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Cultura Portuguesa – Aula 19- 29 de Abril

Sumário:

- IV.Do Estado do Renascimento à construção do Império.

- D.Sebastião e D.Henrique: As Regências; a realeza de D.Sebastião e o desastre de


Alcácer-Quibir;

- O Cardeal-Rei e a sucessão no Trono de Portugal.

Vamos hoje ver os dois Últimos reinados da Dinastia de Avis que precedem a união com Espanha.
Logo isto vai corresponder ao reinado D. Sebastião e do Cardial D. Henrique, entre 1557 e 1580.

D. Sebastião foi o filho póstumo de Infante D. João, que por sua vez era o 8º filho de D. João III, o
único que tinha conseguido chegar á idade núbio, casar e deixar descendência.

D. Sebastião, assim baptizado, é um nome sem tradição na casa real Portuguesa, o nome é-lhe dado por
ter nascido precisamente no dia de São (20 de Janeiro) Sebastião.

Teve o cognome de “O Desejado”e este cognome foi-lhe imediatamente dado mesmo antes de nascer,
por quanto havia sido efectivamente desejado por toda a nação, que assistira sem nada poder fazer á
sucessivas mortes dos filhos de D. João III. Por isso a nação via agora em D. Sebastião a única
esperança de ter um rei e um rei Português.

Visto D. João III morrer quando D. Sebastião tinha apenas 3 anos, era necessário obviamente encontrar
uma solução que pudesse assegurar o Governo do reino. Essa solução é a de regência, que vai ser
assegurada pela rainha Viúva de D. João III, avó de D. Sebastião (Rainha Dona Catarina).

É evidente que nessa altura existia quem defendesse que a regência deveria ser assegurada pelo Irmão de
D. João III, o cardial D. Henrique. Mas o que é facto é que a opinião que venceu entre os mais próximos
da Coroa, foi de facto a da Rainha D. Catarina.

Durante a regência da Rainha D. Catarina, vai-se verificar uma serie de acontecimentos Alguns deles
resultado de iniciativas anteriores, mas há aqui como uma certa concentração de acontecimentos
importantes:

- 1557-1559 – A Rainha Dona Catarina vem a obter do Papa Paulo IV a criação de dois
bispados: de Coxim e Malaca e ao mesmo tempo a erecção do Bispado de Goa (metropolita do Oriente) –
Isto na altura era muito importante, importante naturalmente para igreja mas sobretudo importante para

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Portugal que testemunhava com erecção destas duas novas dioceses um poder de Portugal reconhecido
pela Igreja no Oriente - é o reconhecimento do Império Português na Índia através do reconhecimento de
Dioceses Cristã.

1557 – D. Catarina envia Mem de Sá como governador do Brasil. Encarregando-o de promover


o seu desenvolvimento (como era esperado que qualquer governador o fizesse), mas fundamentalmente
incumbindo-o de erradicar uma ameaça que se estava a desenhar sobre o Brasil: a presença dos
Franceses no Brasil e a sua projectada criação da chamada França Antárctica. Isso vem efectivamente
a acontecer, em 1560 Mem de Sá expulsa os franceses do Brasil.

- 1557 – Portugueses conseguem-se estabelecer “definitivamente” em Macau;

- 1558 – Dona Catarina nomeia como vice-rei da Índia Constantino Bragança, essa escolha vai
ser efectivamente muito feliz, ele vai estar na Índia entre 1558 e 1561 e vai ter um Governo bastante
importante e energico, conseguindo conquistar até Damão;

- 1560 – Paulo Dias de Novais foi encarregue de estudar e preparar o inicio do povoamento de
Angola;

- 1559 – Obtenção da Bula sobre o estabelecimento de uma nova Universidade em Portugal


(Évora). A partir de agra Portugal passa a ter duas universidades (Coimbra e Évora)

Em Finais de 1560 a Ranha Dona Catarina anuncia a sua intenção de se retirar do Governos do Reino.
Tenciona passar o reino ao Cardial Infante D. Henrique. Mas tem de haver aprovação das três Cortes do
reino, para tal são convocadas Cortes para Lisboa em Dezembro de 1562 e vão-se prolongar até Janeiro
de 1563. Estas cortes vão aceitar o pedido de renuncia por parte da rainha D. Catarina, visto não terem
conseguido demover a rainha de tal intenção e na circunstancia eleger o Cardial D, Henrique para a
regência.

