Você está na página 1de 16

Fenomenologia, Interacionismo Simbólico e Grounded Theory: Um Possível Arcabouço

Epistemológico-Metodológico Interpretacionista Para a Pesquisa em Administração ?


Autoria: Leonardo Lemos da Silveira Santos, Marcelo de Rezende Pinto

Resumo
O presente ensaio teórico se insere no debate cada vez mais “vivo” acerca de “novas”
correntes teóricas preocupadas em entender os fenômenos organizacionais com abordagens
mais próximas ao subjetivismo. O objetivo básico aqui é apresentar e abrir para a discussão
uma proposta de arcabouço epistemológico-metodológico interpretacionista a partir da
conjugação da corrente fenomenológica, da escola de pensamento denominada interacionismo
simbólico e da metodologia proposta por Glaser e Strauss (1967) conhecida como grounded
theory. Por meio dessa discussão, pôde-se concluir que associá-los parece ser uma alternativa
não só possível, mas desejável. Dessa forma, o trabalho pretende contribuir com estudantes e
pesquisadores do campo dos estudos organizacionais apresentando algumas das nossas
reflexões e entendimentos que podem servir tanto de contrapeso como de alternativas ao que é
veiculado normalmente sobre a pesquisa científica em Administração no Brasil.
1 - Introdução
Uma consulta às principais publicações de cunho científico da área de Administração
no Brasil, pode levar um pesquisador mais atento a uma constatação óbvia: a predominância
de estudos com base empírica, de abordagem positivista e utilizando métodos e técnicas
quantitativistas tradicionais de pesquisa e coleta de dados. O funcionalismo (marcado pelo
objetivismo e por uma sociologia da regulação) continua a expandir sua hegemonia no campo
da Administração, muito em virtude da representatividade institucional do mainstream norte-
americano (VERGARA e CALDAS, 2005). Essa realidade pode ser comprovada pelas
diversas revisões, mapeamentos e análises bibliométricas conduzidas por diversos autores de
diferentes áreas de estudo da Administração.
Não obstante essa constatação, nos últimos anos, esse mesmo pesquisador pode
verificar o considerável aumento do debate acerca de questões epistemológicas e
metodológicas no âmbito da pesquisa em Administração. Conforme ressaltado por Mendonça
(2001), esse debate parece estar concentrado basicamente em questões que refletem as
preocupações dos pesquisadores no tocante aos paradigmas, à dicotomia objetivismo X
subjetivismo, bem como aos métodos qualitativos e quantitativos. Ainda que alguns autores
considerem esse debate ultrapassado, é importante ressaltar que muitas dessas questões
parecem merecer ainda algumas reflexões relevantes.
Atrelado e complementar a esse debate, é possível verificar também a difusão das
discussões de novas correntes teóricas preocupadas em entender os fenômenos
organizacionais com abordagens mais próximas ao subjetivismo. Nesse contexto, podem ser
citadas duas vertentes que vão ao encontro dessas correntes: o interpretacionismo e os
referenciais críticos e pós-modernos (VERGARA e CALDAS, 2005). Porém, verifica-se que
essas abordagens trazem para o debate na área de Administração textos e autores de
considerável dificuldade de compreensão, visto que suas idéias são oriundas de teorias mais
complexas e de cunho eminentemente mais abstrato do que as tradicionais funcionalistas. No
mesmo sentido, percebe-se ainda, poucos textos brasileiros preocupados em decifrar essas
novas abordagens.
Sendo assim, surgiu o interesse em elaborar um ensaio teórico no qual o objetivo
básico seria discutir a proposição aos pesquisadores em Administração de um arcabouço
epistemológico-metodológico interpretacionista a partir da conjugação da corrente
fenomenológica, da escola denominada interacionismo simbólico e da metodologia da
grounded theory. Assim, o trabalho pretende contribuir com estudantes e pesquisadores
organizacionais ao apresentar idéias, reflexões e entendimentos que podem servir tanto de

1
contrapeso como de alternativas ao que é veiculado normalmente sobre a pesquisa científica
em Administração no Brasil.
Para tanto, o presente ensaio está organizado da seguinte forma: inicialmente, são
apresentadas algumas discussões acerca do debate paradigmático no âmbito das ciências
sociais e mais especificamente no campo da Administração. Em seguida, privilegiou-se as
discussões sobre a fenomenologia, o interacionismo simbólico e a grounded theory. Ao final,
são apresentadas as reflexões finais do estudo enfocando a utilização do arcabouço formado
por essas correntes, escolas de pensamento e metodologias na investigação de fenômenos que
envolvem a Administração.

2 – O Debate paradigmático
Inicialmente, é importante tecer alguns comentários acerca do que vem a ser
paradigma. A origem da utilização do conceito de paradigmas vem de Kuhn (1970). Para esse
autor, a ciência não evolui por fatos se revelando a pensadores inteligentes, mas sim se
desenvolve por meio de tensões políticas, que são resolvidas na comunidade científica em um
processo cíclico entre ciência normal e ciência revolucionária, com uma dando passagem para
outra, respectivamente (BURRELL, 1999). Dessa forma, na visão de Burrell (1999), ciência
não é uma trilha linear de hipóteses falsificáveis, mas uma sucessão de períodos de
descontinuidades da “ciência normal” e mudança revolucionária, uma vez que formas
estabelecidas de ver o mundo são substituídas durante toda a história.
Embora seja difícil denotar precisamente o que a vem ser paradigma, visto que Kuhn
(1970) o apresenta em, pelo menos, 20 formas diferentes em sua obra, algumas tentativas de
delimitar o termo são possíveis. Segundo Domingues (2004), o termo vem do grego
paradeigma e significa modelo ou exemplo. Dessa forma, pode ser empregado com o
significado de algo que por sua exemplaridade deve ser imitado ou seguido, bem como com a
acepção de provar e demonstrar algo com a ajuda de outra coisa que serve de guia ou modelo.
Complementarmente, Domingues (2004) ressalta que o paradigma aparecerá do lado da teoria
e consistirá tanto no segmento do real que aloja o princípio das coisas ou o ente tido como a
realidade por excelência que dá a chave do mundo dos homens e das coisas como naquela
disciplina que, por ser bem fundada e mais bem-sucedida em seu esforço por conhecer o real
(portanto mais científica), funciona como arquétipo ou exemplo a ser seguido pelas outras.
Assim, vale afirmar que o paradigma, mais do que a teoria, é uma espécie de guarda-chuva
capaz de abrigar várias teorias. Para Morgan (2005), pode-se chegar a três amplos sentidos do
termo: (1) uma visão completa da realidade, ou modo de ver; (2) organização social da ciência
em termos de escolas de pensamento ligadas a tipos particulares de realizações científicas; (3)
utilização de tipos específicos de ferramentas e textos para o processo de solução de quebra-
cabeças científicos.
Nas ciências sociais, a discussão sobre paradigmas se volta para duas posições
epistemológicas opostas (MOREIRA, 2004; SANTOS, 2002). Uma dessas posições – a
positivista - norteia-se pelo ideal regulativo da física social. Ou seja, parte do pressuposto de
que as ciências naturais são uma aplicação ou concretização de um modelo conhecido
universalmente válido. Portanto, é sempre possível estudar os fenômenos sociais como
fenômenos naturais, por maiores que sejam as diferenças entre eles. A segunda posição,
denominada fenomenológica ou interpretacionista defende a idéia de que a ação humana é
radicalmente subjetiva. Isto é, o comportamento humano, não pode ser descrito e muito
menos explicado com base em suas características exteriores e objetiváveis (SANTOS, 2002).
Para esse autor, nessa vertente, seria necessário utilizar métodos de investigação e critérios
epistemológicos diferentes dos tradicionais nas ciências naturais, ou seja, métodos
qualitativos ao invés dos quantitativos, a fim de se obter um conhecimento intersubjetivo,
descritivo e compreensivo.

