Resenha do papper: The cognitive map in humans: spatial navigation and beyond
O artigo proposto de autoria de Russell et al. Publicado em 2017 fala sobre o
mapa cognitivo em humanos, navegação espacial e muito mais. Nesse sentido, eles destacam que a hipótese do mapa cognitivo propõe que o cérebro construa uma representação unificada do ambiente espacial para apoiar a memória e orientar ações futuras. O artigo faz uma revisão de trabalhos recentes que sugerem uma organização funcional semelhante no cérebro humano e fornecem novas informações sobre como os mapas cognitivos são usados durante a navegação espacial. De forma introdutória, os autores destacam que a ideia de um mapa cognitivo foi originalmente proposta por Tolman (um psicólogo de destaque na época). Ele observou, que ratos que haviam aprendido uma rota indireta para uma meta mudariam rapidamente para um caminho mais direto se a rota familiar fosse bloqueada. Concluindo que os animais devem ter acesso ao conhecimento espacial sobre o meio ambiente, semelhante ao conhecimento espacial obtido em um mapa, que pode ser usado para orientar o comportamento de maneira flexível. Essa ideia recebeu apoio na descoberta de O’Keefe e Dostrovsky nos seus estudos sobre células no hipocampo de roedores, que disparam em função da posição espacial do animal. Descobertas subsequentes aprofundaram a hipótese do mapa cognitivo com envolvimento de outros sistemas, como por exemplo: células de grade no córtex entorrinal medial; células de direção da cabeça (DH); células de fronteira no córtex entorrinal e células de fronteira no subículo. Ainda sobre esses estudos, a literatura destaca que também foram descobertas células no hipocampo que codificam pontos importantes para navegação, como distância e direção. Esse sistema é frequentemente considerado um modelo para entender como o cérebro processa informações cognitivas de alto nível. Métodos avançados de análise de neuroimagem permitiram que fosse possível superar a limitação de saber se isso é reproduzível em humanos. Para isso, foram revisados estudos sobre navegação baseada em mapas cognitivos, com ênfase em trabalhos recentes de neuroimagem humana à literatura de neurofisiologia de roedores. Para estudos relacionados com representação do espaço, mapas, grades e contextos, os estudos de ressonância magnética recorrem frequentemente ao exame da atividade durante a navegação virtual. Trabalho recentes encontraram um subconjunto de regiões cerebrais que eram mais ativas durante a navegação, incluindo o córtex parahipocampal posterior e a região parietal retrosplenial / medial. Com os estudos foi possível concluir que a atividade no hipocampo humano estão associada à navegação baseada em mapas cognitivos, e o tamanho do hipocampo pode prever a capacidade de adquirir um mapa cognitivo. Algumas habilidades do hipocampo de roedores foram destacadas no papper, como por exemplo, remapeamento global e remapeamento de taxa (capacidade de armazenar vários mapas, permitindo distinguir entre contextos diferentes ambientes) e integração de caminhos ou contagem de mortos (navegar sem usar pontos de referência); Outro ponto importante destacado no estudo é que em situações do mundo real, em que pode haver mais de uma rota para um destino como, por exemplo, rotas em uma cidade, quanto mais opções a considerar, maiores as demandas colocadas nas regiões do cérebro necessárias para recuperar a rede de caminhos possíveis e selecionar a rota ideal. Isso foi confirmado no estudo de Javadi et al. (2017) onde ao entrar na rua, a atividade no hipocampo posterior aumentava se a ela oferecesse muito mais caminhos para escolher para viagens futuras. Embora a avaliação desses caminhos parece ser uma tarefa do córtex pré-frontal. O autor trouxe uma indagação importante quase ao fim do papper, onde destaca que a codificação espacial, ancoragem de marcos e planejamento de rotas podem se aplicar a "espaços" não físicos. Alguns estudos mais recentes mostraram que códigos não espaciais podem ser organizados em mapas de espaços sociais e conceituais. Nesses estudos, chegaram a conclusão de que os seres humanos representam sua posição social em relação aos outros no espaço de uma forma parecida com um mapa. Posteriormente, o autor destaca que embora a ideia de que pensar é como uma navegação é antiga, diversas descobertas tem sido feitas sob essa temática, e espera-se que mecanismos computacionais possam avanças nesses estudos de forma mais precisa. O papper estudado aborda um tema de bastante relevância, trazendo estudos que foram recentes e de destaque na área, encontrando diversas evidências relacionadas a mapas cognitivo. O grande ponto que considero um marco diferencial dessa pesquisa foi conseguir aplicar esses estudos em humanos, já que durante muitos anos apenas roedores era utilizados nos estudos. Dessa forma, foi possível abranger bastante o olhar sobre a temática e a importância dela para os processos cognitivos humanos. REFERÊNCIA Epstein, R. A., Patai, E. Z., Julian, J. B., & Spiers, H. J. (2017). The cognitive map in humans: spatial navigation and beyond. Nature Neuroscience, 20(11), 1504– 1513. doi:10.1038/nn.4656