Esta regência do Cardial representa nesta circunstancia uma certa continuidade Governativa, naturalmente
muito marcada, como a anterior pela preocupação de manter e defender o Império. Porque
fundamentalmente o Império já está a tomar uma dimensão tal, simultânea naturalmente, á emergência
de novos poderes marítimos Europeus (os Franceses, Ingleses e Olandeses) e naturalmente o aumento
das preocupações de mater e defender o Impérios destas ameaças. Até então única concorrência que havia
era a da Espanha e essa havia sido partilhada entre Portugal e Espanha pelo tratado de Tordesilhas, as
coisas correram sem problemas. Logo a teoria do Mare Clausum tem de ser defendida na prática e não
apenas na teoria, como até então.

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≥ De facto vai haver nesta altura um grande Surtos de Pirataria. Portugal estava
habituado nesta altura a sofrer ataques da Pirataria Berber (Angelina) e essa foi
sempre uma constante no estreito de Gibraltar, chegando por vezes quase junto
ao Algarve, era por isso entre outras coisas que Portugal ter uma Marinha de
Guerra e Portugal, volta não volta, organizava sozinho ou acompanhado,
expedições punitivas\retaliatórias sobre essa pirataria.

Mas não é dessa que se fala na altura, é sim sobre o surte de Pirataria que nesta
altura vai surgir, que eu dirá quase institualizada por estados cristãos,
designadamente por França e Inglaterra. Com Cartas de Corso passadas pelos próprios monarcas.

Rainha Isabel de Inglaterra (filha de Henrique VII) passava cartas de corso, e uma dos mais célebres
corsários de D. Isabel é Sir Francis Drake, que vai actuar ai por tudo o quando é sítio sobre os navios
carregados de riquezas vindas do Império do Oriente para Portugal ou dos Impérios Americanos para
Espanha.

E há também pirataria Francesa, que aqui no atlântico actuam e há notícia concreta, no reinado de D.
Sebastião, de uma invasão da esquadra francesa no Funchal. Levando a uma protesto (importante) da
monarquia Portuguesa havendo mesmo um pedido de indemnização por Portugal. Não se sabe se
efectivamente essa indemnização foi paga, mas o que é facto é que o Rei de França vai prometer, nessa
altura, um casamento de sua Filha (Margarida de Elba) com Rei D. Sebastião, há aqui uma tentativa
compensatória por Parte do rei de França a Portugal.

Neste sentido o Cardial Infante D. Henrique vai também determinar o reforço das defesas militares,
designadamente das defesas marítimas do continente, sobretudo em Lagos, Setúbal, Cascais, São
Julião da Barra e Caparica. Para além do reforço da própria da marinha de guerra, são então a
resposta a esta nova ameaça.

≥ 1568 – D. Sebastião começa a reinar, quando atinge os 14 anos (tal como tinha ficado estabelecido nas
Cortes de 1562-1563).

Como já falamos, D. Sebastião é resultado de uma fortíssima consanguinidade, logo não é de admirar
que não seja uma pessoa perfeitamente normal, tanto do ponto de vista físico como psicológico.

Logo desde inicio D. Sebastião desenvolveu uma orientação messiânica, no sentido de ser um
combatente da Cristandade contra os infiéis. Aliás muito na linha das elites aristocráticas de então, que

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naturalmente se reviam no nacionalismo Bélico (quer em Marrocos, quer agora na dilatação do Império
na Índia).