2
Burrell (1999) percebe que a noção de “paradigmas” vem recebendo muita atenção
nos últimos anos na análise organizacional. Pode-se afirmar que a discussão dos paradigmas
no campo organizacional tomou corpo com o lançamento da obra “Sociological paradigms
and organizational analysis” de Burrell e Morgan em 1979. Nesse trabalho, os autores
sugeriram que o campo da teoria organizacional seria formado por uma série de posições
epistemológicas e ontológicas de base, as quais formariam algumas posições metateóricas a
priori no desenvolvimento científico em análise organizacional (CALDAS, 2005).
Nessa obra, Burrell e Morgan (1979) sobrepõem dois eixos: um representaria os
pressupostos metateóricos sobre a natureza da ciência (ciência “objetivista” X ciência
“subjetivista”); o outro apresentaria as premissas metateóricas sobre a natureza da sociedade
(sociologia da “regulação” X sociologia da “mudança radical”). Os quatro paradigmas
originados da sobreposição dos dois eixos (funcionalista, interpretativista, humanista radical e
estruturalista radical) fornecem um mapa para negociar a área de estudo, oferecendo uma
forma de identificar as similaridades e diferenças básicas entre o trabalho dos vários teóricos
e, em particular, o modelo de referência que eles adotam. Como qualquer mapa, ele fornece
uma ferramenta para estabelecer onde você está, onde você tem estado e onde é possível estar
no futuro (BURRELL e MORGAN, 1979).
Segundo Burrell e Morgan (1979), no objetivismo, o homem é um agente reativo que
responde ao ambiente. Dessa forma, pode-se dizer que tais afirmações implicam fundamentar
o conhecimento sobre a realidade que enfatiza a importância de se estudar a natureza das
relações entre os elementos que compõem a estrutura social, assumindo que existe uma lei
que rege tais relações. Já o enfoque subjetivista considera a realidade socialmente construída
pelas interações pessoais. O homem é o construtor de uma realidade, que só existe porque foi
criada pela interação social. O QUADRO 1 apresenta discussões acerca dos dois enfoques.

QUADRO 1 – Debate subjetivismo X objetivismo nas ciências sociais


TIPO DE DEBATE SUBJETIVISMO OBJETIVISMO
Nominalista Realismo
O mundo social externo para a O mundo social externo para a
Ontologia cognição individual é feito de nada cognição individual é um mundo
mais do que nomes, conceitos, rótulos tangível e com estruturas relativamente
que são usados para a realidade. imutáveis.
Voluntarismo Determinismo
Natureza humana Considera o homem completamente As atividades humanas são
autônomo. completamente determinadas pela
situação ao ambiente no qual ele é
localizado.
Anti-positivismo Positivismo
Epistemologia O mundo social é essencialmente Busca explicar e predizer o que
relativista e pode ser entendido do acontece no mundo social por meio de
ponto de vista dos indivíduos que estão relacionamentos causais e
diretamente envolvidos nas atividades regularidades entre seus elementos
que são estudadas. constituintes.
Teoria Ideográfica Teoria Nomotética
Metodologia Baseia-se no ponto de vista de que só Enfatiza a importância de basear a
se pode entender o mundo social pela pesquisa em protocolos e técnicas
obtenção, em primeira mão do sistemáticas. Está preocupada com a
conhecimento sob investigação. construção de testes científicos e o uso
Ressalta a importância de se deixar que de técnicas quantitativas para análise
o próprio subjetivo da pessoa revele dos dados.
sua natureza e características durante o
processo de investigação.
FONTE: BURRELL e MORGAN (1979)

3
Vale ressaltar que as posições extremas de cada uma das quatro categorias são
refletidas nas duas maiores tradições intelectuais que têm dominado as ciências sociais nos
últimos duzentos anos. De um lado, é possível perceber o que é usualmente descrito como
“positivismo sociológico”. Em essência, ele reflete a tentativa de aplicar modelos e métodos
derivados das ciências naturais ao estudo das relações sociais. No outro extremo, tem-se o
“idealismo alemão”. Em oposição ao positivismo sociológico, ele enfatiza a natureza
subjetiva das relações sociais, negando a utilidade e relevância dos modelos e métodos das
ciências sociais para os estudos desse campo.
No entanto, o esforço agora é de superar a dicotomia objetivismo/subjetivismo. Uma
tentativa nesse sentido foi o trabalho de Morgan e Smircich (1980). Esses autores sugerem
fronteiras mais permeáveis e a possibilidade de muitos matizes entre as inclinações
subjetivistas e objetivistas num continuum, entre um ponto e outro, as transições seriam mais
sutis, e não se excluiria a inspiração de uma pelas outras (VERGARA e CALDAS, 2005).
Esse continuum pode ser visualizado na FIG. 1.

FIGURA 1 – Pressupostos básicos do debate subjetivismo X objetivismo


Subjetivismo Objetivismo

Pressupostos Realidade Realidade Realidade Realidade Realidade Realidade


Ontológicos como uma como uma como um como um como um como uma
Centrais projeção da construção campo de campo processo situação
imaginação social discurso contextual de concreto concreta
humana simbólico informação

Pressupostos Homem como Homem como Homem Homem como Homem Homem como
sobre a puro espírito, um construtor como um um como um um
Natureza consciência, social, o ator, o processador de adaptador respondente
Humana ser criador de usuário de informações
símbolos símbolos

Estâncias Obter insight Entender como Entender Mapear o Estudar os Construir uma
Epistemoló- fenomenológic a realidade padrões do contexto sistemas, os ciência
gicas Básicas o, revelação social é criada discurso processos, a positivista
simbólico mudança

Métodos de Exploração de Hermenêutica Analise Análise Análise Experimentos


Pesquisa pura Simbólica Contextual da histórica de laboratório,
subjetividade Gestalten surveys

FONTE: Adaptado de MORGAN e SMIRCICH, 1980, p. 492

Se, por um lado, o debate incitado por Burrell e Morgan (1979) promoveu nos anos 80
a idéia de que os estudos organizacionais deveriam compreender um conjunto paralelo de
opções mutuamente excludentes a partir de suas dimensões conceituais, de menus diferentes e
de conversações desconectadas; por outro, serviu para explicitar e (re)afirmar que a arena dos
estudos organizacionais, até então quase totalmente dominada por concepções funcionalistas,
passou a ser “invadida” por perspectivas “alternativas” que ganhavam notoriedade e
reivindicavam legitimidade. O reconhecimento da diversidade da teoria e da prática nas
organizações tem contribuído, desde então, de maneira mais efetiva para estimular a discussão
dentro e entre as diferentes abordagens, sejam elas normais (“dominantes”) ou contra-normais
(“exóticas”). Fragmentação, diversidade, e pluralismo parecem representar o panorama atual

4
em que novas formas organizacionais têm desafiado as certezas do passado e o conforto
consensual garantido pela ortodoxia funcionalista/positivista. Maior diversidade, maior
desacordo, mas também mais pontos de interseção e maior razão para diálogo e disputa
(CLEGG e HARDY, 1999; BURRELL, 1999; LEWIS e GRIMES, 2005).
Como parte e resultado desse debate, é cada vez mais comum observar nos fóruns dos
Estudos Organizacionais, discussões sobre novas formas de se “encarar” os nossos “objetos”
de pesquisa diferentes daquela prevista pelo consenso ortodoxo a respeito do papel central
desempenhado pela organização burocrática como explanandum (fenômeno a ser explicado) e
pelo funcionalismo/positivismo como explanans (quadro explanatório) que predominava na
teoria das organizações até a década de 60 (BURRELL, 1999; CLEGG e HARDY, 1999).
“Novas” questões teóricas e metodológicas têm (re)surgido obrigando os pesquisadores da
Administração a (re)estabelecerem suas conversações com disciplinas das Ciências Humanas
e Sociais, como a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia. É nesse contexto de abertura e de
pluralidade que abordagens de caráter interpretativo e subjetivista (“qualitativas”, por
natureza), como a fenomenologia, o interacionismo simbólico e a grounded theory têm sido
(re)descobertas e (re)discutidas.

