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CAPÍTULO 2: MICROESTRUTURA DO TECIDO ÓSSEO

FUNDAMENTOS DE ORTOPEDIA & TRAUMATOLOGIA (José Batista Volpon)

SEÇÃO 1: PRINCÍPIOS

CAPÍTULO 2: MICROESTRUTURA DO TECIDO ÓSSEO


João Paulo Mardegan Issa

A microestrutura do tecido ósseo compatibiliza funções mecânicas, de estoque de íons e de conteúdo celular. O
osso é tecido mineralizado que compõe o endoesqueleto dos vertebrados, cujas funções básicas incluem movimento,
proteção e suporte do indivíduo, além de atuar como reservatório para íons fosfato e cálcio.
Em termos de composição, aproximadamente um terço do tecido ósseo de um indivíduo adulto é formado por
matriz orgânica fibrosa composta em torno de 90% de colágeno, especialmente do tipo I, na forma de substância
fundamental amorfa. Os demais dois terços da estrutura óssea são formados por sais inorgânicos (cristais de
hidroxiapatita, citrato de sódio, magnésio, flúor e carbonato). O colágeno tipo I é resistente, capaz de se distender
quando tensionado e, ao mesmo tempo, resiste à fratura, quando curvado. A organização entre o componente mineral
e colágeno do osso ainda não está completamente esclarecida, mas sabe-se que quanto maior o conteúdo mineral do
osso, mais duro ele será. Entretanto, dureza não é sinônimo de resistência. O conteúdo colágeno do osso garante a
absorção de boa parte das cargas, dissipando-as.
Deste modo, os ossos possuem propriedades paradoxais, como dureza, força e leveza, e sofrem deformações
elásticas que permitem a absorção de energia, mas readquirem o formato inicial quando cessada a carga deformante.
Por outro lado, quando as solicitações atingem limites que excedem a capacidade de absorção, a deformação
passa a ser plástica, ou seja, irreversível, e uma fratura pode ocorrer a partir desta deformação.
Os osteoblastos são as células responsáveis pela síntese da matriz óssea. Deste modo, essa região será
conhecida como centro primário de ossificação, onde fibras colágenas e trabeculado ósseo serão dispostas
irregularmente. Na sequência, ocorre a mineralização dessa área com a formação de tecido osteoide e osteócitos. Os
osteócitos serão os tipos celulares aprisionados em lacunas, à medida que os osteoblastos sintetizam novo osso. Os
osteócitos comunicam-se entre si por meio de um sistema de canalículos. Com a sequencial formação de células
osteoprogenitoras, estabelece-se uma rede de trabéculas ósseas contidas em tecido conjuntivo vascular. As regiões do
tecido mesenquimal que não se calcificou sofrerão diferenciação em periósteo e endósteo.
Outra definição também encontrada na histogênese do osso é a de centros secundários de ossificação, em que
células osteoprogenitoras invadem a cartilagem da extremidade dos ossos longos, diferenciam-se em osteoblastos e
iniciam a síntese de matriz óssea sobre o modelo de cartilagem. Esse processo avança sobre a diáfise, sendo que a
cartilagem presente na superfície articular do osso permanece por toda a vida. O disco epifisário é responsável pelo
crescimento do osso longo em comprimento. Localiza-se na extremidade do osso, junto do núcleo de ossificação e
formado pela cartilagem de crescimento. Histologicamente esta estrutura é estratificada em cinco porções (zonas de
repouso, proliferação, maturação e hipertrofia, de calcificação e de ossificação). A divisão celular ocorre no lado
epifisário e a substituição óssea no lado diafisário deste disco (Figura 2.1)
A placa de crescimento é estrutura bastante vulnerável e agressões representadas principalmente por fraturas
e infecções podem lesioná-la definitivamente, causando encurtamento e deformidades. No crescimento ósseo em
largura, ocorre uma atividade dinâmica em que existe deposição de tecido ósseo no lado externo devido à diferenciação
e crescimento das células da camada interna do periósteo, paralelamente à ação osteoclástica na cavidade medular,
para que esta possa ser expandida e, deste modo, possibilitar o crescimento ósseo como um todo.
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Figura 2.1 Microscopia da cartilagem de crescimento ilustrando a constituição estratificada. A parte


proliferativa corresponde à região superior (lado do núcleo de ossificação: NO) e, a partir daí, as
células se diferenciam e terminam por se deteriorarem, depositando tecido ósseo no lado
metafisário (M) que, por mecanismo aposicional, promove o crescimento em comprimento do osso.

1. TIPOS DE OSSO
O osso compacto é também chamado lamelar. Nesta definição está classificado o osso com morfologia que
apresenta mínima quantidade de espaços entre as trabéculas, em torno de cinco a 30% de porosidade. Este tipo de osso
é também conhecido como tecido ósseo denso, correspondente a quase 80% da massa óssea do esqueleto ou três
quartos do peso de um indivíduo adulto.
O osso compacto é o principal responsável pelo suporte mecânico do corpo. Osso trabecular, também
denominado esponjoso ou primário, representa em torno dos 20% restantes da massa óssea e com padrão morfológico
que indica porosidade de 30% a 90% em sua estrutura. Esse tipo de osso é mais flexível que o osso cortical e geralmente
está presente nas terminações de ossos longos (epífises e metáfises), próximo das articulações e dentro de corpos
vertebrais, sendo o principal e o primeiro tipo de osso a ser afetado nas doenças osteometabólicas. Microscopicamente,
uma diferença básica entre o osso compacto e o osso trabecular é que o primeiro apresenta o ósteon, considerado a
unidade primária do osso (Figura 2.2), e que consiste em camadas ósseas concêntricas ao redor de um canal conhecido
como "canal de Havers", através do qual passam vasos e nervos.

Figura 2.2 Aspecto da secção transversal de um ósteon observado sob luz polarizada em um
fragmento não descalcificado de osso cortical. Há um canal central ocupado por vasos e nervos e, em
torno dele, formações laminares em anéis que contêm os osteócitos. Este conjunto forma o ósteon,
que é considerado a unidade fundamental do tecido ósseo.

2. TIPOS CELULARES ÓSSEOS


1. Osteoblastos: caracterizados por células mononucleares derivadas de células mesenquimais indiferenciadas, sendo
responsáveis pela síntese da matriz óssea que, mais tarde, será mineralizada.
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2. Osteócitos: células ósseas maduras que não possuem função ativa na síntese de matriz óssea, porém, desempenham
papel muito importante na manutenção do equilíbrio e vitalidade do tecido ósseo.

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3. Osteoclastos: células grandes multinucleadas derivadas de células hematopoiéticas indiferenciadas. Sua função
básica é reabsorver a matriz óssea mineralizada, escavando cavidades ao seu redor, graças à liberação de enzimas
reabsortivas.

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