E portanto esta orientação Bélica de D. Sebastião, está dentro da linha cultural da época, simplesmente,
em D. Sebastião esta vai-se tornar numa obsessão doentia e ainda cristalizar-se em Marrocos e numa
acção Bélica relativamente a Marrocos.

Esta tendência vai ser combatida por Rainha D. Catarina (sua avó), pelo Cardial D. Henrique (seu tio
avô) e até por uma boa parte dos seus conselheiros. O que é facto é que estes bons conselhos que lhe
vão sendo dados não vão ser acatados. E naturalmente que para este obsessão irá também contribuir em
muito a situação internacional designadamente o aumento do poderio dos Turcos Otomanos no
mediterrâneo, que teriam conquistado Constantinopla em 1453 e a partir dai vão ganhando cada vez
mais poder no mediterrâneo. E em 1575 - Conquista de Malta pelos Turcos Otomanos

E então esta ameaça dos Turcos Otomanos no mediterrâneo é para D. Sebastião a prova de que trata
fundamental combater essa ameaça Islâmica.

É por isso que a partir de 1573 D. Sebastião tem uma decisão relativamente a essa cruzada já decidida e a
partir dai D. Sebastião vai partir para o Algarve (onde vai inspeccionar todas as fortalezas existentes)

≥ 1574 - D. Sebastião vai numa expedição a Marrocos, vai permanecer em Marrocos, mais concretamente
em Ceuta e em Tânger, durante um mês. Onde vai preparar a sua expedição.

≥ 1576 – D. Sebastião vai reunir-se em Espanha com seu Tio, D. Filipe II de Espanha, exponde-lhe quais
as suas intenções relativamente à Expedição a Marrocos e , obviamente, pedindo-lhe apoio para a
expedição. Neste encontro D. Filipe II vai-lhe dizer que a ameaça Otomana não é assim tão importante
como lhe possa parecer. D. Filipe II vai tentar dissuadi-lo desta empresa mas não consegue ( não apoia
esta expedição mas não o deixa de dar apoio militar (em Homens e armamento).

Com esta decisão tão firme de D. Sebastião, está-se a caminho daquilo que será o Desastre de Alcácer-
Quibir.

Apesar de ninguém o apoiar e o tentarem convencer que o mais importante seria defender o que já se
tinha de todas as ameaças existentes (pirataria, etc) Nada demove D. Sebastião.

O pretexto para a intervenção em Marrocos foi a disputa pelo respectivo Trono (tendo falecido o antigo
detentor do trono de Marrocos, varia-o a ocupar o seu filho mas o que é facto é que ele vai ser deposto

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pelo seu tio. Bom a intervenção portuguesa fazia-se a favor do sultão do posto e contra o sultão que tinha
usurpado o posto).

Em Junho de 1578 vai-se sair de Lisboa uma armada 17.000 homens, entre os quais 5.000 estrangeiros:
Alemães, Holandeses, Espanhóis e Italianos; ia igualmente a principal Nobreza do Reino (apesar das
reserva que tinham colocado a esta empresa) até o Duque de Bragança envia o seu filho primogénito
(apenas com 10 anos) e mais 1000 homens.

É esta armada que chega a Marrocos e que em Agosto de 1578 vai enfrentar em Alcácer-Quibir com um
exército Muçulmano com 70.000 homens. Ou seja dum lado estão 20.000 homens (portugueses + homens
do sultão deposto) do outro estão 70.000 homens.

E esta batalha de Alcácer-Quibir é um desastre. Esta pesada derrota é ainda mais grave porque se perde o
rei, mais de metade dos efectivos Portugueses (entre eles uma parte significativa da elite nacional).
Durante o combate acabam também por morrer os dois reis marroquinos envolvidos (o que venceu e
aquele que a perdeu), dai em Marrocos ser também chamada a esta batalha a Batalha dos três Reis.