3 – A Fenomenologia
Mais do que uma “escola” ou uma tradição filosófica rígida e uniforme, o termo
fenomenologia parece “abraçar” uma grande diversidade de “correntes de pensamento” que
talvez pudessem ser mais adequadamente reunidos em uma espécie de “movimento
fenomenológico” (COPE, 2005; GOULDING, 1999; COSTEA, 2000) que começou a se
delinear a partir de Edmund Husserl (1859-1938) e que foi posteriormente ampliado e
desenvolvido por Alfred Schutz (1899-1959), bem como por Martin Heidegger (1889-1976) e
Maurice Merleau-Ponty (1908-1961). Vale destacar, entretanto, que a chamada “família
fenomenológica”, apresenta, além de uma série de pontos em comum entre os seus membros,
divergências consideráveis que dificultam qualquer tentativa de se encontrar uma “boa e
única” definição do que seja fenomenologia (COSTEA, 2000). Diante da multiplicidade de
linhas de investigação e de procedimentos desenvolvidos a partir das idéias de Husserl, Thiry-
Cherques (2004), por exemplo, prefere falar não de um método fenomenológico, mas de um
conjunto de proposições metodológicas que compõem o “movimento fenomenológico”
aplicado às ciências humanas e sociais. A fenomenologia permite adaptações e diversidades
porque é antes uma atitude do que uma filosofia, e o seu método é antes uma forma de pensar
do que um sistema rígido de dispositivos e indicações (THIRY-CHERQUES, 2004)
Assim, menos do que nos lançar no desafio de tentar traçar o caminho percorrido pelo
“movimento fenomenológico” detalhando as suas diferentes linhas de evolução, vale um
esforço para recuperar apenas uma pequena parte dessa história, “costurando” alguns
princípios básicos “originais” propostos por Husserl (em sua fenomenologia transcendental)
com contribuições e (re)leituras feitas principalmente por Heidegger e Merleau-Ponty (em sua
fenomenologia existencial), que são recorrentes em diferentes trabalhos e que nos parecem
centrais para fundamentar uma investigação de caráter fenomenológico. A idéia aqui é
procurar verificar como/onde – e se - as trajetórias desse “movimento fenomenológico”, do
interacionismo simbólico e, principalmente, da grounded theory se encontram.
A palavra fenomenologia tem a sua origem em duas outras palavras de raiz grega:
phainomenon (aquilo que se mostra a partir de si mesmo – an appearance) e logos (ciência ou
estudo). Por fenômeno, no seu sentido mais genérico, entende-se tudo aquilo o que aparece,
que se manifesta ou se revela por si mesmo na consciência de alguém (COPE, 2005). Dado
qualquer objeto no mundo ao nosso redor, objeto esse que nós percebemos através dos
sentidos, fenômeno é a percepção desse objeto que se torna visível à nossa consciência
(MOREIRA, 2002). Além da aparência das “coisas físicas” na consciência, também a

5
aparência de algo intuído, de algo julgado, de algo imaginado, de algo fantasiado, de algo
simbolizado, etc é também um fenômeno (MOREIRA, 2004). Portanto, em termos literais,
fenomenologia significa o estudo ou a descrição de um fenômeno. Ou, de maneira mais
próxima ao conceito proposto por Husserl, a descrição de fenômenos tal como as pessoas os
experimentam, tal como ele é dado à consciência das pessoas. A apreensão, análise e
descrição do fenômeno que assim se dá à nossa consciência é o objeto primário da
fenomenologia (MOREIRA, 2002).
A fenomenologia envolveria, conseqüentemente, a “volta às coisas mesmas”,
interessando-se pelo “puro” fenômeno tal como se torna presente e se mostra à consciência
das pessoas (MOREIRA, 2002; 2004). Para Husserl, a fenomenologia deveria proporcionar
um método filosófico que fosse livre por completo de todas as suposições que pudesse ter
aquele que refletisse; a fenomenologia descreveria os fenômenos enfocando exclusivamente a
eles, deixando de lado quaisquer questões sobre suas origens causais e sua natureza fora do
próprio ato da consciência (COPE, 2005; MOREIRA, 2004). Assim, a fenomenologia seria
uma ciência de essências puras, abstraindo-se de todas as características factuais de nossa
experiência. As essências referem-se ao sentido ideal ou verdadeiro de alguma coisa, são
unidades de sentido vistas por diferentes indivíduos nos mesmos atos ou pelo mesmo
indivíduo em diferentes atos, ou seja, representam as unidades básicas de entendimento
comum de qualquer fenômeno, aquilo sem o que o próprio fenômeno não pode ser pensado
(MOREIRA, 2002).
Dessa forma, seria preciso nos colocar em uma condição de “absolute clear
beginning” para podermos perceber as “coisas mesmas”, independentemente de qualquer tipo
de pré-conceito. Só assim poderíamos falar sobre as “coisas” como elas “realmente” são – na
sua essência - e não como elas deveriam – ou parecem - ser (COPE, 2005). Todas as
pressuposições – científicas, filosóficas, culturais - relativas à natureza do “mundo real”
seriam então rejeitadas e qualquer “julgamento” acerca delas seria mantido em suspenso até
que elas pudessem ser fundamentadas em bases mais sólidas, construídas a partir de uma
cuidadosa descrição das experiências feita “de dentro” do fenômeno (COPE, 2005). Assim, a
fenomenologia não pressupõe nada, nem o senso comum, nem o mundo natural, nem as
descobertas e as teorias da ciência (MOREIRA, 2002). A fenomenologia fica postada antes de
qualquer crença e de qualquer juízo, para explorar simplesmente o fenômeno tal como é dado
à consciência (MOREIRA, 2004). Julgamentos e pressupostos são colocados de lado,
permitindo que o pesquisador possa descrever e clarificar a estrutura essencial do mundo
“real” através da experiência (CARVALHO E VERGARA, 2002; BAUER, 2002;
GOULDING, 1999).
Para se livrar de seus pré-conceitos, o pesquisador precisaria se mover desde uma
atitude natural, para uma atitude filosófica ou fenomenológica. Em sua atitude natural, o
homem não se preocupa em questionar a “realidade” do mundo em que vive tão pouco em
desvendar as estruturas fundamentais de uma “realidade” que lhe parece auto-evidente
(BAUER, 2002; COPE, 2005). Para Thiry-Cherques (2004) o método fenomenológico
envolve dois movimentos básicos que ajudam a ordenar a reflexão que fazemos sobre os
fenômenos. O primeiro desses movimentos é a redução fenomenológica, ou seja, a suspensão
de toda e qualquer crença (natural ou filosófica) prévia acerca do mundo. A “realidade” do
mundo não é negada nem afirmada, simplesmente colocada entre parênteses. “O que temos,
após a eliminação de toda a crença, de todo o saber, é o fenômeno reduzido a uma unidade
com sentido e significação no mundo interno de nossa consciência individual” (THIRY-
CHERQUES, 2004, p.98). O segundo movimento é a redução eidética, em que o fenômeno é
depurado de todo elemento empírico e psicológico de forma que permaneça apenas a sua
essência, isto é, aqueles atributos que são invariantes nas diversas perspectivas segundo as
quais tomamos o fenômeno e sem os quais o fenômeno já não poderia ser identificado como

