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A Importância da Avaliação Educacional

Os pais analisam o desempenho dos filhos através de suas notas, eles não
estão preocupados com o conteúdo, apenas com o resultado final. Se a
escola trabalha em uma perspectiva crítica de mudança de ideologias, ela é
repreendida. Ou seja, a escola serve apenas para aprovar ou reprovar e
manter o status quo.
Luckesi busca na história as origens dessa pedagogia baseada nas provas.
Ele comenta que na pedagogia jesuítica era comum o controle para
promover a predominância da fé católica. As provas recebiam destaque e o
seu resultado era divulgado para a glória ou censura dos estudantes. Na
pedagogia comeniana o medo era considerado uma estratégia eficiente
para que os alunos estivessem sempre atentos. Já no modelo burguês que
ainda vigora encontramos a seleção dos melhores alunos, a valorização do
fetichismo, o desejo pelos bens de consumo, e do medo como forma de
controle.
Para o autor, o medo é a estratégia mais útil em sujeitar os indivíduos às
autoridades vigentes. Ele explica que o medo como mecanismo social se
inicia na escola através dos exames e testes, e condiciona e acaba por ser
um castigo psicológico, uma vez que sofremos pela preocupação, ou
ocupar-se por antecedência, como Luckesi explica.
Esse é um dos melhores livros em pedagogia que li nos últimos anos porque
Luckesi adota uma postura revolucionária e defende que a avaliação precisa
mudar se queremos que a escola seja uma promotora da melhoria social.
Ele defende a escola libertadora de Paulo Freire, uma escola que objetiva
promover a autonomia dos aprendizes e revelar as formas de opressão e
controle sociais, contrária a domesticação e a favor da humanização dos
sujeitos.
Para atingir esse objetivo Luckesi propõe que a avaliação classificatória seja
substituída pela avaliação diagnóstica. Com essa substituição, os
professores irão trabalhar para que seus alunos progridam e entendam o
que não conseguiram entender ainda. As avaliações diagnósticas revelam
quais pontos precisam ser retrabalhados, retomados, reexplicados até que
o aluno consiga dominá-los e atingir níveis mais altos de conhecimento. O
ponto negativo da avaliação classificatória, em contrapartida, é que ela não
se preocupa em ajudar o aluno, apenas constatar em que nível ele está,
como se ele já estivesse pronto, ou cria se o estigma que determinado aluno
será para sempre ruim ou para sempre bom dependendo do resultado da
prova.
Em um modelo de ensino mais justo, o objetivo a se atingir é assegurar o
acesso ao conhecimento básico, necessário para que cada cidadão esteja
apto para participar de uma sociedade democrática. Se o aluno não atingir
o mínimo necessário, ele deve ser ajudado para chegar a esse patamar.
Há muito envolvido em todo o processo de avaliação, e segundo Luckesi
muitos de nossos traumas e ansiedades são decorrentes dela. As ameaças
comuns na escola tradicional mantêm os alunos em constante tensão e
atenção limitada, pois o esforço mental é gasto com a expectativa da
punição. A culpa acaba por constranger a criatividade, as experiências
prazerosas, incluindo as de aprendizagem. Acredito que somos tão
condicionados pelo medo, e pela culpa devido ao erro que é difícil vencer o
costume de ameaçar aos alunos. Os professores devem estar bastante
atentos à sua prática para deixar de lado esse hábito que parece surtir
efeito quando consegue deixar a turma silenciosa, mas que acaba por inibir
sua capacidade criadora.
Quando os alunos cometerem um erro ao realizarem uma atividade, por
exemplo, os professores devem utilizar esse momento para mostrar a
maneira mais apropriada de fazê-la, sem ameaçar ou humilhá-los. Os erros
são bem-vindos, pois através deles, segundo a descrição de Luckesi, temos
a chance de fazermos o nosso trabalho como educadores. Eles nada mais
são do que a garantia e permanência da nossa profissão. Em suma, “o erro
visto como algo dinâmico, como caminho para o avanço”.
A avaliação está intimamente relacionada à evasão escolar, e Luckesi não
deixa de abordar esse tema. Há anos se percebe um processo intenso de
evasão e repetência. Como a democratização do saber fragiliza a estrutura
de dominância social, as autoridades não demonstram muito interesse em
mudar os esquemas de aprovação e repetência escolar. No entanto, os
educadores comprometidos com a mudança social podem através de
práticas mais humanizantes ajudar que seus alunos progridam sem
abandonar a escola.
Outra questão abordada no texto é o “contrabando entre qualidade e
quantidade” que se observa nas médias escolares. Essas são uma
representação falsa de que os alunos conseguiram atingir o
conhececimento mínimo para progredir a níveis mais altos. Um dos
exemplos para ilustrar isso é um piloto que no seu curso tirou nota máxima,
dez pontos, na atividade de decolar e na atividade de pousar tirou nota
baixa, quatro pontos. Ainda assim a sua média final será sete, mas um
passageira ao saber do desempenho desse piloto no seu curso de aviação,
não se sentirá seguro em voar com ele. É um exemplo simples que revela
como as médias escolares não são eficientes.
O planejamento escolar pode ser útil no processo de mudança. Planejar não
é uma ação neutra assim como avaliar não o é. Planejar é uma ação política
que determinará quais resultados serão atingidos. Um dos compromissos
do planejamento deve ser o desenvolvimento de uma cultura crítica, o
professor pode fazê-lo por propor “pequenos conflitos pra que avance para
níveis mais complexos de suas capacidades cognoscitivas.”
Luckesi fecha o livro com uma bela reflexão que motiva a nós professores e
nos dá maior alegria em fazer o que fazemos, trabalhar ensinando:
Talvez as nossas insatisfações no trabalho dependem de nossa não-entrega
ao que estamos fazendo. O trabalho será prazeroso e fonte de crescimento
se for realizado como meio de autoconhecimento e autodesenvolvimento...
e não somente como meio econômico de sobrevivência... pode ser uma
fonte de crescimento, uma oportunidade para aprendermos mais sobre nós
mesmos e para desenvolvermos relacionamentos positivos e saudáveis
(LUCKESI, 2002, p. 154).
Ao ler esse trecho, eu me lembro da Pedagogia do Oprimido de Paulo
Freire, através da qual, ele diz que “estar no mundo é mudar o mundo”. O
trabalho do professor lhe proporciona mudar a si mesmo e mudar o mundo
em que ele se encontra. O envolvimento com suas atividades pode gerar
mudanças que no começo são sutis, mas que podem gerar revoluções
culturais. A mudança de consciência do professor que compreenderá que
seu trabalho de avaliar não é neutro, mas que constrói a personalidade de
seus alunos é uma importante arma para o processo de mudança
libertadora da sociedade.

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