Para além do Cadáver de D. Sebastião ter sido resgatado em Ceuta em Dezembro de 1578, ficaram
cativos milhares de Soldados e centenas de Fidalgos. Ora bem a notícia do Desastre de Alcácer-Quibir
chegaria a Lisboa cerca de uma semana depois e vai encher o reino da tragédia (todos tinham algum
familiar envolvido na tragédia).

A voz popular aterrada pelo insucesso da empresa, recusou-se a aceitar a tragédia e propagou que D.
Sebastião teria conseguira fugir e daqui vai nascer a lenda do D. Sebastião, vai nascer o Sebastianismo em
Portugal, vai então nascer aquilo que é a espera infindável por alguém consiga efectivamente apagar do
país a profunda tristeza onde se encontra.

≥ Em fins de Agosto é Nomeado o Cardial D. Henrique (já com76 anos) e embora não lhe falte
experiencia para o Governo do Reino o que é facto é que lhe falta uma solução para evitar a perda da
Independência.

No entanto ela vai-se preocupar com duas questões fundamentais:

- O resgate dos cativos de Marrocos – na sua esmagadora maioria eles vão ser libertados
regressar ao reino, mediante o pagamento de avultados valores (dinheiro do reino + peças valiosas dadas
pelas famílias dos Nobres)

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- Questão sucessória – no que respeita a esta questão, o Cardial D. Henrique vai tentar encontrar
uma solução, que tem de ser encontrada fora de Portugal, embora houvesse dois candidatos Nacionais.
Mas acima de tudo, uma solução que respeite uma legalidade que o cardial quer preservar, legalidade que
seja assegurada pela análise dessa mesma por parte das Cortes. Ele vai convidar a diferentes candidaturas
a apresentarem, digamos assim, a argumentação jurídica perante as Cortes Portuguesa tendo em vista
assegurar essa mesma candidatura. O cardial aliás vai convocar Cortes expressamente para esse fim.

Candidatos à sucessão: (os candidatos são essencialmente 5)

1º - Filipe II, rei de Espanha por ser filho da filha primogénita de D. Manuel I;

2º - Emanuel Felisberto Duque de Sabóia - também ele é neto de D. Manuel I, Filho de D.


Beatriz, filha de D. Manuel I;

3º - Alberto Rainúncio - Duque de Parma – este não é Neto, é sim Bisneto de D. Manuel I, mas
é filho de uma filha de um irmão de D. João III (neto de D. Duarte, filho de D. Manuel I);

4º - Dona Catarina - Duquesa de Bragança -Irmã mais nova da mãe do anterior, que tem
obviamente menos representatividade que o seu sóbrio mas que é uma representatividade
nacional, ou seja, é a candidata nacional, que é herdeira exactamente de um filho de D. Manuel I .
(Filha mais nova de D. Duarte)

5º- D. António - Prior do Crato – por ser filho do Infante D. Luis filho de D. Manuel. Mas é
afastado por ser tido como ilegítimo, se não o fosse estaria mesmo antes do Cardeal D. Henrique
na linha de sucessão;

O mais capaz de efectivamente suceder vai ser D. Filipe II

Julho de 1580 – D. António ainda se faz aclamar Rei em Santarém, mas nessa altura D. Filipe II manda
avançar para Portugal as tropas comandadas pelo Duque de Alva, por via terrestre, eles vão entrar pela
linha de penetração do Alentejo em direcção a Lisboa e ao mesmo tempo manda avaçar uma esquadra
comandada pelo Marquês de Santa Cruz que entrará no Tejo e sitiará Lisboa, derrotando as tropas de D.
António (que efectivamente tinha algum apoio popular) aqui numa batalha em Alcantara. E portanto
acabando com a realeza de D. António.

Como dizia Filipe II, a respeito da Coroa Portuguesa “que havia herdado, comprado e conquistado
Portugal e que havia pago muito caro por esta sucessão”, que ele entendia ser sua por direito.

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