6
tal. Com a redução não há perda, não se retira nada do fenômeno. Reduzir é tirar do fenômeno
o que não está nele, portanto, o que se obtém com a redução é o fenômeno mesmo. O objetivo
aqui é separar o que é essencial (eidético) do que é acidental no fenômeno.
A fenomenologia de Husserl é geralmente descrita como transcendental justamente
por “exigir” que o pesquisador vá além (se liberte) da sua atitude natural e/ou
filosófica/científica para poder refletir sobre o fenômeno de uma maneira filosófica.
Sokolowski (2000) apud Cope (2005) aponta que quando nos movemos para uma atitude
fenomenológica, nos tornamos observadores “descolados” da cena ou “meros” espectadores
de um jogo (...) nós nos tornamos não simplesmente participantes no mundo, nós
contemplamos o que é ser um participante no mundo e as suas manifestações. Ao contrário da
fenomenologia transcendental de Husserl, a fenomenologia existencial, desenvolvida
principalmente pelos trabalhos de Martin Heiddeger e Merleau-Ponty, enfatiza que a
investigação da existência humana não pode se dar colocando o mundo entre parênteses. Ao
tentar descrever o mundo vivido como um observador “separado” da cena, o pesquisador
acaba se afastando demais do contexto situado/localizado em que a experiência humana é
vivida (COPE, 2005). A redução fenomenológica, nesse caso, não poderia ser alcançada.
“Nossa mente pode muita coisa, mas não há esforço do intelecto que nos livre do que somos e
do que sabemos” (THIRY-CHERQUES, 2004, p.103).
Assim, não há uma realidade objetiva, independente esperando para ser descoberta
através de métodos racionais/”científicos”. Para os fenomenologistas, o único mundo real que
pode ser descrito adequadamente é aquele que “pré-científico”, subjetivamente experimentado
(COPE, 2005). Não se pode esquecer que para a fenomenologia os “fatos” não podem ser
tomados como “coisas em si”, independente dos sujeitos envolvidos, como preconizava
Durkheim, pois não existe coisa em si fora do vivido (ANDION, 2002). Um ponto central
para a fenomenologia é, portanto, que não se pode separar o domínio do subjetivo do domínio
do mundo natural “objetivo” – “é impossível separar a experiência de alguém daquilo que está
sendo experimentado” (COPE, 2005, p.166).
Nesse sentido, a preocupação principal da fenomenologia existencial está em estudar
os indivíduos no ambiente em que eles vivem/convivem, ou seja, em descrever o homem
como ser no mundo (human-being-in-the-world), em “dar conta” da experiência humana
como ela emerge em determinado(s) contexto(s), como ela é vivida (THOMPSON,
LOCANDER e POLLIO, 1989). A existência humana é, sob essa perspectiva, definida pelo
contexto no qual ela é “experimentada”. O mundo vivido, ou Lebenswelt (conceito
originalmente introduzido por Husserl), ou ainda lifeworld (como tem sido descrito em inglês)
representa o mundo ordinário e a experiência imediata. É o pano de fundo de todo o
“empreendimento” humano e o contexto de toda a experiência (COPE, 2005; GOULDING,
1999). Assim, menos do que uma revolução, a fenomenologia existencial deve ser vista como
uma continuação do “movimento fenomenológico”, ou uma re-interpretação, do ideal original
da redução fenomenológica. Sua contribuição fundamental está em re-inserir o intérprete no
mundo que está sendo interpretado. Mais do que o estudo das essências, a fenomenologia,
para os existencialistas, busca recolocar as essências na existência - ao invés de revelar o
sujeito puro, busca o sujeito encarnado, situado no mundo (BAUER, 2002). Aponta, assim, na
direção de que “a condição humana só pode ser entendida através da experiência vivida no
mundo, e que é ela o fundamento de todo significado” (COSTEA, 2000, p.5).
Ao incorporar o conceito de Lebenswelt, a fenomenologia não se restringe aos objetos
e atores sociais isolados. Ela passa a considerar a totalidade das relações humanas, procurando
compreender como a realidade se constrói em termos das experiências concretas dos
indivíduos imbricados em um determinado contexto/situação/fenômeno (CARVALHO e
VERGARA, 2002). De maneira geral, pode-se dizer então que a fenomenologia, enquanto
“movimento”, tem como objetivo central, descrever a natureza subjetiva das experiências

7
vividas no mundo a partir da perspectiva daqueles que as “experimentaram”, explorando os
significados e as explicações que esses indivíduos atribuem a essas suas experiências. O
comportamento humano – ou aquilo que as pessoas dizem e fazem - é um produto da maneira
como as pessoas interpretam o mundo em que vivem. A tarefa do pesquisador, portanto, é
capturar esse processo de interpretação para compreender os significados do comportamento
das pessoas a partir do ponto de vista delas (COPE, 2005).

4 – O Interacionismo Simbólico
No escopo da fenomenologia se inserem duas escolas de pensamento cujos
pressupostos podem ser bastante utilizados no estudo das organizações: a etnometodologia e o
interacionismo simbólico (VERGARA e CALDAS, 2005). A etnometodologia busca
investigar de que modo e o que as pessoas fazem no seu dia-a-dia em sociedade para construir
a realidade social, bem como a natureza da sociedade construída. Já os seguidores do
interacionismo simbólico advogam que as pessoas agem em relação a outras pessoas e as
coisas com base no significado que esse algo tem para ela. Tal significado não só se origina
de algum tipo de interação social, como também é estabelecido e modificado pela
interpretação das pessoas sobre outras pessoas e coisas (VERGARA e CALDAS, 2005;
GODOY, 1995).
Para Fine (2005), o interacionismo simbólico é uma abordagem sociológica
especificamente americana, grandemente decorrente dos estudos de George Herbert Mead,
que é considerado um dos seus primeiros pensadores mais influentes. Entre seus fundadores
também podem ser incluídos John Dewel, Charles Cooley e William T. Thomas. Porém, foi
Herbert Blumer, seguidor de Mead, quem cunhou o termo “interacionismo simbólico” para
essa escola de pensamento sociológico. Para muitos, Blumer era o interacionismo simbólico.
Pode-se perceber a emergência de duas orientações metodológicas diferentes no
tocante à abordagem. A primeira é defendida por Herbert Blumer da Universidade de
Chicago. A segunda segue a orientação de Manford Kuhn da Universidade de Iowa. Ambas as
escolas aceitam os princípios básicos do interacionismo simbólico, porém percebe-se
diferenças em questões metodológicas (FINE, 2005; MENDONÇA, 2001), uma vez que
Manford Kuhn desenvolveu um programa de pesquisa para a investigação empírica mais
próxima da abordagem da ciência natural.
De qualquer forma, vale afirmar que o interacionismo simbólico pode ser situado no
campo do paradigma interpretativo, uma vez que considera que o mundo social tem uma
condição ontológica precária. Além disso, o que ocorre no mundo na realidade social não
existe em sentido concreto, mas é produto das experiências subjetivas e intersubjetivas dos
indivíduos. Como bem enfatizado por Mendonça (2001), os pressupostos epistemológicos do
interacionismo simbólico enfatizam a natureza e a modelagem dos símbolos através dos quais
os indivíduos negociam suas realidades sociais. Assim, os conhecimentos gerados são vistos
como sendo relativo e específico para o contexto e a situação imediata da qual ela é gerada,
construindo uma “teoria substantiva”.
Dessa forma, o interacionismo simbólico contraria a perspectiva do realismo
filosófico, visto que este sustenta o significado como intrínseco aos objetos, como sua
constituição natural. O significado é uma expressão dos elementos psicológicos que são
colocados em ação quando da percepção do objeto (SAUERBRONN e AYROSA, 2005)
Ao tratar da natureza do interacionismo simbólico, Blumer (1986, p. 02) apud
Mendonça (2001) enfatiza que esta abordagem leva em consideração três premissas:
“A primeira é que os seres humanos agem em relação as coisas com base
nos significados que as coisas tem para eles. Tais coisas incluem tudo que o
ser humano possa notar em seu mundo de objetos físicos, tal como árvores
ou cadeiras; outros seres humanos, tais como uma mãe ou um balconista de

