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A História em Quadrinhos sempre foi subjulgada por alguns teóricos que não
conseguiam enxergá-la como uma obra literária constituída por elementos lingüísticos,
peculiares e específicos, que evidenciam uma obra de arte moderna com representação
mundial. Sempre foi tratada pelo professor com o mesmo descaso destes teóricos,
sendo utilizada somente como um instrumento de iniciação no mundo da Literatura,
deixando assim de explorar uma gama enorme de elementos lingüísticos, artísticos e
ideológicos, consonantes com o contexto da arte moderna universal.
Para entendermos essa coerência, faremos uma breve explanação sobre o surgimento das HQs no
cenário mundial e no brasil:
A História em Quadrinhos é uma arte recente na história da cultura universal, vem logo após a
arte da ilustração, todas desenvolvidas
a partir do aparecimento da imprensa.
(...) A luta por um lugar ao sol, uma cultura brasileira, uma estética
nacionalista na mídia impressa prossegue, como uma saga dos
quadrinhos, em série infinita.
De forma geral, somente na primeira década deste século o quadrinho se constitui como linguagem
sistematizada: articulação de signos verbais e não verbais como prática simbólica narrativa.
A produção dos quadrinhos brasileiros têm seu marco divisor - modernidade x antigüidade - no
"Pererê" (1960/64), de Ziraldo.
Ziraldo conseguiu penetrar na realidade nacional da época com bastante agudeza crítica.
Além de Henfil, os outros autores de quadrinhos que têm pensado a realidade brasileira de modo tão
contundente são Evandro Mesquita, Edgar Vasques, Chico Caruso, Ivan Maurício, entre outros.
Sob o impacto das novas manifestações (anti)artísticas e das novas realidades (contra)culturais, os
quadrinhos brasileiros inseriram-se na problemática do experimental através de pesquisas nem sempre
satisfatórias.
Somente Maurício de Sousa, ao longo de vários anos (a partir de 1959), conseguiu montar uma
estrutura eficaz para atender às necessidades do mercado consumidor. Seus personagens são hoje
conhecidos nacionalmente, através de suas revistas que vendem por mês 3 milhões de exemplares e
de algumas dezenas de jornais em todo o país, e internacionalmente, atingindo mercados europeus,
asiáticos e americanos com as traduções de suas histórias.
Uma pesquisa do Instituto Gallup comprovou que do público leitor da Mônica, 56% são pessoas
com mais de 18 anos. Assim, a filosofia das histórias criadas por Maurício é a de divertir, de entreter e,
na medida do possível, transmitir às crianças (e aos adultos) mensagens de otimismo. Seus
personagens não são neuróticos. Eles tentam resolver seus próprios problemas. Seu estilo de desenho
é simples, coerente com o tipo de narrativa que faz para o consumo diário. Os leitores de Histórias em
Quadrinhos querem entendê-las num relance e sem grande esforço. Arabescos, enfeites de fundos e
detalhes em demasia, dificultam essa visão imediata.
Enraizados na realidade da vida e do cotidiano, seus bonecos são "gente". Identificam-se com pessoas,
retratam a vida no seu dia-a-dia. A conversão dos personagens é popular. O "dia-a-dia": comer,
dormir ter emoções, boas ou más, sentir amor ou raiva são ingredientes universais.
Logo, o que vale para Chico Bento, vale para o mundo.
(in Mônica no MASP, outubro-1979)
A obra literária em si funciona como um produto particular, produtor de um discurso que será
reproduzido pelo receptor; a riqueza ou a precariedade da reprodução de um discurso dependerá da
capacidade de decodificação/recodificação do receptor, desde que a obra preencha determinados
requisitos estéticos.
A estética das Histórias em Quadrinhos é bastante peculiar. Ao contrário dos outros tipos de
literatura, os quadrinhos fomentam a sua comunicação em signos não-verbais, as imagens constituem
o cerne. A palavra é um auxílio ao elemento visual e muitas vezes se torna um.
É dessa linguagem, inovadora e complexa, que trataremos na Parte II deste artigo, que será
veiculado em Agosto-2000 no número 4 desta revista. Abordaremos os quadrinhos levando em conta a
prática semiológica, a riqueza contida na interação das linguagens verbais e não-verbais. Ilustraremos
com diversas sugestões pedagógicas para utilização das HQs em sala de aula para alunos de todas as
faixas etárias. Para isso contamos com a colaboração dos leitores interessados que tenham
experiências bem sucedidas na utilização dos quadrinhos como recurso didático.
Participe! Divulgue o seu trabalho!
Bibliografia
CIRNE, Moacy. Vanguarda: Um Projeto Semiológico; Petrópolis, Vozes; 1975
História e Crítica dos Quadrinhos Brasileiros; Rio de Janeiro, Funarte Europa Empresa Gráfica e Editorial; 1990
Os Feras do Quadrinho Brasileiro; Rio de Janeiro, FUNARTE, [1986?]
MOYA, Álvaro de. História das Histórias em Quadrinhos; 3 ed. São Paulo, Brasiliense; 1994.
Fonte: http://www.estacio.br/graduacao/pedagogia/literarte/Literarte03/artigos.htm