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VITÓRIA
2017
EVANDRO SCARDINE CORREIA
VITÓRIA
2017
2
RESUMO
Este estudo lança luz sobre a relação de governança e valor do caixa corporativo,
controle (empresas com ADRs 1 e 144A ou sem ADRs). Os resultados para preço
distintos, o caixa apresenta melhor preço para empresas que possuíam os piores
provocados pela SOX. Analises adicionais sugerem que com aumento do preço do
1. INTRODUÇÃO
problemas de moral hazard e expropriação por parte dos agentes (CHEN, 2008;
seria melhorada uma vez que os recursos tenderiam a ser aplicados em melhores
opções de investimentos.
WEISBACH, 2012). Sugerindo uma piora na precificação do caixa uma vez que os
Williamson (2004) que examinam o valor marginal do dinheiro com foco em grande
ao analisar o efeito da governança sobre o valor do caixa, seja ele formado por
Para conduzir este estudo, era preciso um evento exógeno que impactasse
de tratamento, sujeitas aos efeitos do evento, e controle, não sujeitas aos efeitos do
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grupos, foram utilizadas as seguintes variáveis de controle: despesas com juros para
ponderar pelo custo da dívida, total de dividendos distribuídos para controlar pela
(EBIT) para controlar pelo efeito do lucro operacional e total do ativo líquido para
inicial.
Um dos principais achados foi medir o valor de caixa para uma empresa
Wang (2006).
(PN) passou a precificar em R$ 0,85 centavos após a SOX e o com direito a voto
(2006) que apresentou estimativas de US$ 0,75 dólar para as empresas listadas no
por reter o caixa corporativo uma vez que passou a valer mais para o acionista.
caixa apresenta melhor preço para empresas que possuíam os menores índices
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Enquanto existe uma longa literatura para estudar o valor da adição de dívida
(FAULKENDER E WANG, 2006). Além disso, caixa permite que os gestores invistam
em projetos com benefícios não monetários, mas que destroem o valor para os
Williamson (2004) que examinam o valor marginal do dinheiro com foco em grande
empresa que já possue alto nível de caixa é mais provável que vá para distribuição
para que os gestores invistam em bons projetos, porém não além do necessário,
2008).
investimento.
uma redução de problemas de moral hazard e expropriação por parte dos agentes
(CHEN, 2008; LOPES E WALKER, 2008), uma vez que os gestores tenderiam a
propriedade e controle.
SOX como choque exógeno que afeta diretamente nos níveis de governança
tratamento (ADR nível 2 e 3) e controles (não sujeitas a SOX), para permitir capturar
muitas vezes chamada apenas de SOX, teve como objetivo principal garantir mais
Seções Tópicos
101-109 Criação da PCAOB, supervisão, financiamentos e tarefas
302, 401-406, 408- Novas regras de divulgação, incluindo sistemas de controle e
409, 906 certificações de diretores
201-209, 303 Regulamentação de auditores de empresas públicas e
relacionamento auditor/cliente
301, 304, 306, 407 Governança corporativa para as empresas cotadas (normas do
comitê de auditoria, proibição de empréstimos oficial)
501 Regulamento de analistas de valores mobiliários
305, 601-604, SEC financiamento e poderes
1103, 1105
802, 807, 902-905, Sanções penais
1102, 1104, 1106
806, 1107 Proteções de denúncia
308, 803-804 Diversos (prazos para a fraude de títulos, falência, fundos
justos)
Fonte: Coates (2007).
Nas seções 302 e 404 são discutidos os controles internos. A seção 302 determina
que os diretores das empresas devem assinar os relatórios atestando que estão
Comitê de Auditoria. A seção 404 exige que seja avaliado anualmente os controles e
uma vez que reduzem os ganhos potenciais para os gestores e aumentam a sua
recursos em bons projetos, aumentando o valor do caixa com essa melhoria e com a
controle de suas empresas. Nesse contexto, a afirmativa plausível que eles não
auditores para que eles funcionassem melhor como guardiões para prevenir,
autores ainda destacam que o maior risco para o sistema de governança estaria na
como:
pela SOX melhoraram o preço do caixa para empresas que possuíam os menores
3. METODOLOGIA
utilizar a SOX como experimento é o fato de ser difícil separar os seus efeitos a
2016. Para chegar a base final de 4.967 observações foram excluídas as empresas
período anterior (t-1), sendo sua variável dependente o excesso de retorno, além de
𝑗
𝑦𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛿𝑡 + 𝛽1 𝐷𝐼𝐷𝑖𝑡 + 𝛽2 ∆𝐶𝐻𝑖𝑡 + 𝛽3 ∆𝐶𝐻𝑖𝑡 𝐷𝐼𝐷𝑖𝑡 + ∑𝑗 ∅𝑗 𝑋𝑖𝑡 + 𝜀𝑖𝑡 (1)
amostra e 𝑡 o ano fiscal. Para cálculo do retorno individual, é utilizado o acúmulo dos
retornos diários da ação no ano (buy and hold return). Para calcular do retorno
(2006).