8
loja; categorias de seres humanos, tais como amigos ou inimigos;
instituições, como uma escola ou um governo; ideais guias, tais como
independência individual ou honestidade; atividades de outros, tais como
seus comandos ou pedidos; e tais situações como um encontro individual
em sua vida diária. A segunda premissa é que o significado de tais coisas é
derivado de, ou origina-se da, interação social que alguém tem com um
companheiro. A terceira premissa é que esses significados são manejados, e
modificados através de um processo interpretativo usado pelas pessoas ao
lidar com as coisas que elas encontram”.

Bryman (1995) também destaca que dois conceitos são centrais para o interacionismo
simbólico: a definição da situação e o self social. O conceito de definição da situação tem sido
um instrumento para o entendimento das bases da ação, assim como prover a consciência das
implicações de diversas definições para o comportamento humano. Já o self social encerra a
abordagem do ser humano como uma complexa mistura de instintos biológicos e de
obrigações sociais internalizadas. Importante para Fine (2005) é a contribuição da abordagem
interacionista: (i) ao debate sobre a relação macro-micro em sociologia; (ii) ao debate
função/estrutura e (iii) à divisão entre realistas sociais e interpretacionistas. Esse autor
também discute os domínios do interacionismo simbólico e examina as áreas mais
significativas: (i) teoria da coordenação social; (ii) trabalho emotivo e experiência; (iii)
construcionismo social; (iv) criação do self; (v) macrointeracionismo; e (vi) interacionismo de
políticas relevantes.
A grounded theory, como um conjunto de práticas de pesquisa reflete algumas das
pressuposições teóricas e metodológicas do interacionismo simbólico sobre a natureza do
mundo social e a forma como ele pode ser estudado, ou seja, observando e entendendo o
comportamento das pessoas a partir do ponto de vista delas, aprendendo sobre o mundo dos
pesquisados, sobre a interpretação que eles fazem de si no contexto de uma dada interação.
Além disso, incorpora a noção de que todo processo de pesquisa deve estar sujeito e precisa
ser validado pelo “teste do mundo empírico”. Assim, questões apropriadas para estudo seriam
aquelas relevantes e problemáticas em uma dada situação social “real”. Os pesquisadores
engajados no movimento interacionista simbólico têm também, em geral, a pretensão de
interpretar as ações, de ir além de descrições densas para desenvolver uma teoria que
incorpore conceitos de self, linguagem, contexto e objetos sociais (GOULDING, 1999).

5 - A grounded theory
Traduzida em português para teoria fundamentada nos dados, a grounded theory é uma
metodologia de pesquisa que tem as suas origens nos trabalhos dos sociólogos Barney Glaser
e Anselm Strauss. Ela surgiu como uma reação e se apresentou como uma alternativa à
hegemonia da lógica hipotético-dedutiva dos trabalhos de orientação positivista nos estudos
sociológicos na década de 1960 (CHARMAZ, 2006). O objetivo principal de Glaser e Strauss
(1967) era desenvolver uma metodologia, ou um estilo de se fazer pesquisa, que fosse capaz
de preencher o espaço existente entre as pesquisas empíricas “teoricamente desinformadas”
(baseada em testes e verificações ao invés de construção de teorias) e as teorias
“empiricamente desinformadas” (teorias abstratas demais, distantes da realidade) que
predominavam, segundo eles, nas ciências sociais naquela época.
É na tentativa de minimizar esse tipo de problema que Glaser e Strauss (1967)
procuraram conceber um método de pesquisa em que o pesquisador, ao invés de “forçar”
pressuposições ou categorias/conceitos teóricos pré-existentes, ou seja, de tomar a teoria
como ponto de partida; deveria procurar conceber uma teoria fundamentada em dados
representativos da “realidade” dos sujeitos estudados. O termo grounded é utilizado

9
justamente para reforçar a idéia de que a teoria é construída a partir de comportamentos,
palavras, e ações daqueles que estão sendo pesquisados (GOULDING, 2002).
A preocupação fundamental da grounded theory está, portanto, em tentar evitar que
idéias pré-concebidas assumam o controle do processo de construção de novas teorias. A
idéia, nesse caso, é começar a pesquisa não pela definição de uma estrutura teórica-analítica,
mas sim com um problema geral concebido apenas em termos de perspectivas disciplinares
mais amplas (DEY, 1999). Essa área substantiva de pesquisa seria suficiente como ponto de
partida para que o pesquisador decida o que e onde estudar. Uma vez tendo identificado o
problema – definido em termos gerais – e selecionado o lugar onde esse problema pode ser
estudado, o pesquisador deve permitir que as evidências que, aos poucos vão emergindo e se
somando, ditem a sua agenda de pesquisa (DEY, 1999).
No entanto, quando se fala de uma teoria que emerge dos dados, parece natural
perguntar sobre que tipo de teoria é essa. Glaser e Strauss (1967) utilizam uma classificação
que considera dois tipos de teoria: formal e substantiva. As teorias formais são mais amplas,
mais gerais e têm a pretensão de poderem ser generalizadas, ou seja, de se aplicarem a uma
grande variedade de disciplinas, interesses e problemas (GOULDING, 2002). Em geral são
teorias que procuram simplificar e ordenar a complexidade da vida social e que não se
prendem aos detalhes e/ou aos diferentes contextos (DEY, 1999). Remetem ao sentido
positivista de teoria, associado às grandes narrativas que procuram dar conta de um mesmo
fenômeno ainda que sob diferentes condições.
As teorias substantivas, por sua vez, procuram refletir a complexidade da vida social.
São específicas, limitadas em seu escopo, ricas em detalhes e aplicáveis apenas dentro dos
limites de um dado contexto social. Sem a preocupação de generalização estatística para além
da sua área substantiva, procura aprofundar a explicação de uma “realidade” local, particular,
construída a partir das experiências vividas por um determinado grupo social (DEY, 1999;
GOULDING, 2002).
É à geração desse tipo de teoria, especialmente importante quando se trata de um
fenômeno social insuficientemente explicado pelas teorias formais existentes, que a grounded
theory se propõe. Teoria, entendida aqui,
como um conjunto “bem desenvolvido” de categorias (temas, conceitos) que
são sistematicamente inter-relacionadas através de proposições de relação
para formar um modelo teórico capaz de explicar – de maneira plausível - um
fenômeno social relevante (STRAUSS e CORBIN, 1998, p.22).

