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O papel do professor na aprendizagem do aluno, com recurso às TIC

(Orlando Pires1)

No sentido de continuar a formar os professores para a produção de recursos educativos, o Centro de Formação da Associação
de Escolas do Concelho de Murça promoveu, em Maio de 2006, a oficina de formação “A imagem digital e o som no ensino da
Matemática”, com a duração de 25 horas. Participaram Educadoras de Infância, Professores do 1.º e 2.º Ciclo do Ensino Básico, do
3.º Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário.
A oficina decorreu numa altura em que são unanimemente reconhecidas as vantagens das TIC no processo de ensino-
aprendizagem; a sua influência na transformação do paradigma tradicionalista do ensino leva os professores a um novo papel.
Este novo papel do professor implica uma alteração profunda na visão do ensino e nas suas práticas (Blanco & Silva, 1991;
Camlong, 1999; U. Europeia, 2000b; Lévy, 1995; ME, 2001; F Pais, 1999; Paiva, 2002; Pereira, 1994; Ponte, 2001; Venezky &
Davis, 2002).
Para que a inclusão das TIC, na sala de aula, seja bem sucedida, exige do professor novas competências e conhecimentos,
considerando-se que
“[…] os seguintes aspectos serão certamente importantes:
- conhecimento de implicações sociais e éticas das TIC;
- capacidade de uso de software utilitário;
- capacidade de uso e avaliação de software educativo;
- capacidade de uso de TIC em situações de ensino/aprendizagem” (Ponte & Serrazina, 1998, p. 12).
Também a este respeito, Nóvoa (1997, p. 25), refere que para alem da necessidade permanente de actualização, "a formação
não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos ou de técnicas), mas sim através de um trabalho de reflexividade
crítica sobre as práticas e de (re)construção permanente de uma identidade pessoal".
Para além das competências tecnológicas inerentes à Sociedade da Informação, pede-se ainda ao professor que seja “capaz de
lidar com a enorme diversidade de exigências que a sociedade lhe coloca e que requerem profissionais reflexivos, investigadores,
criativos, participantes, intervenientes e críticos” (Miguéns, 1998, p. 183).
A este propósito, a União Europeia deixa algumas recomendações,
“Não basta adquirir uma formação sobre os instrumentos e um conhecimento técnico. É igualmente importante encarar as
novas tecnologias no âmbito de práticas pedagógicas inovadoras e integrá-las nas disciplinas, de modo a fomentar a
interdisciplinaridade. Urge igualmente codificar as aprendizagens que não sejam de natureza técnica necessárias a uma utilização
adequada das tecnologias: trabalho em grupo, planificação das actividades, trabalho em rede, combinação de módulos de
aprendizagem autónoma com aulas convencionais, trabalho à distância e presencial” (C. Europeia, 2001a, p. 13).
Também Silva (1998, pp. 211-212), a este propósito, coloca toda o enfoque na capacidade do professor quando afirma “[…] a
mudança num bom número de concepções educativas e em muitos aspectos organizativos, funcionais, metodológicos e relacionais
do nosso sistema escolar, está na formação dos professores”.
Compete ao professor a criação de ambientes de aprendizagem motivadores, implementando estratégias, modelos e práticas,
onde as TIC constituam uma parte integrante.
Neste contexto, Lévy (2000, p. 184), afirma que o docente se torna “num animador da inteligência colectiva dos grupos de que
se encarrega. A sua actividade centrar-se-á no acompanhamento e na gestão das aprendizagens: a incitação à troca de saberes, a
mediação relacional e simbólica. A pilotagem personalizada dos trajectos de aprendizagem, etc”.
Solicita-se ao professor a adopção de uma filosofia construtivista da aprendizagem (Brown, 1998; Papert, 1993; Pereira, 1995;
S. Santos & García, 2000), considerada uma das mais importantes motivações para pensar a utilização das TIC na educação.

1
Formador em TIC, Mestre em Informática Educacional
As TIC, podem contribuir para a promoção do papel do professor, na sua tarefa de ensinar, libertando-o parcialmente, do ensino
rotineiro e do método expositivo, obrigando-o a centrar-se na turma como um todo. Como refere Drucker (1993) citado por Pais
(1999b, p. 650), "esperemos que possam dedicar mais tempo a identificar os pontos fracos dos estudantes, a concentrarem-se neles e
a dirigi-los para a realização, ou seja a ensinar".
Para Costa (2004, p. 30), o contributo das TIC no processo de ensino-aprendizagem é de natureza pedagógica, que passa pela
preparação adequada dos professores e pelas condições das escolas para o uso efectivo das novas tecnologias, ou seja,
“Sem prejuízo dos necessários investimentos estruturais e materiais, a mudança depende pois fundamentalmente do
investimento que se fizer ao nível dos agentes educativos, de forma a que essa mesma mudança seja interiorizada e assumida por
todos quantos intervêm no sistema e, ao seu nível, possam contribuir para alterar o actual estado de coisas”.
Se os professores não estiverem suficientemente preparados, sentem-se inseguros e adoptam uma atitude geralmente negativa.
Neste contexto, o professor deixa de ser o depositário do saber e passa a ser muitas vezes o que menos sabe. Para Santos (1997, p.
21), ”os professores deverão, antes, preparar-se para utilizar as TIC, aceitando como incontestável que a interactividade e o
multimédia obrigam a uma nova pedagogia, em que a criança/jovem está no centro da aprendizagem”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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