introduzidas pela SOX, interage-se a variação de caixa com a dummy de grupo 𝐷𝐼𝐷,
que possibilitou uma melhor alocação dos recursos financeiros das empresas, o
coeficiente 𝛽3 será maior que zero, servindo para o teste da primeira hipótese que
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do caixa.
Tal interação (∆𝐶𝐻𝑖𝑡 𝐷𝐼𝐷𝑖𝑡 𝑃𝑟𝑜𝑝𝑒𝑟𝑡𝑦𝑖𝑡 ) permite capturar o efeito sobre o preço
servindo para teste da segunda hipótese que choques que aumentam o nível de
Da Silva et al. (2005) atribui 1 para cada resposta “sim” aos questionamentos,
questões listadas na tabela 1 são respondidas com “sim”. Neste trabalho, a variável
empresas sujeitas à SOX com pior estrutura de controle. Nesse contexto, defende-
do cash holding para empresas com piores estruturas de controles, uma vez que
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𝛽3 + 𝛽4 seja maior que zero quando 𝑃𝑟𝑜𝑝𝑒𝑟𝑡𝑦 for apresentado como zero.
2,5% e o ativo total líquido representa o logaritmo neperiano do ativo total menos o
caixa corporativo.
pelo custo da dívida, total de dividendos distribuídos para controlar pela redução de
utilização de capital de terceiros, dívida bruta para controlar pelo efeito da dívida,
lucro antes de juros e itens extraordinários (EBIT) para controlar pelo efeito do lucro
operacional e total do ativo Líquido para controlar pelo efeito de escalas. Utiliza-se
4. ANÁLISE DE RESULTADOS
1995 a 2016 foi de menos 16%. Isso significa que na média as empresas obtiveram
direito a voto.
possui uma variação entre ações listadas como ON (42%) e PN (49%). Isso indica
que para as ações preferenciais, na média, o cash holding é mais valorizado que
para as ações ordinárias, cerca de 7%. Tal resultado pode estar ligado a
2008).
mostra que 50% das empresas possuem apenas uma das quatro questões (vide
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tabela 1) para ser consideradas como boa a divisão entre propriedade e controle. A
situação para os papeis listados como preferenciais é ainda mais “chamativa”, sendo
que, nesse caso, o melhor resultado no índice foi satisfazer 3 das 4 questões.
por empresas que possuem ADRs níveis 2 e 3 e controle, sendo empresas que não
e 144A ou sem ADRs), servindo como informação relevante para utilização dos
grupos. Isso porque permite estudar evento que impactam as empresas do grupo de
tratamento e não impactam o grupo de controle, sendo que ambos estão sujeitos às
Os resultados mostram que na média os grupos são iguais, excetos para ativo
características, sendo útil, nesse caso, para serem utilizados neste estudo. O grupo
de controle possui importante contribuição para o trabalho, uma vez que controla o
efeito natural no modelo após o choque exógeno provocado pela SOX. Sua principal
diferença para o grupo de tratamento é o fato de não ter sofrido os efeitos da nova
legislação.
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aumento da precificação do caixa após a SOX, tal melhoria é notória tanto para as
que para as empresas listadas na classe ordinária (ações com direito a voto) o preço
para empresas listadas como preferenciais (ações sem direito a voto e com
sugerido que um dólar extra de caixa fosse avaliado em apenas US$ 0,75 dólar
pelos acionistas.
ordinária (ON), isso porque permite a empresa distribuir dividendos com base nos
resultados contábeis. A partir da análise das estatísticas descritivas (tabela 2), era
ao valor de mercado de 49% para as empresas com ações PN e apenas 42% com
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ações ON. Isso sugere que os acionistas preferencias dão mais importância ao caixa
Esta tabela apresenta os resultados das estimativas de valor para o caixa corporativo no período de 1995 a
2016. O estimador Diff-in-Diff mede a diferença das diferenças entre dois grupos de empresas ao longo dos
anos. As empresas do grupo de tratamento são definidas como sujeitas a SOX (empresas que estão listadas nos
níveis de ADRs 2 e 3). As empresas do grupo de controle são aquelas que não estão especificamente sujeitas à
SOX (empresas sem ADRs e aquelas classificadas com ADRs nos níveis 1 e 144A). O ano do choque exógeno é
considerado 2002, sendo o ano de aprovação da SOX. Os resultados são apresentados separados para os dois
grupos de ações existentes no Brasil, ON (papel de ação com direito a voto) e PN (papel de ação com
preferência na distribuição de dividendos e sem direito a voto). No painel A é apresentado o efeito da SOX sobre
o preço do caixa e, no painel B, é apresentado o efeito da SOX sobre o preço do caixa para diferentes níveis de
propriedade e controle. A definição das variáveis encontra-se no apêndice A.