Essas proposições de relação procuram explicar quem, o que, quando, onde, por que,
como, e com que conseqüências um evento ocorre. É essa interligação entre os conceitos que
dá aos “achados” da pesquisa o caráter de teoria. Conceitos teóricos per si (“isolados”) podem
até ser utilizados para descrever um determinado fenômeno social, mas são insuficientes para
explicá-lo ou prevê-lo. Para tanto, é necessário conectar dois ou mais conceitos (STRAUSS e
CORBIN, 1998). O foco da grounded theory está, portanto, não nos testes de hipóteses, mas
em gerar categorias relevantes e desenvolver proposições acerca dos relacionamentos entre
elas, a partir da investigação de como os atores agem, interagem e se engajam em
situações/processos sociais específicos (CRESWELL, 1998).
A despeito de outros critérios de avaliação da “qualidade” de uma teoria substantiva,
Glaser e Strauss (1967) destacam que uma “boa” teoria substantiva precisa fazer sentido para
aqueles que vivem o fenômeno que está sendo estudado, tem que “falar a mesma língua”
desses sujeitos, deve ser facilmente relacionada com as experiências dessas pessoas. Esse tipo
de teoria se “encaixa” e “funciona” bem porque é construída com conceitos e categorias que
emergem a partir dos termos que os próprios agentes sociais usam para interpretar e organizar
o seu mundo.

10
Por mais consciente que o pesquisador esteja de que precisa capturar a “realidade
empírica” dos pesquisados, é ele quem define o que “vê” nos dados e quem escolhe as
palavras, os rótulos, os termos que vão constituir os códigos-categorias-teoria (CHARMAZ,
2006). Uma das formas de lidar com esse problema, a interação pesquisador-pesquisados, está
no cerne da grounded theory enquanto metodologia de pesquisa. É preciso que o pesquisador
interaja – se encontre - com os pesquisados, quantas vezes forem necessárias ao longo de todo
o processo de pesquisa a fim de co-construir com eles os sentidos das suas “palavras” e dos
seus comportamentos/ações observados e de revisitar com eles os cenários nos quais eles
agiram/interagiram.
Vale ressaltar nesse ponto, que o processo de codificação na grounded theory difere da
lógica quantitativa que parte de categorias (ou códigos) pré-concebidas, ou “nós criamos os
nossos códigos a partir daquilo que enxergamos nos dados (...) há uma espécie de interação
entre pesquisador e dados (...) os códigos emergem na medida em que o pesquisador explora
os dados e constrói os sentidos deles” (CHARMAZ, 2006, p.46). Esse processo pode levar (e
em geral leva) o pesquisador a questões imprevistas sobre as quais ele ainda não tinha
“pensado”. Sob essa perspectiva, a codificação torna-se um processo fundamentalmente
criativo, que inspira o pesquisador a examinar aspectos “escondidos” dos fenômenos sob
investigação.
Assim, uma teoria substantiva pretende descrever e explicar uma “realidade” particular
que é constituída pelas experiências vividas por um grupo e traduzida - tornada real, trazida à
tona - pelos próprios sujeitos. “Os dados empíricos são considerados então como
reconstruções dessas experiências. Cabe ao pesquisador, em conjunto com os sujeitos,
recontar e tentar explicar essas experiências por meio de uma teoria” (BANDEIRA-DE-
MELLO e CUNHA, 2006, p.247). Nesse sentido, vale ressaltar a idéia de Charmaz (2006, p.
46) ao afirmar que “Nosso interesse está em saber o que acontece na vida das pessoas (...) em
entender os pontos de vista, as situações e as ações delas dentro de um contexto, de um
cenário específico”.
Strauss e Corbin (1998) apontam que no “coração” do processo de teorizar – segundo
a perspectiva da grounded theory - está a constante interação indução ↔ dedução ↔
verificação. Ou seja, um fluxo contínuo de induções (derivar conceitos e suas propriedades e
dimensões dos dados primários), deduções (construir proposições sobre as relações entre os
conceitos utilizando os dados que foram “tratados” pelo pesquisador a partir dos dados
primários) e verificações/validações (checar se novos dados primários sobre o fenômeno em
estudo podem ser explicados pelo modelo teórico formulado). Haig (1995, p. 5) chama esse
processo de inferencialismo explanatório abdutivo e o descreve de maneira breve, assim:
“algumas observações (fenômenos) que encontramos são
surpreendentes porque não se encaixam em nenhuma hipótese
(proposição) aceita; entretanto, nós podemos perceber que essas
observações (fenômenos) poderiam vir a ser consideradas como
“verdadeiras” constituindo, em conjunto com proposições auxiliares já
aceitas, elementos válidos para se estabelecer uma (ou mais) nova(s)
hipótese(s); é possível concluir então que essa(s) nova(s) hipótese(s)
construída(s) a partir das nossas observações é (são) plausível(is) e
merece(m) ser seriamente discutidas e investigadas”

Esse é um processo que consiste em tomar decisões sobre, e agir, em relação às


diferentes questões que aparecem ao longo da pesquisa – o que, quando, onde, como, quem
etc – e que precisam ser consideradas sob diferentes perspectivas. Qualquer proposição (ou
hipótese) derivada dos dados previamente coletados deve, portanto, ser continuamente
verificada (modificada, ampliada, mantida ou excluída) sempre que novas informações sejam

11
incorporadas. Constitui-se, dessa maneira, em um esforço contínuo que o pesquisador precisa
empreender de “idas” e “vindas” entre o nível conceitual, mais abstrato, bem “organizado” em
categorias e relações entre elas, e o nível dos dados, mais “concreto”, mais “desorganizado”.
Em todos os estágios da pesquisa, para reduzir o “grau de inadequação conceitual” da teoria
que está desenvolvendo, o pesquisador precisa se engajar ativamente na busca de explicações
alternativas para o fenômeno que estuda e no teste – para confirmar ou rejeitar – as
categorias/conceitos que desenvolve (DOUGLAS, 2003). A FIG. 2 apresenta o processo de
indução, dedução e validação da grounded theory.
De acordo com a lógica abdutiva, a partir dos dados coletados em campo, princípios
gerais são estabelecidos indutivamente – processo indutivo de interpretação. Desses
princípios, são deduzidas categorias específicas e relações entre elas para constituir um
primeiro “esboço” da teoria substantiva que se pretende gerar. Com esse modelo teórico
inicial “em mãos”, é preciso voltar ao campo para verificar como ele se comporta diante de
um novo conjunto de material empírico (BANDEIRA-DE-MELLO e CUNHA, 2006;
CHARMAZ, 2006).

Dados Dados

Dedução Dedução
Interpretação Interpretação Teoria
Indutiva Indutiva
Validação Validação

Dados Dados Dados

- Tempo – desenrolar da pesquisa +

FIGURA 2 - Indução, dedução e validação na grounded theory


Fonte: HEATH e COWLEY (2004)
Nesse sentido, optar pela grounded theory implica reconhecer coleta de dados, a sua
análise, a formulação e a validação da teoria substantiva como elementos indissociáveis do
processo de pesquisa social. A teoria vai sendo desenvolvida durante e ao longo do processo
de pesquisa em si e “emerge” como um produto da interação contínua entre análise e coleta de
dados (GOULDING, 2002). Assim, as teorias são abdutivamente geradas a partir de um
conjunto “rico” de dados, elaboradas através da construção de modelos teóricos plausíveis e
verificadas em termos da sua coerência explanatória (HAIG, 1995). Assim, os procedimentos
da grounded theory ajudam a construir não só explicações, mas também descrições e,
implicitamente, podem contribuir com algum grau de previsão (CORBIN e STRAUSS, 1990).
Uma importante consideração para a implementação da Grounded Theory, conforme
salientado por Strauss e Corbin (1998), é a importância da sensibilidade teórica do
pesquisador na identificação, construção e medição dos conceitos que compõem a teoria
emergente. Essa sensibilidade teórica, de acordo com os autores, refere-se à habilidade de dar
significado aos dados e advém do conhecimento científico acumulado pelo pesquisador, além
de sua experiência profissional e pessoal. Nesse caso, o pesquisador deve iniciar o seu
trabalho de campo munido apenas de um modelo teórico parcial composto por construtos
minimalistas que serão necessariamente reconstruídos ao longo do processo de pesquisa. É
então importante ressaltar que uma teoria fundamentada não é sempre e necessariamente
construída exclusivamente a partir dos dados coletados. Caso haja referências teóricas

