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SEÇÃO 1: PRINCÍPIOS
O osso é um tecido peculiar no sentido que se repara formando novo tecido ósseo e, assim, restabelece a
continuidade do segmento, com recuperação das propriedades mecânicas e anatômicas. Entretanto, pode haver desvios
do processo normal de reparação.
O processo de reparação em uma fratura envolve todos os componentes ósseos (periósteo, porções cortical e
medular), e poderá ocorrer de forma normal ou alterada. O periósteo tem origem durante o período embrionário e se
prolonga até a fase pós-natal, sendo formado pelos osteoblastos que estão em contato direto com o osso. A camada
interna dessa estrutura é que apresenta inúmeras células osteogênicas que, no adulto, apenas entram em intensa
atividade para reparar fraturas ou outras lesões ósseas. O endósteo corresponde à lâmina composta por células
pavimentosas e tecido conjuntivo que recobrem as paredes do tecido ósseo trabecular, envolvendo o canal medular e
prolongando-se em direção das cavidades ósseas.
Quando existe uma fratura, células liberam mediadores que, em conjunto, vão promover a reparação da área
lesada, buscando recompor a morfologia e a função do tecido. Em termos de reparação, o osso é estrutura ímpar, pois
cicatriza formando osso e não fibrose, como os demais tecidos.
De forma geral, imediatamente após a fratura, o suprimento sanguíneo é interrompido e o sangramento decorrente vai
ser responsável pela formação de um hematoma, processo que ocorre até 12 horas após a fratura. Tipos celulares
conhecidos como plaquetas liberam o PDGF (fator de crescimento derivado de plaquetas) que terá papel preponderante
no recrutamento de células inflamatórias para o local lesionado.
Na sequência, células pré-osteoblásticas presentes principalmente no periósteo e tecido ósseo adjacente, vão se
diferenciar em osteoblastos ativos graças a fatores de crescimento específicos presentes no sangue circulante e, aí, dar
início ao processo de reparação óssea. Estudos indicam de forma mais ampla que a formação do futuro tecido ósseo
tem início 24h após a fratura. O osso neoformado em tomo dos fragmentos fraturados é chamado calo ósseo e sua
quantidade depende do tipo de reparo que ocorrerá.
Basicamente, o osso pode se reparar primariamente, com formação mínima de calo ósseo, se os fragmentos
estiverem bastante próximos e estáveis (sem movimentação anômala). Isto pode ocorrer de maneira natural em
fraturas incompletas ou impactadas, principalmente nas regiões epifisárias e metafisárias (osso esponjoso). Na
reparação óssea secundária, ou por segunda intenção, existe a participação da ossificação intramembranosa e
endocondral. Assim, após um período em tomo de duas semanas, o calo ósseo é composto basicamente por tecido
ósseo imaturo que, associado à atuação de alguns fatores de crescimento, forma tecido cartilaginoso. Por último, essa
cartilagem, já mineralizada, é reabsorvida e substituída por osso.
O tecido ósseo é ímpar no sentido de que se repara com a formação de osso normal, representado pelo calo
ósseo externo (nas reparações secundárias), ou calo ósseo interno (nas reparações primárias).
A reparação de uma fratura pela formação de calo ósseo é o mecanismo clássico de consolidação do osso longo
(Figura 3.1-A). Entretanto, isto pode ser modificado se os fragmentos forem colocados em contato íntimo e
estabilizados. Isto ocorre de maneira espontânea com fraturas impactadas na região metafisária, ou é conseguido com
cirurgia para reposicionar os fragmentos e estabilizá-Ios por meio de implantes ortopédicos (Figura 3.1-B).
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Figura 3.1 (A) Exemplo de consolidação secundária caracterizada pela formação de grande calo ósseo periosteal (seta).
(B) Na consolidação primária, o traço de fratura desaparece (região destacada) e não se forma calo ósseo externo.
Figura 3.2 (A) Radiografia de uma pseudartrose hipertrófica da fíbula. Forma-se calo ósseo abundante que, entretanto,
não une as duas extremidades do osso. (B) Pseudartrose atrófica: as extremidades ósseas sofrem reabsorção, há
aumento do espaço entre os ossos e osteoporose difusa.
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