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Escolha e Aperte
Escolha e Aperte
Este texto é uma versão preliminar que ainda está em construção e que foi
compartilhado com o objetivo de angariar sugestões e opiniões acerca de seu
caráter experimental.
Portanto, é uma obra que não passou por qualquer processo de revisão ou
edição, e por isso peço desculpas por possíveis e prováveis erros, e desde já
fiquem a vontade de apontá-los ou mencioná-los.
Atenciosamente,
Douglas Eralldo
1.
Está gelado.
O piso é frio e se encontra com minha pele nua; eu estou nu. Tudo isso é
muito estranho. Desperto grogue e não sei onde estou, ou sequer quem sou eu, ou
ainda, o que sou. Eu não sei nada, e isto é a única coisa que posso saber enquanto
desperto.
Há uma luz intensa que penetra por meus olhos causando-me uma
cegueira momentânea. Não sinto dor, mas é como se tivesse sentido há pouco
tempo. Mexo-me ainda caído no chão, braços ao redor dos joelhos, músculos
lentos cuja reação causa sofrimento e dores. Mordo meus lábios, há um gosto
amargo na boca; um gosto de metal.
Pisco duas ou três vezes.
Preciso me acostumar com a incandescência do lugar. Toda aquela luz
está jogada sobre mim; me ataca; me assusta. Quem sou eu?
Alguém que desperta, que tenta levantar-se, mas o corpo rui em fraqueza.
Meus braços estão flácidos, minha ação é lenta; estou sonolento.
Leva algum tempo até que a tentativa de sentar-me no chão, enfim dá
certo. O piso continua gelado. E eu continuo preso?
Não saber quem sou atrapalha um bocado a tentativa de imaginar onde
estou. É como se não houvesse nada em mim ou dentro de mim até o momento
que desperto dentro desta caixa; acho que é uma grande caixa.
Não é um ambiente espaçoso. Quatro paredes de aço, imagino,
aprisionam-me. A luz intensa vem de lâmpadas fortíssimas penduradas a um teto,
um teto inalcançável graças a sua altura.
Tento pensar.
Tento lembrar.
Ainda não há nada dentro de mim. Apenas sei que preciso compreender o
que acontece. Isso me faz olhar o local de forma analítica. Eu tenho instintos.
Estou preso em não mais que seis ou oito metros quadrados. Todo material
da cela que me aprisiona é frio, descubro ao tocar uma de suas paredes, tão frias
quanto o piso cinzento.
Tudo é cinza onde estou; a luz apenas altera suas tonalidades.
Vejo então que além de mim, há outra coisa naquele pequeno espaço: uma
mesa. Não sei como sei que aquilo é uma mesa, apenas sei. É uma mesa simples,
parece de lata ou qualquer outro metal vagabundo. Não tem mais que oitenta
centímetros de comprimento e percebo que há algo nela.
Caminhar até a mesa é difícil. É como se eu não soubesse caminhar. Os
pés doem ao movimento. Minha mente parece saber como se faz, mas ainda
estou grogue, e o corpo reage lentamente às minhas ordens.
Ainda penso que se soubesse quem sou, certamente entenderia porque
estou aqui. Não entendo, porém deve haver algum motivo para que eu desperte
em um lugar tão inóspito e misterioso. Um quarto de metal, vazio, sem janelas e
luzes artificiais que pareciam agora começar a esquentar o ambiente.
Com sacrifício chego à mesa. Ela também é cinza. O papel não. O papel
que está sobre ela é pardo. Não sei por que penso que há um contraponto
acontecendo aqui. É tanto metal que penso em futuro. O papel me diz que há
passado, no entanto esse é um tempo que a mim está fechado.
Pego o papel pardo, mas não sem antes de uma série de tentativas por
causa da debilidade de minhas mãos que parecem não ter firmeza, ainda. Há
grafismos naquele papel, então descubro que posso lê-lo.
“Você deve procurar pela saída; há perigo para encontrá-la. Seu fracasso
é o fim; seu sucesso pode não ser sua vitória. Para encontrar a saída você
precisa escolher, e apertar. Sempre dois botões, uma escolha. Boa Sorte!”