12
existentes que pareçam ser adequadas para o fenômeno que está sob investigação, elas não só
podem, como devem ser utilizadas, refinadas, modificadas, adaptadas através da justa(ou
contra)posição das observações feitas no campo (STRAUSS e CORBIN, 1998).
Com relação à coleta de dados, para Strauss e Corbin (1998), a Grounded Theory
compartilha algumas similaridades com outros métodos de pesquisa qualitativa. A origem dos
dados são as mesmas: entrevistas e observações de campo, assim como documentos de todos
os tipos (incluindo diários, cartas, biografias, autobiografias, jornais e outros materiais).
Vídeos também podem ser usados. Os pesquisadores usuários dessa metodologia podem
lançar mão da utilização tanto de dados quantitativos ou combinar técnicas quali e quanti de
análise.

6 - Reflexões Finais
Reunir fenomenologia, interacionismo simbólico e grounded theory em uma mesma
reflexão é, ao mesmo tempo, um exercício arriscado, em função das especificidades
filosóficas e “operacionais” de cada uma dessas opções teórico-metodológicas, e um desafio
interessante, na medida em que ambas tratam de questões e inspiram discussões que
transcendem a sua utilização/aplicação isolada, pura, restrita. Se, por um lado, não há como
negar as suas diferenças, por outro, suas semelhanças podem ajudar a compor um “estilo” de
pesquisa mais atento ao mundo vivido seja por consumidores, trabalhadores, gerentes,
estrategistas ou qualquer outro tipo de ator organizacional. Essa é uma preocupação que tem
incomodado diversos pesquisadores no campo dos estudos organizacionais preocupados em
explorar os significados construídos e as experiências vividas pelas pessoas, e que os tem
incentivado a buscar soluções alternativas capazes de lançar mão de teorias-metodologias
complementares que permitam lidar com as ambigüidades, fluidez e contradições da “vida
real”.
No que tange às suas semelhanças, fenomenologia e grounded theory compartilham a
importância de se voltar/aproximar à “realidade” dos sujeitos pesquisados; de se encarar as
pessoas em relação umas com as outras e com o mundo próprio delas (e nosso) – socialmente
construído; de se redescobrir o papel da linguagem, dos símbolos e do corpo na vida vivida
cotidianamente; de se relativizar a “onipotência” das grandes teorias; de se reconhecer que a
observação faz parte é um produto de um processo de interpretação; e de se recuperar a
humildade - consciente de que não é possível argumentar pela verdade, mas apenas por uma
“versão plausível”. Essa base comum parece ser suficiente para colocá-las lado a lado em um
paradigma predominantemente interpretacionista.
Do ponto de vista metodológico, a discussão das diferenças entre a fenomenologia e a
grounded theory levam necessariamente a três questões diretamente relacionadas – fonte
principal de dados, tipo de amostragem e análise dos dados (e produto final). Na medida em
que a experiência subjetiva é crucial para a fenomenologia, ela toma como dados legítimos,
apenas as “narrativas” daqueles que vivenciaram o fenômeno. Nos estudos fenomenológicos,
portanto, os participantes da pesquisa são selecionados de forma intencional e premeditada
por terem experimentado o fenômeno sob investigação. A análise dos dados, nesse caso, se dá
esmiuçando-se os “textos” em busca de unidades de sentido (essências) capazes de descrever
os aspectos centrais e de compor (como produto final) uma descrição geral (densa) de toda a
experiência que se está querendo compreender.
A grounded theory, por sua vez, se utiliza de várias fontes de dados, sejam eles
primários ou secundários. O processo de amostragem é teórico, ou seja, orientado pela teoria
que “vai emergindo” ao longo do trabalho. Os casos a serem amostrados são escolhidos ao
longo do processo de pesquisa – e não antes - na medida em que o pesquisador precisa deles.
Na medida em que caminha no processo de refinamento e desenvolvimento conceitual das
categorias é comum encontrar uma série de “espaços em branco” nos dados e alguns “furos”

13
na teoria em construção. Nesse caso, é necessário voltar ao campo para coletar novos dados
que sejam capazes de fornecer as “peças” que faltam para montar o “quebra-cabeça”. Ao
contrário do que é feito tradicionalmente, a amostragem teórica não precede a coleta de dados.
Essa é uma característica que não permite, portanto, que se faça qualquer previsão antecipada
acerca do tamanho da amostra. As decisões sobre que dados coletar e onde encontra-los
devem esperar pelas análises iniciais do pesquisador. É uma forma de seleção de amostra
baseado não em fatores que delimitam/caracterizam uma população sobre a qual se pretende
fazer alguma inferência, mas sim em termos dos conceitos e categorias que estão sendo
investigados (DEY, 1999).
A grounded theory se diferencia, ainda, da fenomenologia, do interacionismo
simbólico e das demais formas de metodologia qualitativa, principalmente pelo fato de ela se
preocupar diretamente com o desenvolvimento e a criação de teoria. Essa preocupação exige
que os grounded theorists se preocupem em identificar relações de “causa” e conseqüência,
coisa que os pesquisadores qualitativos, em geral, evitam fazer (GOULDING, 2002).
Tradicionalmente, nos estudos de caráter fenomenológico, o objetivo e o resultado são
“apenas” descrições densas. O “apenas” entre aspas serve para indicar que esse esforço de
descrição, por si só, pode ser, e em geral o é, um trabalho hercúleo e muito valioso.
Entretanto, quando se pensa em termos de grounded theory e, conseqüentemente na
construção de teorias, é preciso ter em mente um trabalho com objetivos e resultados
diferentes (CRESWELL, 1998). É preciso ir além da descrição. O processo de pesquisa, no
caso da grounded theory, ajuda o pesquisador a construir gradualmente uma teoria partindo
do nível concreto, descritivo dos dados até chegar a um nível mais abstrato, mais
analítico/conceitual em que se estabelecem as categorias teóricas e as suas inter-relações
(GOULDING, 2002).
Associar fenomenologia – descrição densa da “realidade” vivida – e grounded theory
– construção de teoria a partir da experiência – nos parece ser uma alternativa não só possível,
mas desejável, principalmente quando se trata de pesquisas no Brasil. Se, por um lado, uma
abordagem fenomenológica pode permitir darmos novamente uma voz efetiva aos nossos
pesquisados para nos (re)aproximarmos do complexo mundo da prática da administração, por
outro, a grounded theory abre a possibilidade de construirmos teorias locais “úteis”
libertando-nos da condição de consumidores, repetidores e divulgadores de idéias produzidas
no exterior, com aplicabilidade prática reduzida, baixa originalidade (BERTERO e
KEINERT, 1994), qualidade duvidosa, analiticamente fraca e com um tom de prescrição
(MACHADO-DA-SILVA, CUNHA e AMBONI, 1990).