SOX. Note que o preço do caixa é sensível tanto para empresas de classe ordinária
impacto.
Lembre-se que tal interação (∆𝐶𝐻𝑖𝑡 𝐷𝐼𝐷𝑖𝑡 ) foi adicionada justamente para
Wang (2006) que apresentaram estimativa de US$ 0,75 dólar para as empresas
norte americanas.
quando indicou que os acionistas preferenciais (PN) dão mais importância ao cash
do caixa sobre a variável property. Lembre-se que as questões para formar o índice
voto (ON) estão preocupados na sua essência com o controle da companhia entre
principal motivo sua relação de pouco interesse pelo controle da empresa. Por outro
lado, os acionistas com direito a voto (ON) dão extrema importância para o controle
(∆𝐶𝐻𝑖𝑡 𝐷𝐼𝐷𝑖𝑡 𝑃𝑟𝑜𝑝𝑒𝑟𝑡𝑦𝑖𝑡 ) para os acionistas com direito a voto (ON). Isso sugere que
justamente para fornecer o resultado para segunda hipótese que choques que
permitem validar a hipótese, uma vez que para uma empresa média com o pior
(apresentar valor 1), o caixa seria precificado R$ 1,35 reais a menos. Ambas as
empresas sem ADRs ou com ADRs 1 e 144A, poderia ser um grupo amplo demais
para um estudo com modelagem diff-in-diff, mesmo não sofrendo o efeito da SOX e
tabela 3.
formado apenas por empresas que possuem ADRs 1 e 144A. Nesse caso, a
similaridade entre os grupos de tratamento e controle é ainda maior, uma vez que
grupo de controle mais específico, formado apenas por empresas com ADRs 1 e
144A. Nesse caso, foi considerado a amostra contendo dados tanto de ações ON
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quanto PN, uma vez que já foi apresentado na tabela 4 os resultados específicos
provocado pelas melhorias introduzidas pela SOX utilizando grupo de controle geral
podem chegar a ter reduções de R$ 1,58 reais no preço de caixa utilizando o grupo
corporativa provocam uma melhora na precificação do caixa por parte dos acionistas
companhias utilizem o caixa corporativo para assegurar que essa melhoria de preço
dummy de grupo que assume valor 1 para empresa com ADRs 2 e 3 (sujeitas a
𝑗
SOX) após a SOX e zero para caso contrário. O termo ∑𝑗 ∅𝑗 𝑋𝑖𝑡 representa as
variáveis de controle.
𝑗
𝑦𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛿𝑡 + 𝛽1 𝐷𝐼𝐷𝑖𝑡 + ∑𝑗 ∅𝑗 𝑋𝑖𝑡 + 𝜀𝑖𝑡 (3)
utilizado como proxy o CAPEX sobre o ativo total (𝑦𝑖𝑡 ). Em resumo, a estrutura do
𝑗
𝑦𝑖𝑡 = 𝛼𝑖 + 𝛿𝑡 + 𝛽1 𝐷𝐼𝐷𝑖𝑡 + ∑𝑗 ∅𝑗 𝑋𝑖𝑡 + 𝜀𝑖𝑡 (4)
melhores controles. Com esse efeito espere-se que o caixa seja mantido para
(FUNCHAL E MONT-MOR, 2016), espera-se que esses efeitos sejam ainda mais
evidentes.
maior que o aumento dos investimentos. Isso pode estar ligado ao cenário de países
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4.3 que sugeriram melhoria na precificação do caixa pelos acionistas tanto de classe
ordinária (ON) quanto de preferencial (PN) após as melhorias advindas pela SOX.
houve retenção de caixa pelas empresas após a SOX, adotando como política a
preço de caixa, o gestor optou por assegurar a parcela de recursos que já haviam
dividendos.
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investimento, uma vez que precisa assegurar aos acionistas retornos crescentes e
precificação do caixa quanto para o mercado que pode utilizar bases teóricas para
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo buscou lançar luz sobre a relação de governança e valor do caixa
apresenta melhor preço para empresas que possuíam os piores índices nessa
preferenciais por caixa e o trade-off dos acionistas com direito a voto sobre o
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