de contextos, seriam mais “adequadas” aos
residência, tem mais chances de receber homossexuais masculinos com traços
remuneração inferior (Pereira et al, 2017). femininos, como aquelas de cabeleireiro,
maquiador, esteticista e estilista, ou seja,
Em uma pesquisa específica sobre
profissões que estão relacionadas ao mundo
diferenças salariais baseadas em orientação
feminino. Quanto às lésbicas, principalmente
sexual, Hammarstedt, Ahmed, Andersson
quando apresentam um modo de ser associado
(2015) sugeriram que em certa medida, devido
com a masculinidade, é sugerido que são mais
a discriminação, homens gays ganhavam
propensas a trabalhar em ocupações orientadas
menos que homens heterossexuais, enquanto
para homens e ocupam posições mais altas que
lésbicas ganham aproximadamente o mesmo,
outras mulheres (Dilmaghani, 2018; Neto &
ou até mais que mulheres heterossexuais. Os
Fonseca, 2014). Aqui temos outro ponto que
homens gays também apresentaram taxas de
nos ajuda a entender a diferença salarial
emprego mais baixas do que os heterossexuais,
baseada em orientação sexual discutida
enquanto as lésbicas apareceram com taxas de
anteriormente.
emprego mais altas do que as mulheres
heterossexuais. É discutido que homossexuais podem
evitar profissões conservadoras e percebidas
O emprego e os ganhos relativos dos
como preconceituosas. Dessa forma, gays e
homens gays são afetados negativamente pelas
lésbicas podem fazer escolhas diferentes em
atitudes públicas negativas em relação aos
relação à localização de sua residência visto a
homossexuais. Quando se trata de lésbicas, as
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deslocar para áreas metropolitanas pela educação plural e que não elimine ou
percepção de que esses espaços são mais invisibilize as diferenças, mas que as trate
abertos a diversidade (Hammarstedt et al., como necessárias ao processo de
2015; Denier & Waite, 2017). aprendizagem, que se organize para recebê-las
e as valorize.
Assim, homossexuais assumidos são
mais voltados para a carreira profissional que Dessa maneira, quando o mercado de
permita expressar a orientação sexual no trabalho segrega homossexuais em “profissões
trabalho, enquanto os homossexuais que não específicas”, como discutido anteriormente, ou
tem sua identidade sexual divulgadas podem os contrata sem um preparo específico do ponto
focar suas escolhas profissionais de vista organizacional, o que é feito é um
fundamentadas em valores de trabalho mais processo de integração desses corpos devido
tradicionais e relacionados a status, aos estereótipos da sexualidade, pois incluir, na
compromisso e estabilidade (Bastos et al., perspectiva de Mantoan (2003), significaria
2016). Dessa forma, não esconder sua mudar as estruturas e a cultura organizacional
sexualidade no ambiente de trabalho pode ser para valorização da diversidade. Diante disso, a
importante para que se construa uma base de literatura tem mostrado que a criação de um
confiança e se tenha uma rede social de apoio ambiente que valorize o/a trabalhador/a
no contexto organizacional. Assim evita-se o homossexual, no entanto, parece ter pouco
desgaste em tentar construir uma personalidade valor para as empresas, conforme Rohm &
contrária à sua sexualidade (Costa & Pires, Pompeu (2015).
2015).
Diante do contexto apresentado, é
Inclusão e políticas de gestão da diversidade sugerido que as políticas de diversidade
voltadas para o respeito à diferença sexual no
A literatura sugeriu contradições no que trabalho são escassas nas organizações e não
diz respeito a ações de inclusão, por parte das tem atingido seus objetivos sendo a
empresas, da diversidade no contexto incongruência entre o discurso e a prática um
organizacional. É relatado o discurso de dos aspectos mais enfatizados na literatura, pois
aceitação de homossexuais, mas com formas geralmente, o discurso de inclusão da
veladas de preconceito, onde a dificuldade de diversidade (e nesse caso, especificamente a
ascensão profissional é percebida (Bastos et al., diversidade sexual) é utilizado como forma da
2016). empresa obter legitimidade na sociedade e no
mercado, melhorando assim sua imagem, do
O conceito de inclusão é amplamente que de fato como preocupação social (Neto &
utilizado nos contextos da educação especial, Fonseca, 2014).
mas vale resgatá-lo e problematizá-lo nessa
discussão. De acordo com Mantoan (2003), é Por outro lado, organizações que
preciso ter cuidado para que a inclusão não se adotam medidas de integração voltadas ao
confunda com a “integração”. Para a autora, a público não heterossexual, a fim de eliminar a
integração escolar refere-se à inserção dos exposição de seus trabalhadores ao preconceito
alunos com deficiência na escola regular, mas e discriminação baseada em orientação sexual,
também se dá no agrupamento destes em são capazes de motivá-los a dar mais de si para
“escolas especiais” ou “classes especiais” e o trabalho, o que proporciona maior
parte justamente de uma perspectiva de identificação com a atividade que realizam e
normalização dos corpos, sendo uma inserção maior dedicação à organização, iniciando um
parcial por que o sistema prevê serviços círculo virtuoso (Bainha & Silva, 2016), pois
educacionais segregados. A inclusão questiona embora a existência de uma legislação que
a organização da educação especial e regular e proíba a discriminação sexual no trabalho seja
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também a integração, pois causa uma mudança importante na redução da discriminação, o fator
no paradigma educacional atual, propondo uma mais relevante para a diminuição da
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