7 - Referências Bibliográficas
ANDION, Carolina. Ser ou Estar Gerente? Reflexões sobre a trajetória e o aprendizado
gerencial. In: EnANPAD, 26º. Anais… Salvador: ANPAD, 2002.
BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; CUNHA, Cristiano J. C. de A. Grounded Theory. In:
GODOI, Christiane K.; BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; SILVA, Anielson B. Pesquisa
Qualitativa em Estudos Organizacionais: paradigmas, estratégias e métodos. São Paulo:
Saraiva, 2006.
BAUER, M. Fenomenologia: a Filosofia Aplicada à Pesquisa em Administração. In:
ASSEMBLÉIA DO CONSELHO LATINO-AMERICANO DE ESCOLAS DE
ADMINISTRAÇÃO, 37., Porto Alegre. Anais... Porto Alegre: Cladea, 2002.
BERTERO, Carlos O.; KEINERT, Tania M. M. A evolução da Análise Organizacional no
Brasil. Revista de Administração de Empresas, v.34, n.3, p.81-90, mai./jun. 1994.
BRYMAN. A. Quantity and Quality in Social Research. London: Routledge, 1995.

14
BURRELL, G; MORGAN, G. Sociological Paradigms and Organizational Analysis:
elements of the sociology of corporate life. London: Heinemann, 1979.
BURRELL, Gibson. Ciência Normal, Paradigmas, Metáforas Discursos e Genealogia da
Análise. In: CALDAS, M.; FACHIN, R.; FISCHER, T. (Orgs. ed. brasileira). Handbook de
estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1999. v. 1.
CALDAS, Miguel P. Paradigmas em Estudos Organizacionais: uma introdução à série.
Revista de Administração de Empresas. V. 45, n. 1, jan/mar 2005.
CARVALHO, José L. F.; VERGARA, Sylvia C. A fenomenologia e a pesquisa dos espaços
de serviços. Revista de Administração de Empresas, v.42, n.3, p.78-91, jul/set. 2002.
CHARMAZ, Kathy. Constructing grounded theory: a practical guide through qualitative
analysis. London: Sage Publications, 2006.
CLEGG, S. R.; HARDY, C. Introdução: organização e estudos organizacionais. In: CLEGG,
S. R.; HARDY, C.; NORD W. R. (org.). Handbook de estudos organizacionais: modelos de
análise e novas questões em estudos organizacionais. São Paulo: Atlas, 1999, vol.1.
COPE, Jason. Researching Entrepreneurship through Phenomenological Inquiry:
philosophical and methodological issues. International Small Business Journal, v.23, n.2,
p.163-189, 2005.
CORBIN, Juliet; STRAUSS, Anselm. Grounded Theory Research: procedures, canons, and
evaluative criteria. Qualitative Sociology, v.13, n.1, p.3-21, 1990.
COSTEA, Bogdan. Existence Philosophy and the Work of Martin Heiddeger: Human
diversity as ontological problem. Lancaster University Management School Working
Paper Series. Paper No. BOR 004/2000.
CRESWELL, John W. Qualitative Inquiry and Research Design: choosing among five
traditions. London: Sage Publications, 1998.
DEY, Ian. Grounding Grounded Theory: guidelines for qualitative inquiry. San Diego,
USA: Academic Press, 1999.
DOMINGUES, Ivan. Epistemologia das Ciências Humanas. Tomo 1: Positivismo e
Hermenêutica – Durkheim e Weber. São Paulo: Edições Loyola, 2004.
DOUGLAS, David. Grounded Theories of Management: a methodological review.
Management Research News, v.26, n.5, p.44-52, 2003.
FINE, Gary A. O Triste Espólio, o Misterioso Desaparecimento e o Glorioso triunfo do
Interacionismo Simbólico. Revista de Administração de Empresas. V. 45, n. 4, out/dez
2005.
GLASER, B.; STRAUSS, A. The Discovery of Grounded Theory: Strategies for qualitative
research. New York: Aldine, 1967.
GODOY, Arilda S. Introdução à Pesquisa Qualitativa e suas Possibilidades. Revista de
Administração de Empresas. São Paulo, v. 32, n.2, p. 57-63, mar/abr 1995.
GOULDING, C. Consumer Research, Interpretive Paradigms and Methodological
Ambiguities. European Journal of Marketing, v.33, n. 9/10, p.859-873, 1999.
GOULDING, Christina. Grounded Theory: a practical guide for management, business and
market researchers. London: Sage Publications, 2002.
HAIG, Brian D. Grounded Theory as Scientific Method. Philosophy of Education, 1995.

15
HEATH, Helen; COWLEY, Sarah. Developing a Grounded Theory Approach: a comparison
of Glaser and Strauss. International Journal of Nursing Studies, n.41, p.141-150, 2004.
KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. 5ª edição. São Paulo:
Perspectiva, 1970.
LEWIS, M. W.; GRIMES, A. J. Metatriangulação: a construção de teorias a partir de
múltiplos paradigmas. Revista de Administração de Empresas (RAE), vol. 45, n. 1, p. 72-
91, 2005.
MACHADO, Clóvis; CUNHA, Vera Carneiro da; AMBONI, Nério. Organizações: o estado
da arte da produção acadêmica no Brasil. In: EnANPAD, 14º. Anais… Belo Horizonte:
ANPAD, 1990.
MENDONÇA, José R. C. de. Interacionismo Simbólico: uma sugestão metodológica para a
pesquisa em administração. In: EnANPAD, 25º. Anais… Campinas: ANPAD, 2001.
MOREIRA, Daniel A. O Método Fenomenológico na Pesquisa. São Paulo: Pioneira
Thomson Learning, 2004.
MOREIRA, Daniel A. Pesquisa em Administração: Origens, Usos e Variantes do Método
Fenomenológico. In: EnANPAD, 26º. Anais… Salvador: ANPAD, 2002.
MORGAN, G; SMIRCICH, L. The Case for Qualitative Research. Academy of
Management Review, V. 5, n. 4, p. 491-500, 1980.
MORGAN, Gareth. Paradigmas, Metáforas e Resolução de Quabra-cabeças na Teoria das
Organizações. Revista de Administração de Empresas. V. 45, n. 1, jan/mar 2005.
SANTOS, Boaventura de S. A Crítica da Razão Indolente: contra o desperdício da
experiência. Vol. 1. 4ª edição. São Paulo: Cortez, 2002.
SAUERBRONN, João F. R.; AYROSA, Eduardo A. T. Compreendendo o Consumidor
Através do Interacionismo Interpretativo. In: EnANPAD, 29º. Anais… Brasília: ANPAD,
2005.
SILVERMAN, David. Interpreting Qualitative Data: methods for analysing talk, text and
interaction. London: SAGE, 1995.
SOKOLOWSKI, R. Introduction to Phenomenology. Cambridge: Cambridge University
Press, 2000.
STRAUSS, A.; CORBIN, J. Basics of Qualitative Research: Grounded theory procedures
and techniques. Newbury Park, CA: Sage Publications, 1998.
THIRY-CHERQUES, Hermano R. Programa para aplicação às pesquisas em ciências da
gestão de um método de caráter fenomenológico. In: VIEIRA, Marcelo M. F.; ZOUAN,
Deborah M. (org). Pesquisa Qualitativa em Administração. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 2004.
THOMPSON, C. J.; LOCANDER, W. B.; POLLIO, H. R. Putting Consumer Experience
Back into Consumer Research: the philosophy and method of existencial phenomenology.
Journal of Consumer Research, v.16, n.2, p.133-146, 1989.
VERGARA, Sylvia C.; CALDAS, Miguel P. Paradigma Interpretativista: a busca da
superação do objetivismo funcionalista nos anos 1980 e 1990. Revista de Administração de
Empresas. V. 45, n. 4, out/dez 2005.

16

Você também pode gostar